O clamor por mestres que cumprissem devidamente os encargos da profissão foi uma constante em relatórios dos presidentes de província do Ceará durante todo o século XIX. Mestres devidamente habilitados eram garantia de uma boa escola.
Assim, depois de várias tentativas para a instalação no Ceará de uma Escola Normal que cuidasse do preparo dos professores, foi lançada a pedra fundamental do edifício em 2 de outubro de 1881. A escola foi inaugurada em 22 de março de 1884.
O edifício foi projetado pelo engenheiro civil austríaco Henrique Foglare. A obra ficou a cargo do engenheiro civil Henrique Theberge, responsável pelas obras públicas provinciais, sendo executada pelo mestre pedreiro Francisco de Sousa Brasil.
Concluída em 6 de dezembro de 1882, a edificação só veio a ser utilizada dois anos depois. O edifício sediou a Escola Normal até 1923, quando foi ocupada pelo Grupo Escolar Norte da Cidade. O aspecto da edificação foi provavelmente “modernizado” nessa época, quando teve sua coberta modificada, implantando-se uma platibanda no lugar da antiga coberta à vista. O frontão triangular que marcava a entrada norte também desapareceu.
Em 1947 e 1954, o prédio serviu de sede para o Instituto Médico do Ceará. A partir dessa data, funcionou como a Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Ceará. Desde 1987, sedia o atual IPHAN.
O prédio hoje
Histórico da Escola Normal do Ceará...
"A aspiração para criar escolas de formação de professores no Brasil começou ainda no Império, porém havia dificuldades na criação das Escolas Normais em todo o país. Em 1879, a Reforma de Leôncio de Carvalho, que tinha valor somente no Rio de Janeiro, foi um marco para a criação desse tipo de escola.
No Ceará, a primeira tentativa de criação de uma Escola Normal deu-se em 1837, no mandato do presidente da província, José Martiniano de Alencar. A Lei 91, de 05 de outubro de 1837, criava temporariamente a Escola Normal do Ceará, porém a escola não foi instalada por falta de recursos e continuidade administrativa. Após esse fracasso na tentativa da criação da Escola Normal, o estado ficou ainda um longo período sem sua escola de formação de professores.
Somente com a Lei 1790 de 1878, ressurge o interesse na criação da Escola Normal, que viria a se concretizar apenas no fim do Império, no ano de 1884.
A regulamentação da recém-criada Escola Normal do Ceará foi orientada por legislações concebidas em anos anteriores a sua efetivação. Essa regulamentação estava presente na Lei nº 1790, de 28 de dezembro de 1878 e no Regulamento da Instrução Pública de 1881. "Somente no ano seguinte (1885), é expedido o primeiro Regulamento da instituição”.
Escola Normal do Ceará foi o primeiro nome da nova instituição de ensino e seu prédio ficava localizado na Praça Marquês de Herval (posteriormente chamada de Praça José de Alencar). A Escola Normal teve algumas mudanças de localização durante esses anos. No período de 1919 a 1923, a escola foi instalada no pavimento térreo da Fênix Caixeiral.
Escola Normal ainda em construção. Imagem de cartão postal capturada em 23 de julho de 1923. Acervo Carlos Augusto
Após reivindicações, o presidente do estado, Justiniano de Serpa, mandou construir o novo prédio da escola na Praça Figueira de Melo (onde hoje funciona o Colégio Justiniano de Serpa). A escola funcionou nesse local até 1958, ano em que se mudou para o Bairro de Fátima, já com o nome de Instituto de Educação do Ceará. Além das mudanças de locais, a Escola Normal também mudou várias vezes de nome.
Ao longo de sua trajetória a Escola Normal recebe várias denominações: Escola Normal Pedro II (Lei nº 2260, de 28 de agosto de 1925), seu segundo nome; Escola Normal Justiniano de Serpa (Decreto-Lei nº 122, de 2 de março de 1938); Instituto de Educação (Decreto-Lei nº 2007, de 7 de fevereiro de 1947) e, no final dos anos 50 recebe sua atual denominação, Instituto de Educação do Ceará (Lei nº 8559).
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Instituto de Educação Justiniano de Serpa no final dos anos 40.
Acervo Marcos Moreira
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Juntamente com a Escola Normal do Ceará, foi criada a sua Escola de Aplicação, também chamada Escola Anexa, que ficou em funcionamento até o ano de 1918. A Escola de Aplicação era o local da prática pedagógica dos alunos da Escola Normal. Essa escola ressurgiu em 1922 com a denominação de Escola Modelo.
Até a década de 1920, período que divide a história da educação no Ceará, a Escola Normal não tinha muito prestígio. A sua verdadeira importância deu-se somente após a Reforma de 1922, marcada pelo ideário da Escola Nova.
