Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Estoril
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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domingo, 17 de julho de 2016

Estoril -Antiga Vila Morena (Vídeo)

 

Ícone da “boemia” da Praia de Iracema, a antiga Vila Morena, ou residência dos Porto, foi construída pelo comerciante pernambucano, descendente de portugueses, José Magalhães Porto, entre 1920 e 1925, e foi a primeira construção de destaque da então Praia do Peixe. O português desafiou os conselhos de amigos, que o alertavam sobre os perigos da praia, com suas ondas fortes. A teimosia fez com que ali instalasse sua moradia. O nome, como era usual à época, foi dedicado à esposa, Francisca Frota Porto, conhecida como ‘Morena’. A residência conservava ao redor um belo jardim onde também eram criadas algumas aves. Dizem que foi a primeira moradia com piscina de Fortaleza…


Veja a matéria completa no Vós



Crédito: Vós

Agradecimento especial: Paulo Maranfon e equipe

terça-feira, 10 de março de 2015

As casas senhoriais na Fortaleza da década de 40

Royal Briar - A Fortaleza dos anos 40
Marciano Lopes

Na década de 40, ainda não havia apartamento em Fortaleza, muito menos as hoje cobiçadas “coberturas”sinônimos de status da sociedade emergente e símbolo maior dos novos-ricos. Naquele tempo, as famílias tradicionais moravam em grandes e confortáveis casas que podiam ser classificadas como palácio, palacete, mansão, solar ou, pelo menos
num caso especial, castelo

(Foto ao lado do acervo de Raimundo Gomes)


Riquíssimo e de gosto requintado, Plácido de Carvalho fez construir o que se pode classificar como uma das mais monumentais residências do Brasil, o Palácio Plácido, na Aldeota, antigo Outeiro. Ocupando uma quadra, entre as atuais ruas Carlos Vasconcelos, Monsenhor Bruno, Costa Barros e a Avenida Santos Dumont.
Castelo, era o de Plácido de Carvalho, na Aldeota, construído para agradar sua mulher, Maria Pierina Rossi, italiana, de Milão, que, nostálgica da pátria distante, teve sua
saudade amenizada pelo suntuoso castelo que seu marido fez construir no local onde a Aldeota ainda era uma floresta de cajueiros. Essa singular moradia, copiada de um castelo de Florença, a partir de informações de Pierina, foi criminosamente demolida nos anos 70, porém, mesmo com tão bestial ato de vandalismo, continuará a ser, pelos anos afora, a mais monumental residência da região.


Castelo do Plácido em foto de A. Capibaribe Neto
No Benfica, espécie de feudo da família Gentil, estava o aristocrático Palacete Gentil, morada do banqueiro e comerciante José Gentil, com suas elegantes varandas, suas colunas coríntias, seus amplos terraços, vastos jardins com estátuas e vasos vindos da Europa. Também no Benfica ficava a residência de Antonio Gentil, bem como as de José Thomé de Sabóia e de inúmeros outros milionários da época, como a família Manços Valente, que ocupava bonito solar, logo no início da Avenida Visconde de Cauípe. Essa senhorial moradia tinha até  capela. De pé, restam o palacete de José Gentil, hoje abrigando a reitoria da Universidade Federal, e o solar dos Manços Valente, sediando, presentemente, o Convento Santa Rosa de Viterbo, cujas freiras adulteraram a fachada da capela.


Palacete  de José Gentil - Arquivo Nirez

A maravilhosa mansão de joão Gentil, no Benfica. O extenso mangueiral a se
perder de vista cedeu lugar, mais tarde, ao bairro da Gentilândia e à constru-
ção do estádio Presidente Vargas, Escola Técnica Federal e Ginásio Aécio de Borba entre outros prédios.
Vizinha a residência dos Manços Valente ficava a casa de Rufino de Alencar, exatamente na esquina da avenida Visconde de Cauípe com a rua Antonio Pompeu. Estreita e sinuosa ocupando faixa mínima de terreno, era diferente e graciosa. A pouca largura foi compensada com um térreo, quase porão, o andar social e uma torre vigia. Na varanda muito estreita, eu via, ao passar, a bela Ruth de Alencar, os imensos olhos Verdes contemplando o mundo que passava à sua frente. Transformada numa loja da maçonaria,
ganhou um "banho" de falsa faiança e tantos detalhes de mau gosto, inclusive um horroroso galo de cimento, pintado de branco com crista vermelha, além de umas indecorosas flores em relevo, que a casa pode ser vista, agora, como um verdadeiro monumento ao antiestético. De qualquer forma, a construção permanece inalterável na sua forma original e merece louvores o belo e artístico portão de ferro, cuja origem desconheço.


Arquivo Nirez
Na antiga Praça da Bandeira, atual Praça Clóvis Beviláqua, há o palacete do Barão de Camocim, que já esteve ocupado por sua neta, Carmen, viúva do doutor Lauro Chaves.
Embora adulterado em sua fachada, que recebeu chapisco, numa reforma efetuada em 1945, não perdeu sua nobreza e seu interior guarda verdadeiras preciosidades em móveis, lustres e tantos objetos de materiais finos, todos adquiridos na Europa, onde o barão residiu por algum tempo.


Casa do Barão de Camocim - Acervo MCals
O bairro de Jacarecanga, que até os anos 40 era o mais aristocrático da cidade, possuía um conglomerado de magníficas moradias, sobressaindo-se a casa de três andares de Pedro Sampaio; e o monumental palacete de Thomás Pompeu Sobrinho, com 38 cômodos, localizado na Avenida Francisco , 1801, logo após a praça do Liceu. Copiado de uma residência de Portugal, na sua construção foram empregados os mais nobres materiais, quase tudo importado do Velho Mundo. Até os azulejos e o cimento vieram de Portugal. A sala de jantar tem as paredes revestidas de peroba e o piso de sucupira. Todo o madeiramento do telhado é de maçaranduba. Construída em 1924, a moradia, ainda em poder dos descendentes do seu autor, possui preciosidades em móveis, lustres e pratarias no mais autêntico art nouveau.


Casa de três andares de Pedro Sampaio em frente a Praça do Liceu. Arquivo Nirez

Palacete de Thomás Pompeu Sobrinho na Avenida Francisco Sá - Hoje é uma escola de arte

Na mesma avenida Francisco Sá, existia a linda casa de Luiz Correia, já demolida, e o casarão de Florival Seraine, transformado em repartição pública, porém,
ameaçando ruir, devido a falta de manutenção. Em 1929, o advogado Raimundo Brasil Pinheiro de Mello construiu sua casa na avenida Coronel Filomeno Gomes, a partir de uma revista alemã. Graciosa e simpática, possui todas as características das moradias alemãs, inclusive o telhado inclinado, para “escorrer a neve”.


Solar de Luiz Moraes Correia nos anos 40

Raimundo Brasil Pinheiro de Mello 
Magnificamente conservada, tanto na sua estrutura quanto nos móveis e adornos, continua em poder dos descendentes de Raimundo Brasil Pinheiro de Mello, residindo, ali, sua viúva, dona Guiomar, e sua filha, Maria Luíza. É a casa de número 836 da Avenida Coronel Filomeno Gomes.
Na Praça do Liceu, diversas casas de belo estilo não existem, demolidas que foram para dar lugar a feios prédios de apartamentos. Da mesma forma, os soberbos casarões que
conferiam dignidade a rua Guilherme Rocha, entre as praças da Lagoinha e do Liceu, foram postos abaixo, pelo descaso ou pela especulação imobiliária. Assim como o desprezado palacete da esquina da rua Padre Mororó, onde funcionou a Secretaria de Educação e Saúde, nos anos 40/ 50; o palacete do coronel Hortêncio de Medeiros, ocupado pela Procuradoria da República e a Itapuca Villa, abandonada desde 1946, quando faleceu seu titular, Alfredo Salgado. Símbolo da grandiosidade das moradias do passado, sofreu os efeitos do abandono, em tantas décadas, bem que o Governo do Estado poderia ter feito o tombamento daquela outrora soberba vivenda, transformando-a numa fundação cultural, inclusive, num museu da abolição, quando se sabe que foi Alfredo Salgado, apesar de homem de vasta fortuna, um abolicionista dos mais ardorosos.


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Palacete demolido no cruzamento da rua Padre Mororó com Guilherme Rocha

Rico e de muito bom gosto, Alfredo Salgado desejou o melhor para construir
sua mansão, a ltapuca Villa, na rua Guilherme Rocha. Todos os materiais vieram
do exterior, inclusive as madeiras. Periodicamente viajava a Europa para contratar novos jardineiros. A ltapuca Villa era um dos orgulhos de Fortaleza.
Tombada pela Prefeitura de Fortaleza, a Villa Morena, antiga residência da família Porto, na beira do mar, na Praia de Iracema, é graciosa e diferente na sua concepção. Toda de taipa, desafia os anos, já foi clube dos soldados americanos, durante a Segunda Guerra Mundial. Desde então, é o Bar e Restaurante Estoril, reduto da boemia intelectual e artística da cidade.
A mansão, que atualmente é ocupada por um posto da Previdência Social, na esquina da Avenida Tristão Gonçalves com a rua Antonio Pompeu, era a residência de Renato Silva e Yeda Markan Silva. Depois, foi moradia da família Carlos Jereissati.


Arquivo Nirez
Uma das mais grandiosas fachadas de Fortaleza é a da mansão da família Carlito Pamplona, na rua 24 de Maio, entre Meton de Alencar e Antonio Pompeu. Continua como residência da viúva do seu titular, inalterada, pelo menos no seu exterior.
A vetusta casa da família Thomás Pompeu, na praça da Lagoinha, lado da Avenida do Imperador, é outra que se mantém inalterada, pelo menos em sua fachada de aspecto soturno, não só pelas linhas arquitetônicas de inspiração inglesa, como pela pátina de tantos invernos. Mas é na sua sisudez que está seu aspecto de aristocracia.



Casa da família Thomaz Pompeu na avenida do Imperador
A mansão de Meton de Alencar Pinto, na esquina das ruas Senador Pompeu e Antônio Pompeu, é um belo exemplo de como uma residência, que conta várias décadas, pode
ter a aparência digna e jovial. Ali, tudo está igual a década de 40, até nas sebes do jardim. 


Mansão Meton de Alencar Pinto
Mas, corno nem sempre a sensibilidade, o bom gosto e o amor ao passado são características da nossa gente, lamenta-se que o célebre Solar dos Távora, na esquina das ruas Sena Madureira e Visconde de Saboia, esteja transformado num monstrengo. Palco deformado de memoráveis acontecimentos da política, permitiram que aquela nobre residência fosse totalmente mutilada para abrigar uma loja de materiais de construção. Com seus móveis, quadros, biscuíts, estatuetas, pratarias, lampadários e tantas outras preciosidades, quem entrava ali tinha a nítida impressão de estar ingressando numa
sóbria morada belga ou francesa do século XIX. A atmosfera era perfeitamente europeia, no romantismo de suas peças de arte, na tranquilidade que parecia emanar de tudo. Por que os descendentes do velho Fernandes Távora não tiveram a ideia de transformar aquele solar numa fundação da família e, assim, perpetuar o nome de seus maiores?


O austero solar dos Távora, na esquina da rua Conde D'Eu (antiga rua dos Mercadores) com rua Visconde de Saboia. Um recanto da Europa no centro de
Fortaleza. E cenário de importantes decisões da política local e nacional. 
Quando ser chic era habitar grandes e aristocráticas casas, com amplos espaços, jardins e pomares, Arlindo Gondim fez construir seu palacete, encravado em vasto terreno da rua General Sampaio, entre o Boulevard Duque de Caxias e a rua Pedro Ido “lado da sombra”. Casa elevada, com porão e elegante escada externa em bonito trabalho de mármore, inclusive o corrimão, tem como detalhe mais bonito a varanda fechada que se estende por toda a extensão da ala esquerda daquela moradia.
Espécie de chácara, fartamente arborizada, teve seus espaços externos sacrificados em benefício de um estacionamento de veículos. A casa, que permanece quase intocada,
ainda é habitada por membros da família. 


