A palavra moleque é de origem africana e o Novo Dicionário da Língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira diz que ela provém do idioma Quimbundo onde o seu substantivo significava “negrinho” e o seu adjetivo “indivíduo sem gravidade, ou sem palavra”, ou ainda, “canalha, patife, velhaco”. Ainda, esse dicionário acrescenta que no português do Brasil a palavra passa a significar, também, “menino de pouca idade”. Contudo, o termo ‘Ceará moleque’ foi cunhado nos fins do século XIX e apareceu pela primeira vez em uma obra literária que tinha a cidade de Fortaleza como cenário: o romance A Normalista, de Adolfo Caminha, publicado em 1893. A obra retrata o cotidiano de uma Fortaleza provinciana, habitada por “alcoviteiros e uma gentinha canalha”. Neste romance de cunho naturalista, Caminha tenta criar uma crônica social sobre Fortaleza onde“buscou esmiuçar os detalhes sujos do cotidiano”(Albuquerque, 2000, p.16-17). Logo, a alcunha ‘moleque’ indicava aí certa característica cultural do Ceará a ser interpretada negativamente como “canalhismo de província”. Para Marco Aurélio Ferreira da Silva (2003), o romance de Caminha desenvolve sua trama na Fortaleza do final do século XIX, onde o ambiente provinciano é visto como um “antro de maledicências e coscuvilhice” e onde“a vida social se reduz a um jogo em que todos invadem o privado do outro”. Com este mote é que a personagem principal deste romance, a normalista Maria do Carmo, reclama a Lídia, sua amiga mais próxima, do pasquim chamado A Matraca, que escreveu versos sobre seu envolvimento com o Zuza, estudante de Direito de Pernambuco e que passava férias em Fortaleza: Lídia achou graça na versalhada. Ela também já saíra na Matraca. – Um desaforo, não achas? Perguntou a normalista indignada. – Que se há de fazer, minha filha? Ninguém está livre destas coisas no Ceará Moleque. Não se pode conversar com um rapaz, porque não faltam alcoviteiros. (CAMINHA, 1997, p.37).
Na época deste romance, o Ceará figurava na economia internacional como um grande exportador de algodão. As indústrias têxteis europeias começaram a procurar pelo algodão cearense com maior intensidade no período em que foi suspenso o comércio com os EUA, o principal produtor de algodão até então, devido à eclosão da Guerra de Secessão, ocorrida nos anos 1860. Este fator foi fundamental para as transformações sócio-econômicas e culturais por que passou o território cearense, especialmente a capital da então Província, que se urbanizava e acelerava, modificando drasticamente o modo de vida de seus habitantes. Em Fortaleza Belle Époque, Sebastião Rogério Ponte (2001) conta que nesse período surgiram em Fortaleza lazaretos, hospitais, asilos e cemitérios construídos fora do perímetro urbano seguindo, assim, uma ótica sanitarista – o saber médico social então em constituição – que fazia parte da lógica de remodelação e controle do projeto modernizador para a organização da capital. Na contracorrente desta lógica modeladora, Ponte (2001) identifica a“irreverência popular que se expressava em condutas debochadas e galhofeiras da população citadina”.
Tais condutas significaram uma espécie de rebeldia velada, um desvio que se constituiu em contraponto ao “mundanismo chique” que se instaurava na cidade. A época da Fortaleza Belle Époque, em que se tenta afrancesar os costumes da cidade é, ironicamente, aquela em que uma grande seca assolou o Ceará, coalhando a periferia da capital de retirantes esfomeados enquanto a burguesia se empoava e tomava chá. É também a época em que um grupo de debochados intelectuais, dentre os quais o próprio Adolfo Caminha (o padeiro Felix Guanabarino), funda a confraria denominada Padaria Espiritual. Reunidos em torno do periódico O Pão, que buscava levar o pão do espírito a quem dele necessitasse, os espirituosos jovens debochavam, inclusive, do fenômeno absolutamente europeu das próprias confrarias e grupos de letrados que pipocavam pela cidade.
A compulsão popular pelo deboche e pela sátira era uma questão relevante para Fortaleza naquele período, e prova disso é, de acordo com Ponte (2001), a existência de“tantas referências a uma incorrigível ‘molecagem’ pública presente na cidade a partir do final do século XIX”. O autor encontra estas referências à molecagem do cearense na literatura, justamente no já citado A Normalista; em revistas de moda e atualidades como a Jandaia (1924) e a Ba-Ta-Clan (1926); e nos escritos dos memorialistas Otacílio de Azevedo, Herman Lima e Raimundo de Menezes, que descreveram o cotidiano fortalezense do início do século XX.
A praça em 1963 - Arquivo O Povo
Num destes registros, Herman Lima (1997), no seu livro Imagens do Ceará, publicado em 1959, nos indica o lugar onde tal propensão popular ao deboche, ao escárnio ou aos ditos espirituosos exercia-se com maior intensidade: a Praça do Ferreira. O ensaísta Abelardo F. Montenegro, citado por Lima (1997), considera este logradouro, como a “sede social do Ceará Moleque”, nela “funciona cotidianamente uma escola de humor, em que professores e alunos permutam sofrimentos por gargalhadas, preocupações por cascalhadas” (apud Lima, 1997, p.54). Foi num dos cantos da praça, mais especificamente no Café Java, que Antonio Sales, o padeiro-mor Moacir Jurema, Rodolfo Teófilo (Marcos Serrano) e outros companheiros fundaram a Padaria Espiritual.
Raimundo de Menezes (2000), em seu Coisas que o tempo levou: crônicas históricas da Fortaleza antiga, publicado originalmente em 1936, relata acontecimentos e curiosidades sobre os tipos populares – o Chagas, o Pilombeta, o Tostão, o Manezinho do Bispo (foto ao lado), o Casaca de Urubu, o Tertuliano, o Bode Ioiô e o De Rancho – que habitaram a capital no início do século XX. Dentre estes, Menezes (2000) destaca o Bode Ioiô como “um dos tipos mais populares e queridos da Fortaleza de outrora (...) era uma espécie de mascote da capital daqueles tempos, uma figura obrigatória na pacatez da cidade provinciana” (p.183). Segundo ele, Ioiô “representa bem a imagem do espírito irreverente e profundamente irônico dos filhos desta gleba heroica de sofrimento” (p.185).
Na sua obra de crônicas, Fortaleza Velha, João Nogueira relata que, em certo culto religioso no ano de 1922, um moralista alertava aos de boa índole: “Não se queixem do automóvel nem de certas novidades de que está cheia a Fortaleza, mas do Ceará moleque, que tudo acanalha e desrespeita” (apud Silva, 2003, p.22-23). Para a moral e os bons costumes, geralmente desprovidos de humor, a molecagem deve ser banida, pois que toda irreverência é associada à canalhice. A referência a uma molecagem do cearense ou ao ‘Ceará moleque’ se encontra presente em outros escritos como O Cajueiro de Fagundes de Tristão de Alencar Araripe Júnior (1909); nos pasquins Ceará Moleque – Revista Caricata (1897) e O Charutinho – Jornal Amolecado (1900). Digno de nota é igualmente o relato jornalístico da vaia ao sol naPraça do Ferreira. No ano de 1942, após longa estiagem e sem uma nuvem sequer que prenunciasse chuva no horizonte, os fortalezenses indignados e sem outra ação possível passaram a vaiar o astro-rei, que permaneceu impávido, na certa pensando que o que vem de baixo não lhe atingia.
