Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Rua Senador Pompeu
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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terça-feira, 22 de novembro de 2016

Ordenamento urbano e a saudade...




A cidade de Fortaleza surge em meio a percalços, quando arruadores, agentes municipais eram incumbidos do cumprimento, fazendo realidade o Plano Diretor deixado por Antônio José Silva Paulet, conforme registros da administração do Senador Alencar (1834-1837), a quem a cidade deve imensamente, estava atribuída também à fiscalização do Presidente da Câmara, o Boticário Antônio Rodrigues Ferreira. O mesmo colocava a filantropia em primeiro e, política em segundo. 
Morando em um casarão, quando em Fortaleza chegou, sua casa que era de três portas, não dava para atender a demanda de pessoas enfermas, e foi com esses méritos que o mesmo já havia caído na graça do povo. A Fortalezinha crescia e se urbanizava com hercúleo esforço. A Capital da Província praticamente ficou plana, apesar de ser erguida sobre morros. A rua da Amélia (Senador Pompeu) das areias na Praia Formosa vai à tangente até as primeiras serras na hoje Região Metropolitana. 

Rua Senador Pompeu em 1940. Arquivo Nirez 

Praça do Ferreira em 1910. Destaque para o Café Iracema.

Nós fortalezenses tivemos a felicidade de ter edificações, mesmo passada por modificações as mais diversas. Tomou a feição dos arquitetos e da edilidade logo em suas primeiras casas quando foram feitas. No sentido de acomodação sempre obedeceu uma estética, devido a traçados dos arruadores primitivos. Do chamado coração da cidade (Praça do Ferreira), observam-se as quadras de ruas que foram elaboradas por Francisco de Paula e Adolfo Herbster, e as pessoas nos dias de hoje passam despercebidas pelo Centro fazendo compras, com cuidado nas bolsas e objetos manuais e/ou então reclamando da notória promiscuidade, principalmente da Praça José de Alencar, cujo patrono vive sentado por se tratar de um logradouro que não tem sossego. 

Antigas edificações de Fortaleza

Já é tempo da Gestão Municipal de Fortaleza, juntamente com o Estado tomarem providências quanto ao rejuvenescimento desses locais, senão o Centro vai morrer. Aí minha mente volta para minha VILA SÃO JOSÉ, em que alcancei muitas quadras ajardinadas que o Coronel Philomeno, talvez em suas andanças pelo Passeio Público, resolveu dar como lazer duas pracinhas dentro da própria Vila aos seus inquilinos. Nós a chamávamos de Avenidinhas, em numero de duas. O matagal ainda existia noutras quadras não divididas, e tinha o Campo de Baturité para partidas de futebol de subúrbios (ainda assisti partidas entre Usina São José X Usina Ceará, Messejana X José de Alencar, dentre outros). Tivemos um lado de infância selvagem, pois, até nossa comida era feita no local, tendo como combustível cascas de castanhas que levávamos para os matos, oriundas da lixeira da Caju do Brasil - Cajubraz, que subtraiu nosso espaço em 1966. 

Vista da cidade no início dos anos 40.

A cidade e seu traçado. Nesse postal, temos uma vista aérea parcial do Benfica nos anos 30, com destaque para a Avenida da Universidade (à direita). 
Acervo MarcosSiebra 

Restaram as quadras do Bar do Seu Telles com vários pés de Jurubeba, cujas raízes fazíamos lambedor para não gripar. Olhando para o Oeste e na diagonal uma estrada para pedestre que nos conduzia a Casa Machado e a mercearia do Seu Abelardo, point da bebida Blimp, Crusch e Grapette. Depois meu pai me dava umas porradas. Era fiado na conta dele. Hoje, chego à Vila e a impressão é que estou noutro local nunca visto. Casas diferentes, as ruas estreitaram e as quadra todas ocupadas, sem nada para apreciar. A infância passa rápido, a mocidade é transitória. Agora é se preparar para a velhice, afinal, quando ela chega é permanente. Todos querem envelhecer, mas ninguém quer ficar velho. Cada coisa pertence ao seu tempo, só restando evocar as ultimas palavra de José de Alencar no romance Iracema: “Tudo passa sobre a terra”.


