Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
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Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

sábado, 16 de outubro de 2021

Ginásio Paulo Sarasate - 50 anos

Construção do Ginásio Paulo Sarasate

O Cruzeiro 1971
Acervo William Beuttenmuller

O Ginásio Paulo Sarasate teve sua construção iniciada em 5 de maio de 1963, na gestão do ex-prefeito Murilo Borges. Localizado na rua Idelfonso Albano, 2050, o ginásio é fruto de um esforço desenvolvido junto ao governo federal através do então Deputado Paulo Sarasate garantindo mais de 70 milhões de cruzeiros, com os trabalhos perdurando todo o mandato do ex-prefeito José Walter Cavalcante (1967-1971).


Construção do Ginásio - Fotos de Nelson Bezerra

1971. Teto a ser montado do Ginásio Paulo Sarasate, inaugurado em setembro daquele ano. (Tribuna do Ceará). Acervo Lucas


Ginásio Paulo Sarasate em foto do jornal O povo de 1970. Acervo Lucas

Ginásio em 1972. Revista Manchete
Acervo Lucas

O nome do ginásio homenageia Paulo Sarasate Ferreira Lopes, ex- governador do Estado do Ceará. Foi inaugurado em 24 de setembro de 1971, pelo então prefeito Vicente Fialho e o governador do Ceará, César Cals, e contou com a presença de mais de 2 mil autoridades e convidados especiais e mais outros 15 mil espectadores. A partida de futebol de salão entre Sumov, Da Casa, e Palmeiras, marcou o evento de inauguração, terminando 2 x 1 para o time visitante. Durante o intervalo da partida, o maestro cearense Eleazar de Carvalho, um dos cinco mais celebrados regentes à época, foi homenageado com as medalhas da Abolição, através do Governo do Estado do Ceará, do Mérito Municipal oferecida pela Prefeitura de Fortaleza e do Mérito Cultural da Universidade Federal do Ceará.


Ginásio Paulo Sarasate, ano 1971.
Foto: Escritório Castro Mello Arquitetos.


Vista área do Ginásio Paulo Sarasate no ano de 1972. 
Revista Manchete

O Ginásio pertence à Prefeitura Municipal de Fortaleza. Nele funciona a Secretaria de Esporte e Lazer de Fortaleza, órgão responsável por sua administração. 

Foto do Ginásio Paulo Sarasate na década de 70. Acervo Renato Pires

Paulo Sarasate, ano 1975.
Acervo Ivanberto Pires

Segundo Delberg Ponce de Leon, o projeto original do Ginásio Paulo Sarasate é do Arquiteto Ícaro de Castro Mello, de São Paulo, e a grande obra de restauração e atualização executada na Administração do Dr. Juraci Magalhães foi projetada por seu filho Eduardo Castro Mello e o neto Vicente de Castro Mello, ambos arquitetos.

Um grande susto

No dia 25 de março de 1980, em consequência do desgaste natural da estrutura, a cúpula do ginásio cede. Felizmente, o fato ocorreu durante a madrugada, não havendo feridos com gravidade. Após reconstrução e reparos, o  ginásio foi reaberto em 14 de dezembro do mesmo ano, com um jogo de futebol de salão entre o Sumov e San Jorge, da Argentina.


Carreata da Campanha do Café Wal-Can, em frente ao Ginásio Paulo Sarasate na década de 70.


Ginásio Paulo Sarasate em outubro de 1983. Jornal O Povo

As duas últimas grandes reformas ocorreram entre os anos de 1997 e 2000, na gestão do ex-prefeito Juraci Magalhães, com o custo total da obra chegando a R$5.090.213,83. Com a modernização, o ginásio recebeu nova iluminação, sonorização, elevadores, setor de imprensa e tribuna de honra. As antigas escadarias, muito íngremes, que davam acesso ao anel superior, foram trocadas por novas escadas e rampas helicoidais, foram criados setores dedicados para pessoas portadoras de deficiência física, auditório, 06 (seis) vestiários, sendo 04 (quatro) para atletas e 02 (dois) para árbitros, sala vip, alojamentos, aumento nas dimensões da quadra poliesportiva para 20m x 40m, troca das cadeiras, corrimões, portões, além de nova comunicação visual.


