Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Rua Franco Rabelo
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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quinta-feira, 14 de maio de 2015

O Curral das Éguas


Rua Franco Rabelo, que hoje fica no leito da Avenida Leste-Oeste. Lá se concentrava o baixo meretrício, um tipo de cabarés da mais baixa classe. Arquivo Nirez



"Fortaleza viveu um triste episódio em seu passado, que deixou marcas de discriminação em sua história. Foi a criação do Curral das Éguas - a Cinza, para onde foram mandadas, por força policial, todas as prostitutas do Centro da cidade. A Cinza, ficava na descida da Rua Franco Rabelo, no morro achatado que fica defronte ao Marina Hotel.
Ali, algumas ruas foram arrancadas para a construção da Av. Leste-Oeste. Morar na Cinza, era o equivalente a viver entre marginais, drogados, prostitutas, ladrões e gatunos. Sim, também existiam pessoas de bem, como em qualquer local, mas o lugar era conhecido e descrito com o portal do inferno.
Ao tempo que a Cinza foi criada, foram também, as Pensões Alegres, onde prostitutas - jovens em flor - passaram a habitar. Eram instaladas por seus amantes no segundo andar dos casarões do Centro, que ficaram desabitados, quando a burguesia que ali residia, mudou-se para a Praia de Iracema, Jacarecanga e Gentilândia, os novos bairros nobres da cidade."


O "Curral das Éguas", era onde mancebos despertados pela sexualidade se entregavam ao amor da "Mulher do Fado".

O "Salão Bola Preta" do carioca Almada tinha características próprias e idênticas aos salões de dança do Rio de Janeiro, embora com proporções desiguais; mesmo assim, "odaliscas" mais saltitantes se esbaldavam aos sons de instrumentos de percussão, de sons metálicos e sopro (trompete, trombone de vara e saxofone), cuja harmonia ressoava os mais afinados tons com acompanhamento da sanfona (acordeão). Bailarinos, com passos singulares e acrobáticos, arremessavam as "damas da noite" para o alto, com grande destreza e malabarismo, causando aos espectadores espetáculos circense pondo em prática libações em profusão contagiantes, nos copos de vinho.

O salão despertava arrebatadora atenção dos frequentadores, cujos rodopios entre casais traduziam-se no compasso do samba ou qualquer ritmo dançante, verdadeira apoteose infindável entre pares com admirável exuberância entre os mesmos. A música entoada nos diversos tons sonorizava com o menestrel da noite no clarão da luz de combustão de carbureto previamente ligado com antecedência, para iluminar o embalo da orquestra, nos intervalos da mudança dos ritmos e musicas previamente ensaiadas para execução e, deleite dos frequentadores do Curral das Éguas, lugar de fascinante orgia sem tempo para terminar os momentos de prazer, suspirado por desejos incontidos nos salões dançantes do famoso prostíbulo.

Dos mais longínquos recantos do Ceará, os sertanejos que por aqui nunca vindos ficavam deslumbrados com aquela paisagem cheia de aventuras, efusivos momentos com as "mariposas" que repentinamente os atraia com afagos e, da mais inesperada candidez esquecendo por algumas horas a crueza do torrão natal de agruras e solidão, distante do canto da cauã, bem-te-vi, galo de campina, rouxinol, canários, graúnas, curió, entre outros que embelezam a natureza.

Esta era a delegacia da Rua Franco Rabelo, antro de prostituição que foi absorvido pela Avenida Leste-Oeste. Ficava entre a travessa Baturité e a Praça do Cristo Redentor. 
Arquivo Nirez

O "Curral das Éguas", por ser lugar de baixo meretrício, era mantido por severas ordens policial, do delegado Rodrigues e Comissário "Chico da Usina" que ajudava na manutenção do respeito às "borboletas noturnas", fazia a vigilância ostensiva do baixo meretrício até alta madrugada quando os parceiros se aproximavam para "forrar" o estômago com panelada ou suculento caldo preparado das vísceras do boi para substituir outro tipo de jantar.

O respeito à ordem pública mantida por Delegado Rodrigues, previa de tamanha segurança, para evitar desmandos e arruaças comuns nos ambientes onde impera a prostituição e excessos de bebidas alcoólicas ingeridas muitas vezes às escondidas fora dos horários permitido por ordem da Secretaria de Segurança Pública.

A foto é de 1958 e esses casebres que vemos, na época eram chamados de "mocambos" (invasões de terras). Acervo Lucas Jr

O público

O jocoso é que certos comerciantes, no seu jeito astuto para burlar a lei, colocavam, nos "bules de café", cachaça, para vender nas xícaras de café às escondidas... Bebiam como se fosse café ingerido sem direito a fazer "cara feia", de quem bebe álcool... Sem direito a tira-gosto, servia com rapidez, demonstrando como se estivesse bebendo café... Era verdadeira Lei-seca.

