Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Praça Waldemar Falcão
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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domingo, 2 de dezembro de 2018

Os Jardins de Fortaleza II

Nos jardins de Fortaleza, os cata-ventos estavam geralmente associados a caixas d’água metálicas, adquiridas provavelmente de países europeus como parte do rico universo de edificações, instalações, equipamentos e componentes arquiteturais importados em massa por países latino-americanos em processo de urbanização a partir do século XIX. Esses reservatórios d’água “destinavam-se à irrigação dos jardins públicos por gravidade” e “formavam binário com cata-ventos destinados a elevar a água das cacimbas adjac
entes”. (T. Lindsay Baker - 2012, p. 120).
 

Nos Estados Unidos, embora predominantes no contexto rural, cata-ventos eram instalados em áreas urbanas em várias partes do país, já que governos locais financiavam a escavação de poços e a construção de moinhos para uso público. Cavalos e mulas usados em meios de transporte anteriores à era do automóvel demandavam consumo regular de água, de modo que “próximos aos poços construíam-se cochos de concreto, madeira ou aço com lados de altura apropriada para os animais beberem confortavelmente”. (Cf. ibidem, p. 120).

Esse sistema foi registrado no país a partir do final do século XIX e desapareceu após a década de 1920, com a era do veículo automotor. As imagens que o autor T. Lindsay Baker fornece de distritos urbanos dos Estados Unidos - Kansas City, no Kansas, e Ruskin e Farnam, em Nebraska - mostram poços e moinhos semelhantes às cacimbas e cata-ventos de Fortaleza, mas nenhum deles instalado em jardins. Tais ilustrações - entre outras de San Diego, na Califórnia, e Canyon, no Texas - retratam cochos, carroças, vias sem pavimentação e áreas livres cobertas por terra, sem tratamento paisagístico, indicando que os moinhos bombeavam água para os animais ou para a população, mas não para a irrigação de jardins públicos.


Em Fortaleza, a exemplo do que ocorria em áreas urbanas dos Estados Unidos, a municipalidade era responsável pela instalação e manutenção de cata-ventos em logradouros públicos, segundo consta na seção de finanças municipais sob a rubrica “conservação de cataventos e motores” no Anuário Estatístico do Estado do Ceará relativo aos anos de 1922, 1923 e 1924.

No entanto, no começo do século, ao comentar a seca de 1900, Raimundo Girão afirma que, àquela época, Fortaleza revelava uma “simplicidade provinciana de praças ainda sem jardins, antes monótonos quadros de pastagem do gado à solta”. Naquele tempo, a cidade contava com o Passeio Público, mas ainda não haviam sido ajardinadas as praças do Ferreira e Marquês do Herval, o que veio a ocorrer entre 1902 e 1903.
 


Sobre a Praça do Ferreira, diz Gustavo Barroso (1888-1959) que, durante a seca de 1877-1879, foi aberta em seu centro uma cacimba em pedra lioz para provisão d’água, ao lado da qual se instalou “um chafariz do sistema que os franceses denominavam fontaine Wallace”. Essa peça parece ter sido substituída posteriormente, já que, na época de seu ajardinamento, em 1902, a praça dispunha de cata-vento e caixa-d’água e bacias para irrigação, conforme postagem anterior.

Até então, a Praça do Ferreira era um antigo areal chamado Feira Nova com um “cacimbão no centro”, ponto de parada dos comboios vindos do interior, a que se mostrariam úteis “as mongubeiras e as castanholas floridas, enchendo o solo da frescura das sombras doces e dos frutos gostosos”, bem como a água da cacimba, em palavras de Raimundo de Menezes (1903-1984).

É possível que cacimbas perfuradas para obtenção d’água doce tenham sido aproveitadas quando do ajardinamento de praças, dotadas de cata-ventos e reservatórios. Segundo Liberal de Castro, escavavam-se cacimbas de uso público no ponto central das praças, que, uma vez “ajardinadas, ganhavam caixas-d’água e cataventos, instalações usadas na elevação e na rega dos jardins”.



Contudo, segundo iconografia da época, a Praça General Tibúrcio, ajardinada entre 1913 e 1914, não tinha cata-vento, de modo que desconhecemos quais teriam sido as soluções adotadas para sua irrigação. Por sua vez, a Praça José de Alencar (hoje Waldemar Falcão, que não deve ser confundida com a atual José de Alencar, antiga Marquês do Herval), embora não ajardinada, era dotada de um cata-vento e de um reservatório, além de um chafariz.


