Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Personalidades
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Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Os homenageados nas ruas da cidade - Heráclito Graça - Parte X

 

Heráclito de Alencastro Pereira da Graça (Heráclito Graça), era advogado, magistrado, jurista, político, jornalista e filólogo, nasceu em Icó, CE, em 18 de outubro de 1837.

Era filho do Conselheiro José Pereira da Graça, o Barão de Aracati, e de D. Maria Adelaide da Graça, e tio de Graça Aranha. Realizados os estudos primários e secundários, fez os preparatórios na cidade do Recife, onde se diplomou, em 1857, na Faculdade de Direito. Deixou, já como acadêmico, um rastro brilhante de sua extraordinária inteligência e dedicação aos estudos. Depois de formado, foi viver com a família no Maranhão, onde seu pai era desembargador. Exerceu a magistratura, começando como promotor de Justiça em São Luís. Findo o primeiro quadriênio, pediu demissão, consagrando-se à advocacia, à política e ao jornalismo.

Icó antigo. Acervo Clóvis Acário Maciel

Fez parte do Partido Conservador. Fundou A Situação, jornal em que defendeu as ideias do partido. Simultaneamente trabalhava num semanário literário que também tinha a colaboração de Joaquim Serra, Gentil Braga, Trajano Galvão e outros. Não só no jornalismo político, senão no literário, via-se nele o futuro mestre da língua, tal o cuidado e esmero com que escrevia e a paixão que tinha pelos estudos da Língua Portuguesa.

Maranhense adotivo, elegeu-o o Maranhão representante na Câmara da Província em duas legislaturas. Em 1868 foi eleito para a assembleia geral, legislatura 1869-1872; dissolvida esta, foi Presidente da Paraíba. Reeleito deputado para a legislatura 1872-1875, e para a seguinte, que também foi dissolvida; foi designado para presidir o Ceará em fins de 1874.

Hoje uma importante avenida de Fortaleza carrega seu nome.

Na Câmara, registrou-se a atuação que ele teve nos debates da reforma judiciária (1871), do recrutamento eleitoral (1875), da Lei do Ventre Livre. Na administração da Paraíba e do Ceará, exerceu o governo com correção e coerência a seus princípios. A probidade de caráter, a austeridade de suas medidas e a independência das atitudes o incompatibilizaram logo com as correntes políticas dominantes.

Avenida Heráclito Graça asfaltada depois de ter sido prolongada até a Avenida Barão de Studart. Registro de 1970. Crédito: Correio do Ceará/Acervo William Beuttenmuller

Foto ao lado:  "A avenida Heráclito Graça está totalmente mais segura, com placas de advertência com linguagem moderna e ampla sinalização luminosa, sem esquecer o gelo baiano que além de facilitar o tráfego, veio embelezar a avenida". Registro de 1972. Fonte: Gazeta de Notícias/Acervo William Beuttenmuller

Em 1877, voltou ao Rio de Janeiro, indo a princípio advogar em companhia de José de Alencar, de quem era grande amigo. Além de profundo conhecedor do vernáculo, era ainda jurista eminente, e, como tal, o Barão do Rio Branco convidou-o para advogado do Brasil nos tribunais arbitrais com o Peru e a Bolívia, sendo depois disso nomeado consultor jurídico do Ministério das Relações Exteriores, cargo que ocupava quando faleceu¹.

Avenida Heráclito Graça nº 400. O ano é 1970. Fonte: Tribuna do Ceará /Acervo William Beuttenmuller

Além de tantas atividades, era no estudo da língua que ele encontrava a maior satisfação, anotando pacientemente os clássicos e mais sistematicamente o Elucidário de Viterbo, ao fim do qual escreveu: “O Elucidário contém 6.143 vocábulos, foram acrescidos 7.457, perfazendo o total de 14.600.” Isso mostra o seu grande saber e capacidade de trabalho, e também a sua modéstia, pois era avesso à publicidade do que escrevia e realizava. Mesmo o único livro que publicou, resultou de circunstância especial.

Avenida Heráclito Graça nos anos 70. Na ocasião, ocorria o desfile da campanha de divulgação do café Wal-Can.

