Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Porangabussu
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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sábado, 2 de outubro de 2021

Mulheres da borracha – Núcleo do Porangabussu

Composição com recortes fotográficos. Foto Aba-Film, Fortaleza, 1943.
Foto: Acervo MAUC - UFC.

“Fumar e chorar eram os meus únicos confortos desde que você foi embora”

Era assim que D. Elcídia Galvão se queixava em carta escrita ao marido, soldado da borracha, sobre a proibição de fumar imposta no Núcleo de Famílias do Porangabussu (atual Rodolfo Teófilo).

Os milhares de trabalhadores nordestinos recrutados para trabalhar na região amazônica na extração da borracha, em 1943, assinaram um contrato de encaminhamento. Neste, eles poderiam optar pela assistência que o Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia, SEMTA, oferecia para suas famílias que ficavam no nordeste. Muitas mulheres e filhos desses trabalhadores permaneceram em hospedarias improvisadas, chamadas de “Núcleos” esperando o momento em que iriam novamente reunir suas famílias, como foi o caso do Núcleo de Famílias do Porangabussu.

Sede do SEMTA, Foto Aba-Film, Fortaleza, 1943.
Foto: Acervo MAUC - UFC.

Longe dos maridos, entre pessoas estranhas e tendo que seguir normas específicas, estas mulheres escreveram cartas a seus esposos. Cartas contando sobre angústias sofridas, revelando saudades e desejos, pressionando o retorno dos seus maridos e com várias queixas, como é o caso da carta de D. Elcídia, a qual denuncia a proibição de fumo dentro do núcleo, feita pelo médico responsável e a perda de um de seus únicos consolos.

Cine Diogo. Foto Aba-Film, Fortaleza, 1943.
Foto: Acervo MAUC - UFC.

O Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia - Semta foi um órgão brasileiro criado em 1943, como parte dos Acordos de Washington, tinha como finalidade principal o alistamento compulsório, treinamento e transporte de nordestinos para a extração da borracha na Amazônia, com o intuito de fornecer matéria-prima para os aliados da II Guerra Mundial.

O Semta fazia parte do Departamento Nacional de Imigração (DNI), do governo de Getúlio Vargas. Era financiado por um fundo especial da Rubber Development Corporation, um fundo criado com o selamento dos Acordos de Washington.

Cine Diogo. Foto Aba-Film, Fortaleza, 1943.
Foto: Acervo MAUC - UFC.

Tinha como objetivo principal o recrutamento, encaminhamento, colocação e à assistência de trabalhadores (e famílias destes) nos seringais da região Amazônica.

Sediado no nordeste, em Fortaleza, funcionou no Palácio do Comércio a sua sede administrativa. Já os campos de alojamento ficavam no Prado (atualmente Benfica) e no Alagadiço (atualmente São Gerardo). 

Já para as mulheres e famílias dos homens casados, existia um alojamento que ficava no Porangabussu, local da construção do antigo Hospital das Clínicas, hoje Hospital Universitário Walter Cantídio.

Cine Diogo. Foto Aba-Film, Fortaleza, 1943.
Foto: Acervo MAUC - UFC.

O Ceará foi escolhido como centro operacional deste serviço por diversas razões. Entre elas: A safra agrícola cearense de 1942/43 estava perdida devida a seca de 1942/43.

O governo Vargas e o governo estadual temiam manifestações em massa da população do interior cearense, como a Invasão de Flagelados na seca de 1915, ou o movimento político-social-religioso do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto da década de 30, bem como a reimplantação da trágica estratégia dos Campos de Concentração no Ceará (mais conhecidos como Os Currais do Governo) de 1932/1933.

Praça José de Alencar - Saída de um comboio para Amazonas em 1943. Acervo Ivan Gondim

Os cearenses se adaptariam melhor com a população local do Norte e com os índios, pelo fato de um grande contingente de cearenses já havia imigrado para a Amazônia no Primeiro Ciclo Econômico da Borracha (final do século XIX e começo do século XX), e o fato de que a população cearense teve quase nada da influência da cultura da escravidão (diga-se, racialismo integralista que via nos mamelucos do interior cearense maiores similaridades com os mamelucos e nativos da Amazônia ocidental, ao contrário de outros lugares do Nordeste e mesmo do Sudeste também).