Palacete na rua General Sampaio, entra a Duque de Caxias e a Pedro I
A casa de Carlos Jereissati, na praia do Meireles, precisamente na esquina das avenidas Getúlio Vargas (Beira-Mar) e Rui Barbosaainda pode ser contemplada e não sofreu grandes alterações em sua estrutura, muito embora, sem utilização como residência, há vários anos. É símbolo das suntuosas casas de veraneio que as famílias abastadas de Fortaleza mantinham na Praia de Iracema e adjacências, nos idos de 40.


No meio do quarteirão da rua General Sampaio, entre as travessas Guilherme Rocha e São Paulo, estava o maravilhoso solar da família Theophilo. Possuía jardins laterais, com
gradeados e portões de ferro e seus salões ostentavam, além de magníficos lustres Baccarat, muitas obras de arte, inclusive, retratos a óleo, de membros da família, em ricas molduras de talha dourada. Ha alguns anos, passou a ser escritório de uma empresa comercial e entrou em processo de decadência. Atualmente, totalmente adulterada, a construção quase mais nada ostenta da sua antiga nobreza, exceto meros relevos na fachada.
O palacete de Raimundo Gomes de Mattos, na rua 24 de Maio, entre as travessas Liberato Barroso e Pedro Pereira, tinha sua bela fachada desgastada pelo tempo, acho que para fazer contraste com o soberbo lustre de cristal emoldurado pela janela do salão principal. Seus assoalhos eram do mais autêntico pinho-de-riga, e os jardins eram verdejantes e bem cuidados. Foi demolido para dar lugar a um restaurante popular do SESC, como se não existisse outro local, no Centro, para sediar tal estabelecimento. 


O palacete de Raimundo Gomes de Mattos
Moradia de linhas aristocráticas e erguida com materiais nobres, além de contar com acabamento primoroso e detalhes sofisticados, era a residência de Fausto Cabral, na Avenida Barão de Studart. Depois de servir como residência da família Cabral, funcionou, durante alguns anos, como sede oficial do Governo do Estado, já abrigou o Museu Histórico e Antropológico do Ceará e, atualmente, abriga o Museu da Imagem e do Som - MIS . Notável a prática e funcional distribuição de suas peças. 
Quando a Avenida Duque de Caxias era uma das mais aristocráticas e simpáticas vias de Fortaleza, destacava-se, em sua paisagem bucólica, o palacete do doutor Leite Maranhão, encravado na esquina daquele Boulevard, com a rua 24 de Maio. Diferente e aconchegante, tinha inúmeros detalhes externos que chamavam a atenção, tais como pequenos terraços, varandas, nichos, chafarizes, telhados em vários níveis. Altaneiros pés de eucalipto, em seu minúsculo jardim, emprestavam-lhe a elegância própria das moradas nobres. Depois de um curto espaço em que sofreu abandono e decadência, foi demolido.


Residência de Fausto Cabral hoje abrigando o MIS
Certamente influenciado pelos suntuosos bangalôs de Hollywood, o milionário Checo Diogo fez construir o seu na aristocrática Avenida do Imperador, entre as travessas Liberato Barroso e Pedro Pereira. Todo vermelho, tinha imponente terraço no piso superior e ricas eram as suas portas internas, no melhor cristal bisotado. Com jardins bem tratados e a pintura vermelha de sua fachada, sempre retocada, era um atestado de bom gosto. Ainda existe, funcionando como colégio, o que muito o dilacerou.


Bangalô do milionário Checo Diogo. Hoje funciona um colégio 
Gigantesco era o palacete do milionário Waldir Diogo de Siqueira, na esquina das avenidas Tristão Gonçalves e Duque de Caxias. Tinha porão, em toda sua extensão e um único piso social. Sem ter fachada muito rebuscada, chamava a atenção pelo grande número de portas com sacadas de ferro, principalmente no oitão que compreendia a avenida Duque de Caxias. Ao número dessas portas correspondiam as “vigias” do porão. Demolido, deu lugar a uma construção moderna que abriga um fórum trabalhista.

Na rua Barão do Rio Branco, local onde está agora, o prédio das Lojas Americanas, ficava o sobrado dos Paula Pessoa. Sua última ocupante foi dona Eloah, solteirona e monarquista intransigente que reinava, absoluta, no velho, mas simpático solar. Ainda nos anos 60, saia para a missa, na igreja do Rosário, toda de preto e com chapéu. Ficava indignada com as propostas de compra do seu sobrado e dizia que o mesmo só seria demolido se ela estivesse morta. Infelizmente, seus herdeiros não tinham a mesma sensibilidade e, tão logo a titular do belo solar faleceu, este foi vendido e, consequentemente, demolido, dando lugar ao popular magazine.

Muitas outras casas nobres tinha Fortaleza, na década de 40. Casas senhoriais, aristocráticas, símbolos de uma época de requinte, quando as famílias sabiam fazer tradição, porque havia cultura, bom gosto, refinamento, berço. Muitas dessas moradias foram demolidas, outras mutiladas, outras, simplesmente, estão fechadas, abandonadas, decadentes, como que chorando, na escuridão e no silêncio, a saudade dos tempos
de faustos e de luzes.  

