Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Viaduto Moreira da Rocha
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sexta-feira, 10 de maio de 2019

O Centenário Poço da Draga - Parte II

Poço da Draga na década 70. Site Oficial Poço da Draga.
O caminho pelo traçado das ruas do Poço da Draga revela mudanças paisagísticas e de opiniões das pessoas em relação ao passado vivido por alguns na localidade. Desde a fundação estrutural de residências mais amplas, como sobrados elevados, até o calçamento de ruas em pequenas pedras se percebe, a partir do relato dos moradores mais antigos, como muito se transformou atualmente na paisagem daquele espaço. Nos depoimentos das pessoas mais jovens também se denota como as preocupações com o Poço da Draga mudaram no decorrer do tempo.
No âmbito discursivo, atualmente é impossível conversar com as pessoas do Poço da Draga sem que elas falem sobre o Acquário do Ceará. De forma explícita ou indiretamente, o assunto sobre a instalação do empreendimento é recorrente, principalmente a preocupação com a possível remoção das moradias.
Poço da Draga na década 1970. No registro, vemos Nicolau macaqueiro. Site Oficial Poço da Draga.
Poço da Draga na década 1970. Macaquinhos de seu Nicolau macaqueiro fazendo a alegria da garotada.
 Site oficial poço da draga
Muitos acham que o Acquário do Ceará será “lindo demais para deixar esse Poço da Draga feio permanecer aqui”, relata Bianca (Moradora do Poço da Draga).
É impossível não inferir a todo o momento a questão de uma possível remoção dos moradores do Poço da Draga devido à implantação do Acquário do Ceará. A inquietação sobre a permanência em suas moradias é constante.

Obras do Acquário - O Povo 2019 
Bianca, já citada, é vendedora e sempre esteve engajada na manutenção das moradias do Poço da Draga diante da tentativa de remoção por conta de obras na região. Contudo, ela não é otimista na permanência das residências atualmente. Em vez de acreditar em possíveis transformações nas ruas do local com a pavimentação e saneamento, ela entende que “é mais fácil para o governo tirar o pessoal na marra”. Segundo ela, a beleza do Acquário, para os governantes, impede a convivência com a “favela suja” ao lado, atrapalhando a visão dos turistas.
Poço da Draga na década 70. Escola Comandante Fernando Cavalcanti, que era supervisionada pelas freiras conhecidas como “irmãzinhas”. Site Oficial Poço da Draga.
Poço da Draga na década 70. Escola Comandante Fernando Cavalcanti. Funcionando no antigo Pavilhão Atlântico.
Site Oficial Poço da Draga.
É certo que o percurso pelas vias do Poço da Draga revela incômodos em relação à condição de vida das pessoas diante de moradias precárias. Principalmente devido à falta de saneamento básico nas ruas, a higiene coletiva parece ser afetada com a ausência de tubulações próprias para o fluxo de dejetos. Diante das promessas não cumpridas dos governantes em efetivar essas instalações de esgoto, muitos moradores do Poço da Draga percebem descaso das autoridades que administram a cidade. Bianca corrobora dessa premissa. O raciocínio dela é que “se não colocam nem os canos é porque querem tirar a gente daqui”.
Rua Viaduto Moreira da Rocha hoje. Google Maps
Rua Viaduto Moreira da Rocha hoje. Google Maps.
Rua Viaduto Moreira da Rocha hoje. Google Maps.
Bianca mora em uma das duas principais vias do Poço da Draga, a rua Viaduto Moreira da Rocha. A outra via importante do local é a Travessa Cidal, que é de menor tamanho e transversal à anterior. Conforme ressaltado, em ambas as vias não há asfaltamento das ruas e nem saneamento básico. Há uma pavimentação incipiente, finalizada apenas parcialmente, por pequenas pedras. No Poço da Draga ainda se faz presente uma série de pequenas vielas, sem denominação oficial, que se inserem em direção ao mangue localizado entre as ruas principais e o estaleiro pertencente à Indústria Naval do Ceará (INACE). Os esgotos das residências acumulados em pequenas encanações improvisadas caminham principalmente por essas vielas, onde muitas pessoas trafegam.

