Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Luiz Severiano Ribeiro
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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segunda-feira, 22 de junho de 2015

O silêncio do Gigante

O Glamour de uma Época Dourada

"As pessoas que circulam pela rua Guilherme Rocha, esquina com a rua Major Facundo, e olham para o lado direito onde está localizado o maior edifício de alvenaria do mundo, não sabem da história deste prédio que por muitos anos foi o Excelsior; o melhor hotel dos anos 30 e 40.

O prédio está localizado entre as ruas Guilherme Rocha e Major Facundo, centro de Fortaleza. No local onde existia o sobrado do Comendador José Antonio Machado, tinha três andares, sendo o mais alto e antigo da época. Este sobrado foi construído pelo engenheiro Coronel Conrado de Niemeyer, lá funcionou o Hotel Central e o Café Riche, um dos mais famosos da cidade, seus proprietários eram: Luiz Severiano Ribeiro e Alfredo Salgado, o lugar era frequentado por poetas, escritores e intelectuais da época, funcionou de 1913 a 1926.



Construção do Excelsior Hotel, em 1929




Depois de sua demolição em 1927, deu lugar ao Hotel Excelsior, construído por Natali Rossi, pertencia ao comerciante Plácido de Carvalho, proprietário do Castelo do Plácido que ficava onde está circunscrita hoje a Praça da CEART (Centro de Artesanato). Construído em estilo eclético foi o primeiro arranha-céu da cidade de Fortaleza e o primeiro exemplar de arquitetura hoteleira da época, entrando para a história como o primeiro hotel de nível Internacional da região Nordeste.

O Excelsior foi construído com alvenaria e argamassa com cal, pilares e viga de trilhos*, tem 7 andares e foi inaugurado em 31 de dezembro de 1931 com a presença de personalidades ilustres do estado. Com a morte de seu proprietário Plácido de Carvalho, ocorrida em 3 de junho de 1935, seu corpo foi velado no rol do próprio hotel, com isto o prédio ficou sendo
administrado por sua esposa, Pierina Giovanni Carvalho, que em 1938 casou-se com o arquiteto húngaro Emílio Hinko.


Cartão postal  Excelsior Hotel


Na década de 1930, período em que o Excelsior foi construído, a Capital cearense ainda vivenciava o clima da virada do século XX- Arquivo Nirez

Entre seus mais famosos hóspedes podemos citar os cantores, Bidu Saião e o tenor Tito Shipe, George Obrier, o Diretor Teatral Joracy Camargo, cantor das multidões Francisco Alves, Haroldo Silva, o presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, Pelé, Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, além de outros grandes nomes nacionais e internacionais.


 


No seu 7º andar funcionava o famoso Bar Americano com sua paisagem de serra e sertão juntos formando uma imensa obra de e arte. O terraço ficou famoso pelas festas da alta sociedade, entre elas podemos destacar os famosos bailes de carnaval da época, que era chamado de “O CARNAVAL DO SÉTIMO CÉU”, como eram conhecido pela sociedade cearense. Este baile carnavalesco era tão famoso que no período momino vinha pessoas de vários cantos do país para participar desta festa carnavalesca, onde o lança perfume, confetes, serpentinas, pierrô e colombinas tomavam conta do 7º andar, tudo isto ao som das famosas orquestras Tabajara, PRE-9 e Severino Araújo entre outras.



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O hotel estava sempre lotado por comerciantes, artistas e visitantes com seus paletós brancos dando um ar nobre ao lugar transformando o velho Excelsior no maior ponto de encontro da época entrelaçado com a Praça do Ferreira. Em 1958, Pierina falece e o prédio passa para seu marido Emílio Hinko, seu herdeiro. Em 1975, Emilio vai morar no hotel, ocupando o 4º andar onde realiza uma grande reforma no hotel, com a introdução de novas tecnologias como Televisão, aparelhos de ar condicionados, telefone e banheiros em todos seus quartos.
 

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Fechado em 31 de dezembro de 1987, sob pretexto de reforma temporária, permanece assim
até os dias de hoje. Depois de fechado permaneceu apenas com um hóspede, seu proprietário Emílio Hinko que morou no 4º andar até seu falecimento aos 101 anos em janeiro de 2002. 

A cidade de Fortaleza perde uma das últimas testemunhas da construção e da história viva do Excelsior. O prédio atualmente pertence ao sobrinho de Hinko, Janos Fuzesi.


Antiga propaganda do Hotel Excelsior - Acervo Raimundo Gomes




Com sua morte, seu último hóspede foi embora deixando um vazio nos luxuosos quartos, ficando silencioso o velho Excelsior. O hotel continua imponente, lúcido com suas paredes repletas de histórias de um passado de luxo, beleza onde permanece vivo na lembrança de quem conheceu seus momentos de gloria e esplendor como o seu Bessa, vendedor ambulante que há 47 anos esta estabelecido na entrado do Excelsior, ele fala com saudade da época de ouro; “O Hotel estava sempre lotado com artistas, comerciantes, lembro das noitadas do Excelsior como se fosse hoje. Com a morte do seu proprietário tudo ficou ainda mais abandonado e hoje isso é uma solidão”


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Hoje o saudoso Excelsior é utilizado pelo Clube Diretores Lojistas (CDL) para o Natal de Luz, onde varias crianças ocupam as janelas dos seus quartos durante os finais de tarde do mês de dezembro.
Não como hóspedes, mas sim para embelezar o velho Excelsior, formando um coral infantil de 120 crianças que cantaram musicas natalina para um público que durante várias horas voltaram seus olhares para o gigante adormecido.

Valentim Santos
(Professor, Historiador e Sociólogo)


Interessante

A mobília do hotel veio da Europa (Os lençóis e toalhas de mesa em linho irlandês, móveis e lustre no estilo Art-Nouveau e piano de cauda Donner para o salão de jantar).
Ao todo, tinha 120 apartamentos e 13 suítes. 



*De acordo com o pesquisador e ex-ferroviário, Assis Lima, os trilhos usados não foram de trens. As ferragens para a construção do prédio vieram da Polônia, juntamente com uma encomenda para a estrada de ferro de Baturité, que à época já era denominada RVC. A encomenda chegou em 1929. Fonte: Relatório da RVC de 1929, criminosamente destruído em 1998 por ser entregue às intempéries de prédio com telhado comprometido. As chuvas de 98 levou os insensíveis dirigentes da ferrovia a colocarem "papéis velhos" no lixo.¬¬



Crédito dos jornais: Portal do Ceará - Gildácio Sá



sábado, 13 de dezembro de 2014

Reinauguração do Cine São Luiz


26 de março de 1958 - Quarta-feira, inaugura-se, às 21h, o Cine São Luiz, na Rua Major Facundo nº 510, na Praça do Ferreira, do grupo Luís Severiano Ribeiro, exibindo o filme Anastásia - a princesa esquecida, de Anatole Litvak, com Ingrid Bergman, Yul Brinner e Helen Hayes, película da 20th Century Fox, em cinemascope.
Antes houve uma exibição somente para a imprensa, do filme Suplício de uma saudade, com Jennifer Jones e William Holden, da 20th Century Fox, em cinemascope e em cores de luxe.
A sala de projeção é dotada de 1.400 poltronas, adquiridas à firma paulista Brafor.
A tela tem 14 metros de comprimento, para filmes em cinemascope.
As paredes e o teto foram decorados em gesso, trabalho iniciado por Osório Ferreira e terminado por Marcelino Guido Budini.
A pintura foi feita por Schaffer & Harvath.
Foi o primeiro cinema em Fortaleza a ter ar-condicionado, da marca Carrier.
O projeto foi do arquiteto Humberto da Justa Mesnescal (Humberto Menescal).



A população cearense está prestes a receber de volta um dos equipamentos culturais mais emblemáticos do Estado. Após passar por uma reforma orçada em R$ 15,2 milhões, o Cine São Luiz será reinaugurado no dia 22 de dezembro deste ano. Sua nova configuração como cine-teatro - permitida a partir da instalação de uma tela móvel de exibição e da reestruturação da caixa cênica redescoberta no espaço - permitirá que o equipamento receba além de sessões de cinema, espetáculos de teatro, dança e música.

Iniciadas em dezembro de 2013, as obras de restauração e recuperação do Cine São Luiz agora estão bem perto de ser concluídas. O espaço recebeu um pacote de melhorias nos sistemas de iluminação, acústica, climatização, piso e revestimento, além de novos assentos e equipamentos de projeção. O investimento de R$ 15.287.832,21 feito pelo Governo do Estado, através da Secretaria da Cultura (Secult), possibilitará que o equipamento histórico-cultural seja devolvido à sociedade como um dos mais modernos da atualidade. Ao mesmo tempo, o Cine São Luiz ainda estará resguardado de memória, pois as características arquitetônicas originais, em suas qualidades estéticas e históricas, foram mantidas.


Os meses de reparo e restauração serviram para que o cinema ganhasse uma nova funcionalidade: a de teatro. A redescoberta da potencial caixa cênica de 20 metros, que estava inutilizada, fez com que a as obras tomassem outro rumo. O cinema ganhou espaço de um teatro: um palco, que foi totalmente recuperado. Com ele também vieram reparos em outros agregados como camarins e o espaço para receber músicos de orquestra, o fosso.


Com a conclusão das obras, a Secult cumpre com o compromisso de entregar o equipamento pronto até o fim deste ano, destacado pelo secretário da Cultura, Paulo Mamede, como prioridade. A finalização da restauração do espaço foi um trabalho em conjunto realizado pela equipe de restauro, coordenada pelo restaurador José Luiz Motta, sob a supervisão de profissionais como o engenheiro Paulo Renato, daSecult, o arquiteto Robledo Duarte, do Departamento de Arquitetura e Engenharia (DAE), do Governo do Estado, e o engenheiro José Cardoso, da Construtora Granito, responsável pela execução da obra.


Cine histórico

Inaugurado em 1958 e fechado desde julho de 2010, o Cine São Luiz, tombado pelo Governo do Estado em 1991, em reconhecimento a seu valor como patrimônio histórico e arquitetônico, também receberá novos equipamentos de projeção e de áudio. “O Cine São Luiz vai ser o cinema mais bonito deste País e continuará servindo como referência para várias gerações do Estado do Ceará e de Fortaleza”, já reforçava o Secretário da Cultura, Paulo Mamede, em meados da execução da obra.


Créditos: Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez) e http://www.ceara.gov.br/


quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Severiano Ribeiro e a cidade: Estátua, ingressos caros e público insatisfeito II


Com relação à questão técnica, ou mais precisamente da deficiência técnica, desde os primórdios do cinema tem sido alvo de discussões e reclamações, não sendo este tipo de crítica uma exclusividade da trajetória do cinema em Fortaleza

O cinema nas primeiras décadas do século XX chegou a ser considerado maléfico, sendo alvo de discussões médicas, devido aos efeitos que a trepidação poderia ocasionar à saúde ocular:

"O fenômeno da trepidação foi notado em outros lugares. Os médicos russos, segundo Yuri Tsivian, declararam guerra contra a “cegueira do cinema”, supostamente provocada nos espectadores pelos problemas com a fixação da imagem, deixando os exibidores em pânico. A medicina brasileira também se debruçou sobre os efeitos considerados daninhos das projeções, e os médicos procuraram malefícios durante todo o período mudo, fosse pela exposição dos olhos às imagens por demais iluminadas, fosse pela sala de exibição funcionando demasiado escura. A Gazeta Clínica, 1909, comentava que o cinema não era um causador de lesões oculares, mas provocador de outros danos, fotofobia, lacrimejamento e, nos casos mais graves, conjuntivite. A “imperfeição dos clichês” (os fotogramas), a posição do espectador em relação à tela e a predisposição individual foram os fatores apontados para as ocorrências clinicas. A trepidação estava no centro do problema: as “imagens fortemente
iluminadas determinam uma fadiga mais rápida. Como causas dessas perturbações apontam-se as cintilações e as trepidações que se vêem nas imagens animadas”. Quando melhoramentos técnicos na perfuração da fita de celulóide e nos obturadores dos projetores foram agregados aos últimos modelos, foi possível dar mais conforto aos espectadores, mas as queixas não se encerraram. A prevenção aos males podia ser feita, recomendando-se a utilização de óculos com lentes azuis, amarelas ou vermelhas."