Créditos/Fonte: Livro Royal Briar de Marciano Lopes, Arquivo Nirez, Pesquisas na internet, Google Earth, Arquivo MCals, Arquivo A. Capibaribe Neto e Raimundo Gomes



quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Um passeio na história pela Praia de Iracema - Literatura de Cordel (Parte V)



Praia de Iracema em 1956. Acervo Fátima Porto Belém


Luís Antonio de Aragão




APRESENTANDO AMIGOS E MORADORES DA PRAIA DE IRACEMA

É Ernani Barreira
Nosso Desembargador
Helio Rola e seus murais
Vescencio é bom editor.
No Estoril Cláudio Pereira,
Sua mesa era a primeira
Ali foi o frequentador



Arquivo Nirez

Dirige, Francisca a AMPI
Dedé e Acrísio presentes,
Vital, Marçal, Ascânio
E Edmundo, são pés-quentes
As bancas de Miti e Pedo
Abertas são muito cedo
Dando notícias recentes



O Poço da Draga - Arquivo Nirez

Poço da Draga é Iracema
A história é quem conhece
Valdomiro e Tapiocas,
Valmir, Fuampa, quem esquece?
San, Urso, Geralda, Paulão
João Brito, a Associação
Aplauso bem merece

Adeus Jamu e Peixoto
Tem, Cristina e Paulinho,
Jeová, Edílson e Caubi
Madalena e Betinho
Ronaldo, se foi Zezinho,
Pipiu, o mundo é moinho
Eurico, a vida é carinho



 Família do poeta Juvenal Galeno na praia de Iracema

Dunga Odakan, poeta
Serrão vive a cantar
Carlinhos Palhano, artistas
Gegê, fez bem comprovar
De Francesco Vicente,
Zeno fez “Canto da gente”
E Audifax, “Iracemar”

José Tarcisio, artista
No corredor do Dragão
Fez ali bela passagem
Da vida, continuação
D’Costa, poeta, cantor
Mágico das telas, pintor
Os dois, um só coração



Os jangadeiros cearenses homenagearam a memoria de Juvenal Galeno no 30º dia de sua morte, promovendo tocante solenidade em plena praia de Iracema. 
Jornal Correio do Ceará de 30/03/1952


Augusto, Paulo, Bastião
Petrônio, William Doutor
Bombinha, Quinquinha e Misso,
Banana é bom jogador
Baiaca, de Gato, sócio
Com Zé Guedes, o negócio
Não precisa fiador

D. Maisinha e Claúdios
Vicente, Ernani, Celsinho
Douglas, corvo, Pantico
César, Fernando, Chiquinho
Dandão e Marina daqui
Socorro, Milena e Caubi
Seu Ivã, nos curou tudinho




10 de maio 1936 - Homenagem prestada à memória de Juvenal Galeno, realizada pelos pescadores e jangadeiros cearenses ao seu eterno cantor na praia de Iracema.

Jandira, Anselmo, Caubi
Por Ted e Jabá, se sente
Puraquê, Capão e Leco;
Mário e Luis, docemente
Passaram a outras vidas
Elias, tais pessoas queridas
Eram gente da gente

Trave pequena de pedras
A Praia toda rachada
Na quadra ou piscininha
A canela se descascava
Perna de pau ou craque
Vibrava defesa e ataque
Só o gol interessava



Iracema em 1950- Arquivo Nirez

Ari, Odilon, Joel e Léo
“Tadeus”, Airton e Miltão
“Nenéns”, Jean, Góes, Rui
Veri, Marinho, Chico, João
Dedé, Wilson, Paninho
Kleber, Z’Aires, Netinho
Toin, Luciano e Elmir Gavião

Celina, Noima e Lurdes,
Umberto, Boiadinha
Vanda, Celsa, Mazéveras
Norma, Vitória, Verinha,
Maranguape de apreço
Ozinco, alguém esqueço?
Perdão à Praia todinha

Lúcio e Fernando o Surf
Com Bibita incentivaram
Zé Edson, Wilson, Aragão
“Banda Iracema” formaram
Mestre Pio na bateria
Na quadra da noite ao dia
Todos no bairro dançaram


Praia de Iracema em 1982 - Gentil Barreira

Jornalzinho “A Voz do Catra”
D’um grupo Catraieiro
Homem da torre sabia
A vida do povo inteiro
E a “Rainha da Madeira”
Não gostou da brincadeira
E o jornal foi prisioneiro

Na Sauna, Cultura Física
Turma boa ia malhar
Coco verde gelado
João, seu facão a cortar
Futebol com Noé e Cordeiro
Não havia jogo inteiro
O pau era certo cantar

Aurílio Gurgel o nome
Daquele da boemia
Responsável e respeitável
Dumaresq conhecia
Jânio e Lincoln, com atitude,
Valdêncio o clube não mude
“Casa é do Mincharia



Arquivo Fortaleza Nobre

Dos Mercadinhos São Luís
Na praia já fez teto
Uma bela família
Pessoal muito correto
Com Deus Ramalho está
Tem Fernando e Cacá
Lembranças mando pro Neto

D’Iracema se avista
Bar da Dona Mocinha,
Primeira Dama do Samba
Até no Rio é Rainha
Vinte e cinco anos são
Do Bar dela, que é Leão
Sabe a Fortal todinha



Raimundo Fagner

Bênçãos quero pedir
Fagner e Belchior,
SávioDílsonEdnardo
E tudo o que é cantador,
Bernardo, cultura viva,
Com Marreco e Beija-Flôr



Belchior

Viaja o bom revisor
Professor Túlio Monteiro
Com Klevisson na Jangada
Que o vento leva ligeiro
Zé Maria cordelista
Poeta e repentista
É também um passageiro

Jornalista Carlos Paiva
Em espírito presente
Airton Monte escreveu
Uma crônica inteligente
Gervásio Paula em abril
Narrou queda do Estoril
Em reportagem envolvente




Secretários de Cultura
O poeta Barros Pinho
FUNCET na praia faz
Um trabalho de carinho
Do estado, Claudia Leitão
Aqui o grande “Dragão”
Em Iracema fez seu ninho

Dr. Lúcio, Governador
Dr. Juraci, Prefeito
O som de poucos bares
Muito mal a nós tem feito
Alguns fogem das lutas
Culpando as prostitutas
Isto é um grande defeito

Existe a Lei do Silêncio
É do Código Brasileiro
Foi feita para ser cumprida
Por nós ou pelo estrangeiro
Quem pensa que o Alvará
Anarquizar direito dá
Tem que ser preso primeiro.



