O Hotel Brasil, era o mais renomado da cidade. Nele se hospedavam todas as ilustres figuras que pela cidade passavam.
Chegando à Praça General Tibúrcio, conhecida popularmente como Praça dos Leões, é possível apreciar construções majestosas resistindo ao tempo. Nesse conjunto arquitetônico, temos a Igreja do Rosário, o Palácio da Luz, hoje abrigando a Academia Cearense Letras (a primeira do país), o Museu do Ceará, local da antiga Assembleia Provincial e o Palacete Brasil, na esquina da rua General Bezerril com a Travessa Morada Nova, onde antes existia uma linha de bondes de tração animal que partia em direção à Alfândega (a chamada linha da praia ). A travessa virou passagem para pedestres, prolongamento da praça, mas o desenho demarcando a linha do bondinho serve de recordação.
O Palacete Brasil é o que me chama mais atenção. Nas minhas visitas ao Museu do Ceará, lembro que costumava ficar olhando pelas janelas, procurando alguma forma de desvendar o que havia hoje onde antes costumavam ser quartos de hóspedes. Como as janelas do Palacete estavam sempre fechadas, nunca consegui avistar os cômodos e ficava imaginando a posição das camas, dos criados-mudos, dos armários…
O Palacete foi construído em 1914, por Rodolfo F. Silva & Filho (proprietários da Serraria a Vapor), a mesma responsável pela construção do Instituto Epitácio Pessoa. O projeto foi do engenheiro João Saboia Barbosa, a pedido da empresa Frota & Gentil. Foi edificado especialmente para abrigar a segunda sede do Banco do Brasil em Fortaleza. A primeira havia sido instalada em 14 de agosto de 1913, numa casa na rua Barão do Rio Branco¹.
Anos 20
A imponente obra em estilo neoclássico foi concluída em 1915, mas segundo o memorialista Nirez, no seu livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza, o Banco do Brasil passou para o edifício ainda antes da conclusão, no ano anterior (Em julho de 1914).
Em 17 de março de 1945, o prédio ganha nova função e passa a funcionar como hotel. Nascia então o famoso Hotel Brasil, de propriedade da firma Alexandre & Quintons. Na parte de baixo funcionava a sede do Banco do Brasil e nos pisos superiores, ficavam os quartos dos hóspedes. Numa época em que os hotéis se concentravam no centro da cidade, o renomado hotel Brasil era muito procurado por ilustres que visitavam nossa capital. Com a saída do Banco, no local passou a funcionar o Restaurante Brasil.
Antigo Hotel Brasil, localizado ao lado da Praça General Tibúrcio
Quando a orla marítima virou ponto de lazer e de negócios, começou a atrair os turistas que vinham à cidade. Devido a essa mudança, os hotéis do Centro que abrigaram os visitantes da Fortaleza de outrora, começaram a perder espaço para aqueles com vista para o mar.
Os prédios foram esvaziando, vindo a falir um a um. Praticamente abandonados, ganharam outras funções:
Hotel Excelsior – Além de fazer a alegria das crianças do Natal de Luz no final do ano, hoje abriga lojas no térreo e nos andares superiores, o escritório de uma construtora e o Restaurante Paidégua;
Hotel Savanah – O térreo, também deu lugar ao comércio e nos andares de cima, não há uso até o momento, mas dizem que dará lugar a uma faculdade;
Palace Hotel – Antigo Hotel De France, hoje é a Associação Comercial do Ceará;
San Pedro Hotel – Hoje é o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA).
Esse também foi o caso do Palacete Brasil, antiga propriedade do Coronel José Gentil Alves de Carvalho. Foi todo restaurado em 1994, depois de sua venda, pelo arquiteto Gerardo Jereissati Filho. Os quartos do hotel foram adaptados e viraram salas comerciais para aluguel e na parte de baixo, já com mais ou menos quinze anos, encontra-se o Lions Self-Service – Restaurante e Bar².
Foto da década de 30, vemos o Palacete Brasil, a Assembléia Legislativa, além de um carro de modelo da década de 20
Hoje onde trabalhadores do Centro sentam para comer, um dia se hospedaram vereadores, deputados, artistas, autoridades…
O estabelecimento (Restaurante Lions) foi fundado por um casal de paraibanos, D. Fátima e “Seu” Eufrásio que sempre vinham para Fortaleza nas férias, a passeio, até que a Terra da Luz deixou de ser destino turístico para virar morada. Quando souberam que o local estava para alugar, foi unir o útil ao agradável!
O estabelecimento deixa a noite dos que passam pela Praça bem mais agitada e é bom para relaxar ao final do expediente ou para curtir um sambinha. Ambiente agradável, ao ar livre, música boa, o bar é muito procurando, especialmente aos sábados à tarde para um bate-papo entre amigos.
Hoje centenária, a fachada do Palacete encontra-se tão majestosa quanto antes, e eu continuo com a mesma curiosidade do tempo de estudante, ainda me pego olhando para suas janelas, querendo abri-las, me vejo debruçada no parapeito, olhando para a praça, admirando o bondinho passando… Quando sou despertada por um vendedor:
— É livro? ¬¬
O Palacete Brasil hoje abriga o Lion's
Foto Fortal
¹A primeira foi instalada numa casa na Rua Barão do Rio Branco, sob a direção do Conselheiro João Alfredo Correia de Oliveira e tendo como gerente Francisco Barbosa de Paula Pessoa.
²Há quinze anos, o cheiro da comida da dona Fátima invade a Praça dos Leões. De dentro do edifício antigo da Morada Nova com a General Bezerril, a hora do almoço se anuncia pelo olfato. Ali onde funcionava o Hotel Brasil, agora sentam para comer trabalhadores do Centro.
O estabelecimento é comandado pelo simpático casal de paraibanos, dona Fátima e seu Eufrásio, que trabalhavam no mesmo ramo em Campina Grande, mas a associação familiar não deu muito certo, e a Terra da Luz, antes vista como passeio de férias, tornou-se morada.
No começo, conta dona Fátima, que dormiam na parte de cima do restaurante, enquanto chegava a mudança completa. As noites eram custosas, não se conta nas mãos às vezes em que escutaram vir da praça pedidos de socorro pela madrugada adentro. Passado esse período inicial, era preciso ainda lidar com as garotas de programa e com a clientela do motel ali perto. As meninas assaltavam e afastavam clientes, diz. Hoje é outra praça, muito mais tranquila, mas quando chegaram os guardas, o Lions já tinha se virado sozinho em quase tudo, menos na concorrência do comércio informal.
As contas todas, o aluguel [pago aos Jereissati] e os impostos são o que pesam no olhar da comerciante quando chega de mansinho um vendedor de tapioca ou de espetinho e se "abanca" debaixo do poste, perto do restaurante. Dona Fátima paga mais de duzentos reais só de iluminação pública. E para dar conta do serviço são sete funcionários. “Não é justo. A gente não faz nada, mas me incomoda”. Quanto a cidade deixa de arrecadar de pessoas que podem pagar por mera desestrutura?
Algumas vezes, o Lions deixa a noite dos que passam pela Praça, bem mais agitada. DJs assumem a parte de cima do bar e o pessoal se espalha pelos arredores da praça. Não é sempre que acontece e não há divulgação. É mais importante que seja bom para quem vai do que a quantidade de pessoas. Fátima prefere assim.
Créditos: Portal do Ceará e Fortaleza no Centro