Travessa Cidal hoje. Google Maps.
Travessa Cidal hoje. Google Maps.
Travessa Cidal hoje, Google Maps
Há, aqui, uma divisão interna do Poço da Draga percebida espacialmente que se reflete em opiniões entre os moradores mais antigos em relação aos mais recentes. Nas duas vias principais, embora não saneadas e sem esgotamento tratado, se localizam as residências mais antigas. Nas vielas que dão acesso ao mangue se localizam ocupações mais recentes. Os moradores mais antigos chamam essa região próxima ao mangue onde os novos ocupantes se agregaram dentro do Poço da Draga de “Pocinho”. 
Conversando com moradores mais antigos é possível perceber algumas queixas deles para com as pessoas que moram na área do Pocinho. Embora a maioria dos habitantes não tenha posse oficial de suas residências em todo o Poço da Draga, a improvisação de residências no Pocinho chama a atenção dos moradores mais antigos.

Mapa com destaque para as duas ruas principais do Poço da Draga: a Rua Viaduto Moreira da Rocha e a Travessa Cidal. Disponível em: Google Maps
Esboço de mapa onde se localiza o aglomerado urbano do Poço da Draga (à esquerda da avenida, separado pela rua transversal que dá acesso à praia). Próximo a área de mangue se localiza o “Pocinho”, caracterizado por ocupações recentes de novos moradores da região. Fonte: Edson Alencar Collares de Bessa 
Poço da Draga na década 70
Banho improvisado por falta de água encanada.
Site oficial poço da draga
Nascido no Poço da Draga, filho de pais que moram no local há mais de cinquenta anos, o agente de saúde Sílvio, afirma que “o pessoal do Pocinho não respeita os mais antigos, fazem um monte de casinha de papelão aqui e poluem o manguezal”. Sílvio destaca que brincava na região do Pocinho quando era criança. Atualmente não deixa seus filhos pequenos fazerem isso, pois teme pela segurança dos filhos ante a uma possível hostilidade de tais “invasores”.

O aumento da violência e do tráfico de drogas é outro fator alarmado pelos interlocutores como decorrente da ocupação recente do Pocinho. O comerciante Ataíde, afirma que devido à presença dos “forasteiros” do Pocinho, a truculência policial se acentuou nos últimos anos dentro do Poço da Draga. 

A polícia chega aqui e trata como se todo mundo fosse marginal, delinquente. Como se todo mundo cheirasse droga, fosse vagabundo. E não é assim! Aqui tem famílias, pessoal que mora aqui está há muito tempo. Meu pai tem 70 anos de Poço da Draga! Eu nasci aqui e nunca vi tanto desmando da polícia aqui dentro como agora. E a gente pode fazer o quê, me diz? Nada. Por que os “homens” vem aqui dentro do Pocinho pegar os traficantes escondidos de outros bairros lá. Os “playboy” da Aldeota vem aqui pra pegar droga deles também, até filho de político famoso já foi preso lá dentro [do Pocinho] com drogas... Desse jeito, aí que nossa fama com as autoridades vai para o espaço de vez! Eles pensam que aqui todo mundo é igual, que é tudo bandido. (Ataíde, em 08/02/2014).
Foto do livro de Paul Walle em 1912. Ainda não havia qualquer vestígio de moradia na área do Poço da Draga.
Acervo J. Terto de Amorim
Foto aérea de Amélia Earhart sobrevoando o Poço da Draga em 1937. 
Conseguimos observar algumas pequenas embarcações (já existia atividade pesqueira)
e algumas casinhas, ainda surgindo de forma tímida. Nascia assim a comunidade do Poço da Draga.
Ataíde afirma que compreende a situação dos moradores do Pocinho. Porém, ele acha que ali não é lugar para eles. A convivência com insalubridade e condições desfavoráveis de higiene são aspectos que deveriam fomentar alternativas de saída do local para aquelas pessoas. “Morar no Poço da Draga já é difícil e lá é quase impossível”, ele destaca. Segundo o comerciante, as pessoas que moram no Pocinho estão lá mais pela localização do Poço da Draga. “Aqui é perto de tudo, próximo ao Centro e a praia, além de ser uma favela no meio da Praia de Iracema, avalia Ataíde como fator de permanência dos ocupantes do Pocinho.

