Formado em Direito em 1891, Felismino fora Promotor de Justiça de Pernambuco, seu estado natal, na cidade de Taquaritinga. Foi transferido depois para Ingá, na Paraíba, e daí para João Pessoa.
Constantes transferências ainda levariam sua família a várias cidades do interior cearense. Em 1900 estava chegando a Barbalha, para assumir o cargo de Juiz Substituto. Daí seguiria para Baturité, Quixeramobim, Maranguape e por fim Fortaleza, onde atingiria o cargo de Desembargador.
A esposa, Margarida Dinoah Costa, e os filhos Edith, Raul e Neuza o acompanhavam nas mudanças enquanto as obrigações escolares ainda estavam no nível elementar. Quando chegou a época de Edith, a mais velha se encaminhar numa etapa mais profissional, mãe e filhos vieram para Fortaleza. O pai ficou em Maranguape, mas todo fim de semana viajava para perto da família.
A dedicação de Edith aos estudos devia justificar qualquer sacrifício. Primeira da turma desde o exame de admissão, ao terminar o Curso Normal, na Escola Normal Pedro II, recebeu uma Cadeira Prêmio, honraria concedida às primeiras colocadas de cada turma.
O prêmio era ensinar para o curso primário, no Grupo José de Alencar. Tendo concluído o curso em 1916, Edith lecionou para crianças até 1922. Esta data marcou o início de uma verdadeira revolução educacional, tendo à frente a figura do professor Lourenço Filho, técnico em educação que viera do sul para implantar a Escola Nova.
Em 1923 Edith estava ensinando na Escola Normal, colaborando com o programa de Lourenço Filho. Havia casado com o comerciante Anastácio Braga Barroso* (Fazendeiro, proprietário de imóveis e afortunado comerciante, nascido a 25 de outubro de 1881, em São Pedro de Timbaúba, hoje Miraíma, falecido a 7 de outubro de 1972, em Fortaleza.) no ano anterior, a 30 de setembro, e recebeu de bom grado a indicação do professor para ser sua substituta. O casamento não foi obstáculo para sua ascensão profissional. Ele admirava muito seu desempenho intelectual.
Entre 1923 e 1933, Edith ensinou pedagogia, psicologia e didática na Escola Normal, para onde era levada pelo motorista da família. A psicologia que ela ensinava era experimental, diferente da psicologia racional que predominava. Edith era espírita.
No ano de 1933, as três cadeiras, que formavam um só bloco, foram divididas e postas em concursos. Edith pediu efetivação para pedagogia, mas não conseguiu. Inscreveu-se então "ex officio", porque tinha dez anos de interinidade, e preparou-se para enfrentar a memorável disputa.
O resultado do evento de maio de 1933 ainda consegue agitar o ânimo de pessoas que acompanharam os fatos. Um pano de fundo de influências políticas, religiosas e sociais transformou um simples concurso em tema de discussão, e conseguiu dividir os círculos intelectuais e culturais da cidade.
De um lado os que apoiavam a professora, pessoa de reconhecidos méritos e valiosos contatos, e de outro os que queriam a vitória de seu concorrente, o competente Diretor da Instrução Pública, Dr. Joaquim Moreira de Sousa.
O Dr. Moreira de Sousa estivera no Rio de Janeiro até o dia 13 de janeiro, representando o Ceará na V Conferência de Educação. Edith, por sua vez, compunha a chapa do Partido Social Democrático, pela qual iria ser eleita suplente de Deputado Federal.
Em maio, no dia 22, "O Nordeste", jornal católico, avisa: "Às 15 horas de amanhã, no prédio da Escola Normal Pedro II, será realizada a prova escrita do concurso para provimento da Cadeira de Pedagogia". Além dos dois candidatos mencionados, estava também inscrito Heribaldo Dias da Costa.
A moderação do informe empalidece nos dias subsequentes, para dar lugar a uma ardorosa tomada de posição a favor de Moreira de Sousa. Diretor da Instrução Pública, cargo equivalente ao de Secretário de Educação, ele era o superior de Edith. A seu favor, a professora tinha a experiência didática que faltava ao concorrente, uma memória extraordinária e amizade com as pessoas do nível de Carneiro de Mendonça, interventor do Estado.
