Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Estrada do Sol
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Fátima - Bairro Abençoado (2ª Parte)



Veio o calçamento da Av. 13 de Maio, feito com pedras toscas de rio e a doação do terreno para ser edificada a Paróquia de Fátima pelo doutor Pergentino Ferreira e esposa. O calçamento da Av. 13 de Maio era feito de pedras tão pontiagudas e mal distribuídas que, o carro que passasse por ela, tinha que desenvolver o mínimo de velocidade, pois se acelerasse, esse carro no mesmo dia estaria precisando de consertos.


Longe da Av. 13 de Maio, em outros bairros, muitos diziam, quando avistavam um local cheio de buracos, "parece o calçamento da Av. 13 de Maio". Com a Igreja de Fátima, veio a venda de mais lotes de terra e a abertura de muitas ruas. A via de acesso se tornou importante e alguns começaram a comprar lotes ao longo da avenida e nas laterais extremas direita e esquerda, isto é, para o lado do sertão e para o lado do centro da cidade. No Início, poucos desejavam ter a sua residência em local tão distante do centro da cidade, pois Fortaleza tinha poucos bairros ainda, e tudo centralizava-se na Praça do Ferreira. Era preciso ser um visionário para almejar bom futuro para o bairro que ensaiava ser somente para os abastados e pessoas de alto nível.

Surgiu a idéia de centenas de pessoas que a data 13 de maio era importante e referia-se a Nossa Senhora de Fátima, pois que deveria ser construída uma Igreja, sem dúvidas em homenagem a Nossa Senhora de Fátima. Logo, passaram a examinar este projeto com carinho; contrataram arquitetos e, em 1955, fizeram a inauguração com a imagem da Virgem de Fátima, que veio direto de Portugal especialmente para a festa. Na inauguração da Igreja houve um fato inusitado: na ocasião das falas pela inauguração, o palanque estava cheio demais e proibiram qualquer pessoa subir. Só que os grandes benfeitores – Dr. Pergentino Ferreira e esposa ainda não tinham chegado para a festa – e ao chegarem não havia mais lugar, pois a multidão era grande. Resolveram ficar parados e assistiram tudo muito tristes a boa distância do palanque. Alguém os viu e certamente foram chamar o casal, pois eles deveriam estar no palanque. Logo perceberam a indelicadeza de não guardarem um lugar reservado e resolveram assistir de onde estavam mesmo (Stélio, o neto do Dr. Pergentino é que conta essa história).


Logo, os moradores de Fátima começaram, através da orientação paroquial, a se reunir e organizar diversos tipos de reuniões com a intenção de congregar mais fiéis. Com isto veio a consciência solidária e a distribuição de atividades em toda a comunidade fazendo nascer novos grupos pastorais, que tanto influenciaram os quatro cantos do bairro de Fátima e os próprios moradores da Av. 13 de Maio. O bairro sempre se caracterizou pela paz e tranquilidade, o seu crescimento residencial e comercial tirou-lhe, enfim, o bucolismo e a imensa vontade de ser o bairro mais aprazível de Fortaleza.


Sem exorbitâncias, como que por providência divina, suas casas são construídas em lotes médios, possui ruas bem definidas, asfaltadas; é composta de irrestrito comércio, e tem infra-estrutura compatível a elegantes bairros da cidade de Fortaleza. Tem significativo número de equipamentos de educação, saúde e transporte, segurança, e hoje conta com bancos, clínicas de saúde, edifícios residenciais, comerciais, restaurantes, boutiques de grife e postos de serviço. Hoje, o seu referencial econômico de casas e apartamentos é equivalente ao da Aldeota.


A 1ª Parte AQUI



Créditos: Livro Grãos de Areia - Tohama Editor 


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Fátima - Bairro Abençoado (1ª Parte)


Ele nasceu, quem sabe, de um fio de estrada que existia antes da cidade de Fortaleza propriamente dita, ligando o nascente ao poente; nasceu dos ventos uivantes das matas, do cheiro de água doce dos riachos existentes; ela nasceu, talvez, do farfalhar das bananeirais, da fértil sombra tênue dos milhares de coqueiros da região. Nasceu certamente com o grito dos índios canoeiros e no silêncio deles caçando onça pintada, ou pescando, na época em que os curumins se misturavam e se abandoavam aos passarinhos.