Ontem e Hoje do mesmo ângulo.
Foto atual: Iago Albuquerque.
O estudante André, cujos pais moram no Poço da Draga há décadas, ressalta que o Pocinho é um “local de discórdia”. Ele afirma que “não há sossego lá” devido ao entra-e-sai de pessoas vindas de outros bairros. Acostumado a frequentar a região do Pocinho desde a infância, André relata que já viu muitos jovens “se perderem” nas drogas e no crime pela influência dos moradores do Pocinho. Em um local com pouca expectativa de emprego e estudos para as pessoas, a criminalidade parece ser uma oportunidade, segundo a avaliação dele. André lamenta a perda de muitos amigos para o “mundo das drogas” e do crime. E no sobressalto entre a presença de ocupantes indesejados e os transtornos causados por eles, André destaca a homogeneização de opiniões externas sobre a totalidade de moradores do Poço da Draga. Nesse ponto ele parece concordar com Ataíde. Contudo, André vai além da ação policial e destaca as opiniões de quem passa pelo Poço da Draga.

As pessoas que passam por aqui nem sequer veem a gente [dentro do Poço da Draga]. Só se for muita atenção mesmo. Por que nós estamos aqui no meio das coisas bonitas para os turistas, eles [provavelmente, os governantes] querem esconder a gente. Esse pessoal vem de fora [os moradores do Pocinho], cometem crimes lá fora e vem se esconder aqui. Quem sofre os assaltos ou tem os filhos presos por estarem com drogas já fica com raiva da gente. E começa todo mundo a falar mal. Eu já vi gente passar na avenida dizendo que tem medo de vir aqui na Praia de Iracema por que tem essa “favelinha” cheia de bandido, que somos nós. (André, em 14/10/2014).

Imagem da década de 60. Vemos a ponte dos Ingleses, a ponte Metálica e a comunidade do Poço da Draga.

Rosa afirma que até uma colunista social de um jornal famoso da capital cearense já publicou um texto afirmando que o Poço da Draga é uma “favela perigosa, cheia de delinquentes”. Contudo, enfatiza que nessa ocasião houve união das pessoas para exigirem direito de resposta a esta colunista. Concedido e publicado pelo jornal, o direito de resposta veio em forma de uma carta redigida por vários moradores do Poço da Draga. Ela interroga “como é que pode uma pessoa que nunca entrou na comunidade falar mal da comunidade? Entendeu? Ainda bem que a resposta veio, pois a gente é assim, a gente não deixa barato não!”.

A localização do Poço da Draga próxima à área litorânea da Praia de Iracema é percebida por muitos moradores como ameaça dessa “cobiça” e “inveja” de muitos, bem como fato preponderante para tentativas de remoção. Embora elas saibam do risco iminente de perderem suas residências, as pessoas que vivem no Poço da Draga têm alguns benefícios quanto a estarem naquele local. Dentre eles, está a proximidade ao Centro da cidade e à praia. Muitos, como Clóvis, nem sequer pensam na possibilidade de sair da região. Isto porque “dá pra fazer tudo a pé aqui, não precisa pegar ônibus pra ir ao Centro e a praia é aqui do lado”, afirma ele. Sílvio brinca com a repercussão de obras¹ na região ao afirmar que “todo mundo tem inveja daqui e queria estar nessa região privilegiada da gente”.

No Centro de Fortaleza se localiza o Posto de Saúde Paulo Marcelo (Rua 25 de março, nº 607), que serve aos moradores do Poço da Draga. Conforme afirmado pelos moradores, a praia é fonte de beleza e lazer a alguns passos da maioria das casas. Os estudantes, em sua maioria de escola pública, tem acesso à educação básica por escolas localizadas também no Centro de Fortaleza. Para os moradores católicos, a arquidiocese que coordena a região do Poço da Draga é a própria Catedral Metropolitana de Fortaleza, fato este enaltecido por alguns, como Bianca. Ela diz com entusiasmo que “aqui [no Poço da Draga] é tão bom que somos abençoados é pelo arcebispo, não é por qualquer padre não”.

Rosa afirma que todos esses benefícios da localização do Poço da Draga são fatores de risco para a permanência dos moradores em suas residências. Embora ela já tenha visto várias tentativas de implantar empreendimentos na região não darem certo, Rosa destaca que as transformações estão ocorrendo gradativamente e, a cada dia, o território do Poço da Draga parece ser mais curto. Ela compartilha as perspectivas de outros moradores mais antigos ao afirmar que “hoje já não me sinto mais aqui como minha praia”. Isto porque “estão sempre inventando coisas para fazer aqui e tirar a gente”.

O que se mostra em face tanto aos fatos históricos quanto aos relatos das pessoas é que as obras constantes (ou suas tentativas) no Poço da Draga parecem sempre estar ligadas às remoções dos moradores. Em vez de uma tentativa de melhoria das condições de moradias das pessoas e valorização do espaço “privilegiado” do local com incentivos para a manutenção de quem está lá há muito tempo, o que se vê é sempre algum movimento para se tentar a retirada. 

Poço da Draga em 1975. Foto Correio do Ceará. Acervo Renato Pires.
O que se observa é a presença, no Poço da Draga, de obras que estimulam melhorias na região de seu entorno e não propriamente no espaço urbano em que se localiza a moradia das pessoas. Ligadas a etapas e períodos históricos distintos, as obras fomentadas por agentes externos (ligados muitas vezes aos órgãos de governança) para a região do Poço da Draga são, em sua quase totalidade, excludentes das pessoas que lá vivem.

Comunidade do Poço da Draga na Praia de Iracema. Década de 80. Acervo Renato Pires.

Leia também a Parte I

¹O contexto que se insere aqui é referente a outra obra que foi projetada para se estabelecer na região do Poço da Draga, o Centro Multifuncional de Feiras e Eventos (CMFE), em 2001.

Crédito: ADERALDO, Mozart Soriano. 1993. História Abreviada de Fortaleza e Crônicas sobre a cidade amada. Fortaleza, CE: Edições UFC./Edson Alencar Collares de Bessa - O Poço da Draga e a construção do acquário/Arquivo Nirez/ROCHA JR., Antônio Martins. 2000. O turismo globalizado e as transformações urbanas do litoral de Fortaleza. Arquitetura e estetização da praia de Iracema. 2000. Fortaleza, CE: Dissertação de Mestrado em Arquitetura, Universidade Federal do Ceará (UFC)./Site Comunidade Poço da Draga/ Jornal O Povo/Acervo pessoal

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A antiga ponte metálica - Primeiro porto de Fortaleza


Em 18 de dezembro de 1902, foi fincada primeira estaca da Ponte Metálica, pela firma Walter Max Floriano & Cia., de Glasgow, Escócia, com estrutura metálica importada de Londres, lastro de madeira, que serviria como porto por mais de 20 anos. A construção da ponte esteve a cargo dos engenheiros Hildebrando Pompeu e Roberto Bleasby vindo do Pará em 1893 fixando-se aqui, segundo planos do engenheiro Domingos Sérgio Sabóia. Era para facilitar o movimento de pessoas e cargas no porto de Fortaleza ao tempo da administração do presidente Campos Sales. A construção só foi concluída em 26/05/1906. A Ponte Metálica era dotada de escada móvel para subida e descida de passageiros que não merecia a menor segurança, e guindastes para as cargas de mercadorias. Os navios ficavam ao largo enquanto lanchas, botes e alvarengas faziam o percurso entre eles e a ponte. Foi o 4º trapiche que Fortaleza conheceu, sendo o 1º em frente ao Seminário.

Inaugura-se, no dia 24 de janeiro de 1928, a nova Ponte Metálica, agora denominada Viaduto Desembargador Moreira da Rocha, homenagem ao governador do Estado, que a inaugurou. O Monsenhor Tabosa Braga deu a bênção. Usou da palavra, o engenheiro construtor da obra, Francisco Sabóia de Albuquerque da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas - IFOCS (atual Departamento Nacional de Obras Contra as Secas - DNOCS). A antiga ponte era de ferro com lastro de madeira, sendo depois esse lastro substituído por um de ferro, daí o nome de Ponte Metálica. Esta, inaugurada, era de concreto armado, a mesma que ainda hoje lá está caindo aos pedaços.

Inaugura-se, na noite do dia 20 de janeiro de 1932, a iluminação a gás no Viaduto Desembargador Moreira da Rocha (Ponte Metálica).
No dia 25 de dezembro de 1947, o serviço de embarque e desembarque marítimo, de passageiros e cargas, passa a ser feito no Porto do Mucuripe, ainda por meio de botes e alvarengas, até que as obras permitam a atracação dos navios. É desativado o antigo porto, ou seja, o "molhe de desembarque", que era a Ponte Metálica, oficialmente, Viaduto Moreira da Rocha.
Em 26 de abril de 1954, são retirados os guindastes da Ponte Metálica, antigo molhe de desembarque de Fortaleza.
A foto atual, de Osmar Onofre, nos mostra como está totalmente abandonada a nossa antiga Ponte Metálica, a verdadeira, que por ter história, precisava sim, de uma boa reforma para visitação de turistas. Foi nesta ponte que aconteceram vários fatos históricos de nossa Fortaleza.  

PRAIA DE IRACEMA - PONTE METÁLICA (A VERDADEIRA)


"Já há algum tempo tem havido por parte da imprensa de Fortaleza um engano lamentável, a troca de identidade de alguns logradouros de nossa cidade, como chamar as "feiras de cacareco" de "feira de flores", o Parque da Liberdade de "Parque da criança", a Praça General Tibúrcio de "Praça dos Leões" e a Ponte Metálica que é esta que está nas duas fotografias, retiraram sua identidade. Passaram a chamar a ponte dos ingleses de ponte metálica.

Em 18 de dezembro de 1902 foram iniciadas as obras desta ponte para servir de viaduto (ou molhe) de desembarque. A princípio era de ferro a armação e de madeira o lastro. Depois o piso também passou a ser de aço e por ser toda em estrutura metálica, recebeu o nome de "Ponte Metálica", nada mais justo. O que é que tem de metálico na ponte dos ingleses?
Nesta ponte é que embarcavam e desembarcavam passageiros e cargas. Ali tanto as pessoas como as cargas eram transportadas em barcos e alvarengas (saveiros) até os navios que ficavam ao largo, como pode ser visto na foto antiga. Sobre a ponte existiam trilhos para possibilitar o transporte de materiais pesados até o guindaste da ponte através de trem ou "troley".

Em 1921 o atual DNOCS, na época Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas - IFOCS reconstruiu a ponte metálica, cobrindo-a de concreto, como ainda hoje está. A ponte já teve o nome de Viaduto Moreira da Rocha e foi chamada de "molhe de desembarque" ou ainda de "porto de Fortaleza".
Com a construção do porto do Mucuripe, a ponte foi desativada e ficou ao abandono até hoje. Nela se instalaram pessoas que fizeram casas para morar. Lá ficam os que pescam por esporte, com anzol, ou os mais ousados que dela pulam nas águas com o perigo de encontrarem pedras submersas.
Pelas duas fotografias antigas podemos observar que o mar era bem mais distante que hoje. Em ambas as fotos a maré está baixa.


Texto do jornalista e historiador Nirez.

Crédito: Portal da história do Ceará (Gildácio Sá)/Arquivo Nirez


terça-feira, 2 de junho de 2009

Ponte Metálica e Ponte dos Ingleses

Ponte Metálica - Antigo Porto de Fortaleza


Caminho para a Ponte Metálica em 1910. Arquivo Nirez

Ponte Metálica e Ponte dos Ingleses
A construção da ponte teve início em 18 de dezembro de 1902, sendo inaugurada a 26 de maio de 1906.

Antes da construção da Ponte Metálica, existiram vários trapiches, usados pra embarque e desembarque de passageiros e mercadorias.
Ponte metálica vista da terra para o mar vendo-se seus guindastes e os trilhos de trem. Foto do inicio da década de 1930. Arquivo Nirez
Devido ao comprometimento da estrutura metálica a mesma foi reconstruída em concreto pelo engenheiro Francisco Sabóia de Albuquerque sendo reinaugurada no dia 24 de fevereiro de 1929.


Ponte Metálica, início do século XX. Arquivo Nirez

A princípio, a armação era de ferro e o lastro de madeira. Depois, o piso passou a ser de aço e, por ser toda em estrutura metálica, recebeu o apelido de Ponte Metálica. Com a construção do Porto do Mucuripe, a ponte foi desativada.

Fortaleza vista da ponte em 1919.
Final da década de 30. Vemos a ponte Metálica e a dos Ingleses
Um pouco de história

Vista aérea da Ponte Metálica, já com a estrutura de concreto
que é posterior à sua construção.
Localizada na Praia de Iracema, a ponte situa-se numa área na qual por diversas vezes existiu a construção de trapiches. O primeiro que se sabe foi um trapiche datado de dezembro de 1804.
Depois foram construídos outros trapiches. O mais famoso foi o chamado trapiche do Ellery, construído pelo inglês Henry Ellery, provavelmente no ano de 1844.
Em 21 de junho de 1857, foi concluído um terceiro trapiche, sendo seu construtor Fernando Hitzshky. Este trapiche mediu 154 metros de comprimento por 17,60 metros de largura.


A antiga Ponte Metálica com duas estruturas laterais de madeira que serviam de diques. Livro Caravelas, Jangadas e Navios.
No século XIX, Fortaleza desenvolveu-se muito como cidade, e ainda não possuía um porto para exportar produtos como algodão e café.
Isto impulsionou muitos estudos e projetos. O mais conhecido é de Charles Neate, datado de 1870, o qual incluía a construção de um quebra-mar, um canal, um porto e uma ponte de acesso ao litoral.
Ponte Metálica. Acervo Renato Pires
Em 1875, Sir John Hawkshaw, agilizou esta ideia e a construção de um quebra-mar de 670 metros de comprimento, no antigo porto, ligado ao litoral por uma ponte de acesso. Este ainda projetou a construção do Prédio da Alfândega de Fortaleza e armazéns de depósitos no ancoradouro (iniciados em 1833 e finalizados em 1891), bem como a ligação do porto com a Estação Central de Fortaleza,da Estrada de Ferro de Baturité, e um canal de grande profundidade (o canal do Barreta).


Seminaristas na Ponte Metálica assistindo o embarque e desembarque de viajantes. Fotografia de 1914 de Ronald Tavares

Em 1883, a empresa inglesa "Ceara Harbour Corporation Limited" iniciou as construções da futura estrutura portuária de Fortaleza. Neles também estava incluído o prédio da Alfândega. Porém a construção do quebra-mar iniciou-se somente em 1887, devido as grandes dificuldades para obtenção de pedras necessárias às obras e o acumulo de areia causada pela ação dos ventos, na bacia abrigada pelo quebra-mar.


Antigo porto de Fortaleza - Nogueira Acióli sendo deposto.
Antigo porto de Fortaleza - Nogueira Acióli sendo deposto.
Pavilhão Atlântico - Restaurante e café que antecedia a
ponte metálica e onde as pessoas ficavam aguardando
 os embarques ou desembarques. Foto de 1926. Nirez
Em 1897, quando o quebra-mar já alcançava 432 metros, essas obras foram suspensas. Devido ao fracasso do Plano Hawkshaw, as condições de serviço de embarque e desembarque no antigo porto tornaram-se intoleráveis para os viajantes e para o comércio. Mas mesmo assim o café de Baturité continuou a ser exportado deste porto.

A estrutura da Ponte Metálica contava ainda com o Pavilhão Atlântico de Fortaleza, que era um prédio que servia de sala de espera e restaurante para os passageiros em trânsito ou que iriam embarcar.


Canteiro de obras da ponte Metálica em 1921
Em 18 de dezembro de 1902, teve início a construção da Ponte Metálica, com estrutura de ferro e piso de madeira, sendo inaugurada a 26 de maio de 1906. A responsabilidade e direção coube ao engenheiro Hildebrando Pompeu (cearense) e Robert Grow Bleasby (escocês).


Apêndice da Ponte Metálica onde ficavam os guindastes para embarque e desembarque de produtos. Foto de 1915.
Arquivo Nirez
Ponte Metálica em atividade em 1940. Arquivo Nirez
Devido ao comprometimento da estrutura metálica a mesma foi reconstruída em concreto, pelo engenheiro Francisco Sabóia de Albuquerque, sendo reinaugurada no dia 24 de fevereiro de 1929, com o nome de 'Viaduto Moreira da Rocha', em homenagem ao Des. Moreira da Rocha, então Presidente do Ceará.


A Ponte Metálica era dotada de escada móvel para subida e descida de passageiros que não merecia a menor segurança, e guindastes para as cargas de mercadorias.
Os navios ficavam ao largo enquanto lanchas, botes e alvarengas faziam o percurso entre eles e a ponte.
Serviu por mais de 10 anos, mas deteriorou-se pela maresia e foi reconstruída na década de 20, sendo inaugurada em 24/02/1929 com o nome de Viaduto Moreira da Rocha, já em concreto armado, sob fiscalização do engenheiro Francisco Sabóia de Albuquerque, da IFOCS (atual DNOCS). Acervo Lucas

Ponte dos Ingleses
Foto1: Ponte dos Ingleses no momento da construção.
Déc. de 20. Acervo Aderson Costa.
Foto2: A ponte por volta de 1930. Acervo Carlos A. R. Cruz
A Ponte dos Ingleses, equivocadamente chamada de Ponte Metálica, foi um projeto de melhoramento da estrutura portuária de Fortaleza. 
No Início do século XX o Porto de Fortaleza (Ponte Metálica) necessitava de melhoramentos e vários estudos foram realizados com este fim. Em dezembro de 1920 foi aprovado o famoso projeto de Lucas Bicalho, Inspetor Federal de Portos, Rios e Canais. Um plano de melhoramentos menos dispendioso, semelhante ao Plano Hawkshaw, que satisfizesse a condição de oferecer uma suficiente extensão de cais, bem preparado, até 8 metros de profundidade.
Em 1921, a firma inglesa Norton Griffths & Company Limited foi contratada para a realizações da obra portuária. Em 24 de setembro daquele ano, teve início a construção, durante o governo do presidente Epitácio Pessoa, e foram suspensas no governo de Artur Bernardes, no qual permaneceu inconclusa...


Ponte dos Ingleses, que nunca foi terminada, ficando aqueles espigões mar a dentro e todos pensam que é porque caiu, mas ela é inacabada.
Registro da construção da Ponte dos Ingleses que nunca chegou a cumprir sua função de entrada do porto, pois foi substituída pelo atual Porto do Mucuripe.

Ponte dos Ingleses inacabada ainda nos anos 80.
Acervo Edinardo de Souza
As obras ficaram a cargo o engenheiro J. H. Kirwood, assessorado por George Ivan Copo, Robert Bleaby e Sebastião Flageli. Como os engenheiros eram ingleses, esta passou a ser conhecida com 'Ponte dos Ingleses'.

Um porto nunca finalizado


A ponte foi construída para servir de porto da cidade de Fortaleza, em substituição da antiga Ponte Metálica (ponte ao lado, próxima da Avenida Almirante Tamandaré). No entanto, nunca funcionou como porto. O viaduto integrava o ante-projeto de um porto-ilha proposto pelo engenheiro Manuel Carneiro de Sousa Bandeira, e desenvolvido pelo engenheiro Lucas Bicalho.

Ponte dos Ingleses inacabada. Site oficial Poço da Draga

As obras do projeto foram suspensas por falta de crédito orçamentário A partir disso, a construção se desvirtuou, passou a ser frequentada enquanto mirante por sua visão privilegiada e ganhou apelo turístico. O local, então, nunca chegou ser usado como porto.


Viaduto Lucas Bicalho, a Ponte dos Ingleses em 1923

Em 1994, foi aprovado um projeto de recuperação da ponte através da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. A ponte foi recuperada e urbanizada para o uso público, além de ter recebido uma armação de madeira sobre parte do viaduto, projeto dos arquitetos Fausto Nilo e Delberg Ponce de Leon, também responsáveis pelo projeto arquitetônico do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.

A Ponte dos Ingleses tem uma longa história de fascínio sobre a população de Fortaleza e sobre os seus visitantes. Nenhuma outra área da cidade possui um carisma tão especial quanto esta. Nenhum outro espaço da cidade mantém uma relação de tanta cumplicidade com os poetas, boêmios e insubmissos de Fortaleza quanto esse bucólico recanto à beira mar. Essa relação de afetividade foi consolidada através de décadas de convivência carinhosa.
Com a desistência de transformá-la também em porto, a gigante e bela ponte assumiu uma outra grande e significativa vocação: ela passou, a partir de então, a ser o ponto de encontro preferido dos jovens, artistas e boêmios, que para ali convergiam para contemplar o por do sol mais bonito da cidade, para namorar, para pescar descomprometidamente com o resultado da pescaria, para estimular sua sensibilidade poética ou simplesmente para usufruir do seu saboroso aconchego. Nesse lúdico e democrático espaço de conivência havia sempre lugar para todos.

Essa tradição foi se consolidando durante os anos. Em Fortaleza, por muito tempo, falar em boemia, poesia ou espaço bucólico era falar de Praia de Iracema, com o seu velho e aconchegante Estoril. Era falar do seu símbolo maior: a Ponte dos Ingleses.


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