Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Cajueiro da Mentira
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Pelas Praças da cidade - Parte I




Praça do Ferreira ainda com o sobrado do comendador Machado, demolido em 1927 para a construção do hotel Excelsior - Arquivo Nirez


A ideia da praça surgiu com uma reforma no plano da cidade.
Em dezembro de 1842, uma lei da Assembléia Provincial autoriza uma reforma do plano da cidade, eliminando dela a rua do Cotovelo a fim de ficar ali uma praça que se denominará Praça Pedro II. Boticário Ferreira foi eleito presidente da Câmara no ano seguinte, posto que ocupou até falecer em 1859.


O Jardim 7 de Setembro - Arquivo Nirez

A praça sofreu várias reformas sendo que a mais importante foi a construção do Jardim Sete de Setembro em 1902 na época em que os intelectuais da Padaria Espiritual se reuniam nos quiosques chamados: Escritório dos Bondes, Café do Comércio, Café Iracema, Café elegante e Café Java. Em 1914 a iluminação da praça é feita, bem como uma outra reforma. Em 1920, são demolidos os quiosques e o coreto, considerado o coração cívico da cidade na época. Em 1949 se construiu o Abrigo Central onde se encontravam boxes de vendas de discos, tabacarias, selos, bilhetes lotéricos, livrarias, café e até ponto de
ônibus. Apesar de ter se tornado um dos lugares mais movimentados da cidade, foi demolido em 1968 juntamente com a Coluna da Hora. A praça teve várias nomenclaturas destacando-se: Feira Nova: lugar onde se realizavam as feiras semanais, deslocando o centro da cidade da Praça da Sé, para o novo logradouro; Largo das Trincheiras: não se sabe bem se foi por uma batalha entre holandeses e portugueses, ou por causa do nome de um Senador que vivia ali e se apelidava de trincheiras; Pedro II: em 1859, em homenagem ao Imperador; do Ferreira: em 1871, após a morte do Boticário Ferreira, com memória aos relevantes serviços que prestou a cidade; Municipal: este nome durou somente seis meses, retomando ao seu nome anterior. Além dessas denominações oficiais também era popularmente conhecida por “da municipalidade”, por estar defronte do prédio da Intendência Municipal.


O Cajueiro da Mentira

É limitada pelas ruas Major Facundo, Floriano Peixoto, Dr. Pedro Borges e Travessa Pará e seu homenageado é Antônio Rodrigues Ferreira (Boticário Ferreira). O Boticário Ferreira nasceu em Niterói em 1801, teve muita influência política em Fortaleza, ganhou licença para montar botica e se estabeleceu. Deu impulso a grandes obras na cidade como, por exemplo, a Santa Casa de Misericórdia. Demoliu o Beco do Cotovelo construindo ali a praça que levaria seu nome. O monumento é a Coluna da Hora, considerada o ícone mais significativo da cidade de Fortaleza, a coluna da hora continuou com sua importância mesmo depois da sua demolição em 1968. O relógio de origem americana fabricado por Seth Thomas Clek Co de Nova Iorque tem quatro faces e está localizado no ápice da coluna situada no meio da praça. A coluna da hora juntamente com seu relógio é construída em 1932 com a demolição do cloreto. Contudo, só é inaugurada no início de 1934 com projeto do engenheiro José Gonçalves da Justa em estilo “Art-Déco”. Tinha cerca de 13 metros de altura. Em 1968 a coluna da hora é demolida juntamente com o Abrigo Central. Em conjunto com a reforma da praça, em 1991, fizeram uma nova coluna da hora projetada pelos arquitetos Fausto NiloCosta Junior e Delberg Ponce de Leon permanecendo até hoje.


Praça do Ferreira em 1934 


Lindo Passeio Público do Álbum Vista do Ceará 1908

Considerada uma das primeiras praças de Fortaleza e situada ao lado da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, era chamada de Largo da Fortaleza, no século XVIII. Além dessa, são observadas várias outras nomenclaturas:
Largo do Paiol: como o próprio nome indica, pela existência de um paiol de pólvora, que ficava no ângulo atual da Santa Casa de Misericórdia, do lado do mar; Largo do Hospital da Caridade: em homenagem à atual Santa Casa de Misericórdia cuja criação começa em 1847; da Misericórdia: em homenagem à atual Casa de Misericórdia, instalada em 1861; dos Mártires:1879 “Em memória dos beneméritos cidadãos que ali foram sacrificados pela causa da liberdade”; Campo ou Largo da Pólvora: nome popular, local destinado ao sacrifício de criminosos, foi erguido um patíbulo para punir condenados de crimes comuns. Destruído em 1831 por um grupo de patriotas.

Passeio Público em 1960 - Foto da Exposição Viva Fortaleza

E, por fim, em 1850, passa a ser chamada Passeio Público por ser considerado o local preferido pela sociedade cearense da época para passeios matutinos e vespertinos. Apesar da praça ter sido arborizada em 1864 e já representar um local tradicional de encontros, apenas em Julho de 1881 é que a praça é inaugurada. O passeio foi dividido em três planos sócio econômicos como mostra Sarmiento (2006, p. 56) “A gente de maior nível econômico ficava na Avenida Caio Prado, a classe média frequentava a Carapinima e a mais pobre a Mororó. Em 1932 suas grades circundantes foram retiradas. Alguns heróis cearenses que participaram da Confederação do Equador foram mortos no passeio público, dentre eles estão: Tenente Coronel Feliciano José da Silva Carapinima, Tenente de Milícias Luís Inácio de Azevedo Bolão, Padre Mororó,Tenente Coronel Francisco Ibiapina, João de Andrade Pessoa Anta e Tristão Gonçalves de Alencar Araripe

Monumentos de Barão de Studart, Dr. José Frota, Dr. Moura Brasil e Delmiro Gouveia - Fotos de Leuda Reinaldo

Fica limitada pelas ruas Barão do Rio Branco, Dr. João Moreira e Floriano Peixoto. Os monumentos são os bustos de Barão de Studart, Dr. Moura Brasil, Dr.José Frota, Delmiro Gouveia.

Continua...



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Crédito: O Centro Histórico de Fortaleza e seu patrimônio cultural arquitetônico

sábado, 7 de janeiro de 2012

Dos elegantes cafés vindos do Século XIX ao varejo atual



Praça do Ferreira - Arquivo Nirez


A Praça do Ferreira, esse logradouro hoje formado, ao Norte, pela Rua Guilherme Rocha – antiga Travessa 24 de Janeiro e Travessa Municipal; ao Sul, pela Rua Pedro Borges – antes Beco do Cotovelo e Beco do Pocinho; ao Leste, pela Rua Floriano Peixoto – antiga Rua da Alegria, Rua das Belas, Rua da Boa Vista, Rua D’el Rei e Rua da Pitombeira, e ao Oeste, pela Rua Major Facundo – antes Rua Nova D’el Rei, Rua do Fogo, Rua da Palma e Rua Nº 3; foi criada em “6 de dezembro de 1842, na gestão do intendente Manuel Teófilo Gaspar de Oliveira, cuja lei da Assembléia Provincial autorizava uma reforma no plano da cidade, eliminando dela o Beco do Cotovelo, a fim de ficar ali uma praça que se denominou Praça Pedro II


Café do Comércio - Registro de 1908, mostrando a elegância fortalezense. 
Arquivo Nirez


Café do Comércio no século XX

Antônio Ferreira Rodrigues - O boticário Ferreira – assim tratado por todos que o conheciam, nasceu no ano de 1804, na cidade de Vila Real da Praia Grande, hoje cidade de Niterói – Rio de Janeiro. Filho de Antônio Rodrigues Ferreira e Marcolina Rosa de Jesus.
Em 1824, recrutado para servir na Cisplatina, desertou e conseguiu embarcar para o Recife, onde o acolheu e protegeu, o negociante português Manuel Gonçalves da Silva. Conheceu em casa deste um comerciante rico e importante de Fortaleza, - Antônio Caetano de Gouveia, cônsul de Portugal, que o trouxe para o Ceará, como seu caixeiro, por volta de 1825 – ano terrível de seca no Ceará e da luta política da República do Equador.


Rua Major Facundo com a Pharmácia Galeno (Onde antes funcionou a Farmácia Boticário Ferreira) - Arquivo Nirez e restaurada por Sidney Souto


Pharmácia Galeno na Praça do Ferreira- Déc. de 40

Com 21 anos de idade, ainda em sua terra natal, obtivera muita prática em farmacologia, cujas receitas salvaram de difícil parto, a mulher do seu protetor, que o ajudou a obter da Junta Médica de Pernambuco, licença para instalar botica no trecho da antiga Rua da Palma, hoje Rua Major Facundo – onde funcionou a Farmácia Boticário Ferreira, Farmácia Galeno, do farmacêutico Joaquim (Yoyô) Studart da Fonseca, filho de Leonísia Studart da Fonseca, irmã do Barão de Studart, casada com João da Fonseca Barbosa, tesoureiro do Banco Cearense, em cujo local mais tarde se instalou a Loja de Variedades, hoje Loja Milano.


Sorveteria das Lojas de Variedades. Movimentadíssima. Tinha o melhor cachorro-quente da cidade com um molho espetacular. Ficava na Rua Baraõ do Rio Branco e tinha fundos correspondentes com a Major Facundo. As lojas de Variedades viraram a loja Samasa.
Houve até concurso para a escolha do nome, dentre três sugeridos, ficou Samasa (Sebastião Arraes Magazine S/A). Essa  foto é da inauguração, que foi em 16 de dezembro de 1949. Foto do arquivo Nirez


Lojas de Variedades Ltda - Arquivo Paula Figueiredo


Em 1902, o cel. Guilherme Rocha, Intendente à época, deu nova feição à praça arborizando-a, cercando o centro com grades de ferro – construindo o Jardim 7 de Setembro.


O lindo jardim 7 de Setembro - Arquivo Nirez

Existiam ainda na praça quatro quiosques que se denominava “café do Comércio”, “café Iracema”, “café Elegante” e “café Java” – o mais antigo, pois data de 1886 e se tornara o principal ponto de reunião da fina flor da cidade, e dos famosos intelectuais da inovadora Padaria Espiritual.


Café Elegante em 1910

Praça do Ferreira em 1919 com o Café Elegante- Arquivo Nirez 


Restaurante Iracema no Álbum de Vistas do Ceará, em 1908 - Nirez


Café Java

Em 1914 – na gestão do prefeito Rdo. de Alencar Araripe, a praça foi inteiramente reformada, recebendo iluminação moderníssima com cabos condutores subterrâneos.
Nova reforma se deu em 1920, o prefeito Godofredo Maciel mandou demolir os quiosques e retirar as grades centrais que constituía o Jardim 7 de Setembro, e, construir um pouco deslocado para o lado Sul, o coreto para os músicos das bandas das Polícias do Estado e do Município, levando efeito semanalmente às tradicionais e concorridas retretas que eram do agrado público.


Praça do Ferreira e a antiga Coluna da Hora em 1936, vista de cima do Excelsior Hotel. Arquivo de Peter Fuss

Dentre outros melhoramentos, o prefeito Raimundo Girão, em 1932, autorizou demolir o coreto, e em substituição erigir a “Coluna da Hora”, com relógio de quatro faces que servia de orientação para toda a cidade, cuja inauguração ocorreu no dia 31 de dezembro de 1933.
Hoje, no mesmo local, relógio com estrutura de ferro aos moldes do antigo relógio (montado sobre alvenaria) ao lado de antigo cacimbão, existente desde o início do logradouro.

A praça foi e será sempre a sala de visita da cidade para nós fortalezense e, para todos que aqui chegam. Sua posição geográfica, lembranças históricas e conhecida como cidade hospitaleira e agradável aos visitantes e adventícios que por aqui aportavam sob intenso calor, mas recebem, à noite, a aragem que vem do “Aracati”, amenizando o calor do dia, tornando suave as noites e aprazíveis os momentos de descanso para aqueles, sentados nos bancos da praça.


Fachada da Farmácia Pasteur - Nirez

Ainda gravada na lembrança, a chegada à praça, no quarteirão da Rua Major Facundo, em frente a Farmácia Pasteur, dos bondes que faziam diversas linhas, onde eram vistas pessoas que se despediam para subir ou descer do transporte, que rodeando a praça, seguiam itinerários diversos, carregando o lirismo de um adeus ou até logo... à exceção dos que faziam as linhas da Praia de Iracema e Prainha, porque seguiam percurso pela Rua Floriano Peixoto.