Show de Raul Seixas, em 1989, terminou em desordem total. 
Jornal O Povo/Acervo Renato Pires


Baile Municipal para o povo, no Ginásio Paulo Sarasate, em 1986. 
Jornal da Manchete/Acervo Antº Neto

Fato curioso

A Prefeitura de Fortaleza só tomou posse de fato e de direito do terreno onde se encontra o ginásio, no ano de 2011, após decisão da 4ª vara da Fazenda Pública da Comarca de Fortaleza, de acordo com o processo Nº 0092784-73.2008.8.06.0001, julgando procedente a ação de usucapião impetrada pelo ente público, por entender que o município vinha investindo no imóvel por quase 40 anos, através de reformas e eventos esportivos.


O Ginásio em 1979.

O Ginásio Paulo Sarasate já sediou vários shows, eventos públicos e desde 2012, reúne grande número de jovens na Academia Enem. Em 2020, o evento contou com 8 mil estudantes na aula inaugural daquele ano. 

Capacidade: 15.100 espectadores
Proprietário: Prefeitura Municipal de Fortaleza 
Administração: Secretaria de Esporte e Lazer – SECEL / PMF

Vista área do Ginásio Paulo Sarasate no ano de 1972. Revista Manchete

Antigo aspecto do Ginásio Sarasate. A Vila Monteiro ainda estava intacta. As escadas ainda eram as antigas, do tipo "nave da Xuxa". Só o pé de castanhola sobreviveu. Sim, ainda existe, está lá. A cerca era de estacas de concreto e arame farpado. 
Foto de Luiz Carlos Moreira

Alguns eventos marcantes:

  • 29/10/1971 - Apresentação do cantor Jerry Adriani, ídolo da juventude brasileira. 
  • 16/11/1971 - Grupo Harlen Globetroters, se apresenta no Ginásio Coberto Paulo Sarasate.
  • 06/10/1973 - O quadro da Associação Atlética Banco do Brasil - AABB sagra-se campeão cearense de futebol de salão de 1973, com a vitória sobre a equipe do Sumov.
  • 25/10/1974 - Eleita a Mais Bela Estudante de Fortaleza, a estudante Vera Maria Sales Espíndola, no Ginásio Coberto Paulo Sarasate.
  • 06/06/1976 - Eleita, entre nove candidatas a Miss Ceará 1976, no Ginásio Coberto Paulo Sarasate, Maria Imaculada Ciccareli de Almeida, do Bradesco. A Miss Fortaleza foi Nelise Bacelar Linhares.
  • 23/10/1982 - A equipe de futebol de salão do Sumov Atlético Clube, do Ceará, sagra-se campeã invicta da IX Taça Brasil ao derrotar a equipe do Huracán de Minas Gerais por 4x3. 
  • 04/04/1987 - Xuxa leva o seu Xou para o Ginásio Paulo Sarasate. Durante uma hora e meia, os baixinhos se esbaldaram com o espetáculo.
Crédito: Blog Ilha X

  • 14/03/1988 - A Legião Urbana estreava nos palcos de Fortaleza. A aguardada noite teve como cenário o Ginásio Paulo Sarasate.
Diário do Nordeste

  • 27/10/1990 - A Legião Urbana voltaria ao mesmo Ginásio Paulo Sarasate, naquele que foi, segundo relato da imprensa, "o show mais caro ano".
Legiao Urbana na chegada do antigo aeroporto Pinto Martins em 1990, lançamento do disco V da banda. Show no Paulo Sarasate. 
Acervo Wladimir Xavier

  • 23/03/2016 - Espetáculo A Paixão de Cristo é realizado no Ginásio Paulo Sarasate.
  • 27/02/2020 - A Prefeitura de Fortaleza e a Associação Cultural das Entidades Carnavalescas do Estado do Ceará (Acecce) realizam a apuração dos desfiles das agremiações carnavalescas da Avenida Domingos Olímpio.

Fontes: Wikipédia, Jornal O Povo, Diário do Nordeste, Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo e pesquisas diversas


quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Os homenageados nas ruas da cidade - Heráclito Graça - Parte X

 

Heráclito de Alencastro Pereira da Graça (Heráclito Graça), era advogado, magistrado, jurista, político, jornalista e filólogo, nasceu em Icó, CE, em 18 de outubro de 1837.

Era filho do Conselheiro José Pereira da Graça, o Barão de Aracati, e de D. Maria Adelaide da Graça, e tio de Graça Aranha. Realizados os estudos primários e secundários, fez os preparatórios na cidade do Recife, onde se diplomou, em 1857, na Faculdade de Direito. Deixou, já como acadêmico, um rastro brilhante de sua extraordinária inteligência e dedicação aos estudos. Depois de formado, foi viver com a família no Maranhão, onde seu pai era desembargador. Exerceu a magistratura, começando como promotor de Justiça em São Luís. Findo o primeiro quadriênio, pediu demissão, consagrando-se à advocacia, à política e ao jornalismo.

Icó antigo. Acervo Clóvis Acário Maciel

Fez parte do Partido Conservador. Fundou A Situação, jornal em que defendeu as ideias do partido. Simultaneamente trabalhava num semanário literário que também tinha a colaboração de Joaquim Serra, Gentil Braga, Trajano Galvão e outros. Não só no jornalismo político, senão no literário, via-se nele o futuro mestre da língua, tal o cuidado e esmero com que escrevia e a paixão que tinha pelos estudos da Língua Portuguesa.

Maranhense adotivo, elegeu-o o Maranhão representante na Câmara da Província em duas legislaturas. Em 1868 foi eleito para a assembleia geral, legislatura 1869-1872; dissolvida esta, foi Presidente da Paraíba. Reeleito deputado para a legislatura 1872-1875, e para a seguinte, que também foi dissolvida; foi designado para presidir o Ceará em fins de 1874.

Hoje uma importante avenida de Fortaleza carrega seu nome.

Na Câmara, registrou-se a atuação que ele teve nos debates da reforma judiciária (1871), do recrutamento eleitoral (1875), da Lei do Ventre Livre. Na administração da Paraíba e do Ceará, exerceu o governo com correção e coerência a seus princípios. A probidade de caráter, a austeridade de suas medidas e a independência das atitudes o incompatibilizaram logo com as correntes políticas dominantes.

Avenida Heráclito Graça asfaltada depois de ter sido prolongada até a Avenida Barão de Studart. Registro de 1970. Crédito: Correio do Ceará/Acervo William Beuttenmuller

Foto ao lado:  "A avenida Heráclito Graça está totalmente mais segura, com placas de advertência com linguagem moderna e ampla sinalização luminosa, sem esquecer o gelo baiano que além de facilitar o tráfego, veio embelezar a avenida". Registro de 1972. Fonte: Gazeta de Notícias/Acervo William Beuttenmuller

Em 1877, voltou ao Rio de Janeiro, indo a princípio advogar em companhia de José de Alencar, de quem era grande amigo. Além de profundo conhecedor do vernáculo, era ainda jurista eminente, e, como tal, o Barão do Rio Branco convidou-o para advogado do Brasil nos tribunais arbitrais com o Peru e a Bolívia, sendo depois disso nomeado consultor jurídico do Ministério das Relações Exteriores, cargo que ocupava quando faleceu¹.

Avenida Heráclito Graça nº 400. O ano é 1970. Fonte: Tribuna do Ceará /Acervo William Beuttenmuller

Além de tantas atividades, era no estudo da língua que ele encontrava a maior satisfação, anotando pacientemente os clássicos e mais sistematicamente o Elucidário de Viterbo, ao fim do qual escreveu: “O Elucidário contém 6.143 vocábulos, foram acrescidos 7.457, perfazendo o total de 14.600.” Isso mostra o seu grande saber e capacidade de trabalho, e também a sua modéstia, pois era avesso à publicidade do que escrevia e realizava. Mesmo o único livro que publicou, resultou de circunstância especial.

Avenida Heráclito Graça nos anos 70. Na ocasião, ocorria o desfile da campanha de divulgação do café Wal-Can.

Logo que apareceram os três volumes das Lições práticas da Língua Portuguesa, de Cândido de Figueiredo, o filólogo Heráclito Graça publicou no Correio da Manhã, de 26 de fevereiro a 16 de novembro de 1903, sob a epígrafe Notações filológicas, uma série de artigos de refutação àquele mestre, esmiuçando, com clareza e logicidade admiráveis, os problemas linguísticos por ele tratados, não só nos mencionados artigos, mas ainda nos que publicou no Jornal do Comércio, sob o títuloO que se não deve dizer

"Avenida Heráclito Graça ainda com o gelo baiano dividindo a pista, Posto de combustível Shell, Orelhão da Teleceará, veículos da época (Fusca, Kombi, Belina I, Brasília) e Revenda da Volkswagem onde observamos no piso superior a grande sensação da época, o esportivo MP Lafer". O ano é 1976. Fonte: Correio do Ceará/Acervo William Beuttenmuller

Em 1904, reuniu em volume o que ele próprio chamou de meus pobres reparos a alguns pontos filológicos e vernáculos do Sr. Cândido de Figueiredo no livro intitulado Fatos da linguagem: esboço crítico de alguns assertos do Sr. Cândido de Figueiredo.

Segundo ocupante da cadeira 30, foi eleito em 30 de julho de 1906, na sucessão de Pedro Rabelo, e tomou posse por carta em 11 de julho de 1907.


¹Heráclito Graça faleceu a 16 de abril de 1914, no Rio de Janeiro, desempenhando de último as funções de Consultor Jurídico do Ministério das Relações Exteriores.


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sábado, 9 de outubro de 2021

Messejana - Quando os caminhos eram veredas

 

O. Justa 1919

O processo de assentamento das populações que mais tarde dariam origem a Messejana teve início quando o território cearense recebeu as primeiras incursões organizadas, tanto a mando da Coroa Portuguesa, quanto pela Igreja Católica. Cada incursão tinha objetivos diferentes e, ao longo do caminho, deparava-se com diversas etnias, nativas ou recém-chegadas, de outros pontos do território brasileiro, principalmente do Nordeste.

Em meio a essa diversidade, destacava-se a população de nome Potiguara, estabelecida no litoral cearense depois de enfrentar inúmeros conflitos na região onde hoje está situado o estado do Rio Grande do Norte. Dessa presença é atribuída a expressão Ceará, nome dado mais tarde ao rio que fica na divisa entre Fortaleza e o município de Caucaia, expressão trazida por eles, replicando nome de rio existente em sua terra natal.

Antiga Estrada de Messejana


No entanto, uma das principais concentrações de nativos entre o final do século XVI e início do século XVII dava-se na Serra da Ibiapaba, interstício entre o Ceará e o Maranhão. Este último contando com significativa presença francesa, fato motivador do envio da expedição de Pero Coelho às veredas cearenses, cujo intuito era o de garantir o julgo português sobre aquela estratégica região.

Essa tentativa, ocorrida a partir de 1603, logrou certo êxito, principalmente ao derrotar os inimigos de seu intento em algumas batalhas. Contudo, a condição não lhe era favorável devido à escassez de recursos para sobrevivência, falta de estrutura e clima hostil, fatores que somados à tentativa de dar sequência à sua campanha, visando a expulsão dos franceses do Maranhão, tenha resultado na
mitigação de suas forças, obrigando-o a retornar com seu séquito para a região próxima ao Rio Ceará.

Estrada de Messejana - O. Justa 1919

No esteio desse insucesso, seguiu outra malograda expedição quatro anos depois, agora comandada por padres jesuítas sob o pretexto de “ganhar almas” para a
Igreja Católica. Tendo à frente os Padres Luís Figueira Francisco Pinto, essa tentativa de instituir um processo de “civilização” desembarcou na foz do Rio Jaguaribe, em fevereiro de 1607, iniciando ali uma longa jornada de um mês, culminando com sua chegada à enseada do Pará, região próxima ao atual município de Parucuru. Ali, eles passaram cinco dias juntos a alguns índios, preparando-se para a subida da Serra da Ibiapaba, com objetivos específicos,
e sempre focados nos interesses da Coroa Portuguesa.

A Messejana dos anos 20. Acervo Museu da Imagem e do Som


Depois de outra extenuante caminhada, o grupo liderado pelos religiosos alcançou a região da Serra da Ibiapaba, onde adensavam-se várias etnias. Lá, os padres
passaram a aprofundar os seus trabalhos de catequese.
Infelizmente, no início de 1608, um ataque desferido por índios Tocarijus resulta na morte do Padre Francisco Pinto e, consequentemente, na fuga antecipada do Padre Luís Figueira para a mesma região onde a combalida expedição de Pero Coelho estivera anos atrás.
Estabelecido após o infortúnio e martírio do colega, o Padre Luís Figueira organiza um pequeno ajuntamento que ele denomina em seus relatos de “Aldeia de São Lourenço”, por ter sido fundada no dia em que o dito santo é homenageado pela Igreja Católica. Esse refúgio serviu de abrigo ao padre até o seu embarque,
deixando para trás as lembranças daquela infeliz viagem, tudo exposto no documento intitulado “A Relação do Maranhão”.


