A origem da família Queiroz em Cascavel
Situada a pouco mais de 60 quilômetros de Fortaleza, mas já mergulhada no Polígono das Secas, a distante cidade de Cascavel, na década de 20, refletia mais o Nordeste rural dos coronéis descrito pela literatura regionalista do que o Brasil moderno que começava a se desenhar no Sul do país, com a incipiente industrialização de São Paulo e os primeiros arranhões na chamada República do café-com-leite. A pequena cidade, típica do Nordeste de então, não se abalava com os surtos do movimento tenentista, que precipitavam o Brasil para a revolução de 1930, mas certamente assustava-se com as notícias dos cangaceiros que corriam pelo sertão, acoitados, lá ou acolá, por um ou outro fazendeiro. Os nomes dos tenentes Eduardo Gomes - da revolta dos Dezoito do Forte de Copacabana, em 1922 - ou Isidoro e Cabanas - que lideraram a rebelião paulista por 25 dias, em 1924 - eram menos conhecidos na pequena cidade que os nomes de Lampião, Corisco e outros chefes do cangaço.
Foi na área urbana dessa pequena Cascavel que nasceu Edson Queiroz, a 12 de abril de 1925, uma noite de lua cheia, filho de Genésio e Cordélia Antunes Queiroz. Era o primeiro filho homem do casal, o segundo de seis irmãos. Sua irmã Jacy nascera no ano anterior e depois nasceriam Wanda, Cléa, Ivone e José.
Foi na área urbana dessa pequena Cascavel que nasceu Edson Queiroz, a 12 de abril de 1925, uma noite de lua cheia, filho de Genésio e Cordélia Antunes Queiroz. Era o primeiro filho homem do casal, o segundo de seis irmãos. Sua irmã Jacy nascera no ano anterior e depois nasceriam Wanda, Cléa, Ivone e José.
Igreja de Cascavel onde Edson Queiroz recebeu o batismo o fez a primeira comunhão.
Os antecedentes da família
A infância de Cordélia Antunes, nascida em Lábrea, no Alto Purus, a 16 de janeiro de 1905, fora abalada muito cedo. Morava com os pais e três irmãos no Amazonas, quando seu pai, Emiliano Antunes, morreu de febre reumática aos 33 anos. Cordélia estava com dois anos de idade. Sua mãe, Herminda, com quatro filhos na selva, não teve outra alternativa a não ser reunir as crianças e mudar-se, em 1906, para Cascavel, onde residiam seus parentes, e tentar garantir a sobrevivência da família em condições menos adversas .
A juventude de Genésio Queiroz não fora mais simples. Ele também era criança quando seu pai, Galdino Clementino de Queiroz, perdeu a visão, obrigando-o a pegar no trabalho duro para ajudar a mãe, Maria Moreira de Queiroz, a sustentar os irmãos em Aquiraz, cidade vizinha de Cascavel, onde nascera, em 14 de abril de 1897. Galdino, entretanto, deixou uma herança para Genésio: mesmo cego, alfabetizou os filhos.Em 1921, antes de completar 24 anos, Genésio mudou-se para Cascavel e lá montou uma pequena loja. Típico homem do sertão, não alimentava extravagâncias. media cada tostão gasto ou investido e agia com extraordinária honestidade em relação a seus fregueses e fornecedores. Dotado de rara intuição para os negócios, de grande capacidade para perceber as Oportunidades e norteado pelo princípio de só trilhar rotas seguras, conseguira fazer com que sua loja prosperasse rapidamente . Em Cascavel ele reuniria capital e experiência para tentar a vida em Fortaleza, acumulando as condições financeiras e culturais que seriam a base de uma razoável fortuna.
Genésio e Cordélia conheceram-se em Cascavel, onde se casaram em 15 de maio de 1923. Ele estava com 26 anos e ela tinha apenas 18. Os filhos viriam em número de seis, à razão de quase um por ano. Preocupada com o futuro dos filhos, Cordélia chegou até a fazer promessa à Virgem da Medalha Milagrosa para que se mudassem para a capital , mas Genésio resistia. Os negócios, afinal, iam bem. Só com a grande seca o marido perceberia que Cascavel se tornara pequena demais para ele.
Aqui Edson viveu seus seis primeiros anos de vida.