No Ceará, as idéias modernas de educação também já eram pregadas desde o final do século XIX. Após viagem aos Estados Unidos, o advogado e professor de latim, Amaro Cavalcante, apresentou um Relatório ao presidente da província e à população cearense. Tal Relatório foi escrito em 1881 e dava informações acerca da instrução primária americana.
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Essa linda foto de 1967, foi feita na escadaria externa do Colégio Justiniano de Serpa. Na primeira fileira, vemos a então professora de Filosofia, a Jornalista Adísia Sá (do meio, de sapatos brancos). Acervo pessoal de Maria José Melo Fraga
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No Relatório, Amaro Cavalcante trata da educação de um modo geral; do método escolar; das escolas normais e da inspeção da educação pública. “O debate em torno das idéias por Amaro Cavalcante e demais fundadores da Escola Normal e suas consequências práticas preparam o terreno para que o escolanovismo florescesse a partir do impulso dado pela reforma de 1922”.
A Reforma de 1922, mais conhecida como Reforma Lourenço Filho, realizada no governo de Justiniano de Serpa, marca o início de uma nova fase da educação no estado. Ela ocasiona mudanças no ensino primário e normal do estado."
Crédito: Janderson (Uma metamorfose ambulante)
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Diz a nota: Novo prédio da Escola Normal de Fortaleza
Este prédio tem doze salas de aulas, anfiteatro, biblioteca, Museu, diretoria, secretaria, hall e outras dependências, sem contar o porão habitável que servirá para as aulas de trabalhos manuais. Gabinete de Química, etc. Representa o tipo de construção escolar higiênica e econômica. Foi orçado em 280.000$, sendo inaugurado solenemente no dia 23 de dezembro de 1923
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O prédio foi construído sob a orientação do engenheiro José Gonçalves da Justa, para sediar a Escola Normal, inspirado no modelo de um colégio suíço. Sua construção teve início em 11 de agosto de 1922, em frente à Praça Filgueira de Melo, na gestão do Presidente Justiniano de Serpa. A finalização da obra se deu no governo do Presidente Ildefonso Albano, sendo inaugurado em 23 de dezembro de 1923. A atual denominação adquirida em 1961 veio em homenagem ao Dr. Justiniano de Serpa. É um dos mais tradicionais estabelecimentos de ensino de Fortaleza.
Colégio Justiniano de Serpa - Antiga Escola Normal
Primeiramente chamou-se Escola Normal Pedro II, e por algum tempo deste 1918 funcionou no andar térreo da Fênix Caixeiral, à rua 24 de Maio, esquina noroeste com rua Guilherme Rocha, daí saindo em 23 de dezembro de 1923, data que se transferiu para a bela sede da Praça Figueiras de Melo, (antes chamada Praça dos Educandos e também Praça do Colégio), começada a construir em 11 de agosto de 1922, sob planta do Eng. José Gonçalves Justa, na gestão do Presidente Justiniano de Serpa, mas somente inaugurado em parte, pelo seu sucessor, Senhor Ildefonso Albano. A conclusão do Edifício verificou-se no governo do Capitão (depois Major) Roberto Carneiro de Mendonça (1931/34). Mais tarde, teve o nome de Instituto de Educação Justiniano de Serpa.
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As normalistas de 1958/59 - Acervo Sônia Lúcia machado Braga |
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As normalistas de 1958/59 - Acervo Sônia Lúcia machado Braga |
O edifício, com dois pavimentos, possui planta dividida em três vãos, ficando a escada no vão central.
Foi construído em tijolo e cal, e sua estrutura horizontal é composta de barrotes no piso superior e tesouras de madeira na coberta. Os forros são de madeira tipo saia e camisa.
A fachada principal – encimada por balaustrada e um frontão arredondado em sua parte central – possui marcações horizontais, que definem a linha de piso do primeiro pavimento e de coberta e marcações verticais, definindo o acesso e a área do balcão, também com balaústres, no pavimento superior.
Protegido pelo Tombo Estadual segundo a lei n° 9.109 de 30 de julho de 1968.
"A Praça Figueiras de Melo contém um valioso patrimônio Arquitetônico miraculosamente preservado, nele encontramos jóias como o Colégio da Imaculada Conceição, a Igreja do Pequeno Grande e o prédio da Escola Normal. A praça que o circunda era bem traçada, com lindos canteiros e os bancos confortáveis de madeira com estrutura de ferro fundido, uma constante das praças da cidade."
Royal Briar
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Aluna do Colégio Justiniano de Serpa em 1978.
Acervo pessoal de Lúcia Araújo
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