Rodolfo Teófilo, baiano radicado no Ceará desde 1868, começou sua missão filantrópica a partir da contemplação das
secas que assolava a terra alencarina. Médico sanitarista, de espírito humanitário, iniciou seu trabalho filantrópico no Morro do Moinho*, no último quartel do século XIX. O Morro do Moinho era topograficamente a parte mais alta do Jacarecanga, tendo ao seu lado, o Morro do Croatá, que fora rebaixado para a construção da Via Férrea de Baturité.
Ao raiar do século XX, em 1º de janeiro de 1901, ocorrera a inauguração do Vacinogênio, fruto do trabalho de Rodolfo Teófilo. Na época, o Vacinogênio não agradou ao Presidente do Estado Pedro Augusto Borges, pois este não obedecia às diretrizes da oligarquia Aciolina.
Fachada do Vacinogênio em 1918. |
O Jacarecanga teve o privilégio de receber o Vacinogênio, que atendia, sem apoio governamental, aos pobres dos bairros periféricos da zona Oeste. O referido posto de saúde fora erguido na Estrada do Jacarecanga, que depois recebeu o nome de avenida Thomaz Pompeu e finalmente, Avenida Philomeno Gomes.
Com a morte de Rodolfo Theófilo em 1932, Roberto Carlos Vasco Carneiro de Mendonça, então interventor federal, transformou o Vacinogênio em necrotério, devido sua estrutura sanitária e a proximidade com o maior cemitério da cidade, o Cemitério de São João Batista, que remota ao ano de 1866.
Vista Aérea do Jacarecanga. Em destaque o Prédio do Vacinogênio. 1956. |
Aproveitando essa reforma, a irmandade da Santa Casa de Misericórdia, administradora do Cemitério, solicitou ao Interventor a desapropriação de algumas casas, para que o campo sagrado se estendesse até o muro do Vacinogênio, beirando uma via já movimentada. Depois o necrotério foi para a rua Nestor Barbosa nº 315 no bairro Rodolfo Teófilo, e quando foi implantado o Curso de Medicina no Ceará, em 12 de maio de 1948, passou a se chamar Instituto Médico Legal – IML.
Por ironia, em novembro de 1986, talvez uma das últimas inaugurações do Governador Gonzaga Mota, o IML volta para o Jacarecanga, sendo localizado na avenida Presidente Castelo Branco (Avenida Leste-Oeste), esquina com a rua Padre Mororó.
A casa do Vacinogênio, depois de abandonada, foi transformada pelos que trabalhavam na extensão do cemitério, em depósito para guardar material.
Assis Lima
(Radialista/Escritor)
Assis Lima entrou uma única vez nesta casa, que a gurizada do seu tempo dizia: “tem alma neste local”. Nenhum menino da época entrava só, os que entravam eram de mãos dadas.
Em 1969, ergueram um cruzeiro construindo uma meia lua de penetração no cemitério; junto com esse reparo no muro ocidental, desapareceu a casa do Vacinogênio/Necrotério e no embalo destruíram a casinha de força dos bondes elétricos da Ceará Tramway que havia sido desativada em 1947.