Também cabe lembrar que este atributo de identidade cultural não é oriundo da elite erudita, que preferiria antes ser identificada aos traços importados da cultura européia. Embora seja muitas vezes por esta retratado, como no romance de Caminha, sua origem deve ser encontrada junto às classes populares, menos abastadas financeiramente, mas ricas de um humor peculiar e pouco sutil. A estética do grotesco, de que fala Bakhtin em sua obra sobre a cultura popular no Renascimento, está viva na Fortaleza de antanho e igualmente no mundo midiático de hoje em dia. Por ser identificada às classes populares e à sua estética particular, não é de estranhar o sucesso que tal imagem tem nos meios de comunicação de massa, onde há o império absoluto do grotesco, do bizarro, do exagero. É terreno fértil para a criatividade extravagante e sexualmente escrachada de homens, mulheres e homens travestidos de mulheres (digna de nota é a presença majoritária entre os humoristas locais de caricatos transformistas que atendem por nomes tais como Aurineide, Escolástica e Raimundinha). Em síntese, existe uma construção histórica e simbólica do ‘Ceará moleque’ que não vem de hoje. Trata-se de uma invenção social que foi e é simbolizada coletivamente, fazendo parte do imaginário cearense e do imaginário sobre o cearense.
Crédito: A identidade cultural em tempos liquefeitos: o ‘Ceará moleque’ e
a contemporaneidade - Francisco Secundo da Silva Neto/Marcio Acselrad
"Ali viveram também grandes jogadores de futebol, como Airton Monte eJombrega, este vítima dos fanáticos do futebol, ao ser responsabilizado pela derrota da Seleção Cearense frente à do Pará. Isto sem falar na beleza das moças do bairro, culminando com a Miss BrasilEmília Correia Lima. Os concursos de beleza que movimentavam a cidade provocando uma maior venda de jornais, como Rainha do Algodão, Glamour Girl, Rainhas de Colégios, Rainha dos Jornalistas, os mais belos olhos da cidade, eram sempre ganhos por alguma moça do Benfica. Isto sem falar do Renato Aragão que já estudava na Faculdade de Direito, trabalhava na TV Ceará e namorava a Marta, que era nossa vizinha. Também o Tom Cavalcante morou na Carapinima, bem em frente à casa da Marta, na modesta Vila das Irmãs. Era filho de Sr. Hugo e sua família veio deSobral. O outro comediante, Chico Anísio, que junto com os outros dois alcançou notoriedade no país, morou na Avenida João Pessoa, também no Benfica. Sua casa dava fundos para a Rua Carapinima, onde funcionava a garagem da empresa de ônibus do seu pai. Não posso esquecer o Dilcimar Oliveira, grande comunicador que atuou no jornalismo local, chegando depois a escrever no Le Monde e o inesquecível tenor Abel, que atuou no filme “Ligações Perigosas”. Além do músico Zezinho que alegra ainda hoje as noites de Fortaleza. Como vê, uso a memória para registrar e celebrar todas essas pessoas, que com sua linguagem erudita, professoral, escrita e oral contribuíram para a formação de jovens, o deleite de muitos, como no caso dos três humoristas mencionados. Discursando, escrevendo substanciosos artigos, poemas, contos e traduções, dignificaram suas profissões. Francisco José Róseo de Oliveira foi conhecido nacionalmente. Casado com uma senhora belíssima, a dona Cleide. De fato, perdeu o seu filho caçula, o Luis Antonio Róseo, que recebeu uma homenagem em poema do meu irmão, o cordelista Luis Antonio Aragão. Os versos eu sei de cor... A morte dele comoveu todo o bairro, pois se tratava de uma criança que fazia o curso primário. Vamos aos versos: Chorar, chorar... Nas minhas lágrimas Rolam os sentimentos Por alguém que jaz amor. Sem túmulo, sem um abrigo, Entregue aos mistérios Do Oceano que levou consigo, Seu corpo e minhas esperanças De encontrar meu grande amigo. Ó, mar, resolve meu dilema, Porque não vou odiar-te, Pois sei que inspiraste As frases deste poema. Mas livra de teus laços, Esta vítima inocente, E lança nos meigos braços De quem por ele chora e sente. Com a criação da Universidade Federal do Ceará que adquiriu grande parte dos bangalôs e sobrados do bairro. Muita gente mudou-se para outros locais e o bairro consagrou a fama de “intelectual”. Ficaram famosas as festas do CEU – Clube dos Estudantes Universitários. É claro que a Universidade estimulou a corrida dos jovens ao vestibular e o Conservatório de Música recebeu muitos alunos. É fora de dúvida que a Universidade continua tendo um papel importante em todo o Estado do Ceará. Mas não se pode negar que ela foi uma das responsáveis pela descaracterização do Benfica e daGentilândia por causa da sua própria expansão e em face da construção de novos edifícios. Até a maravilhosa fonte que ficava em frente da reitoria da Universidade, antigo solar da família Gentil, onde chegou a se hospedar Getúlio Vargas, foi retirada dali e hoje está no centro da cidade em frente à sede do Banco do Nordeste. Vale acrescentar que o bairro do Benfica, cresceu em importância com o advento da Universidade. As mulheres passaram a ter a oportunidade de ingressar em outras faculdades e não só na de Filosofia. Algumas vindas do interior e hospedavam-se em casas de parentes, ou ainda nos pensionatos para moças, que passaram a ser comuns naquela época e hoje quase não existem mais. Notadamente, o bairro do Benfica era todo verde, parecia um parque ecológico enquanto que hoje, apesar da preservação do meio ambiente, ele já não é tão verde assim. A necessidade de modernização retirou os trilhos dosbondes, ruas foram alargadas e encolheu-se o espaço da casa. Hoje ela não vai até a rua. Algumas secretarias foram acrescentadas à prefeitura e ao governo do estado. A SUMOV, por exemplo, pertinente a Superintendência de Urbanização, entre outros órgãos, transformaram ruas em avenidas modificando a paisagem urbana. A violência se reflete em várias facetas. É o caso da Igreja dos Remédios, hoje protegida por uma infinidade de grades e há ausência de cadeiras nas calçadas para as longas conversas de outrora. As televisões e os computadores estabelecem um novo tipo de comunicação. Os debates sobre política e economia feitos na ágora foram substituídos por conversas fúteis sobre novelas e programas sem nenhum conteúdo cultural e são duvidosas produções artísticas. O escoamento de gêneros in natura, faz-se hoje muito mais por caminhão. Não se ouve mais “lá vem o trem”. O trem que antes transportava gente do povo, fardos de algodão, mamona, feijão, farinha, oiticica e bovinos, equinos e suínos, vindos de outras cidades cearenses como Cedro, Iguatú,Senador Pompeu, em vagões chamados gaiolas. Observe-se que a modernização do Porto do Mucuripe, em Fortaleza, e a inauguração do Porto do Pecém deram novo ânimo às exportações do estado. Virou história o início do Porto do Mucuripe quando à distância se avistava o grande guindaste Titã e da Maria Fumaça trazendo as pedras para o porto. Nós, meninos, da Rua Carapinima, meninos dos bairros do Benfica e circunvizinhos fomos levados para conhecer o “Passatempo”, precária estação de passageiros, local onde ocorreram os primeiros embarques e desembarques. Na Cia. Docas do Ceará empenhei-me muito pelo tombamento do Titã na ponta do quebra-mar e também do Passatempo, mas não tive êxito. Ainda bem que ainda resta a Ponte Metálica onde essa operação de embarque e desembarque já havia existido entre 1920 e 1952. Claro que está numa cidade banhada pelo mar não se pode esquecer dos passeios na orla. Assim, a criançada toda e os jovens do bairro eram de vez em quando premiados."
Marcondes Falcão Maia é pereirense porque nasceu em Pereiro, a 16 de setembro de 1957. Pereiro fica no estado do Ceará, visto que se localiza no território cearense.
Falcão é um cara grande, porque, medida a sua extensão na vertical, ou seja, dos pés à cabeça, verifica-se que não é pequeno.
Quando menino saiu de sua terra natal, não voltando até agora. Por isso mesmo não mora mais lá. Possui muitas qualidades, mas a mais importante é a principal.
Como cantor/compositor já lançou, até o momento, 8 CD's, sendo que o oitavo é o mais recente. Tem apenas um filho, o Pedro, do qual considera-se o pai.
Possui, também, apenas uma mãe, que foi justamente a mulher que o pariu. É, enfim, um sujeito de grande futuro, sendo que este se aproxima a cada dia que passa.
Falcão
Sua marca registrada é a vestimenta colorida, com um girassol preso no paletó.
Irreverência. Esse é o adjetivo que melhor se adequa a figura de Marcondes Falcão Maia. Conhecido nos quatro cantos do Brasil por suas letras politizadas e bem humoradas e por seus figurinos extrovertidos, Falcão pode ser considerado o principal responsável pela expansão da música dita como brega. Arquiteto formado pela Universidade Federal do Ceará, Falcão encontrou na faculdade seu futuro, mas em um festival de música. Apesar de gostar muito de arquitetura e de ter trabalhado por um tempo na área, foi na carreira artística que ele trilhou seu rumo, sempre inovando, tirando o sarro de maneira inteligente e mantendo o padrão do mal gosto.
Cantor e compositor cearense, nascido na cidade de Pereiro, que apareceu no começo dos anos 90, com releituras satíricas da música brega em espetáculos que primavam pela teatralidade. Seu primeiro disco, “Bonito, Lindo e Joiado” (1992), lançado de maneira independente (e depois relançado pela BMG Ariola), chamou a atenção do público do Sudeste com “I´m Not Dog No”, versão em inglês macarrônico de “Eu Não Sou Cachorro Não”, sucesso do ícone brega Waldick Soriano. No disco seguinte, “O Dinheiro Não é Tudo, Mas é 100%” (1994), Falcão voltaria à receita com “Black People Car” (versão idem de “Fuscão Preto”, popularizada na voz de Almir Rogério) e se notabilizaria com composições do tipo “Onde Houver Fé, Que eu Leve a Dúvida” e “As Bonitas que Me Perdoem, Mas a Feiúra é de Lascar”. Já conhecido de boa parte do público por sua singular figura (um sujeito com 1,90 m de altura vestido com roupas de cores berrantes, em combinações esdrúxulas), ele teve seu primeiro grande sucesso, “Hollyday Foi Muito”, em seu terceiro disco, “A Besteira é a Base da Sabedoria” (1995). Em seguida, lançou “A Um Passo da MPB” (1997, do sucesso “I Love You Tonight”) e “Quanto pior, Melhor” (1998, em que regravou “Tu És O MDC da Minha Vida”, bem-humorada incursão de Raul Seixas e Paulo Coelho na seara do brega) e “500 Anos de Chifre” (1999, disco-tributo aos grandes mestres do gênero, como Alípio Martins, de “Lá Vai Ele”).
Marcondes Falcão Maia, nasceu na cidade serrana de Pereiro, interior do Ceará, no dia 16 de setembro de 1957, filho de dona Carminha e seu Zé Maia. Falcão tem quatro irmãos.
Além de arquiteto, compositor e cantor, Falcão também se dedicou à escrita. Seu primeiro livro, Leruiate - Dog's Au-Au It's Not Nhac-Nhac, foi lançado em 2001 e retrata toda a filosofia, o pensamento e as diretrizes falconianas.
Entrevista ao Jornal Vicentino:
Jornal Vicentino - Onde você nasceu?
Falcão - Nasci em uma cidade chamada Pereiro, no interior do Ceará. Tem um bocado de mapa que ela não está ainda, mas tá aparecendo devagarinho nos mapas. É uma cidade dessas menores que existe pelo interior do Brasil, principalmente porque é no interior do nordeste, que é um lugar muito pobre. Para ter uma idéia, quando eu nasci existia uma rua que se dividia em rua de baixo e rua de cima. Eu nasci na rua de cima. Na época devia ter uns 5 mil habitantes e hoje deve ter uns 10 mil. Lá acontece um caso interessante que é a população ao invés de crescer diminui, porque o povo vem tudo embora para São Paulo. Em São Paulo deve ter muito mais pererense do que lá na própria cidade.
JV - Qual era a situação da família na época?
Falcão - Pode-se dizer que a minha família era a aristocracia da cidade. Meu avô era juiz, era prefeito, foi o maior comerciante da Cidade. Na época que nasci, com certeza meu avô era o homem mais rico de Pereiro, só que rico para os padrões pereirenses. Quando ele foi morar em Fortaleza virou pobre. Ele tinha o mesmo dinheiro, mas em Fortaleza ele não tinha esse cacife, e talvez, se ele tivesse vindo para São Paulo moraria em uma favela. Isso por parte de meu pai. Já a família por parte de minha mãe era uma família mais humilde, mas também uma família muito grande e depois uma família inteligente, em que todos foram estudando muito e se tornaram pessoas celebres na cidade.
JV - Como foi a infância e os estudos?
Falcão - Só ouvi falar em Jardim da Infância depois que cheguei na capital, porque em Pereiro todos eram alfabetizados em casa. Minha vó foi quem me alfabetizou e quando eu fui para o grupo escolar já era na primeira série. Era um colégio de interior, com muita brincadeira. Tinha muito mais brincadeira do que estudo. Eu morava a um quilômetro ou dois do colégio e eu ia montado no jegue, mas não era jegue nosso não, era o jegue que a gente pegava na estrada. Aquele jegue que estava solto a gente montava e ia para a aula, ai na volta, se ele tivesse lá esperando a saída a gente pegava ele de volta. Tinha todas aquelas coisas de menino do interior, de sair da aula para ir tomar banho de açude, para ir jogar bola. Isso era mais ou menos na Copa de 70, então toda garotada se influenciava pelo futebol.
JV - Qual foi a trajetória nos estudos até ingressar na faculdade?
Falcão - Como lá só tinha o primeiro grau, quando a gente terminou não tinha mais para onde correr, tinha que sair de lá para continuar estudando ou ficar lá na agricultura ou algo de subsistência. Mas a família resolveu ir se embora para Fortaleza. Foi ai que continuei os estudos. Quando cheguei a Fortaleza com 13 ou 14 anos, era como se tivesse chegado em outro planeta, porque em Pereiro não tinha nem energia elétrica na época, muito menos televisão. Rádio era a única coisa que você podia imaginar em matéria de comunicação, mesmo porque jornal só chegava atrasado. Tanto é que uma coisa interessante, é que em matéria de futebol, a gente torcia para times de São Paulo e do Rio. Porque as rádios que a gente pegava lá eram desses locais. Então eu era torcedor do Santos, torcedor do Flamengo e nem sabia se tinha time lá em Fortaleza.
JV - Porque você escolheu o curso de Arquitetura?
Falcão - Sempre quis fazer arquitetura. Fiz o curso de arquitetura lá na UFC, que é a Universidade Federal do Ceará. Para ter uma idéia fiz o vestibular cinco vezes para poder entrar. Escolhi arquitetura porque já era desenhista, já gostava, já fazia caricatura, tirinha de quadrinho e era o que gostava. Já gostava de música também e a faculdade de arquitetura era a única coisa parecida, que tinha arte pelo meio, lá na Universidade do Ceará.
No programa Raul Gil
JV - Antes de iniciar a carreira artística você trabalhou com arquitetura?
Falcão - Antes de fazer arquitetura fiz um curso de técnico de edificações em uma escola federal que tinha lá, comecei a trabalhar como desenhista de arquitetura ao mesmo tempo que fazia o curso de arquitetura. Por isso fiquei um tanto tarimbado e antes de terminar já comecei a trabalhar, fazer uns projetos pequenos, casa de cachorro, gaiola de passarinho, casa de sogra de cunhado e essas coisas (risos). Quando terminei resolvi montar um escritório com dois colegas, mas coincidiu com a época que eu comecei a cantar e não vingou muito.
JV - Como foi o início da carreira artística?
Falcão - Já na época que estava fazendo vestibular comecei a compor e fui fazendo já em um estilo mais ou menos parecido com o que faço hoje em dia, e o pessoal achava estranho, outros achavam engraçado, outros não queriam nem ouvir, e eu fui fazendo faculdade e guardando aquelas músicas. Quando foi um dia, já no final da faculdade, apareceu um festival e eu inscrevi uma música que depois até gravei, que é a música chamada Canto Bregoriano II, e foi um sucesso, de público, porque o júri deu zero (risos). A partir daí todo mundo ficou muito curioso de saber o que era aquilo, principalmente pela roupa, porque eu já fui cantar com uma vestimenta extravagante, parecida com as que uso hoje, e a cidade toda ficou curiosa e eu percebi que tinha um campo. Tinha gente besta o suficiente para escutar (risos) e ai comecei a fazer uns shows em encontros estudantis e ao mesmo tempo terminei a faculdade e quando eu vi o público já estava exigindo que eu gravasse um disco. Então gravei um disco independente que me lançou para o Brasil todo.
JV - Qual foi a reação da família quando você deixou de lado a arquitetura para dedicar-se a carreira de cantor?
Falcão - Mamãe queria me matar. Porque o cara passa cinco anos na faculdade, tinha um projeto de vida, todo mundo sabia que gostava muito de arquitetura, e ainda gosto, e a expectativa era a de que eu fosse o novo Niemeyer de Pereiro, o Lúcio Costa do Ceará e de repente o cara abandonar. Mas isso foi até ela ver a minha primeira apresentação. Digo: ‘Mamãe, vamos assistir para senhora ver a desgraça que é’ (risos). Mas quando ela viu ela disse ‘é você tem razão, fique cantando mesmo que é ruim mas o povo lá estava adorando e tem sinceridade. As pessoas tão querendo e precisando de alguma coisa assim, então vá enfrente’. A partir daí foi legal porque a família toda passou a incentivar e ser fã.
JV - Quais foram as influências musicais em sua carreira? Falcão - Tinha alguns ídolos como Raul Seixas, Zé Ramalho ou um compositor cearense chamado Belchior. Eu sempre gostei mais dos caras que fazem música mais letral do que musical. Gosto mais da letra do que da música, porque como não sei música nenhuma, só sei tocar violão de ouvir, tinha que ir pelo lado da letra que era algo que tinha mais jeito. Ai fui começando a querer ser, uma época queria ser Bob Dylan, depois queria ser Frank Zappa, depois Raul Seixas, e essa mistura desse povo que eu queria ser é que começou a pintar esse Falcão. Como eu vi que não podia ser esses caras, por causa do talento, da voz e aquele negócio todo, eu pensei: eu tenho que ser uma coisa irreverente, tem que ser algo diferente, puxando para o humor que é algo que o povo brasileiro gosta muito. Eu não fui fabricado. Eu já tinha personalidade irreverente. Foi quando eu tive a idéia de fazer alguma coisa puxada para o brega, porque o brega é aquela história do povo brasileiro, das nossas raizes bem populares.
Com Roberto de Carvalho, Rita Lee e o senador Eduardo Syplicy - Ego
JV - Quando estourou a primeira música?
Falcão - Canto Bregoriano II é uma música que estourou lá na cidade e todo mundo começou a querer que eu cantasse em tudo que é lugar e a partir dela eu comecei a compor com parceiros e fiz muita música na época, e quando gravei o disco foi quando estourou I am not dog no, que era uma música do Waldique Soriano que a gente passou para o inglês, e foi em frente. Quando o pessoal conhece a primeira música vai atrás de saber as outras e as outras também começaram a estourar.
JV - Você se considera extremamente irreverente. Da onde vem tanta irreverência?
Falcão - Acho que isso é mesmo da personalidade do indivíduo e também porque nós brasileiros, principalmente os nordestinos, devido a ser um povo pobre e sem perspectiva e feio também, quanto mais feio o cara é, mais irreverente ele procura ser para poder se sobressair, e isso é uma marca do brasileiro. Depois que comecei andar pelo Brasil todo, desde do Amazonas até o Rio Grande do Sul, fui vendo que nós somos todos muito parecidos. Inclusive no começo eu tinha um certo receio de que as pessoas não entendessem o linguajar bem nordestino, as tiradas que a gente tem no nordeste, que claro que é um pouco diferente, mas não, o brasileiro entende tudo. É por isso que o Brasil é tão grande e é tão unido através da língua e dos costumes, porque é tudo parecido.
JV - As letras das músicas tratam de política, cultura e costumes. Qual a importância e a intenção dessas letras?
Falcão - Acho que a gente como artista mais ou menos letrado e um pouco politizado, a gente tem que passar essa experiência, principalmente porque o povo brasileiro, infelizmente ainda não é muito educado nesse sentido. O mínimo que a gente passe já é muito importante, porque o povo precisa cada vez mais se educar, e através da irreverência e de humor é muito mais fácil de ser capitado. Por exemplo, quando eu começo a falar de alguma coisa escatológica, de corno, ou de alguma minoria, e meto alguma coisa de política no meio fica muito mais fácil do povo capitar isso. Através da música simples, da música dita brega, fica mais fácil porque é aquela melodia que pega no ouvido do camarada que nem catarro e não sai mais.
JV - Chegando quase a dois mil discos vendidos e tendo feito vários shows pelo Brasil. Qual a sensação de ver esse resultado?
Falcão - É muito interessante não só ver o povo cantando, mas ver a quantidade muito grande de pessoas que entendem o que você está querendo dizer. É claro que tem gente que não entende, pensa que você é um analfabeto, que tá fazendo sacanagem, que ta fazendo isso só para aparecer, que na verdade também é (risos). Mas tem gente que entende a mensagem que estou passando, que é está mensagem política e social que eu faço questão de sempre passar e ver até onde vai. É bom você ver que tem uma geração que já foi “educada” e já sabe algumas coisas devido a escutar sua música.
Falcão já apareceu até em quadrinhos com a turma da Mônica
JV - Você escreveu o livro Leruaite: Dogs au-au it’s nhac-nhac. Da onde veio a inspiração para fazer o livro?
Falcão - Não sei nem se é inspiração. Talvez seja muito mais transpiração (risos). Na verdade é um livro de frases. São frases que andei falando, outras que eu inventei na hora para poder o livro ficar maior um pouco. Um editor lá do Ceará ficou dando corda. ‘Rapaz dá para fazer um livro porque você tem um certo estilo literário e gosta de escrever porque não lançar um livro mostrando sua filosofia’. Eu lhe disse que não tinha tempo e ele falou para fazer um livro com as frases que já tinha cometido. Ai ficou fácil porque realmente já tinha muita entrevista, muita conversa mole, os próprios encartes dos meus discos que são cheios de coisas que eu escrevo, mas foi tão legal o resultado que eu tô fazendo outros, agora sim, mais embasados. Livros com história. Vou escrever um romance, vou escrever um manual ensinando os políticos a roubarem, só não sei se eles vão aprender.
JV - Existe preconceito contra cultura Nordestina?
Falcão - Até pensava que existia, mas depois fui vendo que não era bem preconceito. Cada região tem seu bairrismo. Por exemplo, no Rio de Janeiro o pessoal não gosta muito do que vai de São Paulo, é uma coisa mais de rivalidade do que preconceito. Se um gaúcho chegar no Nordeste, ele também vai ser mais ou menos ridicularizado, porque o pessoal fica mangando. Mas ao mesmo tempo no Brasil também acontece uma integração geral. Essa mistura toda que é legal no Brasil.
JV - Qual o sentimento de propagar cultura nordestina?
Falcão - Na verdade a gente não devia nem fazer essa divisão porque a cultura brasileira é muito parecida. Claro que o Nordeste tem algumas diferenças do Sul, mas é muito importante que a gente divulgue a cultura brasileira e ao mesmo tempo rebata alguns lixos que o pessoal fica tentando empurrar lá de fora. Não por xenofobia, com tanta violência. A gente tem que ver o que é bom e fazer uma peneira para poder incorporar a nossa cultura. Afinal de contas a cultura brasileira é uma mistura de tudo quanto é ruim que vem lá de fora. A importância de qualquer artista é não só levar a cultura, mas resgatar algumas coisas que estavam meio esquecidas e avivar a memória para as coisas que estavam começando a ser esquecidas.
JV - Quais os novos projetos que estão sendo trabalhados?
Falcão - Estou para lançar um disco com músicas inéditas que está terminando de ser gravado. Porque foi lançada uma coletânea, depois de cinco anos sem gravar os fãs estavam quase enlouquecidos porque não encontravam nenhum disco meu. A coisa mais difícil do mundo é encontrar um disco do Falcão. Se um sujeito precisar fazer um chá com o disco do Falcão ele morre e não encontra (risos). Então saiu essa coletânea com os 20 sucessos do Falcão. Além disso, vamos lançar um disco de inéditas com a mesma qualidade fuleragem de sempre e os livros que estou com eles na agulha. E ainda tem projetos de levar música para fora, projeto de cinema e até telenovela eu pretendo fazer se a Globo deixar.
JV - Em 15 anos de carreira com certeza já aconteceu muita história. Qual é o episódio engraçado que te vem a cabeça?
Falcão - Tem muita coisa. Era outra coisa que dava um livro só com as andanças. Já andei em lugares que se fosse catalogar e dizer ninguém acreditava. O que tem de história de fã enlouquecida, não só mulher mais homem, viado, corno e tudo quanto é tipo de fã. Teve um fã, um fazendeiro rico, no interior de Minas que chegou no hotel onde eu estava e disse: ‘Vim aqui comprar seu paletó’. Eu disse não tá à venda não. Ai ele explicou que tinha uma namorada que queria de presente de noivado o paletó, e ele estava disposto a pagar qualquer coisa. Ai lhe falei: Olha rapaz, infelizmente não está à venda. Ai o cara disse: ‘Se vai ter coragem de acabar com meu noivado’. Rapaz o problema não é coragem, se eu vender o paletó para você como vou fazer o show. Naquela época era começo de carreira, tinha poucos paletó. Mas o cara fez eu prometer que quando chegasse em Fortaleza ia mandar um paletó para ele. A gente combinou isso e meu empresário, na época, enviou um daqueles mais antigos para poder salvar o casamento do cara.
Carteirinha da Associação dos homens mal amado do Estado do Ceará
Entrevista para o site Trash80
Livro lançado no ano 2000 e que já está em sua 5ª edição
Como você começou sua carreira de cantor? Desde o inicio apostou neste visual diferente?
Falcão – Quase que por acaso. Na verdade eu já compunha, desde a época do colégio, músicas nesse estilo que até hoje eu as faço, porém não tinha planos, nem cacife, para me tornar um cantor ou coisa que o valha. Mas, com o tempo, o amadurecimento e o incentivo dos amigos resolvi adentrar a essa carreira. O visual começou já no estilo brega, embora menos espalhafatoso que o atual. Também foi idéia de amigos e colegas que, vendo o estilo de música que eu tinha a apresentar, deram “força” ao meu visual.
Você é visto por muitos jornalistas como um grande ator, pelo seu trabalho como humorista. Já pensou em fazer algo ligado a cinema ou teatro?
Falcão – Teatro nunca, mas em cinema tenho feito algumas pequenas pontas e, realmente sinto vontade de fazer algo mais consistente, talvez um longa para o qual eu já tenho alguns rascunhos de roteiro.
No show do Tom
Como você vê o humor hoje em dia? Acha que está muito estereotipado ou chulo?
Falcão – O humor sempre foi e sempre será assim mesmo. Cada povo tem seu estilo de humor. Aliás, cada região e cada pessoa têm sua maneira particular de achar ou não achar engraçada uma situação. O que pode me matar de rir ou me parecer um humor elegante, pra outra pessoa pode ser enfadonho ou chulo. O que faz rir Hebe Camargo pode fazer chorar minha avó.
Você possui ídolos? De quem o personagem Falcão é fã? E o artista por trás dele?
Falcão – Pra começo de conversa, eu não acho que o Falcão seja um personagem. Pelo menos eu nunca mudei nada na minha conduta para subir num palco e interpretar minhas músicas. O que eu mudo para as minhas apresentações é só a roupa. Quanto aos meus ídolos, são aqueles pelos quais eu fui influenciado ainda na adolescência, entre eles: Raul Seixas, Bob Dilan, Frank Zappa, Luís Gonzaga, Waldick Soriano, Zé Ramalho…
É possível desvincular a imagem do personagem Falcão da imagem do homem Marcondes? Como é o Falcão fora do palco?