LOUVAÇÃO A IRACEMA

Rua Ildefonso Albano
Dois bairros faz divisar
Meireles e Iracema
Praias do lindo lugar
Meireles, vento conduz
Iracema, sol reluz
São as estrelas-do-mar




Antiga sede do Círculo militar de Fortaleza na esquina da Avenida Raimundo Girão c/ Rua Ildefonso Albano - Acervo Cepimar

Atrás do Poço da Draga
Praia nasce à beira-mar
Vai a Ildefonso Albano
Até Monsenhor encontrar
O "Dragão" aparecendo
Ladeira se vai descendo
Com a índia a caminhar

Os nomes belos das ruas
Raimundo Girão criou
Assim nossos indígenas
O mesmo homenageou
Aquidabã Avenida
Que foi substituída
Por quem lhe historiou

São todas assim chamadas
TijipióPotiguaras
TupiArarius
CaririsTabajaras
GrairasGuanacés
Pacajus,Tremembés
Itapipoca e Jucás, raras

Há vinte anos estive
Com o Luiz Assunção
Que no piano tocou
Aquela linda canção
“Adeus Praia de Iracema”
Música mais que poema
Um hino de adoração




Tenho amor por Iracema
Ao mar digo meus queixumes
Do tempo que não é mais
Dos que já foram costumes
Dos males que a rodeiam
Das ilusões que a enfeitam
Do bairro tenho ciúmes

Iracema não confunde
Empresário e aventureiro
O primeiro aqui produz
É nosso companheiro
Pedimos ao segundo
Explorador do sub mundo
Vá embora “Raparigueiro!”

É a praia de Iracema
Capital de Fortaleza
Onde o verde-azul do mar
Sob o sol tem mais beleza
A Virgem dos Lábios de Mel
Com a Lua num painel
A moldura é a natureza

Navegando com Praianos
Inspiradores do tema
Numa jangada de versos
O Cordel traçou seu lema
Preservando na memória
UM PASSEIO NA HISTÓRIA
PELA PRAIA DE IRACEMA.

FIM

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Crédito: http://www.nehscfortaleza.com/




quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A origem da Praia de Iracema - De 1920 até os dias atuais


Foto do Álbum Vistas do Ceará - 1908

O surgimento do bairro Praia de Iracema, antes denominado Porto das Jangadas, Praia do Peixe ou Grauçá, está associado à “descoberta” do banho de mar como medida terapêutica e também como contemplação e lazer por parte da elite econômica da cidade nos anos de 1920. Esta elite intensificou a sua inserção na praia, com a construção de casas alpendradas ou do tipo bangalôs, de frente para o mar, fenômeno que “obrigou” os pescadores (casinha de pescador ao lado) a mudarem-se para outras praias.

Fortaleza vista do antigo porto na Praia do Peixe.
 Foto do Álbum Vistas do Ceará - 1908

Devido as novas formas de apropriação desse espaço da cidade surgiu a necessidade de se forjar uma nova imagem para aquele lugar, que expressasse os novos hábitos e valores, inclusive no que se refere à sua denominação. 

A primeira manifestação pública que permite antever o futuro nome do bairro ocorre em 1924, quando a cronista social Adília de Albuquerque Morais lançou a ideia de que se construísse um monumento à heroína do romancista José de Alencar, a ser erigido na orla marítima.

Em 1925, tem início uma campanha, apoiada pela imprensa local, para a oficialização da denominação Praia de Iracema

“Um abaixo assinado é encaminhado, pelos novos moradores do bairro, ao então prefeito Godofredo Maciel, solicitando ‘que mude a denominação imprópria e vulgar por que é conhecido aquelle encantador trecho de Fortaleza para a de Praia de Iracema"

A Praia do Peixe - Foto do Álbum Vistas do Ceará - 1908

As ruas do bairro ganharam nomes de tribos indígenas cearenses: "Tabajaras, Potiguaras, Guanacés, Groaíras, Tremembés, entre outras” (Schramm,2001:37). 

Desta forma, elaborava-se uma imagem do bairro associada ao bucólico e aprazível, inclusive por meio do epíteto Praia dos Amores.
Como foi descrito por Schramm (2001), neste período, foram inaugurados na Praia de Iracema os “balneários”, pequenas instalações comerciais, onde a um bar se agregava um local para troca de roupa, aluguel de calções de banho e guarda de pertences dos banhistas. 

A Praia do Peixe - Foto do Álbum Vistas do Ceará - 1908

Houve também a instalação de clubes, como o Praia Clube e o América. Na época, ganharam fama o Jangada Clube, frequentado pela boêmia de classe média e alta da cidade, e o Hotel Pacajus, o primeiro à beira-mar.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a mansão Vila Morena, residência da família Porto, construída em 1925, foi arrendada às tropas americanas e transformada em um cassino pelos oficiais. Denominado U.S.O. (United States Organization), o lugar era quase exclusivo aos estrangeiros, e ficou conhecido por suas noites com danças, jogos e shows, tornando-se atrativo para as moças da cidade, que se dirigiam ao local para namorar os oficiais americanos e beber o refrigerante Coca-cola, que ainda não era consumido na cidade. Essa prática foi responsável por gerar uma disputa simbólica entre os moradores da cidade e os visitantes. Os rapazes da terra, enciumados, passaram a chamar por Coca-colas as frequentadoras do cassino dos americanos.


A partir de meados da década de 1940, a Praia de Iracema começou a apresentar um novo cenário em virtude do avanço do mar, decorrente da construção de um novo porto da cidade, o Porto do Mucuripe. Parte do casario foi destruído em decorrência da alteração no movimento das correntes marítimas, o que acarretou também significativa diminuição da faixa de praia. 
A transformação da paisagem obrigou a saída de antigos moradores e frequentadores dando início a um discurso melancólico sobre a praia que o mar carregou.

Nesse período, a imprensa local começava a falar em decadência da Praia de Iracema, associando o encanto do bairro à sua apropriação pela elite. Matérias do jornal O Povo lamentavam a sua destruição, como pode ser lido nos trechos abaixo:

"Nestes próximos dias, a maré investirá com grande violência, vindo a atingir, talvez, os ricos ‘bungalows’ da nossa aristocrática praia. Destacam-se entre os prédios mais visados pela fúria do mar os de propriedade da família João Gentil, do sr. José Porto, a antiga sede da United States Organization (U.S.O) e o do antigo ‘Ideal Clube(...) O fato é que estamos mais uma vez diante de uma situação difícil, pois se a maré próxima for impetuosa assistiremos à eliminação dos ‘bungalows’, com prejuízos para a própria estética da cidade" (O Povo, 27 de abril de 1946 apud Schramm, 2001, grifos meus).


A Praia do Peixe - Foto do Álbum Vistas do Ceará - 1908

O interior do bairro, especialmente a área conhecida desde o início do séc. XVIII por Prainha, também viveu transformações, principalmente no tocante às sociabilidades.
O compositor Luís Assunção contribui para a elaboração da imagem de afetividade da Praia de Iracema na cidade de Fortaleza, através da seguinte canção: 

«Adeus, adeus/Só o nome ficou/Adeus, Praia de Iracema/Praia dos Amores que o mar carregou/Quando a lua te procura/Também sente saudades/Do tempo que passou/De um casal apaixonado/Entre beijos e abraços/Que tanta coisa jurou/Mas a causa do fracasso/Foi o mar enciumado/Que da praia se vingou»

Com a transferência do porto da Praia de Iracema para o Mucuripe, os armazéns e casas comerciais ligadas aos negócios de exportação foram fechados, transformando-se em prostíbulos.
Nos anos 1950, contudo, a parte costeira do bairro ainda figurava como um lugar da elite econômica e intelectual. Como nos mostra Schramm:

“Na década de 1950, foi inaugurado, defronte ao hotel, o Restaurante Lido, que figurou, até os anos 70, como casa de pasto que reunia a elite fortalezense, ficando, também, afamado o local de vida boêmia. Alguns bares surgiram nas ruas de toponímia indígena, em meio às residências da população de classe média e classe média baixa do bairro: Tonny’s Bar, El Dourado, Nick Bar, Jangadeiro” (2001:47).

Dia de exibição de aviões supersônicos na praia de Iracema - Arquivo Nirez

Nesse período, o Restaurante Estoril, que funcionava desde 1948, na antiga residência da família Porto, onde existia o cassino dos americanos, era frequentado por boêmios seresteiros. Iracema era apropriada por: jornalistas, intelectuais, profissionais liberais e músicos, que se dirigiam ao lugar para cantar e namorar. Eles compartilhavam o mesmo sentimento de pertença ou entendimento sobre o lugar e sobre os seus códigos culturais (Leite, 2001). A partir desta década, se consolida a imagem da Praia de Iracema como um bairro boêmio.

Avião da Latecoere pousa na Praia de Iracema em 1927 - Arquivo Nirez

Nos tempos do regime militar entre 1964-1985, o bairro foi “descoberto” por novos frequentadores e se tornou um ponto de encontro de militantes de esquerda. Estes se reuniam no Restaurante Estoril, que havia sido arrendado a comerciantes portugueses. A Praia de Iracema tornou-se reduto de artistas, militantes políticos e intelectuais. Era palco de encontros culturais, políticos e amorosos, como pode ser visto nesse trecho de uma matéria publicada no jornal Tribuna do Ceará: “mesmo com as torturas rolando pelo país, a vida [no bairro] era uma festa” (15 de janeiro de 1996 apud SCHRAMM, 2001).

A sede da U.S.O em Fortaleza, o conhecido Estoril da Praia de Iracema

Antigo Porto de Jangadas na praia de Iracema, Foto da década de 30

Iracema era apropriada por utilizadores “marginais” em relação aos valores sociais vigentes. Os donos do espaço, ocupantes do Estoril, que se encontrava em mau estado de conservação, se apropriaram também da Ponte dos Ingleses, para “ver e ‘fumar’ o pôr-do-sol”, como afirma um ex-frequentador (O Povo, 09 de dezembro de 2004). Praticavam, assim, uma inversão dos valores e normas de disciplina da cidade. Os seus comportamentos, porém, eram legitimados e compartilhados entre os usuários da Praia de Iracema.

Foto de 1931

Durante a década de 1980, alguns bares temáticos, como o La Trattoria, o Cais Bar e o Pirata Bar, inaugurados em 1981, 1985 e 1986, respectivamente, atraíram diversos frequentadores para o bairro, mas, os usos na Praia de Iracema, ainda se restringiam aos intelectuais, políticos, profissionais liberais, artistas e universitários. É importante ressaltar que Iracema vivenciou, entre meados dos anos 1960 e 1980, uma imagem de bairro decadente. O bairro era habitado por famílias de classe média e baixa, e havia uma ocupação irregular na margem da praia, por meio da construção de casas de madeira ou papelão. 
O banho de mar perdera sua atração, pois a pequena faixa de areia que restara recebia somente alguns poucos frequentadores. O público que se dirigia ao Bar e Restaurante Estoril e Ponte dos Ingleses, mesmo fazendo parte de uma elite da cidade, era marginalizado por questões ideológicas.


Nesse período, diante das possibilidades de mudanças na lei de uso e ocupação do solo no bairro, houve uma mobilização dos moradores e frequentadores no sentido de sustar aquele processo e solicitar, além de algumas melhorias, que a Praia de Iracema fosse reconhecida como Patrimônio Histórico e Cultural da cidade. Em 1984, foi fundada a Associação de Moradores da Praia de Iracema/AMPI e houve grande movimento pela sua preservação, com adesão de artistas e intelectuais.

Contudo, as tentativas de barrar as construções de edifícios verticais no bairro, não tiveram êxito. Nesse período iniciava-se a edificação de prédios com mais de dez pavimentos, assim como a instalação de uma diversidade de bares e restaurantes em imóveis supervalorizados. Sob protestos, antigos moradores mudaram-se do bairro. Entendendo como uma “destradicionalização” daquele espaço da cidade, moradores e frequentadores não aceitaram as transformações da sua arquitetura. Assim é que, a década de 1980, terminou com os moradores chamando atenção do poder público, por meio dos jornais, para os problemas causados pela especulação imobiliária.


As transformações vivenciadas ali durante a década de 1980, deram inicio a uma “requalificação espontânea”, da Praia de Iracema; ou seja, uma mudança nas formas de uso e apropriação do espaço, sem um devido planejamento do poder público. Esse fenômeno que chamo de “espontâneo” foi incentivado pela tradição boêmia do bairro e pela movimentação dos diversos frequentadores que se dirigiam para alguns bares, restaurantes e para assistir ao pôr-do-sol na Ponte dos Ingleses.

Impulsionados pela freqüência desses estabelecimentos e vislumbrando a Praia de Iracema como um novo mercado, empresários da noite se inseriram no bairro com uma grande oferta de bares e restaurantes. Assim, a paisagem transformou-se rapidamente, com a presença de grande diversidade de estabelecimentos comerciais.

Foto da década de 50

Devido as novas formas de ocupação desse espaço e suas novas representações, os moradores intensificaram suas lutas na defesa do bairro, mas, já não era prioridade a transformação do bairro em Patrimônio Histórico e Cultural. Nesse novo momento estavam na pauta das reivindicações dos moradores: o combate à poluição sonora, ao desordenamento do trânsito, à abertura irregular de estabelecimentos comerciais e à especulação imobiliária.
Outro problema que emergiu com as transformações na apropriação do espaço na Praia de Iracema foi a presença de pessoas que não tinham uma tradição boêmia. Em meio à disputa pelo espaço de Iracema, criou-se um clima de rivalidade entre os empresários estabelecidos e os recém-chegados. No cerne da polêmica, estava a questão de quem tinha direito ao bairro.
Como conseqüência dessa “requalificação espontânea” que estava transformando a paisagem do bairro desde meados dos anos 1980; em junho de 1991, o então prefeito de Fortaleza, Juraci Magalhães, juntamente com o arquiteto Paulo Simões, apresentaram para os moradores e comerciantes da Praia de Iracema um projeto de urbanização da sua parte costeira. A partir de então, alguns gestores da cidade passaram a defender a tese de que a Praia de Iracema possuía uma “vocação natural para o lazer”, graças ao seu passado boêmio.

Fotos da mesma perspectiva. Antiga: Nirez/Atual: Daniel Costa 

A Praia de Iracema “requalificada”

Em 1994, um calçadão a beira mar já fazia parte do novo cenário de Iracema. Em meados dos anos 1990, o bairro já apresentava diversos sinais da “requalificação” urbana, por meio de obras da Prefeitura Municipal e do Governo do Estado, como a construção do Largo Luiz Assunção, o calçadão, a reforma da Ponte dos Ingleses e a reconstrução do Restaurante Estoril, que em abril de 1994, havia desmoronado.

As intervenções urbanísticas na Praia de Iracema podem ser associadas a uma disputa administrativa, entre os governos estadual e municipal. Havia um interesse político em estabelecer a cidade de Fortaleza como um pólo turístico. Por meio de uma política de atração de investimentos, mediante incentivos fiscais e da estratégia de Place Marketing (Gondim, 2001).

Foto da década de 60

Paralelamente as intervenções nos espaços públicos do bairro, apareceram investimentos da iniciativa privada em bares, restaurantes, hotéis, flats e pousadas. Transformando a arquitetura vernacular em paisagem, essa política de reforma urbana na Praia de Iracema acarretou uma mudança nas práticas sociais e consequentemente foi proposta uma imagem do bairro. Falava-se em “Miamização de Iracema(*)”. Nesse novo contexto, esse espaço da cidade de Fortaleza passou a ser consumido por moradores de classe média e alta da cidade e também por turistas, nacionais e internacionais. Consolidou-se a imagem do marketing turístico na Praia de Iracema.
Como a “requalificação” conduz ao “consumo do lugar” (Zukin,2000), o que foi presenciado na Praia de Iracema foi uma supervalorização dos “produtos vendidos”; ou seja, uma grande valorização dos imóveis e consequente aumento nos valores dos aluguéis e dos serviços e produtos ofertados. Esse processo desencadeou a monofuncionalidade com a predominância de bares e restaurantes no bairro. Na fala de um empresário, esse fenômeno contribuiu para o início da imagem da degradação da Praia de Iracema.

"O poder público chegou fez um calçadão superlegal, maravilhoso, eu só tenho a parabenizar, ótimo, aí dá aquele inchaço onde toda casa por menor que ela fosse era um bar. Então você tinha três milhões de bares, você nem andava pelo calçadão, em segundo lugar todo mundo vendia a mesma coisa que era uma cerveja com petisco, ou seja, não tinha proposta, não tinha proposta comercial dentro da Praia de Iracema (...) não deviam ter liberado tantos alvarás pra tanta gente devia ter escolhido o que fazer em cada lugar, não teve, foi assim ao leu e então como não tinha nenhuma proposta desinchou a Praia de Iracema deixou de ser moda o fortalezense enjoou" (Entrevista concedida em 27 de abril de 2005).

Outro fenômeno a ser ressaltado é que a “política de controle social”, típica dos processos de “requalificação”, não permitiu uma nítida visualização dos contra-usos, que dava os seus primeiros passos rumo ao dissídio na ocupação daquele espaço. Adentravam o bairro atores sociais que não comungavam com os códigos da disciplina dos espaços “requalificados” como os hippies. Nesse sentido, no final dos anos 1990, os protestos dos moradores ganharam novos temas, como a expulsão dos hippies.

Além dos hippies, os turistas internacionais e as “garotas de programa”, também passaram a incomodar alguns utilizadores do bairro, concorrendo para a construção da representação de bairro degradado e lugar de prostitutas e gringos. Leiamos a fala de um empresário da Praia de Iracema:


"Essa imagem [da degradação] se dá porque no início não teve uma boa divulgação do turismo [internacional] aqui do Estado, os poucos turistas [estrangeiros] que vieram pra cá foram vôos italianos e alemães e no início o voo dos italianos foi péssimo conseguiram acabar com esse voo tem pouco tempo atrás que era assim, 300 machos vindo, com cinco prostitutas voltando da Itália" (Entrevista concedida em 27 de abril de 2005).


Praia de Iracema  nos anos 70. Foto de Nelson Bezerra

Hoje muitos chamam o trecho da antiga Praia do Lido de "Praia dos Crush", mas antigamente, a chamavam de "Praia do Hawaii". Acervo Henrique Abreu

Como parte da dinâmica de ocupação dos espaços da cidade, os frequentadores da Praia de Iracema foram paulatinamente procurando outros lugares de lazer. E a Praia de Iracema “requalificada” começou a apresentar sérios problemas no tocante à ocupação do espaço e manutenção dos espaços reformados, dando maior visibilidade aos hippies, mendigos, meninos em situação de rua, vendedores ambulantes, turistas estrangeiros e prostitutas. Iniciavam-se também as denúncias de violência, como assalto aos frequentadores.
Em 1999, foi inaugurado o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, sob a forma de uma arquitetura eclética e pós-moderna. Este equipamento passou a oferecer teatro, museus, cinemas, auditório, livraria, um planetário, além de praças, café, loja de artesanato e bares. No seu entorno, onde havia antigos armazéns desativados, passaram a existir bares, boates e casas de shows.


Dragão do Mar em construção. Foto Gentil Barreira

O Dragão do Mar projetou uma intervenção no bairro que se refletiu por toda a Praia de Iracema. A sua implementação não considerou os “trajetos” (Magnani, 2000) de seus utilizadores(**). Este fato produziu um conflito na apropriação do espaço daquele bairro, pois grande parte do público frequentador da parte costeira da Praia de Iracema passou a ocupar esse novo espaço. Os novos frequentadores saíram em busca de novos lugares. Esse fenômeno redesenhou a Praia de Iracema a partir dos seus usos e contra-usos. Assim é que, a partir do inicio dos anos 2000, a Praia de Iracema passou a abrigar duas “manchas” (Magnani,2000) de lazer com sociabilidades e temporalidades distintas.

Trecho da praia de Iracema antes da colocação da estátua 
Iracema Guardiã de Zenon Barreto

No inicio dos anos 2000, os problemas referentes à ocupação do espaço na Praia de Iracema se agravaram. O calçadão apresentava muitos trechos com buracos e a grade de proteção quase toda quebrada, passando a ser ocupado predominantemente pelos hippies e meninos de rua. O Largo Luis Assunção deixou de ser ocupado por famílias nos finais de tarde. A Ponte dos Ingleses ficou sem iluminação, e teve seus pontos comerciais e observatório de golfinhos desativados. Os bares e restaurantes gradativamente foram sendo fechados, inclusive o tradicional restaurante La Trattoria e o Cais Bar. Em janeiro de 2003 a pizzaria Geppo’s fechou, deixando um terreno baldio no meio da rua dos Tabajaras, principal rua do bairro.



No ano de 2004, mais da metade dos novos estabelecimentos já haviam sido fechados, abrindo espaço para instalação de boates algumas com shows de stripper. Este fato contribuiu para enfatizar ainda mais a representação do bairro como lugar de prostitutas e gringos. Um empresário, instalado no bairro há quase vinte anos, afirma que a nova representação surgiu a partir da instalação de uma boate, conhecida na cidade de Fortaleza, como uma casa que favorecia a prostituição.


Não existiu um respeito às demandas dos moradores do bairro, por parte do Poder Municipal, ou seja, houve ingerência quanto à ocupação do espaço, poluição sonora e desordenamento do tráfego. Ocorreu uma intervenção no espaço urbano, sem um devido planejamento. Esse fenômeno contribuiu para a saída da maioria dos moradores, acarretando a monofuncionalidade do bairro. Como resultado desse processo, a própria dinâmica da cidade e do turismo nacional e internacional foi determinando as novas faces de Iracema.

"Precisamos resgatar uma relação sadia entre o mar, os bares e restaurantes, e os frequentadores’’, afirma Luizianne Lins, então prefeita de Fortaleza.



A Reforma:


Foto de Kiko Silva

A requalificação da Praia de Iracema, que teve início em fevereiro de 2008, foi orçada em aproximadamente R$44 milhões. O calçadão foi a obra de maior extensão do projeto. O trecho que vai da Avenida Rui Barbosa ao Largo do Mincharia ficou pronto dentro do esperado. A obra seguiu em direção à Ponte dos Ingleses em ritmo acelerado. Os arredores da estátua “Iracema Guardiã”, de Zenon Barreto, também recebeu os ajustes necessários. O local recebeu guarda-corpo, piso novo, rampas de acessibilidade e corrimãos. As outras 22 intervenções previstas foram aos poucos iniciadas, entre elas, a reforma do Pavilhão Atlântico, antigo Café, que ficou no extremo do calçadão (em frente ao local do futuro Parque da Liberdade).

(*)Denominação dada por ex-frequentadores e moradores do bairro. Alusão a Miami (EUA).

(**) Em entrevista com um dos arquitetos do projeto do Centro Dragão do Mar, Fausto Nilo, ele esclarece que o projeto original previa um “corredor” de ligação entre a parte costeira do bairro o Centro Dragão do Mar, contudo por falta de verbas a ligação não foi estabelecida. A deterioração começou por que? Porque em primeiro lugar deixaram construir o África’s [boate conhecida na cidade por shows de stripper] (...) a gente fez toda uma campanha pro África’s não vir, porque a gente pensava assim, no dia que o África’s vier, se vier um puteiro vem todos os puteiros da praia, e foi dito e feito. (...) Depois apareceu um português que era o maior trambiqueiro. Ele fazia o seguinte: montava um restaurante achava um investidor em Portugal e dizia olha eu tenho um restaurante maravilhoso pra você ele montava o restaurante pras pessoas ai o cara vinha de lá pra cá com o restaurante montado comprava o restaurante e achava que tinha um ponto super bem feito e vinha pra trabalhar quando chegava aqui ele tinha um puteiro, ou seja, o cara muitas vezes vinha com boa fé tinha muita gente que vinha com boa fé e ficavam com um puteiro nos braços (Entrevista concedida em 27 de abril de 2005).


Crédito: Roselane Gomes Bezerra, Inventario ambiental de Fortaleza


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