O Hospital recém inaugurado - Arquivo Nirez
O Hospital Geral Dr. César Cals de Oliveira é carinhosamente chamado de a César Cals, por conta da maternidade. Além do afeto, existem também motivos históricos para tão apropriada denominação, conforme relatos que se seguem sobre sua origem e evolução. Tais fatos também explicam, de maneira substancial, a inquestionável e destacada vocação acadêmica sempre existente nesta instituição. A César Cals é abençoada de origem, pois foi gerada na Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, datando esta de 1861 e sendo o Dr. João da Rocha Moreira um dos seus fundadores. Seu filho, o médico obstetra Dr. Manuelito Moreira lançou a semente da César Cals, quando, por sua ideia, foi aprovada, em reunião solene na Santa Casa, a fundação da Sociedade Auxiliadora da Maternidade Dr. João Moreira - Sociedade Civil Beneficente, proprietária da Maternidade e da Casa de Saúde.
Casa de Saúde Dr César Cals - Foto do Acervo Assis de Lima
Praça da Lagoinha, vendo-se o hospital - Arquivo Assis de Lima
Albergada inicialmente na própria Santa Casa, eram precárias as condições de funcionamento da nova instituição. Por isso, os Drs. Manuelito Moreira e César Cals arrojadamente partiram para a aquisição de um terreno na Praça da Lagoinha onde, após quase seis anos de penosa construção, foi inaugurada a sede própria, em 31 de outubro de 1928. No andar térreo ficou a Maternidade Dr. João Moreira com capacidade para trinta leitos e, no andar superior, a Casa de Saúde César Cals, com dezesseis leitos.
O Dr.César Cals de Oliveira foi seu primeiro diretor, liderando com eficiência um grupo de médicos pioneiros, capacitados, determinados e de grande abnegação. Foi de extrema importância a colaboração das Irmãs Terceiras Capuchinhas, responsáveis pela assistência de enfermagem e apoio à administração da nova instituição. Com o falecimento do Dr. César Cals, assumiu a direção, com muito denodo e competência o Dr. José Ribeiro da Frota, permanecendo no cargo até o fim de sua vida. A seguir, foram diretores duas históricas e destacadas figuras da medicina cearense, respectivamente Dr. José Carlos Ribeiro e Dr. José Galba Araújo. Seguiram-se vários diretores com características pessoais distintas, mas sempre atendendo, dentro do possível, e em função das freqüentes dificuldades financeiras, os anseios do seleto corpo clínico da César Cals, respeitável em todas as épocas pela excelência da sua formação técnica e ética,além de uma exemplar abnegação e espírito acadêmico.
Em 1973 aconteceu um fato histórico absolutamente decisivo para a César Cals. Com as mudanças de política de Saúde no Brasil, este hospital se encontrava financeiramente inviável. Era governador do Ceará, o Sr. Cel. César Cals de Oliveira Filho, que se comprometeu, após análise minuciosa, a resolver o problema. Aos 16 de julho do mesmo ano, o Governo do Estado assumiu as responsabilidades administrativas da Instituição, recebendo como doação o seu patrimônio e acervo, com o compromisso de continuar prestando, à populalação pobre do Estado, os serviços anteriormente disponibiliza-dos. Assim, a Fundação de Saúde do Estado do Ceará (FUSEC) passou a administrar a CÉSAR CALS, que recebeu novo e vigoroso ânimo. Desde então, só vem crescendo e se fortalecendo em sua abrangência diagnóstica e terapêutica. Hoje é de fato um hospital geral, de grande expressão e com muitos serviços, tendo uma capacidade instalada de 297 leitos.
E quanto à sua vocação, ao seu espírito acadêmico?
Para melhor compreensão deste aspecto, vale salientar que a Medicina teve, tem e sempre terá em sua composição três itens: magia, ciência e arte. Quanto mais ciência, menos magia, porém sempre haverá o componente magia, não no sentido anti-ciência. Os três, sabiamente dosados, dão o charme, especialmente no setor do ensino médico, onde o instrutor, o verdadeiro mestre terá que ser vocacionado e precisa agir no ambiente adequado. É necessário ressaltar que desde o tempo de Hipócrates (360 a.C) até os dias atuais, o conhecimento médico sempre foi buscado com afinco. A grande diferença está na celeridade das aquisições científicas dos tempos recentes, fazendo-se necessária uma permanente reciclagem e nisto os mestres são imprescindíveis para ajudar os discípulos a distinguir o joio do trigo, a seguir a orientação sempre atual de William Osler: aprender medicina preponderantemente à beira do leito (“on bed side”) e eu acrescentaria, nos tempos de hoje, se aproximar cada vez mais do “bed side” e fugir do “bad site” da Informática; esta, se imprescindível, é igualmente nefasta quando mal usada.