Dessa maneira, supomos que a água bombeada pudesse servir para o consumo dos moradores ou dos animais que trafegavam na cidade anteriormente à popularização do automóvel ou vinham do Sertão - nesse último caso, assemelhando-se ao que ocorria em localidades urbanas dos Estados Unidos.
A partir dos anos 1930, a iconografia urbana da capital cearense, nela incluindo-se as fotos do Álbum de Fortaleza, de 1931, mostra que os logradouros urbanos não mais possuíam cata-ventos. Naquela época, a cidade já dispunha do novo serviço de abastecimento d’água, o qual compreendia captação, adução por tubulação, armazenamento em duas caixas d’água localizadas na Praça Visconde de Pelotas e rede de distribuição.

Esses reservatórios eram remanescentes da década de 1910, pois coube ao governador Antônio Pinto Nogueira Accioly (1896-1900, 1904-1912) iniciar as obras do sistema de abastecimento d’água, o qual foi inaugurado somente posteriormente, na gestão estadual de José Moreira da Rocha (1924-1928).62 O novo serviço, todavia, tinha “capacidade de abastecimento parcial à população”.



Fotos daquela época indicam que, se por um lado os cata-ventos já haviam desaparecido das praças ajardinadas, sua existência resistia nos quintais das casas, pois ainda deviam desempenhar importante papel no fornecimento d’água para o consumo doméstico. Segundo Emy Falcão Maia Neto, em 1927, os cata-ventos continuavam sendo anunciados pelas funilarias, sinalizando que faziam “circular água aonde a rede ainda não chegava ou como uma fonte alternativa para fugir dos preços cobrados”.


Naquela década, após a reforma completa que lhe foi imputada, em 1925, no governo do prefeito Godofredo Maciel (1924-1928), a Praça do Ferreira, que antes possuía cata-vento e caixa-d’água, aparece destituída de ambos em fotos da época. Tais imagens ainda deixam ver a presença de fícus-benjamim  no contorno da praça, exemplificando o plantio de espécies arbóreas resistentes, conforme postado anteriormente.


O desaparecimento do sistema de irrigação por moinho eólico também se verifica na Praça José de Alencar. Em 1929, em seu espaço central, antes ocupado por pavilhão, cata-vento e reservatório d’água, foi instalada a escultura do escritor que nomeia o logradouro.


Portanto, admitimos que os anúncios veiculados pelo jornal O Povo entre 1928 e 1930 e antes referidos ofereciam, de fato, cata-ventos usados, tendo particulares como possíveis interessados. Esse é um marco cronológico razoável para o seu desaparecimento dos jardins públicos da cidade, ainda que permanecessem nas propriedades privadas.


Leia também a Parte I

Créditos: Aline de Figueirôa Silva (Arquiteta e urbanista) - Artigo: À procura d'água: cata-ventos americanos nos jardins de Fortaleza, Folha do Litoral de 1918, Jornal A Lucta de 1922, Jornal A Razão de 1931, Jornal A Ordem de 1930, Revista do Instituto do Ceará de 1899, Arquivo Nirez, Arquivo Fortaleza Nobre e Museu da Imagem e do Som.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Especial Fortaleza 288 anos - Praças da cidade



A Praça Caio Prado parece ser a primeira praça de nossa capital, pois na planta da Vila de Fortaleza descrita pelo padre Serafim Leite com desenho do Capitão Mor Manuel Francês e enviado a Lisboa em 1726, como demonstração de seus serviços, comprova o fato quando ele diz: "Em frente da Câmara e do Forte, a praça com os símbolos municipais, coincidindo o pelourinho com a frente da Câmara e a forca com a da Fortaleza." 
"Situada donde hoje é a Sé, reunia no seu espaço a valorização da casa da Câmara do Pelourinho, símbolo da autoridade Municipal, e a presença da igreja."

Já recebeu o nome de Praça do Conselho (em 1726) assim designado pela existência do prédio do Conselho (Hoje desaparecido).
Do Largo da Matriz (em 1854), quando da construção da igreja em 1854.
Da Sé - Quando a igreja Matriz passou a, em 1861.
Caio Prado (em 1889), em homenagem a Antônio da Silva Prado, paulista que foi presidente do Ceará em 1888/1889, tendo falecido nesse cargo em Palácio.
Novamente recebeu o nome de Praça da Sé (1890/1891), mas só durou 6 meses, quando voltou a denominação anterior.
Praça Dr. Pedro Borges (em 1903), homenagem a Pedro Augusto Borges, médico do Exército, Senador da República, Deputado Federal e presidente do Ceará (1900-1904).
Da Sé (1932 até hoje) - A praça era todo aquele espaço compreendido entre as ruas São José e General Bezerril (Norte-Sul), Rufino de Alencar, Sobral e Castro e Silva.


A origem da Praça General Tibúrcio remonta aos tempos da construção da Igreja do Rosário em 1730. Em 1831 o Largo do Palácio foi planejado e então a praça começa a ser urbanizada, sendo inaugurada em 1856. Depois da morte do general Antônio Tibúrcio Ferreira de Sousa, herói da Guerra do Paraguai, em 1885, uma estátua foi erguida em sua homenagem na praça em 1888, sendo a primeira estátua pública da cidade. Já recebeu o nome de Largo do Palácio, Pátio do Palácio, Praça do Palácio, General Tibúrcio ( A estátua do general é a primeira a ser erigida em Fortaleza. Possui 2,50 m de pedestal e 2,00 m de escultura e sua fundição aconteceu em Paris por Tliebant Fréres, mas o pedestal foi feito por Frederico Sinner, aqui em Fortaleza (1887/1888).
Em 1820 passou a ser chamada de Praça 16 de Novembro para comemorar a instalação do Governo Provisório do Estado do Ceará. Durou apenas 6 meses e até hoje se chama Praça General Tibúrcio, mas é conhecida também como Praça dos Leões devido as estátuas de leões que a ornamentam. 



Fundada em 1817, a Praça Carolina era um grande largo que ficava entre a atual Rua São Paulo, Rua Floriano Peixoto, Rua Sobral e Rua General Bezerril, onde foi inaugurado, em 18/04/1897, o Mercado de Ferro.
Chamou-se, depois, Largo da Assembléia e Largo do Mercado.
Quando dividida, já se chamou Praça José de Alencar (o lado norte) e Praça Capistrano de Abreu (o lado sul).
Hoje, no local estão, o Palácio do Comércio, a Praça Waldemar Falcão, o Banco do Brasil (agência metropolitana) e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - EBCT.
O Mercado de Ferro foi desmontado em 1939 sendo dividido em duas partes, indo uma para a Praça Paula Pessoa (São Sebastião) e a outra metade para a Aldeota, na Praça Visconde de Pelotas (Pinhões).
A parte da Praça São Sebastião foi desmontada em 1968 e levada para a Aerolândia, onde ainda se encontra e no local foi levantado um galpão de alvenaria, com telhas de amianto, que já foi demolido, para a construção de uma praça para o novo Mercado de São Sebastião.
Ao lado da Praça Carolina, foi construído o Mercado Central, que agora tem novo prédio na Avenida Alberto Nepomuceno, e já foi desativado em sua parte interna.
Na parte norte da praça, existia dois quiosques de ferro/madeira, a mercearia do João Aleixo e o Café Fênix, tendo por trás, um outro retangular, que abrigava o Engenho Bem Bem, que comercializava a garapa de cana, hoje chamada de caldo de cana.
A Praça Waldemar Falcão inaugurou-se em 1939.




No dia 29 de junho de 1830, inaugura-se o antigo Campo D'Amélia, uma homenagem à Imperatriz D. Amélia de Leuchttemberg, chamou-se também Senador Carreira em 1882, Da Via Férrea em 1890 e a partir de 1932, Praça Castro Carreira.
Popularmente, desde o advento da Estação de trem (1871), chama-se Praça da Estação.
No dia 24 de maio do ano de 1900, foi inaugurada no centro da praça a estátua do General Sampaio, sobre uma coluna de mármore.
No mesmo ato foram inauguradas também a Rua 24 de Maio e Rua General Sampaio.
No dia 24/05/1966 a estátua foi retirada e levada para a Avenida Bezerra de Menezes sem seu pedestal, que foi destruído, e juntados a ela os restos mortais do homenageado.
Em 1981 foi a estátua novamente deslocada, desta feita para a Avenida 13 de Maio, em frente ao 23º BC, sem que acompanhassem os seus restos mortuários.
Em 1996 por iniciativa do Instituto do Ceará, tanto a estátua como os restos mortais do general foram transferidos e hoje se encontram em frente a 10ª Região Militar, na Avenida Alberto Nepomuceno.


No dia 06 de dezembro de 1842, a Lei nº 264 autoriza a Câmara a reformar o plano da cidade de Fortaleza.
Existia no local da atual Praça do Ferreira o Beco do Cotovelo, que foi demolido por iniciativa do boticário Antônio Rodrigues Ferreira (Boticário Ferreira) para construção da Praça Pedro II, que ficou mais conhecida como Feira Nova, mas então apenas um areal até 1902, com quatro quiosques nos cantos e uma cacimba (poço) no centro e vários "frades de pedra" (colunas feitas de pedra de Lisboa).
Os quiosques eram o Café Java, no canto nordeste; o Café Elegante (assobradado), na esquina sudeste; o Restaurante Iracema, no canto sudoeste e o Café do Comércio (assobradado), no canto noroeste. Entre o do Comércio e o Java.
O intendente coronel Guilherme César da Rocha (Guilherme Rocha) em 1902 procedeu a primeira urbanização parcial, fazendo em um trecho o belo Jardim 7 de Setembro, murado com grades de ferro, uma caixa d'água, conservando nos cantos os cafés, inaugurada no dia sete de setembro.
Em outubro de 1920 o então prefeito Godofredo Maciel demoliu os quatro cafés, construiu um coreto sem coberta e mosaicou toda a praça.
Em 1925 constrói o coreto coberto.
Raimundo Girão em 1933 constrói a Coluna da Hora e derruba o coreto.
No ano de 1949, gestão de Acrísio Moreira da Rocha, é construído, entre a Rua Floriano Peixoto, Rua Guilherme Rocha, Rua Major Facundo e Travessa Pará, o Abrigo Central.
Em 1967 a Coluna da Hora é demolida na gestão de Murilo Borges e na gestão seguinte, de José Walter Barbosa Cavalcante, é destruída a Praça do Ferreira, demolido o Abrigo Central e feita uma nova praça com elevados blocos de concreto, posicionados em diferentes pontos, dificultando a circulação popular e os agrupamentos que a caracterizavam e um subterrâneo que abrigou a Galeria Antônio Bandeira.
Em 1991 o prefeito Juraci Vieira Magalhães manda derrubar a praça tão criticada pelo povo e pela imprensa e constrói uma nova com base na antiga praça, colocando uma nova versão da Coluna da Hora agora com fontes d'água e a antiga cacimba é redescoberta e conservada ao centro.


Nomes que teve a praça:
Feira Nova - Lugar onde se realizavam as feiras semanais, deslocando o centro da cidade da Praça da Sé, para o novo logradouro.
Largo das Trincheiras - Não se sabe bem se foi por uma batalha entre Holandeses e Portugueses, ou por causa do nome de um Senador que vivia ali e era apelidado de "Trincheiras."
Pedro II - Em 1859, em homenagem ao Imperador.
Do Ferreira - Em 1871, após a morte do Boticário Ferreira, em reconhecimento pelos relevantes serviços que prestou a cidade.
Municipal - Durou somente seis meses, retomando ao seu nome anterior.
Além dessas denominações oficiais também era conhecida por "Da Municipalidade", por estar defronte do prédio da Intendência Municipal.



Em 1864, é iniciada a construção do Passeio Público no Largo da Fortaleza ou Campo da Pólvora, que era a primeira praça da povoação, na gestão do presidente da Província Dr. Fausto Augusto de Aguiar, compreendendo três planos, o atual e outros dois mais abaixo, hoje tomados pela Avenida Marechal Castelo Branco (Avenida Leste-Oeste).
O Passeio Público já foi Campo da Pólvora, Largo da Fortaleza, Largo do Paiol, Largo do Hospital de Caridade, Praça da Misericórdia e, a partir de 03/04/1879, Praça dos Mártires.
Teve dois nomes não oficiais: Campo da Pólvora (1870) e Passeio Público, pelo qual é hoje conhecido.
A praça foi urbanizada em 1864.
Havia três planos em três níveis, destinados às classes rica, média e pobre.
Por volta de 1879 as duas praças mais baixas foram desativadas e a atual foi dividida em três setores com a mesma finalidade, ficando os ricos com a avenida do lado da praia, a classe média com a do lado da Rua Dr. João Moreira e os pobres com a central.
Foi nesta época que o passeio recebeu as bonitas grades de ferro que o rodeavam e que foram retiradas em 1939 e recentemente feitas novas de acordo com as antigas.
O nome de Praça dos Mártires é uma homenagem aos heróis tombados ali, pertencentes ao movimento República do Equador, que foram bacamarteados: João Andrade Pessoa Anta, tenente-coronel Francisco Miguel Pereira Ibiapina, padre Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque e Melo Mororó, tenente de milícias Luís Inácio de Azevedo e o tenente-coronel Feliciano José da Silva Carapinima.



Fontes: Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo, Livro Fortaleza - Praças, Parques e Monumentos de Lídia Sarmiento e José Capelo Filho e Portal do Ceará de Gildásio Sá.


Fotos: Arquivo Pessoal, Arquivo Nirez, Arquivo Assis Lima, Arquivo Carlos Juaçaba, Livro Terra Cearense de 1925 e o Relatório do Interventor Federal Carneiro de Mendonça - 1931 a 1934


sexta-feira, 19 de julho de 2013

As Tabuletas de Reclame dos Cinemas em 1916


Pintura de Juracy Montenegro retratando a Praça do Ferreira da década de X

Há evidências, pela leitura de nossos jornais das primeiras décadas do século, que o centro vital de nossa cidade, a Praça do Ferreira, enquanto crescia o interesse do público pelos espetáculos cinematográficos, tornava-se vitima de grave poluição visual. Todos os recantos e espaços estratégicos eram ocupados por propaganda de filmes, na guerra pela preferência de nossa população.

Propaganda do filme Alvorada de Maio com Lila Lee

Praça Marquês do Herval

Consequência dos protestos de defensores da estética urbana, o Prefeito da cidade, coronel Casimiro Montenegro, resolveu regulamentar a exposição dos então chamados reclames, fazendo baixar o seguinte ato:

EDITAL Nº 5

"De ordem do sr. Prefeito Municipal, Coronel Casemiro Ribeiro Brasil Montenegro, faço público para conhecimento dos interessados que os logares designados pelo Sr. Prefeito, para a exposição das taboletas de annuncios dos cinemas, são os seguintes: Praça Marquez de Herval e Praça José de Alencar."

Secretaria da Prefeitura Municipal de Fortaleza, em 27 de janeiro de 1916.

Praça Marquês do Herval

O Amanuense

Alberto Campos de Goes Telles

Comentando o ato municipal, disciplinador da públicidade dos cinemas, e que afastava a Praça do Ferreira da intensa exploração publicitária, o “Diário do Estado”, edição de 1° de fevereiro, publicou:

CARTAZES DE CINEMA

Em destaque um "reclame" na Praça do Ferreira

"O Edital nº5 da Prefeitura. -Em edital sob o número 5, publicado no Diário do Estado, em dias da semana passada, a Prefeitura de Fortaleza fez saber aos senhores proprietários de cinema desta capital que, de ordem de nosso digno prefeito, coronel Casimiro Montenegro, os mesmos senhores só poderão expor sua “taboleta” de reclame nas praças Marquês de Herval e José de Alencar, unicamente.
Isso quer dizer que a Prefeitura, mui justamente, proibe que a Praça do Ferreirao coração da cidade, seja invadida pelas tais “taboletas”, como o tem sido sempre.
Parece, porém, que o Edital n°5 não chegou ainda ao conhecimento dos senhores proprietários de cinemas, pois a Praça do Ferreira continua a ser afeiada pelos enormes cartazes."


Fotos da então Praça José de Alencar, hoje Waldemar Falcão

Portanto, a medida tomada pelo Prefeito Casemiro Montenegro não surtiu o efeito desejado.

Além das “taboletas de reclame”, como afirma o cronista Otacílio de Azevedo, havia outro tipo de propaganda: “Quando o freguês se sentava para assistir a uma fita já sabia dos principais lances da história, pois tinha lido o programa, com um resumo, distribuído à entrada, ou mesmo na rua, de casa em casa. Os programas porém não contavam o fim da fita, o que não fazia muita diferença, pois todos sabiam que o bandido era sempre castigado e a heroína casava com o mocinho.”

Em destaque um "reclame" 

Fonte: Fortaleza e a era do cinema de Ary Bezerra Leite

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Praça dos Correios - Uma praça que já foi três

  
Praça dos Correios - Rua Floriano Peixoto

No século XIX. O Largo da Assembleia, a Praça Waldemar Falcão e o Largo do Mercado, antiga sede do Mercado de Ferro, já foram um espaço só. Alterado pelo tempo, o povo resolveu uni-los outra vez. Agora, como Praça dos Correios


O Engenho Central Bembem

A então Assembléia Legislativa em 1930

A praça dos Correios não nos convida a ficar. Mesmo debaixo das árvores que fincam sombra e vento de fim de tarde, não há muita gente que se demore. Os gatos pingados entre o povo que vai e volta, da agência dos Correios ao Banco do Brasil e deste, ao Palácio do Comércio, se param, é para lustrar o sapato preto, comer um pedaço de abacaxi ou tomar uma água de coco. De pé. Não que a praça em si não seja agradável. É, sim. Porém, os bancos arrancados nunca mais foram repostos. E quem quer sentar e parar para ver o Centro passar tem de se conformar com escadarias, ou então, uma nesga de pilar da estátua de Waldemar Falcão


Prédio do atual Museu do Ceará


Foto de Assis de Lima

"Ele era advogado e foi ministro do Trabalho na época do Getúlio Vargas. E ele era de Baturité", surpreende, ropendo meu preconceito, Expedito Gomes, 67, enquanto tira um pente preto e fino do bolso e arruma os cabelos grisalhos. Os olhos embebidos pela catarata tentam me identificar enquanto a boca, quase toda lisinha, calcula mais de 30 anos na profissão de luzir sapatos. Quando chegou de Quixeramobim, foi ser engraxate na Praça do Ferreira e na José de Alencar até fixar terreno naquela beira de Centro. "Fui eu quem escolheu o lugar não, foi a Prefeitura. A profissão tá fraca, menina, agora sapato é tudo de pano e de borracha. A gente bota mais é virola (a ponta do salto) em sandália de moça. Hoje mesmo, não engraxei nenhum", coça a barba rala com o pente e narra conformado, sem lamentação. A vida de seu Expedito é o Centro. Mora há algumas quadras dali, na rua 24 de Maio, é viúvo. 

  
O Mercado de ferro em 1909

Em casa, ele e Deus. Os movimentos lentos de seu Expedito em nada se parecem com aquele meio de praça, de gente correndo, vendendo, falando. "O que eu acho dessa praça aqui? Minha filha, a gente mede pelo movimento. Se tem freguês para engraxar, tá ótimo, se não tem, a praça fica feia", avalia baixinho, quase como confidência, porque já tem gente que se achega. "Quer, amorzinho, tapioca e pão?", para uma mulher e seus mantimentos. "Hoje, não"


A praça e a Assembléia

As ruas que circundam a praça não conseguiram fixar um tema para as vendas. Redes, papelarias e nada mais apropriado para a área dos Correios - bancas especializadas em revistas velhas de mulheres novas e nuas, bancos e cabeleireiros, calcinhas nunca usadas estendidas em varais de comércio, rapadura e castanha, queijo fresco e uma infinidade de nada especializado arrodeia a praça dos Correios. Deixam longe, perdida no tempo, a praça que um dia foi chamada de Carolina, homenagem de 1817 à arquiduquesa Maria Carolina Leopoldina


Dependências do mercado

Mercado de ferro

Família real

A distinção real, no entanto, permanece. Dessa vez, com o rei e a rainha do abacaxi. "Meu marido foi o primeiro a chegar aqui", orgulha-se Luíza de Marilac, 47, pastorando a banquinha lotada da fruta coroada e somando mais de 20 anos do Rei do Abacaxi (com tudo maiúsculo, porque virou o nome dele), tempo em que ele teria sido o primeiro desbravador do setor cítrico/frutífero do Centro da cidade. 

O local onde antes ficava o Mercado de ferro, hoje é ocupado pelo Palácio do Comércio, Praça Waldemar Falcão e Banco do Brasil


A fruta é servida do jeito que o cliente desejar. O mel pode escorrer na hora, com a infrutescência descascada, pronta para degustar; embalada e sem casca para comer em casa ou ainda in natura, do jeito que vem da Ceasa, por sua vez, fornecida pela Paraíba, "onde tem os melhores abacaxis", garante Lúcia. A rodela grossa é R$ 1 e o abacaxi inteiro sai por R$ 2. Vendem muito; renda média do casal é de R$ 2 mil por mês. "Para a gente fazer nossas comprinhas e pagar nossos crediários". Eles aproveitam uma sombrinha para armar a banca e proteger a fruta. "É tudo fresquinho e a casca é forte, não estraga não", garante a mulher. 


Café Fênix quando a praça ainda se chamava José de Alencar

A praça dos Correios é caminho e ponto de referência aos domingos para quem quer cerveja gelada num alarido organizado do Raimundo dos Queijos. A confraria já não é mais na praça, mas se bica com ela e ajuda a mudar a esquisitice do Centro no dia santo. A receita é simples: queijo fresco, vindo de Tauá e Iracema, cerveja sempre gelada, cadeiras no meio da Travessa Crato* e uma banda formada por três irmãos, troando na seresta e no forró o mundo que não podem ver. Vanda Lúcia no vocal e triângulo; Francisco Honório, no violão; Valdeci, na sanfona, formam com outros dois amigos o grupo Regional Asa Branca

Rua Floriano Peixoto - Correios - Arquivo Assis de Lima

Ed. Correios e Telégrafos-1934

Dessa história, Marcos Sérgio Silva de Nascimento só ouviu falar. Dia de folga, foge do Centro da cidade. Ora, já basta a semana. Na pele, a vida marca experiências bem mais profundas que os 30 anos poderiam dar. Aparenta ter mais e sabe disso. "Trabalho aqui metade da vida, desde os 15", emenda. Começou como office boy, mas foi promovido há 12 anos a ascensorista do Palácio do Comércio. "A gente pode conversar, mas tem que ser aqui dentro. Eu não consigo ficar nem 15 minutos parado". Então vamos lá. 

Ed. Correios e Telégrafos

No sobe e desce, é um som fino de campainha que avisa que alguém chama. Manobra uma manivela, puxa a grade sanfonada, o grupo entra, ele conduz novamente o elevador. "É o dia todo e tem gente que não dá nem bom dia", reclama. Marcos tem medo de perder o emprego com a modernização do ascensor, mas defende a tecnologia manual por ser mais segura. Difícil um antigo dar problema. Plin! Mais uma passageira. "Eu morro de medo desses elevadores antigos, Ave Maria!", e desce a moça de salto, para o riso incontrolável de Marcos Sérgio. "Todo dia tem uma história assim". Imagine, então, o que reserva toda a praça. 

Palácio do Comércio na época de sua inauguração

Banco do Brasil

Saiba mais

A praça Waldemar Falcão foi definida após a retirada do Mercado de Ferro que foi construído no quadrilátero da ruas São Paulo, Floriano Peixoto e General Bezerril. Com a construção do Palácio do Comércio, Banco do Brasil e Correios, a área ficou delimitada por três espaços. Atualmente, Largo da Assembleia, Praça Waldemar Falcão e Largo do Mercado

Prédio do IAPB e o busto de Waldemar Falcão na Praça

O prédio dos Correios foi inaugurado em 14 de fevereiro de 1934. 
Os três espaços são limitados pelas ruas São Paulo, General Bezerril e Floriano Peixoto

A praça Waldemar Falcão é chamada assim desde 1960. Antes, foi praça Carolina, praça da Assembleia (1871), Praça do Mercado, Praça José de Alencar (1881), praça Capistrano de Abreu
O Largo do Mercado tem área de 960m², o Largo da Assembleia de 700m² e a praça Waldemar Falcão tem área de 1,500m². 

Dados Históricos

1812 - Construído o primeiro mercado de Fortaleza que foi um pavilhão de madeira, ou telheiro, no meio do cercado da Casa da Câmara.
Em 1814 foi iniciada a construção de um mercado na Praça Carolina.
No mesmo local foi construído um outro inaugurado em 1897.
No centro da Praça Carolina - no local hoje ocupado pelo Palácio do Comércio, Praça Waldemar Falcão e Banco do Brasil - inaugurou-se em 1897 o Mercado de Ferro, para venda de carne fresca.
o espaço chamou-se Praça Carolina e depois Praça José de Alencar (não é a atual).
Em setembro de 1932 foi inaugurado o Mercado Central onde hoje está o Centro de Referência do Professor, entre as vias: Rua Coronel Bezerril (General Bezerril), Travessa Crato (Rua Sobral) e Rua Conde D`Eu.




Foto de Manilov

Foto de Eliomar de Lima

1817 - A Praça Carolina - Sua denominação foi uma homenagem à Arquiduquesa Maria Carolina Leopoldina, por ocasião do seu casamento com D. Pedro II - era um grande largo que ficava entre a atual Rua São Paulo, Rua Floriano Peixoto, Rua Sobral e Rua General Bezerril, onde foi inaugurado, em 18/04/1897, o Mercado de Ferro.
Chamou-se, depois, Largo da Assembléia e Largo do Mercado.
Quando dividida, já se chamou Praça José de Alencar (o lado norte) e Praça Capistrano de Abreu (o lado sul).
Hoje, no local estão, o Palácio do Comércio, a Praça Waldemar Falcão, o Banco do Brasil (agência metropolitana) e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - EBCT.
O Mercado de Ferro foi desmontado em 1939 sendo dividido em duas partes, indo uma para a Praça Paula Pessoa (São Sebastião) e a outra metade para a Aldeota, na Praça Visconde de Pelotas (Pinhões).
A parte da Praça São Sebastião foi desmontada em 1968 e levada para a Aerolândia, onde ainda se encontra e no local foi levantado um galpão de alvenaria, com telhas de amianto, que já foi demolido, para a construção de uma praça para o novo mercado de São Sebastião.
Ao lado da Praça Carolina, foi construído o Mercado Central, que agora tem novo prédio na Avenida Alberto Nepomuceno, e já foi desativado em sua parte interna.
Na parte norte da praça, existia dois quiosques de ferro/madeira, a mercearia do João Aleixo e o Café Fênix, tendo por trás, um outro retangular, que abrigava o Engenho Bem Bem, que comercializava a garapa de cana, hoje chamada caldo de cana.
A Praça Waldemar Falcão inaugurou-se em 1939.

Foto de Ricardo Sabadia

Palácio do Comércio-Krewinkel Terto de Amorim

12 de setembro de 1881 -A antiga Praça Carolina, que ficava entre a Rua da Assembléia (Rua São Paulo), Rua do Quartel (Rua General Bezerril), Rua Boa Vista (Rua Floriano Peixoto) e Travessa do Mercado (Rua Sobral), recebe, no dia 12 de setembro de 1881, o nome oficial de Praça José de Alencar (não é a atual).
Hoje parte dela é Largo do Mercado e outra, Praça Waldemar Falcão.


18 de abril de 1897 - Inaugurado, na então Praça Carolina depois Praça José de Alencar (hoje Palácio do Comércio, Praça Waldemar Falcão, Banco do Brasil e Correios), o Mercado de Ferro.
A Praça Carolina já foi Praça José de Alencar e Praça Capistrano de Abreu.
O Mercado de Ferro foi construído com dinheiro conseguido através dos bilhetes de crédito conhecidos como borós.
Era a administração do intendente (prefeito) Guilherme César da Rocha e do presidente (governador) comendador Antônio Pinto Nogueira Acioli.
O Mercado de Ferro era destinado à venda de carne verde (fresca), e de verdura, sendo a obra contratada com o mestre Álvaro Teixeira de Sousa Mendes (Álvaro Mendes), que utilizou nas calçadas granito cearense.
Sua estrutura metálica foi fabricada na França por Guillot Pelletier, de Orleans, obedecendo a projeto de Lefevre.

Foto de Ricardo Sabadia

14 de agosto de 1913 - Instalada a agência do Banco do Brasil em Fortaleza, sob a direção do Conselheiro João Alfredo Correia de Oliveira, numa casa na Rua Barão do Rio Branco, tendo como gerente Francisco Barbosa de Paula Pessoa, passando em julho de 1914 para o Palacete Brasil; na Rua General Bezerril na Praça General Tibúrcio; em 1925, foi para a esquina da Rua São Paulo com Rua Floriano Peixoto, em sede própria; e em 07/03/1942 para outra sede própria, na Praça Waldemar Falcão (hoje agência metropolitana José de Alencar) e finalmente para a Avenida Duque de Caxias, esquina com Rua Barão do rio Branco, na Praça do Carmo.

Sede dos correios-Daniel Souza Lima

01 de maio de 1939 - Inaugurado, às 16h30min, na então Praça Capistrano de Abreu, o busto do ministro Waldemar Falcão, iniciativa do jornalista Gilberto Pessoa Torres Câmara (Gilberto Câmara), que o fez através de subscrição pública.
Na solenidade falaram José Ramos Torres de Melo, Vital Félix de Sousa, Gilberto Câmara, Antônio Fiúza Pequeno e o Interventor Menezes Pimentel.
Hoje tem o nome de Praça Waldemar Falcão.

Foto de José Alberto Ribeiro

01 de março de 1940 -Iniciam-se as obras de construção do prédio sede própria do Banco do Brasil, na Praça Waldemar Falcão.

07 de março de 1942 -Inaugura-se o prédio do Banco do Brasil, na Praça Waldemar Falcão, onde hoje funciona a Agência Metropolitana José de Alencar, entre o Palácio do Comércio e os Correios.
Na ocasião, discursaram Fernando Lemos Basto, gerente do Banco do Brasil, Genésio Falcão Câmara e Joaquim Antônio de Andrade Furtado, representando o Interventor.

Sede dos Correios - Foto de Zemakila

29 de abril de 1943 - Lançada a pedra fundamental do edifício do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Bancários - IAPB, na Rua General Bezerril nº 275, no Mercado Central, em frente à Praça Waldemar Falcão.

05 de dezembro de 1975 -Dado o nome de Largo da Assembléia, ao espaço existente entre os prédios do Museu do Ceará e o Palácio do Comércio e Rua Floriano Peixoto e Rua General Bezerril; e Largo do Mercado, ao trecho entre os Correios e o Banco do Brasil, e Rua General Bezerril e Rua Floriano Peixoto, na administração do prefeito Evandro Ayres de Moura.

*A Travessa Crato - Foto de Daniel Souza Lima

Travessa Crato - Valmikleiton


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Fonte: Jornal O Povo, Portal da História do Ceará, Livro Cronologia ilustrada de Fortaleza: roteiro para um turismo histórico e cultural Vol I, Àlbum de Vistas do Ceará 1908, Assis de Lima, Nirez

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