Falcão – Conforme a resposta anterior, a diferença maior é, com certeza, a roupa; embora, todo a gente saiba que em cima de um palco ninguém conserva sua verdadeira personalidade. Fora do palco e dependendo da ocasião eu sou um pouco mais comedido, talvez…
Você curte desenhos e quadrinhos? Quais os seus favoritos?
Falcão – Demais. Até, em certa época da minha adolescência, já me arrisquei e risquei algumas historinhas, tirinhas e cartuns. Pode até ser lugar comum, mas eu digo que em matéria de quadrinho gosto de tudo: “Tintim”, “Batman”, “Corto Maltese”, “Asterix”, “Little Nemo”, “Maus”, “Blueberry”, “Spirit”, “Peanuts”, “Krazy Kat”, “Pato Donald”, “Tio Patinhas”, “Homem Aranha”, “Super Homem”, “Elektra”, “Conan”, “Tex”, “Cavaleiros do Zodíaco”…
Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho é filho de Francisco Anysio, que foi um dos homens mais ricos do Ceará, e de dona Haideé Viana de Oliveira Paula. Sua mãe era “especialíssima”, e embora tendo um problema grave no coração, morreu aos 89 anos de idade. O pai tinha uma enorme empresa de ônibus, que um dia pegou fogo, e ele foi dormir rico e acordou pobre. Chico Anysio nasceu na cidade de Maranguape, no dia 12 de abril de 1931. O pai de Chico foi casado quatro vezes e teve 17 filhos, dos quais só uma morreu. Aos sete anos o garoto foi com a família para o Rio de Janeiro e já começou a imitar as pessoas, e para ir ao cinema ou ao futebol, economizava o dinheiro do bonde, indo a pé para o colégio.
Foto quando ele ainda era quase uma criança, recém chegado ao Rio de Janeiro para início de sua brilhante carreira - Arquivo Nirez
Com 14 anos começou a ir aos programas de calouros do Rio e depois de São Paulo, e ganhava todos. A ponto de não o aceitarem mais. Foi ao “Programa Ary Barroso”, à “Hora do Padre”, ao “Trabuco”do Vicente Leporace, em São Paulo. E logo Renato Murce o aproveitou para um show. Ia fazer suas imitações nos clubes do Rio e ganhava seus cachês. Estudou para ingressar na Faculdade de Direito, passou, mas não cursou. Foi contratado para o rádio e depois de 15 dias, já tinha quatro profissões: era ator, locutor, redator e comentarista esportivo. Gostava de tudo e fazia tudo perfeitamente bem. Era a Rádio Guanabara. Foi galã de novelas, mas logo preferiu a linha de shows e de comédias, ao lado de Grande Otelo, Chocolate, Luiz Tito. E foi se multiplicando, sem nem mesmo ele saber como. Chegou um momento, porém, já na televisão, que achou que devia escolher uma estrada para ele. E escolher ser “vários”. Decidiu fazer vários personagens. E isso passou a ser o seu “diferencial”. Pensava: “Se um personagem cansar, ele sai, e fica outro. Foi ele que cansou, não eu”. Às vezes eram tão diferentes umas das outras, que nem mesmo ele entendia. Chegou a fazer 207 personagens na televisão. Seu começo nesse veículo de comunicação foi em 1957, fazendo o “Professor Raimundo”, na TV Rio. Tinha estado por muito tempo na Rádio Mayrink Veiga, sempre com sucesso.Na TV Rio, sob a direção de Walter Clark, o sucesso continuou. Como não havia video-teipe, ia de avião para São Paulo, e lá também fazia sucesso. Mas aconteceu de ver rejeitados alguns personagens seus, que mais tarde explodiram de tanto sucesso, como o “Coronel Limoeiro”, o “Quem-Quem”. E aí veio o video-teipe. Como já havia abandonado o rádio, dedicou-se então mais à televisão. Continuava, porém, escrevendo para o rádio. E seus personagens para a televisão ele mesmo escrevia. Só mais tarde foi tendo redatores, como o Antonio Maria, o Aloísio Silva Araujo, Max Nunes. Esteve na Record, e dentro do programa: “Essa Noite se Improvisa”, ganhou três carros, várias geladeiras, era enfim do primeiro time. Esse era um programa de Blota Junior, em que o apresentador dizia uma palavra e os concorrentes tinham que cantar uma música com aquela palavra. Chico ganhava quase todas. Quando esse programa mudou de estilo, Chico Anysio pediu demissão. Após sua saída da Record, foi para o Rio estrear o Teatro da Lagoa. Era o ano de 1969, e aí foi também convidado para ir para a TV Globo. Conheceu o Boni, que nele confiou totalmente, e a quem reverencia até hoje, como sendo o homem que mais entende de televisão.
Francisco Anysio se tornou o número um, entre os comediantes do Brasil. Mas aí teve uma queda e fraturou a mandíbula. Ficou um tempo com a dicção praticamente imobilizada. Foi para os Estados Unidos e sua recuperação aconteceu lentamente.
Casado seis vezes, o comediante tem oito filhos, sendo um adotado. Este é seu empresário. Os outros, que são adultos, também estão ligados à arte. Tem dois filhos pequenos, de seu casamento com Zelia Cardoso de Melo, que moram nos Estados Unidos. Só a caçula é mulher e seu nome é Vitória. O pai viaja para vê-los, pelo menos uma vez ao mês. Chico Anysio ainda é escritor. Tem quinze livros lançados e doze à serem editados. E é pintor. Vende seus quadros, vende seus livros, e consegue sucesso em tudo o que faz. Trabalhador incansável, dorme apenas quatro horas por noite e, sua explicação para tanta vitória, é o que um amigo lhe disse: “Não sou ator. Sou Médium”. Essa afirmação ele faz, num tom entre a brincadeira e a reflexão, e se pode ver em seus olhos, uma luz de gratidão, pois nem Francisco Anysio consegue explicar o inexplicável, que é Chico Anysio.
Década de 70
Chico Anysio nasceu em Maranguape, Ceará, em 12 de abril de 1931. Mudou-se com a mãe e três irmãos para o Rio de Janeiro aos 7 anos de idade. O pai ficou na cidade natal para tentar refazer a vida como construtor de estradas de rodagem, após perder toda a frota de sua empresa de ônibus num incêndio. A família foi morar numa pensão no bairro do Catete, na zona sul da cidade, abrigada em diferentes quartos.
Chico Anysio estudou para ser advogado, mas a vocação de comediante e a necessidade de trabalhar mudaram o rumo de sua vida. Ainda bem jovem, fazia imitações de personalidades e preparou um número com 32 vozes que o fez ganhar vários concursos de programas de calouros, como o Papel Carbono, de Renato Murce, e a Hora do Pato, apresentado por Jorge Cury, ambos na Rádio Nacional. O comediante ganhou alguns desses concursos mais de uma vez.
