Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Casarões - Um belo e imponente passado


Na Fortaleza do início do Século XX, boa parte dos palacetes e mansões existentes na cidade eram réplicas de imóveis europeus. Os ricos proprietários viam as fachadas por lá e reproduziam aqui. O material da construção também era importado: telhas de Marselha; ardósia importada da França; da Inglaterra vinham as louças sanitárias; Portugal mandava as pinhas, os jarrões, as estátuas e os ladrilhos de faiança. Algumas casas utilizavam até madeiras europeias e o precioso e agora raro pinho de Riga servia para assoalhos, portas, janelas e bandeirolas.

Palácio Plácido

Palácio Plácido, cópia de um castelo renascentista de Florença. Localizado na Av. Santos Dumont, 1545, no antigo bairro do Outeiro, atual Aldeota, ocupava um quarteirão inteiro entre as atuais ruas Carlos Vasconcelos, Monsenhor Bruno, Costa Barros e Avenida Santos Dumont. Foi construído em 1920 pelo comerciante Plácido de Carvalho e mais tarde foi adquirido pelo grupo Romcy, que em fevereiro de 1974, mandou demolir para construir um supermercado.

Casa do banqueiro José Gentil



A chácara foi vendida em 1909 pelo proprietário Henrique Alfredo Garcia ao Dr. José Gentil Alves de Carvalho. A casa que existia no local foi demolida em 1918. O projeto da nova casa construída no local foi do Dr. João Sabóia Barbosa. Em 1956, a propriedade foi comprada pelo primeiro reitor da UFC, Prof. Antonio Martins Filho, à Imobiliária José Gentil S/A pertencente aos herdeiros de José Gentil.

Reitoria da UFC

Um ano após a compra, o Reitor Martins Filho resolveu demolir o casarão, construído em 1918, mandando projetar, a atual sede da Reitoria. O projeto elaborado pelo Departamento de Obras mantinha as mesmas linhas arquitetônicas da casa construída pelo Dr. João Sabóia Barbosa. O imóvel está localizado na Avenida da Universidade, no Benfica.

Casa da família Thomaz Pompeu na Av. do Imperador


Foto antiga da casa da família Thomaz Pompeu na Avenida do Imperador em frente a Praça da Lagoinha. Típica mansão francesa, com uma fachada de tijolinhos vermelhos, enegrecida pelo tempo, platibanda com muitos detalhes, e uma imponente varanda no andar superior.

Casa de Oscar Pedreira

Casarão fica na esquina da Philomeno Gomes com Monsenhor Dantas



O bairro Jacarecanga concentrava o maior número de palacetes e mansões de Fortaleza. Com 3 pisos, o casarão do empresário Oscar Pedreira era uma das mais bonitas residências da área.
O bairro Jacarecanga, na zona oeste de Fortaleza, formou-se antes da Aldeota.

O antigo bairro nobre de Fortaleza foi disputado nos meados do século XX como o preferido pela elite fortalezense depois que as residências suntuosas foram gradativamente deixando o Centro e o Benfica. Passaram-se as décadas e os contrastes permanecem evidentes até hoje, já tão descaracterizada área da cidade. Alguns exemplos de preservação são louváveis, em outras casas, a descaracterização e a destruição de vários detalhes arquitetônicos mostram que ainda há muito a se aprender sobre cultura e tradição em nossa cidade. O encanto daquelas décadas do século XX se acabou, mas ainda há muito que poderia ser resgatado no Jacarecanga. Um vídeo do cineasta Joel Pimentel diz que Fortaleza é uma cidade para a qual não se pode voltar porque ela está sempre em transformação. Isto é certo; porém, passear pelo bairro Jacareganga é de certa forma, voltar ao passado.

Os contrastes entre o contemporâneo e o antigo são gritantes, mas aquela área da cidade tem muito mais para contar. A partir da década de 1930, a imponência das residências das famílias mais abastadas que optavam por sair do Centro, deixou marcas que podem ser vistas até hoje. Adentra-se à Avenida Francisco Sá vindo da Praça Gustavo Barroso, a Praça do Liceu, e logo à frente, à esquerda, encontramos a Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho. Aquela foi a residência de Pompeu Sobrinho, construída em 1924, onde uma média de 30 familiares ocupavam a mansão com três pavimentos, distribuídos em 36 cômodos, tendo inclusive, mirante e porão.



Hoje, o órgão da Secult - Secretaria de Cultura do Estado, mantém o Centro de Restauração e Conservação do Patrimônio Cultural do Ceará e ainda funcionam três cursos profissionalizantes: Marcas da Cultura, Imagens da Cidade e Brincar de Criança, ministrando aulas de produção em couro, xilogravuras e construção de brinquedos populares. Oitenta e um alunos são beneficiados. A preocupação dos administradores da Escola é sobre a continuidade dos projetos em andamento, uma vez que em janeiro haverá a mudança de governo e não há certeza sobre a manutenção do trabalho, o que seria desastroso para os jovens que descobrem ali uma nova profissão, isto sem contar a ajuda de custo que recebem. Sempre às quintas-feiras, às 18h30, a Escola oferece uma programação cultural variada, aberta à população. No grande quintal onde havia pocilga, viveiro e garagem, hoje os alunos praticam arte. Ainda se podem ver antigos pés de seriguela,  sapoti, goiaba e coco. O casarão foi completamente restaurado e ali se encontraram, sob várias camadas de tinta, pinturas originais que foram recuperadas e podem ser vistas nos cômodos. A escada de madeira que leva ao segundo piso é uma obra de arte.



A casa de Thomaz Pompeu é um exemplo do que o poder público pode fazer pela preservação da memória da cidade. (Para mais detalhes, leia o post ESCOLA DE ARTES E OFÍCIOS).

Logo ao lado da casa há uma vila com várias residências de época. Ali, os proprietários não se importam com a tradição; reformas mudam aspectos arquitetônicos originais e a escolha das cores para a pintura das casas é bastante reprovável. Basta seguir um pouco mais adiante e logo à esquerda está a Rua Oscar Pedreira. Ali no número 25, dá para se ter uma ideia do que é bom senso. A casa, segundo a atual proprietária, Edna Fernandes, tem cerca de 80 anos e ela fez questão de manter a originalidade do imóvel quando a comprou há 20 anos.



Com fachada em azul e branco tudo está preservado (foto acima). Partes da casa que não puderam ser aproveitadas, como portas e janelas, Dona Edna providenciou para que fossem feitas como as originais. Ali, ela pinta azulejos, arte adquirida nos anos em que viveu em Portugal, e vende as peças que também decoram as paredes do imóvel.

Saindo da Rua Oscar Pedreira, dobra-se à direita e paralelo à Av. Fco Sá, chegamos à Rua Monsenhor Dantas. O imponente casarão do ex-prefeito Acrísio Moreira da Rocha, talvez seja o retrato mais fiel da nobiliarquia do Jacarecanga. Os lustres de cristal, o mármore de Carrara da escada, tudo reflete a riqueza que existia anteriormente na mansão. 

Hoje a casa está alugada à Polícia Civil e a velha capela serve como dormitório. Piscina vazia, não há verde no jardim. A casa está à venda, falaram. Saída da mansão Acrísio Moreira da Rocha (foto abaixo) que levou três anos para ser construída - 1947-1950, seguimos em direção à Avenida Filomeno Gomes.



Na esquina encontraremos outro casarão abandonado, antiga casa de Oscar Pedreira. Não há placas de venda ou qualquer outro referencial que leve aos atuais proprietários. Pode vir a desabar a qualquer momento, pelo aspecto de deterioração que apresenta. Espero que isto não aconteça e se consiga preservar tão eloquente exemplo de arquitetura de época da Fortaleza antiga.


Casarão de Oscar Pedreira na esquina da Filomeno Gomes com Monsenhor Dantas

Saindo da casa abandonada e seguindo-se pela Av. Filomeno Gomes, a meio quarteirão se encontra a residência nº 836, onde sobre o muro vê-se uma grande placa de venda. Talvez aquela seja a mais elegante residência do Jacarecanga em termos de estilo. O construtor, décadas atrás, optou pelo modelo dos Alpes. Apesar da placa de venda, a pessoa que atendeu à campainha não abriu o portão. A casa é linda. Está um pouco desgastada, mas nada que uma boa limpeza e pintura não revertam. O estilo europeu impôs um telhado íngreme, como o da Igreja do Pequeno Grande, próprio para diminuir o efeito do peso da neve no inverno. O jardim exuberante tem os mais variados tipos de flores e pinheiros como nas paisagens serranas. A senhora que não quis abrir o portão afirma que apesar da placa de venda, a casa já estaria sendo negociada com um órgão do Governo do Estado.



Ela informa que a proprietária se encontra na casa mas não quer receber ninguém e a ordem é manter o portão fechado. Assim demos uma volta relativamente curta nos quarteirões do Jacarecanga e vimos a quantidade de casas que estão como que abandonadas. É uma pena que os mais variados problemas dos proprietários os impeçam de manter aquele patrimônio aprazível aos olhos de fortalezenses e dos nossos visitantes. Os casarões poderiam ser recuperados e a área tornar-se um exemplo de cultura e civilização.

"Bom mesmo era no tempo de 39"

Foi assim que Dona Maria, moradora do Jacarecanga há 70 anos, começou a relatar suas memórias acerca do bairro. Dona Maria, sobrinha do ex-prefeito de Fortaleza Manuel Cordeiro Neto, lembra-se de quando o Jacarecanga era um bairro social, habitado por famílias tradicionais da época. “O bairro era mais calmo. Os muros eram baixos, e nunca entrou ninguém pra roubar”, diz.

Em 1939, o Jacarecanga vivia o auge da sua história. Foi ali que Thomaz Pompeu Sobrinho construiu a sua casa com influência da arquitetura italiana, e foi seguido por amigos ricos, que resolveram sair do centro da cidade para construir mansões em moldes europeus. Dona Maria recorda-se de quando o bonde transitava pelo Jacarecanga, e os meninos subiam apenas para se divertir. “A gente pegava o bonde da Praça do Liceu até o fim da linha, porque o torneiro era conhecido e deixava”, diz Dona Maria com sorriso estampado. Na época, o torneiro era chamado de ‘Mamãe dorme só’, porque era filho único e não queria trabalhar à noite, alegando que a mãe não podia dormir só.

O morador José Dias lembra que o Jacarecanga de antigamente era como a Aldeota de hoje. Seu José é da época em que a casa de Pedro Philomeno Gomes fazia a alegria da criançada, com piscina e parque. “Os meninos iam tomar banho de piscina na casa do Philomeno. Philomeno era um homem bom”, disse. 

A moradora Márcia Sales, que reside em uma das vilas próximas à Escola de Artes e Ofícios há mais de 25 anos, conta que Seu Philomeno Gomes, já idoso, saia pela manhã para visitar os casarões que haviam sido dele e a Vila São José, construída para abrigar os operários de sua Fábrica de tecido São José.

Márcia conta ainda que a casa onde mora hoje é a antiga residência do político Virgílio Távora, e que o que parece vidro nas portas é, na verdade, cristal. A moradora tenta conservar a casa como era antigamente, mas lamenta que nem todos tenham a consciência de preservar a memória dos casarões. “Quem entende um pouco de história, dá valor à história, não vai derrubar um casarão desses.”, diz.


Vila onde residiu o político Virgílio Távora, ao lado da atual Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho

Os casarões são derrubados, no Jacarecanga, principalmente, para dar lugar a prédios. Mesmo a casa de Pedro Philomeno foi derrubada para dar espaço a um prédio residencial e alguns prédios comerciais. Dona Maria puxa da memória que a “senhora” de Pedro Philomeno, mais conhecida como Santinha, era católica e caridosa. Dona Maria diz que os moradores de 1939 iam uma capelinha pequena para rezar, onde hoje está localizada a Igreja da Marinha.

O médico-veterinário Evandro Frota falou sobre as Tertúlias da Vila São José. “Os moradores do centro iam para a Vila São José e, para cortar caminho, passavam por dentro do cemitério. Eu próprio cansei de fazer isso”, lembra. 
Além das tertúlias, havia festas em casas de família, que se enchiam de intrusos. “Tinha gente que passava o fim-de-semana procurando tertúlias”, diz. 
Além das festas, o Kartódromo animava os moradores do bairro. Localizava-se em frente à Marinha e era aberto ao público. “Quem voltava da Praia de Iracema, frequentada pela elite na época, terminava o dia assistindo às corridas de kart”, completa.

Quando questionado se sente muita saudade do Jacarecanga de antigamente, Evandro não custa a responder. “Dá pra sentir saudade. Você passa e vê que os bangalôs antigos continuam do mesmo jeito. Isso é o que provoca mais saudades. O Corpo de Bombeiros não mudou nada e a própria estrutura do Liceu continua a mesma”, relembra, com ar de quem volta sempre ao lugar que o acolheu na juventude.



