Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Maracatu
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Um passeio na história pela Praia de Iracema - Literatura de Cordel (Parte IV)


As casinhas dos pescadores da então Praia do Peixe, atual Iracema

Luís Antonio de Aragão

PISCININHA

Tentando conter maré
Construiu-se um quebra-mar
Que começou lá na ponte
No “Lido” foi terminar
A água que transpassava
Uma depressão formava
Bem rasa e bem circular




Com isso Coronel Porto
Essa chance aproveitou
E no pequeno declive
Mais ainda ele cavou
Dizem que a índia sereia
Em noite de Lua Cheia
No local banho tomou



Praia de Iracema nos anos 90. Foto do livro Fortaleza, 27 Graus.


Dentro do leito macio
A criançada brincava
O famoso racha havia
Depois que a maré secava
E a brisa lenta à tardinha
Em volta da Piscininha
Benzia quem se amava

Agora é um mar de lama
Cheia de pedras cortantes
De bueiros e esgotos.
Em lugar dos mais fascinantes
É preciso uma limpeza
Pra resgatar a beleza
Da Piscininha de antes


Piscininha sendo aterrada. Crédito: Daniel Costa

MARCOS HISTÓRICOS E ESCOLAS


Grupo de rapazes jogando bola ao cair da tarde na Praia de Iracema. Acervo Clóvis Acário

Primeiro, Hotel Pacajús
Batista foi o pioneiro
Depois, o Plaza Hotel
Philomeno empreiteiro
Com hóspedes elegantes
Moradores importantes
Até Lúcio Brasileiro




Estação dos Correios
Em frente ao mar se firmou
Antenas sempre ligadas
Pro mundo inteiro falou
E no local mensageiro
Francisco Alísio Pinheiro
É ilustre morador

Capitania dos Portos,
Alfândega foi federal
Alberto Nepomuceno
Maestro no pedestal.
Iracema Arco dobrando
Paredões mar sustentando
Nesse Bairro sem igual

Pátio da Alfândega

O bom Instituto Kennedy
Muita gente educou
Quininha e Maria Augusta
A todos bem ensinou
Era na José Avelino
Tudo o que foi de menino
De castigo lá ficou

Professora Dona Vilma
Na Rua Tijipió
Colégio São Pedro
Ministrou o que é melhor
Respeito e Esperança
No adulto e na criança
Era tudo um brilho só

Escola do Elvira Pinho
Sempre com muita ação
Exemplo de ensino público
De enorme dedicação
Professores competentes
Ensinos eficientes
Valorizam a educação

No ano de Trinta e Nove
Padre Pita e Marilinha
Organizavam trabalhos
De São Pedro Igrejinha
Ela se edificou
Como é linda a capelinha



No nosso Centro Espírita
O Santo é muito lembrado
É na rua Ararius
De Pedro, Apóstolo chamado
E lá toda a cidade
Já tem feito caridade
Mesmo ao mais necessitado

Thmoskhenko dirige
Estoril da Prefeitura
Tem zelo Moacir
Pela bela arquitetura
Há um lindo restaurante
Balé Bianchi, brilhante,
Galeria Arte e Cultura


O lindo Centro de Artes
Majestoso Dragão do Mar
Onde a memória do povo
Muito se faz preservar
Cine, Teatro, Oficina,
O planetário ilumina
Todo o céu do Ceará.


FOLIA EM IRACEMA

Senhor João do Miramar
Esquina da São Lunguinho
Rua que morou o Joca
Que adorava um baralhinho
Joca foi xará de João
Simples de bom coração
Se foi como passarinho



Maracatú AZ de Espada

E tinha lá o AZ de Espada
No lugar o seu cantinho
Mário Amâncio e Benior
Miramar tinha carinho
Luiz Rainha reinava
Braz do Balaio girava
Ao Triângulo do Betinho


A Turma do Camarão

Surgiram Blocos de rua
Turma Bamba e Camarão
Paladinos do Amor
“Coca-Cola” era cordão
“Não Quero Choro” afinada
Com “Turma da Invernada”
“Garotos do Frevo” são


Em boa Escola de Samba
Transformou-se Camarão
Veio “Leopoldina” show
Sempre com muita emoção
“Pajeú” foi de Escol
E o bonito “Girassol”
Fez um grupo campeão



Bandas e Blocos bons
No carnaval deram grito
Primeira a “Banda Iracema”
Após ela a “Periquito”
Do “Mexe-Mexe”, Fuxico
“Que M. é Essa”, eu indico
É muito bloco bonito.