Logo que apareceram os três volumes das Lições práticas da Língua Portuguesa, de Cândido de Figueiredo, o filólogo Heráclito Graça publicou no Correio da Manhã, de 26 de fevereiro a 16 de novembro de 1903, sob a epígrafe Notações filológicas, uma série de artigos de refutação àquele mestre, esmiuçando, com clareza e logicidade admiráveis, os problemas linguísticos por ele tratados, não só nos mencionados artigos, mas ainda nos que publicou no Jornal do Comércio, sob o títuloO que se não deve dizer

"Avenida Heráclito Graça ainda com o gelo baiano dividindo a pista, Posto de combustível Shell, Orelhão da Teleceará, veículos da época (Fusca, Kombi, Belina I, Brasília) e Revenda da Volkswagem onde observamos no piso superior a grande sensação da época, o esportivo MP Lafer". O ano é 1976. Fonte: Correio do Ceará/Acervo William Beuttenmuller

Em 1904, reuniu em volume o que ele próprio chamou de meus pobres reparos a alguns pontos filológicos e vernáculos do Sr. Cândido de Figueiredo no livro intitulado Fatos da linguagem: esboço crítico de alguns assertos do Sr. Cândido de Figueiredo.

Segundo ocupante da cadeira 30, foi eleito em 30 de julho de 1906, na sucessão de Pedro Rabelo, e tomou posse por carta em 11 de julho de 1907.


¹Heráclito Graça faleceu a 16 de abril de 1914, no Rio de Janeiro, desempenhando de último as funções de Consultor Jurídico do Ministério das Relações Exteriores.


Leia também:




sábado, 10 de março de 2018

Os homenageados nas ruas da cidade - Carlos Severo de Souza Pereira - Parte IX



Carlos Severo de Souza Pereira era filho do tabelião Miguel Severo de Souza Pereira e de Cândida Julietta de Souza Pereira. Nasceu no dia 4 de Novembro de 1864 em Fortaleza. Estudou no Ateneu Cearense em 1874, e fez três preparatórios, os de português, francês e geografia, no Liceu Cearense em 1880. Escreveu para diversos jornais de Fortaleza e foi redator e proprietário de O Figarino, jornal caricato, por seis meses. No Estado do Amazonas colaborou no 'Amazonas'; no Pará no Diário de Noticias, e Democrata; em Lisboa, no Almanaque Luso Brasileiro, Anuário do Dr. Xavier Rodrigues Cordeiro e no Almanaque dos Pontos e Virgulas, do Porto

Dados da Revista da Academia Cearense de 1900.

Tendo o piano como seu instrumento predileto, para este compôs mentalmente e mandou escrever as peças musicais : —Mironi, schotisk. — Céu do norte, schotisk. —Cecy, valsa para banda marcial. —A lágrima doce, schotisek. —Muricy, schotisk. Na revista de Crisólito Gomes 'Da Capital ao Mucuripe' há um coro de pescadores no princípio do ato de música e letra suas, e na Revista Lopes Veiga & Cia, de Álvaro Martins, pertencem-lhe as músicas de um tango e um solo para soprano. Escreveu ainda um vaudeville para o Grêmio Taliense de Amadores, intitulado 'Os dois irmãos, em três atos, música de vários autores, e representado pelo mesmo Grêmio no Theatro Iracema com grande sucesso por duas vezes, uma a 18 e a outra a 23 de Março de 1899. Também são dele: Hotel do Salvador; O Mestre Paulo; São João na Roça; Macaquinho está no Ovo; As Vaias; A Chegada do General; Os Matamosquitos; Um Casamento no Matadouro e Os Irmãos da Bélgica.

Em 07 de setembro de 1910, fundou, juntamente com José Gil Amora, Otacílio Ferreira de Azevedo (Otacílio de Azevedo), Genuíno de Castro, Carlos Gondim, Luís de Castro, João Coelho Catunda, Francisco de Paula Aquiles, Josias de Castro Goiana (Josias Goiana) e outros, a Academia Rebarbativa ("agremiação de boêmia, de humorismo, de pilhéria e de blague") que teve vida efêmera. Interessante salientar que a agremiação foi criada em um dos bancos da Praça do Ferreira. rsrs

No livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo consta: "Morreu, com a idade de 62 anos, em Guaiuba, no dia 28 de dezembro de 1926, o médico, compositor, poeta, músico, teatrólogo e pintor Carlos Severo de Sousa Pereira, sendo ali sepultado. Nascera a 04/11/1864 em Fortaleza. Hoje é nome de rua no bairro Farias Brito."