Fontes:  Jornal Diário do Nordeste e pesquisas na internet

sábado, 10 de outubro de 2009

Contador

Tive problema com o contador que estava no blog, um belo dia ele resolveu parar de funcionar ;/ aff e o pior é que eu não me lembro mais a quantidade de visitas que já havia recebido¬¬
Bom, o jeito foi começar do zero com um novo contador(espero que esse tbm não me decepcione rsrs)

Itapuca Villa

Atendendo a pedidos:

"O nosso passageiro ilustre do bonde Soares Moreno é o abolicionista e intérprete comercial Alfredo da Rocha Salgado, morador da grande vivenda "Itapuca Vila", cujo imóvel num estilo primoroso da arquitetura se sobressaía das demais casas e bangalôs da época. Ocupava quase uma quadra das ruas Guilherme Rocha - frente, Princesa Isabel - lado nascente, Tereza Cristina - lado poente e a poucos metros da rua Liberato Barroso."


História do bonde Soares Moreno




Um dos maiores referenciais da cidade” era a Itapuca Villa, em Jacarecanga. Construída em 1915, ocupava a quadra da rua Guilherme Rocha, entre as ruas Princesa Isabel e Tereza Cristina. Foi construída pelo empresário Alfredo Salgado, refletindo uma mansão da Índia-inglesa.

Ficou abandonada durante quase meio século, desde a morte de seu dono, infelizmente mais uma parte de nossa história foi perdida com a demolição de mais esse patrimônio. :(


Todos os materiais para sua construção vieram do exterior inclusive as madeiras. Seu proprietário, Alfredo Salgado, viajava para a Europa com frequência para contratar novos jardineiros. Foi abandonada em 1946.

Em dezembro de 1993, é demolida a tradicional casa construída por Alfredo Salgado, na Rua Guilherme Rocha, a Itapuca Vila, de arquitetura inglesa.

Itapuca em 1974. Acervo Fco de Deus




 Detalhes da Itapuca por M Cals

Um pouco da biografia de Alfredo da Rocha Salgado diz-nos que:


Ele nasceu no dia 01.09.1855 e faleceu em 13.04.1947. Intérprete comercial nas línguas inglesa, francesa e alemã; funcionário da Casa Inglesa constituída por sociedade anônima sob o título - Casa Salgado S.A., de grande atuação na economia cearense, sendo a primeira a montar prensa hidráulica para o enfardamento do algodão no nosso Estado.


Entusiasta das causas nobres, foi abolicionista de primeira linha, dos de frente sem receio. Um dos fundadores da afamada sociedade mercantil "Perseverança e Porvir", em 1879, sob cuja inspiração veio a formar-se a "Cearense Libertadora", que agitaria e levaria até o final a luta vitoriosa da emancipação dos escravos na Terra da Luz. (Famílias de Fortaleza - Dr. Raimundo Girão, 373/375).



No lugar da Itapuca, hoje se encontra o CEJA Professor Gilmar Maia de Sousa, um centro de educação de jovens e adultos:







Fotos antigas: Arquivo Nirez
Recortes de jornais - Fundação Biblioteca Nacional

Um Conto no Passado: cadeiras na calçada

Houve um tempo em Fortaleza, em que as pessoas colocavam as cadeiras nas calçadas e contavam histórias umas às outras. Os mais velhos contavam e os mais jovens ouviam extasiados. Era um tempo em que a televisão ainda não havia alienado nossos ouvidos e nossos olhos.

Foi partindo desse referencial que Raymundo Netto escreveu seu livro Um conto no passado: Cadeiras na Calçada. Escreveu e inscreveu na Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, sendo então ganhador do Prêmio de Incentivo à Publicação e Divulgação de Obra Inédita na categoria Romance.

Publicado em 2004 pelas Edições Livro Técnico, na ficha catalográfica está escrito ´conto cearense´. Essa falta de uma definição do gênero pode até ser proveitosa, pois cabe ao leitor rotular do que quiser. Eu chamaria apenas de ´Narrativas´. O importante nesse livro é a viagem que o autor faz por uma Fortaleza que não existe mais, começando por um tempo em que a Barão do Rio Branco ainda se chamava Rua Formosa e em que as fachadas das casas apresentavam frontões, cimalhas, ´jacarés´ na platibanda e arabescos que o tempo se encarregou de devastar pelas mãos destruidoras de seus moradores.