Os soldados da borracha ao lado do Teatro José de Alencar. Assis Lima

Segundo o historiador Frederico de Castro Neves, tudo parece crer que a política de migração para o Norte foi uma estratégia governamental para desafogar os equipamentos urbanos da enorme pressão exercida pelos milhares de retirantes sem teto, sem alimento, sem saúde. Nesse aspecto, a migração se mostrava como uma forma de apaziguar os problemas causados pela seca no Nordeste, além de se constituir como outra forma de exploração da mão-de-obra retirante.

Dessa forma, para recrutar mão-de-obra e transportá-la para os seringais, a CME institui o SEMTA. Ele não estava ligado diretamente nem ao Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio nem ao Ministério da Agricultura, funcionou durante 12 meses, dirigido por Paulo Assis Ribeiro, engenheiro e geógrafo, e em 14 de setembro de 1943 foi substituído pelo CAETA (Comissão Administrativa de Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia).


Caminhões do SEMTA estacionados na Praça José de Alencar em 1943. Detalhe para a Igreja do Patrocínio e o antigo edifício da Fênix Caixeiral. Arquivo Assis.

Experiências de migração entre o Nordeste e Norte podem ser bastante observadas mesmo antes da Segunda Guerra Mundial. Porém, o SEMTA era um serviço especial sob o formato administrativo do Estado Novo inaugura um novo discurso de migração, a mobilização dos trabalhadores para outro front da guerra, os seringais.

Continua...


Fonte: Rodolfo Teófilo/Leila Nobre - Fortaleza: Secultfor, 2016. (Coleção Pajeú)


sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Mudança nos nomes dos bairros


O crescimento urbano gerou a substituição dos antigos nomes dos bairros por denominações mais modernas e atuais

No rol das confusões entre os bairros, a memória e a modernidade travam uma luta diária. Enquanto as novas gerações conhecem nomes como Antônio Bezerra, Aldeota, Meireles, Bairro de Fátima, Castelão e Messejana, moradores mais antigos lembram do Outeiro, do Lagamar, da Praia do Peixe, da Estância e do Mata Galinha. Mesmo com os nomes antigos em desuso, a simples lembrança é significativa para a identificação da população com o bairro.


Bairro Aldeota em 1973 - Foto de Nelson Bezerra

O memorialista Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez, foi testemunha da mudança de nome de muitos bairros e também do desaparecimento de alguns deles por conta do crescimento de outros. O Porangabussu virou Rodolfo Teófilo, o Coqueirinho e o Campo do Pio se tornaram Parquelândia; o Outeiro passou a ser Aldeota; a Pirocaia ganhou o nome de Montese, etc. 

Nirez lembra de bairros que praticamente desapareceram do mapa da cidade, ou melhor, cujos nomes dificilmente se escuta hoje em dia. A Vila Monteiro, por exemplo, foi incorporada ao Joaquim Távora, o mesmo aconteceu com a vizinha Vila Zoraide. O bairro Tauape é outro exemplo, conta o memorialista. Identificado com a Lagoa do Tauape, no momento em que o manancial foi aterrado para a construção do canal do Jardim América, o nome do bairro praticamente desapareceu junto com as águas.

Foto ao lado do Bairro Meireles - Travessa Acaraú (Vila Bancária) em 1967. Foto de Cláudio Santos

Outro fato interessante relembrado pelo pesquisador é o caso da Piedade, bairro que nunca existiu. “As pessoas chamavam o bairro de Piedade por causa da igreja da Piedade, mas ele não existia”, lembra. Os casos são muitos, assim como as denominações. “Alguns nomes sobrevivem pela força da tradição, do poder político, outros não”, reflete a Dra. em Ciências Sociais Marinina Gruska Benevides
A nomenclatura de um bairro não é apenas uma questão estética, explica a professora. O nome que é dado a uma unidade urbana é resultado de um momento histórico e da organização da sociedade nesse dado período.

Portanto, por trás da mudança de nome de um bairro há vários fatores, como interesses sociais e políticos. Marinina Gruska observa que, anteriormente, as denominações das unidades da cidade eram escolhidas a partir de nomes da fauna e flora regionais (Coqueirinho - atual Parquelândia); das atividades econômicas que caracterizavam uma dada região (Brasil Oiticica, atual Carlito Pamplona); da tradição indígena (Pirocaia - hoje Montese) e também pelos marcos de sociabilidade da área (Açude João Lopes - hoje Monte Castelo).


