A igreja de Nossa Senhora dos Remédios de Fortaleza nasceu do sonho de João Antônio do Amaral, primeiro proprietário da chácara Benfica, que acabou por dar nome ao bairro surgido na localidade. O comerciante português já era devoto da Virgem dos Remédios, padroeira da paróquia da Ilha de São Miguel, pertencente ao Arquipélago dos Açores, onde este nasceu e foi batizado. Mas a construção do templo não seria concretizada a tempo deste João ver seu sonho realizado. Iniciadas em dezembro de 1878, as obras ressentiram-se da falta de recursos, talvez pela localidade não ser ainda muito povoada e, consequentemente, não contar com grande número de fiéis que pudessem colaborar com a empreitada. A capela só foi concluída 32 anos depois, em 1910, quando João Antônio do Amaral já havia falecido, sendo decisivos os esforços de sua esposa, Maria Correia do Amaral, que encampou o empreendimento do marido.
Igreja dos Remédios vista dos jardins da chácara de João Gentil, na Visconde de Cauipe, atual Avenida da Universidade. Registro provavelmente dos anos 30.
A construção do templo estimulou o povoamento do seu entorno, fenômeno comum na história dos municípios e bairros cearenses. No ano de 1927 foi entregue aos cuidados de padres da Ordem de São Lázaro. A então capela dos Remédios integrava a paróquia de Nossa Senhora do Carmo, cuja igreja matriz está localizada na Avenida Duque de Caxias, no Centro de Fortaleza. Em 1934 foi criada a Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, sendo a capela elevada à condição de matriz. Permanecendo aos cuidados pastorais dos lazaristas, quase todos de nacionalidade alemã.
Loteria em favor das obras. |
De porte é elegante e refinado, tem estilo arquitetônico eclético – como a maioria dos edifícios integrantes do patrimônio histórico cearense – e referências neogóticas. A torre é única, incrustada na parte central da fachada. Guardada por quatro torres em miniatura, abriga sino e relógio, que até hoje marca as horas com seu soar dolente. A fachada ostenta nicho e frontão, encimados por torres menores nas extremidades. O patamar é relativamente amplo, com nível elevado em cerca de um metro em relação à avenida da Universidade. Nas últimas décadas do século XX, a igreja precisou ser protegida por grades de ferro. Os tempos de embate e consequente violência fez os templos fecharem as portas aos fiéis em determinados horários, contrariando o costume de estarem sempre de portas abertas aos necessitados do socorro divino.
Dentre o patrimônio artístico da igreja dos Remédios destacam-se os afrescos da cripta do templo, pintados por Gerson Faria (1889-1943). Representam cenas da paixão de Cristo. As pinturas de Faria chegaram a ser dadas como perdidas, mas foram recuperadas no ano de 2010, por iniciativa do padre Sílvio Mitoso, pároco dos Remédios à época. Segundo Gilmar de Carvalho, a obra foi fotografada e catalogada por ocasião de uma pesquisa documental sobre arte cearense coordenada pelo artista plástico Nilo Firmeza (Estrigas). Em entrevista concedida ao Jornal o Povo, Carvalho afirma que “Trata-se de uma obra valiosa, porque provém de um artista que conta com essas pinturas e é uma exceção para quem quer conhecer um pintor importante do Ceará”.
Edifícios, sinos, mosaicos, imagens, adornos, toalhas rendadas, arranjos de flores, incenso, mirra, ostensório... Do que é feito uma igreja? Que amálgama une diferentes pessoas em diferentes tempos em torno da fé surgida em torno da vida e obra do Jesus Cristo? Pelo que rezariam as senhoras da elite das décadas de 1930 e 1940? Que graças pediriam a Senhora dos Remédios? No entanto, o corpo de devotos não era formado só por pessoas da elite.
Segundo informação contida no site da Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, “Os padres Lazaristas esforçaram-se bastante para que os leigos participassem dos movimentos da paróquia e sempre houve grande preocupação com as camadas mais pobres dos paroquianos”. O primeiro vigário, Padre Guilherme Vaessen, notabilizou-se pela ação social no bairro durante o logo tempo em que esteve à frente da paróquia. Foram fundadas a Casa da Mãe Solteira e a escola Padre João Vaessen, destinada à educação de crianças pobres. O Padre Vaessen era caridoso, intercedia pelos fiéis em problemas cotidianos e encomendava sem cobrar nada as almas dos falecidos na “escolinha” da comunidade, que funcionava como um salão de velórios.
8 de setembro – Festejos da padroeira - Procissão, leilão e barraquinhas com venda de comidas típicas no patamar da igreja. Apesar das buzinas e barulhos inerentes ao burburinho urbano do Benfica, é possível ouvir as badaladas do sino dos Remédios. Parodiando Ernest Hemingway: por quem dobram esses sinos?
Benfica / Arlene Holanda.- Fortaleza: Secultfor, 2015. (Coleção Pajeú)