Aquarela de José dos Reis Carvalho da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Prainha em 1859.
Conforme dados do arquivo pessoal do pesquisador Clemilton Melo, em meados do século XVI, chegam os holandeses a região cearense e deparam-se com um arraial de índios à margem direita do Riacho Pajeú. Em 1850, é construída uma ponte sobre o riacho, para que a população da Prainha possa chegar ao que atualmente é o Centro da cidade. Já que as ruas que cumprem essa função hoje, Rufino de Alencar e Monsenhor Tabosa, são à época apenas um caminho de areia que passa ao lado da chácara da família Guimarães. Propriedade que uma década depois, seria vendida ao Governo da Província para ser sede do Paço Episcopal. A antiga Rua do Seminário, atual Monsenhor Tabosa, em 1890, muda de nome. A partir da Resolução de 29 de outubro daquele ano, o Conselho de Intendência Municipal da Cidade decreta a mudança. O logradouro passa a ser chamado de Travessa 19-A. A ideia na época é denominar as ruas de Fortaleza da mesma forma que em Nova York. A Rua Floriano Peixoto, no Centro, por exemplo, equiparava-se a Fifth Avenue, sendo chamada Rua Nº 05.
É só em dezembro de 1932 que o governo de Carneiro Mendonça normaliza a nomenclatura das ruas e logradouros, além de promover a reestruturação, a pavimentação e a colocação de meio-fios.
Avenida Monsenhor Tabosa do Livro Viva Fortaleza 1950-2010
Avenida Monsenhor Tabosa em 1964. Ao longe, o monumento Cristo Redentor
Como descreve Mozart Soriano, na obra História Abreviada de Fortaleza, alguns personagens ilustres residiram na rua e imediações, dois séculos atrás. Na ladeira da Prainha, Rua Almirante Jaceguai, morou Francis Reginald Hull. Cônsul inglês, gerente da Ceará Light Co. e estudioso do clima da terra, ele possuía uma mansão, que se transformou no Instituto Mister Hull. Adentrando a pedregosa Avenida Monsenhor Tabosa, nos prédios de Nºs 05, 15 e 23, hoje ocupados por estabelecimentos comerciais, residia o Barão de São Leonardo. Pouco mais a frente, numa fachada azul destruída e abandonada de Nº 39, morava o poeta cearense José Albano, membro da família do Barão de Aratanha. Já na esquina com a Rua Senador Almino, nos atuais Nºs 83 a 139 situava-se a residência do comerciante Vicente de Castro. Outros nomes que foram destacados por alguns moradores da rua são contemporâneos. Dentre eles, figuram os do compositor Carlinhos Palhano, sobrinho de José Gésio Palhano, fundador da Tamancolândia, e do jornalista de O Estado o advogado Helder Cordeiro.
Estima-se que o caminho de terra que hoje é a Avenida Monsenhor Tabosa tenha sido habitado gradativamente. O terreno que pertencia então a Arquidiocese Cearense começou a ser vendido aos pequenos comerciantes, que ali levantaram seus lares. Conta-se que antes mesmo da Igreja deter o espaço, nele moravam pescadores e trabalhadores. “Fortaleza nasce por ali”, esclarece o pesquisador Clemilton Melo. Embora entre os descendentes de alguns dos fundadores da rua haja poucas lembranças desse período.
Em 08 de dezembro de 1839, são iniciadas as obras da construção da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Prainha (Igreja da Prainha), iniciativa de Antônio Joaquim Batista de Castro, o Galinha Branca. Com celebração da missa e benção do local, pelo padre Carlos Augusto Peixoto de Alencar, nessa ocasião foi organizada uma irmandade tendo como padrinho Manuel Rufino Jamacaru. Em 25 de outubro de 1885, quase 46 anos depois de lançada a pedra fundamental da igreja, morre, aos 68 anos de idade, Antônio Joaquim Batista de Castro (Galinha Branca), fundador da Igreja da Prainha, deixando-a quase pronta.
Rua do Seminário - Seminário da Prainha em 1890 - Arquivo Nirez
Em 10 de outubro de 1864, foi fundado o então Seminário da Prainha, como Seminário Episcopal do Ceará, por Dom Luís Antônio dos Santos, primeiro bispo de Fortaleza.
A partir daí, nasce a Rua do Seminário.
A Rua do Seminário, diferente da atual Avenida Monsenhor Tabosa, era uma tranquila rua residencial, com belas casas construídas na década de 20.
Rua do Seminário em 1905. Vemos o Seminário e sua Igreja (Nossa Senhora da Conceição). Arquivo Nirez
Rua do Seminário em 1906 - Arquivo Nirez
Em 12 de abril de 1935, morre em Fortaleza, aos 60 anos de idade, o monsenhor Antônio Tabosa Braga (Monsenhor Tabosa), jornalista, cearense de Itapipoca nascido em 19/12/1874. Foi vigário geral da Arquidiocese do Ceará, sendo o 2º de Dom Manuel.
Um dos fundadores da colônia de Hansenianos de Canafístula (Antônio Diogo) e da União dos Moços Católicos - UMC.
No jornalismo usou o pseudônimo de O Velho Nicodemus.
Em 1936, a Rua do Seminário muda o nome para Avenida Monsenhor Tabosa, homenagem ao Monsenhor Antônio Tabosa Braga, falecido em 12 de abril do ano anterior.
Projeto do vereador Valdemar Cabral Caracas (Valdemar Caracas).