Arquivo Assis de Lima
Para melhor compreensão deste aspecto, vale salientar que a Medicina teve, tem e sempre terá em sua composição três itens: magia, ciência e arte. Quanto mais ciência, menos magia, porém sempre haverá o componente magia, não no sentido anti-ciência. Os três, sabiamente dosados, dão o charme, especialmente no setor do ensino médico, onde o instrutor, o verdadeiro mestre terá que ser vocacionado e precisa agir no ambiente adequado. É necessário ressaltar que desde o tempo de Hipócrates (360 a.C) até os dias atuais, o conhecimento médico sempre foi buscado com afinco. A grande diferença está na celeridade das aquisições científicas dos tempos recentes, fazendo-se necessária uma permanente reciclagem e nisto os mestres são imprescindíveis para ajudar os discípulos a distinguir o joio do trigo, a seguir a orientação sempre atual de William Osler: aprender medicina preponderantemente à beira do leito (“on bed side”) e eu acrescentaria, nos tempos de hoje, se aproximar cada vez mais do “bed side” e fugir do “bad site” da Informática; esta, se imprescindível, é igualmente nefasta quando mal usada.
Neste contexto, a César Cals tem sido um exemplo maior de instituição médica com alto espírito acadêmico, vocacionada para o ensino desde o seu nascedouro, recebendo com extremo zelo profissionais competentes e éticos. Assim, desde o início, expressivos nomes da Medicina lá pontificaram, tais como Vulpiano Cavalcante, Newton Gonçalves, Paulo Machado, Ossean Aguiar, Pontes Neto, Haroldo Juaçaba e muitos outros até os dias atuais.
Foi pioneira em vários procedimentos cirúrgicos, como a primeira colecistectomia, realizada pelo Prof. Ossean Aguiar. Lá também aconteceram as primeiras cirurgias cardíacas (comissurotomia mitral, ligadura de PCA), graças ao denodo dos cirurgiões professores Newton Gonçalves, Horaldo Juaçaba e Paulo Machado, apoiados inicialmente pelo cirurgião cearense, radicado no Rio de Janeiro, Prof. José Hilário, na década de 50. A Obstetrícia e a Ginecologia prosperaram com solidez, persistindo até os dias de hoje uma grande e brilhante Escola Obstétrica, como é também hoje um grande destaque o Serviço de Neonatologia.
Foi pioneira em vários procedimentos cirúrgicos, como a primeira colecistectomia, realizada pelo Prof. Ossean Aguiar. Lá também aconteceram as primeiras cirurgias cardíacas (comissurotomia mitral, ligadura de PCA), graças ao denodo dos cirurgiões professores Newton Gonçalves, Horaldo Juaçaba e Paulo Machado, apoiados inicialmente pelo cirurgião cearense, radicado no Rio de Janeiro, Prof. José Hilário, na década de 50. A Obstetrícia e a Ginecologia prosperaram com solidez, persistindo até os dias de hoje uma grande e brilhante Escola Obstétrica, como é também hoje um grande destaque o Serviço de Neonatologia.
Fatos importantes marcaram a vocação acadêmica da CÉSAR CALS. Desde 1952 a Instituição vem mantendo estágio teórico-prático para o Internato da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, sendo grande a concorrência dos estudantes para ocupar suas vagas, dado a excelência do ensino. Em 1967, criou-se oficialmente a Residência Médica, reconhecida pelo MEC, nas áreas de Medicina Interna, Cirurgia e Obstetrícia-Ginecologia. Esta Residência, altamente concorrida, tem gerado excelentes profissionais, tanto no aspecto técnico como ético.
Um fato da mais alta importância merece comentários: a auto-sustentabilidade da César Cals. Por ela passaram gerações de excelentes profissionais e atualmente, os que a dirigem com crescente competência, são em sua maioria “filhos da casa” e todos oriundos da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará. Aos que fizeram e fazem a CÉSAR CALS, são todos merecedores da nossa admiração, gratidão e respeito pela abnegação e competência. Aos atuais fica um forte apelo: que jamais percam o ânimo apesar das dificuldades, pois a causa é extremamente nobre. Hoje o Hospital Geral Dr. César Cals é uma majestosa instituição que presta grande assistência especialmente aos menos favorecidos. O mérito é de vocês todos e a gratidão é de todos nós.
Crédito: João Martins de Souza Torres
Médico e Professor da Faculdade de Medicina-UFC
Ex- Diretor Geral do Hospital Geral Dr. César Cals
Fato histórico: Fogo no Hospital César Cals