Rua Major Facundo, ocasião da passagem de um bonde. 
A foto deve ser de aproximadamente 1918. O prédio alto é o Cine Majestic inaugurado no dia 14 de julho de 1917 com o espetáculo de Fátima Miris. Só depois inauguraria como cinema - Arquivo Nirez

Bondinho na Major Facundo, lotado de alunos do Liceu

As casas comerciais à época e as lojas de hoje

O comércio centralizado na praça se diversificava na proporção da escolha dos produtos procurados e predominava o comércio varejista. Ainda hoje permanece o comércio diverso em toda a sua extensão.
Começando pela quadra do lado Oeste, na rua Major Facundo, esquina com a rua Guilherme Rocha, o edifício do Excelsior Hotel, considerado o primeiro arranha-céu do Ceará. Entrou para história como primeiro hotel de nível internacional da Região Nordeste. Construído em 1927, à base de argamassa e cal, com oito andares, pelo arquiteto Emilio Hinko, casado com Sra. Pierina Rossi Hinko, viúva do milionário Plácido Carvalho; inaugurado em 31 de dezembro de 1931; o hotel foi edificado no lugar de um sobrado de três andares que pertencia ao comendador José Antônio Machado.
Ao lado da entrada e parte térrea do edifício Excelsior - Rua Guilherme Rocha - onde funcionou por muitos anos o hotel mais chic e equipado da cidade; esquina com a Major Facundo, existiu a Farmácia Francesa, hoje Ótica Hora Certa e Disco & Cia.


Café Riche - Foto dos anos 20

A próxima quadra pelo lado poente da rua Major Facundo, com Guilherme Rocha, em direção a Rua Liberato Barroso, bem na esquina ficava o café Riche, depois Loja Broadway, de Alberto Bardawil, hoje, loja Tok Discos; vizinho com uma porta estreita, onde funcionou um armarinho, para venda de gravatas, camisas, lenços, canetas e relógio, hoje Rei das Canetas; a seguir as Lojas Sloper (com matriz no Rio de Janeiro) – era loja freqüentada pela alta camada da sociedade; os dirigentes vinham do Sul, e, as vendedoras eram moças de gradas famílias, que elegantemente vestidas, portavam até chapéus e luvas; nesse mesmo local se instalou à Flama - Símbolo de distinção - assim era o slogan da loja, hoje Banco Mercantil do Brasil; A seguir vinha o Cine Polytheama, dos irmãos Rola, hoje Cine São Luiz, geminado ao prédio que serviu de escritório à Empresa Ribeiro, de propriedade de Luís Severiano Ribeiro, hoje com rua lateral que dá acesso à Rua Barão do Rio Branco. Nesse local às tardes, era ponto de encontro de respeitáveis senhores “jovens há mais tempo”, que para ali se dirigiam para tirar “dois dedos de prosa” e botar olhar godê ou olho de mormaço para as moças em flor que ali passavam.
Poderiam ser vistos o engenheiro de acabamento do Edifício São Luiz, José Euclydes Caracas, os senhores Vinícius Ribeiro, Edgar e Humberto Patrício, Dr. Belo da Mota, Gen. Eurípedes Ferreira Gomes e seu cunhado, Thomaz Pompeu Gomes de Matos; Mais adiante a Pharmácia Pasteur – Estabelecimento de Eduardo Bezerra, hoje Lojas Marisa e Farmácia Avenida.


Este incêndio destruiu completamente o Edificio Majestic e as Lojas Brasileiras na Praça do Ferreira.

O Cine Majestic e Bar com cadeiras de pés de ferro e pequenas mesas de mármore, com música a cargo do pianista e compositor Mozart Gondim Ribeiro, tio dos estimados Humberto, Heitor Filho, Haroldo e Heloísa Diogo Ribeiro, freqüentado por expoentes da cidade, como Raimundo Gomes de Matos, Quintino Cunha, Dolor Barreira, Olinto Oliveira, Heribaldo Costa, Álvaro Costa, Des. Leite Albuquerque, Lauro Maia, Des. Ubirajara Caneiro, boêmio e poeta Cid Neto e outros. Imponente edifício de quatro pavimentos que pegou fogo na década de 1950, após a demolição, a Loja de Variedades, e, Lojas 4.400, hoje Lojas Riachuelo e Duda´s Burger; Farmácia Oswaldo Cruz – de propriedade de Edgar Rodrigues; no andar superior da Farmácia Oswaldo Cruz – o escritório por mais de 50 anos, de um dos mais brilhantes e atuantes advogados do Ceará, Olinto Oliveira (pai do Olinto Filho). Com ele trabalhavam, os ilustres causídicos – Walmir Pontes, Álvaro Costa, e os advogados Oscar Pacheco Passos e Moacir Oliveira, no imóvel que pertencia à Pierina Hinko; vizinho casa térrea de duas portas – o Foto Sales, de Tertuliano Sales, mais tarde de seus sucessores; em imóvel de igual formato de rótula – a famosa Garapeira Mundico com refresco de pega pinto, aluá, e, refresco de erva quebra-pedra, côco-babão, refresco de erva vassourinha, muito procurado pelos visitantes da cidade por ser medicinal. 


A primeira escada rolante de Fortaleza surgiu aqui, nas lojas 4.400 - Lojas Brasileiras de Preço Limitado, depois conhecidas como Lobrás, inaugurada na esquina da Rua Major Facundo com Rua Pará, no dia 09 de novembro de 1957. Vemos aqui suas duas fachadas à noite, iluminadas com motivos natalinos daquele ano. Com a derrubada desse prédio foi erguido, no local, o Hotel Savanah. Arquivo Nirez


Farmácia Oswaldo Cruz, em 1952. Foto Arquivo Nirez


Em tempos mais recuados, a mais famosa garapeira, Bem-Bem, especialista na excelente bebida conhecida por “jinjibirra” ou “gengibirra”, muito apreciada por todos, fermentada, feita de frutos, gengibre, açúcar, acido tartárico, fermento de pão e água, conhecido no Nordeste como champanhe-de-cordão, cerveja-de-barbante. Talvez fosse melhor escrita gengibirra, e que celebrizou o extrovertido Bem-Bem; vizinho ao Mundico, o Armarinho do Orion, com vendas de meias, gravatas, lenços e objetos masculinos. Ainda no mesmo quarteirão da rua Major Facundo – a mais célebre farmácia da cidade a antiga farmácia do Boticário Ferreira. Mais tarde – segundo familiares, nesse estabelecimento se instalara a Pharmácia Galeno, cuja sociedade em parceria com Silvino Silva Thé, hoje Lojas Milano; o Cine Moderno, da Empresa Severiano Ribeiro, com sua rica e esplendorosa marquise variegada, com cristais coloridos das mais vivas cores, no formato de meia concha ou cauda de pavão, dava toque de elegância e imponência à entrada do cinema; depois lojas Samasa, de Sebastião Arrais, hoje Sapataria Nova e Clínica de Olhos Rosangela Francesco. Esquina da Rua Major Facundo com a Liberato Barroso, de um lado, existiu nas décadas de 1940/60, o café Sporte, dos irmãos gêmeos José e Estevam Emygdio de Castro, muito estimados por todos, foram patrões na firma Emygdio & Irmãos, hoje Lojas Esquisita, de Pio Rodrigues, pai de Edir Rolim; do outro lado, na Rua Liberato Barroso com Major Facundo, foi Farmácia Modelo, depois Casa Veneza, hoje o local está desocupado.

No quadrilátero da Praça do Ferreira, lado Sul, lado que correspondia antes ao Beco do Cotovelo, que além das denominações oficiais, a praça, na época, era também popularmente conhecida por “Praça da Municipalidade”, por situar-se defronte do prédio da Intendência Municipal, onde também funcionava a sala do júri. No local, onde existiu o Abrigo Central, construído na gestão do prefeito Acrísio Moreira da Rocha.


Rainha da moda - Década de 40

A Rua Dr. Pedro Borges, situada na ala Sul da praça, esquina com Major Facundo – onde hoje se ergue o Edifício Torres, existiu a Casa Maranhense, depois a Loja Rainha da Moda, Pastelaria Chinesa, hoje Casa Amazônia – ao lado da escada que dava entrada para o Foto Ribeiro; vizinho à Loja Ceará Chic – de Irajá Vasconcelos; A Miscelânea, mercearia de primeira ordem, do Sr. Frota; Farmácia Belém, hoje Casa Pio; Posto Mazine, do Sr. Falcão – primeiro revendedor do fogão a gás, depois Grupo Edson Queiroz, hoje Farmácia Pague Menos, de Deusmar Queirós, proprietário da maior rede de farmácia do Brasil, homem generoso e de convicta religiosidade, pai de Mário Queirós, também avô de Pedro Henrique.

