A Transmissão em Ondas Curtas
No Ceará, durante a década de 1930, o rádio se manteve como um veículo restrito a uma pequena parcela da sociedade: a elite fortalezense. O alto custo dos aparelhos e o baixo alcance da emissora de João Dummar eram fatores que impossibilitavam a expansão do novo meio de comunicação no Estado. Imbuído da vontade de ampliação da empresa nascente, João Dummar, no ano de 1939, vai à capital do País em busca de melhorias para a Ceará Rádio Clube. No ano seguinte, em 1940, retorna à Fortaleza com a novidade tecnológica a ser implantada na PRE-9: a transmissão em ondas curtas.
Um jornal da época publicou:
“João Dummar em Fortaleza – A nova estação da PRE-9 será inaugurada ainda este ano”.
De acordo com a notícia, o regresso do empresário vinha sendo aguardado ansiosamente por todos aqueles que apostaram no rádio como mediador do entretenimento, do lazer e da informação, fatores determinantes para o crescimento regional. A chegada das ondas curtas era anunciada pelos jornais, que acompanhavam o dia-a-dia das negociações do empresário Dummar no Sul do País.
No dia 10 de outubro de 1940, o jornal publicou a data de início para a preparação dos novos equipamentos e das novas instalações da rádio:
PRE-9 iniciará, terça-feira próxima (15 de outubro de 1940), a fase preparatória para instalação do seu possante equipamento de ondas curtas, o que fará o Ceará ser ouvido em toda a América. Assim, terça-feira, será apresentado, um programa especial, desfilando todos os principais elementos do seu elenco, numa homenagem a Imprensa desta capital.
No dia 29 de agosto de 1941, a Ceará Rádio Clube deu início às transmissões em ondas curtas e inaugurou seus novos estúdios. A estação recebeu autorização para mudar do Bairro Damas para o oitavo e nono andares do Edifício Diogo, localizado no centro da capital.
“João Dummar contratou o radialista Dermival Costalima como diretor artístico da PRE-9, cuja equipe de locutores era composta por José Limaverde, Raimundo Menezes e Paulo Cabral de Araújo” (DUMMAR FILHO, 2004, p. 54).
No dia da inauguração das novas instalações da PRE-9, 12 de outubro de 1941, o jornal O Povo publicou um caderno especial relatando todos os detalhes das novas instalações. A publicação tinha como título:
“A Voz do Ceará – Inaugurada oficialmente a Emissora de Ondas Curtas de Fortaleza”.
O jornal destacou que o evento incorporaria, em definitivo, a emissora cearense à grande radiofonia brasileira.
O Ceará falou ao mundo. Sua voz ultrapassou as fronteiras, repercutindo lá fora as ressonâncias das nossas conquistas culturais e econômicas fazendo sentir a sua presença neste recanto longínquo da terra, numa afirmação universal de nosso progresso e de nossa grandeza (O POVO, outubro de 1941).
O jornal trouxe como manchete de capa, no dia 29 de setembro de 1941, uma
matéria que detalhava o esquema de inauguração dos novos estúdios e dos novos aparatos técnicos adquiridos pela emissora. A notícia trazia o título:
“A inauguração da nova PRE-9 – João Dummar fala ao O Povo sobre a festa do dia 12 – Orlando Silva e Dorival Caymmi na Estréia da possante Emissora – Jorge Tavares e Milton Moreira ficarão em Fortaleza”.
A chegada da transmissão por ondas curtas possibilitou um alcance maior de público, a emissora assumiria, a partir de então, a posição de veículo de comunicação de massa, que segundo Thompson (1995, p. 299), “amplia a acessibilidade das formas simbólicas no tempo e espaço”. A emissora cearense passou a ser ouvida em lugares distantes.
Nós tínhamos uma capacidade de propagação incrível, uma frequência muito curta com grande propagação. A Ceará Rádio Clube ganhou, na Suécia, um concurso que foi feito para escolher a emissora estrangeira de maior audiência. Nós tivemos a honra de ser a emissora mais ouvida naquele país (CABRAL, entrevista, 2008).
O jornal O Povo do dia 10 de outubro de 1941, trouxe como manchete de capa:
“PRE-9 ouvida em New York – O Povo estampa o do cartão que transmitiu a interessante notícia” .
O Entretenimento Como Foco da Programação
A chegada das ondas curtas a Fortaleza deu início ao período de popularização do rádio cearense, época em que o entretenimento passou a ser predominante na programação radiofônica. Diante do alcance do meio radiofônico, ampliado a todas as classes sociais, as empresas começaram a investir em anúncios no rádio. Com isto, o veículo ampliou sua inserção na cidade, impulsionado pelos anúncios das casas comerciais, fábricas têxteis,
fábricas de cigarro e da ainda incipiente indústria que surgia no Estado.
Naquele tempo não havia nada gravado, os anúncios eram todos lidos, era uma cartela, várias, assim como se fosse do tamanho de uma cartela de bingo, eram várias cartelas daquele tipo colecionadas e a pessoa ia passando, ia lendo a mensagem (CAMPOS, entrevista, 2005).
“PRE-9 ouvida em New York – O Povo estampa o
A matéria informava que as transmissões experimentais de ondas curtas da emissora cearense foram ouvidas com nitidez na cidade americana. O jornal publicou o cartão enviado, aos irmãos Dummar, pelo cearense João Hortêncio de Medeiros, que se encontrava naquela cidade. No cartão vinha a seguinte informação: “Tenho ouvido nitidamente e com bom volume, com um pequeno rádio de seis válvulas, as irradiações experimentais da PRE-9. Minhas entusiásticas felicitações pelo sucesso de tão importante empreendimento” (O POVO, outubro de 1941).
O propósito era expandir comercialmente a nova mídia aumentando não só o seu alcance, mas dotando a emissora de amplas instalações, além de investir na profissionalização dos seus funcionários.
As novidades não se resumiam apenas à chegada da nova tecnologia, Dummar
resolveu inaugurar “programas de vivo interesse”, tendo como meta popularizar o meio para conseguir captar parcelas ainda intocadas de público das mais variadas idades e classes sociais. Nesse contexto, foram inseridos os programas de entretenimento com ênfase na cultura local, na cultura erudita e, neste momento, na cultura de massa advinda da Rádio Nacional, que fazia repercutir o que a modernidade ditava.
As novidades não se resumiam apenas à chegada da nova tecnologia, Dummar
resolveu inaugurar “programas de vivo interesse”, tendo como meta popularizar o meio para conseguir captar parcelas ainda intocadas de público das mais variadas idades e classes sociais. Nesse contexto, foram inseridos os programas de entretenimento com ênfase na cultura local, na cultura erudita e, neste momento, na cultura de massa advinda da Rádio Nacional, que fazia repercutir o que a modernidade ditava.
O Entretenimento Como Foco da Programação
A chegada das ondas curtas a Fortaleza deu início ao período de popularização do rádio cearense, época em que o entretenimento passou a ser predominante na programação radiofônica. Diante do alcance do meio radiofônico, ampliado a todas as classes sociais, as empresas começaram a investir em anúncios no rádio. Com isto, o veículo ampliou sua inserção na cidade, impulsionado pelos anúncios das casas comerciais, fábricas têxteis,
fábricas de cigarro e da ainda incipiente indústria que surgia no Estado.
Em meados da década de 1940, cerca de 60% do capital destinado à publicidade, pelas empresas cearenses, era aplicado no rádio na forma de anúncios ou patrocínio de programas (ANDRADE e SILVA, 2007, p.4).
Naquele tempo não havia nada gravado, os anúncios eram todos lidos, era uma cartela, várias, assim como se fosse do tamanho de uma cartela de bingo, eram várias cartelas daquele tipo colecionadas e a pessoa ia passando, ia lendo a mensagem (CAMPOS, entrevista, 2005).
Crédito: Francisca Íkara Ferreira Rodrigues (Graduada do Curso de Comunicação Social – Jornalismo, pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR) e Erotilde Honório Silva (Professora Doutora em Sociologia, pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Coordenadora da Pesquisa História e Memória da Radiodifusão Cearense – UNIFOR). A popularização do Rádio no Ceará na década de 1940: Trabalho apresentado no 7º Encontro Nacional de História da Mídia realizado em Fortaleza – Ceará, de 19 a 21 de agosto de 2009.)