Estavam presentes todos os elementos que iriam compor o que "O Nordeste" chamou a 27 de maio, "o maior concurso do Ceará". No dia 24 o jornal divulga: "Esperado com grande ansiedade, realizou-se ontem o concurso para provimento da Cadeira de Pedagogia. Grande massa de professores, alunos, jornalistas e curiosos afluiu à Escola Normal, cujo salão teve que ser ampliado pela retirada das portas para conter a multidão". E conclui o anônimo redator: "A impressão sincera que tivemos foi que Dona Edith conseguiu realizar uma prova mais inteligente e erudita que a do Dr. Moreira."
A comissão examinadora era formada por professores de São Luís, Natal, João Pessoa e Recife, aptos a julgar as respostas dos três quesitos que compunham a primeira parte do concurso. Para o jornal, Edith conseguiu "uma síntese brilhante de muitos mestres modernos". Talvez um comentário malicioso sobre sua memória privilegiada, talvez uma expressão sincera de admiração. O fato é que a média de Edith foi 11,75, e a de Moreira de Sousa, 11,50.
A prova prática, segunda etapa do concurso, foi realizada no dia 25, às 9 da manhã, ainda na Escola Normal. Alunas pequenas faziam as vezes de uma turma verdadeira, a quem os dois candidatos deveriam ministrar sua aula. Edith estava tensa, o tom de voz abaixo do recomendado, parecendo insegura ao observador do "O Nordeste". Moreira de Sousa, ao contrário, demonstrou-se à vontade, "natural e amável", arrancando risos das alunas e da plateia.
O resultado causou protestos: a banca examinadora deu nota máxima à professora.
Para a última etapa, o Teatro José de Alencar parecia ser o único cenário capaz de conter a multidão de interessados. O padre Hélder Câmara, que substituía Moreira de Sousa à frente da Instrução Pública, manda avisar a Edith o local da última prova. "Nem que fosse no Coliseu de Roma," é sua resposta desafiante.
O ponto da aula era "Instituições Escolares, Instituições Pré-Escolares. Cursos Vocacionais e Profissionais". Um edital no jornal, assinado pela Diretoria da Instituição Pública, libera as professoras públicas para o comparecimento às preleções do dia seguinte. E até mesmo o Teatro se revelou pequeno para o grande número de curiosos.
"O Nordeste" afirma, no dia seguinte: "Foi o embate intelectual mais grandioso e empolgante a que o Ceará assistiu. A agitação era imensa. Palmas. Gritos. Delírio popular". Os candidatos entraram sob aplausos, cada um com seus partidários bem definidos. Moreira de Sousa foi interrompido várias vezes por incentivo da plateia. Edith manteve a calma, uma calma admirável principalmente por ser ela "uma senhora", como lembra o jornal, mais susceptível portanto às pressões da multidão.
Montesori, Pestalozzi, Blager e Flechsig foram citados por Edith, o que não impressiona o articulista: "Bastante aridez. Memorismo", são as acusações lacônicas. Moreira, ao contrário, teria empolgado a assistência que o aplaudiu longamente, levando o jornal a felicitar o povo cearense por sua capacidade de se entusiasmar com outros eventos além do futebol ou das corridas de cavalo.
As médias confirmaram a preferência do auditório: 11,50 para Edith e 12 para Moreira. Somados os números das etapas, o resultado causou agitação: os dois candidatos estavam empatados, com média final de 11,75.
Edith ganhou o concurso em maio de 1934 no Supremo Tribunal Federal. O último ato do Interventor Carneiro de Mendonça foi a nomeação de Edith. O argumento jurídico que pesou a favor de Edith foi sua experiência anterior de dez anos à frente da cadeira. O professor João Hipólito de Oliveira, membro do Instituto do Ceará, que trabalhava no "O Povo", lembra: "Ela surpreendeu nas provas, e enfrentou tudo com sobranceria".
Posteriormente, pesou sobre a professora a acusação de plágio, tudo por conta da sua memória admirável e que permitia citações enormes, com o nome do autor, da obra e a página.
Moreira de Sousa magoou-se profundamente com o resultado final do concurso. A 31 de julho de 1934 viajou para o Rio de Janeiro, onde se radicou definitivamente.
A cadeira de Pedagogia foi mais tarde dividida em Sociologia e História da Educação. Por ser catedrática, Edith pode escolher a que desejava, Sociologia, disciplina que ensinou até o fim. Chegou a ser Diretora da Escola Normal, substituindo por algum tempo o professor João Hipólito de Azevedo e Sá, que foi Diretor por mais de 30 anos.
Em 1934 foi eleita suplente de Deputado Federal pelo PSD. Seu nome aparece aqui e ali nas cronologias da década de 1930, o mais das vezes em atividades sociais.
Numa quarta-feira, no final do semestre letivo, ela não foi dar aula como fazia todas as manhãs. Na quinta estava de cama e no domingo faleceu. O dia era 25 de junho de 1950, e deixava a imagem de uma educadora ativa, que durante 35 anos se dedicara ao ensino e a Escola Normal.
Sobre esse fato, o Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza diz:
"Em 25 de junho de 1950, morre em Fortaleza, aos 51 anos de idade, a política e educadora Edith Dinoá da Costa Braga (Edite Braga), professora de teologia."
Homenagens em Fortaleza:
Hoje, Edith Braga é nome de rua no Jardim América, Bom Futuro e Montese, em Fortaleza.
"Infelizmente as placas colocadas na rua que tem o seu nome, trazem erradamente "Rua Édite Braga". Nirez
24 de setembro de 1954 - A Lei municipal nº 806, denomina de Rua Edite Braga uma via de Fortaleza, proposta do vereador Pedro Paulo Moreira Oliveira, homenagem à educadora Edith Dinoá da Costa Braga, falecida há quatro anos.
30 de janeiro de 1955 - Inaugurado, no Campo de Aviação, hoje Aerolândia, o Grupo Escolar D. Edite Braga, pela Prefeitura Municipal de Fortaleza. Hoje denomina-se Escola de Ensino Fundamental Edite Braga, na Rua Capitão Vasconcelos nº 1.061.
* O casal teve uma filha: Maria Ebe Braga Frota, nascida a 10 de julho de 1925, em Fortaleza.
Assim como a mãe, Ebe foi professora. Aposentada, com reconhecidos méritos, do Colégio Estadual Justiniano Serpa e do Colégio Municipal Filgueira Lima, ambos de Fortaleza, onde ela lecionou História, Filosofia da Educação, Filosofia Geral, Sociologia e Psicologia.
Fonte: "A História do Ceará passa por esta rua" - Volume II de Ângela Barros Leal, Multigraf Editora/Fundação Demócrito Rocha, Fortaleza, 1993., O Nordeste.com, Portal da História do Ceará de Gildácio Sá, Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo, Geocities.ws (Contato: familiadinoa@hotmail.com) e Biblioteca Nacional.
Hoje, Edith Braga é nome de rua no Jardim América, Bom Futuro e Montese, em Fortaleza.
"Infelizmente as placas colocadas na rua que tem o seu nome, trazem erradamente "Rua Édite Braga". Nirez
30 de janeiro de 1955 - Inaugurado, no Campo de Aviação, hoje Aerolândia, o Grupo Escolar D. Edite Braga, pela Prefeitura Municipal de Fortaleza. Hoje denomina-se Escola de Ensino Fundamental Edite Braga, na Rua Capitão Vasconcelos nº 1.061.
* O casal teve uma filha: Maria Ebe Braga Frota, nascida a 10 de julho de 1925, em Fortaleza.
Assim como a mãe, Ebe foi professora. Aposentada, com reconhecidos méritos, do Colégio Estadual Justiniano Serpa e do Colégio Municipal Filgueira Lima, ambos de Fortaleza, onde ela lecionou História, Filosofia da Educação, Filosofia Geral, Sociologia e Psicologia.