Carlos Severo foi, sem dúvida, uma figura que ganhou projeção no Ceará como cenógrafo, musicista e comediógrafo, mas que também ficou conhecido por suas modinhas no meio boêmio. Não se considerava poeta, mas escrevia as letras e musicava ao piano. Porém, suas modinhas ficaram mais conhecidas quando tocadas ao violão nas serestas que ocorriam nas praças e botecos da cidade.


Carlos Severo viveu boa parte de sua vida no Rio de Janeiro e no Pará, compondo alguma de suas modinhas fora do Ceará. Porém, elas se tornaram populares em Fortaleza. Foram coletadas apenas cinco modinhas do compositor, porque todas as outras se perderam na tradição oral. No entanto, Edigar de Alencar acredita que ele deve ter composto mais de vinte, entre as quais paródias, gênero que Ramos Cotôco exercitava com facilidade. Carlos Severo costumava debochar do falso decoro da sociedade fortalezense. Isso fica ainda mais evidente nas suas várias peças teatrais de críticas de costumes. O aguçado senso crítico, misturado com a sátira e desdém, era a sua marca. O próprio Carlos Severo fazia a partitura de suas músicas. Seus gêneros preferidos, além da modinha, era a opereta, burleta e revista. Edigar de Alencar aponta que as modinhas que foram recolhidas e depois transcritas para o seu livro 'A modinha cearense' foi produto de um achado da filha do poeta, que encontrou em velhos cadernos essas raridades. Ele costumava escrever músicas com temáticas românticas, mas não de uma maneira triste e ingênua. Carlos Severo era espontâneo e genuíno, pois usava muita graça e malícia. Esse estilo de compor foi influência de seus companheiros Teixeirinha e, sobretudo Ramos Cotôco. Carlos Severo também apreciava o ofício de pintor e sua admiração por Ramos Cotôco também o ajudou a fazer cenografia. Por todo o seu talento artístico, hoje Carlos Severo é, merecidamente, nome de rua.

Observação:  A rua Carlos Severo é a antiga rua Santo Antônio.






Leia também:

Parte I
Parte II
Parte III


Fontes: 1001 Cearenses Notáveis - F. Silva Nobre, BOÊMIA E MODINHA SERESTEIRA EM FORTALEZA (1888-1920) de Ana Luiza Rios Martins, ALENCAR, Edigar. Fortaleza de ontem e anteontem. Fortaleza: UFC, 1984. p. 87, Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Edith Dinoah da Costa Braga - Rua Edite Braga


Edith Dinoah da Costa Braga nasceu na capital da Paraíba, em 8 de fevereiro de 1889, onde seu pai , Felismino Norberto Leite da Costa, era juiz municipal.

Formado em Direito em 1891, Felismino fora Promotor de Justiça de Pernambuco, seu estado natal, na cidade de Taquaritinga. Foi transferido depois para Ingá, na Paraíba, e daí para João Pessoa.

Constantes transferências ainda levariam sua família a várias cidades do interior cearense. Em 1900 estava chegando a Barbalha, para assumir o cargo de Juiz Substituto. Daí seguiria para Baturité, Quixeramobim, Maranguape e por fim Fortaleza, onde atingiria o cargo de Desembargador.

A esposa, Margarida Dinoah Costa, e os filhos Edith, Raul e Neuza o acompanhavam nas mudanças enquanto as obrigações escolares ainda estavam no nível elementar. Quando chegou a época de Edith, a mais velha se encaminhar numa etapa mais profissional, mãe e filhos vieram para Fortaleza. O pai ficou em Maranguape, mas todo fim de semana viajava para perto da família.



A dedicação de Edith aos estudos devia justificar qualquer sacrifício. Primeira da turma desde o exame de admissão, ao terminar o Curso Normal, na Escola Normal Pedro II, recebeu uma Cadeira Prêmio, honraria concedida às primeiras colocadas de cada turma.

O prêmio era ensinar para o curso primário, no Grupo José de Alencar. Tendo concluído o curso em 1916, Edith lecionou para crianças até 1922. Esta data marcou o início de uma verdadeira revolução educacional, tendo à frente a figura do professor Lourenço Filho, técnico em educação que viera do sul para implantar a Escola Nova.


Em 1923 Edith estava ensinando na Escola Normal, colaborando com o programa de Lourenço Filho. Havia casado com o comerciante Anastácio Braga Barroso* (Fazendeiro, proprietário de imóveis e afortunado comerciante, nascido a 25 de outubro de 1881, em São Pedro de Timbaúba, hoje Miraíma, falecido a 7 de outubro de 1972, em Fortaleza.) no ano anterior, a 30 de setembro, e recebeu de bom grado a indicação do professor para ser sua substituta. O casamento não foi obstáculo para sua ascensão profissional. Ele admirava muito seu desempenho intelectual.

Entre 1923 e 1933, Edith ensinou pedagogia, psicologia e didática na Escola Normal, para onde era levada pelo motorista da família. A psicologia que ela ensinava era experimental, diferente da psicologia racional que predominava. Edith era espírita.

No ano de 1933, as três cadeiras, que formavam um só bloco, foram divididas e postas em concursos. Edith pediu efetivação para pedagogia, mas não conseguiu. Inscreveu-se então "ex officio", porque tinha dez anos de interinidade, e preparou-se para enfrentar a memorável disputa.

O resultado do evento de maio de 1933 ainda consegue agitar o ânimo de pessoas que acompanharam os fatos. Um pano de fundo de influências políticas, religiosas e sociais transformou um simples concurso em tema de discussão, e conseguiu dividir os círculos intelectuais e culturais da cidade. 


De um lado os que apoiavam a professora, pessoa de reconhecidos méritos e valiosos contatos, e de outro os que queriam a vitória de seu concorrente, o competente Diretor da Instrução Pública, Dr. Joaquim Moreira de Sousa.

O Dr. Moreira de Sousa estivera no Rio de Janeiro até o dia 13 de janeiro, representando o Ceará na V Conferência de Educação. Edith, por sua vez, compunha a chapa do Partido Social Democrático, pela qual iria ser eleita suplente de Deputado Federal.

Em maio, no dia 22, "O Nordeste", jornal católico, avisa: "Às 15 horas de amanhã, no prédio da Escola Normal Pedro II, será realizada a prova escrita do concurso para provimento da Cadeira de Pedagogia". Além dos dois candidatos mencionados, estava também inscrito Heribaldo Dias da Costa.

A moderação do informe empalidece nos dias subsequentes, para dar lugar a uma ardorosa tomada de posição a favor de Moreira de Sousa. Diretor da Instrução Pública, cargo equivalente ao de Secretário de Educação, ele era o superior de Edith. A seu favor, a professora tinha a experiência didática que faltava ao concorrente, uma memória extraordinária e amizade com as pessoas do nível de Carneiro de Mendonça, interventor do Estado.

Estavam presentes todos os elementos que iriam compor o que "O Nordeste" chamou a 27 de maio, "o maior concurso do Ceará". No dia 24 o jornal divulga: "Esperado com grande ansiedade, realizou-se ontem o concurso para provimento da Cadeira de Pedagogia. Grande massa de professores, alunos, jornalistas e curiosos afluiu à Escola Normal, cujo salão teve que ser ampliado pela retirada das portas para conter a multidão". E conclui o anônimo redator: "A impressão sincera que tivemos foi que Dona Edith conseguiu realizar uma prova mais inteligente e erudita que a do Dr. Moreira."

A comissão examinadora era formada por professores de São Luís, Natal, João Pessoa e Recife, aptos a julgar as respostas dos três quesitos que compunham a primeira parte do concurso. Para o jornal, Edith conseguiu "uma síntese brilhante de muitos mestres modernos". Talvez um comentário malicioso sobre sua memória privilegiada, talvez uma expressão sincera de admiração. O fato é que a média de Edith foi 11,75, e a de Moreira de Sousa, 11,50.

A prova prática, segunda etapa do concurso, foi realizada no dia 25, às 9 da manhã, ainda na Escola Normal. Alunas pequenas faziam as vezes de uma turma verdadeira, a quem os dois candidatos deveriam ministrar sua aula. Edith estava tensa, o tom de voz abaixo do recomendado, parecendo insegura ao observador do "O Nordeste". Moreira de Sousa, ao contrário, demonstrou-se à vontade, "natural e amável", arrancando risos das alunas e da plateia.

O resultado causou protestos: a banca examinadora deu nota máxima à professora.


Para a última etapa, o Teatro José de Alencar parecia ser o único cenário capaz de conter a multidão de interessados. O padre Hélder Câmara, que substituía Moreira de Sousa à frente da Instrução Pública, manda avisar a Edith o local da última prova. "Nem que fosse no Coliseu de Roma," é sua resposta desafiante.

O ponto da aula era "Instituições Escolares, Instituições Pré-Escolares. Cursos Vocacionais e Profissionais". Um edital no jornal, assinado pela Diretoria da Instituição Pública, libera as professoras públicas para o comparecimento às preleções do dia seguinte. E até mesmo o Teatro se revelou pequeno para o grande número de curiosos.


"O Nordeste" afirma, no dia seguinte: "Foi o embate intelectual mais grandioso e empolgante a que o Ceará assistiu. A agitação era imensa. Palmas. Gritos. Delírio popular". Os candidatos entraram sob aplausos, cada um com seus partidários bem definidos. Moreira de Sousa foi interrompido várias vezes por incentivo da plateia. Edith manteve a calma, uma calma admirável principalmente por ser ela "uma senhora", como lembra o jornal, mais susceptível portanto às pressões da multidão.

Montesori, Pestalozzi, Blager e Flechsig foram citados por Edith, o que não impressiona o articulista: "Bastante aridez. Memorismo", são as acusações lacônicas. Moreira, ao contrário, teria empolgado a assistência que o aplaudiu longamente, levando o jornal a felicitar o povo cearense por sua capacidade de se entusiasmar com outros eventos além do futebol ou das corridas de cavalo.

As médias confirmaram a preferência do auditório: 11,50 para Edith e 12 para Moreira. Somados os números das etapas, o resultado causou agitação: os dois candidatos estavam empatados, com média final de 11,75.

Edith ganhou o concurso em maio de 1934 no Supremo Tribunal Federal. O último ato do Interventor Carneiro de Mendonça foi a nomeação de Edith. O argumento jurídico que pesou a favor de Edith foi sua experiência anterior de dez anos à frente da cadeira. O professor João Hipólito de Oliveira, membro do Instituto do Ceará, que trabalhava no "O Povo", lembra: "Ela surpreendeu nas provas, e enfrentou tudo com sobranceria".

Posteriormente, pesou sobre a professora a acusação de plágio, tudo por conta da sua memória admirável e que permitia citações enormes, com o nome do autor, da obra e a página.

Moreira de Sousa magoou-se profundamente com o resultado final do concurso. A 31 de julho de 1934 viajou para o Rio de Janeiro, onde se radicou definitivamente.

A cadeira de Pedagogia foi mais tarde dividida em Sociologia e História da Educação. Por ser catedrática, Edith pode escolher a que desejava, Sociologia, disciplina que ensinou até o fim. Chegou a ser Diretora da Escola Normal, substituindo por algum tempo o professor João Hipólito de Azevedo e Sá, que foi Diretor por mais de 30 anos.

Em 1934 foi eleita suplente de Deputado Federal pelo PSD. Seu nome aparece aqui e ali nas cronologias da década de 1930, o mais das vezes em atividades sociais.

Numa quarta-feira, no final do semestre letivo, ela não foi dar aula como fazia todas as manhãs. Na quinta estava de cama e no domingo faleceu. O dia era 25 de junho de 1950, e deixava a imagem de uma educadora ativa, que durante 35 anos se dedicara ao ensino e a Escola Normal.

Sobre esse fato, o Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza diz:

"Em 25 de junho de 1950, morre em Fortaleza, aos 51 anos de idade, a política e educadora Edith Dinoá da Costa Braga (Edite Braga), professora de teologia."

Homenagens em Fortaleza:

Hoje, Edith Braga é nome de rua no Jardim América, Bom Futuro e Montese, em Fortaleza. 
"Infelizmente as placas colocadas na rua que tem o seu nome, trazem erradamente "Rua Édite Braga".  Nirez






 24 de setembro de 1954 - A Lei municipal nº 806, denomina de Rua Edite Braga uma via de Fortaleza, proposta do vereador Pedro Paulo Moreira Oliveira, homenagem à educadora Edith Dinoá da Costa Braga, falecida há quatro anos.
 30 de janeiro de 1955 - Inaugurado, no Campo de Aviação, hoje Aerolândia, o Grupo Escolar D. Edite Braga, pela Prefeitura Municipal de Fortaleza. Hoje denomina-se Escola de Ensino Fundamental Edite Braga, na Rua Capitão Vasconcelos nº 1.061.



O casal teve uma filha: Maria Ebe Braga Frota, nascida a 10 de julho de 1925, em Fortaleza.
Assim como a mãe, Ebe foi professora. Aposentada, com reconhecidos méritos, do Colégio Estadual Justiniano Serpa e do Colégio Municipal Filgueira Lima, ambos de Fortaleza, onde ela lecionou História, Filosofia da Educação, Filosofia Geral, Sociologia e Psicologia.


Fonte: "A História do Ceará passa por esta rua" - Volume II de Ângela Barros Leal, Multigraf Editora/Fundação Demócrito Rocha, Fortaleza, 1993., O Nordeste.com, Portal da História do Ceará de Gildácio Sá, Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo, Geocities.ws (Contato: familiadinoa@hotmail.com) e Biblioteca Nacional.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Fortaleza antiga - Assassinato de José Nogueira


Em 1914, não havia no Ceará quem não conhecesse o Instituto de Humanidades, do Professor
Joaquim Nogueira
. Capaz de rivalizar com outros importantes centros educacionais da região, como o Liceu do Ceará, a Escola Normal ou o Ginásio São Luiz, o Instituto tinha como característica mais marcante a engenhosidade de seu diretor em criar novos métodos de aprendizagem. Assim, dificilmente deve ter havido alguém no Ceará que não tivesse ouvido falar da dor de Joaquim ao perder seu único filho, José de Mendonça Nogueira, assassinado aos 22 anos.

Joaquim Nogueira conheceu um desespero só externado
em outras grandes tragédias. Um sofrimento sem medidas, sem limites e sem pudores, tendo como cenário a paisagem urbana de uma cidade em crescimento. Uma tristeza acima de qualquer palavra, e que no entanto começou e teve fim exatamente pela força das palavras,
quando Sixto Bivar, num final de outubro, acusou José de ser filho de um ladrão.




Instituto de Humanidades do Professor Joaquim Nogueira

A discussão não vinha daquele dia. Há muito estava se desenrolando uma carga desagradável de denúncias contra a Tipografia Escolar, da propriedade de José Nogueira, por parte da Firma Comercial H. Barroso, da qual Sixto era representante. A divida, no valor de 200 mil réis, se referia a despesas que teriam sido efetuadas em 1912, apresentando contas vencidas e não pagas. O professor Joaquim só veio a tomar conhecimento do fato no dia em que o filho foi parar na Delegacia de Policia, vítima de uma tentativa de agressão por parte de Sixto.


Cortejo até o cemitério pela então rua das Flores (Castro e Silva).
 Revista Fon Fon e Acervo Lucas

A Delegacia ficava na Praça do Ferreira, próxima ao Café Java, centro de concentração econômica, cultural e popular da cidade. “- O que há?" - perguntou Joaquim Nogueira ao filho, que estava calmamente sentado num sofá, alvo direto dos olhares da multidão curiosa. 


Conforme reconstituição minuciosa dos diálogos, relembrados no livro que fez publicar em maio de 1915, o filho tentou iniciar um relatório detalhado que o pai cortou com brusquidão:
Não quero rodeios. Diga a verdade”.

Multidão acompanha o cortejo fúnebre até o Cemitério São João Batista. 
Revista Fon Fon e Acervo Lucas

Chegada ao cemitério. Revista Fon Fon
A história não era muito longa, e envolvia exatamente uma questão iniciada seis ou sete dias atrás, na Libro-Papelaria Bivar. Sixto Bivar havia protelado para dezembro um pagamento devido a José, amparado numa pretensa divida assumida e não paga por Joaquim Nogueira.

Sixto não havia sido nada gentil. Chamara José de “tapado”, o pai de “gatuno”, e o rapaz só não o agredira graças à intervenção de uma terceira pessoa, presente à discussão. Talvez uma semana houvesse se passado até aquele encontro casual entre os dois, numa tarde quente do dia 28 de outubro, em que José aproveitara para tentar tirar a limpo a acusação.
“-Sixto, você me deve uma satisfação pela injúria que atirou a meu pai”, teriam sido suas palavras. “- A satisfação é essa”, respondeu Sixto, sacando um revólver do bolso e apontando-o para um mais que surpreso José, que no entanto ainda teve presença de espirito para agarrar-se a seu agressor, dar-lhe uns tapas e desviar a arma para o outro lado.

Cemitério lotado. Revista Fon Fon

Os pais visitando o túmulo do filho em 1916. Revista O Malho. Acervo Lucas

“- Um revólver! ”, gemeu o pai espantado, custando a crer que uma discussão sem base tivesse posto em risco a vida de seu único e muito amado filho. Para desassossego de Joaquim, o filho foi liberado juntamente com seu agressor, já que eram, no dizer do escrivão Olegário“dois rapazes de família”. As preocupações de Joaquim Nogueira foram de ordem prática: levar o filho de volta a casa e conseguir o mais rápido possível um advogado que o assistisse num processo contra Sixto Bivar.




Salão do Clube dos Diários frequentado por José Nogueira

Com a tranquilidade da juventude, José não parecia muito preocupado com o fato. Naquela noite, apesar de ser o aniversário do pai, não tinha razões para ficar em casa. Havia primeiro o ensaio do Grupo Dramático João Caetano, ao qual pertencia há algum tempo, e mais tarde a festa promovida pelo Clube dos Diários, que no dia 19 completara seu primeiro ano de funcionamento.


E na calçada do Clube dos Diários, no “sereno” de uma festa que não chegou a terminar...

O pai, ao contrário, estava bastante aflito. Mas preferiu ignorar os apelos da esposa, Olivia de Mendonça Nogueira, que queria ver o filho longe da cidade o mais rápido possível. Dentro de casa, de volta a um ambiente de normalidade, a crise emocional que agitou a família foi rapidamente resolvida. José tranquilizou os pais e saiu. Joaquim tomou o bonde disposto a percorrer praças, avenidas, cinemas e cafés à procura de seu amigo Raimundo Ribeiro, advogado, para resolver de vez a questão. Apesar de apreensiva Olivia foi à casa de sua vizinha, discutir os acontecimentos do dia.


Dia de Finados - Comissão do Clube dos Diários (à esq.) e do grupo dramático João Caetano (à dir.), prestam homenagem em frente ao túmulo. Revista Fon Fon

Ela foi a primeira a se inteirar que algo de muito errado estava prestes a ocorrer. Um pouco depois das 8 e meia da noite, Sixto Bivar cruza a calçada onde ela se encontrava conversando com a amiga, e dirige-se à porta aberta da casa de Joaquim. Um bico de gás incandescente, aceso na sala, recorta a silhueta tensa do inimigo de seu filho. Olivia ergue-se, sem escutar os gritos da amiga preocupada com sua segurança. Com a mesma rapidez com que apareceu Sixto sumiu, aproveitando a escuridão da estreita passagem que ligava a rua à Praça dos Voluntários. Olivia deu a volta no quarteirão, pelas ruas do Rosário e Pedro Borges, e não avistou mais o vulto temido. Pensa em levar o caso ao Posto de Polícia, mas teme o ridículo de estar fazendo um drama de um fato sem grande significado. Um pouco mais tarde resolve recolher-se para dormir, mas não antes da aproximação de dois meninos, em desabalada carreira, à procura de Joaquim Nogueira para uma conversa particular. A esta hora, seu filho já estava morto. 


Praça dos Voluntários

Joaquim, por sua vez, esperava o bonde numa esquina da Praça, para voltar para casa, quando percebeu que muitas pessoas o cercavam com curiosidade. A noticia da morte correra veloz, mas foi preciso um guarda civil chegar até ele e disparar à queima-roupa as palavras que nenhum pai deveria ouvir: 
 Mataram seu filho.

Todo este longo e doloroso relato foi escrito pelo próprio punho do professor, e publicado no jornal "Folha do Povo" a 15 de dezembro de 1914. Encarando de frente a morte do filho, Joaquim Nogueira mergulhou fundo na análise dos fatos, procurando as razões para um gesto
tão sem sentido. No dia de seus 48 anos, ele e a esposa ficaram de repente privados do único filho que tiveram, daquele em quem depositavam tantas esperanças e tanto afeto. O imenso desespero sentido foi canalizado para um movimento solitário de deixar sempre viva a imagem do filho, o que se concretizou na publicação de um emocionante livro dedicado ao rapaz.

Prometia muito, o jovem José. Desde pequeno, com seu traje de marinheiro, sabia manter a mesma expressão concentrada das fotografias posteriores, braços e pernas disciplinados ao comando do retratista de sua infância. Com 12 anos José prestava serviços de aluno auxiliar no internato do Instituto de Humanidades, mantido pelo pai.




Foto ao lado: Jornal Nortista de 1914

Aos 18 já era proprietário da Tipografia Escolar, um presente paterno de enorme responsabilidade, que complementava com a representação das mais vendidas revistas nacionais e estrangeiras do tempo.
Fon-Fon, O Malho, Careta, Revista da Semana, O Tico-Tico, Ilustração Brasileira, as delícias dos leitores brasileiros, chegavam todas ao Ceará pelas mãos interessadas de José Nogueira.

O teatro, através do Grupo Dramático João Caetano, centralizava o interesse de José na arte da representação. E a fotografia, uma curiosidade de grande penetração, era também outro foco a atrair a atenção do incansável José, que desde os 15 anos empregava no aperfeiçoamento desta arte muitas horas de lazer, fazendo do próprio rosto o modelo para novas experiências com ângulos e luzes.

Hermann Lima o conheceu por volta de 1913, na Fotografia Olsen, e o chama de “primeiro amigo" num capitulo das memórias “Poeira do Tempo" (José Olympio, 1967): 

“Rapaz de simpatia fascinante, pouco mais do que adolescente, vivo, alegre, espirituoso, duma beleza viril e duma elegância fácil, a que as boas roupas de casimira inglesa acentuavam o charme natural, José Nogueira era um príncipe encantado”.

Assim o escritor se referia a ele, numa admiração não reduzida pela passagem do tempo. “Era adorado pelas moças, do mesmo passo que amigo de quase todos os rapazes da alta roda, que ele frequentava como sócio dos melhores clubes da terra: o Iracema e os Diários”.

E na calçada do Clube dos Diários, no “sereno” de uma festa que não chegou a terminar, deu-se o encontro entre os dois rapazes. Seis tiros selaram a sorte de José, ensanguentando sua camisa, manchando o chão de pedra, sua queda repercutindo no Brasil e em todos os lugares onde o pai conservava amigos.

A noticia do crime foi publicada nos jornais de Fortaleza, em revistas no Aracati, publicações de Sobral e Baturité, atravessou o Estado rumo ao Sul para chegar ao Rio Grande do Norte, Paraíba, PernambucoAlagoas, chegou à Bahia, Espirito Santo, às revistas cariocas que representava. Foi noticiada em Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Para o Norte, a morte de José foi lamentada no MaranhãoPiaui, Belém, Território do Acre, e atingiu Portugal, Espanha, FrançaItália, Honduras, Venezuela, Argentina e Uruguai.



De todos os lugares vieram telegramas, cartas e cartões de pêsames, no papel tarjado de negro exigido pela etiqueta da dor. Desde o dia seguinte ao crime, 29 de outubro, até o mês de janeiro, a correspondência do luto foi incessante. Enviaram seus sentimentos amigos como Francisca Clotilde, Ana Facó, Carlos Câmara, Rodolfo Teófilo, Júlia VasconcelosBeni Carvalho, Padre Bruno Figueiredo - mais tarde Monsenhor Bruno -, Antônio Bezerra, Alba Valdez, Antônio Sales, Dolor Barreira, Cruz FilhoBarão de Studart.

No dia do sepultamento assinaram o livro de presença 1.297 pessoas, um imenso cortejo enlutado, repartindo com os pais a perda do filho, numa cerimônia dolorosa que parou a cidade. Com tudo isto, Joaquim Nogueira não conseguiu a condenação do assassino de José.
Talvez o fato do patrão de Sixto, Hermínio Barroso, ser no momento Secretário da Fazenda, e mais tarde Secretário do interior, tenha pesado de alguma forma para o veredito emitido pelo júri no dia 9 de março de 1915. Pelo menos esta era a justa suposição de um pai revoltado, descrita explicitamente em publicações posteriores.

José de Mendonça Nogueira passou a ser parte da história do Ceará, graças ao incansável esforço de seu pai na busca de uma justiça que não o atendeu.


Fonte: A História do Ceará passa por esta rua. Vol. II de  Ângela Barros Leal, Biblioteca Nacional e pesquisas diversas.

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