Leia também:

Ruas e praças de Fortaleza


Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
Idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio


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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A nomenclatura numérica das vias públicas da Fortaleza antiga (Parte II)


Em 1890, de acordo com a resolução aprovada em 29 de outubro daquele ano pelo Conselho da Intendência, foi implantada a nomenclatura das vias públicas da cidade.

Na relação abaixo, adotei o seguinte ornamento:


  • Em primeiro lugar o número atribuído à via pública;
  • Em segundo, o nome atualmente adotado;
  • Em terceiro, o nome possuído na ápoca em que se passou a usar a nomenclatura numérica.

Ruas Pares

Nº 2 - Rua Senador Pompeu - Amélia, em 1877.



Rua Senador Pompeu em 1940 - Arquivo Nirez


Nº 4 - Rua General Sampaio - Chamou-se  da Cadeia e dos Três Cajueiros.


Rua General Sampaio sentido Sul norte. O fotografo está na esquina da Clarindo de Queiroz tendo a sua direita a Praça Clóvis Beviláqua. Arquivo Nirez

Antiga Praça da Bandeira - hoje Praça Clóvis Beviláqua - em 1936, antes da construção da Faculdade de Direito, vendo-se, à esquerda, a rua General Sampaio.

Nº 6 - Rua 24 de Maio - antiga Do Patrocínio.


Arquivo Nirez

Supermercado Sino na Rua 24 de Maio entre as ruas São Paulo e Guilherme Rocha
Hoje é o Mercadão Shopping. Acervo Carlos Juaçaba

Nº 8 - Tristão Gonçalves - anteriormente da Lagoinha; em 1888, 14 de Março, do Catavento e do Trilho.


Rua Tristão Gonçalves conhecida como rua do Trilho - Arquivo Nirez

A então rua do Catavento (Hoje Tristão Gonçalves). Arquivo Assis Lima

Nº 10 - Avenida do Imperador - 15 de Novembro.


Avenida do Imperador, vendo-se o prédio da antiga Escola Doméstica São Rafael, inaugurado no dia 30 de novembro de 1938. A escola ficava no nº1490 da avenida. 
Arquivo Nirez

Tradicional Padaria Ideal na Avenida do Imperador - Arquivo Nirez

Nº 12 - Dona Tereza Cristina - Antiga rua do Paiol e Santa Tereza.


Rua Teresa Cristina. Acervo Sérgio Roberto

Linda casa na rua Teresa Cristina. Acervo Sérgio Roberto

Nº 14 - Princesa Isabel - Santa Isabel.


Rua Princesa Isabel cruzando com a rua Guilherme Rocha. Arquivo Nirez

Mesmo cruzamento hoje.

Nº 16 - Padre Mororó - Mororó e, em 1888, São Cosme.


Rua Padre Mororó em 1943 - Arquivo Nirez

O Cemitério São João Batista na rua Padre Mororó - Arquivo Nirez

Nº 18 - Agapito dos Santos - Filgueiras e Concórdia.


Casa na rua Agapito dos Santos, onde morou o jornalista Jáder de Carvalho. Arquivo Nirez

A casa hoje - Acervo do Blog Sertão Poesia

Nº 20 - Conselheiro Estelita.

Nº 22 - Oto de Alencar - Foi chamada de Natal e Dr. Francisco Salgado.


Grupo Fernandes Vieira (Hoje Colégio Juvenal Galeno) na rua Oto de Alencar. Foto da década de 30.

Corpo de Bombeiros - Rua Oto de Alencar. Década de 60


Veja também a parte I com as ruas ímpares



Fonte: Livro Fortaleza Somos Nós - Aurileide Silva/Sara Braga


sábado, 11 de abril de 2015

Especial Fortaleza 289 anos - Os homenageados nas ruas da cidade


Baseado numa matéria do Tribuna do Ceará (VEJA AQUI), resolvi mergulhar fundo e descobrir quem são alguns homenageados em ruas da nossa capital!

Em 17 de janeiro de 1818, a Câmara pagou ao procurador Bernardo José Teixeira, para que este colocasse placas com os nomes das ruas de Fortaleza.


Coronel de engenheiros, naturalista João da Silva Feijó (Naturalista Feijó), era nascido na Vila de Guaratiba, Rio de Janeiro em 1760. Estudou detalhadamente os recursos naturais do Ceará, deixando várias memórias a respeito e uma carta topográfica do Ceará. Em 09 de março de 1824, morre, na Capital do Império, aos 64 anos de idade.


Coronel Pedro José da Costa Barrosera cearense de Aracati onde nascera a 07/10/1779 e também poeta. Foi presidente da Província do Ceará, tenente, ministro e senador, além de deputado às Cortes de LisboaMorreu em 20 de outubro de 1839, aos 60 anos de idade, no Rio de Janeiro.


Senador Manuel do Nascimento Castro e Silva, era cearense de Aracati, nascido a 25/12/1788. Filho do capitão-mor José de Castro e Silva e de Joana Maria Bezerra de Meneses, sendo, portanto, irmão de João Facundo, José de Castro e Silva e de Vicente Ferreira de Castro e Silva. Foi batizado na igreja matriz de Aracati pelo padre José Joaquim Nunes da Costa Carvalho, sendo padrinhos o governador João Batista de Azevedo Coutinho de Montauri e sua esposa Francisca de Sousa Coutinho por procuração apresentada pelo mestre-de-campo Pedro José da Costa Barros e Francisca Xavier da Natividade, irmã do médico João Damasceno Ferreira. Foi deputado geral, Ministro do Império e presidiu o Rio Grande do Norte. Hoje é nome de rua que nasce na Catedral Metropolitana e termina no Cemitério de São João Batista, antiga Rua das Flores. Morreu no Rio de Janeiro em 26 de outubro de 1846, aos 57 anos de idade.




Alexandre Baraúna Mossoró, era soldado da 5ª Companhia do 3º Batalhão de Infantaria do Exército BrasileiroMorreu em luta no Uruguai, na Tomada de Paissandu, em 02 de janeiro de 1865. Era cearense nascido às margens do Rio Mossoró, quando este era a divisória entre o Ceará e o Rio Grande do Norte.



Brigadeiro Francisco Xavier Torres (Brigadeiro Torres), era natural de Fortaleza onde nascera em 1803. Morreu no Rio de Janeiro em 25 de março de 1873, aos 70 anos de idade.



José Lourenço de Castro Silva nasceu em Aracati em 3 de agosto de 1808. Foi o primeiro médico deputado estadual do Ceará. O sobrado do Dr. José Lourenço, onde viveu a maior parte de sua vida em Fortaleza, foi tombado em 2007 como patrimônio do Ceará sendo o primeiro prédio de três pavimentos da capital.
O Dr. José Lourenço faleceu em Fortaleza, em 13 de agosto de 1874.




Joaquim Antônio Alves Ribeiro, era cearense de Icó, nascido em 09/01/1830.
Era um dos dezessete filhos de Manuel Alves Ribeiro e de Alexandrina Mendes Ribeiro. Formado em medicina pela Universidade de Harvard, em 1853, sustentou teses perante a Faculdade de Medicina da Bahia, vindo exercer sua profissão na província natal.
Era médico do Hospital de Caridade de Fortaleza, cirurgião da Guarda Nacional, cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa (2 de dezembro de 1858) e de Cristo (12 de outubro de 1867), sócio correspondente da Imperial Academia de Medicina do Rio de Janeiro, da Sociedade Médica de Massachusetts, da Sociedade de História Natural de Frankfurt, da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional.
A esse médico se deve o primeiro museu que o Ceará viu. Após sua morte as diversas coleções passaram por doação ao governo do Estado, que as confiou à Biblioteca Pública, e mais tarde foram removidas para a Escola Normal.
Foi casado com sua prima, Adelaide Smith de Vasconcelos, filha de José Smith de Vasconcelos e de Francisca Mendes da Cruz Guimarães, primeiros barões de Vasconcelos.

Morreu em Fortaleza, em 02 de maio de 1875, aos 45 anos de idade.
Exerceu sua profissão na Santa Casa de Misericórdia.



Senador Tomás Pompeu de Sousa Brasil (Senador Pompeu), cearense de Santa Quitéria onde nascera a 06/06/1818.
Era filho do capitão de milícias Tomás d'Aquino de Sousa e de Jeracina Isabel de Sousa. Estudou na Faculdade de Direito do Recife e no Seminário de Olinda. Foi um dos fundadores (1845) e seu primeiro diretor (1845-1849) do Liceu do Ceará, onde era professor de Geografia e História. Paralelamente no período em que começaram as suas atividades do Liceu, também entrou para a política partidária no Partido Liberal, tornando-se primeiro suplente nas eleições para a Assembléia Geral, tendo-se efetivado com a morte de Costa Barros, sendo então Deputado Geral (1845-1848). 

Como jornalista, participou ativamente no jornal Cearense, ligado ao Partido Liberal, e com a morte de Miguel Fernandes Vieira, então líder dos liberais no Ceará, foi indicado para senador do Império (1864), exercendo este mandato até o final de sua vida (1864-1877). Herdou também a liderança do Partido Liberal no Ceará, cargo que permaneceu no estado até a sua morte (01/10/1877), em Fortaleza, aos 59 anos. Publicou várias obras sobre história e geografia, foi membro de diversas sociedades científicas, como do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, fundado quando ele tinha 20 anos, da Sociedade de Geografia de Paris e do Instituto Arqueológico e Geográfico de Pernambuco. Foi pai de Tomás Pompeu de Sousa Brasil e de Maria Teresa de Sousa, esposa de Antônio Pinto Nogueira Accioli, que herdou seu legado político. Localizado na mesorregião dos Sertões Cearenses, centro do Estado, o antigo Arraial do Codiá, tornou-se município (1901) e passou a se chamar Senador Pompeu, em sua homenagem. Patrono da Cadeira nº 36 da Academia Cearense de Letras - ACL.




Raimundo Antônio da Rocha Lima, crítico literário nascido em Maranguape (CE), em 1855. Foi criado pela mãe, pela avó e uma tia, em uma casa na rua da Misericórdia (atual rua Dr. João Moreira), de frente ao Passeio Público. Na residência também funcionava uma escola para meninas, na qual Rocha Lima iniciou seus estudos, tendo a tia como preceptora e professora. Estudou depois no Atheneu e no Liceu do Ceará. Adolescente ainda, fundou com amigos a associação Fênix Estudantal (1870), de cunho lítero-filosófico. Em 1871, foi para o Recife (PE), a fim de cursar direito, mas teve de retornar a Fortaleza no mesmo ano, devido a problemas de saúde. Ajudou a fundar a Academia Francesa do Ceará (1873), agremiação dedicada à historiografia e crítica literária, e a Escola Popular (1874), direcionada ao ensino gratuito de operários e desvalidos, que oferecia aulas de língua nacional, aritmética, geografia, história, francês e primeiras letras. Colaborou de forma ativa no jornal maçom "Fraternidade", que circulava às terças-feiras em Fortaleza. Faleceu em 28 de julho de 1878, com apenas 23 anos, em Maranguape, vítima de beribéri. 
Seu livro Crítica e Literatura, publicado post mortem, é considerado uma obra-prima que o fez entrar no hall dos grandes nomes da crítica literária brasileira. Patrono da cadeira nº. 30 da Academia Cearense de Letras. Rua que atravessa os bairros Centro, Joaquim Távora, Aldeota e Dionísio Torres.



Bernardo Duarte Brandão, primeiro e único Barão do Crato. Nasceu em Icó, a 15 de julho de 1832. Filho de Bernardo Duarte Brandão, formou-se em Direito, em 1854. Foi deputado provincial em duas legislaturas, além de vice-presidente da província do Ceará, depois deputado geral entre 1864 e 1870 (12ª e 13ª legislaturas).
Agraciado barão em 14 de setembro de 1866, também era oficial da Imperial Ordem da Rosa.
Faleceu em 19 de junho de 
1880, aos 47 anos de idade, em Paris.



Nasceu em Pernambuco em 1824. Bacharelou-se na Academia de Olinda, em 1849. Como Juiz Municipal de Ouricurí colocou em prática o decreto do Governo Imperial que anistiava os revoltosos da Revolução Praieira.

Recebeu as veneras de Cristo e da Rosa. Foi Chefe de Polícia do Rio Grande do Norte. Depois de cinco anos como juiz da comarca de Escada, em Pernambuco, foi nomeado Desembargador da Relação do Distrito de Fortaleza por decreto de 28 de julho de 1875 e empossado a 1º de outubro.

Exerceu as funções públicas de: Procurador da Coroa Soberania e Fazenda Nacional; Presidente da Província de Alagoas; Presidente da Província do Ceará até novembro de 1877. A 15 de dezembro de 1877 foi nomeado Presidente da Relação de Fortaleza e por outra Resolução Imperial, de 30 de janeiro de 1878 teve o título de Conselheiro. Como benemérito da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza foi vice-provedor.
Faleceu com 56 anos de idade em Fortaleza a 5 de agosto de 1880 no exercício de Presidente da Relação de Fortaleza.




Coronel José Nunes de Melo, ex-comandante da Polícia Militar do Ceará - PMC. E ex-deputado estadual. Comandou o 1º Batalhão de Voluntários na Guerra do Paraguai. Nascera em Fortaleza em 08/06/1823. É hoje nome de rua no Rodolfo Teófilo e Bela Vista.
Faleceu em 24 de fevereiro de 1882.

Leia também:

Parte II
Parte III
Créditos: Cronologia Ilustrada de Fortaleza, Portal da História do Ceará, Wikipédia, Ruas Biográficas e http://www.tjce.jus.br/



domingo, 10 de fevereiro de 2013

O Carnaval no centro da cidade


Preparação para o Corso na Avenida Dom Manuel na década de 60. Carlos Juaçaba

A rua é larga e a calçada é pra lá de larga. A gente vê árvore, vê os pássaros... O vento faz a árvore chorar. E algum chuvisco que vinha de atrevido, não nos pegava porque as árvores protegiam. O Carnaval é Duque de Caxias, se mudar o Carnaval daquele trecho acabou.*

No trecho destacado da entrevista, percebemos o modo como o compositor Luiz Assunção liga os festejos carnavalescos ao Centro da cidade de Fortalezaressaltando aquele espaço como locus imprescindível para a permanência ativa do carnaval. A Av. Duque de Caxias, uma das artérias mais importantes do Centro de Fortaleza, serviu como passarela para o Carnaval durante muito tempo. Os desfiles tinham a sua concentração muitas vezes no Passeio Público, percorriam algumas ruas do centro até chegarem nas arquibancadas montadas na Avenida Duque de Caxias. 


A Avenida Duque de Caxias - Arquivo Nirez

O Carnaval se insere nas práticas culturais da cidade como um fenômeno essencialmente urbano. No caso de Fortaleza  foi o  centro da cidade, desde o século XIX, onde se brincou o Carnaval de rua. Ao buscar uma compreensão das festas carnavalescas ocorridas no Ceará, no período, percebo uma série de disputas em torno dos lugares de festejos tradicionais. Por muitas vezes esses locais foram sendo modificados. A partir da década de 1990 os desfiles foram levados para a Domingos Olímpio. Hoje esse é o local oficial dos desfiles de Blocos, Maracatus e Escolas de Samba em Fortaleza.


Foto da Exposição Luiz Assunção - Samba de Carnaval

Desde o início do século XX os modos de habitar, as atividades de comércio e lazer sofrem significativos processos de modernização,  ocorrendo assim um processo cada vez maior de descentralização.  Em diferentes temporalidades, a Prefeitura de Fortaleza interfere,  na realização do carnaval, construindo significados modernizantes na festa. De outro lado os blocos, cordões, maracatus e os próprios foliões tentam se adequar a essas novas configurações das festas. As ruas, novas avenidas, praças e vias, com  as suas  mudanças, exerciam influências sobre a configuração dos folguedos ocorridos no período.


Foto da Exposição Luiz Assunção - Samba de Carnaval

Nas diversas leituras feitas sobre o Carnaval de Fortaleza, percebo que o Centro da Cidade foi o palco principal daquela festa durante muitos anos. Mesmo com o crescimento do Carnaval dos Clubes, que foi recorrente durante as décadas de 30, 40 e 50, as ruas do centro continuaram sendo palco para os festejos. Na cidade, desde o início do século XX os folguedos eram festejado nas ruas e nos clubes. As tensões em torno dos festejos podem ser percebidas nas críticas da imprensa local, colocado em segundo plano pelos jornais, o chamado “carnaval de rua” acontecia no Centro de Fortaleza com uma significativa participação da população.
Ao observarmos o centro de Fortaleza hoje, vemos que em alguns poucos casos ele se enquadra no Calendário Festivo da cidade. Poucas são as manifestações culturais festivas que tem esse espaço da cidade como local principal**.  Diferente do que era observado durante grande parte do século XX quando as ruas centrais, juntamente com suas praças eram os locais onde se festejavam as festas carnavalescas.



Diversos trabalhos de historiadores, sociólogos e antropólogos nos mostram um panorama diferente em relação à existência de um carnaval em Fortaleza ao longo do Século XX. Carlos Henrique Moura Barbosa em seu trabalho de pesquisa mostra uma cidade bastante envolvida com os festejos carnavalescos nas décadas de 1920 e 1930. 
Festas que ocorriam nas ruas e nos clubes da cidade. Em seu trabalho o autor traça um 
perfil dos sujeitos que praticavam os festejos carnavalescos na cidade e destaca o centro 
de Fortaleza, na década de 1920, como um dos principais locais de festejo:

"A Praça do Ferreira, durante os dias de carnaval, era o ponto de concentração dos mais diferentes foliões. Essa praça, nas horas dedicadas a Momo, constituía-se em um espaço onde os brincantes iam para ver e para ser vistos. Ao atentar para esse logradouro, enxergam-se os diferentes carnavais presentes nos diferentes espaços da cidade e, também, as interações que ocorriam na praça entre os mais diferentes sujeitos."(BARBOSA, 2011, p. 46)

Concentração na Praça do Ferreira, todos esperando o Corso carnavalesco.

Durante o todo o século XX ocorrem diversas modificações e transformações nos modos de se brincar o carnaval de Rua em Fortaleza. No período analisado pelo pesquisador Carlos Henrique (A decadência de Momo ou outros carnavais?), e ainda em algumas décadas depois, o período momino,  era festejado nas ruas e praças do centro da cidade. Nesse momento trabalhado pelo autor, já se percebe a presença de uma população menos favorecida no carnaval, o que foi se intensificando durante os as décadas seguintes.
Além do patrimônio material, as ruas são constituídas por um conjunto patrimonial imaterial que com suas passeatas, feiras, festas e carnavais formam  a identidade de uma cidade. E é através do estudo dessas festas que se pode entender o patrimônio cultural como um espaço de memória. Dessa forma é necessária atenção aos modos de diversão coletiva e como os fortalezenses  buscam novas formas de lazer e sociabilidade, organizando assim  o seu carnaval. É necessária também atenção às modificações ocorridas nos locais dos desfiles organizados pela Prefeitura Municipal
Ao fim dos anos 60 o carnaval organizado pela prefeitura estava sendo realizados quase 
todos os anos na Avenida Duque de Caxias, no centro da cidade. 

Praça do Ferreira em 2010: o "Concentra mais não sai" é um dos mais tradicionais blocos de Fortaleza - Arquivo Diário do Nordeste

O carnaval era vivenciado no centro da cidade. O itinerário que os Blocos, Escolas de Samba, Ranchos e Maracatus faziam, tendo a Praça do Ferreira como o seu ponto de saída e de chegada, mostram o centro povoado com os festejos. Essa forma do desfile, com o corso alternando o seu percurso entre ruas largas, ruas estreitas e praças nos dão uma impressão de uma proximidade maior da população, permitindo uma maior interação e contato com as agremiações que desfilavam. 

Folia em frente a Coluna da Hora - 2011
Arquivo Diário do Nordeste

Atentamos agora para um novo momento, principalmente o início da década de 1970, em que o espaço do carnaval fortalezense vem sendo experimentado por diversos sujeitos. Os brincantes dos folguedos fazem parte dos mais diversos extratos sociais, que mesmo sem serem bem vistos ocupavam os espaços, buscando o seu lugar no meio das brincadeiras do carnaval. Em algumas oportunidades os jornais mostravam preocupação com as mudanças e como os foliões iriam ter acesso aos festejos. Como em 1975, quando a Tribuna do Ceará traz o seguinte texto:
"Mais longínqua ainda a época em que as vias públicas eram ornamentadas a capricho..., a Praça do Ferreira era o coração da folia, qual sempre foi o da cidade.  Sem nos atermos a maiores indagações, poderíamos lembrar, inclusive, que o afastamento dos locais dos desfiles, que dantes eram nas ruas centrais, cooperou efetivamente para amortecer o ímpeto de muita gente. 
Dificilmente um habitante de Antônio Bezerra, por exemplo, se entusiasma com a perspectiva de atravessar a cidade lado a lado para ir brincar hoje, na Aguanambi
Dir-se-á que o fato não é relevante. Entretanto não deixa de ter sua importância. Mesmo nestes tempos difíceis, uma coisa é alguém ir assistir a um corso na Senador Pompeu ou na Duque de Caxias e outra é deslocar-se para pontos distantes, obrigado a tomar mais de um ônibus numa cidade precariamente servida como a nossa." (Coluna Coisas do Carnaval, publicada em 12 de fevereiro de 1975).

O Bloco Matou a Pau...ta! é formado por jornalistas cearenses - 2011
Arquivo Diário do Nordeste

Em 1976, tem destaque nos jornais a proibição do Presidente da Federação dos Blocos quanto a saída nas ruas da Charanga do Gumercindo(Notícia publicada em 13 de fevereiro de 1976. De acordo com o jornal essa charanga saía há mais de 10 anos no carnaval de Fortaleza, e tinha por característica não possuir filiação com nenhum bloco, escola de samba ou maracatu)Segundo o jornal o Presidente alegou que “os componentes da charanga costumavam brigar com os demais componentes de blocos carnavalescos, além de criarem confusões com foliões dos chamados bloco dos sujos”

Na foto, a Charanga do Gumercindo fazendo festa no PV. Na foto, integrantes com instrumentos musicais. Bem ao centro, de chapéu e bigode, Gumercindo Gondim recebe o abraço do sorridente Jaime. (Acervo de Elcias Ferreira).

A retirada dessa “Charanga do Gumercindo” dos desfiles, mostra a forma como eram as disputas em  torno dos locais de desfile. Esse espaço destinado às Escolas de Samba, Maracatus, Cordões e Ranchos recebia também os sujos, que não estavam ligados a nenhuma agremiação. Para as autoridades o papel da população era somente o de assistir aos desfiles. A Charanga transitava nesse espaço destinado ao desfile, também sem estar ligada a nenhuma agremiação, convidando a população para a avenida.  Para Silva (2008, p. 29) “a incorporação dos segmentos populares implicou para as elites pensar esses campos culturais, a partir de uma única dimensão”. O modo pensado pelas elites era o de submeter os folguedos populares aos seus valores, buscando a aceitação de um modelo único de carnaval. Para Silva (2008, p. 30) esse processo ocorre em cidades como São Paulo, se completando na década de 1960.

Festa comumente alçada a símbolo nacional, o carnaval desperta as mais variadas lembranças e sentimentos. As memórias sobre a festa carnavalesca são tão múltiplas quanto as suas formas de ser festejada. O Carnaval Brasileiro está longe de ter uma unidade em sua forma e concepção. Nas diversas regiões, estados ou cidades brasileiras encontramos diferentes formas de se festejar o período momino. Assim encontramos nos festejos os mais diversos espectadores, brincantes, foliões e trabalhadores. Atualmente, para muitos moradores a cidade de Fortaleza o que caracteriza o Carnaval são os desfiles de maracatus na Avenida Domingos Olímpio, fazendo parecer que na cidade não há carnaval de rua. 

Maracatu Az de Ouro em desfile de 1950 - Arquivo Nirez

Outro discurso corrente é que o carnaval, em nosso estado, acontece somente nas cidades do interior, principalmente nas praias. Identificamos também a ideia de que Fortaleza, no carnaval, é um ótimo local para o descanso, atraindo assim pessoas que não gostam de muita folia.

O carnaval passa por momentos de nascimentos e renascimentos. Em alguns momentos ele parece mais forte e em outros parece nem existir. O que determina essa ideia que se tem sobre os festejos são as batalhas pela memória que se travam na sociedade. A manipulação desse processo de lembrar e esquecer, será determinante na luta pelo poder sobre a festa.(FERREIRA, 2005, pág 298).

Bloco Zombando da Lua - Arquivo Nirez

Assim, é pertinente interpretar o que significava para os brincantes do carnaval estar participando dessa festa no século XX. Estamos em contato com uma Fortaleza que está se modernizando,  e o centro, aos poucos, vai deixando de ser seu principal local de moradia. O carnaval precisa ser entendido como espaço de lazer e como uma prática de sociabilidade dessa população. Sujeitos que tinham no período momino também uma forma de se mostrar nas ruas e buscar nesses locais sua forma de festejar, articulando temporalidades e espacialidades. Buscando assim o seu lugar no carnaval e na cidade que se modifica. 

*O trecho foi retirado de uma entrevista cedida à Rádio Universitária FM, feita no ano de 1982, para o Programa Coisas Nossas. Nela, Luiz Assunção fala, além de outros assuntos, de suas impressões sobre o carnaval de Fortaleza daquele ano (1982). Luiz Assunção, além de trabalhar em Rádios da Cidade, como a Ceará Rádio Clube, foi compositor de vários sambas, marchas, valsas e baiões. Além disso, tem um papel importante no Carnaval Cearense. Foi componente da Escola de Samba Lauro Maia, que desfilava nos carnavais da Cidade. Em 1945 emprestou o seu nome para a Escola de Samba Lauro Maia, que nesse ano passa a se chamar Luiz Assunção. Com essa denominação a Escola de Samba veio a ser campeã do Carnaval nos anos de 1946 a 1949.




**Blocos de pré-carnaval ainda conseguem levar grande público à Praça do Ferreira, por exemplo o Concentra Mas não sai” que consegue um público de vinte mil pessoas.






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O Carnaval no centro da cidade: Mudanças e Permanências no local da festa em Fortaleza.
Tiago Cavalcante Porto

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: