Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Manezinho do Bispo
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Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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sábado, 29 de outubro de 2016

O Palácio do Bispo e a Igreja da Sé


Antiga igreja de São José - Última missa.


A então Prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (2005-2013) foi quem assinou a ordem de serviço para a reforma do Paço Municipal, antigo Palácio do Bispo, cuja primeira grande reforma foi feita em 1913, quando Manezinho do Bispo era o porteiro. Referido prédio é patrimônio do Município desde 1973, pelo que ocorreu o tombamento. A Chefia do Executivo Municipal transferiu novamente o Paço Municipal para o Centro. Busquemos recuar no tempo. Aos 16 de fevereiro de 1699, veio de Portugal uma Ordem Régia que determinava a construção de uma igreja, que seria a primeira Capela-Mor da Matriz de Fortaleza. Localizada com a frente para a cidade, e com Riacho Pajeú passando a alguns metros por detrás, sua construção foi iniciada somente 48 anos depois.

Nossa catedral foi inaugurada em 1978



Concluída em 1795, em 1820 foi demolida, e com festa para a cidade Fortaleza, aos 2 de abril de 1854 foi inaugurada a Igreja de São José. Com a posse do primeiro Bispo do Ceará, Dom Luís Antonio dos Santos (foto ao lado), a antiga Matriz aos 29 de setembro de 1861, foi transformada em Catedral. Esse templo ficou erguido até 1938, quando aos 11 de setembro foi realizada a última missa. Um ano após, foi lançada a pedra fundamental do majestoso templo, que depois de quarenta anos lá está. Por detrás dessa igreja, no segundo quartel do século XIX, e nas margens do Pajeú, foi construído um palacete pela família do Comendador Joaquim Mendes da Cruz Guimarães, na rua das Almas, hoje rua São José. Adquirido pela Igreja católica, esse palacete passou a ser abrigo dos Bispos, surgindo a partir de então a nomenclatura “Palácio do Bispo”, afinal o mesmo passou a pertencer ao episcopado, quando o mesmo fora entregue aos 21 de junho de 1860, embora o bispado já tivesse sido criado, conforme a lei estadual nº. 693 de 10 de agosto de 1853. Esse prédio funcionava, além da residência do Bispo, como uma espécie de Secretaria de Ação Social, pois, diversos registros fotográficos e relatórios ratificam que os pobres se enfileiravam em busca de ajuda.


Hoje são várias as modificações no local, com pavimentação asfáltica, trânsito maluco; a rua da Escadinha (Baturité) só não desapareceu por conta da resistência do saudoso pesquisador Christiano Câmara que era um geógrafo sentimental. O riacho Pajeú, que outrora era uma veia significativa, está atualmente como um vaso capilar e poluído. Eu pensei que essa atitude da Prefeitura de Fortaleza naquele 2008, tivesse sido um prenuncio para que o poder público voltasse a funcionar no Centro da Cidade, tal qual a histórica capital, João Pessoa. Até pouco depois da Revolução de 1930, denominava-se Parayba do Norte, no estado da Paraíba, e nunca a sede dos Poderes Executivos, Legislativo e Judiciário e repartições correlatas saíram do Centro. Que história é essa de querer revitalizar o Centro somente com a volta dos moradores?


Bônus:




Leia também:

Patrimônio Histórico: Palácio do Bispo - Por Leila Nobre


Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
Idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio



segunda-feira, 27 de junho de 2016

Palácio do Bispo - Paço Municipal




Casarão construído na primeira metade do século XIX pelo Sargento Mor e comerciante português Antônio Francisco da Silva, que lá instalou o seu armazém de alimentos. O prédio depois foi vendido ao comendador e rico negociador, Joaquim Mendes da Cruz Guimarães, proprietário até 1860. Foi um dos primeiros casarões de Fortaleza, originalmente de linhas neoclássicas. O sobrado destacava-se pelas aberturas encimadas com arcos plenos, apresentando uma predominância de cheios sobre vazios e um aspecto compacto, este expresso pelos altos muros que cercavam a edificação. Situado a Rua das Almas – Hoje Rua São José, entre as ruas Rufino de Alencar e Costa Barros.