Avenida Monsenhor Tabosa esquina com Av. Rui Barbosa no final da década de 30 início da década de 40 -Arquivo Nirez
A Monsenhor Tabosa de José Gésio
Um dos principais pontos turísticos e comerciais de Fortaleza, a Avenida Monsenhor Tabosa, também é local de interessantes histórias como a de José Gésio, o fundador da primeira loja do local.
As muitas lojas de sapatos e roupas da Avenida Monsenhor Tabosa guardam a história do fundador do ramo comercial da Avenida nacionalmente conhecida pela grande variedade de produtos vendidos.
Quem anda pela Monsenhor Tabosa não imagina que no meio de tantas lojas ainda existam edifícios residenciais como o Santa Marta, que é moradia de um personagem indispensável para aqueles que buscam conhecer um pouco da história do lugar.
O homem de 73 anos e cabelos que demonstram a idade avançada chama-se José Gésio Palhano, casado há 52 anos com dona Esmeralda. Nascido no Ipu, José Gésio pode ser considerado o responsável pelo sucesso que a Avenida Monsenhor Tabosa possui hoje, pois, junto com seus irmãos, fundou a primeira loja, a Tamancolândia (A Tamancolândia chegou mudando padrões, apresentando variedade em modelos, agregando charme ao calçado. No encalço, outras lojas abriram ao longo da avenida, as primeiras, de artesanato, logo mais, as confecções. Fortaleza começava, sem suspeitar, a ser roteiro turístico. E quem estava atraindo o visitante não era o mar de águas verdes, mas rendas e bordados em finas blusas de cambraia e linho. O sucesso das pioneiras atraiu um leque de lojas, aliás, butiques, como se dizia, para este pedaço da Praia de Iracema.), especializada no comércio de tamancos.
Em 1972, quando a Avenida era repleta de residências, seu José abriu a loja que, mais tarde, serviria de exemplo para a instalação de muitas outras. Pouco tempo depois da instalação da Tamancolândia, surgiu a Biboca, que existe até hoje e é especializada em comércio de sapatos.
A Fortaleza com características rurais começava a adquirir formato de cidade desenvolvida com o comércio que, aos poucos, ia fazendo parte da cidade e da vida das pessoas. O Seminário da Prainha é um exemplo de construção que resistiu ao tempo e à especulação comercial da área.
O Edifício Santa Marta na Av. Monsenhor Tabosa, 467 - Acervo do site 123i
A paixão pelo comércio e pela criatividade foram determinantes na vida de José Gésio, que não se contentou em abrir um estabelecimento de vendas na Monsenhor Tabosa e decidiu morar lá. A Tamancolândia teve curta duração, apenas 15 anos. O motivo para a falência da loja, como explica Gésio, foi a “falta de administração de seus irmãos, que começaram a gastar muito e fizeram com que o lucro da loja caísse”.
Com o desenvolvimento urbano e turístico, as residências da Monsenhor Tabosa cederam lugar às lojas que começavam a surgir. Hoje, quase 40 anos depois, a Avenida é tomada pelo comércio e grande número de turistas, encantados com a forma e disposição do trecho turístico altamente convidativo.
Mais de 450 lojas fazem parte dos 700 metros de Avenida, marcada pelo grande fluxo de pessoas e carros. Mesmo com a agitação que domina o dia a dia da Monsenhor Tabosa, José Gésio escolheu o local em que fundou a primeira loja da Avenida para fixar residência. Ao lado da esposa, Esmeralda, ele mora há vários anos no Edifício Santa Marta, número 467, localizado exatamente no centro do roteiro turístico bastante frequentado por pessoas e com barulho durante boa parte do dia.
Av. Monsenhor Tabosa na década de 30 - Arquivo Nirez
A convivência de José Gésio e Esmeralda com seus vizinhos é bastante amigável, assim como é a relação do casal com os vendedores ambulantes que trabalham próximo ao Edifício.
A vida simples de seu José resume-se à produção de sacolas de TNT que ele vende para as lojas da Monsenhor Tabosa.
O homem responsável pelo surgimento do comércio que tornaria a Avenida em um dos pontos turísticos mais importantes de Fortaleza olha para o passado com orgulho de sua história e com respeito pelo que sua iniciativa gerou à Fortaleza. A Monsenhor Tabosa de José Gésio é apenas um exemplo das inúmeras histórias que existem em Fortaleza e que poucas pessoas conhecem.
Em 1972, Fortaleza ainda não tinha nenhum shopping (o primeiro, o Center Um, só seria inaugurado dois anos depois, em 1974), as pessoas faziam compras no Centro e o barato da moda - a causar inveja às garotas da periferia - era se vestir nas butiques.
A Monsenhor Tabosa, ganhava sua primeira loja de calçados, a Tamancolândia. Pouco tempo antes, só quem usava tamanco era o "zé-povinho", um tamanquinho tosco, vendido nas bodegas, pendurado em cordões ao lado de abecedários e tabuadas. Havia os caros tamancos Dr. Scholl, ortopédicos, mas muito sem graça.
A Tamancolândia chegou mudando padrões, trazendo novos conceitos. A partir daí o tamanco caiu no gosto de todos, mudando a história do tamanco e da mais famosa alameda de compras da cidade.
Créditos: Jornal O Estado do Ceará, Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo, Site Guia Tripulante e Monsenhor Tabosa de Corpo e Alma (Alan Regis Dantas, Iana Susan, Ônica Carvalho, Lucianny Motta, Fernando Falcão e Sâmila Braga)