Igreja de Fátima na década de 60 - Acervo Pedro Leite

No verde da selva baixa das matas que seguiam para a foz distante do rio Cocó, eis que surge a esperança de uma estrada que daria o nome a um bairro chamado Fátima. Como predestinada a ser a florescente região abençoada pelas bênçãos de uma santa, na certa quando tudo indicava a transformação de todos os riachos, lagoas, açudes, alagados e matas, neste imenso cenário residencial e comercial, nasce uma longa estrada que em breve ganharia o nome de Av. 13 de Maio. Era uma longa artéria aberta no meio da mata sem fim. E tudo passou tão ligeiro... até que vieram os novos ocupantes cheios de documentos das terras prometidas; os posseiros, depois, os coronéis. Eram as matas do Dumma, rasgada que estava pela nesga gigante, futura Estrada do sol, via de principal acesso aos futuros aglomerados civilizados. Com ela, veio as criações de gado, os grandes pastos; os arrozais dos alagados, (Aguanambi e contorno) as plantações de milho e mandioca. Eram os novos ocupantes, os fazendeiros que moravam na cidade e no campo, ao mesmo tempo em suas belas mansões ou casas de fazenda onde abrigavam as suas famílias. O acesso para suas fazendas então se dava por esta via que, por causa do ambiente promissor passara a se chamar Bom Futuro.

 
Avenida 13 de Maio - Arquivo Nirez

E logo, vieram as denominações para esta estrada que também se chamara do Sol. Tudo o que transitava por ela vinha da estrada do gado ou Estrada de Mecejana, estrada viscinal às três fazendas da localidade. Consolidava-se aquela que cortava os extremos da cidade de uma ponta a outra ligando o outro lado da cidade às ruas centrais da Cidade de Fortaleza. Tudo era o começo da Av. 13 de Maio, sob os olhares atentos de alguns moradores e ocupantes das terras do doutor Pergentino, doutor Almendra e doutor Aldenor, assistida que foi pela presença de muitas outras casas e algumas aglomerações. E quem passava por ela, depois chamada a Flor do Prado, podia ver de uma ponta a outra as muitas residências do Bairro Prado, futuro Benfica, do outro, casas e chácaras – Bairro Vermelho – futuro Atapu.

A primeira fazenda, confrontando com o início da estrada do sol, localizava-se no alto onde hoje é o conjunto residencial Segredo de Fátima, de onde se tinha deslumbrante vista do açude da sede da fazenda e dos alagados que ficavam desde a proximidades da fazenda aos extremos da Aguanambi, e que bem se identificava como um imenso pântano. A segunda ficava nas imediações do Centro Educacional, onde hoje ainda existem várias mangueiras centenárias que ficaram, ainda, no final da rua Napoleão Laureano. E a terceira, mantinha a sua sede da fazenda em frente onde hoje é o 10° GAC, na Av. Luciano Carneiro. Casarão bem construído, cheio de áreas cobertas livres e quase toda alpendrada e edificada com as paredes cobertas de pedra lapidada, onde fica hoje a sede da Editora FTD, na Luciano Carneiro. As fazendas possuíam muitas criações e cultivo de frutas e verduras. Eram residências fartas, sempre festivas e concorridas, além de bastante visitadas pelos amigos dos que ali moravam. As festas eram animadas com muitos folguedos e nunca se deixava de perceber muita gente em São João, Natal e Ano Novo, feriados, carnaval e aniversários. Não posso esquecer que na sede da fazenda do doutor Pergentino existia um bando de quarenta, cinquenta ou mais gansos pretos e brancos, que nunca se cansavam de andar para todos os lados como que mesmo vigiando os quatro cantos da casa dos lados de fora. Quando algum estranho aparecia, mesmo que fosse passante, eles corriam atrás ferozmente e atacavam com bicadas e quachás ensurdecedores. As charretes, os carros, cavalos e passantes teriam de andar sempre devagar para não chamar atenção dessas aves. Na fazenda-sítio do doutor Almendra havia criação de cavalos, charretes e muitas fruteiras; na outra, imperava a criação de gado leiteiro, e o leite sempre era vendido para muitas residências nessa Av. 13 de Maio até alguns anos atrás.