As duas tentativas desastrosas de estabelecer o domínio 
português no Ceará não contribuíram substancialmente para indicar o início de um processo de povoamento denso da região, tendo em vista que antes do europeu já habitavam aqui populações nativas e recém-chegadas, como é o caso da etnia Potiguara.  
Apenas entre 1611 e 1612, com o retorno de Martim Soares Moreno ao Ceará como seu Capitão-Mor, observa-se o florescimento da ocupação do litoral a partir da construção, por obra do próprio Martim, de uma ermida em homenagem a Nossa Senhora do Amparo e de um fortim na embocadura do rio Ceará, passando essa edificação a servir como um dos pontos de ancoragem daquele litoral.


Esse estabelecimento português acontece de forma mais tranquila devido à relação amistosa entre o fidalgo português e o chefe Jacaúna, liderança dos potiguaras em
território cearense, conhecida por Martim Soares Moreno desde a sua passagem junto à comitiva de Pero Coelho, amizade cultivada devido à forma como o Capitão-Mor respeitava seu povo, o que era facilitado pelo conhecimento que tinha da língua dos índios.
Jacaúna e seu povo foram trazidos da região do rio Jaguaribe até o Forte, a convite de Martim, para habitarem próximos ao rio Ceará, onde ficava a base de operação da ocupação portuguesa. O objetivo era ajudar na construção das estruturas necessárias para a manutenção da população e resguardar a região contra o ataque de tribos arredias à presença estrangeira. A aldeia de Jacaúna distava do referido
Forte cerca de meia légua, aproximadamente três quilômetros, onde hoje temos a fronteira entre o bairro da Floresta e Álvaro Weyne, em Fortaleza.

Antiga Estrada de Messejana. O. Justa 1919

Seguido a esse momento, em 1613, Martim Soares Moreno deixa o Ceará para se dedicar a outras missões em nome da Coroa Portuguesa, só retornando em 1621,
passando então mais uma década junto ao amigo Jacaúna, repelindo ataques às tentativas de afirmação portuguesa na região. Em 1631, Martim deixa em definitivo o Ceará para combater a ameaça holandesa que avançava sobre os interesses lusitanos.
É notável a participação potiguara nos acontecimentos que movimentaram o início do século XVII no litoral cearense, contribuindo em muito nos primeiros passos dados a caminho da consolidação do adensamento da região. De forma menos agressiva, essa etnia mantinha relações de negócios com os portugueses desde as tensões no Rio Grande do Norte, fato que ajuda a estabelecer o julgo colonial no Ceará. Contudo, dentro desse grupo social e cultural brotou o interesse em afastar os portugueses, tendo como causa o histórico de massacres e humilhações, 
inclusive por meio da escravidão contra os índios.

Estrada de Messejana. O. Justa 1919

Nesse cenário, fortalece-se a figura de Amanay, ou Algodão, filho de Jacaúna, que opera junto aos holandeses e outras lideranças nativas, formando uma aliança cujo resultado é a expulsão dos portugueses do Ceará no ano de 1637 e, por conseguinte, a tomada do Forte de São Sebastião, na Barra do rio Ceará. Nesse momento, inaugura-se um período que duraria até 1644, quando ocorre um grande massacre de holandeses por conta da insatisfação dos índios e em represália as mesmas práticas utilizadas pelos portugueses contra suas populações.
Depois de vários conflitos, o lugar do Forte é transferido pelo holandês Mathias Beck para a atual localização da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, situada às margens do majestoso Rio Pajeú, que naquela época corria de beira à beira, fato esse acontecido em 1649.

Estrada de Messejana. O. Justa 1919

Nessa altura, Portugal atua para restaurar sua primazia. Para tanto, aproveita as falhas cometidas pelos invasores do momento para incitar as tribos, promovendo,
assim, a desestabilização do domínio holandês, fato esse dado por encerrado no ano de 1654, devolvendo o controle daquelas terras à Coroa Portuguesa. Por conta disso, algumas populações que apoiaram os holandeses no primeiro momento, inclusive os potiguaras de Amanay, mantêm-se afastadas da região do forte, possivelmente com receio de novas represálias por parte dos portugueses.

Nesse meio tempo, visando evitar os problemas que envolviam um cenário de conflito e tensão, a Coroa Portuguesa se previne contra novas rebeldias, impedindo
qualquer atividade que pudesse configurar revanche contra os apoiadores dos holandeses, sem deixar de manter as estratégias de controle destinadas aos povos nativos. Esse novo contexto favorece a organização do território cearense,
culminando com o surgimento bem definido das três aldeias do forte: Parangaba, Paupina e Caucaia.


Messejana / Edmar Freitas - Fortaleza: Secultfor, 2014. Coleção Pajeú


quarta-feira, 6 de outubro de 2021

As atividades de lazer em Fortaleza na época da Belle Époque ´Parte III

 

As praças, os cafés e os bondes


A transição do século XIX para o século XX trouxe consigo mais inovações e equipamentos de lazer para Fortaleza, embora alguns já existissem como é o caso do Passeio Público, mas além dele a capital dispunha de:

Praças remodeladas, jardins públicos, ruas alinhadas com bondes, transeuntes, sobrados e estabelecimentos comerciais, Passeio Público e Parque da Liberdade e seus elegantes frequentadores, Estação Central Ferroviária, mansões e fachadas art noveu, cafés, templos, escolas, portos, praias, lagos, etc. (PONTE, 2010, p.141).

Em outras palavras, um conjunto de equipamentos que representavam o lazer e cotidiano dos habitantes. Dentre estas inovações estavam a remodelação das três principais praças da cidade – a do Ferreira, Marquês de Herval (atual José de Alencar) e a da Sé, entre os anos de 1902 e 1903, receberam amplos e vistosos jardins com gradil, recheados de estatuas de inspiração clássica, canteiros de flores e plantas ornamentais, coretos, longos bancos, chafarizes e vasos importados.

Praça do Ferreira e seu jardim no início do século XX, resultado da primeira urbanização da praça. O Jardim 7 de Setembro foi inaugurado em 1902, por obra do intendente Guilherme Rocha.Era rodeado por grades, muito arborizado e florido, um lugar construído para a prática de atividades ao ar livre ou para passeios ao entardecer.

Pontes faz uma menção de como ficaram as três praças depois de sua remodelação comparando-as como réplicas do Passeio Público:

Para se ter uma ideia, os jardins eram como réplicas em menor proporção do Passeio Público encravadas, no centro daquelas praças. Isto é: além do próprio Passeio Público, a cidade agora tinha, em seus três principais logradouros, ilhas paradisíacas e seguras, onde os citadinos mais distintos pudessem se sentir como se estivessem em Paris, enquanto assistiam ao espetáculo do movimento urbano desenrolar-se em torno. (PONTE, 2007, p.181).

Segundo o historiador Ponte, a remodelação das praças teve também como intuito não só o embelezamento da cidade, mas criar um espaço de utilização pública onde a população, principalmente as crianças e os jovens pudessem praticar exercícios e atividades esportivas ao ar livre. (PONTE, 2010).

Isto se devia ao fato de que naquele momento a pratica de esportes estava começando a ser adotada pela sociedade e esta prática representava a saúde que as medidas saneadoras tanto buscavam alcançar.

A Praça do Ferreira, um dos logradouros referenciais da cidade até os dias de hoje era a principal área do comércio local, conhecida também como o coração da cidade, foi palco para a construção dos quatro cafés mais elegantes da cidade – O Java, o Comércio, o Elegante e o Iracema, todos construídos em estilo chalet francês, localizados nos quatro cantos da praça.

Café Java - Acervo Lucas

Foi no Café Java, o preferido da boemia e dos intelectuais jovens, que surgiu a ideia da criação de uma agremiação literária, conhecida como Padaria Espiritual, que se destacou pela sua inovação e irreverência. Este local foi ponto de encontro dos escritores Antônio Sales que foi o fundador da agremiação, Adolfo Caminha e Rodolfo Teófilo. (CORDEIRO, 2007).

Segundo Ponte “Boêmios e janotas deviam sentir-se como que em Paris enquanto sentavam nas mesas ao ar livre desses cafés e contemplavam fascinados o belo jardim no centro da praça” (PONTE, 2009, p.75).

Nas figuras abaixo, imagens dos quiosques do Café Comércio, Elegante e do Café Iracema respectivamente.

Café do Comércio

Café Elegante em 1908

Café Iracema em 1910. 

Nas palavras de Adolfo Caminha, no romance A Normalista o autor faz a seguinte afirmação:

[O]s cafés conviveram romântica e harmoniosamente com o pouco e lento movimento de cabriolets e bondes puxados a burro em torno da Praça, mas já não se coadunavam com o agitado séquito de pedestres, automóveis, bondes elétricos e caminhões dos frenéticos anos 20. (PONTE, 2010, p.65).


Loja Torre Eiffel.
Arquivo Nirez

Era nas praças que a sociedade se reunia para encontros nos bancos, um bate papo com os amigos e conhecidos, para admirar as vitrines das lojas que por sua vez tinham nomes franceses ou pelo simples fato de passar o tempo e imaginar-se na Europa.

Se a Praça do Ferreira passou por reformas no inicio do século XX, o mesmo ocorreu com a então Praça Marques de Herval, atualmente Praça José de Alencar, conforme afirma Silva e Filho (2004):

Em 1903, a praça é reformada na gestão do intendente municipal Guilherme Rocha, e ganha um belo jardim ornado de bancos, vasos, colunas, estatuaria, iluminação a gás e um coreto. Como preito ao chefe da oligarquia local, passa a chamar-se Jardim Nogueira Acioly. (SILVA E FILHO, 2004, p. 54).

Em seguida, alguns anos depois entra em cena na reforma da Praça Marques de Herval (Ponte, 2010) um novo equipamento que proporcionou encanto e impressionou a população, o Theatro José de Alencar.

O Theatro era a maior obra arquitetônica de Fortaleza de então e densa de significados artísticos e culturais. Era considerado um dos mais belos do país, sua estrutura toda metálica em estilo art noveau, ficou a cargo da empresa escocesa Walter McFarlane & Co., o teatro representava progresso e era símbolo da modernidade que se instalara na capital, até os oposicionistas do então presidente do Ceará, Nogueira Accioly, “tiveram que reconhecer a beleza da nova casa de espetáculos [...]”. (PONTE, 2007, p.181).

Estes logradouros tiveram um grande papel na representação daqueles belos tempos, porém quando este período entra em decadência na década de 20, na gestão do prefeito Godofredo Maciel, os jardins e os cafés tiveram que ser demolidos para que as ruas pudessem ser ampliadas e o espaço urbano remodelado novamente para dá passagem aos automóveis e demais equipamentos.


Parte I

Parte II


Crédito: Artigo 'As atividades de lazer na Fortaleza Belle Époque' de Kamylla Barboza Evaristo


sábado, 2 de outubro de 2021

Mulheres da borracha – Núcleo do Porangabussu

Composição com recortes fotográficos. Foto Aba-Film, Fortaleza, 1943.
Foto: Acervo MAUC - UFC.

“Fumar e chorar eram os meus únicos confortos desde que você foi embora”

Era assim que D. Elcídia Galvão se queixava em carta escrita ao marido, soldado da borracha, sobre a proibição de fumar imposta no Núcleo de Famílias do Porangabussu (atual Rodolfo Teófilo).

Os milhares de trabalhadores nordestinos recrutados para trabalhar na região amazônica na extração da borracha, em 1943, assinaram um contrato de encaminhamento. Neste, eles poderiam optar pela assistência que o Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia, SEMTA, oferecia para suas famílias que ficavam no nordeste. Muitas mulheres e filhos desses trabalhadores permaneceram em hospedarias improvisadas, chamadas de “Núcleos” esperando o momento em que iriam novamente reunir suas famílias, como foi o caso do Núcleo de Famílias do Porangabussu.

Sede do SEMTA, Foto Aba-Film, Fortaleza, 1943.
Foto: Acervo MAUC - UFC.

Longe dos maridos, entre pessoas estranhas e tendo que seguir normas específicas, estas mulheres escreveram cartas a seus esposos. Cartas contando sobre angústias sofridas, revelando saudades e desejos, pressionando o retorno dos seus maridos e com várias queixas, como é o caso da carta de D. Elcídia, a qual denuncia a proibição de fumo dentro do núcleo, feita pelo médico responsável e a perda de um de seus únicos consolos.

Cine Diogo. Foto Aba-Film, Fortaleza, 1943.
Foto: Acervo MAUC - UFC.

O Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia - Semta foi um órgão brasileiro criado em 1943, como parte dos Acordos de Washington, tinha como finalidade principal o alistamento compulsório, treinamento e transporte de nordestinos para a extração da borracha na Amazônia, com o intuito de fornecer matéria-prima para os aliados da II Guerra Mundial.

O Semta fazia parte do Departamento Nacional de Imigração (DNI), do governo de Getúlio Vargas. Era financiado por um fundo especial da Rubber Development Corporation, um fundo criado com o selamento dos Acordos de Washington.

Cine Diogo. Foto Aba-Film, Fortaleza, 1943.
Foto: Acervo MAUC - UFC.

Tinha como objetivo principal o recrutamento, encaminhamento, colocação e à assistência de trabalhadores (e famílias destes) nos seringais da região Amazônica.

Sediado no nordeste, em Fortaleza, funcionou no Palácio do Comércio a sua sede administrativa. Já os campos de alojamento ficavam no Prado (atualmente Benfica) e no Alagadiço (atualmente São Gerardo). 

Já para as mulheres e famílias dos homens casados, existia um alojamento que ficava no Porangabussu, local da construção do antigo Hospital das Clínicas, hoje Hospital Universitário Walter Cantídio.

Cine Diogo. Foto Aba-Film, Fortaleza, 1943.
Foto: Acervo MAUC - UFC.

O Ceará foi escolhido como centro operacional deste serviço por diversas razões. Entre elas: A safra agrícola cearense de 1942/43 estava perdida devida a seca de 1942/43.

O governo Vargas e o governo estadual temiam manifestações em massa da população do interior cearense, como a Invasão de Flagelados na seca de 1915, ou o movimento político-social-religioso do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto da década de 30, bem como a reimplantação da trágica estratégia dos Campos de Concentração no Ceará (mais conhecidos como Os Currais do Governo) de 1932/1933.

Praça José de Alencar - Saída de um comboio para Amazonas em 1943. Acervo Ivan Gondim

Os cearenses se adaptariam melhor com a população local do Norte e com os índios, pelo fato de um grande contingente de cearenses já havia imigrado para a Amazônia no Primeiro Ciclo Econômico da Borracha (final do século XIX e começo do século XX), e o fato de que a população cearense teve quase nada da influência da cultura da escravidão (diga-se, racialismo integralista que via nos mamelucos do interior cearense maiores similaridades com os mamelucos e nativos da Amazônia ocidental, ao contrário de outros lugares do Nordeste e mesmo do Sudeste também).

Os soldados da borracha ao lado do Teatro José de Alencar. Assis Lima

Segundo o historiador Frederico de Castro Neves, tudo parece crer que a política de migração para o Norte foi uma estratégia governamental para desafogar os equipamentos urbanos da enorme pressão exercida pelos milhares de retirantes sem teto, sem alimento, sem saúde. Nesse aspecto, a migração se mostrava como uma forma de apaziguar os problemas causados pela seca no Nordeste, além de se constituir como outra forma de exploração da mão-de-obra retirante.

Dessa forma, para recrutar mão-de-obra e transportá-la para os seringais, a CME institui o SEMTA. Ele não estava ligado diretamente nem ao Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio nem ao Ministério da Agricultura, funcionou durante 12 meses, dirigido por Paulo Assis Ribeiro, engenheiro e geógrafo, e em 14 de setembro de 1943 foi substituído pelo CAETA (Comissão Administrativa de Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia).


Caminhões do SEMTA estacionados na Praça José de Alencar em 1943. Detalhe para a Igreja do Patrocínio e o antigo edifício da Fênix Caixeiral. Arquivo Assis.

Experiências de migração entre o Nordeste e Norte podem ser bastante observadas mesmo antes da Segunda Guerra Mundial. Porém, o SEMTA era um serviço especial sob o formato administrativo do Estado Novo inaugura um novo discurso de migração, a mobilização dos trabalhadores para outro front da guerra, os seringais.

Continua...


Fonte: Rodolfo Teófilo/Leila Nobre - Fortaleza: Secultfor, 2016. (Coleção Pajeú)


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