Bairro  Monte Castelo em 1993

Esses nomes, continua a professora, refletiam a perspectiva histórica de uma sociedade coletivista. Com a modernidade e a ascensão dos valores individualistas, as nomenclaturas foram substituídas por nomes de personalidades, pessoas que tiveram importância para o bairro, indivíduos de poder e influência política ou que desempenharam um papel representativo na sociedade.

Assim, vemos surgir bairros como Edson Queiroz (industrial), Antônio Bezerra (escritor), Farias Brito (filósofo), etc. A professora explica que, para além das homenagens, a troca do nome de um bairro reflete uma relação política. “Apagando o nome de um bairro você apaga a memória de um povo que não se quer lembrar por diversos motivos”, reflete. Por outro lado, a ideia da mudança das denominações dos espaços da cidade são anunciadas como traços da modernidade.


Bairro Edson Queiroz em 1981 - Acervo O Povo

É o caso, por exemplo, do bairro Aeroporto. Localizado em uma área que até os anos 60 era conhecida apenas por Vila União, com a chegada do equipamento, o local passou a ser chamada de Bairro do Aeroporto. No entanto, com a transferência do terminal de passageiros para outro lugar, o nome Aeroporto praticamente caiu em desuso e a Vila União voltou a ser referência na cidade.

Consenso

Para a presidente da Federação de Bairros e Favelas, Gorete Fernandes, a mudança, seja do nome de uma rua ou bairro, não pode ser feita à revelia da população. “Tem que partir do debate, do desejo da população, precisa haver discussão”, afirma.

Ela explica que as trocas sem o consentimento da população geram problemas na entrega de correspondências e podem promover o distanciamento da comunidade. Para que a mudança seja democrática, Gorete Fernandes observa que é necessária a realização de audiências públicas e a coleta de um abaixo-assinado, que deve conter, no mínimo, 50% de assinaturas dos moradores.

Foi assim que se deu a denominação do atual Planalto Ayrton Senna. A comunidade, formada a partir de ocupações de terras, era conhecida como Pantanal. Em 2001, a população se organizou e votou pela escolha do nome atual do local. A troca foi uma forma de quebrar o estigma de violência e pobreza que a área carregava perante os outros moradores da cidade.

Benfica e Jacarecanga resistem às mudanças



Antigo Cartão Postal do bairro Benfica no início do Seculo XX.
Crédito: Carlos Augusto Rocha Cruz

Muitos bairros da cidade foram atingidos pela síndrome da mudança de nome, mas alguns deles, os mais tradicionais, permaneceram com a mesma nomenclatura ao longo dos anos, em uma demonstração de resistência simbólica. O Benfica e o Jacarecanga são exemplos de permanência. Bairros residenciais, durante muito tempo foram habitados pela classe dominante da Capital. No Jacarecanga, as chácaras e palacetes das famílias abastadas eram edificadas a partir das tendências arquitetônicas européias. Um dos exemplos disso, era a casa do intelectual Thomaz Pompeu Sobrinho, inspirada na arquitetura italiana. No entanto, a partir de 1930, com a chegada das fábricas ao bairro, essas famílias se mudaram para o lado leste da cidade e o Jacarecanga entrou em decadência. Apesar da impiedade do tempo, ainda é possível encontrar prédios que mantêm a estrutura original e relembram o tempo de opulência do bairro. Já o Benfica, corredor cultural que abriga o Campus de Humanidades da UFC, ainda guarda o tom residencial e tem como principal ícone de seus tempos áureos o prédio que hoje abriga a Reitoria da UFC, a mansão que pertenceu à família Gentil.



Bairro do Jacarecanga em 1972

Planejamento urbano

No século XIX, o Centro era o núcleo comercial e habitacional da cidade. Com o passar do tempo, ele começou a inchar e as pessoas a buscar outros espaços com maior qualidade de vida. A população, então, migrou para os sítios e áreas mais distantes em que encontravam atrativos como vegetação, mas também vias e um mínimo de infra-estrutura.

Nas décadas de 1920 a 1950, surge o fenômeno das unidades de vizinhança, que eram círculos urbanos vizinhos ao Centro. A expansão dessas áreas acaba gerando o conceito de polarização, que corresponde ao crescimento de uma unidade em relação a outra.



Bairro do Centro no início dos anos 60

Na década de 1960, observamos o desenvolvimento das policentralidades , quando o Centro não é mais o coração da cidade e as unidades de vizinhança ficam independentes. Em Fortaleza, esse processo está associado à facilidade de transporte e à mobilidade da população.

Com a policentralidade, cada bairro passa a ter uso e atrativo diferentes para a população. O planejamento urbano tem o papel exatamente de gerir esse crescimento dos bairros. O planejamento tem que zelar para que os bairros cresçam de uma forma homogênea.

Se essas ferramentas de controle urbano não forem eficazes, os bairros acabam crescendo de forma desordenada e ganhando grandes proporções.

A policentralidade é um fenômeno natural que ocorre com intensidade nos países em desenvolvimento, onde o planejamento urbano é complexo. Temos que ter noção de que o planejamento e ordenamento da cidade não é uma responsabilidade apenas do poder público, mas também da sociedade civil, afinal, somos todos agentes desse espaço urbano.


Naiana Rodrigues


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Crédito: Diário do Nordeste

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A tranquilidade do Rodolfo Teófilo - Antigo Porangabussu


No dia 29 de Julho de 1966 o bairro Porangabussu recebe nova denominação: Rodolfo Teófilo. Conforme a lei de nº 3.249, de 28/07/1966.
Faz limites com Amadeu Furtado, Parque Araxá e Bela Vista.

Rodolfo Teófilo abriga a escola da Universidade Federal do Ceará (UFC), da medicina e do hospital. Conta ainda com várias instituições médicas, o Centro de Hemoterapia do estado (Hemoce) e o Incra, os dois últimos localizados na principal avenida do bairro, a José Bastos.

Estamos em 1960, em frente ao antigo Hospital das Clínicas, no Rodolfo Teófilo.

O bairro chamava-se Porangabussu, por causa da lagoa, mas, há 45 anos, recebeu o nome de Rodolfo Teófilo¹, em homenagem ao sanitarista homônimo. Ele empreendeu, sem apoio governamental, uma campanha de vacinação para extinguir uma epidemia de varíola que se alastrava em Fortaleza.

Casa da família Pinheiro Machado no antigo Bairro Porangabussu - Rodolfo Teófilo, no ano de 1966, rua Frei Marcelino, 1788. Acervo Adriano Machado

Ainda hoje, o bairro preserva traços antigos. Por exemplo, a prática de sentar na calçada, que permanece bastante forte no Rodolfo Teófilo. Prova disso é que, todos os dias, no fim da tarde, aposentados reúnem-se na calçada do senhor Moisés Maranhão, na Rua Frei Marcelino, número 1.410, para jogar dama. Apesar de a brincadeira ocorrer religiosamente a partir das 16h, o grupo garante que o jogo não é apostado.

Grupo Escolar Antônio Sales no Rodolfo Teófilo, em 1964.
Revista Manchete. Acervo William Beuttenmuller

Colégio Redentorista na rua Delmiro de Farias, 900, no bairro Rodolfo Teófilo.

De acordo com a comunidade, são poucos os casos de violência. Os moradores dizem gostar da tranquilidade reinante
"Eu nasci, casei, tive meus filhos, netos, bisnetos, tudo no Rodolfo Teófilo. Esse bairro representa tudo na minha vida. Nunca vou esquecer quando fugi com o meu esposo por aquela esquina. Hoje, nós estamos fazendo 49 anos de casados", lembra, com alegria, a operadora de máquinas Margarida Maria da Silva de Oliveira, de 65 anos.

Alunos na rua Francisca Clotilde do bairro Rodolfo Teófilo, da extinta Escola N.S. do Perpétuo Socorro. Anos70. Acervo Liandro Fiúza

 

Ela conta que a tranquila vida no bairro gira em torno da Lagoa de Porangabuçu, da Igreja São Raimundo e da Praça Novo Ideal, considerada, pelos moradores, o "coração" do bairro. É justamente essa praça um dos principais espaços de lazer do Rodolfo Teófilo. Lá, crianças, jovens e adultos brincam livremente, passeiam de bicicleta, jogam bola ou simplesmente jogam conversa fora.




De manhã cedo e no fim da tarde, o local é tomado por pessoas que fazem caminhada. É lá também onde funciona, às terças-feiras, entre as ruas Frei Marcelino e Gustavo Braga, a Feira do Rodolfo Teófilo, existente, segundo relato de populares, há mais de 50 anos.


 

De um universo de 18.839 habitantes, grande parte nasceu e se criou no local. Hoje, apesar do problema das drogas, o bairro é considerado tranquilo, sem muita violência. Tanto que, entre os moradores, um sentimento é bastante claro: são todos apaixonados pelo ambiente em que vivem. "Desde 1948, moro aqui. Não troco o Rodolfo Teófilo por nenhuma Aldeota. Aqui tem tudo: igreja, supermercado, feira livre etc", elogia o aposentado Francisco Ferreira, de 80 anos de idade, que chegou ao bairro aos 18.

Quem também conhece bem o Rodolfo Teófilo é o artesão Luís Gonzaga Lima Paes, de 59 anos. "Nasci aqui. Sou do tempo em que a gente tomava a bênção do padre, podia vê-lo as vezes que fosse", lembra o morador. "Seu" Luís conta que, antes, a Lagoa de Porangabuçu era bem maior, mas com o tempo, devido à expansão urbana, acabou tornando-se pequena.


Descontração

É a Lagoa de Porangabuçu a maior beleza natural do bairro. O local atrai, inclusive, pessoas de outras partes da Cidade que vão em busca de fazer caminhada, passear ou até mesmo arriscar uma pescaria. É o caso de um grupo de três amigos do Panamericano que, pelo menos duas vezes por semana, vai à lagoa em busca de lazer, descontração e descanso.

"A gente vem só para brincar, para desopilar. A lagoa é rasa e os peixes são pequenos. A gente vem mais pelo verme", reconhece um deles, o maquinista Henrique Chaves, de 44 anos. Logo atrás, na água, um amontoado de peixes fica na espreita, à espera de um momento para "atacar". O comerciário Francisco Acácio, de 57 anos, morador há 25 anos do Rodolfo Teófilo, vai, todo fim de tarde, passear com os netos na lagoa.

"Aqui, há uns 10 anos, ninguém via nada, era só mata e marginalidade. Agora, depois que a lagoa foi urbanizada, ficou bonita demais", elogia. Contudo, ele reclama que falta manutenção. "As pessoas não têm consciência, jogam lixo na lagoa. Deveriam conservar. Além disso, depois das 19h, isso fica abandonado, cheio de gente usando drogas", denuncia.

Equipamentos

Outra característica marcante do bairro é o complexo de saúde formado pelo Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), pelo Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce), pela Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac) e pelo Instituto do Câncer. Alison Rodrigues Mendonça, presidente da Associação dos Moradores, explica que a presença dos equipamentos faz com que o bairro ganhe duas feições.

 

 

De dia, torna-se um local populoso, pela presença das pessoas que não moram no local, mas deslocam-se para trabalhar a fim de serem atendidas nas unidades de saúde ou para estudar. O que gera um problema: não se encontra lugar para estacionar. Já à noite, é, sobretudo, residencial. Alison diz que a principal deficiência é a falta de espaços de lazer.

Contrastes

População pede unidade de emergência

Um dos grandes contrastes do Rodolfo Teófilo é a questão da saúde. Apesar de o bairro abrigar equipamentos de saúde, quando a comunidade precisa de atendimento de emergência que ultrapasse o horário de funcionamento do Centro de Saúde Anastácio Magalhães, tem de recorrer a hospitais mais distantes. Entre os moradores, essa é uma reclamação unânime.

 

"O que falta mesmo é termos uma emergência 24h. Aqui, é um bairro universitário que forma médicos, mas, quando a gente precisa, não tem para onde ir", reclama o aposentado José Alves, de 70 anos. Ele conta que o problema nem sempre existiu, pois, antes, funcionava uma emergência ao lado da Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac). "Quando a gente sentia qualquer coisa à noite, ia para a emergência. Hoje, temos de ir para o Frotão (IJF), para o Hospital Geral ou morrer aqui mesmo", lamenta.

A reclamação é semelhante à do artesão Luís Gonzaga Lima Paes, de 59 anos.
"Aqui, já foi melhor quando tinha a emergência", diz. Reivindicação igual é da operadora de máquinas Margarida Maria Silva, 65. Ela reclama que o centro de saúde não é suficiente para a demanda. "Precisamos de uma casa de apoio que disponibilize médicos 24h".

Fatos Históricos do bairro:

24 de outubro de 1873 - Dá-se, nesta data, o primeiro descarrilamento de trem em Fortaleza, quando a composição puxada pela locomotiva Maranguape sai dos trilhos no lugar denominado Porangabuçu, próximo à parada Amaral, hoje divisa dos bairros Benfica e Rodolfo Teófilo, no cruzamento da Avenida José Bastos com Rua Padre Cícero, terrenos do abolicionista José Correia do Amaral (José do Amaral). 

  12 de maio de 1940 - Inaugura-se, no bairro de Porangabuçu (hoje Rodolfo Teófilo), a parte já concluída da Vila Ozanan

  19 de janeiro de 1941 - Na Vila Porangabuçu ocorre a inauguração da Escola Assis Chateaubriand, iniciativa da "Casa de Proteção", associação patrocinada pelo coronel Raimundo de Holanda e Antônio Russo Italiano Sobrinho, em sede provisória, sendo lançada na ocasião, a pedra fundamental da futura e definitiva sede.

 25 de março de 1941 - Lançada a pedra fundamental do Hospital Carlos Carneiro de Mendonça, no Porangabuçu, falando na ocasião o Interventor Menezes Pimentel e o diretor do Departamento de Saúde Pública, Joaquim Eduardo de Alencar.

 07 de junho de 1942 - Assentamento da pedra fundamental da Igreja de São Raimundo no Porangabuçu (Rodolfo Teófilo), em terreno doado por Raimundo Bessa, próximo à lagoa de Porangabuçu, chamada também de lagoa do Bessa, alusão ao proprietário.

 15 de agosto de 1946 - Instala-se, no Porangabuçu, a Escola Demócrito Rocha, onde é inaugurado um retrato do saudoso jornalista, fundador do jornal O Povo.

 31 de janeiro de 1954 - No bairro de Porangabuçu é inaugurado o novo prédio, construído pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, do Grupo Escolar de Porangabuçu.

 17 de junho de 1956 - São retirados os ônibus que ainda faziam ponto na Praça do Ferreira, das linhas Porangabuçu, Igreja de São Raimundo e Sítio Bom Futuro, que passam para a Praça José de Alencar.


 03 de março de 1956 - Lançada, no Porangabuçu, a pedra fundamental da Maternidade Popular de Fortaleza, que depois se chamaria Maternidade Escola Assis Chateaubriand, da Universidade Federal do Ceará, inaugurada no dia 11 de dezembro do mesmo ano.
O projeto foi dos arquitetos Oscar Valdetaro, Roberto Nadalutti, Israel de Barros Correia e o engenheiro Carlos Miranda.
O construtor foi o engenheiro Jaime Verçosa.
O primeiro diretor da maternidade foi o professor José Galba Araújo


  13 de dezembro de 1963 - Chega em Fortaleza Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo e comitiva, para a inauguração da Maternidade Escola que tem hoje seu nome, no Porangabuçu


¹Médico sanitarista, intelectual, industrial e divulgador científico nascido em Salvador, Estado da Bahia, de extremo espírito público e inventivo, inventor da cajuína¹, não só do produto, como também do nome. Cedo ficou órfão, tendo de trabalhar como caixeiro e suportar humilhações, veio para o Ceará com apenas 15 dias de idade. Formou-se em Farmácia pela Faculdade de Medicina da Bahia, empreendeu uma batalha pessoal contra a varíola, lutando contra o medo da vacina, sem recursos, em tempo de seca, fome, da migração em massa e em péssimas condições de higiene. Sem apoio do poder público, enfrentou praticamente sozinho, em duas oportunidades, epidemias de varíola que vitimou milhares de pessoas em Fortaleza e interior do Ceará, no final do século XIX e início do século XX. Montado em um cavalo, cuidou sozinho da vacinação em massa pelos bairros pobres de Fortaleza durante os três primeiros anos do século XX. A cólera vitimou quase um terço dos seis mil habitantes de Maranguape, cidade nas cercanias de Fortaleza (1862) e no final da década seguinte (1878), a varíola matou um quinto da população da capital cearense. Vacinou próximo de duas mil pessoas (1902), não sendo registrado nenhum caso de varíola na capital cearense naquele ano. Obstinado ainda encontrou tempo para escrever 28 livros, aderir à causa abolicionista e militante na Padaria Espiritual, uma espécie de agremiação literária que, pelo comportamento irreverente de seus membros, antecipou o modernismo no Brasil. Faleceu em Fortaleza em 2 de julho de 1932 aos 79 anos.


Saiba mais sobre Rodolfo Teófilo aqui: Rodolfo Teófilo - Um grande Filantropo cearense de alma e coração

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Fonte: Diário do Nordeste, Wikipédia e Cronologia Ilustrada de Fortaleza - Nirez

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