Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Clarindo de Queiroz
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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Cine Merceeiros - 1930


O Cine Merceeiros da Associação dos Merceeiros

No dia 5 de abril de 1914 era fundada, em Fortaleza, a sociedade beneficente Associação dos Merceeiros, que se propunha a desenvolver atividades instrutivas e de defesa dos comerciantes de estivas e miudezas a retalhos e empregados no comércio, entidade que se mantem ainda hoje em pleno funcionamento.

A associação instalaria, dezesseis anos depois, na sua sede à rua Major Facundo, 421, esquina com rua Clarindo de Queirós, na Praça do Carmo, o Cine Merceeiros. A festiva inauguração ocorreu, no sábado, 1º de novembro de 1930, com a comédia A Ver Navios (Why Sailors Go Wrong; Fox Film Corp., 1928, 6 rolos, direção de Henry Lehrman, argumento de William Conselman, cenário de Randall H. Faye, com Sammy Cohen, Ted McNamara, Sally Phipps, Nick Stuart, Jack Pennick e Carl Miller).

O “Correio do Ceará” (3.11.30), registrou assim a inauguração:

INAUGUROU-SE ANTE-HONTEM O CINEMA DOS MERCEEIROS

Ás 19 horas, do dia 1º, na sede da conceituada Associação dos Merceeiros, fez-se a inauguração festiva do Cine Merceeiros, o qual se apresentava com todo o conforto e escrupulosa organização, representando mais um serviço de vulto conseguido pela atual Diretoria do pujante Centro de classe.

Convidados fomos para assistir o acto, e enviamos aos dirigentes os nossos parabéns, bem como toda nossa sympathia.
O cinema a partir dessa data ofereceu uma programação semanal, com filmes já lançados pelo circuito Severiano Ribeirotendo exatamente cinco anos de existência...

Quando comemorava o seu quinto aniversário, na noite de 1º de novembro de 1935, o Cine Merceeiros foi atingido por um incêndio que determinou o fim de suas atividades. Na festiva noite, que a fatalidade marcou, o filme exibido era “Manda Quem Pode" (Disorderly Conduct; Fox Film Corp.,1932, 7.400 pés, direção de John W. Considine, estória e diálogos de William Anthony McGuire, continuidade de Del Andrews, edição de Frank Hull, fotografia Harry Dawe, com Spencer Tracy, Sally Eilers, El Brendel, Ralph Bellamy, Ralph Morgan, Alan Dinehart, Cornelius Keefe, Sally Blane, Nora Lane, Dickie Moore, Claire Maynard, Pat O'Malley, Frank Conroy e Pat Harmon).

Reportando o incêndio que determinava o fim do Cine Merceeiros, o “Correio do Ceará”, no dia 4 de novembro de 1935, publicou a seguinte matéria:

O INCÊNDIO DO CINE MERCEEIROS

UMA COMMEMORAÇÃO FATÍDICA:
MANDA QUEM PÓDE!

Estava commemorando o seu 5º anniversario, o “Cine-Merceeiros” que é um dos mais populares cinemas da capital, quando, na 3ª parte da fita do dia, irrompeu o inesperado fogo, cerca das 9 horas da noite do dia 1º.

A Origem do Incêndio
Começou o fogo na “cabine” no momento em que a fita “quebrava" tendo o operador, no intuito de desembaraçar a pellicula, demorado um pouco a corrente sobre o espelho voltaico, occasionando o calor excessivo sobre o celluloide. Das versões que corriam no momento, esta nos parece mais razoavel. As chammas tomaram violentamente, toda a cabine de madeira, transmitindo as Iabaredas ao forro.
Percebida a realidade do perigo, estabeleceu-se ƒormidavel confusão. A “cabine" que fica atraz da platéa, estando coberta de Iabaredas, impediu a unica porta de acesso ao salão; sendo as inumeras portas laterais todas de “varanda". Ficou a assistencia toda cercada sem sahida rapida.
No primeiro instante, o "elemento masculino” não tergiversou: voou pelas varandas. Mas, num momento de heroica reflexão, numerosos cavalheiros voltaram a acudir o “elemento feminino” que assombrado, gritava tragicamente.
Viu-se, então, “raro trabalho" de salvação: senhoras, senhoritas e crianças carregadas, com viva presteza, por cima das grades de ferro que “avarandam todo o quarteirão” ocupado pelo majestoso palacete da “Associação dos Merceeiros" localizado à rua General Clarindo, entre Major Facundo e Marechal Floriano.

Os Seguros 
Informaram, no momento, de não haver seguros, nem no predio, nem no cinema. O presidente do cine, sr. Ignacio Costa, esteve presente, mostrando-se vivamente surprehendido com o sinistro.

“Manda Quem Pode!"
Era este o titulo da fita que se exhibia na occasião. O povo, seguindo a ação dos Bombeiros, applaudindo a coragem dos soldados e recuando aos estrondos mais fortes, fazia trocadilhos sobre o titulo, alludindo o poder do fogo, deante da lamentavel falta dagua, o que se verificou tres vezes.

A Fita da Bayer
O apparelho synchronizador da fita da Casa Bayer não trabalhava na filmagem da cinta “Manda quem póde".

O sr. José Penha, viajante da Casa Bayer calcula os prejuizos com o incendio do seu apparelho e do film em quantia superior a cincoenta contos de réis.

Ainda sobre o incêndio do Cine-Merceeiros, o “Correio do Ceará", na edição de 5 de novembro, publicou entrevista com o Presidente da Empresa mantenedora do cinema com novos esclarecimentos:

"A causa do fogo não fora propriamente aquela que em nossa noticia anterior julgamos veridica. O motivo real do incendio, assegura-nos o nosso informante - foi uma faísca desprendida da chave de ligação em curto circuito, vindo dita fagulha cahir justamente sobre os pedaços de fita que estavam proximos.
A proposito, lembramos aqui a grandeza de intuitos com que foi creado aquelle cinema.

A Associação dos Merceeiros possue uma importante escola para os filhos de seus associados, e, durante algum tempo, Iuctou com certa difficuldade financeira.
Alguns directores da Associação à frente da qual estava o proprio sr. Ignacio Costa naquelle tempo, lembraram a idéa de montar-se um cinema com o fim de serem empregados os lucros na manutenção da escola.

-Infelizmente queimou-se o nosso cinema, mas felizmente estava no seguro..."

O grande inimigo dos cinemas, o fogo, encerrava a iniciativa da Associação dos Merceeiros, de dar aos seus sócios e à cidade, um cinema alternativo.


(Grafia da época) 

Fonte:  Livro Fortaleza e a Era do Cinema de Ary Bezerra Leite


terça-feira, 27 de março de 2012

José Clarindo de Queiroz


Clarindo de Queiroz foi herói da Guerra do Paraguai, onde se notabilizou por sua bravura.
Foi Presidente dos Estados do Amazonas e Ceará. Promulgou a primeira constituição do Estado (16 de julho de 1891), mas teve de enfrentar ferrenha oposição dos seus adversários.

Nasceu em Fortaleza, capital da então província do Ceará, no dia 22 de janeiro de 1841, na atual rua Sena Madureira, nº 41, filho de Inácio Lopes de Queiroz e Ana Lopes de Queiroz. Inclinado para a vida militar, assentou praça aos quinze anos de idade, em 1856. Em 1865, tomou parte na Guerra da Tríplice Aliança e de lá voltou para o Rio de Janeiro no posto de tenente-coronel.

Rua Sena Madureira onde nasceu Clarindo de Queiroz com destaque para o Palácio do Governo

Quando encarregado de fortificar as fronteiras da provinda do Amazonas, os cearenses ali residentes ofertaram-lhe uma espada de honra, em setembro de 1874. Em 1880, foi promovido a coronel, em 1883, a brigadeiro e, em 1890, já era General de Divisão.

Em 1891, Clarindo de Queiroz, Governava o Ceará apoiando o Presidente da República Marechal Deodoro da Fonseca, quando este dissolveu o Congresso Nacional em 3 de novembro.

O Marechal Floriano Peixoto, então Vice-Presidente, reagiu ao ato e, diante dos fatos, Deodoro da Fonseca renunciou ao mandato no dia 23 de novembro, assumindo Floriano, a Presidência da República.

A 1ª medida do novo Governo foi destituir os partidários de Deodoro.

Dia da deposição de Clarindo de Queiroz pelos alunos da Escola Militar - Arquivo Nirez

Em 16 de Fevereiro de 1892 houve uma revolta dos alunos da Escola Militar instalada no Quartel da Fortaleza bombardeando o Palácio do Governo e depondo o Governador.
Participaram do combate os alunos da Escola Militar contra o contingente policial formado pelo Corpo de Segurança Pública e pela Guarda Cívica.

Os cadetes da Escola Militar 

No dia seguinte, 17, pela manhã, mediante cerco militar ao Palácio, o então General Clarindo de Queiroz é deposto¹, assumindo o Governo o Tenente Coronel Bezerril Fontinele, comandante da Escola Militar e principal responsável pela rebelião.

No mesmo dia Clarindo de Queiroz seguiu para o Rio de Janeiro. Ele foi um dos treze generais a quem o vice-presidente Floriano Peixoto, por decreto de 12 de abril de 1893, desterrou para Cucuí². Alí se agravaram os padecimentos de que veio a falecer, no Rio de Janeiro em 28 de dezembro de 1893. 

Clarindo foi comandante do Batalhão de Engenheiros, da Escola Militar, e comandante geral da artilharia e mereceu o Hábito de Cristo e as Grã-Cruzes de Avis e Cruzeiro.


  • ¹Clarindo de Queiroz governou o nosso Estado no período republicano de 28 de abril de 1891 a 16 de fevereiro de 1892, consequência direta do apoio que prestou ao Marechal Deodoro da Fonseca, que era o seu amigo pessoal. Muitas pressões foram impostas ao governador cearense para que abandonasse o cargo. O General então permaneceu no cargo, pelo menos até 16 de fevereiro de 1892, quando alunos da escola militar e da marinha, usando canhões e metralhadoras, cercaram o palácio do governo e exigiram a renúncia. Clarindo de Queiroz dispôs- se a resistir. 

Situação que ficou o Palácio do governo em decorrência do bombardeio feito pelas tropas federais - Museu histórico do Ceará

Na manhã de 17 de fevereiro, com o palácio crivado de balas, Clarindo de Queiroz, sem munição, rendeu- se e entregou o cargo ao Coronel Bezerril, então comandante do Colégio Militar de Fortaleza.

Ocasião da deposição - Museu histórico do Ceará

Saiba Mais

No dia da deposição aconteceram vários choques entre grupos contrários ao governador e tropas do então Corpo de Segurança Pública cujo comandante era o Ten-Cel EB Bonifácio Antônio Borba. Durante toda a noite, do dia da deposição, as tropas federais bombardearam o palácio do governo, registrando-se muitos mortos e feridos. O acontecimento, em suas linhas gerais, pode ser assim resumido:
" Questões políticas tinham exaltado muito os ânimos dos respectivos partidos daqueles dias. O esbofeteamento de um aluno defronte à Chefatura de Polícia, o espancamento bárbaro de outros na Guarda Civil onde foram em defesa de um companheiro, exaltara, igualmente, o espírito dos chefes armados. O governador prometeu providências, mas como fizeram demorar tais medidas, a luta era esperada a todo momento. (...) O General Clarindo, pelo telefone, pediu então a suspensão das hostilidades, com a afirmativa de que ia mandar as condições de sua rendição e terminação da luta. Meia hora depois, em ofício a administração ao comandante da guarnição federal, dizendo ser o único capaz de manter a ordem ". Publicado no livro de Eusébio de Souza, "História Militar do Ceará", volume II.


  • ²   Cucuí é um distrito do município brasileiro de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas 

A rua General Clarindo de Queiroz, entre as ruas Barão do Rio Branco e Senador Pompeu. A praça a frente é a Clóvis Beviláqua. Arquivo Nirez

Hoje Clarindo de Queiroz é homenageado em rua do centro de Fortaleza.



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Fontes: http://www.enciclopedianordeste.com.br, Wikipédia, Museu Virtual da PMCE, Guia.Ce

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