Crédito: http://www.nehscfortaleza.com/



terça-feira, 24 de junho de 2014

O Maracatu Cearense e sua história (Parte II)




 
"... logo que chegava o rei com sua corte, entrava a missa, que era cantada, com repiques de sinos e foguetes. O casal de escravos sentava-se no trono com ares de quem estava convencido da realidade da cena, representada também pelos reis dos brancos tão ou mais ridículos de cetro e coroa do que ele. Acabada a missa, saía o cortejo real de cidade à fora até o palácio, em que passava o resto do dia a comer, a beber, a dançar, festejando as poucas horas de liberdade que todos os anos lhe concediam os senhores da terra que primeiro libertou os escravos."


Rodolfo Teófilo sobre o ritual de coroação do rei e da rainha da irmandade.


Esse ritual de coroação teria dado origem à vários autos e danças, incorporados ao folclore brasileiro desde o século XVII. Entre eles, o Auto dos Reis de Congo, o Congado e o Maracatu. De fato, o maracatu é parecido com o ritual: um cortejo com música para a coroação de uma rainha negra.


Segundo Calé Alencar, fundador do Maracatu Nação Fortaleza e pesquisador da história do Maracatu no Ceará, a origem do Maracatu em Fortaleza provavelmente seja mais antiga do que imaginamos. Pois os registros dos Autos dos Reis de Congos na cidade datam do final do século XIX e já em 1730 os negros fundaram a Igreja do Rosário em Fortaleza, pressupondo a presença da irmandade do rosário, e consequentemente a coroação dos reis.

Segundo Eduardo Campos o maracatu cearense teria se originado à partir do ritual de Coroação dos Reis do Congo realizado pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos da Capital (representante fortalezense da irmandade do Rosário dos negros).

Nos registros mais antigos, os desfiles de maracatu em Fortaleza ocorriam nas festas do ciclo natalino, nas festas da Nossa Senhora do Rosário e de Corpus Christi, onde não eram bem aceitos. À partir de 1937, com o desfile de estréia do Maracatu Az de Ouro, criado por Raimundo Alves Feitosa (Raimundo Boca-aberta) em 1936, o maracatu cearense passou a assumir a formação de um bloco carnavalesco e a desfilar durante os carnavais, como ocorre até hoje. Além de ter criado o maracatu Az de Ouro, existente até hoje, e ter adaptado o maracatu para os desfiles carnavalescos, Raimundo Boca-aberta foi um dos maiores compositores de loas de que se tem notícia e um compositor dos mais notáveis.


Maracatu Az de Espada

O ritmo do maracatu cearense nas primeiras décadas do século XX, como se pode escutar nos registros de Luiz Heitor Corrêa de Azevedo (incluindo gravações de Raimundo boca-aberta), é semelhante ao coco, com influência da umbanda. Os instrumentos utilizados eram: caixa (sem esteira), ganzá, gonguê, tambor-onça e ferro. A partir da década de 50, por influência do Maracatu Az de Espada, o maracatu cearense toma um novo estilo, inspirado no Auto dos Congos. O novo ritmo, cadenciado e dolente, com um gingado majestoso e solene, é marcante até hoje.

Maracatu Az de Ouro  em 1958.

 Nas décadas de 70 e 80, durante a ditadura militar, o maracatu cearense sofreu uma decadência, tanto na qualidade dos desfiles, quanto na quantidade, chegando ao ponto de só haverem 2 maracatus em atividade. Nesse período, os desfiles de maracatu foram incoerentemente obrigados a apresentar um enredo, apresentando-se na avenida como se fossem as escolas de samba do carnaval carioca.

Maracatu Nação Fortaleza

Felizmente, o maracatu cearense incorporou algumas modificações construtivas, como algumas modificações nas vestimentas e a inclusão dos capoeiristas, e abandonou as modificações inadequadas ao maracatu, como os enredos e os carros alegóricos. Atualmente, no Ceará, existem 2 grupos de maracatu em Itapipoca e 11 em Fortaleza, entre eles, o Maracatu Az de Ouro, o Estrela Brilhante, o Nação Fortaleza, o Maracatu Solar, o Nação Gengibre, o Leão Coroado, o Rei de Paus, o Vozes da África e o Nação Baobab.



Maracatu Az de Ouro em 1950

Maracatu Az de Ouro - 1958

O Maracatu cearense é diferente do pernambucano, em vários aspectos. De início, o maracatu cearense apresentava-se nas festas religiosas da Igreja, apresentando-se hoje como bloco carnavalesco. Em Pernambuco, o maracatu está estreitamente associado aos terreiros de candomblé ou umbanda.




Maracatu Az de Ouro em 1950

Os personagens são diferentes. O cearense conta ainda com o balaieiro, os pretos velhos e uma maior representatividade dos índios. No maracatu pernambucano há várias calungas (bonecas pretas), enquanto que no cearense há apenas uma, levada por uma negra do cordão especialmente designada à essa missão, usada no mastro do estandarte ou até na sombrinha da rainha. Além disso, sempre houve, no Ceará, a tradição de todos os brincantes, com exceção dos índios, pintarem a cara com tinta preta brilhante. No Maracatu pernambucano, os brincantes não pintam os rostos.

Maracatu Rei de Paus

Quanto à musicalidade, o ritmo e os instrumentos utilizados são diferentes. O ritmo do maracatu cearense é mais lento, semelhante ao auto dos congos. Cadente, dolente e solene. O maracatu pernambucano é mais acelerado, usando a caixa com esteira, com ritmos característicos: baque virado e baque solto.

Maracatu Estrela Brilhante em 1953

O desfile de maracatu cearense pode ter até 150 participantes, que se dividem em vário sub-grupos. Com exceção dos índios, todos desfilam com o rosto pintado de preto. A seguir uma breve descrição dos principais personagens, em ordem de aparição:

* Porta-Estandarte, Baliza e Lampiões - São os condutores do cortejo. Os guias, cada um com um lampião, e o porta-estandarte abrem o cortejo apresentando o escudo do maracatu, acompanhados pelo Baliza, que dança e faz acrobacias. 


* Cordão de negros africanos - Representa os povos africanos, que foram vendidos aos portugueses como escravos. 


* Cordão dos índios - Representa os índios brasileiros que acolheram os negros e a eles se uniram na resistência contra os europeus. 


* Cordão das negras - Representam as mucamas das fazendas, carregando utensílios domésticos. 


* Balaieiro - Negro carregando uma balaio de frutas na cabeça. Representa, ao mesmo tempo, uma oferenda aos orixás, e os escravos que saíam às ruas para vender os excessos de produção das fazendas. 


* Pretos velhos - Usando bengalas e fumando cachimbos, o casal de negros velhos representam os terreiros de umbanda e simbolizam o respeito aos mais velhos. 


* Corte - Representam a nobreza. São príncipes, princesas, vassalos, mucamas e por último, o rei e a rainha com roupas coloridas e enfeitadas. 


* Macumbeiro(s) - Uma ou duas pessoas que cantam a loa - geralmente, o líder do maracatu. 


* Bateria - Vários percussionistas com surdos, ferros, caixas e chocalhos.



Veja AQUI a parte I



Fontes: ALENCAR, C. Origem e evolução do maracatu no Ceará, Fortaleza: Banco do Nordeste, 2007, 54p.

AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de, Music of Ceará and Minas Gerais, CD de áudio, Congresso dos Estados Unidos da América.

CAMPOS, E. O Cotidiano no Ceará escravocrata. Entrevista concedida a José Anderson Sandes, Diário do Nordeste, 25-03-1998.

Portal do Maracatu Nação Fortaleza, Endereço: http://www.batoque.com/fortaleza, Acesso em 12 Out. 2011




Crédito: Blog Ceará de Luz/Nirez



domingo, 22 de junho de 2014

O Maracatu Cearense e sua história



Há pouca documentação sobre a história do maracatu antes da década de 50. Os primeiros registros confiáveis de maracatu em Fortaleza datam do início do século XX, quando Gustavo Barroso descreve, em "Coração de menino", os desfiles que ocorriam na Praça do Carmo (então Praça do Livramento). 


Maracatu Leão Coroado. Foto: Arquivo Nirez



O Maracatu está relacionado à chegada dos africanos em Portugal no fim da idade média. Ao entrar em contato com a religião católica, os africanos fizeram associações entre os santos católicos e as divindades africanas. Uma delas foi a de Nossa Senhora do Rosário. A imagem da Santa tem, ao redor do pescoço, um colar de rosas (rosário), similar ao colar de Ifá (orixá que previa o futuro). Assim, os escravos que chegaram à Europa no Séc. XV passaram a ser devotos de Nossa Senhora do Rosário. Com isso foi criada a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.


Afrânio de Castro Rangel, Rainha do Maracatu Leão Coroado em 1959




Mesmo escravos, os negros construíam igrejas em homenagem à Santa onde se estabeleciam. Uma vez por ano, no dia 7 de outubro, dia de Nossa Senhora do Rosário, os escravos tinham folga. Nesse dia, faziam o ritual de coroação do rei e da rainha da irmandade.

Maracatu Estrela Brilhante em 1953

Segundo relatos de personagens ilustres de nossa terra, o maracatu cearense já se mostrava presente desde meados do século XIX sendo o mesmo conhecido por “congadas ou pelo auto dos reis de Congo” que retratavam os combates entre o Congo e Angola e que daria origem não só ao maracatu mas também a outras expressões culturais afro-descendentes como o reisado, caboclinhos e os pastoris.

Maracatu Estrela Brilhante em 1953


Em Fortaleza a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos homens pretos (1871), responsável pela construção do templo católico mais antigo de nossa capital homenageando santa de mesmo nome, foi a principal difusora desta tradição cultural que se realizava geralmente ao termino das cerimônias religiosas e culminavam com a coroação do rei e rainha negra. Esta mesma irmandade sociabilizava o escravo forro ou cativo a sociedade fortalezense da época e possibilitava aos mesmos; auxílio funeral, pensões a viúvas e a possibilidade de lazer nas horas vagas, sobre tudo, aos domingos e dias santos com o devido consentimento de seus senhores “no caso de escravos cativos”.

Maracatu Az de Ouro em 1958 na Praça do Ferreira - Nirez

O ponto culminante das congadas era a coroação do rei e da rainha negra que vinham acompanhados pelo seu séquito real composto por negros trajando cores bufantes dos mais variados tecidos e representando personagens da corte portuguesa. Em geral tais roupas eram usadas e doadas a irmandade para que pudessem ser realizadas as encenações como vestidos de noivas amplamente usados para caracterizarem as princesas e rainhas.
Em determinadas épocas do ano a irmandade era contratada por senhores de engenho ou pessoas abastadas para apresentar seus autos, tais contribuições eram depositadas em um caixa controlado pelo tesoureiro sendo responsável o mesmo pelo controle dos bens da confraria que consistiam desde casas a terrenos espalhados pela cidade.


Maracatu Az de Ouro em 1958 no Centro de Fortaleza


Além da referida irmandade que teria sido o ponto original deste folguedo, em fins do século XIX o maracatu também fazia-se presente em diversos pontos da capital. Segundo o escritor Gustavo Barroso, havia por trás da estação férrea João Felipe o maracatu do Morro do Moinho que saia com seu cortejo real pelo centro em direção a igreja do Rosário onde fazia a coroação de seu rei e sua rainha.

“os últimos reis do Congo que houveram em Fortaleza, minha terra natal, foram o negro Firmino, ex-escravo de meu pai e a negra Aninha Gata. Esta conheci ai por volta de 1897 ou 1898, com pequena quitanda na antiga travessa das flores, entre as ruas Major Facundo e a da Boa Vista, hoje Floriano Peixoto. (BARROSO, 1962, P. 374)

Existiam também os maracatus da rua de São Cosme (atual rua Pe. Mororó), da rua do outeiro (antiga Aldeota – atual região do Colégio Militar), do Beco da Apertada Hora (atual rua Governador Sampaio), do Manoel Furtado, do João Ribeiro localizado ao fim da rua Major Facundo na altura da antiga Praça do Livramento (atual Praça do Carmo). Do negro João Gorgulho (grupo de folguedos africanos – 1910). Segundo Otacílio de Azevedo em seu livro: Fortaleza Descalça;

“vestia-se com roupagem de seda colorida, recheada de fitas e arabescos, minúsculas lantejoulas, vidrilhos e brilhantes pedrarias. Os valetes do rei João Gorgulho vestiam calças de cetim verde, justas ao corpo, coletes violetas, clâmide vermelha caindo sobre os ombros e espadas de papelão dourado. O trono, forrado de fofos de papel de seda salpicado de estrelas, tendo à guisa de cetro uma vara coberta de papel dourado, ficava sobre um tapete de palha de carnaúba colorida, a coroa, feita com folhas de flandres, se apresentava pintada com cores diversas”.


Maracatu Estrela Brilhante em 1953

O maracatu cearense difere do pernambucano pois o timbre de seus acordes são mais lentos e cadenciados sendo o batuque composto por caixas sem esteiras visando acentuar a batida grave, bumbos, surdos, ganzás, chocalhos e triângulos aqui chamados “ferros” responsáveis pela cadência ou ritmo característico do cortejo. As loas ou “músicas do maracatu” sempre relatam fatos ou acontecimentos históricos ligados à cultura afro regionais ou nacionais constituindo as mesmas no chamado enredo do maracatu. Seus brincantes ou “maracatuqueiros” apresentam seus rostos pintados com uma mistura de fuligem, óleo infantil, talco e vaselina em pasta que dão o tom ao chamado “falso negrume” expressão difundida pelo pesquisador cearense Gilmar de Carvalho. O macumbeiro(a) ou tirado(a) de loas puxa o enredo sendo o mesmo respondido pelo cordão de negras que impulsiona todo o cortejo a imitá-las. Geralmente tais “tiradores de loas” trajam roupas femininas semelhantes as de negrinhas ou “mucamas” reais podendo os mesmos virem trajando branco com suas guias ou amuletos.



Maracatu Az de Ouro em 1950 - Arquivo Nirez

O maracatu chegou oficialmente ao carnaval de rua fortalezense por volta de 1937 através de convite feito pelo famoso rei momo Ponce de Leon ao compositor e carnavalesco Raimundo Alves Feitosa conhecido também como Raimundo Boca Aberta, fundador do Maracatu Az de Ouro (o mais antigo em atividade). Em meados de 1950 seriam fundadas agremiações de imenso peso histórico como: Estrela Brilhante, Az de Espadas Leão Coroado. Outros grupos já extintos deixaram saudade como: Rancho Alegre, Nação Africana, Rei de Espadas, Rei dos Palmares, Nação Uirapuru, Nação Gengibre, Nação Verdes Mares e Rancho de Iracema.


Raimundo Alves Feitosa


Continua...

Créditos: Blog Maracatu Rei do Congo, Blog Solar, Nirez e pesquisas na internet


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Marchinhas - O som dos eternos carnavais


Carnaval da Saudade - Arquivo João Otávio Lobo Neto

Das ingênuas e criativas marchinhas dos anos 30, 40, 50 e 60 às ruidosas músicas da “axé-music”, muitas águas rolaram no Carnaval. A alegria do desfile de de rua e o glamour dos bailes carnavalescos dos clubes elegantes de Fortaleza, nas décadas de 50 e 60, fazem parte apenas da lembrança dos mais nostálgicos. São tempos praticamente esquecidos, que só despertam, na maioria das vezes, o interesse de alguns pesquisadores de nossa história. Os jovens - que hoje se agitam com as “bandas” de barulhentos trios elétricos que ressoam em altos decibéis melodias com letras “sem pé nem cabeça” - nem imaginam como era divertido os carnavais dos confetes e serpentinas, dos pierrots e das colombinas apaixonados.

Lauro Maia e Luiz Assunção foram os pioneiros no cancioneiro carnavalesco do Ceará. Suas canções animaram foliões das escolas e blocos, como o “Cordão das Coca-Colas”, “Prova de Fogo”, “Alfaiates Veteranos”, “Garotos do Frevo”, “Zombando da Lua”, “Escola de Samba Lauro Maia” (depois rebatizada de Escola Luiz Assunção). As músicas de Lauro Maia se consagraram nas vozes de Orlando Silva e dos grupos “4 Azes & 1 Coringa” e “Vocalistas Tropicais” e se tornaram sucessos nacionais.

Carmem Miranda, Lamartine Babo, Emilinha Borba, Virginia Lane, Orlando Silva, Francisco Alves, Ary Barroso, João de Barro, Mário Lago, Dalva de Oliveira, Jackson do Pandeiro, entre outros nomes da MPB que emprestaram seus talentos a famosos “hits” da música carnavalesca: “Daqui Não Saio”, “Alá-Lá-Ô”, “Cidade Maravilhosa”, “As Pastorinhas”, “O Teu Cabelo Não Nega”, “Taí”, “Saca-Rolha”, “Mamãe, Eu Quero”, “Bandeira Branca”, “Pierrot Apaixonado”. Essas marchinhas se eternizaram ao longo dos tempos e continuam até hoje integrando o repertório musical de bailes que sobrevivem ao modismo das micaretas. Exemplo disso é o Carvanal da Saudade, um autêntico revival dos carnavais que ficaram apenas na lembrança...
     Marcos Saudade

Bloco Zombando da Lua - Arquivo Nirez

Qual a importância de Lauro Maia e Luiz Assunção na música cearense e nacional?

     Os dois são importantes, dentro das características de cada um. Lauro Maia, nascido e criado no Benfica, certamente levou mais longe o nome do Ceará porque aproveitou o sucesso de suas composições através de nomes como Orlando Silva, 4 Azes & 1 Coringa, Ciro Monteiro e Vocalistas Tropicais, entre outros. Ao fixar residência no Rio, participou ativamente do Movimento Artístico na década de 1940, sendo inclusive o responsável pelo surgimento do Baião, ao apresentar Luiz Gonzaga a seu cunhado Humberto Teixeira. Luiz Assunção foi um maranhense que se tornou cearense devido a sua grande identificação com a vida da cidade, ele inclusive foi homenageado quando Lauro Maia foi morar no Rio, puseram o nome dele na Escola de Samba Lauro Maia e um grande número de pessoas que conhece a história de nosso carnaval lembra com muita saudade dos grandes desfiles e da música maravilhosa que soava na orquestra da Escola de Samba Luiz Assunção.

     Que contribuição deram ao carnaval cearense?

     Uma contribuição enorme. Antes deles não havia compositores populares criando músicas para as agremiações. Foi Lauro Maia quem iniciou esse ciclo criativo em nossa história carnavalesca. Tanto ele como Luiz Assunção têm até hoje músicas lembradas e que foram compostas para o carnaval de rua, para a Escola de Samba Lauro Maia, depois Luiz Assunção, para a Escola de Samba (hoje Bloco) Prova de Fogo e outros blocos, como O Que Fóe, Galinha, do genial Doutor Bié. O Lauro inclusive foi o primeiro compositor a utilizar o ritmo do nosso Maracatu fora do carnaval, na música Orixá, que tinha versos de Jorge Aires.

     Como foi resgatar a vida e obra de Lauro Maia em livro e disco?

     Sinceramente, este foi um dos projetos mais importantes de toda a minha vida. Primeiro, pela grandiosidade da biografia do Lauro, depois pela beleza e atualidade de sua música e também pela parceria com o pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez. Outra coisa importante deste trabalho foi contar com a participação de todos os artistas que interpretaram músicas de Lauro Maia, é realmente um presente ter Teti, Ednardo, Rodger, Lúcio Ricardo, Fagner, Evaldo Gouveia, Falcão, Ayla Maria, Fernando Néri, César Barreto, David Duarte, Aparecida Silvino... É um disco que me agrada sempre, eu escuto cada vez com mais prazer. Tem um time de músicos de primeira e é todo mundo daqui mesmo.

     O que poderia ser feito para resgatar o carnaval de Fortaleza?

      Deveria haver um maior incentivo por parte da Prefeitura de Fortaleza. Afinal estamos falando de uma festa pública, inserida no calendário de eventos da cidade. Para o nosso carnaval de rua se tornar atrativo do ponto de vista do investimento privado, precisa haver um trabalho muito forte junto às agremiações, é preciso chamar os artistas para participar compondo, cantando, tocando, desenhando, somando com o imenso mundo de gente que trabalha há tantos anos pelo carnaval e tem muito amor pelo que faz. O nosso trabalho à frente da Federação de Blocos Carnavalescos tem sido recuperar a dignidade do carnaval de rua, reinseri-lo na rota dos grandes eventos.

Calé Alencar
Maracatu Az de Ouro em 1950 - Arquivo Nirez

Quais foram os mais expressivos compositores cearenses de músicas carnavalescas?

     Os mais expressivos compositores de músicas carnavalescas no Ceará foram Euclides Silva Novo, Mozart Brandão, Caetano Acioly, Luiz Assunção, Paulo Neves, Lauro Maia, Irapuan Lima, Mário Filho, Edigar de Alencar, Waldemar Gomes e Milton Santos.

     Que marchinhas mais famosas marcaram os bailes carnavalescos do passado?

     As marchinhas foram importantes no cenário carnavalesco cearense, mas também os sambas figuraram como sucesso.Tivemos "Tabajara", marcha (Silva Novo - Caetano Acioly) 1930; "Adeus, Praia de Iracema", samba (Luiz Assunção) 1954; "Falta de luz", marcha (Irapuan Lima - Mário Filho) 1955; "Dona Fredegunda", marcha (Mário Filho - Milton Santos) 1958; "Meu bem", samba (J. Guimarães - Milton Santos) 1958; etc.

     Que blocos e escolas brilhavam nos carnavais de rua de Fortaleza do passado?

     Os blocos que brilharam no passado foram "Maracatu Ás de Ouro", "Maracatu Rei de Espadas", "Garotos do Frevo", "Escola de Samba Lauro Maia", "Zombando da Lua", "Escola de Samba Luiz Assunção", "Cordão das Coca-Colas", "Alfaiates Veteranos", "Prova de Fogo", etc.

     Como avalia as festas carnavalescas da atualidade?

     O carnaval teve várias fases, a primeira apesar de ser chamada de carnaval era o ENTRUDO, que reinou até início do século XX, onde se dançava valsas vienenses entre outras coisas; a segunda foi a fase de ouro das marchinhas, dos grandes compositores e intérpretes, das grandes músicas e letras e que durou até meados da década de 60; e a atual fase, dividida entre o espetáculo turístico já superado das escolas de samba do Rio de Janeiro e a música atual de maio-de-ano lançada pela Bahia que descaracterizou o carnaval tornando-o muito mais de fora de época que de próprio período. Já não existem músicas feitas para a festa porque a festa já não existe.

Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez)
Escola de Samba Luiz Assunção em 1969
Foto da Exposição Luiz Assunção - Samba de Carnaval

Quais foram as fases marcantes da produção musical feita para o carnaval?

     As décadas de 30,40 e 50. Principalmente a de 30, apropriadamente chamada de “Fase de Ouro”. A partir da cartelização da economia mundial e a consequente dolarização econômica dos países dependentes da América do Norte, como o próprio México (seu vizinho), o Brasil, Argentina, França, Itália, Portugal e os demais que compõem o Terceiro Mundo, o regionalismo foi para o “bebeléu”. Entregar-se de corpo e alma às coisas e costumes da América do Norte passou a ser sinônimo de progresso. O nacionalismo passou a ser pichado como retrógrado, coisa do passado, etc... Tudo aconteceu depois da Segunda Guerra Mundial (1945).

     Quais os mais famosos “hits” carnavalescos?

     Dos anos 30: “Prá Você Gostar de Mim” (Taí), marcha-canção de Joubert de Carvalho, gravada por Carmem Miranda em 1930; “O Teu Cabelo Não Nega”, adaptação de Lamartine Babo, gravada por Castro Barbosa, em 1932; “Linda Morena”, de Lamartine Babo , de 1933, “Cidade Maravilhosa”, de André Filho, gravada por Aurora Miranda (irmã de Carmem Miranda), em 1935; “Pierrot Apaixondo”, de Heitor dos Prazeres e Noel Rosa, 1936; “Mamãe, Eu Quero”, de Jararaca, 1937; “As Pastorinhas”, João de Barro e Noel Rosa, de 1936 e regravada por Sílvio Caldas para o carnaval de 1938; “A Jardineira”, de Benedito Lacerda e de Humberto Porto, gravada por Orlando Silva em 1939. 
Dos anos 40: “Dama das Camélias”, de João de Barro e Alberto Ribeiro, gravado por Francisco Alves em 1940; “Alá-Lá-Ô”, de Antônio Nássara e Haroldo Lobo, gravada por Carlos Galhardo, em 1941; “Aí, Que Saudades da Amélia”, de Ataulfo Alves e Mário Lago, 1942; “Nós, Os Carecas”, de Roberto Roberti e Arlindo Jr. gravada por Anjos dos Inferno, 1942; “Está Chegando a Hora”, de Henricão e Rubens Campos, gravado por Carmem Costa, 1942; “Atire a Primeira Pedra”, de Ataulfo Alves e Mário Lago, gravado por Orlando Silva, em 1944; “Cordão dos Puxa-Sacos”, gravado pelos Anjos do Inferno, em 1946; “A Marcha do Balanceio”, de Lauro Maia e Humberto Teixeira, 1946; “É Com Esse Que Vou”, de Pedro Caetano, gravado por 4 Azes e 1 Coringa, 1948; “Chiquita Bacana”, de João de Barro e Alberto Ribeiro, gravada por Emilinha Borba, 1949; “General da Banda”, de Sátiro de Melo, José Alcides e Tancredo Silva, gravada por Blecaute. 
Dos anos 50: “Daqui não saio”, de Paquito e Romeu Gentil, gravada pelos Vocalistas Tropicais, 1950 -“Serpetina”, de Haroldo Lobo e David Nasser, gravada por Nelson Gonçalves, em 1950;“Tomara que choro”, de Paquito e Romeu Gentil, pelos Vocalistas Tropicais e Emilinha Borba, em 1951; “Lata D’Água”, de Luiz Antonio e Jota Júnior, gravado por Marlene, em 1952; 

Foto da Exposição Luiz Assunção - Samba de Carnaval
Centro Dragão o Mar de Arte e cultura

Sassaricando”, de Luiz Antonio e Zé Mário, gravada por Virginia Lane; “Saca-Rôlha, de Zé da Silda.; “Maria Escandalosa”, de Klecius Caldas e Armando Cavalcanti, 1955; “Vai, Com Jeito Vai”, de João de Barro, gravada por Emilinha Borba, 1957;“Boi da Cara Preta”, de Paquito/Romeu Gentil/Jackson do Pandeiro, 1959.
Dos anos 60: “Me Dá um Dinheiro Aí” , gravada por Moacior Franco, 1960; “Indio Quer Apito”, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, em 1961;“A Lua é dos Namorados”, gravada por Ângela Maria, 1961.“Cabeleira do Zezé”, de João Roberto Kelly e Roberto Faissal. 1964; “Máscara Negra”, de Hildelbrando Pereira Mattos e Zé Ketti, 1967; “Bandeira Branca”, de Max Nunes e Laércio Alves, gravada por Dalva de Oliveira, 1970.

Christiano Câmara



Crédito: Diário do Nordeste

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