Foto antiga da Igreja Jesus, Maria José - Crédito da foto
Estação de trem, rodoviária e uma ampla avenida são vantagens do lugar apontadas pela própria comunidade.
Não há nada mais emblemático no Antônio Bezerra do que a imagem de constante movimento. Desde o fluxo intenso na Avenida Mister Hull, passando pela rodoviária (que, até 2000, funcionava em outro lugar e detinha o nome de "Rodoviária dos Pobres") até a estação do trem são exemplos de como o bairro foi favorecido pela diversidade nos seus acessos.
Aliás, o nome original do bairro, que perdurou até meados da década de 1960, tinha como origem a estrada que o ligava ao município de Caucaia, conhecida como Estrada do Barro Vermelho. Moradores antigos dizem que essa foi uma grande vantagem para o desenvolvimento local, não apenas no rápido povoamento, mas na expansão das fontes de geração de emprego e renda.
Igreja Jesus, Maria e José é um das construções anteriores à criação do bairro
Vida noturna
Se, no passado, conforme o comerciante Francisco Sales Furtado, o comércio do gado movimentava riquezas, o mundo da produção atual inclui indústrias, comércio e entretenimento que conferem vida noturna das mais movimentadas.
O vínculo do Antônio Bezerra com o comércio de carne, lembra o memorialista Christiano Câmara, tanto provinha dos bois transportados por caminhões pela estrada do Barro Vermelho como do trem.
Chácara Salubre - A mais antiga edificação do bairro - Crédito da foto
O lugar ficou conhecido pelos recantos de engorda. Na verdade, consistia de um tempo curto para o restabelecimento do gado, em vista do desgaste de deslocamentos, principalmente, provenientes do Piauí.
Antigo frigorífico da cidade de Fortaleza. A situação é de completa precariedade e risco de vida.
A deterioração, em vista de sangue e vísceras despejados às margens do rio Maranguapinho, chamava a atenção pela degradação do manancial, especialmente pelo descontrole na proliferação de aves de rapinas. Com isso, criou-se uma resistência dos moradores e ambientalistas, que levaram ao esvaziamento do Frifort na década de 1980.
Se o comércio de carne entrou em decadência, outras opções de emprego e renda foram estimuladas, em vista da mobilidade. Como lembra Christiano Câmara, de um lugar remoto, tomado por sítios e uma extensa área verde, foi povoado rapidamente, graças ao crescimento demográfico natural e, sobretudo, à facilidade de acesso.
Saudade
"O tempo em que o Antônio Bezerra parecia ser um lugar alheio a Fortaleza deixou saudades. Era ali que passava férias na casa de meu avô, onde ele construiu uma granja e uma floricultura", recorda Douvina Câmara. O saudosismo lhe toca a alma pela modificação sofrida com o passar dos anos. Hoje, para ela, o Antônio Bezerra é mais do que um bairro. Passou a ser uma cidade dentro de outra cidade, interagindo com muitas comunidades dentro e fora de suas limitações geográficas.
O ideal abolicionista
O nome de Antônio Bezerra tem origem numa homenagem feita ao filho do Dr. Manoel Soares da Silva Bezerra e de Maria Teresa de Albuquerque Bezerra. Na juventude, sua produção poética foi muito popular, especialmente depois da publicação de "Sonhos de Moço" (1872) e "Três Liras" (1883), juntamente com Justiniano de Serpa e Antônio Martins. Participou ativamente da campanha abolicionista no Ceará. Esse característica, inclusive, fez com que o Estado antecipasse a abolição da escravatura para o dia 25 de março de 1884, quatro anos antes da Lei Áurea. Foi, porém, na historiografia que desempenhou papel mais importante, escrevendo obras que até hoje são referências para a compreensão do história do Ceará no período em que viveu. Colaborou com diversos jornais da Capital, entre eles, "O Ceará" e "O Libertador", tendo sido um dos fundadores de ambos. Foi também fundador do Instituto do Ceará. É patrono da quarta cadeira da Academia Cearense de Letras.
PROBLEMA
Rodoviária somente para embarque
A Rodoviária do Antônio Bezerra é, contrária à razão, um lugar apenas para o embarque de passageiros. Inaugurada em 2000 pelo então governador Tasso Jereissati, captou os antigos passageiros que saíam de Fortaleza para o Interior e outros estados. Ficou, de fato, conhecida como a Rodoviária dos Pobres, localizada na Avenida Mister Hull.
Ao longo de uma década de serviço, nunca foi viabilizado o desembarque. Benefício que poderia ocorrer dentro do próprio corredor ou com a construção de um viaduto.
Constrangimento
Para a moradora Maria Mirtes Medeiros, trata-se de uma situação constrangedora. Afinal, como lembra, os passageiros dos ônibus intermunicipais e até interestaduais desembarcam com malas e sacolas, tornando-se alvo vulneráveis para assaltantes e marginais.
Essa situação também prejudica os taxistas, que improvisam pontos em áreas específicas da avenida, à espera de eventuais passageiros, que descem dos veículos. O supervisor do terminal rodoviário, Edilberto Martins, diz que essa dificuldade é um grande desafio para se otimizar o equipamento. Por mês, circulam ali aproximadamente 20 mil passageiros. Número, conforme salienta, que sempre aumenta em feriados prolongados e até mesmo nas sextas-feiras à noite.
Estrutura
Com um amplo salão de espera, lanchonetes e guichês de venda de passagem abertos durante o horário comercial, a estação de embarque foi uma evolução bastante considerável.
Hoje, a rodoviária voltou a sofrer com a degradação, ao atrair o comércio ambulante, motivado pelo fluxo não apenas de ônibus, mas de vans, carros fretados e outros veículos.
Há também uma movimentação intensa de pessoas que ficam no aguardo de transporte, em geral nas imediações do viaduto que atravessa a Avenida Mister Hull. Um cenário contrário à higiene e à organização da nova rodoviária.
Marcus Peixoto
Fonte: Diário do nordeste