Créditos: Livro Grãos de Areia - Tohama Editor 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

50 Anos da Avenida 13 de Maio II


O prédio já abrigou a Escola Industrial do Ceará, a Escola Técnica federal do Ceará, o Centro Federal de Educação Tecnológica - CEFET e o IFCE- Instituto Federal de Educação Tecnológica. Fica na 13 de maio, entre Senador Pompeu e Marechal Deodoro (vulgo Cachorra Magra).

O primeiro bar na Avenida 13 de Maio, com três ou quatro cadeiras na calçada foi um sucesso enorme. Muitos imaginaram logo que outros fariam o mesmo, transformando a avenida e implantando de vez o estilo americanizado no bairro. Chamava‑se Ponto Quente, na esquina da Av. 13 de Maio com a rua Napoleão Laureano, onde hoje é o Mercadinho Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (fechado). Pela primeira vez, fora do centro da cidade, podíamos comer sanduíche mixto quente com coca-cola ou cachorro quente, únicas novidades extras existente em toda a extensão da avenida 13 de maio. O primeiro local chic que serviu para encontros sociais no Bairro de Fátima foi lá, no Ponto Quente, muito tempo depois surgiu o clube S.B.F., típico da Av. 13 de Maio ou da Sociedade do Bairro de Fátima, onde o Sr. Eduardo e o Sr. Cajazeiras foram, com certeza, um dos cinco diretores mais empreendedores. Ali nasceu a felicidade de muitos casais do bairro, pois foi onde desfilou as deusas que as mães guardavam em casa. Todo fim de semana se podia dançar, jogar voleibol, futebol, e divertir‑se próximo de casa. Lá conhecemos as mais lindas mulheres da região. Era um centro social de muitas atividades, onde reunia em grandes eventos os mais conhecidos jovens não só da localidade, mas de outros bairros próximos, desde a Av. Lauro Maia até a Avenida Visconde do Rio Branco. Quem frequentava a S.B.F, incluía‑se no roteiro dos grandes eventos. Passaram por lá os mais importantes conjuntos e bandas do Nordeste, como Alberto Mota e seu conjunto, Os Brasas, Ivonildo e seu conjunto, Canhoto e seu conjunto, Os Tremendões e mais outros de destaque que eram conhecidos no Nordeste. 
O Clube Maguary oferecia eventos maiores e festas mais importantes; era comum sair do Maguary e terminar a festa na S.B.F ou vice‑versa. Muitos rapazes e moças tinham como certa esta trajetória nos finais de semana. Naquele tempo, não existia os Chicos do Caranguejo. E as músicas mais badaladas eram: “Há um alguém..., na multidão... que vai lhe adorar..., com devoção...  , ou, “Moon River”..., Bobby Sollo”, “Nico Fidenco”“Domenico”“Tequila”“Caramelito”Mambo Cubano”, “Mambo Jambo”“Sumer Holliday”“Volare”“Not for Sale”“The Pop’s”The Platters” e por que não Ivonildo e seu conjunto ou um dos maiores sucessos do mundo, “The Great: pretendet” ou mesmo “The Mamas and Papas”; assim, os mais alucinados jovens dançarinos, pode-se dizer, nunca deixavam de ver nos olhos das suas garotas que se transformavam em (verdadeiras compotas de lágrimas), quando tocava uma das músicas mais contagiantes como “coruja”, imagine, “coruja... “você agindo assim só vai sofrer, pois chegará o dia em que ninguém vai perceber, existe uma coruja no lugar... coruja...”. E para os mais bregas, Paulo Sérgio, com a Última Canção... ou quem não se deliciou ouvindo ou cantando... “Quero que você... me aqueça nesse inverno, e que tudo mais vá pró Inferno...”.