Veja a matéria completa no Vós



Crédito: Vós

Agradecimento especial: Paulo Maranfon e equipe

terça-feira, 31 de maio de 2016

Tipos Populares - Manezinho do Bispo ( V+D )




Manuel Cavalcanti Rocha, figura da mais ridicularizadas da galeria de tipos populares do Ceará, deu de comparecer as páginas do Correio do Ceará a partir de 1918, através da opção da seção "Ineditoriais", subordinando sempre os seus escritos a legenda V + D (Viva mais Deus), a começar do dia 29 de abril. É o conhecido Manezinho do Bispo, de quem a referir-se ao bispo Dom Joaquim José Vieira, relatou o escritor Gustavo Barroso em seu terceiro livro de memorias, Consulado da China: “Também nos visitava a miúde Manuel Cavalcanti Rocha, o celebre Manezinho do Bispo, débil mental (sic), magro, pálido, anzolado, que publicava uma vez por outra folhetos de pensamentos os mais disparatados do mundo. No meio, alguns deliciosos: “Rapaz moço e sem emprego que se casa com uma moça de dinheiro, da um tiro com a pistola da besteira nos miolos do futuro”.

Segue o autor de Terra de Sol: “Meu pai tratava-o com a maior tolerância, por causa do Bispo, seu amigo e compadre. Meu padrinho troçava dele e provocava-o a asneira. Eu achava-lhe graça. O coitado era inofensivo. Empregado na Cúria, costumava acompanhar o Bispo, envergando uma batina coçada e coberta com um velho chapéu de padre. Na rua,andava a paisana, carregando jornais e um maço de folhetos de pensamentos debaixo do braço”.

No livro Geografia Estética de FortalezaRaimundo Girão traça-lhe o
perfil: “Do Manezinho do Bispo e possível extrair matéria para um grosso
livro. Manuel Cavalcanti Rocha ou, literalmente, M. da Rocha (Sic), eis
como se chamava. Do Bispo, dos seus escritos, na imprensa e em libretos,
e o seu estilo tornaram-se prato delicioso dos espíritos galhofeiros. As
suas Máximas e Pensamentos tiveram repetidas edições. Já houve quem
aventurasse a hipótese de que daí nasceu o futurismo. Manezinho, diz Pedro Sampaio, “afamou-se não só por suas lucubrações literárias, expressão de que servia quando falava dos opúsculos literários que publicava, com pensamentos, máximas e mil coisas estapafúrdias e ridículas”.

Aquele seu aludido livro - continua o escritor Raimundo Girão - Máximas e Pensamentos, ele o ofereceu a todos os porteiros e eiras do universo, e traçou, noutro a biografia de sua ex-mãe, pois que ela já havia morrido.

Uns pensam que era espertalhão, haja vista Monsenhor Quinderé, que o conheceu intimamente, e afirma, entre outras coisas, que o Manezinho, “quando servia a mesa, ia jeitosamente afastando dos comensais os pratos que mais apeteciam”. Desnecessário é examinar-lhe a personalidade depois que lhe fizeram este perfil.

“Raquítico, bisonho, enfermiço e amarelo,
Débil corpo atrofiado ao divino cilício;
Amarfanhado rosto imitando um chinelo
Imprestável, caído em já findo exercício...

Alma simples, cristã; coração largo e belo;
Vida pura de santo afeito ao sacrifício
Dos segredos jejuns... Filósofo singelo:
Porteiro e a sua missão: pensar - seu ofício:

Literato de escol, pensador incansável.
Biografou sua mãe, editou "Pensamentos”...
E honra a terra natal com as produções mais ricas...

É um devoto de ideia, um gênio inquebrantável,
O melhor escritor dos hodiernos momentos
E o maior Maricão de todos os Maricas!...



Manezinho era o homem de confiança do Bispo Dom Joaquim e valia-se da seção “Ineditoriais”, que a imprensa da época reservava às colaborações dos leitores, para publicar seus confusos escritos sem pé nem cabeça. Simplório, divertido e bem intencionado, praticando as letras com ingenuidade e despretensão.
Andava sempre empacotado num desbotado e surrado terno de alpaca, gravata preta e chapéu. Os bolsos do paletó, abarrotado de papeis, seus escritos. Dias e noites, era comum avistá-lo na abençoada portaria do Palácio.

Simples e humilde porteiro da Arquidiocese de Fortaleza, de veleidades literárias, pueris, alvo do deboche de seus coevos nada indulgentes, acabaria por conseguir legenda de histórias curiosas, anedotas e peças “literárias” que, deturpadas ou não, mas certamente reconstruídas em alguns casos pela parceria irreverente e ardilosa de terceiros, conseguiram transformar o autor em figura das mais populares, senão na maior delas, da cidade de Fortaleza, há três quartéis de século passados, quando a vida provinciana podia entreter-se melhor com os tipos de sua convivência comunitária, afetiva.

O seu folheto Máximas e Pensamentos, referido por comentadores de sua simplória existência, na versão que conhecemos, intitula-se Novos Pensamentos. Obra rara, publicada em 1903, muito antes da dedicada colaboração do autor no Correio do Ceará, exercida por seis anos seguidos até onze dias antes de morrer, em 1923.

Naquela edição referida, o pensador escreve dedicatória que se tornou famosa: “A segunda edição de meus toscos Novos Pensamentos eu faço em homenagem a todos os porteiros e porteiras de estabelecimentos do mundo inteiro, especialmente os que tem o meu nome de batismo; e um trabalho recreativo e simples, feito só por minha conta, em sinal de amizade aos meus companheiros de literatura que melhor sabem usar da caridade com quem vive da pena em tempos críticos”.

Todos os exemplares de Novos Pensamentos de Manoel Cavalcanti Rocha recebiam sua assinatura precedida deste aviso:

“São considerados falsos os exemplares que não tiverem o emblema e a firma do autor”.



Animado por insofreada ingenuidade, Manezinho do Bispo edificou-se à contemplação da vida religiosa de sua área de trabalho, insistindo sempre em que todos praticassem o bem, e permanentemente submetido a São José, santo de sua especial devoção.

Não são incomuns seus conceitos abrangendo certa reflexão moral. Em 2 de março de 1923, por exemplo, em nota divulgada pelo Correio do Ceará, adverte os leitores:
“A economia e a temperança:São os bens da prosperidade e riqueza”

Por ocasião de seu sepultamento, em 31 de julho de 1923, o Correio do Ceará inseriu com destaque à ilustração fotográfica extenso necrológio entretecido de considerações extremamente simpáticas sobre o extinto, a quem se referiu da maneira que se segue:

“A sua extrema simplicidade, a ingenuidade de sua alma, que foi sempre pura, jamais lhe acarretou um animadversão. Na desconexão de suas 'sentenças' palpitava a virginal candura de um bom. O público, que sempre se deliciou com as 'máximas' do Manezinho, lia, às vezes, incrédulo, os escritos deste e suspeitava que por perversidade atribuíssem ao nosso Colaborador coisas mais ou menos disparatadas”.

Disparate ou não, o que redigia está mais generosamente divulgado pelo jornal de A. C. Mendes, pois a propria nota esclarece que o cronista
pensador dava-se por “cavaquista com os erros de revisão”, acrescentando:

“O fato seguinte revela inocência e a sua real bondade. Sempre foi vezo no nosso jornalismo, em meio ao acesso das polêmicas dizer-se desdenhosamente que Fulano ou Sicrano e um rival de Manezinho do Bispo.
Fê-lo, certa vez, a A Tribuna com relação a alguém. Lendo o paralelo e
compreendendo o motejo da comparação, o Manezinho queixou-se:

"- Eu só admiro o Dr. Távora deixar fazerem isso comigo: ele é meu médico e devia saber que isso me faz mal”.

A pergunta que não quer calar: Teria Manezinho do Bispo nascido em Fortaleza? No interior do Ceará?
Nada do que escreveu, nos leva a imaginá-lo nascido no Ceará, que, em nenhum momento de seu canhestro exercício “literário” está registrado objetivamente o lugar de seu nascimento, a não ser o que se pode ler na crônica do dia 8 de agosto de 1919 (in Correio do Ceará), mencionando a assinatura do Armistício,comemorado efusivamente em todo o Brasil, e, para ele em particular, em Pernambuco:

“... hoje, 25 de julho de 1919, a bela capital do Recife participa destas alegrias e festa; é motivo de felicitar as autoridades eclesiásticas e civis
e nosso amado e querido torrão natal (grifo nosso). É justo quanto louvável assim proceder,dando boas novas de gratidão ao bom Deus, que quer nos fazer sempre o bem a todos...


Ao tempo em que viveu Manuel Cavalcanti Rocha (nascido em 12 de maio de 1866, e criado sem se saber como, saindo da capital pernambucana, veio parar no então Palácio do Bispo), não se pode dizer que ingênuo e medíocre, em sua maneira de pensar e escrever, fosse ele só.
Outros, não fazendo exceção, compareciam aos jornais da época (principalmente os editados de 1902 a 1923), acolhidos pela seção Ineditoriais bastante frequentada ao tempo, onde se viam acusações grosseiras, versos de louvação, ou insultosos, elegias e ridículas notas de falecimento ou de aniversário como esta:


”ANIVERSÁRIO NATALÍCIO:

Desabrochou mais uma pétala o botão de rosa, Julieta Carneiro Monteiro, desprendendo impetuosamente, hoje, que decorre mais um ano de sua preciosa e encantadora existência.” (In Correio do Ceará, 27-10-23.)

Em 12 de maio de 1923, o jornal Correio do Ceará, dirigido pelo jornalista A. C. Mendes, em duas colunas, com foto conferindo destaque à notícia, registrava o aniversario de Manuel C. Rocha (e não M. C. Rocha):

“Completa hoje 57 anos de uma existência toda consagrada a literatura astronômica e as funções árduas, porém honrosas, de porteiro do Palácio Arquiepiscopal, o popularíssimo pensador cearense Manuel C. da
Rocha, autor de vários apreciados opúsculos de Máximas e Pensamentos,
um dos quais dedicado “a todos os porteiros e eiras do Universo” (seus
colegas) e outro “a minha ex-mãe (porque já era falecida)”.

Pela manhã de hoje, documentando mais uma vez a sua originalidade,
o aniversariante veio à nossa redação deixar-nos uma caixa de fósforos cheia
de coupons da Ceará Tramways para os pobres de S. Vicente de Paulo.

Duvidamos que haja com quem com mais efusão de alma felicite hoje o Manezinho, agradecido que lhe somos pela preferência que ele dá ao Correio para a divulgação de suas muito sérias cogitações literárias.



Antes de ir residir no Palácio do Bispo, onde exerceria as funções de porteiro, Manuel Cavalcanti Rocha morou em modesta casa, de sua propriedade, na Estrada do Gado, depois ocupada por compadre seu,José Rodrigues Cordeiro, casado com D. Maria Rodrigues d'Andrade. Nesse local, às 10 horas do dia 16 de junho de 1916, segundo relato divulgado no dia 23 de janeiro de 1919, Manezinho do Bispo procedeu a entronização da imagem do Sagrado Coração de Jesus, benta por D. Manoel. Na ocasião explicava para os leitores: “O espírito de rebelião matou grande parte de anjos e homens. Humildade no caso.”

Festejado com recepção no jornal Correio do Ceará pelos seus trinta e cinco anos de trabalho exercidos na portaria do Palácio do Bispo,Manezinho se dirigiu a tipógrafos que o homenageavam:


LEMBRANÇA DO DIA 1° DE MARÇO DE 1919
VIVA SÃO JOSÉ

Os bondosos artistas tipógrafos do Correio do Ceará pedem para aceitar o insignificante presente, em sinal de muita consideração, não reparando o conteúdo.
Dá uma pessoa que ajusta hoje trinta e cinco anos de morada num
estabelecimento. Já é um caso bem raro no Brasil, abracemos a perseverança, e saibamos cumprir os nossos deveres, sobretudo para com o bom Deus, e também para com o próximo. Estes são os meus desejos, ficando às ordens dos amigos, que saberão desculpar a tosca linguagem. Seguindo-se a assinatura: Note bem! O presente e uma dúzia de ótimos pães, Manuel C. Rocha”.



Fonte: O Ideário de Manezinho do Bispo (1992) de Eduardo Campos.

sábado, 29 de maio de 2010

Palácio do Bispo - Paço Municipal




Casarão construído na primeira metade do século XIX pelo Sargento Mor e comerciante português Antônio Francisco da Silva, que lá instalou o seu armazém de alimentos e que depois o vendeu ao comendador e rico negociador, Joaquim Mendes da Cruz Guimarães, sendo seu proprietário até 1860. Foi um dos primeiros casarões de Fortaleza, originalmente de linhas neoclássicas, o sobrado destacava-se pelas aberturas encimadas com arcos plenos, apresentando uma predominância de cheios sobre vazios e um aspecto compacto, este expresso pelos altos muros que cercavam a edificação. Situado a Rua das Almas – Hoje Rua São José, entre as ruas Rufino de Alencar e Costa Barros.

Quando era o Solar dos Mendes, o palacete foi palco dos mais suntuosos bailes na Fortaleza do século XIX. Conforme os jornais da época, as festas atravessavam a noite e os convidados só saiam ao amanhecer.


Comendador Joaquim Mendes e sua esposa Joaquina Mendes Ribeiro.

Em 1860, o comendador, sua esposa dona Joaquina Mendes Ribeiro e o coronel José Mendes da Cruz Guimarães, o vendem por escritura pública ao Episcopado, perante a Tesouraria da Fazenda no dia 21 de abril, pela quantia de 60:000$000, ou seja, 60 contos de réis, conforme autorização do Ministério do Império em Aviso de 12 de março do ano citado. A entrega deu-se no dia 21 de junho do mesmo ano. Em 1892 a Tesouraria fez entrega do prédio para o Bispado de Fortaleza (Conforme a lei nº 25, de 28 de outubro de 1892), passando a ser conhecido por Palácio do Bispo e por fim veio parar nas mãos da Municipalidade, chamando-se hoje Palácio João Brígido (em homenagem ao jornalista, advogado e político, de acordo com a Lei nº 4.176, de 21 de maio de 1973) e é ocupado pelo Paço Municipal


Interessante salientar que na época do Solar dos Mendes (também chamado de Chácara dos Guimarães), o palácio ainda fazia parte do bairro Outeiro e era considerado afastado do Centro, apesar de ficar por detrás da . Foi essa proximidade que o fez ser comprado em 1860 para residência dos bispos, apesar de ainda não haver bispo em Fortaleza naquela época, coisa que só viria a mudar em 1861, com a chegada de Dom Luiz Antônio dos Santos, primeiro bispo da capital, mas ele não ficou no palácio, que só seria ocupado por um bispo em 1892, sendo seu primeiro morador Dom Joaquim José Vieira. O prédio é reformado e adaptado para as novas funções. 

 
O Palácio em 1928

Em 1911, pela ordem nº 226, da Diretoria do Gabinete do Ministério da Fazenda, foi posto à venda e, em março de 1912, foi adquirido por compra pela Diocese (a quem pertenceu até 1973, quando novamente voltou a ser propriedade do poder público).

Uma grande reforma é feita em 1931, pelo arquiteto prático José Barros Maia (o "Mainha"), ocasião em que sua fachada é completamente alterada.
Em 1973, sendo arcebispo Dom José Delgado (Que dá nome ao bosque), na gestão do prefeito Vicente Fialho, o prédio é vendido por mais de três milhões de cruzeiros a Prefeitura Municipal de Fortaleza, passando a funcionar o Paço Municipal. Além do Gabinete do Prefeito, outros órgãos administrativos passam a funcionar no prédio. 




Nesse mesmo ano, o Palácio passa por uma nova reforma, conservando num entanto, a fachada projetada por “Mainha”, um arranjo eclético, marcado pelo desenho neoclássico das molduras de suas portas e janelas e pelos arremates Art. Déco de seu frontispício. A fachada leste, voltada para o bosque, apresenta varanda e escadaria monumental.

O Bosque Dom Delgado, espaço aberto do sítio, é repleto de mangueiras, azeitoneiras, pitombeiras e palmeiras de dendê que dividem o lugar com os jardins projetados por Burle Marx. No bosque também se encontra o segundo baobá da cidade, ao lado de espécies exóticas. 



Lembro até hoje da entrevista do Sr. Milton, um zelador do Palácio do Bispo, que trabalhou durante muitos anos no prédio, desde a gestão do prefeito Vicente Fialho e que contou várias coisas interessantes e curiosas sobre o Palácio, como a passagem subterrânea que ia até a Catedral e que os padres, quando morriam, o caixão era colocado lá, não havia enterro. Sr. Milton era responsável por orientar a limpeza do riacho, o cuidado com o bosque, com o jardim e que pessoalmente, trazia plantas do horto e mandava replantar no Paço. Nessa mesma entrevista, ele relembrou quando o Riacho Pajeú virou ponto de fuga de assaltantes que fugiam da antiga Cadeia Pública (Hoje Emcetur) e aproveitavam o muro baixinho do Palácio para entrar e se esconder. Depois o prefeito da época mandou colocar grade e guarda municipal tomando de conta.

O Palácio foi sede ininterrupta da Prefeitura de 1973 até setembro de 1991, quando a Prefeitura Municipal de Fortaleza - PMF muda-se para a Serrinha, na Avenida Dr. Silas Munguba (Avenida Dedé Brasil na época), passando a funcionar no antigo Palácio do Bispo a Secretaria do Trabalho e Ação Social da Prefeitura e em caráter provisório a Fundação Cultural de Fortaleza



Palácio em 1931 após a reforma de "Mainha"

Em 21 de outubro de 1996, após ser reformado, o agora Palácio João Brígido, antigo Palácio do Bispo, recebe novamente o Gabinete do Prefeito que lá fica até 11 de dezembro de 2001, quando se muda novamente, agora para prédio na Avenida Luciano Carneiro nº 2235 no Vila União.

Finalmente, em janeiro de 2010, após 18 meses de reforma, a Prefeitura retorna ao Paço Municipal. A construção, com traços neoclássicos e Art-déco recebeu trabalho de restauro, onde um estudo foi elaborado para retomada dos antigos lustres, do piso e da fachada, sendo o restante da obra adaptada para atender as necessidades atuais, como novas instalações elétricas, hidráulicas, novos sanitários, pontos logísticos para recursos tecnológicos, câmeras de segurança e condições de acessibilidade para pessoas com deficiência (blocos de elevadores e rampas internas), sendo, no entanto, respeitado o projeto arquitetônico. As obras tiveram início em maio de 2008 e custaram a Tesouraria Municipal o valor de R$ 4.646.890,00. 


Foto aérea vendo-se o Palácio detrás da igrejinha da Sé 

 
O Paço Municipal (assim como o Bosque que o circunda) foi tombado em 2005 pela importância histórica do espaço da cidade em que está inserida a edificação, como referencial mais antigo do processo histórico que constituiu a cidade de Fortaleza, como também, os valores simbólicos agregados ao prédio, que o transforma num significativo espaço de memória. Tem uma área total de 5.529,22 metros quadrados. 


Fachada leste, voltada para o bosque, vendo-se a linda varanda e escadaria monumental. 
 
Não posso terminar essas linhas sem uma breve citação sobre Manoel Cavalcanti Rocha (homem de confiança do Bispo Dom Joaquim), porteiro do Palácio (chegou logo que instalada a Arquidiocese) e mais conhecido por Manezinho do Bispo. Manezinho era uma figura, um dos tipos populares da nossa Fortaleza antiga e valia-se da seção “Ineditoriais”, que a imprensa da época reservava às colaborações dos leitores, para publicar seus confusos escritos sem pé nem cabeça. Simplório, divertido e bem intencionado, praticando as letras com ingenuidade e despretensão.

Andava sempre empacotado num desbotado e surrado terno de alpaca, gravata preta e chapéu. Os bolsos do paletó, abarrotado de papeis, seus escritos. Dias e noites, era comum avistá-lo na abençoada portaria do Palácio.

Sobre ele, escreveu Gustavo Barroso em seu terceiro livro de memórias, Consulado da China: “Também nos visitava a miúde Manuel Cavalcanti Rocha, o célebre Manezinho do Bispo, débil mental (sic), magro, pálido, anzolado, que publicava uma vez por outra, folhetos de pensamentos os mais disparatados do mundo. No meio, alguns deliciosos: "Rapaz moço e sem emprego que se casa com uma moça de dinheiro, dá um tiro com a pistola da besteira nos miolos do futuro".


Fonte: Portal da história do Ceará, Arquivo Nirez, Jornal O Povo, Tribuna do Ceará, Diário do Nordeste, www.fortaleza.ce.gov.br

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