SOUZA, José Inácio de Melo. Op. Cit., p.127.


Além de ser considerado prejudicial à visão humana, o cinema também era considerado nocivo pelo fato de ser mudo, como ressalta um jornal brasileiro:

"Em 1911, O Independente também alertava para possíveis doenças ocasionadas pelo cinematógrafo. Pelo fato de o cinema ser mudo, o espectador teria que fazer um esforço mental muito grande para traduzir as cenas, o que poderia trazer efeitos nocivos ao cérebro devido a um enorme “esforço de imaginação”.

STEYER, Fábio Augusto. Op.Cit., p.207.


Anúncio do Cinema Pathé

No Rio de Janeiro, por exemplo, a propaganda de algumas salas era reforçada justamente pela qualidade da projeção, uma vez que a questão técnica no cinema, era alvo de tantas discussões no Brasil e no mundo:

CINEMATOGRAPHO “PATHÉ” 
Empreza Arnaldo & C. 
AVENIDA CENTRAL, 147-149 
PROJECÇÕES 
LUMINOSAS 
ANIMADAS, CLARAS E 
ISENTAS DE TREPIDAÇÃO 
DOIS PROGRAMAS DIVERSOS POR SEMANA 

NOVIDADES! SEMPRE NOVIDADES!



SOUZA, José Inácio de Melo. Op. Cit. p. 252.

Sala de espera do Cinema Pathé - Arquivo do Museu da Imagem e do Som

Neste anúncio do Cinema Pathé, do Rio de Janeiro, é destacada a qualidade da projeção, em que se ressalta a ausência de trepidação da imagem como um atrativo a mais para os frequentadores.

Na capital cearense, nos deparamos com um anúncio da venda de um aparelho de projeção
cinematográfica, em que o principal atrativo é a qualidade técnica e a segurança do mesmo:

CINEMA 

Vende-se um próprio para o interior ou collegio, porque funcciona com qualquer
luz electrica ou sem ella, tendo projecção nitida e sem perigo. Tem 50 fitas,
algumas de grande metragem, apparelhos para concertal-as, magneto,
resistencia, etc.
Preço único 1:500$.
Para ver e tratar á rua Senador Pompeu, n.54.

Correio do Ceará, 17 de outubro de 1929, p. 8.

Neste anúncio do final da década de 1920, a qualidade do equipamento é medida pela sua capacidade de nitidez na projeção e pela ausência de perigo. Assim como, no anúncio do Cinematographo Pathé no Rio de Janeiro, aqui também é a inexistência de malefícios à saúde humana que qualifica o equipamento.
Percebemos que a questão técnica perpassa as discussões sobre o cinema no início do século XX, seja no que concerne as projeções defeituosas e aos malefícios que as mesmas poderiam ocasionar à saúde humana, seja pela própria produção técnica das fitas, como afirma Meize Regina:

"A avaliação das fitas recaía frequentemente sobre o aspecto técnico. A comparação com o similar estrangeiro será uma constante e estará desde então presente na avaliação da atividade cinematográfica no país, adquirindo em cada momento um significado diferente. Nesse momento não existe uma discussão em termos estéticos e sim uma abordagem que tem como preocupação discutir a competência técnica para a confecção de uma fita."

No artigo Sodoma e Gomorra, a reclamação sobre a deficiência técnica dos aparelhos de projeção foi reforçada pela crítica ao ato de fumar, o que se repetia constantemente nas salas de cinema da capital cearense.

O articulista ressalta de forma irônica que na exibição do filme Sodoma e Gomorra 
“... excessos de toda a ordem ali appareceram em tintas vivas e fortes...” O interessante é que o filme era em preto e branco, mas a expressão “ tintas vivas e fortes” é utilizada para relacionar os excessos do que era exibido na tela com o que acontecia na sala, antes e durante a sessão cinematográfica.

Apenas no ano de 1934 é que veio a ser lançada a primeira película colorida, com o filme norte-americano La Cucaracha, por meio do sistema technicolor. Até então, o que vigorava era a predominância de filmes em preto e branco. 


No entanto, apesar da supremacia das películas em preto e branco, havia por parte da firma francesa Pathé Fréres, a prática de colorizar quadro a quadro algumas de suas fitas, isso antes da década de 1920. Neste decênio, alguns filmes norte-americanos sofreram o processo de colorização, mas apenas de alguns trechos da fita. Ou seja, o filme era como um todo em preto e branco, tendo apenas algumas poucas cenas colorizadas. 


Alguns destes filmes colorizados foram exibidos na capital cearense. A predominância dos filmes em preto e branco é demostrada pelos raros filmes colorizados. A seguir, listamos alguns filmes parcialmente colorizados, por processos pioneiros e experimentais, com o seu respectivo ano de exibição em Fortaleza


No Brasil, o processo de colorização de alguns filmes também era utilizado no início do século XX. Apesar dos filmes em preto e branco prevalecerem, a cor não ficou, por completa, ausente das fitas nacionais: 

"Nesses primórdios, sua utilização ocorre através da coloração artificial, parcial ou total do negativo, e, mais frequentemente, das cópias. Existem dois procedimentos básicos: pintar livremente a mão detalhe por detalhe, fotograma por fotograma, e submeter a película ou a um banho de anilina, conhecido por tintagem, ou a um banho químico, conhecido por viragem, fixando-se, nesses casos, uma única cor por plano, cena ou seqüência, dependendo do material e das escolhas feitas pelo realizador. Por ser uma especialidade da indústria cinematográfica francesa, o colorido a mão tem parcos exemplos no cinema brasileiro. Em função de suas ligações com a PATHÉ, a família Ferrez envia a partir de 1908 cópias de alguns títulos para serem colorizadas na capital francesa, caso de A mala sinistra, que terminava em uma “apoteose colorida”. (...) a tintagem predomina nos primeiros tempos, por exemplo em alguns filmes de Afonso Segreto, e a viragem a partir de meados da década de 10 (...) Na década de 20 a maior parte dos filmes brasileiros incorpora as viragens, incluindo sua codificação simbólica (vermelho para cenas de paixão, verde para cenas de idílio amoroso, amarelo para cenas de tristeza, em enorme variedade cromática e de significados), distinguindo-se os resultados alcançados pelos laboratórios da BENEDETTI FILM (Brasa dormida, barro humano) e da INDEPENDÊNCIA OMNIA FILM (Vício e beleza, Fogo de palha)."

Apesar de contundentes críticas, como a do artigo Sodoma e Gomorra, Luiz Severiano Ribeiro terminava a década de 20 expandindo-se comercialmente, atuando na exibição cinematográfica com salas do AcreRecife. No Rio de Janeiro, instala várias salas de cinema, onde destacamos o “Cine São Luiz”, inaugurado em 22 de fevereiro de 1937, no Largo do Machado.  
Na década de 30, a atividade de exibição cinematográfica será controlada por dois empresários: Serrador e Severiano Ribeiro. A força desses exibidores reside, fundamentalmente, nas boas relações comerciais que mantêm com as empresas distribuidoras norte – americanas. Outro detalhe interessante está no fato de controlarem os principais territórios cinematográficos do país: Rio de Janeiro e São Paulo.

Cine Diogo - Anos 40 - Arquivo O Povo

Em Fortaleza, nos anos 40, inaugura o “Cine Diogo” e, nos anos 50, o “Cine São Luiz”. Mesmo não sendo nosso objetivo adentrar nas décadas seguintes na análise da atuação de Severiano Ribeiro, pois nos concentramos nos anos de 1920, é significativo mencionarmos que, após este decênio, ele se consolida como um dos maiores exibidores cinematográficos do Brasil.*

A Praça do Ferreira com o belíssimo Cine São Luiz - Anos 70

*Luiz Severiano Ribeiro transfere para seu filho o comando das empresas, vindo a falecer no dia 1º  de dezembro de 1974, aos 89 anos de idade, no Rio de Janeiro.



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Fonte: Nas telas da cidade: salas de cinema e vida urbana 
na Fortaleza dos anos de 1920 - Márcio Inácio da Silva

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Severiano Ribeiro e a cidade: Estátua, ingressos caros e público insatisfeito



Foto de 1903 da Praça Marquês de Herval, vendo-se a Igreja do Patrocínio. Acervo Clóvis Acário 

No ano de 1928, a ACI - Associação Cearense de Imprensa, promoveu a construção de uma estátua, na Praça Marquês de Herval, em homenagem ao escritor José de Alencar, no centenário de seu nascimento:

"Em sessão extraordinária, realizada sabbado ultimo, a Associação Cearense de Imprensa, deliberou promover uma grande subscripção publica, destinada á erecção, em Fortaleza, a 1º de maio de 1929, e uma estatua de José de Alencar, commemorativa do centenário de seu nascimento..."¹

O intuito da Associação Cearense de Imprensa era angariar recursos financeiros com o apoio de órgãos e instituições importantes em Fortaleza. Foi proposta à Empresa Luiz Severiano Ribeiro e a outras empresas de diversão (cinema, teatro), a adoção de um imposto especial de 10% sobre as respectivas entradas. 



Monumento José de Alencar - Acervo Clóvis Acário

No entanto, tal imposto não foi aceito por Severiano Ribeiro, que sugeria outra forma de colaboração de sua parte:

O monumento a José de Alencar 

"o offerecimento do sr. Severiano Ribeiro Consultado pela Associação de Imprensa sobre se concordaria em crear um imposto especial nos cinemas, de sua propriedade, para auxilio á erecção de um monumento a José de Alencar, o sr. Luiz Severiano Ribeiro manifestou-se  enthusiasta da idéa da homenagem ao nosso maior escriptor, mas achava que a medida da adopção de uma taxa, não era acceitavel por vários motivos, dentre os quaes se salientava o onus que acarretaria directamente, para sua empreza, pois o publico forçosamente se retrahiria, com essa nova taxação nas entradas dos cinemas. A seu ver o cinema deve ser uma diversão eminentemente popular, ao alcance de todos, e não um passatempo que, por seu preço, se nivele ao Theatro, como o entendem alguns emprezários do paiz, sobretudo do Rio. Ali como em Recife, em Fortaleza, ou em outras capitaes onde possue casas daquelle genero, sempre se oppõe, terminantemente, á elevação do preço das entradas, já não tanto pela diminuição da renda, como, sobretudo, pela da frequencia. Um preço elevado, muitas vezes, compensa o descrescimo de espectadores. Mas o Cinema foge á sua finalidade, que não somente dar lucro aos que o exploram, mas principalmente, divertir o público, para que foi feito, e do qual deve ser sempre, a recreação por excellencia.  
Assim o imposto alvitrado não podia ser acceito.
Outros meios porém, havia, de a sua empreza concorrer para o exito da bellissima causa em que todos os cearenses estão empenhados. Seus cinemas ahi estavam, á disposição da Associação Cearense de Imprensa, que nelles podia realizar, uma vez por mez, festivaes, beneficios, etc. ou, mesmo sessões cinematographicas, cujos productos, d’duzida uma pequena percentagem para o pagamento do aluguel dos films exhibidos, reverteriam em favor da creação da estatua de José de Alencar."

Na década de 1920, a relevância do cinema e da Empresa Luiz Severiano Ribeiro os condicionou a participar de tão importante evento na cidade. O empresário Luiz Severiano Ribeiro aceita tal convite pois certamente sua participação neste acontecimento seria importante para a imagem de sua empresa perante o meio social fortalezense, uma vez que a construção do monumento a José de Alencar envolvia os mais importantes membros da sociedade local. 
No entanto, sua colaboração ocorreria desde que não ficasse comprometida sua prática comercial, ou mais precisamente, o seu lucro, seus rendimentos. De acordo com Luiz Severiano Ribeiro, o cinema deveria ser uma diversão voltada para um amplo público, não se restringindo o acesso às salas apenas a quem pudesse pagar mais. Ele não nega a finalidade lucrativa do cinema, mas alega que não poderia aceitar o imposto de 10%. O que Luiz Severiano Ribeiro não queria de modo algum era aumentar o preço dos ingressos pois tal
questão já era alvo de reclamação por parte dos frequentadores, que achavam excessivo o ingresso cobrado, que sem a taxa já chegava a até 3$300. 
Em termos comparativos, o teatro possuía entradas mais dispendiosas do que o cinema, chegando os ingressos mais caros do Teatro José de Alencar ao valor de 20$000 (Frisa).

Contudo, este era o único grande teatro da cidade e possuía frequentação restrita ao público que pudesse desembolsar tal quantia, como a elite comercial e intelectual, em consonância com as práticas elitizadas em voga, que exigiam a frequentação de espaços de distinção como o Teatro José de Alencar. A proposta de Luiz Severiano Ribeiro era a de que não houvesse a taxação de 10%, mas uma vez por mês, suas salas de exibição cinematográfica estariam disponíveis para a Associação Cearense de Imprensa, desde que a mesma pagasse o aluguel dos filmes exibidos. 
Pelo visto, para que a colaboração ocorresse, Severiano Ribeiro precisava lucrar de algum modo, então, para o aluguel dos filmes exibidos seria cobrada, “uma pequena percentagem”. E chegou a ocorrer, no Cine Moderno, uma exibição cinematográfica com tal intuito:  

MODERNO – Amanhã – 
Na “Soirée da Moda” a obra imortal de José de Alencar filmado no Brasil pela 
PARAMOUNT” 12 actos O GUARANY em beneficio da construção da estátua 
de José de Alencar.

Cartaz do filme O Guarany - Acervo Veja SP

A “Soirée da Moda” era a sessão noturna do Cine Moderno, que era a sala de exibição cinematográfica mais requintada e elegante de Fortaleza. O filme exibido era uma produção nacional, do ano de 1926, filmada por Vittorio Capellaro / Paramount Pictures
Será que o cinema teria sido incluído nas instituições colaboradoras no final do século XIX quando tal atividade era feita de forma itinerante e para um público diferente do atual, no caso o público da década de 1920, considerado “distinto”? Ao que parece, a importância do cinema nesta década de 1920 lhe deu essa condição de ser incluído entre as “nobres” instituições colaboradoras, uma vez que as salas de cinema pertencentes à Empresa Luiz Severiano Ribeiro eram frequentadas por uma elite composta por comerciantes, profissionais liberais e intelectuais, o que já é um significativo indicador da relevância do cinema na cidade de Fortaleza, neste período, para estes membros da sociedade local. 
Ao longo deste capítulo, mostramos as relações sociais que Luiz Severiano Ribeiro foi tecendo ao longo dos primeiros anos de sua trajetória comercial, onde a presença de Alfredo Salgado foi extremamente significativa nesta rede de sociabilidade composta por membros da “alta sociedade”, como por exemplo, a elite comercial, que era frequentadora das salas de exibição cinematográfica da Empresa Luiz Severiano Ribeiro. 

O convite da Associação Cearense de Imprensa a Luiz Severiano Ribeiro é algo significativo para percebermos a sala de exibição cinematográfica como integrante de redes da cidade.
Em Porto Alegre, na década de 1920, também houve um caso de cobrança de taxas dos cinemas. Na capital gaúcha, tal cobrança não era em beneficio da construção de alguma estátua, mas também não foi bem recebida pelos envolvidos na atividade cinematográfica:

Durante a década de 20, o cinema também foi motivo de grandes discussões políticas devido ao Imposto de Caridade, que taxava os espetáculos artísticos da cidade, provocando vários conflitos entre os intendentes José Montaury, Otávio Rocha e Alberto Bins, os exibidores e os distribuidores, que culminou com uma greve das salas de cinema, no início de 1929. A taxação era de 10% sobre a renda bruta das entradas, o que provocou a ira dos proprietários de cinemas.

Ao que parece, o uso das salas de exibição cinematográfica pelo poder público, tanto em Fortaleza quanto em outras capitais brasileiras, como Porto Alegre, poderia ser algo conflituoso caso os interesses comerciais dos proprietários destas salas fosse comprometido. 
A utilização das salas de exibição cinematográfica da Empresa Luiz Severiano Ribeiro era feita por outras instituições, certamente devendo ser também cobrado o uso destes espaços. Neste mesmo ano de 1928, em outra propaganda, agora do Cine - Theatro Majestic Palace, era anunciada a exibição de uma peça teatral:

Peccados da Mocidade”  hoje no Majestic 

"Subirá á scena hoje, no Majestic, a chistosa comedia musicada de Carlos Camara: Peccados da Mocidade, que tantos applausos há alcançado em todas as suas representações. O producto desse espetáculo será applicado na construcção da fachada do teatrinho do Grêmio Dramatico Familiar, no Boulevard Visconde 
do Rio Branco."

O objetivo desta exibição teatral era angariar fundos para o Grêmio Dramático Familiar, instituição fundada a 14 de julho de 1918, pelo teatrólogo cearense Carlos Câmara (foto ao lado). Provavelmente, tal exibição, assim como a do filme O GUARANY, no Cine Moderno, deve ter sido paga.  
Quando Luiz Severiano Ribeiro se pronunciou sobre o apoio à construção da estátua de José de Alencar, ao não aceitar o imposto definido pela Associação Cearense de Imprensa, uma das argumentações apresentadas por ele, como vimos há pouco, foi a de que: “A seu ver o cinema deve ser uma diversão eminentemente popular, ao alcance de todos, e não um passatempo que, por seu preço, se nivele ao Theatro...”

Ele alegava que se opunha à elevação do valor dos ingressos do cinema pois tal prática diminuiria a renda em suas salas e a frequência do público. No entanto, ao longo da década de 1920, as reclamações sobre os altos preços dos ingressos do cinema são constantemente feitas por frequentadores dos Cines Moderno e Majestic, nos jornais e revistas de Fortaleza:

"SODOMA e GOMORRA... O cinema reproduz, fielmente, aspectos da vida real antiga e moderna e (cousa muito curiosa) quando o fabricante de films omitte uma circumstancia, um detalhe qualquer, a firma que os projecta, na téla, corrige a falha e preenche os vazios, de modo a integralizar o quadro, em sua inteira verdade. 
SODOMA E GOMORRA – o nome vale por si uma explicação do film – desvendou, em 1925, aos olhos da população de Fortaleza, o que foi a vida dos habitantes daquellas cidades lendarias. 
Os excessos de toda a ordem ali appareceram em tintas vivas e fortes, impressionando a um público aparvalhado e...explorado. 
O que deixou de surgir na fita, dentro da sala de projecção, não passou despercebido á empresa Luis Severiano Ribeiro, tanto assim que, ao público, se lhe deparou ainda na bilheteria do Moderno e do Majestic: - a orgia do preço (3$300). 
Antes de penetrarem no cinema, os espectadores já haviam comprehendido não apenas Sodoma e Gomorra, mas até Ninive e Babylonia, pagando como pagou os pesados tributos para a riqueza de Balthazar e Sardanapalo
A empresa que não providencia sobre a deficiencia tecnica de seus apparelhos, sobre os eclypses de suas projecções, contra as rupturas de seus films, a empresa que transforma seus salões em sala de fumar, não tem o direito de abusar desse modo do público que assegurou e mantém a sua prosperidade. 
A continuar dessa forma, não se admire se um dia o Sr. Ribeiro de lêr nas taboletas da bilheteria os seus frequentes 3$300 transformados em MANE, TECEL, FARES."

Cena de Sodoma e Gomorra

O filme Sodoma e Gomorra era uma produção austríaca de 14 partes e dividido em duas épocas, com uma  metragem de 2.100 metros correspondente à primeira época e outra de 1.800 metros referente à segunda época.

Esta era uma fita bastante longa e o aumento da duração dos filmes, ao que parece, incidia no 
valor do ingresso. Nos anos de 1920, os filmes já possuíam uma longa duração ao contrário das primeiras exibições cinematográficas, que eram constituídas por fitas curtas de 15 a 350 metros. Se compararmos o preço do cinema com o do teatro, na década de 1920, os espetáculos teatrais possuíam ingressos mais caros que o das sessões cinematográficas: 

• Frisa - 20$000 
• Camarote - 15$000 
• Balcão - 3$000 
• Cadeira de 1ª  - 3$000 
• Cadeira de 2ª  - 2$000 
• Galeria – 1$000 
• Geral – 1$000 


No artigo Sodoma e Gomorra a reclamação do alto preço dos ingressos é reforçada por uma série de argumentos, como a deficiência técnica dos aparelhos, comprometendo a qualidade da projeção, e o ato de fumar durante as sessões.  

Continua...

¹O Ceará, terça-feira, 10 de janeiro de 1928
A estátua foi inaugurada no ano de 1929, centenário de nascimento de José de Alencar, pelo então prefeito Álvaro Weyne. No documento Monumentos do Estado do Ceará, escrito em 1932, o intelectual Eusébio de Souza afirma: A iniciativa dessa justa e expressiva homenagem ao imortal autor de Iracema coube à Associação de Imprensa do Ceará, por proposta de seu presidente dr. Gilberto Câmara, com a mais decisiva e honrosa cooperação do Governo do Estado e todas as classes da sociedade cearense e com o aplauso das elites  mentais do país inteiro. Deve-se ao dr. Gilberto Câmara a parte mais saliente da agigantada e patriótica idéia. Foi um dia de festa para a cidade de Fortaleza, o 1º de maio de1929, da inauguração desse monumento, sendo a mesma honrada, além das autoridades superiores do estado, com a presença do sr. Dr. Juvenal Lamartine, governador do vizinho estado do Rio Grande do Norte. A grande estátua de José de Alencar (...) toda em granito branco de Itaquéra, com formosos motivos decorativos indígenas e dois baixos relevos extraídos do “O guarani” e de “Iracema” – constitui um dos maiores e mais belos monumentos do norte do Brasil. SOUZA, Eusébio de. Monumentos do Estado do Ceará: referência histórico - descritiva. Fortaleza: Secretaria de Cultura do Estado do Ceará/ Museu do Ceará, 2006, p.56-58. 



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Fonte: Nas telas da cidade: salas de cinema e vida urbana 
na Fortaleza dos anos de 1920 - Márcio Inácio da Silva

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A parceria entre Severiano Ribeiro e Alfredo Salgado - Parte II


Em dois de julho de 1911, foi inaugurada a sala do Cine-Theatro Polytheama. Pertencia ao supracitado José de Oliveira Rola (foto ao lado) e a seu irmão Joaquim de Oliveira Rola, ambos proprietários da Empresa Rola & Irmãos. No ano de 1922, o Cine-Theatro Polytheama é adquirido por Luiz Severiano Ribeiro, tornando-se apenas sala de cinema. No dia vinte de novembro de 1938, esta sala deixa de funcionar, para que com a sua demolição e de prédios vizinhos fosse construído o Cine São Luiz(¹), que veio a ser inaugurado em 1958.

Um dos mais audaciosos concorrentes de Luiz Severiano Ribeiro chamava-se  Henrique Mesiano. Nascido a 15 de março de 1887, Henrique Mesiano era filho de italianos e entrou no ramo de exibição cinematográfica no ano de 1912, ao assumir o Cine Rio Branco, que era de propriedade da extinta Empresa Muratori & Cia”, da qual fazia parte. 

Com o truste(²) de 1916, Henrique Mesiano tem de fechar o 
Cine Rio Branco, voltando à atividade em 1917, quando, além da reabertura desta sala, mais duas, de sua propriedade, são inauguradas, o Cinema da Estação e o Cine Tiro Cearense, que, apesar da iniciativa empreendedora de Henrique Mesiano, duram pouco tempo. O Cine Rio Branco é fechado em 21 de fevereiro de 1919, por meio de um contrato. 


Henrique Mesiano

Luiz Severiano Ribeiro consolidava-se como um poderoso concorrente. O contrato firmado com Henrique Mesiano afastava-o  por dez anos da atividade cinematográfica, em troca de uma renda fixa mensal.(³)
  
Com os Cines Riche, Polytheama e Majestic-Palace, Luiz Severiano Ribeiro irá consolidar em Fortaleza seus empreendimentos na área cinematográfica. Os seus concorrentes foram superados por meio de contratos de fechamento, foi assim com a família Júlio Pinto, com José de Oliveira Rola e com Henrique Mesiano

Cine Moderno em 1937

Na década de 1920, o Cine Riche é fechado em 11 de novembro de 1921 e o Cine Moderno é inaugurado em 7 de setembro de 1921 (O Cine Riche é fechado com a inauguração do Cine Moderno pois este era melhor estruturado). Além disso, a 19 de março de 1922, ocorre a reinauguração do Polytheama.
Com os Cines Majestic-Palace, Moderno e Polytheama, de propriedade de Severiano Ribeiro, só restavam alguns cinemas ligados à associações religiosas e leigas. Dos cinemas pioneiros, os que permaneceram nos anos de 1920 foram os seguintes: o Cine Polytheama, adquirido em 1922 por Luiz Severiano Ribeiro; o Cine São José, do Circulo de Operários e Trabalhadores Católicos e o Cine - Theatro Majestic Palace. 
Nesta década, dos cinemas que foram inaugurados, apenas o Cine Moderno e o Cine Polytheama (reinaugurado) eram de propriedade de Severiano Ribeiro. No entanto, os demais cinemas recebiam os filmes de uma única empresa distribuidora, exatamente a de 
Luiz Severiano Ribeiro. Os anos de 1920 são a década de Luiz Severiano Ribeiro, decênio em que este monopoliza a distribuição dos filmes em Fortaleza. Se, por um lado, ele havia eliminado os concorrentes do centro, como Júlio Pinto, José de Oliveira Rola e Henrique Mesiano, por outro lado, se beneficiava com a existência dos cinemas mantidos por associações religiosas e os de bairro(4), pois estes adquiriam os rolos de filme diretamente de sua empresa.

Com a Primeira Guerra Mundial, o mercado cinematográfico exibidor e distribuidor brasileiro irá sofrer grandes mudanças. É justamente neste momento que Severiano Ribeiro passa a atuar na atividade cinematográfica com domínio na distribuição de filmes. O cinema europeu, em virtude da guerra, entrou em decadência com a redução do seu mercado externo. Tal situação favoreceu a ascensão da indústria cinematográfica norte-americana. No Brasil, em 1915, são instaladas subsidiárias da Universal e da Fox. No ano seguinte, a Paramount abre uma filial no Rio de Janeiro e posteriormente a MGM, a United e a First Nacional também marcam presença no mercado brasileiro. Aproveitando-se da dificuldade de exportação no mercado europeu, as produtoras/distribuidoras dos Estados Unidos passaram a trazer os melhores filmes europeus, comprometendo, desse modo, a atuação dos produtores e importadores brasileiros que adquiriam os filmes diretamente no 
mercado europeu antes da guerra, sem a presença de intermediários. As distribuidoras norte-americanas inovaram também nas técnicas de distribuição cinematográfica ao 
utilizar, por exemplo, o recurso da “linha de exibição”, que consistia em um filme dessas distribuidoras seguir uma linha de salas de exibição com o seu lançamento sendo realizado exclusivamente em uma única sala, preferencialmente a que possuísse ingressos mais caros.

Na capital cearense, sendo a Empresa Luiz Severiano Ribeiro a única distribuidora cinematográfica local, o método da “linha de exibição” realizado pelas distribuidoras norte-americanas passa a ser adotado nos cinemas de Fortaleza. Se pautando na relação centro – periferia, capital – interior, utilizada na forma de distribuição feita pelas distribuidoras dos Estados Unidos, a Empresa Luiz Severiano Ribeiro definiu os cines Majestic e Moderno como as salas “lançadoras” da cidade. Desta feita, somente após o lançamento dos grandes filmes nestas duas salas, estes poderiam ser exibidos nas demais. 
Antes do monopólio de Severiano Ribeiro, vários grupos faziam a distribuição, como por exemplo, a firma J.R.Staffa, do Rio de Janeiro, que distribuía as fitas para o Cinema Júlio Pinto. No Cine Rio Branco, Henrique Mesiano mantinha contrato de exclusividade com a dinamarquesa Nordisk Film e a francesa Pathé Fréres. O Cine - Theatro Polytheama, quando de propriedade da Empresa Rola & Irmão, possuía contrato com as produtoras norte-americanas. Tal contrato foi feito no ano de 1912 com a firma Angelino Staurile & Ca., do Rio de Janeiro, e possibilitava que a Empresa Rola & Irmão fosse a única no Estado do Ceará a receber as fitas das fábricas Vitagraph e Biograph,  dos Estados Unidos. Em 1913, chega à Fortaleza a Companhia Cinematographica Brasileira que possuía sede na cidade de São Paulo e um capital de 4.000.000$000 (quatro milhões de réis). A citada empresa, criada em 1911 e pertencente a Francisco Serrador, veio para fazer contratos com os proprietários das salas de exibição cinematográfica locais, visando realizar lançamentos simultâneos de grandes filmes. No Cine Rio Branco, por exemplo, foi  exibido o filme italiano Quo Vadis?, enquanto nos cinemas Júlio Pinto e Polytheama foi apresentado o 
também italiano Branco contra Negro.
O próprio Severiano Ribeiro, quando ainda não era um grande exibidor cinematográfico e detentor do monopólio distribuidor, recorria à firmas distribuidoras como a J. R. Staffa, detentora do filme exibido na inauguração do Cine Riche, em 23 de dezembro de 1915(5).

Cine Polytheama e Majestic ao lado da Praça do Ferreira
  
No período de 1905 à 1915, temos no Brasil a presença do representante exclusivo de empresas brasileiras ou os representantes das produtoras – distribuidoras estrangeiras já citadas. Estes homens eram imigrantes europeus como Paschoal Segreto, Francisco Serrador e Jacomo Staffa, responsáveis pela importação tanto de películas quanto de equipamentos cinematográficos. Com o término da Primeira Guerra Mundial, a importação de produtos procedentes da Europa ficou comprometida, possibilitando a ocupação do mercado cinematográfico brasileiro pelas produtoras e distribuidoras norte - americanas. 
O mencionado Jacomo Staffa chegou a comprar com os próprios recursos financeiros filmes estrangeiros em Paris. Posteriormente, ele adquire o direito de exclusividade na revenda dos filmes das produtoras Itália e Film D’art. Além disso, em 1910, ele obtém a exclusividade com a produtora dinamarquesa Nordisk, que era uma das mais importantes empresas cinematográficas deste período quando a supremacia norte-americana ainda não era tão intensa. Este exibidor se fez presente em várias cidades brasileiras, com escritórios em São Paulo, Porto Alegre e Recife, chegando a estabelecer em Nova York e em Paris 
escritórios para aquisição de fitas.

Interior do Cine Majestic Palace

Quando Jacomo R. Staffa falece, Luiz Severiano Ribeiro estava expandindo sua atuação no mercado 
cinematográfico do Rio de Janeiro. Na década de 1920, Severiano Ribeiro comanda o mercado exibidor e 
distribuidor cinematográfico local e parte para outras cidades, com destaque para o Rio de Janeiro, a 
Capital Federal. Nesta década, os grupos distribuidores, como o de J. R. Staffa, são substituídos por um 
distribuidor exclusivo em Fortaleza, a Empresa Luiz Severiano Ribeiro. 

Ao se mudar para o Rio de Janeiro, em 1926, ele conseguiu ratificar o monopólio distribuidor local. 
Como a capital federal tinha em Francisco Serrador, o artífice da Cinelândia,  o 
grande monopolizador dos cinemas de qualidade, atuando de forma autônoma e 
independente, Luiz Severiano Ribeiro ganha pouco a pouco credibilidade e 

ingressa na associação da Metro-Goldwyn, First National e Empresas 
Cinematográficas Reunidas, criando em 1926 uma nova e poderosa frente para a 
distribuição de filmes no Brasil. Batalhador tenaz, estabelece-se a seguir como 
agente locador de películas trazidas ao Brasil pela Agência Paramount (que 
representava à época a Metro – Goldwyn e a First National) e a Cinematográfica 
Brasileira. É um dos fundadores, em 1926, da sociedade cooperativa de 
exibidores denominada “Circuito Nacional de Exibidores”. No mesmo ano, 
estabelece um acordo com as firmas exibidoras Ponce, Pontes & Cia. e Noriz  & 
Frota, tornando-se a seguir único proprietário do circuito a elas pertencentes. Já 
era então reconhecido pelo controle dos cinemas do Norte do Brasil, quando em 
agosto de 1926, adquiriu no Rio o controle acionário de inúmeros cinemas, 
dentre eles, o Atlântico e Ideal, e fazia sociedade com o Íris, de J. Cruz, Jr


A aposta na distribuição como importante elemento impulsionador do desenvolvimento e êxito da 
atividade cinematográfica foi priorizada também por Severiano Ribeiro. Na capital cearense, nos anos de 
1920, ele exerceu o domínio na distribuição, ampliando tal prática para outras cidades do Brasil até tornar-se um dos maiores nomes do cinema brasileiro, concentrando suas atividades na cidade do Rio de Janeiro, 
de onde comandava seus negócios. 

Por meio de acordos com empresas estrangeiras, em especial norte-americanas, Severiano Ribeiro adquiria 
o direito de exibir filmes destas produtoras. Ao pagar aos fornecedores norte-americanos, ele obtinha 
exclusividade de exibição, possibilitando que os filmes fossem lançados no Cine-Theatro Majestic 
Palace, no Cine Moderno e no Cine Polytheama, para posteriormente serem exibidos nos outros cinemas, 
no caso, os de bairro e os ligados à associações religiosas.  Quanto mais salas de exibição cinematográfica 
tivessem nos bairros e no interior do Estado, melhor para Severiano Ribeiro, pois ele estava aumentado 
seus rendimentos e ampliando seu domínio sobre o mercado cinematográfico. Tal tática era utilizada tanto 
no mercado local quanto em outras cidades do Brasil. 



Barrinhas e Divisórias

¹ A demora no término da construção do Cine São Luiz fez com que a população o incluísse nas “sinfonias inacabadas” de Fortaleza, no caso, as obras do Porto do Mucuripe (1938-1951) e a construção da Catedral (1939-1982). 

² Com relação ao truste de 1916, temos poucas informações. Mas ao que parece foi uma forma de Severiano Ribeiro centralizar em suas mãos gradativamente o controle da exibição cinematográfica local.  Algumas salas ficaram fechadas como foi o caso do Cine Rio Branco, recebendo uma parte do lucro obtido pelas salas em funcionamento. Os cinemas que permaneceram funcionando foram o Polytheama de José Rola e o Riche de Severiano Ribeiro. Para maiores informações ver: LEITE, Ary Bezerra. Op. Cit., pp. 282-285. De acordo com o Mini Aurélio Século XXI, truste se define por “ acordo ou combinação entre empresas, em geral com o objetivo de restringir a concorrência e 
controlar os preços”. 


³ Na década de 1930, Henrique Mesiano voltou à atividade de exibição cinematográfica na capital cearense, após ter ficado toda a década de 1920 impedido de exibir filmes devido ao contrato firmado com Severiano Ribeiro. Não possuindo mais sua própria sala de exibição cinematográfica, Henrique Mesiano chegou a utilizar o Teatro José de Alencar: “Cinema no Theatro José de Alencar - O conhecido cinematografista Sr. Henrique Mesiano acaba de obter mediante aluguel o Theatro José de Alencar e ali exibirá o grandioso filme ‘Itália’, película natural sobre a vida italiana, suas cidades, panoramas e monumentos. Aguardemos com ansiedade o enunciado filme que certamente fará sucesso em Fortaleza.” O Povo, 28 de janeiro de 1932.

4 Foram inaugurados neste período, além do Cine Moderno, os seguintes cinemas: Cine-Theatro Pio Xem 1922; o Cine Beira Mar, em 1924; o Cine -Theatro Centro Artístico Cearense, em 1926; o Cinema União de Moços Católicos, em 1927; o Cine Grêmio Dramático Familiar, em 1928; o Recreio-Iracema também denominado Cine Recreio, no ano de 1928; o Cinema Paroquial, em 1930; o Cine Merceeiros e o Cine Phenix, ambos em 1930.

O filme exibido na inauguração do Cine Riche foi 'O jockey da Morte', da Vay – Film, de Milão,com argumento, direção e interpretação de Alfred Lind.

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Fonte: Nas telas da cidade: salas de cinema e vida urbana 
na Fortaleza dos anos de 1920 - Márcio Inácio da Silva  e Arquivo Nirez

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