Dois testes para a Rádio Guanabara, um de locutor e outro de radioator, marcaram o início de sua vida profissional, por volta dos 17 anos de idade. Com 15 dias de trabalho, virou locutor nas madrugadas, ator de radionovela, comentarista esportivo (convidado por Raul Longras) e autor de três programas. De galã de novela passou para a linha de shows, ao lado de humoristas como Grande Otelo, Antônio Carlos e Nádia Maria. Em 1949, Chico Anysio foi convidado para trabalhar na Rádio Mayrink Veiga, onde escrevia 13 programas por semana.
Com Hélio Ribeiro no estúdio da Rádio Bandeirantes
Aos 19 anos, foi trabalhar na Rádio Clube de Pernambuco, em Recife, mas um ano depois já estava de volta ao Rio. Trabalhou por um tempo na Rádio Clube do Brasil, até que, em 1952, retornou à Mayrink Veiga, como autor e diretor de vários programas (A Rainha Canta, com Ângela Maria; Rio de Janeiro a Janeiro; Buraco de Fechadura; Vai Levando), ao mesmo tempo atuava em programas do Haroldo Barbosa, do Antônio Maria e do Sérgio Porto, entre outros. E fez o programa que se tornaria um dos maiores sucessos da rádio, Escolinha do Professor Raimundo, inicialmente composta por três alunos: Afrânio Rodrigues (o que sabia tudo), João Fernandes (o que não sabia nada) e Zé Trindade (o que embromava o professor).
Cartaz Publicado no dia 12 de setembro de 1968
Chico Anysio passou a ser conhecido e foi parar na TV Rio: o professor Raimundo apareceu no vídeo pela primeira vez no programa Aí Vem D. Isaura, de Haroldo Barbosa, estrelado por Ema D´Ávila. O personagem era um tio da protagonista que vinha do Nordeste. Nomeado por Walter Clark – então diretor comercial da TV Rio - diretor da linha de shows da emissora, acompanhou programas de humor como Noites Cariocas, O Riso É o Limite, Praça da Alegria, além de outros.
O diretor Carlos Manga, para quem Chico Anysio já havia escrito 18 chanchadas da Atlântida (A Baronesa Transviada (1957), Alegria de Viver (1958), O Camelô da Rua Larga (1958), Entrei de Gaiato (1959), entre outros filmes), aproveitou o surgimento do videoteipe e propôs ao humorista gravar um programa com vários de seus personagens. Surgia, assim, o Chico Anysio Show - escrito por Chico Anysio, Haroldo Barbosa e Roberto Silveira, com direção de Carlos Manga -, a base dos outros programas que o comediante estrelaria na TV durante muitos anos seguintes. Na TV, Chico Anysio passou, ainda, pela Excelsior (para onde levou o seu Chico Anysio Show e fez o programa A Volta ao Mundo em 80 Shows), Tupi (também com seu programa) e Record (como uma das estrelas dos programas Essa Noite se Improvisa e Vamos Simbora, esse com Wilson Simonal).
Bento Carneiro, Vampiro Brasileiro
O humorista chegou à TV Globo em 1969, e em 1970 estreou o humorístico mensal Chico Anysio Especial, gravado apenas em externas. No ano seguinte lançou Lingüinha x Mr. Yes, seriado infanto-juvenil apresentado entre o Jornal Nacional e a novela das oito. Em 1972, estreou Chico em Quadrinhos. Já nessa época, começou a lançar discos com músicas utilizadas ou inspiradas por seus programas e personagens, além de continuar atuando no teatro, uma constante ao longo da sua vida.
Disco Cuca Fresca
Lado A
1- Cuca Fresca (Orlandivo-Durval Ferreira-Chico Anysio)
2- Discoteca Chico City (Durval Ferreira-José Roberto Bertrami)
3- Forro de Chico City (Nonato Buzar-Chico Anisio-Zé Menezes)
4- Festa na aldeia (Luiz Moreno-Chico Anysio)
5- Amaralina (Orlandivo-Durval Ferreira-Chico Anysio)
6- Segura o fio (Cel. João Cajá)
7- Pé de manacá (Hervê Cordovil)
8- Preta pretinha (Moraes e Galvão)
Lado B
1- Bem te vi (Nonato Buzar-Chico Anysio)
2- Vice versa (Orlandivo-Durval Ferreira-Chico Anysio)
3- Terra batida (Jonhson Barbosa-Chico Anysio)
4- Oitão (Nonato Buzar – Chico Anisio – Dominguinhos)
5- Maranguape (Nonato Buzar-Chico Anysio)
6- Mariazinha (Paulo Sérgio Valle-Márcio Moura-Regininha)
Em 1973, Chico Anysio lançou Chico City, programa humorístico inicialmente localizado em uma pequena cidade do interior – depois transformada em metrópole – e que apresentava quadros e esquetes encabeçados pelos mais variados tipos criados por ele. O programa era semanal e contava com a participação de outros comediantes, como Agildo Ribeiro e Luiz Carlos Miele, além de apresentar uma enorme galeria de personagens. Alguns desses já eram bastante conhecidos, como o ator canastrão Alberto Roberto, o professor Raimundo, o pão-duro Gastão Franco, o coronel Pantaleão, o pai-de-santo Véio Zuza, o velhinho ranzinza Popó, o alcoólatra Tavares e sua mulher Biscoito (Zezé Macedo) e o revoltado Jovem. Entre as novidades introduzidas na fase final do programa, havia a gaúcha Salomé – que, com linha direta com o presidente da República João Batista Figueiredo, fazia críticas ao governo. Um dos mais populares era Bozó, que tentava impressionar as mulheres mostrando seu crachá da TV Globo.
Painho
Baiano e os novos Caetanos
Em seguida veio Chico Total (1981), no qual o comediante, além de revisitar seus personagens, contava histórias, apresentava números musicais e recebia convidados. No ano seguinte, foi substituído por Chico Anysio Show, que ficou no ar até 1990. O programa apresentou diversas fases ao longo dos anos de exibição. Em sua estréia, apresentou personagens novos, como o galã com voz dublada Bruce Kane, e continuou contando com antigos personagens, como o jogador de futebol Coalhada, o político corrupto Walfrido Canavieira, o boneco de ventríloquo Chiquitin (que abria e fechava o programa nessa fase), o jornalista Setembrino, o garçon fanho Quem-Quem, o pai de santo Painho, a apresentadora de TV Neide Taubaté, entre muitos outros. Em 1984, o programa passou a ser dividido em cinco partes, com a primeira delas dedicada ao público infantil e a última com o Profeta, que finalizava o humorístico com uma mensagem de sabedoria. Novos personagens foram incorporados, como o pastor charlatão Tim Tones. Em 1985, uma nova reformulação levou à retomada de uma idéia que havia vigorado durante parte do Chico City: a transposição do cenário das piadas para uma estação fictícia de televisão, a TV QCV.
Em 1988, um recurso interessante foi introduzido na abertura do programa e de cada bloco: Chico Anysio, sentado em seu camarim, falava dos bastidores das gravações e recordava seus vários tipos em conversas com convidados especiais. Ao longo dos anos, Chico Anysio contou em seus programas com uma grande variedade de redatores e diretores. Entre estes últimos, estão Gonzaga Blota, Atílio Riccó, Roberto Talma, sua sobrinha Cininha de Paula (filha de Lupe Gigliotti), Maurício Sherman, Stepan Nercessian, entre outros.
