Publicado em Fortaleza a 1º de Abril de 1824. Inscreve-se este como o primeiro jornal que teve a Provincia. O redator era o Padre Gonçalo Ignácio de Loiola Albuquerque e Mello Mororó. Foi Manoel de Carvalho Paes de Andrade quem de Pernambuco remeteu o material tipografico necessário à publicação. Isso mesmo diz o Ofício circular estampado no 1º número. O navio portador da tipografia foi a escuna de guerra "Maria Zeferina". A remessa foi comunicada à junta Provisoria do Ceará por Paes de Andrade em Ofício de 9 de Março.
O diretor dos trabalhos, Francisco José de Salles, que fez parte da revolução de 1824, foi preso e pagou com sacrifícios e atribulações o amor às ideias, que professava.
Seu nome figura na "Relação das pessoas, que mais se desenvolveram no malvado sistema republicano da capital da provincia do Ceará", feita na Secretaria de estado dos negócios da justiça, em 12 de Janeiro de 1825 e assinada por J. Carneiro de Campos.
Na Ata do supremo conselho (26 de Agosto) e no termo da instalação do Colégio para eleição dos deputados, que deviam compor do Governo supremo salvador (28 de Agosto) ele se assina Francisco José de Salles Jurubeba, diretor da Tipografia nacional.
O cabeçalho do novo jornal dizia assim:
Nº 1º Diário do Governo do Ceará
Preço 40 réis.
Cidade do Ceará - Quinta-feira, 1º de Abril de 1824.
Seguiam-se o 1º artigo sob o título 'Sessão do estabelecimento da typografia', o 2º sob o título 'Expediente' e Sub-título 'Officio Circular, o 3º sob o título 'Officio da Villa do Crato e o 4º sob o de 'Resposta ao Officio da Camara do Crato.
Embaixo da 4ª e última página dizia:
"Na typografia Nacional do Ceará".
O 1º número do Diário tinha 20 centimentro de comprimento e 14 de largura por página, rápido cresceu em tamanho e passou a custar mais caro, 80 réis o exemplar.
Era o seguinte o pessoal empregado:
Redator: Padre Mororó, com o ordenado de 400$;
Impressor: Francisco José de Salles, com ordenado de 300$;
Compositores: Felippe José Fernandes Lana e Urbano José do Espírito Santo (mais tarde Urbano Paz Jerepemonga) com ordenados cada um de meia pataca por dia, nos três primeiros meses, e com um aumento proporcional ao adiantamento que fossem mostrando.
Havia mais dois serventes com a diária de 200 réis.
Foi encarregado da venda do jornal e mais trabalhos que saissem da tipografia, o negociante João Bezerra de Albuquerque e o avô do desembarcador João Firmino e do Dr Raymundo Ribeiro.
Todos os ordenados eram pagos pela Fazenda Pública e ficaram assentados na sessão do Governo à 29 de Março de 1824. O redator e o impressor e o vendedor das gazetas tinham o pagamento em quarteis, os compositores mensalmente e os serventes por semana.
O Diário saia duas vezes por semana, às quartas e aos Sábados.
No intuito de favorecer a tipografia nacional expediu o Governo a circular determinando que os membros dos conselhos da Provincia se cotizassem em 6$ cada ano em benefício dela.
Para inteiro conhecimento do leitor quanto aos dizeres do primogênito do jornalismo Cearense, aqui vão transcritos os quatro artigos de que ele tratou, merecendo notar-se a lingugem usada:
"Sessão do estabelecimento da typographia - Em 29 de Marços de 1824. Abriu-se a sessão a horas competetes, leo-se a Acta passada, e achou-se conforme. Despacharão-se varios requerimentos de partes, e expedirão-se varias ordens, e officios. Tendo-se na sessão do dia vinte do corrente Accordado que o Governo faria a creação dos officiaes, que deveriam compor o trabalho da typographia nacional, e os ordenados, que deverão vencer, em quanto do rendimento della não podessem ser pagos: Acordou o governo, que seria o imprensario Francisco José de Salles enviado pelo Excellentissimo senhor presidente do governo de Pernambuco, e venceria o ordenado de trezentos mil réis annuaes pago pela Fazenda Nacional a quarteis, para coadjuvar ao Imprensario, e instruir a mocidade haverão dois ajudantes compositores: Felippe José Fernandes Lana e Urbano José do Espirito Santo com o ordenado cada hum de cento e sessenta réis por dia nos primeiros tres mezes, e dahi em diante, se lhe augmentaria o ordenado a proporção de seu adiantamento; haverão mais dois serventes com ordenado de duzentos réis por dia e finalmente haveria hum redactor do Diário do Governo, que seria o Padre Mororó, pessoa de instrucção e conhecimentos, que venceria o ordenado de quatrocentos mil réis, e todos os referidos ordenados serão pagos pela mesma Fazenda Pública, e recolhendo-se a ella o resultado da venda das folhas, e mais papeis, que se venderem, nomeando o mesmo Governo a João Bezerra de Albuquerque, negociante desta praça para vender em sua loja com o lucro de 8 por cento e outro sim, que as folhas, que se não occuparem meia folha de papel por um, e outro lado se vendão a vinte réis e as que passarem a outra página, se vendão a quarenta réia, porém se for folheto. o Imprensario como administrador da Typografia regulará o preço por que se deve vender, intelligenciará ao Gazeteiro, o Redactor inserirá nas suas folhas, composições e escriptos, os memoriaes, lembranças e queixas, que qualquer indivíduo lhe requerer, e da mesma forma o Imprensario as imprimirá quando lhe requererem, contanto que paguem a taxa estabelecida, e as aprezentem assignadas, e reconhecidas. O Redactor, Imprensario e Gazeteiro serão pagos a quarteis. Os ajudantes compositores mensalmente, os serventes como pessoas pobres semanariamente pela folha, que o Imprensario assignará para o Almoxarifado.
Expediente - Officio Circular - Temos uma typografia nacional enviada a este governo pelo excellentissimo presidente de Pernambuco Manoel de Carvalho Paes de Andrade, nosso honrado Patricio, que só se esmera no bem estar do Brazil. Esta vantagem real abre o caminho livre as nossas commodidades, e legitimos interesses, e he obra prima da liberdade do Brazil.
Officio da Villa do Crato - Temos prezente o officio de V. Excellencias do primeiro do corrente a que acompanharão por decretos de dissolução da assembléia constiuuinte, e legislativa do Brazil plenamente congregada no Rio de Janeiro; pela proclamação de sua magestade, imperial, o manifesto, insinuações para nova eleição de Deputados remettidos daquella corte; e apesar do laconismo que se observar em dito officio, elle veio por-nos em perplexidade pelo modo decizivo com que V. Excellencias, supremas authoridades desta provincia, mandão sem mais reflexão dar o passo preliminar para a perdição e desgraça dos que tem confiado em V. Excellencias a guarda, e defeza de seus inalienaveis direitos.
Resposta ao Officio da Camara do Crato - Recebemos de V. S. S. datado de 28 de Fevereiro pretérito. Nelle brilha o amor da Patria com rasgos tão vivos, quaes já não aumiramos em hum povo desde muito o mais briozo, e denodado. O nosso prazer, he summo; os nossos sentimentos iguaes; e esperamos continuem V.S.S. á dar ao Brazil inteiiro o espectaculo encantador do mais glorioso patriotismo. Sejão V.S.S. com as corajozas Camaras da Comarca-nova o alvo á que atirem com setas de amor e admiração todas as outras da provincia. Maldito seja o cearense, que não propugnar pela Liberdade de sua Patria! Deus guarde a V.S.S Palácio do Governo no Ceará 31 de Março de 1824 da Independencia e liberdade do Brazil. Illustrissimos Srs Prezidente e membros da Camara do Crato. Com as Rubricas do Governo."
Ao Diário do Governo do Ceará precederam a Gazeta do Rio de Janeiro[1808], A Idade do Ouro do Brazil, da Bahia[1811], Aurora Pernambucana[1821], Canciliador do Maranhão[1821], O Paraense[1822] e a Abelha de Itaculumy[14 de Janeiro de 1824].
Só três anos e meio (1º de Outubro de 1827) depois de publicado o Diário do Governo do Ceará foi que no Rio de Janeiro surgiu o Jornal do Commercio, o mais importante representante da imprensa na America do Sul.
É bom deixar claro que antes do Diário, houve na época do notável governador Manoel Ignacio de Sampaio, uma Gazeta, mas essa não era impressa, redigia-a o próprio Sampaio, que a fazia circular. Chamava-se Gazeta do Ceará.
O Diário foi o pioneiro, não existe no Ceará jornal impresso que fosse anterior ao do Pe Mororó.
"Intangivel, mysterioso esse jornal de nascença, vida e morte desconhecidas de todos e por todos!"
Barão de Studart
Fonte: Instituto do Ceará