Igreja de Nossa Senhora de Fátima, na Av. 13 de Maio ainda em construção, em 1955.

A Praia do futuro era o maior deserto que conhecíamos em Fortaleza (Nossa turma da 13 vivia lá também). Havia as luaradas, para quem desejava um piquenique a noite na praia, com todo mundo “arrumado”, digamos assim. Eram feitos encontros na Beira-Mar, ou outra praia qualquer, onde se levava um grupo de amigos com as namoradas para sentar na areia. Tomava‑se drink drea.. trazidos de casa, gelado, (uma das mães teria de ser portadora desse ideal sonífero) e comia‑se um sanduíche caseiro, (pão de forma - com o tradicional corte das partes queimadas e recheio de presunto enlatado) geralmente preparado, também, por uma das mães das meninas, ou a mais prendada, digamos assim.

As ruas mais agitadas naquele tempo da “bossa nova”, na Av. 13 de Maio eram a Saldanha Marinho, a Pe. Leopoldo Fernandes e Napoleão Laureano, Mário Mamede e outras, onde havia maior permanência de jovens festeiros. Todas bem próximas da Igreja de Fátima, nosso centro religioso e cultural ao mesmo tempo.

Cruzamento da Av. 13 de Maio com Av. da Universidade - Foto anterior a 1974

Um dia chegou o twist e os namorados da Vanessa e Vládia, filhas do Sr. Mancito, (moravam na rua Pe. Leopoldo Fernandes) foram os lançadores dessa música aqui no bairro. Foi qualquer coisa assustadora para todos, pois não se conhecia esse jeito descontraído de dançar. Um sucesso garantido durante noites e noites seguidas aqueles dançarinos modernos que mostravam um estilo americanizado de dançar. Os mais beneficiados com tudo isso foi a nossa turma festeira, composta pela Aíla e a Ângela, a Glória, Medina, Ana Célia e a Célia Sá, além da Glória Pordeus, o Cláudio, o Gerardo e Glória, sua irmã e os meus irmãos. A proporção que outras ruas iam tomando conhecimento vinham se aproximando dessa casa.

O mesmo cruzamento sem a fonte.

Era uma música de som alto e todos se arrepiavam estranhamente pelo desprendimento e desinibição daqueles que sabiam dançar música americana. Vinham pessoas de todos os lugares de Fortaleza. Todo bairro ficou cotaminado. Queriam ver como funcionava a nova moda. Muitos ficavam de olho durante a semana para saber onde era a “tertúlia” do sábado, com certeza, tinha que ter twist para dançar, e certa seria a presença das “turmas”, primeiramente na residência da festinha, depois o clube da S.B.F seguido do Maguary. Não se deixava por menos. Festa era o que não faltava mais. Muitas vezes íamos duas, três e até quatro tertúlias nos fins de semana, mesmo porque na própria festinha tomava-se conhecimento de outra nas redondezas. Onde tivesse chance de dançar twist, todos queriam ir. Era comum nas casas de família, ser servido o famoso ponche de maçã, alguma mistura próxima de maçã picadinha, cachaça, água, açúcar e vinho para dar cor. Esse líquido geralmente ficava em um grande depósito em cima da mesa da sala, junto com os copos para ser servido à vontade pelos participantes. Essa era a “bomba atômica” que todos tomavam como cortesia da chic residência para encorajar e alegrar os participantes. Era um grande depósito transparente cheio daquele tônico, com os pedaços de maçã flutuando. Naquele tempo, ainda existia a concepção da inibição e os casais gostavam de algo relaxante para “criar coragem”. Nem que no outro dia sua cabeça sentisse que ia estourar. Nas casas mais sofisticadas servia-se sanduíche em pão de forma, elegantemente, cortado nas laterais, com pasta apresuntada e cortado ao meio, mas, feliz aquele que tomasse um copo de coca-cola, só oferecido aos íntimos.


