Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Uirapuru
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Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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quinta-feira, 3 de julho de 2014

Nas ondas do rádio - Década de 40 (Parte V)



Os programas Musicais e a Proximidade com as Classes Populares

Aos domingos, ia ao ar das 19 horas até meia-noite, na Ceará RádioClube, o programa Bazar de Música, apresentado pelo locutor José Limaverde (Foto ao lado). “Em cada domingo uma casa recebia os dançarinos para os passos do samba e marcha brasileiros, ao bolero até a conga, uma dança gaiata, com três passos e um levantamento de perna” (LIMAVERDE, 1999, p. 197). O Bazar da Música envolvia o público por meio da conversa que o locutor mantinha com os ouvintes, de forma íntima e coloquial, características do rádio. José Limaverde pedia licença para entrar nas residências, convidava todos para dançar e fazia referência aos dançarinos que se reuniam para ouvir e se divertir ao som do programa.

O caráter destas relações era determinado por uma amabilidade, um refinamento, uma cordialidade que se absorvia das conversas advindas dos conteúdos radiofônicos que funcionavam como fonte de alimentação de desejo de inserção em um mundo que se revelava bem maior do que as fronteiras da província e como fomentos de um novo status social (ANDRADE E SILVA, 2007, p.11).

Dentro do programa Bazar da Música, o público conferia um quadro chamado Passatempos E-9, no qual Limaverde elaborava perguntas para os ouvintes responderem. Como premiação, a pessoa que enviasse mais rapidamente a resposta ganhava: ingressos para os cinemas da Empresa Ribeiro (Diogo, Moderno, e Majestic) ou frascos de um perfume fabricado no Joaquim Távora, pelo Benjamim Torres. “Eram vidros bonitos, embalagens um tanto luxuosas, valorizando a fragrância que, positivamente, não era nenhum perfume francês” (GIRÃO, 1998, p. 272). 
A audiência do programa era tamanha, que as cartas enviadas com as respostas enchiam a caixa de correio da emissora.
Além das cartas, o público também se evolvia em gincanas, participava dos sorteios feitos pela emissora e oferecia músicas para homenagear uma pessoa querida. Aqueles que conseguissem entrar no circuito midiático do rádio adquiriam novo status, criando uma nova visibilidade social.

Tinha um programa de contato com os ouvintes que era “Mensagens Sonoras”. Era quase uma hora de rádio. As pessoas aniversariavam e os outros queriam homenagear através de músicas no rádio. Aquilo ali dava status, faziam bem. Então saía música de todo jeito, música erudita e música popular (PEIXOTO, entrevista, 2001).

João Ramos

Outro sucesso em audiência entre os rádio-ouvintes fortalezenses, na década de 1940, era o programa Noturno Pajeú, apresentado pelo locutor João Ramos, nas noites de terça-feira. O programa tinha patrocínio da fábrica de cigarros Araken e incluía como atração máxima o quadro Clube das Gargalhadas. Este último “funcionava a base de anedotas (piadas) que eram encaminhadas pelos ouvintes. (...) As piadas eram vividas pelo famoso Cast Prenove, com Augusto Borges, Maria José Braz, Ângela Maria, José Júlio Barbosa, Clóvis Matias e Aderson Braz (LIMAVERDE, s/d, p. 45).


Foto 1: Ângela Maria como professora e os alunos (da esquerda para a direita): Clóvis Matias, João Ramos, Augusto Borges e José Júlio. 
Foto 2: Maria José Braz.

Os Programas Humorísticos

Os programas humorísticos sempre foram presença constante dentro da programação radiofônica cearense. Dentre os mais queridos pelo público estiveram: A Carrocinha, A Escola da Fuzarca, o Restaurante Vuco-Vuco com seu cozinheiro Beiçola, Dona Pinóia e Seus Brotinhos, este, escrito por Elano de Paula, irmão de Chico Anísio e, segundo afirmam,  teria sido o ‘piloto’ para a ‘Escolinha do professor Raimundo” (LOPES, 1994, p. 187).

Clovis Matias atuava no Clube das Gargalhadas era um grande ator da época, autodidata, humorista de skets, forjado entre o riso dos palhaços e a emoção do melodrama circense que arrancava lágrimas das plateias dos circos poeira, armados no areial da periferia de Fortaleza.
Em meados da década de 1940, as emissoras cearenses registraram o aparecimento de grandes produtores e intérpretes humorísticos. Na Ceará Rádio Clube, Augusto Borges despontava na pele do personagem “Oscarzinho”. No horário de meio dia, Borges e seu personagem malandro atuavam no programa Pensão Paraíso. Segundo Marciano Lopes (1994, p.186), “quando o comércio fechava para o almoço, era notória a correria das pessoas na pressa de chegarem em casa a tempo de assistirem às tiradas deliciosas dos personagens da ‘pensão’”. A verve cearense foi sempre revelada, tanto na produção, como na interpretação e na recepção ávida pelas piadas e molecagens. Esses programas embora planejados e roteirizados em um script, na sua apresentação obedeciam muito mais à presença de espírito dos atores e estavam recheados de “cacos”, acréscimos que os intérpretes introduzem no ato da representação, de sua própria autoria.

O Radiojornalismo e a sua Especialização

No início da década de 1950, a Ceará Rádio Clube aumentou seu quadro de funcionários, com a contratação de artistas e profissionais do rádio. Em 1954, a Emissora realizou um concurso para radialistas, dentre os três primeiros colocados, especificamente em terceiro lugar, foi classificado Narcélio Limaverde, filho de José Limaverde, um dos primeiros locutores da PRE-9. O Rádio também trouxe ao cotidiano social um novo significado de notícia, os acontecimentos ganharam maior velocidade perante o novo veículo.
Segundo Lia Calabre, “ao partilharem das mesmas fontes de notícias, os indivíduos se sentiram mais integrados, possuindo um repertório de questões comuns a serem discutidas” (2002, p. 09). Não eram só as notícias que possuíam destaque no radialismo  cearense, de acordo com Narcélio a preferência dos ouvintes era pelos programas musicais:

Durante a programação eram apresentados vários noticiosos de cinco minutos, de hora em hora, durante o dia e à noite também. Mas o grande forte, o mais importante do rádio era a música, principalmente, porque os ouvintes exigiam mais música. Entre uma canção e outra havia somente a publicidade e os intervalos comerciais (NARCÉLIO, entrevista, 2007).

A relação entre ouvintes e profissionais, segundo Narcélio, era permeada por um vinculo que perdurava durante décadas. Porém, para se alcançar esta fidelidade, por parte do público, os produtores de rádio deveriam obedecer a “uma série de tabus e interditos sociais” (ANDRADE e SILVA, 2008, p. 07).

No rádio não se podia dizer determinadas coisas. Um palavrão dito aqui, numa emissora de rádio, palavrão que é típico do cearense que identifica um homossexual, chegou a demitir um radialista por tê-lo pronunciado ao microfone, achando que este estava desligado (NARCÉLIO, entrevista, 2007).

O Rádio, aos poucos, transformou-se em um equipamento marcante no cotidiano da população fortalezense, e até à década de 1950, foi um “ícone da modernidade”, assumindo o papel de mediador das interações sociais na vida privada e pública. “Lançado como uma novidade maravilhosa, o rádio transformou-se em parte integrante do cotidiano. Presença constante nos lares converteu-se em um meio fundamental de informação e entretenimento” (Calabre, 2002, p. 7). 
Os anos 50 do século XX, também ficaram marcados no radialismo cearense, pela fundação de mais três emissoras: em 1956, a Rádio Uirapuru de Fortaleza; em 1957, seria a vez da Rádio Verdes Mares, que assim como a PRE-9, também fazia parte dos Diários e Emissoras Associados. A rádio Dragão do Mar foi a última emissora de rádio fundada na “Década de Ouro” no Ceará, o início de suas transmissões se deu no ano de 1958, e a emissora tinha, segundo Blanchard Girão, “o objetivo primordial de levar a flamejante palavra de ordem das oposições (políticas) aos mais recônditos pontos do território cearense” (2005, p. 21). Segundo Dejane Lopes, essa foi à melhor época da radiofonia no Ceará. “Foi uma época caracterizada pelo grande número de emissoras que se instalaram em Fortaleza e no Estado durante toda a década, cada uma com seus estilos e peculiaridades” (LOPES, 1997, p. 20).

Considerações Finais

O rádio, gradativamente, ganhou a aceitação da sociedade que passava por profundas transformações na sua malha urbana e nos seus costumes, invadida que foi por 50 mil soldados norte-americanos, no período estudado. Com eles veio a coca-cola, o chiklets, e a sedução das nossas mocinhas, umas advindas da periferia, outras nem tanto. A cor da pele e os cabelos louros encantavam e a música que tocava no rádio embalava o romance.

Infelizmente, desses fatos, poucos registros se encontram. A memória em áudio não alcançou a atualidade. O rádio era sinal de status e ocupava lugar de destaque nas amplas salas das mansões que se erguiam nas dunas. No centro da cidade, ele estava nos cafés, nos estabelecimentos comerciais e no abrigo central. Nos bairros periféricos ocupava, estrategicamente, o canto mais vistoso da sala, sobre uma mesinha entoalhada. Ao girar o dial se assistia de forma silenciosa e emocionada as dramáticas novelas, dançava-se aos domingos ao som do Bazar Musical, mas também na hora do Angelus, compungida a sociedade cearense rezava a Ave Maria, ao pé do rádio! 

Fim

Leia também:

Crédito: Francisca Íkara Ferreira Rodrigues (Graduada do Curso de Comunicação Social – Jornalismo, pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR) e Erotilde Honório Silva (Professora Doutora em Sociologia, pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Coordenadora da Pesquisa História e Memória da Radiodifusão Cearense – UNIFOR). A popularização do Rádio no Ceará na década de 1940: Trabalho apresentado no 7º Encontro Nacional de História da Mídia realizado em Fortaleza – Ceará, de 19 a 21 de agosto de 2009.). 

Fotos: Assis Lima e AOUVIR


sexta-feira, 2 de julho de 2010

Nirez - Uma lenda



Miguel Ângelo de Azevedo, nasceu em Fortaleza em 15 de maio de 1934, filho de Otacílio de Azevedo e Teresa Almeida de Azevedo. Jornalista, chefiou o setor de Pesquisas do jornal “O Povo” Manteve programa de pesquisa sobre Música mundial nas rádios Uirapuru, Ceará Rádio Clube, Dragão do Mar e Rádio Cidade, reunindo grande coleção de discos em 78 rotações.
Em 1966 inaugurou o Museu Fonográfico do Ceará, atual Museu Cearense de Comunicação.
A partir de 1965 manteve colunas permanentes no “ O Povo” e “Correio do Ceará”. Co-produziu a Discografia da Música Brasileira; relacionando os discos em 78 rotações prensados entre 1902 e 1964. Catálogo publicado pela FUNARTE e considerado a melhor publicação sobre MPB no ano de 1984.
Realizou disco sobre a revolução de 1930, com discursos de Getúlio Vargas e músicas em voga na época, e outro sobre a revolução constitucionalista de 1932. Posteriormente; fez O Ciclo de Vargas, Memórias da Farmácia e, ainda; um outro, encomendado pela revista “Nosso Século”, com textos, fotografias e disco. É membro do Instituto do Ceará.






A sabedoria de um homem não se conhece apenas no seu ponto de vista intelectutal, mas também na dedicação prática da cultura. Por exemplo, após ter obtido ao longo de quase cinco décadas, uma das maiores e raras coleções de discos de cera de 78 rotações do Brasil, Miguel Ângelo de Azevedo, o popular Nirez, 70 anos, cearense de Fortaleza, considera-se um homem realizado no âmbito da discografia brasileira.
Como jornalista e produtor de programa de rádio em Fortaleza, Nirez é o único colecionador do Brasil que ainda utiliza os discos em suas programações musicais, desde o início dos anos 60. Esta seleção é apresentada pelos mais variados ritmos: tango, valsa, bolero, sem desprezar, nunca, a melodia regional como o forró de Luiz Gonzaga, Abdias, Pedro Sertanejo, Zé Calixto, Marinez entre outros.


A história do acervo vem de muito longe. Tudo começou em 1954, lembra ele. “Não foi tarefa muito fácil, conseguir colecionar raridades e harmonizar o material fonográfico. Mas aos poucos juntando unidade por unidade, acabei tornando-me um eterno apaixonado da arte musical”.

Com 13 anos em 1947 - Arquivo Nirez

Com o cuidado peculiar de um discófilo, ele já informatizou boa parte do catálogo, contendo nome do intérprete, etiqueta, data de gravação e lançamento. E como não tinha recursos para concretizar o velho sonho de um dia ver todo o acervo em CD, recorreu a um patrocinador através do Projeto Disco de Cera Meio Século de MPB, do Ministério da Cultura. “Nunca vou esquecer a boa vontade desse pessoal, somente assim, irei realizar um sonho antigo”, admite.

Folder do Projeto Disco de Cera

Como não existe mais agulhas propícias no mercado para serem utilizadas em seus microssulco, a paciência, no entanto, ele tem de sobra. Sempre dá um jeitinho de atingir os índices de qualidade desejado nas gravações, feitas por encomendadas. Nirez deu início uma carreira bem peculiar, sem fins lucrativos, quando ainda tinha 20 anos. Jamais imaginou ele que um dia seu nome iria almejar a fama no cenário da discografia nacional. Cada volume de sua coleção, é uma peça rara. “E não tem preço”, diz, com propriedade.

"Aos 19 anos de idade "sentei praça" no Exército, indo servir no 23º Batalhão de Caçadores onde passei nove meses sofrendo "o pão que o diabo amassou", mas foi uma experiência boa." Nirez

Nirez em 1956 - Arquivo Nirez

Coleção de Nirez é reconhecida e premiada nacionalmente

Apesar de sua humildade, o cearense Nirez, hoje é conhecido nacionalmente como um dos colecionadores mais bem equipados no gênero do disco de cera do País. Até mesmo ele é bastante requisitado de Norte a Sul do Brasil. E não só por outros colecionadores, mas principalmente por diversas gravadoras, uma das quais a Série Revivendo, que por sua vez já reprocessou inúmeros discos de sua coleção em 78 RPM para 33 RPM em long plays e para os modernos disc laser.
Em 1975, Nirez fundou a Associação dos Pesquisadores da Música Popular Brasileira-APMB, também é autor de vários livros sobre discografia brasileira, dentre eles de maior destaque, o Balanceio de Lauro Maia, que contém todas as músicas do compositor cearense, falecido em 1950 – gravadas em 78 RPM. Lauro Maia, era irmão da esposa do também cearense, o saudoso Humberto Teixeira, parceiro do rei do baião, Luiz Gonzaga.

Em 83, Nirez lançou o livro Discografia Brasileira nº 1, que rendeu-lhe uma homenagem Durante o lançamento, no Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro.

(Nordeste Web)

Miguel Angelo de Azevedo é um cearense magro, tímido, pai de uma dúzia de filhos e funcionário, como bom nordestino, do Departamento Nacional de Obras contra as Secas, em Fortaleza.

Seria apenas mais um, entre tantos burocratas do órgão, se não existisse o Nirez. Respeitado nacionalmente como um dos mais dedicados e idealistas pesquisadores da música popular brasileira, Nirez, com recursos próprios - e muito poucos recursos, pois sempre foi um homem de posses modestas - formou um dos mais completos arquivos da música brasileira, com milhares de discos 78 rpm, revistas, recortes, documentos, etc., além de outras curiosidades - como uma incrível coleção de carteiras de cigarros que mereceria se transformar em livro de arte patrocinado por alguma multinacional do fumo.

Um grande amigo, já falecido, Descartes Selvas Braga, também apaixonado pesquisador, o auxiliou em sua formação cultural e hoje dá nome a sala-sede do Museu Cearense da Comunicação, onde reúne seu precioso acervo - em sua modesta residência, num dos bairros da capital cearense.

Há muitos anos que, reconhecido nacionalmente pela firmeza de suas pesquisas, o bom Nirez tem sido lembrado para merecer um prestigiamento oficial, mas lá, como aqui em Curitiba, quem se dedica a atividade cultural, ao acervo e a pesquisa, sem ficar badalando os eventuais (e quase sempre medíocres) donos do poder cultural-político, nada consegue.

Em 1956 - Arquivo Nirez

Nirez entrevista Orlando Silva no Premir Hotel (1970) - Arquivo Nirez

Ao longo destes últimos 25 anos, Nirez tem contribuído muito para a memória musical brasileira. Participou de três dos cinco encontros nacionais de pesquisadores da MPB e foi um dos quatro responsáveis pelo levantamento da discografia em 78 rpm da música popular brasileira, que resultaria numa edição referencial indispensável, patrocinada pela Xerox do Brasil, para o conhecimento de nossa música.

Funcionário do mais importante jornal cearense - "O Povo" - onde coordena o departamento de arquivo e pesquisas, Nirez enriquece dominicalmente as páginas daquele jornal com textos e fotos das mais interessantes sobre Fortaleza dos séculos XVIII, XIX e XX, em seus diferentes aspectos. Material, portanto, para revelar o muito de interesse que existe, esquecido na historiografia oficial, não lhe falta. Falta, isto sim, maior apoio para poder fazer chegar aos leitores o resultado de suas pesquisas, que não fique apenas na perenidade momentânea das páginas dos jornais.

Aramis Millarch-Estado do Paraná publicado em 27 de Abril de 1991



Convite do lançamento dos postais










Nirez nasceu em Fortaleza no dia 15 de maio de 1934. É jornalista, historiador e desenhista técnico aposentado, além de um dos mais respeitados pesquisadores da música popular do Brasil e dono de um dos mais completos arquivos sobre a cidade de Fortaleza, Ceará.

Filho do poeta, escritor e pintor Otacílio de Azevedo, Nirez foi batizado em homenagem ao artista renascentista Michelangelo. Começou trabalhando como desenhista técnico no DNOCS, onde ficou até o ano de 1991, quando foi transferido para a Rádio Universitária FM da Universidade Federal do Ceará, mas desde 1956 colabora com jornais de Fortaleza, tais como: Tribuna do Ceará, Correio do Ceará e O Povo. Seu filho, Nirez de Azevedo, seguiu os passos do pai como escritor, tendo inclusive escrito um livro sobre a história do futebol no Ceará.


Arquivo Nirez - 50 anos




Nirez mantêm em sua casa, localizada à rua Professor João Bosco, 560 - Bairro Rodolfo Teófilo, segundo o jornal "Folha do Ceará", a maior discoteca particular do país. Boa parte de seu acervo foi conseguido quando a emissora de rádio Uirapurú, a "Emissora do Pássaro", resolveu atualizar sua discoteca com LP's e, graças ao radialista e ex-senador Cid Carvalho, os discos de 78 rotações foram doados ao Nirez. Possui também um grande registro de imagens históricas de Fortaleza e outros munícipios do estado, formada quando o estúdio fotográfico ABA FILM se desfez de seus arquivos de sua sede no centro de Fortaleza.

Nirez. Foto: Raimundinho, 2005

O Arquivo Nirez, conhecido em todo Brasil, é composto por um rico acervo bibliográfico, arquivístico e museológico, como: livros, revistas, rótulos, fotos, slides, negativos, equipamentos antigos, etc. Possui como principal atração a coleção de gravações em 78 rotações (discos de cera) considerada uma das maiores do país em gravações brasileiras comerciais, com um montante de mais de 22 mil exemplares, contemplando todas as fases da produção musical nacional de 1902 a 1964. A coleção por ser bastante volumosa, torna a pesquisa rica, porém demorada; por se encontrarem em bom estado de conservação os discos permitem que se desenvolva um trabalho de digitalização, visando sua preservação definitiva e facilitando o acesso às informações (fonogramas), que apesar de parte das músicas serem pouco conhecidas do grande público são fundamentalmente importantes para a história da música brasileira. Nirez faz um programa semanal na rádio Universitária, que está no ar desde 1960.


Prêmios

Pelo seu trabalho, Nirez recebeu inúmeros prêmios e reconhecimentos, entre eles: Medalha do Mérito Cultural da Fundação Joaquim Nabuco, (Recife - Pe.) em 1982, Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em l994, Prêmio Sereia de Ouro, também em 1994. Em 2002, seu arquivo foi contemplado no concurso da Petrobrás, recebendo apoio para reformá-lo e digitalizá-lo. O Projeto “Meio Século de MPB - Disco de Cera” consistiu na digitalização de todo o acervo de discos de cera (78 rpm) do Arquivo Nirez (22 mil exemplares) e a disponibilização dos dados na Internet. O projeto contou com as etapas de higienização, catalogação e digitalização dos discos (captura em meio digital dos fonogramas analógicos através de softwares de áudio específicos), sob a coordenação de profissionais com larga experiência na área. Ao final, deu-se a gravação definitiva dos arquivos musicais em padrões “cda” "wav" e “mp3” com cópia de segurança. O projeto que se realizou entre 2004 e 2005 contou ainda com a supervisão do Nirez, assessoria técnica da Cia. de Áudio e o patrocínio da Petrobras através da Lei Rouanet do Ministério da Cultura.

Higienização dos discos (Análise) Foto: Raimundinho, 2005

Discos secando, após lavagem. Foto: Myreika Falcão, 2005

Estantes dos discos (um lado da sala) Foto: Myreika Falcão, 2006
Bibliografia

Além de colaborar com inúmeras coletâneas e dicionários, Nirez escreveu também os livros:

O Balanceio de Lauro Maia
Fortaleza de Ontem e de Hoje
Cronologia Ilustrada de Fortaleza


Miguel Ângelo de Azevedo é um ícone do nosso movimento cultural, sem dúvidas.
Um talento múltiplo que atuou como desenhista do Dnocs, sendo, também, publicitário, jornalista e radialista, mantendo, há 40 anos, apreciado programa sobre o universo da Música Popular Brasileira, Nirez é, sobretudo, um grande colecionador.


Arquivo ou museu - Colecionador, desde criança, Nirez dispõe hoje de um espetacular acervo, mais de 140 mil peças em seu arquivo que já pode ser considerado, na realidade, um verdadeiro Museu, em face das raridades que possui, muitas vezes procuradas por pessoas de outros estados e até do exterior. Funciona na rua Professor João Bosco, próximo à Reitoria da UFC. Estando a completar meio século de existência, o Museu do Nirez dispõe, entre outras coisas, de 44 mil discos antigos, podendo esta coleção ser considerada uma referência nacional dada sua magnitude. Espetacular também é toda a memória iconográfica que dispõe enfocando nossa Fortaleza. Membro do Instituto do Ceará - Histórico, Geográfico e Antropológico, casado com dona Zenir, incentivadora e companheira no extraordinário trabalho por ele desenvolvido, Nirez, com muita justiça, é Gente da Cidade.


Fonte: 1001 Cearenses Notáveis - F. Silva Nobre, Diário do Nordeste, Projetos Nirez, Wikipédia, Nordeste Web, O Estado do Paraná e pesquisas na internet.

domingo, 9 de maio de 2010

Rádio Uirapuru



Ainda hoje se comenta a fase dos anos de ouro do Rádio cearense vividos brilhantemente, onde se procurou ressaltar que a época foi de pioneirismo, das radionovelas, dos programas de auditório, enfim, de tanta coisa marcante e vivida pelo Rádio no Ceará antes do aparecimento da televisão. O surgimento da Rádio Uirapuru trouxe aos cearenses uma inovação do que até então haviam feito as emissoras que a antecederam.

Inaugurada em 16 de junho de 1956, sua fundação fora resultado de uma labuta dedicatória e porque não dizer audaciosa de José Pessoa de Araújo e Aécio de Borba de Vasconcelos, com pacto associativo de amigos dentre os quais se destacaram José Julio Cavalcante, Luiz Crescêncio Pereira e Afrânio Peixoto.


Em todo projeto audaz devemos analisar os fatores que motivam e os que influenciam e neste clímax, nasceu a “Emissora do Pássaro”, a “Casa do Esporte”, “A Boazinha”, como bem frisaria depois o grande radialista Cid Carvalho. A rádio uirapuru na época de sua criação precisaria de novidades, bem como outras emissoras, e foi isso que fez com que o rádio não morresse, quando surgiu em novembro de 1960, a TV Ceará canal 2, a maior concorrente na história do rádio. Após a revolução pacífica, o rádio encontrou seu próprio rumo.

A Rádio Uirapuru tinha uma programação moderna e variada onde manteve de maneira diversificada, o entretenimento para os ouvintes, mas voltando-se para mantê-lo informado e prestando seus serviços aos que a prestigiavam com sua audiência.
Foram firmados convênios com a Mayrink Veiga e Nacional do Rio de Janeiro e os grandes programas humorísticos da época passaram a ser apresentados também em Fortaleza em gravações. A esse estilo de programação se juntaram as produções locais, como “Almanaquinho do Ar” com Tarcísio Tavares, “Revistinhas da Cidade” com Ivan Lima; “Despertador Musical” com Juarez Silveira e “Nos Bastidores policiais” com Cidrak Ratts, que marcou época.


Gazeta de Notícias - 21 de junho de 1961

O forte na programação da ZYH-25 haveria de ser o esporte, a noticia e a informação de um modo geral. E que para tudo isso viesse a funcionar com melhor qualidade, para aqui veio o extraordinário Fernando Jacques, da Rádio Nacional do Rio que acabara de retornar ao Brasil, após estágio na BBC de Londres.
Uirapuru diz respeito a um pássaro raro, pequeno, com penas castanhas e cinzas e seu porte é algo em torno de 200 g. Segundo os amazonenses, seu canto bonito e nostálgico só é ouvido quinze minutos por ano. Que bela inspiração do empresário José Pessoa de Araújo.


A instalação do estúdio inaugural foi no décimo primeiro andar do Edifício Arara (IAPC), na Rua Pedro Pereira no centro de Fortaleza. A Estação Transmissora fora colocada no antigo Santa Rita (atual Maraponga), considerado um dos bairros mais arborizados da capital. Cada emissora que surgia, notadamente procurava ganhar o seu espaço, pois a televisão como já foi dito ainda não existia. As famílias se reuniam em suas respectivas salas de estar e, nas cantoneiras sintonizavam o Rádio.


O bom do rádio antes da TV era que, o ouvinte trabalhava com sua imaginação querendo descobrir quem era aquela voz, ou desenhava na mente como seria aquele locutor ou Radioator.
A Rádio Uirapuru em 1957 mudou seu estúdio para o “Prédio do Rádio”, edifício que a direção mandou construir na esquina das ruas Clarindo de Queiroz com General Sampaio, na antiga praça da Bandeira. O formato da edificação era realmente de um aparelho receptor que serviu de ícone, tal como: “Guindaste Titan” no Mucuripe; o “Bar do Avião” na Parangaba; a “Palhoça do Raimundão” na Serrinha; o “Atapu” no Joaquim Távora; a “Vila Cazumba” na estrada de Messejana; o “Muro do Colégio Santa Isabel” no antigo Alagadiço e as “Oficinas do Urubu” no Carlito Pamplona.


Alguns que marcaram época nos microfones da Uirapuru foram: Heraldo Menezes que era o dono da tarde com os programas: Atendendo o Ouvinte e o Peça o que Quiser; Edson Silva com Nós na Fossa; Silvino Neves com forró na Madrugada, e sem esquecer do eloquente noticioso, na brilhante voz do jornalista e advogado, Dr. Cid Carvalho com “Antenas e Rotativas”. Em gravação, o Reverendo Celsino Gama com o Cada Dia, Programa da Igreja Presbiteriana.
Foi registrado muito ecletismo e pouca vaidade na emissora do pássaro, que convém salientar a passagem de César Coelho com “Romances de César Coelho”, dramas diário; Carvalho Nogueira que como poeta e jornalista, tinha a alma de seresteiro.
Atuaram dentre outros também: Baman Vieira, Carlos Alberto, Lúcio Sátiro, Orlando Viana, Barroso Damasceno, Gilvan Dias, Cauby Chaves, Vicente Alencar, Almir Pedreira, Lúcio Brasileiro...

Em 1975, a Uirapuru mudou de frequência, passando de 1340 para 760 kHz e no prefixo de ZYH 588. O estúdio depois que saiu da Praça da Bandeira, esteve na Rua Quintino Bocaiúva (Benfica), no edifício da Gellati na Avenida Barão de Studart e, atualmente é localizado na Rua Marcondes Pereira, no bairro Joaquim Távora.
Pouco antes de ser vendida, a administração da Uirapuru estava sob o comando de José Pessoa Filho, Wagner Jucá e Vânia Pessoa.


Adquirida pela Igreja Universal do reino de Deus, a Boazinha passou uma temporada com o nome de “Record”, porém ao integrar a Rede Aleluia, voltou ao original: “Rádio Uirapuru de Fortaleza”, e agora com modernos transmissores jogando 25 kw na antena de 110 metros, os céus do Nordeste são rasgados com 24 horas de programação evangélica.

Aos amigos não poupo elogios; aos inimigos ainda que os tivesse, pouparia qualquer crítica”. José Pessoa de Araújo.


Créditos: Tempos do rádio e Arquivo Nirez

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: