Sempre que se aproxima o período do Carnaval, os mesmos questionamentos voltam a servir de polêmica sobre o real conceito que deveria identificar a cidade de Fortaleza nos dias consagrados à folia.
A propaganda oficial para atrair turistas centra seu apelo no fato de que Fortaleza seria, nesta época, um oásis de tranquilidade, cidade ideal para quem deseja fugir da agitação carnavalesca. E as perguntas se repetem: já existiu, de fato, um Carnaval animado na cidade? Ou nossa gente é inapelavelmente imunizada contra o vírus momino, estando fadada ao desfile em “slow-motion” dos maracatus?
Bloco Turma do Camarão - Arquivo Nirez
O carnaval de Rua em Fortaleza iniciou-se no final do Século XIX, mas foi proibido por um período, em 1905, pelo intendente Guilherme Rocha. Nos desfiles da época eram comuns pessoas fantasiadas chamadas de 'papangus' e 'dominós'. Havia também os 'caboclos', remanescentes dos indígenas de Porangaba (NIREZ, 1993, p. 3). De acordo com Nirez (1993), o carnaval de Fortaleza era mais ou menos animado, conforme a situação econômica e social da época.
Desfile do bloco Prova de fogo - Cronologia Ilustrada de Fortaleza - Nirez
Desfile do Bloco Prova de Fogo - Arquivo Nirez
Em tempo de revolta ou guerra, era desanimado e em tempo de paz e harmonia era muito animado. Nas décadas de 1910 e 1920, predominava o carnaval de clubes. Na década de 1930, o carnaval de rua começou a se tornar mais popular, quando blocos foram formados por músicos, comerciários e trabalhadores, denominados 'brincantes', com a orquestra na retaguarda. Na frente havia sempre um baliza, que fazia acrobacias com bastão à mão. Esses blocos tinham compositores próprios que geralmente faziam marchas especiais para o Carnaval. Mais tarde surgiram os blocos que dançavam ao som de samba. O primeiro desses blocos foi o 'Prova de Fogo', seguido da 'Escola de Samba Lauro Maia', que se transformaria, mais tarde, na 'Escola de Samba Luiz Assunção'.
O Cordão das Coca-Colas - Arquivo Nirez
O antológico o “Cordão das Coca-Colas”, que reunia a “fina flor” do machismo cearense Arquivo Diário do Nordeste
"No meu entender, os blocos de sujos eram o carnaval fortalezense”, afirma o escritor e memorialista Marciano Lopes. “Depois que tiveram a pretensão de elitizar nosso desfile de rua, com falsas escolas de samba e maracatus sofisticados, quiseram também impor um excesso de “organização” absolutamente desnecessária. Inibiram e limitaram a apresentação dos sujos, em vez de incentivá-la. Foi uma opção pela utopia”.
Desfile de 1950 - Maracatu Az de Ouro - Arquivo Nirez
Maracatu Az de Ouro em 1950 - Foto do acervo do Museu da Imagem e do Som do Ceará
O escritor e radialista Narcélio Limaverde concorda com Marciano, em seu livro “Fortaleza História e Estórias - Memórias de uma Cidade”: “Nosso carnaval não se resumia somente a desfiles de blocos, escolas, cordões, maracatus e veículos motorizados (o chamado corso de automóveis). Um grupo de anônimos, os chamados sujos, papangus, como meu pai José Limaverde denominava, dava um colorido especial aos desfiles. Usavam fantasias as mais criativas, além dos tradicionais homens vestidos de mulher, com quengas de coco fingindo de seios.”. Limaverde relembra um folião que marcou presença durante vários anos, portando uma enorme barriga de grávida com uma placa e os dizeres “Meu Destino é Pecar...”. Era uma alusão ao romance que o jornal Unitário publicava em capítulos, diariamente, sob o pseudônimo de Suzana Flag. Só anos depois se soube que o verdadeiro autor era Nelson Rodrigues, famoso teatrólogo de “Vestido de Noiva”.
Carnaval do Náutico - Década de 50 - Arquivo Blanchard Girão
Um outro folião “grávido” trazia o cartaz de “Amar foi Minha Ruína”, título de um popular filme da atriz Gene Tierney, exibido em Fortaleza em meados da década de 40. O uso liberado do lança-perfume (cloretil), utilizado geralmente pelos rapazes para cortejar recatadas mocinhas e raramente usado como droga, contribuía bastante para o lado pitoresco da festa e o incremento da euforia local.
Côrte do Rei Momo Luizão - Arquivo Nirez
Carnaval do bloco do Ideal Clube - Arquivo Nirez
Pesquisadores registram que o carnaval de rua, em sua expressão mais abrangente e popular, nasceu no Rio de Janeiro com um sapateiro português chamado Zé Pereira, inspirador da célebre marchinha ainda hoje executada nos bailes, que saía às avenidas tocando seu bumbo e logo era seguido por espontâneos e excitados foliões.
Anteriormente, existia o “entrudo” dos tempos coloniais, quando alguns senhores permitiam aos seus escravos a realização de extrovertidos - e às vezes violentos - folguedos, uns dias antes do início da Quaresma. A elite de então se refugiava em suas casas, apavorada diante de possíveis irreverências e excessos cometidos pelos escravos bêbados.
Décadas mais tarde surgiriam as escolas de samba, assinalando cores mais fortes e cadências mais ritmadas na folia carioca. O mais sério contraponto nacional ao samba era o frevo pernambucano, marca registrada do tradicional e sempre muito concorrido carnaval do Recife.
Na verdade, os cearenses nunca figuraram entre os mais entusiasmados brincantes do Brasil. Há quem atribua essa evidência à existência de poucos afro-brasileiros no Ceará. Para estudiosos do tema, carnaval dos bons é sinônimo de presença da raça negra, como estão aí para atestar os carnavais do Rio de Janeiro, Salvador, Recife e São Luís do Maranhão.
Diz Marciano Lopes: “A Escola de Samba Luiz Assunção (talentoso compositor de “Adeus, Praia de Iracema”), foi a mais exótica escola de samba do mundo. Estava mais para banda marcial do que para qualquer outra coisa, com seu impecável “pelotão” de músicos (a Escola compreendia apenas os músicos) vestidos à maneira militar, com empertigados dolmãs e vistosos quépis.”
Apesar de seus limites, o carnaval de rua fortalezense teve suas peculiaridades. Uma delas eram os exuberantes carros alegóricos das prostitutas, todas elas residentes nas inúmeras “pensões alegres” então existentes no Centro da cidade. Os carros, por vezes, tentavam imitar castelos medievais, feitos de papelão e areia prateada, em um ingênuo e singularmente exótico monumento ao “kitsch”.
Eram também bastante comuns os blocos de homens travestidos de mulher. Mas convém frisar: quase todos eles respeitáveis pais de família ou rapazolas à procura de fazer rir as namoradas, pois travestis, na atual concepção da palavra, poderiam ser contados nos dedos na provinciana Fortaleza dos anos 50 e 60. Os mais populares “assumidos” que ousavam enfrentar (ganhando aplausos, diga-se de passagem) o julgamento do público eram o gigantesco e corpulento Zé Tatá (1m90 de altura), dono de uma das mais visitadas “pensões alegres” - atrás do prédio dos Correios e Telégrafos, e a saltitante Beatriz, excelente nos dotes culinários e famosa por seu cocar de luzes multicoloridas.
Os blocos mais aplaudidos dos travestis “ocasionais” eram as “Baianas”, as “Meninas do Sputnik”, as “Garotas do Barulho” e o lendário “Cordão das Coca-Colas”, onde cearenses “despeitados” ironizavam as audaciosas mocinhas fortalezenses, louváveis pioneiras (hoje se reconhece) da liberação sexual na terrinha, que ousaram render-se aos encantos dos belos soldados norte-americanos sediados em nossa cidade, durante a Segunda Guerra Mundial. Muitos deles levaram suas amadas “coca-colas” ao altar e, por causa disso, hoje existem inúmeros descendentes de tradicionais famílias cearenses em grandes cidades dos EUA, sobretudo em Boston, para onde inúmeras moças da Rua Pedro I foram então levadas.
Um tanto avesso a qualquer tipo de disciplina, o folião cearense sempre pareceu optar pela ausência quase total de compromisso. Como afirmava o saudoso carnavalesco Antônio Marechal, “cearense gosta de botar uma roupa de mulher, ou bermuda e camiseta, e cair na farra de qualquer jeito”. Gosta de ir às praias e esbaldar-se a valer, sem ter de submeter-se a programações ou horários.
A falta de brilho e originalidade do carnaval fortalezense é também enfatizada pelo professor Gisafran Nazareno Mota Jucá, em seu livro “Verso e Reverso do Perfil Urbano de Fortaleza”. O autor também se refere ao caráter repressivo das autoridades, citando uma hilária nota divulgada pela então Secretaria de Negócios de Polícia e Segurança Pública do Estado do Ceará, advertindo não ser permitido “o uso de fantasias atentatórias à moral, proibindo-se a participação de grupos constituídos por indivíduos maltrapilhos à guisa de blocos e empunhando latas, fragmentos de madeira, reco-recos, espanadores e objetos outros que se possam tornar instrumentos de agressão, sendo os infratores imediatamente encaminhados à Delegacia de plantão”. Essa, sem dúvida, foi a primeira atitude preconceituosa perpetrada contra os ouriçados blocos de sujos, no entender de alguns a única fonte de animação realmente autêntica do carnaval de rua em Fortaleza.
Outro fator que contribuiu bastante para inibir os foliões locais foi a rígida censura estabelecida nos tempos da ditadura militar, quando era proibido qualquer tipo de manifestação jocosa mais ousada ou de duplo sentido. Os censores da época sempre farejavam supostas mensagens subliminares contra o regime nas mais inocentes brincadeiras e até mesmo pretensos códigos de comunicação entre “subversivos” introduzidos na massa, que utilizariam a descontração carnavalesca para desenvolver sua política marginal.
A única tradição carnavalesca genuinamente cearense, embora vagamente inspirada em seus homônimos pernambucanos, são os dolentes maracatus, com seu ritmo lento e não de todo apropriado à característica euforia do reinado de Momo. Os maracatus pernambucanos possuem ritmo bem mais apressado e agora já estão sendo copiados por alguns grupos locais, sob os veementes protestos dos preservadores das tradições cearenses.
O pré-carnaval de Fortaleza
Anos 50 - Desfile do bloco "Enverga mas não quebra" - Arquivo Nirez
Anteriormente, existia o “entrudo” dos tempos coloniais, quando alguns senhores permitiam aos seus escravos a realização de extrovertidos - e às vezes violentos - folguedos, uns dias antes do início da Quaresma. A elite de então se refugiava em suas casas, apavorada diante de possíveis irreverências e excessos cometidos pelos escravos bêbados.
Décadas mais tarde surgiriam as escolas de samba, assinalando cores mais fortes e cadências mais ritmadas na folia carioca. O mais sério contraponto nacional ao samba era o frevo pernambucano, marca registrada do tradicional e sempre muito concorrido carnaval do Recife.
Irapuan Lima, o inesquecível Rei Momo, ao lado de sua Rainha - Arquivo Diário do Nordeste
Na verdade, os cearenses nunca figuraram entre os mais entusiasmados brincantes do Brasil. Há quem atribua essa evidência à existência de poucos afro-brasileiros no Ceará. Para estudiosos do tema, carnaval dos bons é sinônimo de presença da raça negra, como estão aí para atestar os carnavais do Rio de Janeiro, Salvador, Recife e São Luís do Maranhão.
Cronologia Ilustrada de Fortaleza - Nirez
Diz Marciano Lopes: “A Escola de Samba Luiz Assunção (talentoso compositor de “Adeus, Praia de Iracema”), foi a mais exótica escola de samba do mundo. Estava mais para banda marcial do que para qualquer outra coisa, com seu impecável “pelotão” de músicos (a Escola compreendia apenas os músicos) vestidos à maneira militar, com empertigados dolmãs e vistosos quépis.”
Apesar de seus limites, o carnaval de rua fortalezense teve suas peculiaridades. Uma delas eram os exuberantes carros alegóricos das prostitutas, todas elas residentes nas inúmeras “pensões alegres” então existentes no Centro da cidade. Os carros, por vezes, tentavam imitar castelos medievais, feitos de papelão e areia prateada, em um ingênuo e singularmente exótico monumento ao “kitsch”.
Eram também bastante comuns os blocos de homens travestidos de mulher. Mas convém frisar: quase todos eles respeitáveis pais de família ou rapazolas à procura de fazer rir as namoradas, pois travestis, na atual concepção da palavra, poderiam ser contados nos dedos na provinciana Fortaleza dos anos 50 e 60. Os mais populares “assumidos” que ousavam enfrentar (ganhando aplausos, diga-se de passagem) o julgamento do público eram o gigantesco e corpulento Zé Tatá (1m90 de altura), dono de uma das mais visitadas “pensões alegres” - atrás do prédio dos Correios e Telégrafos, e a saltitante Beatriz, excelente nos dotes culinários e famosa por seu cocar de luzes multicoloridas.
Foto década de 50 do baile da Marinha - Arquivo Blanchard Girão
Os blocos mais aplaudidos dos travestis “ocasionais” eram as “Baianas”, as “Meninas do Sputnik”, as “Garotas do Barulho” e o lendário “Cordão das Coca-Colas”, onde cearenses “despeitados” ironizavam as audaciosas mocinhas fortalezenses, louváveis pioneiras (hoje se reconhece) da liberação sexual na terrinha, que ousaram render-se aos encantos dos belos soldados norte-americanos sediados em nossa cidade, durante a Segunda Guerra Mundial. Muitos deles levaram suas amadas “coca-colas” ao altar e, por causa disso, hoje existem inúmeros descendentes de tradicionais famílias cearenses em grandes cidades dos EUA, sobretudo em Boston, para onde inúmeras moças da Rua Pedro I foram então levadas.
Um tanto avesso a qualquer tipo de disciplina, o folião cearense sempre pareceu optar pela ausência quase total de compromisso. Como afirmava o saudoso carnavalesco Antônio Marechal, “cearense gosta de botar uma roupa de mulher, ou bermuda e camiseta, e cair na farra de qualquer jeito”. Gosta de ir às praias e esbaldar-se a valer, sem ter de submeter-se a programações ou horários.
A falta de brilho e originalidade do carnaval fortalezense é também enfatizada pelo professor Gisafran Nazareno Mota Jucá, em seu livro “Verso e Reverso do Perfil Urbano de Fortaleza”. O autor também se refere ao caráter repressivo das autoridades, citando uma hilária nota divulgada pela então Secretaria de Negócios de Polícia e Segurança Pública do Estado do Ceará, advertindo não ser permitido “o uso de fantasias atentatórias à moral, proibindo-se a participação de grupos constituídos por indivíduos maltrapilhos à guisa de blocos e empunhando latas, fragmentos de madeira, reco-recos, espanadores e objetos outros que se possam tornar instrumentos de agressão, sendo os infratores imediatamente encaminhados à Delegacia de plantão”. Essa, sem dúvida, foi a primeira atitude preconceituosa perpetrada contra os ouriçados blocos de sujos, no entender de alguns a única fonte de animação realmente autêntica do carnaval de rua em Fortaleza.
Antigo baile de carnaval do Diários
A única tradição carnavalesca genuinamente cearense, embora vagamente inspirada em seus homônimos pernambucanos, são os dolentes maracatus, com seu ritmo lento e não de todo apropriado à característica euforia do reinado de Momo. Os maracatus pernambucanos possuem ritmo bem mais apressado e agora já estão sendo copiados por alguns grupos locais, sob os veementes protestos dos preservadores das tradições cearenses.
O pré-carnaval de Fortaleza
As raízes do pré-carnaval de Fortaleza nasceram com os
blocos carnavalescos dos anos 1970 e 1980
Amizade, paixão pela música e tradição de família são alguns motivos que levaram ao surgimento dos blocos carnavalescos de Fortaleza, hoje, vedetes do pré-carnaval de rua, festa que se fixou com força no calendário da Capital cearense. O hábito de comemorar o pré-carnaval nas ruas de Fortaleza começou pela insistência de grupos de amigos que queriam passar a festa momina em sua cidade. Costumeiramente, o destino dos fortalezenses nos dias de carnaval sempre foi as praias do litoral.
“Como todo mundo fugia da cidade no período decidimos começar a festa antes e foi assim que teve início o pré-carnaval de Rua de Fortaleza”, conta Jânio Soares, diretor do bloco Periquito da Madame, um dos mais antigos da cidade. Ele chama para si a autoria da festa urbana que durante os finais de semana de janeiro e fevereiro leva multidões entusiasmadas para as ruas.
“Começamos o pré-carnaval para criar o hábito nas pessoas de ficar em Fortaleza durante o carnaval”, conta. A cidade ainda fica esvaziada durante o feriado da folia, mas ferve em janeiro com os blocos pré-carnavalescos. No entanto, antes mesmo do Periquito da Madame estrear nas ruas, outras pessoas já se organizavam em grupos e celebravam o carnaval.
Em 1974, os moradores do então bairro Tyrol, hoje Jacarecanga, já promoviam uma festa carnavalesca de rua. “O bloco surgiu com a inauguração da Avenida Leste-Oeste, então a comunidade inventou o nome Tyroleste”, conta o artesão José Nazareno Barros, mais conhecido como Deusdete, organizador do bloco Vai Tomar na Tyroleste, outro nome antigo do carnaval de rua que foi incorporado ao pré-carnaval.
O Periquito da madame nasceu no ano de 1982 quando um grupo de amigos decidiu sair brincando na Rua Senador Pompeu, no Centro. Hoje, o percurso do bloco é pelo calçadão da Praia de Iracema e a concentração acontece no Largo do Mincharia. O bom humor e a irreverência são as marcas do bloco.
Todos os anos, sai com um tema diferente inspirado em assuntos em voga. Este ano, de verde o periquito ficou marrom e adotou o sobrenome Obran, em homenagem ao presidente dos Estados Unidos, Barak Obama.
A tradição é um dos grandes atrativos do bloco, que desenvolveu laços de amizade em torno da festa.
Bloco de sujo
Do pai, Deusdete herdou o gosto pelo carnaval e, apesar dos percalços difíceis, botou o bloco na rua ao longo de todo esse tempo de forma ininterrupta, às vezes, com mais foliões, outras, com menos, mas sempre com admiradores cativos. A única explicação para a resistência de blocos tão antigos é a alegria do fortalezense. Mesmo sem apoio financeiro, muitos blocos conseguiram se sustentar e carregam um nome de peso na cena cultural.
É o caso da Turma do Mamão, bloco nascido em 1974 para desfilar no carnaval de rua de Fortaleza, como um bloco de sujo. “Hoje, desfilamos na Av. Domingos Olímpio com o samba pesado e participamos do pré com marchinhas e um pouco de samba também”, explica o coordenador do bloco, Raimundo Nonato da Silva Barros, que desde a fundação faz parte dessa turma.
Mais novo, mas não menos experiente, o bloco Que Merda é Essa! já faz parte da história da Praia de Iracema. Há 26 anos, ele surgiu quando os amigos Geraldo Junior, Tereza Mônica, Wagner Costa e Ercinho Ponce de Leon decidiriam investir alegria e irreverência na festa pré-momina.
Os amigos tinham as raízes nos blocos e cordões carnavalescos da Praia de Iracema e do carnaval de Fortaleza, dentre eles Escola de Samba Leopoldina Show e Girassol..
Com instrumentos de sopro, tocando frevo e executando marchinhas, o bloco foi conquistando um público cativo de foliões no decorrer de sua história. Segundo um dos organizadores do Que Merda é Essa!, Joaquim Bezerra Jr., o pequeno bloco cresceu e hoje arrasta até 8 mil pessoas em cada dia de desfile, tudo graças à paixão pela folia de quem faz.
Uma conclusão é unânime: o fator que influenciava de maneira marcante para a contagiante animação de antigos carnavais, inclusive nos clubes, eram as belas músicas especialmente criadas para os festejos. Bastante tocados pelas emissoras de rádio e assinados por compositores do porte de Braguinha, Mário Lago e Lamartine Babo, os sucessos mominos eram também muito divulgados pelo cinema nacional, sobretudo através das chanchadas produzidas pelo cearense Luiz Severiano Ribeiro.
As músicas carnavalescas do passado, longe de apelarem para a sexualidade chula e vulgarizada pela chamada “axé-music”, abordavam temas do cotidiano e suas letras eram sabidas de cor por toda a população brasileira. Outro importante detalhe: todas elas eram interpretadas por cantores do primeiro time do cancioneiro popular nacional, como as irmãs Linda e Dircinha Batista, Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Emilinha Borba e Marlene, entre inúmeros outros.
Temas sociais, políticos e de interesse público foram maliciosamente abordados nas letras dos sambas e marchinhas. Enquanto o cantor Blecaute ironizava os marajás do serviço público em “Maria Candelária”, “a alta funcionária que saltou de pára-quedas e caiu na letra O”, a escassez de moradia era satirizada em “Daqui não Saio” e Marlene retratava o sofrimento de humildes lavadeiras das favelas no antológico samba “Lata d´água”.
Fortaleza cresceu muito, os costumes mudaram, o Centro da cidade esvaziou-se e o público, que lotava a Duque de Caxias e a Senador Pompeu, fugiu para as praias dos municípios mais próximos, instituindo o chamado “carnaval de praia”. A mudança foi benéfica para servir como atração turística de cidades como Aracati e Paracuru, a despeito do constrangedor hábito do “mela-mela”, remanescente do “entrudo” dos escravos na época do Império. Muitas cidades, felizmente, já se mobilizaram para evitar esse exercício de mau gosto aliado a um injustificável disperdício de alimentos como ovos e farinha de trigo, justo no momento em que se pretende adotar para a fome uma tolerância zero.
Bônus:
Carnavá Tá Ahi - Carmem Miranda
Vamos Brincar - Carmem Miranda
Não quero saber - Pilé
Bahianinha - Sylvio Caldas
Gamella quebrada - Sylvio Caldas
Eu sou feliz - Ottilia Amorim
Nêgo Bamba - Ottilia Amorim
José Augusto Lopes
Créditos: http://maracatuazdeouro.blogspot.com, Diário do Nordeste, http://bonavides75.blogspot.com