A Sapataria Clark, depois Salão Lord, hoje Roscel Jeans; Sorveteria Odeon, hoje Óticas Itamaraty, de Pantaleão Cavalcante; Leão do Sul, de Dimas de Castro e Silva, pai de Marçal Pinto de Castro; e na esquina da Rua Floriano Peixoto a Casa Maranguape, depois Lojas de Artigos Masculinos, de Agenor Costa, hoje Farmácia Avenida.
Do lado Leste, esquina com a Rua Dr. Pedro Borges, existiu a Casa Blanca, de J. Ary – Jean e Emilio Ary (irmãos), hoje ainda armazém de tecidos da C. Rolim; vizinho à antiga Padaria Lisbonense, de Pelágio Oliveira, hoje Shopping Lisbonense.
Inicio com o outro lado o Armazém de tecidos Leblon, hoje Lojas Leblon; seguia-se da Loja Oriano – engraxataria e polimento de calçados, hoje Lojas Otoch; assim como os demais, o prédio com pavimento superior do italiano Salvador Cunto – com alfaiataria; Loja Central, de Pedro Lazar e seu primo Adir Lazar. O Bar e Sorveteria dos Jangadeiros, de Luis Frota Passos; a Farmácia Faladroga, todas hoje, onde estão as Lojas Otoch; Livraria Alaor, hoje Óticas Mariz; Bar da Brahma – dos irmãos Coelho, onde serviam as deliciosas unhas e patas de caranguejo e o queijo flamengo com fatias de pão, local de encontro dos senhores de meia-idade que todas as tardes se reuniam para saborear a cerveja Boock Alen, depois Armazém do Povo, hoje Mundial Video Bingo; Farmácia Globo, hoje C. Rolim; Farmácia Santo Antônio, de Dalmário Cavalcante Albuquerque, hoje Bingo Cidade; Farmácia Humanitária, hoje Café L’Escale; Sorveteria El Dourado, do estimado homem de negócios – FigueiredãoAntônio Montenegro Figueiredo, hoje Farmácia Avenida; Caldo de Cana “O Merendinha”, Quezado, da Dona Zenaide Quezado de Aurora, hoje Lojas Helga; e Palacete Ceará, o Clube Iracema, mais tarde Rotisserie, casa de jogo de bilhar, do árabe Sr. Abraão, hoje agência da Caixa Econômica Federal. Ainda do lado Leste, na Rua Floriano Peixoto, numa diagonal, foi plantado uma muda de cajueiro, na administração Juraci Magalhães, simbolizando o lendário “cajueiro da mentira”, hoje com placa assentado ao lado com os seguintes dizeres: “Neste local existiu um frondoso cajueiro que, por frutificar o ano todo, era apelidado de “cajueiro botador” ou, por se realizarem, sob sua copa, cada 1º de abril, as eleições para o maior “potoqueiro” do Ceará, era também chamado de “cajueiro da mentira"


Cajueiro Botador na Praça do Ferreira em 1905 - Arquivo Assis de Lima

Foto Jaqueline Aragão
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Fonte: Diário do Nordeste


sábado, 16 de abril de 2011

O Cajueiro Botador - Livro Fortaleza Descalça


É com extrema doçura que descobrimos Fortaleza e com riqueza de detalhes vai o autor relatando fatos e pessoas que marcaram decididamente, nossa cidade. Com profundo conhecimento e com uma característica bem particular, Otacílio de Azevedo nos conta como se deu a Inauguração do Teatro José de Alencar, a queda do Governo Acióli, a Inauguração do Majestic e como funcionava o Cinematógrafo de Júlio Pinto. São citados inúmeros e importantes poetas e prosadores, pintores e figuras da sociedade cearense. Os tipos populares mereceram de Otacílio, destaque particular. Assim, o autor nos possibilita uma viagem no tempo da Fortaleza tranquila, pacata, simples e feliz, sem automóveis, sem barulhos enlouquecedores, apenas os das serestas que embalavam as noites de luar e os corações dos apaixonados....

Conheci, logo que aqui cheguei, vindo de Redenção, o célebre “Cajueiro Botador” da Praça do Ferreira. Situava-se em frente da Empresa telefônica – local onde hoje é a Livraria Alaor. A Livraria Alaor ficava na Rua Floriano Peixoto n° 621.

Era o Cajueiro dos mexeriqueiros, dos desocupados... mas também de muita gente boa. No dia primeiro de abril, feriado nacional da mentira, juntava-se ali dezenas de pessoas – homens da sociedade, plebeus, artistas, pequenos comerciantes, brancos e pretos, enfim, toda casta de gente que lia cartazes pregados no tronco nodoso do cajueiro.



Cajueiro Botador - Praça do Ferreira - Foto de 1905 - Arquivo Assis Lima

Era uma gargalhada ininterrupta que vibrava, repercutindo por toda a Avenida 7 de setembro. Os cartazes noticiavam as maiores mentiras, denunciavam mil coisas e, às vezes, a sua leitura provocava discussões e até brigas violentas.

O Café Java, que ficava defronte à Delegacia de Polícia (hoje Caixa Econômica), era a sede do pleito político dos potoqueiros e onde se preparava as chapas para as eleições de mentira.


Café Java - Foto de 1908

De manhã cedo, até ao anoitecer, não se mediam horas, ninguém trabalhava noutra coisa a não ser na eleição dos seus candidatos. Embandeiravam os galhos do velho cajueiro com as chapas e cartazes.


Praça do Ferreira - Foto de 1906 - Arquivo Assis Lima


Soltavam bombas e foguetes sob a música da Banda da Polícia ali postada a executar sambas, polcas e maxixes, às vezes acompanhados de grossa pancadaria...

Faziam parte daquela comuna irrequieta Amâncio Cavalcante, Leonardo Mota, Eurico Pinto, Gérson Faria, William Peter Bernard, Ramos Cotoco, Chamarion, Carlos Severo, Gilberto Câmara, Quintino Cunha, o Rochinha da farmácia, o Pilombeta e muitos outros...

Os que se mostravam contra a brincadeira ficavam loucos de raiva, atiravam no chão os seus chapéus de palhinha, brandiam furiosos as bengalas, praguejavam, ameaçavam e, impotentes, retiravam-se sob o apupo de mil vozes galhofeiras.

O cajueiro, porém, pejado de frutos vermelhos de janeiro a dezembro, parecia rir daquilo tudo: agitava ao vento os seus galhos retorcidos e pesados dos frutos maduros.

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Diz Raimundo Girão na sua magnífica Geografia Estética de Fortaleza: era o cajueiro da mentira. Melhor, o suporte da urna em que se elegiam os mitômanos graduados todos os anos a primeiro de abril, considerado o dia nacional da potoca. 

À sua sombra, como um pálio, resguardava a mesa eleitoral que recebia os votos populares no mais animado e vero dos pleitos, tudo ornamentado de bandeirinhas de papel e agitado de foguetes de estouro.

À noite, o nome vitorioso era colocado no cajueiro, havendo discursos, aplausos, urros, os mais calorosos vivas sob o estrépido das palmas.

Em 1920, o prefeito Godofredo Maciel, num gesto frio e desumano mandou que cortassem o cajueiro botador. Houve um levante surdo contra o desalmado prefeito, que muito perdeu na simpatia dos assíduos fregueses do quartel-general onde se reuniam os programadores do memorável dia da mentira.

Era esta a maior festa popular da Fortaleza Antiga.



Revivendo o Cajueiro Botador...


História do Festival de Mentiras

De 1904 a 1920, na Praça do Ferreira, debaixo do Cajueiro Botador (era assim chamado porque botava caju o ano todo), o Ceará assistiu a sua festa mais tradicional, popular e moleca que foi o Festival de Mentiras, realizado, é claro, no dia 1º de Abril. Ali, intelectuais, artistas, bebuns e desocupados passavam o dia escrevendo e afixando papelotes no Cajueiro, com todo tipo de mentiras ou verdades provocantes.
Em 1920, o Prefeito Godofredo Maciel, sentindo-se incomodado com a brincadeira, mandou derrubar o Cajueiro, acabando com a farra. Na última reforma da Praça do Ferreira, foi plantado um novo cajueiro e colocado a seu lado um placa que conta um pouco desta história.


Foto de Jaqueline Aragão

Em 2006, depois de 86 anos sem acontecer o evento, o Escritório do Riso retomou o Festival de Mentiras, realizando-o também nos anos de 2007, 2008 e 2009 no Teatro Chico Anysio. Em 2010, o Festival volta à Praça do Ferreira, seu lugar de origem.





Debaixo do Pé do Cajueiro Botador o organizador do Festival Zebrinha e o grande potoqueiro vencedor do 22º Festival de Mentiras, realizado em 1º de Abril de 2010; 90 anos depois de acontecido, ali, naquele mesmo lugar, o último Festival de Mentiras; mais precisamente em 1920. O nome do vencedor é todo invocado: Delegado Vilas Malas.


Bagaceira - O Mentiroso de 2011



Créditos: Livro Fortaleza Descalça de Otacílio de Azevedo e Blog do Zebrinha

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: