Na Fortaleza dos anos de 1920 a 1930, assim como outras práticas urbanas existentes, o lazer visando o divertimento ocorria de modo diferenciado. Com o constante desejo vindo por parte da população para criar novos meios de distração e de ocupação, foi necessário fundar ou até mesmo se apropriar de espaços públicos ou privados destinados a reuniões de alguns grupos sociais, estes geralmente compostos pelas classes mais abastadas. Já as classes mais baixas faziam o uso dos espaços que eram possíveis.
Em destaque o prédio onde funcionou o Clube Cearense
Na virada do século XIX para o XX, encontramos variadas áreas públicas e privadas como mediadoras de grandes encontros sociais daquele tempo. No entanto, esses espaços possuíam grande importância para as relações pessoais da população fortalezense, já que segundo Albertina Mirtes de Freitas Pontes (A cidade dos clubes: modernidade e “glamour” na Fortaleza de 1950 – 1970. P.107) “a própria estrutura das moradias, da maior parte da população, não oferecia condições para o convívio e as trocas sociais.” Por isso era necessária a utilização ou até mesmo criação de locais onde os encontros e os eventos sociais pudessem ser realizados com uma maior frequência.
Revista Bataclan de 1923
Clube Iracema - Acervo Sérgio Roberto
Os hábitos que se formaram em torno do lazer, sofreram com o passar do tempo, mudanças significativas. No decorrer da história de Fortaleza, alguns deles acabaram sendo esquecidos e outros reforçados. No entanto, os clubes sociais como locais de lazer ganharam mais evidência e prestígio diante da sociedade fortalezense, na virada do século XIX para o XX.
Carnaval do Clube Iracema - Acervo Sérgio Roberto
As primeiras ideias referentes a esses clubes sociais vieram por meio da chegada da família Real ao Brasil em 1808, através disso o Rio de Janeiro passou a ser palco de grandes festas que ocorriam nos luxuosos salões ou até mesmos em palacetes, onde era acolhida a parte mais nobre da sociedade daquela época.
Inspirada nas eventualidades que ocorriam no Rio de Janeiro e até mesmo em outras capitais brasileiras, Fortaleza, já em meados do século XIX, realizava festas e reuniões elegantes oferecidas para a sua sociedade, mas como durante esse período a capital cearense ainda possuía traços provincianos; apenas a elite estava apta a participar desses sofisticados encontros sociais.
(Ao lado, baile no Ideal Clube)
Posteriormente, mas ainda durante o século XIX, surgiram em Fortaleza os clubes sociais, que foram criados por grupos específicos e eram locais destinados ao lazer.
Ideal Clube
Bloco Meu Ideal é você do Ideal Clube
Revista Bataclan
Os clubes “elegantes” marcaram a sociedade cearense pelas festas que realizavam, especificamente os bailes que ocorriam na cidade com muita pompa e prestígio, e também pela moda que apresentavam. Nessas ocasiões seus frequentadores se vestiam a rigor, tradicionalmente as mulheres trajavam vestidos longos e os homens smokings.
De acordo com o tipo de baile e com os seus convidados, os trajes sofriam alterações, sofisticando-se então ainda mais. Essa valorização direcionada ao vestuário em cada solenidade ocorria por parte da “alta sociedade” de Fortaleza que tinha o prazer de se destacar nesses eventos sociais. Os membros desses clubes “elegantes”, em especial as mulheres, costumavam se preparar com bastante antecedência para a ida ao baile; começavam comprando os tecidos mais caros disponíveis no mercado – gaze, seda pura, renda e zebeline; era comum também fazer a encomenda dos mesmos em outra capital, logo após a compra era escolhido o modelo do vestido e encaminhado para as costureiras.
Deslumbrante Baile no Club Iracema publicado no Jornal A Lucta de 02 de julho de 1914
A imprensa estava sempre atenta aos eventos em geral que ocorriam nos clubes cearenses, assim era comum os jornais que circulavam pela cidade publicarem notas tratando da decoração ou das roupas utilizadas pelas personalidades presentes.
Vale ressaltar que com o passar dos anos, a elite não era apenas a única classe frequentadora desses clubes, por conta do surgimento de um grande número desses locais de lazer foi possível criar agremiações direcionadas para pessoas de outras camadas sociais. Como já citado anteriormente, os jornais reservavam sempre um espaço em suas publicações para notícias referentes aos clubes sociais que ilustravam a cidade de Fortaleza, nas revistas eram publicadas notas sobre as festividades desses clubes de maneira mais sutil quando comparadas aos outros meios de comunicação.
Através dos arquivos das revistas de época, foi possível perceber que cada fascículo abordava conteúdos distintos desses clubes. As notas sobre eles tratavam dos temas mais variados indo desde exposições de arte, de apresentações musicais, até anúncios sobre chá dançante, manhã dançante, homenagem à bandeira e bailes sociais – festas essas tradicionais, que aconteciam na cidade de Fortaleza. O baile de carnaval era um evento que alterava significativamente os clubes sociais de Fortaleza, as decorações elaboradas tornavam as agremiações mais bonitas e criativas.
Havia ainda a criação de blocos e de fantasias, estas confeccionadas com muitos detalhes e minuciosos acabamentos, utilizadas por jovens e também pelas senhoras e senhores, o objetivo era ganhar destaque tanto pelo vestuário como pela animação.
(Ao lado, anúncio na Bataclan sobre uma Exposição Regional de pintura em 30 de outubro de 1923 no Clube dos Diários)
Revista Ceará Ilustrado de 01 de fevereiro de 1925
Um fato importante sobre as revistas é a forma como elas abordavam determinados assuntos sociais. Como as agremiações cearenses no começo do século XX ainda eram voltadas para as classes mais abastadas da cidade de Fortaleza, as representações desses clubes ocorriam de formas diferentes nesses meios de comunicação.
Revista Ceará Ilustrado de 15 de fevereiro de 1925
A revista Ceará Ilustrado por ser um semanário que tratava de assuntos políticos, literários e sociais, era a que reservava mais espaço para as matérias referentes às agremiações. Em seus fascículos a presença desse assunto ocorria com grande frequência, poucas eram as publicações que não apresentavam no mínimo um anúncio limitado sobre os clubes. Uma abordagem dos mais variados clubes sociais podia ser encontrada por meio de notas ou matérias.
Já a revista Bataclan, fundada em 1926 pela Associação dos Comerciários, era voltada para a elite comercial de Fortaleza. Ela possuía um caráter de arte e elegância; no entanto publicava na maioria das vezes notas sobre os clubes destinados a essa classe social.
Possuindo um aspecto similar a Ceará Ilustrado, a revista A Jandaia tratava de temas como arte, literatura e atualidades e foi à única revista que não indicou um amplo conteúdo sobre a questão dos clubes sociais. Apresentava informações sobre as práticas de lazer que ocorriam na capital cearense no início do século XX, mas um conteúdo mínimo sobre as agremiações foi encontrado, apenas algumas notas sobre reuniões específicas que aconteciam nesses espaços sociais.
Maria Darlyele Gadelha de Castro
(Graduanda em Design de Moda)
Imagens: Revista Bataclan,
Revista Ceará Illustrado
Acervo Sérgio Roberto
Arquivo Nirez e
Jornal A Lucta de Sobral
Arquivo Nirez e
Jornal A Lucta de Sobral