Rua Franco Rabelo, que hoje fica no leito da Avenida Leste-Oeste. Lá se concentrava o baixo meretrício, um tipo de cabarés da mais baixa classe. Arquivo Nirez
"Fortaleza viveu um triste episódio em seu passado, que deixou marcas de discriminação em sua história. Foi a criação do Curral das Éguas - a Cinza, para onde foram mandadas, por força policial, todas as prostitutas do Centro da cidade. A Cinza, ficava na descida da Rua Franco Rabelo, no morro achatado que fica defronte ao Marina Hotel.
Ali, algumas ruas foram arrancadas para a construção da Av. Leste-Oeste. Morar na Cinza, era o equivalente a viver entre marginais, drogados, prostitutas, ladrões e gatunos. Sim, também existiam pessoas de bem, como em qualquer local, mas o lugar era conhecido e descrito com o portal do inferno.
Ao tempo que a Cinza foi criada, foram também, as Pensões Alegres, onde prostitutas - jovens em flor - passaram a habitar. Eram instaladas por seus amantes no segundo andar dos casarões do Centro, que ficaram desabitados, quando a burguesia que ali residia, mudou-se para a Praia de Iracema, Jacarecanga e Gentilândia, os novos bairros nobres da cidade."
O "Curral das Éguas", era onde mancebos despertados pela sexualidade se entregavam ao amor da "Mulher do Fado".
O "Salão Bola Preta" do carioca Almada tinha características próprias e idênticas aos salões de dança do Rio de Janeiro, embora com proporções desiguais; mesmo assim, "odaliscas" mais saltitantes se esbaldavam aos sons de instrumentos de percussão, de sons metálicos e sopro (trompete, trombone de vara e saxofone), cuja harmonia ressoava os mais afinados tons com acompanhamento da sanfona (acordeão). Bailarinos, com passos singulares e acrobáticos, arremessavam as "damas da noite" para o alto, com grande destreza e malabarismo, causando aos espectadores espetáculos circense pondo em prática libações em profusão contagiantes, nos copos de vinho.
O salão despertava arrebatadora atenção dos frequentadores, cujos rodopios entre casais traduziam-se no compasso do samba ou qualquer ritmo dançante, verdadeira apoteose infindável entre pares com admirável exuberância entre os mesmos. A música entoada nos diversos tons sonorizava com o menestrel da noite no clarão da luz de combustão de carbureto previamente ligado com antecedência, para iluminar o embalo da orquestra, nos intervalos da mudança dos ritmos e musicas previamente ensaiadas para execução e, deleite dos frequentadores do Curral das Éguas, lugar de fascinante orgia sem tempo para terminar os momentos de prazer, suspirado por desejos incontidos nos salões dançantes do famoso prostíbulo.
Dos mais longínquos recantos do Ceará, os sertanejos que por aqui nunca vindos ficavam deslumbrados com aquela paisagem cheia de aventuras, efusivos momentos com as "mariposas" que repentinamente os atraia com afagos e, da mais inesperada candidez esquecendo por algumas horas a crueza do torrão natal de agruras e solidão, distante do canto da cauã, bem-te-vi, galo de campina, rouxinol, canários, graúnas, curió, entre outros que embelezam a natureza.
O "Curral das Éguas", por ser lugar de baixo meretrício, era mantido por severas ordens policial, do delegado Rodrigues e Comissário "Chico da Usina" que ajudava na manutenção do respeito às "borboletas noturnas", fazia a vigilância ostensiva do baixo meretrício até alta madrugada quando os parceiros se aproximavam para "forrar" o estômago com panelada ou suculento caldo preparado das vísceras do boi para substituir outro tipo de jantar.
O respeito à ordem pública mantida por Delegado Rodrigues, previa de tamanha segurança, para evitar desmandos e arruaças comuns nos ambientes onde impera a prostituição e excessos de bebidas alcoólicas ingeridas muitas vezes às escondidas fora dos horários permitido por ordem da Secretaria de Segurança Pública.
O público
O jocoso é que certos comerciantes, no seu jeito astuto para burlar a lei, colocavam, nos "bules de café", cachaça, para vender nas xícaras de café às escondidas... Bebiam como se fosse café ingerido sem direito a fazer "cara feia", de quem bebe álcool... Sem direito a tira-gosto, servia com rapidez, demonstrando como se estivesse bebendo café... Era verdadeira Lei-seca.
Essa proibição caso desobedecida e se pegado em flagrante, iria parar no xadrez até o dia seguinte, quando era liberado relaxado o flagrante se encarregava de higienizar o local da carceragem onde dormira com os demais infratores.
Espaço emblemático
O Salão Bola Preta do carioca Almada era o mais importante salão de dança do Curral das Éguas. Com coreto de madeira fixado na parede do mesmo, onde comportava 8 (oito) figurantes com instrumentos de "pau e corda" e sopro, abemolando. O som volatilizado com reduzida luz do gás de carbureto se expandia por todo o salão onde "mariposas" saltitantes faziam acrobacias corporais com parceiros metidos a almofadinhas imitavam as "danças carioca" arremessando as "horizontais" para o alto, amparando-as com as mãos na cintura num eterno rebolado de sons e balanceios harmonizados pelos remelexos das cadeiras e quadris, digno de ser apreciado. Outro salão também famoso e mais antigo do baixo meretrício era o "Salão Azul" de propriedade de José Vitalino como era conhecida tal figura. Cidadão de idade avançada, que vivia de alugar ou arrendar prédios no Arraial Moura Brasil, para explorar o ramo de salão dançantes e bar.
Ali também era mais um espaço do lenocínio da cidade de Fortaleza nas décadas de 40, 50 até 1960, quando se iniciou a transferência do mulherio para a praia do Farol, Cais do Porto, Mucuripe, Serviluz, Castelo Encantado e adjacências. O imóvel, adaptado a esses fins, tinha entrada amparada por cabine ou caixa, onde era cobrado o ingresso para ter acesso ao salão quando iniciasse a contradança com a "dama da noite" à espera dos participantes do forró, cujos trajes sumários atraiam os que ali se dirigiam para demonstração dos ritmos, samba, foxtrote, rumba, bolero, samba-canção, valsa e o mais afamado tango - um dos ritmos mais apreciados à época.
Ali, algumas ruas foram arrancadas para a construção da Av. Leste-Oeste. Morar na Cinza, era o equivalente a viver entre marginais, drogados, prostitutas, ladrões e gatunos. Sim, também existiam pessoas de bem, como em qualquer local, mas o lugar era conhecido e descrito com o portal do inferno.
Ao tempo que a Cinza foi criada, foram também, as Pensões Alegres, onde prostitutas - jovens em flor - passaram a habitar. Eram instaladas por seus amantes no segundo andar dos casarões do Centro, que ficaram desabitados, quando a burguesia que ali residia, mudou-se para a Praia de Iracema, Jacarecanga e Gentilândia, os novos bairros nobres da cidade."
O "Curral das Éguas", era onde mancebos despertados pela sexualidade se entregavam ao amor da "Mulher do Fado".
O "Salão Bola Preta" do carioca Almada tinha características próprias e idênticas aos salões de dança do Rio de Janeiro, embora com proporções desiguais; mesmo assim, "odaliscas" mais saltitantes se esbaldavam aos sons de instrumentos de percussão, de sons metálicos e sopro (trompete, trombone de vara e saxofone), cuja harmonia ressoava os mais afinados tons com acompanhamento da sanfona (acordeão). Bailarinos, com passos singulares e acrobáticos, arremessavam as "damas da noite" para o alto, com grande destreza e malabarismo, causando aos espectadores espetáculos circense pondo em prática libações em profusão contagiantes, nos copos de vinho.
O salão despertava arrebatadora atenção dos frequentadores, cujos rodopios entre casais traduziam-se no compasso do samba ou qualquer ritmo dançante, verdadeira apoteose infindável entre pares com admirável exuberância entre os mesmos. A música entoada nos diversos tons sonorizava com o menestrel da noite no clarão da luz de combustão de carbureto previamente ligado com antecedência, para iluminar o embalo da orquestra, nos intervalos da mudança dos ritmos e musicas previamente ensaiadas para execução e, deleite dos frequentadores do Curral das Éguas, lugar de fascinante orgia sem tempo para terminar os momentos de prazer, suspirado por desejos incontidos nos salões dançantes do famoso prostíbulo.
Dos mais longínquos recantos do Ceará, os sertanejos que por aqui nunca vindos ficavam deslumbrados com aquela paisagem cheia de aventuras, efusivos momentos com as "mariposas" que repentinamente os atraia com afagos e, da mais inesperada candidez esquecendo por algumas horas a crueza do torrão natal de agruras e solidão, distante do canto da cauã, bem-te-vi, galo de campina, rouxinol, canários, graúnas, curió, entre outros que embelezam a natureza.
Esta era a delegacia da Rua Franco Rabelo, antro de prostituição que foi absorvido pela Avenida Leste-Oeste. Ficava entre a travessa Baturité e a Praça do Cristo Redentor.
Arquivo Nirez
O "Curral das Éguas", por ser lugar de baixo meretrício, era mantido por severas ordens policial, do delegado Rodrigues e Comissário "Chico da Usina" que ajudava na manutenção do respeito às "borboletas noturnas", fazia a vigilância ostensiva do baixo meretrício até alta madrugada quando os parceiros se aproximavam para "forrar" o estômago com panelada ou suculento caldo preparado das vísceras do boi para substituir outro tipo de jantar.
O respeito à ordem pública mantida por Delegado Rodrigues, previa de tamanha segurança, para evitar desmandos e arruaças comuns nos ambientes onde impera a prostituição e excessos de bebidas alcoólicas ingeridas muitas vezes às escondidas fora dos horários permitido por ordem da Secretaria de Segurança Pública.
A foto é de 1958 e esses casebres que vemos, na época eram chamados de "mocambos" (invasões de terras). Acervo Lucas Jr
O público
O jocoso é que certos comerciantes, no seu jeito astuto para burlar a lei, colocavam, nos "bules de café", cachaça, para vender nas xícaras de café às escondidas... Bebiam como se fosse café ingerido sem direito a fazer "cara feia", de quem bebe álcool... Sem direito a tira-gosto, servia com rapidez, demonstrando como se estivesse bebendo café... Era verdadeira Lei-seca.
Essa proibição caso desobedecida e se pegado em flagrante, iria parar no xadrez até o dia seguinte, quando era liberado relaxado o flagrante se encarregava de higienizar o local da carceragem onde dormira com os demais infratores.
Espaço emblemático
O Salão Bola Preta do carioca Almada era o mais importante salão de dança do Curral das Éguas. Com coreto de madeira fixado na parede do mesmo, onde comportava 8 (oito) figurantes com instrumentos de "pau e corda" e sopro, abemolando. O som volatilizado com reduzida luz do gás de carbureto se expandia por todo o salão onde "mariposas" saltitantes faziam acrobacias corporais com parceiros metidos a almofadinhas imitavam as "danças carioca" arremessando as "horizontais" para o alto, amparando-as com as mãos na cintura num eterno rebolado de sons e balanceios harmonizados pelos remelexos das cadeiras e quadris, digno de ser apreciado. Outro salão também famoso e mais antigo do baixo meretrício era o "Salão Azul" de propriedade de José Vitalino como era conhecida tal figura. Cidadão de idade avançada, que vivia de alugar ou arrendar prédios no Arraial Moura Brasil, para explorar o ramo de salão dançantes e bar.
Ali também era mais um espaço do lenocínio da cidade de Fortaleza nas décadas de 40, 50 até 1960, quando se iniciou a transferência do mulherio para a praia do Farol, Cais do Porto, Mucuripe, Serviluz, Castelo Encantado e adjacências. O imóvel, adaptado a esses fins, tinha entrada amparada por cabine ou caixa, onde era cobrado o ingresso para ter acesso ao salão quando iniciasse a contradança com a "dama da noite" à espera dos participantes do forró, cujos trajes sumários atraiam os que ali se dirigiam para demonstração dos ritmos, samba, foxtrote, rumba, bolero, samba-canção, valsa e o mais afamado tango - um dos ritmos mais apreciados à época.
Zenilo Almada
Quem recorda?
Bar da Alegria, Fascinação, Barba azul, Senaforzão, Flores Perfumadas, Galeria do Amor, Cabaré da Mãe Tônia, 90, Zé bombom, Cabaré da Leila, Renascença Clube, Uberlândia, Cabaré da Chaguinha...
Agradecimento: Franklin Freire de Freitas e Zozimo Orzabal
Fonte: Zenilo Almada (Diário do Nordeste)