Essa proibição caso desobedecida e se pegado em flagrante, iria parar no xadrez até o dia seguinte, quando era liberado relaxado o flagrante se encarregava de higienizar o local da carceragem onde dormira com os demais infratores.

Espaço emblemático

O Salão Bola Preta do carioca Almada era o mais importante salão de dança do Curral das Éguas. Com coreto de madeira fixado na parede do mesmo, onde comportava 8 (oito) figurantes com instrumentos de "pau e corda" e sopro, abemolando. O som volatilizado com reduzida luz do gás de carbureto se expandia por todo o salão onde "mariposas" saltitantes faziam acrobacias corporais com parceiros metidos a almofadinhas imitavam as "danças carioca" arremessando as "horizontais" para o alto, amparando-as com as mãos na cintura num eterno rebolado de sons e balanceios harmonizados pelos remelexos das cadeiras e quadris, digno de ser apreciado. Outro salão também famoso e mais antigo do baixo meretrício era o "Salão Azul" de propriedade de José Vitalino como era conhecida tal figura. Cidadão de idade avançada, que vivia de alugar ou arrendar prédios no Arraial Moura Brasil, para explorar o ramo de salão dançantes e bar.

Ali também era mais um espaço do lenocínio da cidade de Fortaleza nas décadas de 40, 50 até 1960, quando se iniciou a transferência do mulherio para a praia do Farol, Cais do Porto, Mucuripe, Serviluz, Castelo Encantado e adjacências. O imóvel, adaptado a esses fins, tinha entrada amparada por cabine ou caixa, onde era cobrado o ingresso para ter acesso ao salão quando iniciasse a contradança com a "dama da noite" à espera dos participantes do forró, cujos trajes sumários atraiam os que ali se dirigiam para demonstração dos ritmos, samba, foxtrote, rumba, bolero, samba-canção, valsa e o mais afamado tango - um dos ritmos mais apreciados à época.

Zenilo Almada

Quem recorda?

Bar da Alegria
FascinaçãoBarba azulSenaforzão, Flores Perfumadas, Galeria do Amor, Cabaré da Mãe Tônia, 90,  Zé bombom, Cabaré da Leila, Renascença ClubeUberlândia, Cabaré da Chaguinha...



Fonte: Zenilo Almada (Diário do Nordeste)



sábado, 23 de junho de 2012

A antiga Rua Franco Rabelo



 
A foto antiga data de aproximadamente 1948. O muro que está em primeiro plano ficava na antiga rua Franco Rabelo. Arquivo Nirez

Na antiga Rua Franco Rabelo, só existiam pensões de mulheres, cabarés e os "chatôs", hoje chamados de motéis, além de um posto policial. A rua começava na então Travessa Baturité e se estendia até a Praça do Cristo Redentor, seguindo com o nome de Avenida Monsenhor Tabosa.

A rua já recebeu o nome de Rua Treze, mas não durou muito.

Com a abertura da Avenida Marechal Castelo Branco, que ficou conhecida popularmente por Leste-Oeste, a Rua Franco Rabelo praticamente desapareceu, restando apenas uma de suas placas, pois suas casas do lado Sul passaram a ser da avenida e as do outro lado foram demolidas. 


 
Praça do Cristo Redentor. Foto colhida pela objetiva da Aba Film no ano de 1938. A partir da esquerda, a mansão que foi de Luiz Borges da Cunha e Maria Pio de Castro, que ficava na Rua Franco Rabelo, em frente à Praça, seguida da casa construída por José Pio de Morais e Castro e Angélica Borges Pio de Castro, depois ocupada pelo inglês Francis Reginald Hull (Mr. Hull), meio encoberta por uma árvore; a Avenida Monsenhor Tabosa, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição e o Seminário Arquidiocesano. Na frente, a praça, com a torre que lhe deu o nome.

 
Em primeiro plano, na esquina da Rua Franco Rabelo com rua Almirante Jaceguai, a casa  construída no século passado pelo senhor José Pio de Farias, que era agente do Loyd Brasileiro. A casa tinha uma torre de onde ele observava a saída e chegada de navios. 

Na década de 70 iniciaram-se as obras de construção da Avenida Leste-Oeste que absorveu a Rua Franco Rabelo, unindo lado leste ao oeste da Cidade.
As casas que ficavam na Rua Franco Rabelo foram demolidas para darem lugar hoje ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.


Esta era a delegacia da Rua Franco Rabelo, antro de prostituição que foi absorvido pela Avenida Leste-Oeste. Ficava entre a travessa Baturité e a Praça do Cristo Redentor. Arquivo Nirez

Rua Franco Rabelo, que hoje fica no leito da Avenida Leste-Oeste. Lá se concentrava o baixo meretrício, ou seja, era um tipo de cabarés da mais baixa classe. Na rua ficava uma delegacia de polícia para resolver os problemas constantes ali surgidos. Foi escola para muitos jovens que ali iniciaram sua vida sexual. Essas jovens que aí estão eram prostitutas e os jovens eram clientes. Arquivo Nirez

Espaço hoje ocupado pelo Dragão do Mar. Foto da década de 20/30 - Arquivo Nirez

Fatos Históricos


  • 14 de fevereiro de 1915 - Inaugura-se o Teatro São José, na Rua 25 de Março entre a Rua Rufino de Alencar, a Rua Franco Rabelo e a Rua Boris, com frente para Praça do Cristo Redentor. Hoje, com a abertura da Avenida Marechal Castelo Branco (Leste-Oeste), desapareceu a Rua Franco Rabelo que ficou no leito da avenida.


Vista aérea da década de 20/30 - Arquivo Nirez


  • 24 de outubro de 1920 - Lançamento da pedra fundamental do edifício do Círculo de Operários e Trabalhadores Católicos São José, com a presença do Arcebispo Metropolitano Dom Manuel da Silva Gomes e do Presidente do Estado, Justiniano José de Serpa (Justiniano de Serpa), na Praça Senador Machado (hoje Praça do Cristo Redentor), ficando o prédio com frente para a Rua 25 de Março, os fundos para a Rua Boris, o lado esquerdo para a Rua Franco Rabelo e o direito para a Rua Rufino de Alencar nº 362.


  • 10 de julho de 1952 - Publicada no Diário Oficial do Município - Diom nº5.467, a Lei nº 491, de 30/06/1952, que muda a denominação da Rua Franco Rabelo para Rua Treze. O nome não permaneceu. 

  • 13 de julho de 1965 - O pequeno espaço existente ao lado do Círculo Operário São José, no encontro da Rua 25 de Março com Rua Franco Rabelo, recebe o nome de Largo Padre Guilherme Waessen. Com a abertura da Avenida Marechal Castelo Branco (Avenida Leste-Oeste), a praça desapareceu.

  • 27 de março de 1967 - A Biblioteca Pública do Estado inaugura sua nova sede, na Rua Franco Rabelo nº 317, na Praça Cristo Redentor, o prédio da hoje Biblioteca Pública Menezes Pimentel, como parte das comemorações do centenário daquela instituição. A antiga Rua Franco Rabelo sumiu e hoje existe a Avenida Marechal Castelo Branco (Avenida Leste-Oeste). Os arquitetos foram Aírton Ibiapina Montenegro Júnior e Francisco Célio Falcão Queirós. O endereço hoje é Avenida Marechal Castelo Branco nº 255. 

  • 09 de agosto de 1973 - Inicia-se a derrubada de antigos imóveis situados na Avenida Alberto Nepomuceno, no cruzamento com a Avenida da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, que corre ao lado da 10ª RM, para dar lugar às obras de construção de um dos primeiros viadutos de Fortaleza, que ligará a Avenida Marechal Castelo Branco (Leste-Oeste) à Rua Franco Rabelo.


Arquivo Nirez

Após sua inauguração recebeu o nome oficial de Viaduto da FEB, mas ficou conhecido popularmente como "Tatasão", alusão a conhecido homossexual de Fortaleza.

Quem foi Franco Rabelo:

Marcos Franco Rabelo, nasceu em Fortaleza, 25 de abril de 1861, filho de Antônio Franco Aives de Melo e Ana Franco Rabelo.

Seguiu carreira militar, começando pelo 15° batalhão de Infantaria, sediado em Fortaleza, de onde ruma para a Escola Militar da Corte. Fez os cursos de. Infantaria e Cavalaria (terminado em 1882) e o de Artilharia (1884). Bacharel em Matemática e Ciências Físicas (1886). Serviu em Belém e Manaus, Fortaleza e Rio de Janeiro (Professor da Escola Militar da Corte, Escola Superior de Guerra e Escola do Estado Maior do Exército). Posto em disponibilidade em 1910, exerceu cargo de chefe do serviço de Estatística da Estrada de Ferro Central do Brasil.

Em julho de 1912 assumiu o governo do Estado do Ceará, pondo fim ao domínio de Antônio Pinto Nogueira Accioli; postando-se contra os interesses do Marechal Hermes da Fonseca, Presidente da República; enfrentou grandes adversidades e dificuldades. Franco Rabelo buscou enfraquecer as lideranças regionais do Ceará, entre elas Padre Cícero, que foi deposto do cargo de prefeito de Juazeiro do Norte por Rabelo. Em 1914, Floro Bartolomeu convocou uma sessão extraordinária da Assembleia Legislativa do Ceará a ser realizada em Juazeiro. Ao tomar conhecimento, Franco Rabelo determinou a invasão da cidade, dando origem ao conflito chamado de Sedição de Juazeiro, que culminou com a deposição de Franco Rabelo. Foi um dos fundadores da Academia Cearense de Letras.



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Fontes: Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo, 

1001 Cearenses Notáveis - F. Silva Nobre e Nirez

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