O nome e a mudança para Fortaleza
Os Queiroz já desfrutavam de uma condição de vida de classe média em 1925, situação privilegiada em Cascavel. Eles tinham, por exemplo, o conforto de possuir um gramofone e podiam comprar os discos produzidos pela RCA Victor. Cordélia gostava de música e nutria grande admiração pelo inventor da lâmpada e outras maravilhas elétricas, Thomas Edison, que inspirara a adoção do nome de uma loja muito popular no Rio de Janeiro (a Casa Edison), cuja publicidade vinha estampada em todas as "bolachas" dos discos da RCA. Quando nasceu seu primeiro filho homem, ela não teve dúvidas: quis que viesse a se chamar Edson. Genésio, entretanto, preferia chamá-lo de Olavo, mas a opinião de Cordélia acabou prevalecendo.
A história do nome foi contada pelo próprio Edson Queiroz numa entrevista à Tribuna do Ceará, de 12 de janeiro de 1975. Segundo ele, durante a infância, já em Fortaleza, tinha um "jeito muito especial" para lidar com a eletricidade. Era sempre ele quem consertava os objetos elétricos defeituosos, o que dava muita alegria a Cordélia, que via nas habilidades do filho a confirmação do acerto na escolha do nome.
A história do nome foi contada pelo próprio Edson Queiroz numa entrevista à Tribuna do Ceará, de 12 de janeiro de 1975. Segundo ele, durante a infância, já em Fortaleza, tinha um "jeito muito especial" para lidar com a eletricidade. Era sempre ele quem consertava os objetos elétricos defeituosos, o que dava muita alegria a Cordélia, que via nas habilidades do filho a confirmação do acerto na escolha do nome.
Edson com cinco anos de idade.
Mais prático que a mulher, Genésio Queiroz queria que os filhos estudassem. Acreditava que poderiam fazer muito mais do que ele estava fazendo se fossem convenientemente preparados. Por isso, quando Edson estava com seis anos de idade, coisa inédita na minúscula Cascavel, foi posto na escola da professora Nana, para começar a aprender a ler e a escrever.
Para que as crianças pudessem ter mais oportunidades de se desenvolver nos estudos, e também por querer ascender mais um degrau na escada do sucesso - a seca tinha reflexos terríveis no comércio -, Genésio Queiroz resolveu transferir-se com a família para Fortaleza em 1932, deixando para trás a bem-sucedida loja de Cascavel.
Para que as crianças pudessem ter mais oportunidades de se desenvolver nos estudos, e também por querer ascender mais um degrau na escada do sucesso - a seca tinha reflexos terríveis no comércio -, Genésio Queiroz resolveu transferir-se com a família para Fortaleza em 1932, deixando para trás a bem-sucedida loja de Cascavel.
Na década de 30 a consolidação da Genésio Queiroz & Cia.
No ano em que a família Queiroz se estabeleceu em Fortaleza, eclodiu a revolução paulista contra o poder implantado em 1930 pelos tenentes aliados a Getúlio Vargas. Embora derrotado, o movimento armado acabou induzindo a uma solução de compromisso entre as emergentes classes comerciais e industriais das grandes cidades do Sul e as velhas oligarquias rurais. Isso teria influência decisiva para que o Sul do país se industrializasse mais rapidamente, agravando-se a disparidade de desenvolvimento entre o Sul e o Nordeste. A participação deste na renda nacional baixaria de 21% em 1939 para 16% em 1952, época em que Edson Queiroz, um dos principais agentes da industrialização do Nordeste, iniciava seus negócios.
Em 1932, assim que chegou a Fortaleza, e com o que apurara na loja de Cascavel, o pai de Edson, Genésio Queiroz, montou seu primeiro negócio na capital do Ceará, bem no centro da cidade. Era uma mercearia.
O mesmo sucesso registrado em Cascavel repetiu-se em Fortaleza. O método de só dar um passo à frente depois de estar solidamente implantado criou condições para que Genésio, em 1935, montasse seu armazém de estivas, na rua Conde d'Eu, 647. Passou a importar diversos tipos de produtos de outros Estados nordestinos e do Sul do país, como feijão, arroz e açúcar. O Almanaque do Ceará de 1941 já registaria a Genésio Queiroz & Cia. como uma das principais importadoras de cereais do Estado.
A partir desse ano, sua empresa figuraria sempre no almanaque cearense. Seu armazém prosperaria, principalmente durante a guerra, e já com a ajuda do filho Edson, na importação do açúcar, a ponto de Genésio ser reconhecido na cidade como o "Rei do Açúcar".
Em 1932, assim que chegou a Fortaleza, e com o que apurara na loja de Cascavel, o pai de Edson, Genésio Queiroz, montou seu primeiro negócio na capital do Ceará, bem no centro da cidade. Era uma mercearia.
O mesmo sucesso registrado em Cascavel repetiu-se em Fortaleza. O método de só dar um passo à frente depois de estar solidamente implantado criou condições para que Genésio, em 1935, montasse seu armazém de estivas, na rua Conde d'Eu, 647. Passou a importar diversos tipos de produtos de outros Estados nordestinos e do Sul do país, como feijão, arroz e açúcar. O Almanaque do Ceará de 1941 já registaria a Genésio Queiroz & Cia. como uma das principais importadoras de cereais do Estado.
A partir desse ano, sua empresa figuraria sempre no almanaque cearense. Seu armazém prosperaria, principalmente durante a guerra, e já com a ajuda do filho Edson, na importação do açúcar, a ponto de Genésio ser reconhecido na cidade como o "Rei do Açúcar".
Detalhes do Almanaque do Ceará ; de 1941 com o registro Genésio Queiroz & Cia.
A Cascavel dos anos 30 tinha uma enorme extensão territorial ( 2.128 km2 ) se comparada a Fortaleza ( 377 km2 ), mas sua população urbana, menos de 15% do total, se distribuía em inúmeros povoados. De uma área urbana com menos de 2 mil habitantes, Edson se mudou para uma cidade que já tinha uma população de quase 180 mil pessoas, muito mais plena de recursos para que o pai multiplicasse as possibilidades de negócios, mas também para que o filho encontrasse formas de ir desenvolvendo seu talento comercial e viesse a contar com um "dinherinho" no bolso, ganho por ele próprio.
Desde cedo, a partir dos 8 ou 9 anos, Edson, nas horas de folga dos estudos, começou a ajudar o pai em serviços menores, como limpar a mercearia, fazer pequenas vendas ou entregas. Tinha 10 anos quando Genésio montou o armazém de estivas e o acompanhou também no novo negócio. Não se satisfazendo apenas em ajudar o pai, construiu, ele próprio, uma caixinha ambulante e vendia - furtivamente, porque o comércio miúdo seria censurável e humilhante na provinciana Fortaleza, para uma família socialmente bem situada - alfinetes, agulhas, grampos, fivelas, broches, cadarços de sapato etc. Nessa época, o menino guardava suas mercadorias debaixo da cama para que os pais não percebessem que ele mesmo ganhava o dinheiro para as balas ou para a matinê do Cine Majestic.
Dentro da caixinha, onde levava suas miudezas, ele também transportava fogos de artifício na época das festas juninas; canetas e lápis no início do período escolar; óculos e lança-perfume - liberado na época - durante os festejos de Momo.
Por volta de 1937, quando tinha 12 anos, Edson passou a fabricar os fogos de artifício que vendia. Em torno de 1939, um estrangeiro hospedado num hotel de Fortaleza lhe ensinou uma fórmula para fabricação de tinta de caneta, e ele começou também a vender suas tintas em diversos pontos da cidade.
Quando completou 15 anos, integrou-se completamente nos negócios do pai. Era encarregado de abrir o armazém às 6 horas da manhã, saía para frequentar o Liceu do Ceará, mas voltava e tinha que ficar nele até depois das 21 horas, para o fechamento do caixa. Rapidamente inteirou-se dos detalhes do negócio e, em pouco tempo, já revelava extrema lucidez para comprar e vender, sabendo selecionar os clientes. Edson Queiroz tinha apenas 15 anos quando o pai o nomeou gerente do armazém.
Insatisfação com o estudo formal
Desde cedo, a partir dos 8 ou 9 anos, Edson, nas horas de folga dos estudos, começou a ajudar o pai em serviços menores, como limpar a mercearia, fazer pequenas vendas ou entregas. Tinha 10 anos quando Genésio montou o armazém de estivas e o acompanhou também no novo negócio. Não se satisfazendo apenas em ajudar o pai, construiu, ele próprio, uma caixinha ambulante e vendia - furtivamente, porque o comércio miúdo seria censurável e humilhante na provinciana Fortaleza, para uma família socialmente bem situada - alfinetes, agulhas, grampos, fivelas, broches, cadarços de sapato etc. Nessa época, o menino guardava suas mercadorias debaixo da cama para que os pais não percebessem que ele mesmo ganhava o dinheiro para as balas ou para a matinê do Cine Majestic.
Dentro da caixinha, onde levava suas miudezas, ele também transportava fogos de artifício na época das festas juninas; canetas e lápis no início do período escolar; óculos e lança-perfume - liberado na época - durante os festejos de Momo.
Por volta de 1937, quando tinha 12 anos, Edson passou a fabricar os fogos de artifício que vendia. Em torno de 1939, um estrangeiro hospedado num hotel de Fortaleza lhe ensinou uma fórmula para fabricação de tinta de caneta, e ele começou também a vender suas tintas em diversos pontos da cidade.
Quando completou 15 anos, integrou-se completamente nos negócios do pai. Era encarregado de abrir o armazém às 6 horas da manhã, saía para frequentar o Liceu do Ceará, mas voltava e tinha que ficar nele até depois das 21 horas, para o fechamento do caixa. Rapidamente inteirou-se dos detalhes do negócio e, em pouco tempo, já revelava extrema lucidez para comprar e vender, sabendo selecionar os clientes. Edson Queiroz tinha apenas 15 anos quando o pai o nomeou gerente do armazém.
Colégio Cearense do Sagrado Coração, o primeiro em que Edson estudou em Fortaleza, em 1932
Insatisfação com o estudo formal
Quando a família chegou a Fortaleza, Edson foi matriculado no Colégio Cearense do Sagrado Coração, dirigido pelos irmãos maristas, eficazes professores, mas notórios por sua rigorosa disciplina. Após concluir o curso primário, foi transferido para o Seminário Arquidiocesano da Prainha.
Dona Cordélia queria que o filho seguisse a carreira religiosa, ordenando-se sacerdote. O reitor do seminário, padre Cabral, reconhecido em Fortaleza por sua grande cultura e agudez psicológica, foi quem alertou a mãe que o filho não tinha vocação religiosa, e que seria mais conveniente transferi-lo para outra escola, onde pudesse expandir sua sede de liberdade e seu espírito irrequieto. Edson estava no segundo ano quando passou a estudar no Liceu do Ceará, onde concluiria o ginásio.
Dona Cordélia queria que o filho seguisse a carreira religiosa, ordenando-se sacerdote. O reitor do seminário, padre Cabral, reconhecido em Fortaleza por sua grande cultura e agudez psicológica, foi quem alertou a mãe que o filho não tinha vocação religiosa, e que seria mais conveniente transferi-lo para outra escola, onde pudesse expandir sua sede de liberdade e seu espírito irrequieto. Edson estava no segundo ano quando passou a estudar no Liceu do Ceará, onde concluiria o ginásio.
O Seminário da prainha onde Edson ficaria dois anos.
Mais inclinado à ação que à teoria, e em constante dissonância com a férrea disciplina dos colégios da época, Edson Queiroz foi um estudante comum. Não se destacou em nenhuma matéria escolar. Em contrapartida, foi sempre um jovem curioso, em busca de novidades, de achados, descobertas. Preferia ficar conversando com pessoas experientes no mundo dos negócios a ficar horas trancado, fazendo as lições de casa. Assim a Genésio Queiroz & Cia. seria tão importante para sua formação quanto as escolas.
Liceu do Ceará onde Edson concluiria o ginásio.
Depois de várias tentativas de conclusão dos estudos, inclusive por correspondência, anos mais tarde acabaria se matriculando na Escola de Comércio Padre Champagnat, onde, em 1948, já casado e com vários negócios próprios, se diplomacia Contabilista. Na época, ainda não havia cursos de administração de empresas. No curso técnico de contabilidade ele encontraria as ferramentas que estava precisando para fundamentar sua ação de empresário em começo de carreira.
Pátio interno do Liceu do Ceará.
O jovem Edson aluno do Liceu.
Edson diplomado contabilista, em 1948.
Colação de grau na Escola Padre Champagnat.
Edson, aluno por correspondência.
Continua Aqui
Crédito: Livro Edson Queiroz: Um homem e seu tempo de Mario Ernesto Humberg, 1986.