Assim era a Av. 13 de Maio. O comércio se restringia a pequenas mercearias. Não tinha nenhum comércio além das mercearias. As maiores foram a do Simeão e Pontista. Tudo era no centro da cidade. Lembro de um dia, reunidos no casarão do meu amigo poeta, o Dr. Mamede Cirino de Lima, um dos fundadores da Faculdade de Odontologia de Fortaleza, pessoa bem relacionada e cheia de valores, resolvemos comprar uma garrafa de uísque para uma comemoração. A Angélica, nossa grande mediadora, facilitou a aquisição de uma garrafa de uisque. O Rogério teve de ir ao centro da cidade de bicicleta, para trazer aquela garrafa, pois era impossível alguém vender este produto aqui na Av. 13 de Maio.
Um acontecimento marcante foi quando inauguraram a Panificadora Central, local ocupado hoje pelo Habib’s. Tempos depois, vieram umas poucas casas de comércio, sorveterias, depois outras melhores e hoje a Av. 13 de Maio ainda é aquela avenida que guarda além da esperança, os mesmos estilos, mas nunca deixou de pensar, certamente, ser o melhor bairro de Fortaleza.

Veja a Primeira Parte Aqui


Créditos: Livro Grãos de Areia - Tohama Editor e fotos do Arquivo Nirez

50 Anos da Avenida 13 de Maio



Depois da inauguração da Paróquia de Fátima, na Av. 13 de Maio, no ano de 1955, o bairro veio a ser cobiçado como promissor, e, em grau de importância, chegou a ser dito por muitos que seria o bairro do futuro, tão importante quanto a Aldeota. Achavam que a cidade não tinha mais para onde crescer e que a imensa faixa de terra plana cheia de matas, principalmente do lado do sertão, onde tinha sítios de cajueiros e mangueiras, seria explorado. Quase tudo era mata do Dumma. Casas bonitas foram feitas por engenheiros e arquitetos importantes como Ageu Romero e dezenas de outros. Residências foram sendo ocupadas por importantes e ricas famílias, donos de indústrias e casas de comércio no centro da cidade onde quase tudo era verde e com árvores cheia de passarinhos. Em lotes pequenos, a maioria construiu suas casas que chamavam modernamente de os novos bangalôs.


A Av. 13 de Maio era o grande negócio imobiliário naquele momento e todos tinham visão midiatizada, digamos, globalizada. A Estrada do Sol, ou Av. 13 de Maio começa na Visconde do Rio Branco e termina no trilho do Parque Araxá. Para o nascente, a precária Pontes Vieira. Pequeninas casas, muito barro, calçamento e coqueiral; era só o que mais se via ali. Do lado contrário, ou seja, para o nascente, o final da Av. 13 de Maio e o início da estreita rua do Parque Araxá, também cheia de casinhas. Fátima surgia, então, como bairro dos novos ricos, com calçamento, iluminação, casas de sobrado por todos os lados e, uma larga perspectiva de crescimento. Uma das primeiras residências deste lado do bairro, ou seja, o da Paróquia de Fátima, foi uma casa bangalô construída há mais de 60 anos, distante um quarteirão e meio da Av. 13 de Maio para o lado do riacho do Jardim América, no meio das matas, sem sistema de água, esgoto, ônibus, e nenhum comércio ou qualquer infra‑estrutura, por perto. Era na rua Pe. Leopoldo Fernandes em frente a nossa casa nº 168. Casa onde morava o seu Albertino e D. Suzete e filhos.



A Paróquia de Fátima, certamente não há que negar, em nome do seu primeiro vigário, o padre Gerardo, foi a grande responsável pela sustentação e performance do bairro. Muitas reuniões foram feitas com os moradores e, vagarosamente, cumprindo o seu papel, a Igreja conseguiu cercar‑se de muitas famílias, ao mesmo tempo em que abraçava a todos em torno dela. Daí veio a consolidação do bairro de Fátima, mais loteamentos, novas ruas e tudo começou a mudar.



Os primeiros divertimentos do bairro era o futebol que se jogava em frente a Igreja, onde se via os treinos do Fortaleza x Ceará, aos domingos e, eventualmente, quando não havia jogo, acampamento de ciganos nesse mesmo local. Diga‑se rapidamente, este local era uma espécie de imensa praia de areia limpa, talvez proveniente das enormes enchentes em tempos remotos, do caudaloso rio que corria ao longo da Av. Aguanambi, (hoje, o canal) transformando tudo em grande praia nessas imediações da avenida 13 de maio.. Hoje, o estuário desse rio é um canal de esgotos que corta a Av. 13 de Maio e é encaminhado para o Lagamar, que desemboca no rio Cocó e em seguida no mar. De ano em ano, também tínhamos as festas da paróquia, os leilões, as novenas aos domingos, alguns arriscavam sair de suas casas a dar pequenos passeios a ver distante alguns aviões na BaseAérea de Fortaleza, pois tudo era descampado e, quem sabe, para conhecer novos moradores.




Havia um riacho que cortava as matas mais baixas da Av. 13 de Maio, era o Jardim América (este que hoje é o canal ao longo da Av. Eduardo Girão), naquela época com milhares de peixes (corta todo o Bairro de Fátima). Tudo era pitoresco e envolto em clima agradável, típico das promissoras fazendas e sítios, como as que tínhamos próximas. A do doutor Almendra, que ficava em frente ao 10° GAC, na Av. Luciano Carneiro, com criação de cavalos e gado leiteiro; a do doutor Agenor, com frutas diversas, onde é o Centro Educacional e a do doutor Pergentino Ferreira que se localizava exatamente onde hoje é o conjunto de prédios residenciais Segredo de Fátima, nas proximidades da rodoviária – A casa sede desse sítio era muito grande e toda cercada de alpendres, cujas colunas lembravam as curvas em meia lua do Palácio da Alvorada, na Capital Federal. Tudo se via de longe: a lagoa, os currais, as plantações, toda a bela imagem da fazenda do doutor Pergentino Ferreira. Quem olhasse para direita ao ingressar na estrada rumo a Messejana, via‑se a paisagem. Lá se criavam também gansos enormes, que, em conjunto, faziam um barulho infernal para afugentar estranhos quando se faziam presentes no local.



A empresa de ônibus que servia o bairro ajudou muito também, uma vez que nem todos dispunham de carro próprio. A maioria, no início, não tinha carros e ia para o centro de ônibus. Muitos ainda não eram empresários importantes, mas com o tempo se tornaram pessoas muito conhecidas da sociedade como donos de lojas e casas comerciais famosas da Praça do Ferreira. Os ônibus da Empresa Pedreira eram poucos e estilo calhambeque; demoravam a passar porque tinham que andar devagar pelos buracos do calçamento da Av. 13 de Maio, paradas constantes e nenhuma empresa para competir. Dentro dos ônibus cheios, constantemente, era um sufoco, como diziam. Para descer numa parada de ônibus, alguém puxava a famosa “cordinha lateral” que acionava do lado do motorista; era nada mais e nada menos que um pequeno chocalho de cabra, naturalmente para fazer um barulho estranho ao ambiente, mais alto que a trepidação enorme que esse imenso veículo proporcionava.
Era comum, para as pessoas que moravam para o lado da Igreja, andarem a pé, de suas casas, para apanharem o ônibus na Av. 13 de Maio. Este só passava de duas em duas horas, às vezes até mais de duas, por isso, sempre tinha alguém esperando numa esquina da avenida, e este, a todo instante olhava sempre para ver quando o veículo apontava distante. Quando longe ele surgia, inconfundível, aí se ouviam os gritos para alertar a quem estivesse no meio do quarteirão a caminho do ponto: corre...?! Lá vem um ônibus... A pessoa às vezes encontrava‑se distante um quarteirão e saía em disparada para não ficar esperando pelo outro veículo com destino a Praça do Ferreira. Muito tempo depois surgiram os microônibus da Empresa São José de Ribamar com nome de Bairro de Fátima e circulava entre as ruas do bairro. A partir daí, ficou mais fácil chegar na Praça Coração de Jesus, local onde esses veículos deixavam todos os passageiros, de lá retornando para a Av. 13 de Maio.


Continua...

Créditos: Livro Grãos de Areia - Tohama Editor e fotos do Arquivo Nirez

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