Com o filho Bruno Mazzeo
Em 1990, em vez da tradicional combinação de personagens novos e antigos, o programa de Chico Anysio concentra-se em um só quadro, a Escolinha do Professor Raimundo, que já vinha sendo exibido no programa desde 1987, e que ganhou personagens novos como a D. Cacilda, interpretada por Cláudia Gimenez; o mineiro Barbacena, personagem de Antônio Carlos; e D. Bela, vivida por Zezé Macedo.
Reclame de 4 de março de 1982
Como um programa próprio, a Escolinha foi apresentada na Globo até 1995, voltando em 1999 como um quadro do humorístico Zorra Total. O elenco fixo era enorme, incluindo nomes como Lúcio Mauro, Rogério Cardoso, Antônio Pedro, Bemvindo Sequeira, David Pinheiro, Tom Cavalcante, Pedro Bismarck, Brandão Filho, Eliezer Mota, Lug de Paula, Nádia Maria, Rony Cócegas, Walter D'Ávila, Zilda Cardoso, Tim Rescala, Emiliano Queiroz e Colé. A Escolinha reunia várias gerações de humoristas, colaborando tanto para a popularização de novos comediantes, quanto para a valorização de antigos. Em 1994, o programa recebeu o Diploma de Honra ao Mérito no Festival Internacional de Filme e TV de Nova York. Esta era a segunda vez que o Festival premiava Chico Anysio, cujo programa recebera a Medalha de Ouro na categoria Humor em 1991. Anos antes, em 1990, o programa já havia sido premiado pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).
Maria Zilda, Chico Anysio e Daniel Filho no Hippopotamus, casa noturna do Rio, no fim da década de 70
Em 1991, ainda com Escolinha do Professor Raimundo no ar, Chico Anysio estreou Estados Anysios de Chico City, seguindo a mesma linha de seus programas anteriores e contando com um elenco fixo de mais de 70 atores, muitos deles também na Escolinha. A experiência seguinte foi Chico Total, exibido durante o ano de 1996. O humorista misturava quadros com seus personagens a outros que reproduziam momentos de seus shows ao vivo. O programa deixou de ser exibido em 1997 a pedido do próprio Chico Anysio, que sofrera um acidente, fraturando o maxilar, e fora obrigado a passar por uma delicada cirurgia, da qual havia saído com paralisia parcial do rosto. O acidente o levou a uma temporada de tratamento nos Estados Unidos para recuperar a mobilidade do maxilar.
Com a irmã Lupe Gigliotti (já falecida)
Quando retornou ao país, em 1998, apresentou a proposta do novo programa, O Belo e as Feras, que, ao contrário dos anteriores, baseava-se na estrutura das sitcoms americanas. O programa estreou no início de 1999, pouco antes de Zorra Total, que reeditou a Escolinha do Professor Raimundo como um de seus quadros. Chico Anysio também aparecia no programa como Alberto Roberto, contracenando com convidados.
Ao lado da então esposa, Zélia Cardoso
Além dos programas próprios, Chico Anysio teve um quadro regular no Fantástico por 17 anos, de 1974 a 1991. Também foi supervisor de criação do programa Os Trapalhões no início dos anos 1990. Chico Anysio atuou, ainda, em diversos filmes, novelas e especiais. Também compôs canções (algumas em parceria com Arnaud Rodrigues, usadas em seus programas) e publicou vários livros. Atuou no teatro, protagonizando inúmeros shows, e se dedicou à pintura, realizando exposições de seus quadros em diversas galerias do Brasil.
Com a família
Ao lado do filho Nizo Neto
Em 2007, lançou o livro É Mentira, Chico?, uma enciclopédia de seus personagens, ilustrados pelos principais cartunistas do país. Muitos de seus mais de 200 tipos podem ser lembrados no DVD Chico Especial, lançado pela Globo Marcas para comemorar, em 2008, os 40 anos de Chico Anysio na TV Globo.
Com o filho André Lucas
Contracenando com filho Lug de Paula
Entre as novelas em que atuou na TV Globo estão Feijão Maravilha (1979), de Bráulio Pedroso, no papel de Salomé; Terra Nostra (1999), de Benedito Ruy Barbosa, onde interpretou o barão Josué Medeiros; Sinhá Moça (2006), também de autoria de Benedito, como o personagem Everaldo; e Pé na Jaca (2006), de Carlos Lombardi, vivendo Cigano. Em 2009, fez uma participação especial na novela Caminho das Índias, de Gloria Perez, no papel de Namit, um diretor de filmes trambiqueiro que ajuda Radesh (Marcius Melhem) a dar um golpe do dote na família de Deva (Cacau Melo).
O filho Rico Rondelli (vestido de azambuja) homenageando o pai no Domingão do Faustão
Bruno Mazzeo faz homenagem ao pai vestido de Justo Veríssimo no Domingão do Faustão
Chico Anysio também integrou o elenco do infanto-juvenil Sítio do Picapau Amarelo em 2005, como o Dr. Saraiva, além de participações em um episódio de Brava Gente (2007) e um de A Diarista (2004). Desde 2009, voltou a fazer parte do Zorra Total, com personagens famosos como Alberto Roberto, Justo Veríssimo e Bento Carneiro. Em 2010 e 2011, estrelou o especial Chico & Amigos, no qual revivia alguns dos personagens criados ao longo da carreira.
Nizo Neto e André Lucas homenageando o pai no Domingão do Faustão
No cinema, trabalhou como ator em diversos filmes desde a década de 1950, incluindo Tieta do Agreste (1996), dirigido por Cacá Diegues, onde interpretou o pai da protagonista; e Se Eu Fosse Você 2 (2008), de Daniel Filho.
Rodrigo (de Coalhada) é filho de Chico com Zélia Cardoso - Em cena do Domingão do Faustão em homenagem ao pai
Chico Anysio é casado com a fisioterapeuta Malga di Paula. Antes foi casado com as atrizes Nancy Wanderley, Rose Rondelli e Alcione Mazzeo; com a cantora Regina Chaves; e com a ex-Ministra da Economia do governo Collor Zélia Cardoso de Mello. Teve oito filhos, entre eles os atores Lug de Paula (famoso pelo personagem Seu Boneco da Escolinha do Professor Raimundo), André Lucas (com quem se apresentou no teatro com a peça De pai para filho, em 2009), Nizo Neto (o seu Pitolomeu, também da Escolinha) e Bruno Mazzeo (ator e roteirista). Além dos filhos, o humorista também trabalhou com outros parentes próximos, como sua irmã, a atriz Lupe Gigliotti e a filha dela, a atriz e diretora Cininha de Paula. Também já contracenou com os sobrinhos, a atriz Maria Maya (filha de Cininha) e o ator Marcos Palmeira (filho do cineasta Zelito Vianna, irmão de Chico).
A caçula Vitória de "Neide Taubaté" em cena no Domingão do Faustão
Vídeos:
Chico Anysio: garoto propaganda pioneiro das Havaianas
Chico Anysio (1969) - Show no Roquete Pinto
Chico City 1973 - Dom Pantaleão
Chico City (1972)
Chico City: Baiano & Os Novos Caetanos (1973)
Chico Anysio Show
Fontes: Netsaber, Depoimento concedido ao Memória Globo por Chico Anysio (02/08/2000) e You Tube