Raymundo Netto, no entanto, reconstrói esse contexto devastado. Restaura a antiga paisagem, usando seus ´chinelos de cordovão´, como fazia aquele esperto novo rico personagem machadiano. Depois acende um candeeiro para verificar as rótulas das janelas, as taramelas das portas, os punhos das redes, feitas com algodão do Seridó. Vai em seguida à Pensão de D. Amélia Campos, sem esquecer uma passada no Café Java para um dedo de prosa com Antônio Sales e Mané Coco.

Isso torna-se possível quando o jovem escritor de posse de seu candeeiro de porcelana com manga de vidro, começa a clarear um passado que teima em se esconder na penumbra do tempo. Daí ele se dirige de fraque e com o cabelo besuntado de brilhantina para um baile na Itapuca Villa, na Guilherme Rocha, um pouco antes do aristocrático Jacarecanga, onde o morador se distinguia pelo tamanho do seu bangalô ou pelo número de compartimentos de sua mansão. É então que todo um clima da belle époque fortalezense é criado pelo autor ao som da música ´Ontem ao luar´, tomando champagne, usando pincenê e transitando na rua de cabriolet.

Raymundo Netto consegue estabelecer um diálogo da ficção com a realidade. Para que o real se imponha sobre o ficcional ele acrescentou à sua narrativa, imagens fotográficas da Fortaleza histórica. Ícones da arquitetura fortalezense ilustram quase todas as páginas do livro e conferem ao leitor a possibilidade de, mesmo enveredando pelo enredo fictício, não desgrudar do nosso patrimônio cultural. É por isso que os bancos da Praça do Ferreira recebem os nomes que um dia ostentaram para o público e entraram para o folclore: ´Banco da Opinião Pública´, ´Banco da Democracia´, ´Banco dos Comunistas´ e o ´Banco que não teve nome´.

Nessa mesma Praça do Ferreira ainda se mantém de pé, abrigando uma agência da Caixa Econômica, o Palacete Ceará. Ali, no andar térreo, funcionava a Confeitaria Rotisserie e na parte superior o animado Clube Iracema. Isso tudo no tempo em que motorista era chofer, a Major Facundo era Rua do Palma, o Majestic era o cinema chique e Ponce de Leon era o Rei Momo do carnaval. Todos esses acontecimentos ocorrendo quando o Estoril ainda era Vila Morena, a Segunda Guerra nem havia começado, a morte do bode Ioiô causava consternação na cidade e Manezinho do Bispo, semianalfabeto, lançava livros de moral e humor.

Ao lado do caminho ficcional do livro, trafega uma via histórica e real da cidade de Fortaleza. O hospital principal é a Santa Casa de Misericórdia, fundada em 1861. O Passeio Público vai dando espaço para a Praça do Ferreira. A estátua de Nossa Senhora da Paz se ergue defronte à Igreja de Nossa Senhora do Carmo, no Centro, e não em frente da Igreja da Paz, na Aldeota. As praças são iluminadas por combustores de gás carbônico que em dia de lua cheia não eram acesos, por economia. E essa penumbra que se instalava, vai se instalando à proporção que mergulhamos no passado.

Nesse passado não tão remoto abrem-se as cortinas da década de 1930 e ocorrem várias mudanças sociais a partir da Revolução que depôs o Presidente da República, no caso, Washington Luiz. Aqui no Ceará terminava o mandato de Matos Peixoto que à frente do governo do Estado, destacava-se pelos bailes que promovia no Palácio da Luz e no Clube Iracema. O seu grande destaque era o fato de ser exímio dançarino.

É no início dessa década, mais precisamente em 1931, que aos noventa e cinco anos, falece Juvenal Galeno que deixa sua casa como ponto de encontro até hoje de intelectuais e artistas, na rua General Sampaio, 1128. E vem a descrição do poeta ´sentado numa rede, de gorro azul na cabeça e provando seu rapé, enquanto ditava para Henriqueta, sua filha, alguns versos´. No ano seguinte, 1932, perdíamos Rodolfo Teófilo, o benemérito da pátria. Essas personalidades e os fatos históricos vão sendo tratados ao longo da narrativa.

Finalmente chega-se ao final do livro como quem acaba de fazer um passeio pela Fortaleza dos tempos idos. Pensa-se tratar-se, o autor, de um velho fortalezense revivendo seu passado. Raymundo Netto, no entanto, ainda não chegou aos quarenta anos. É, todavia, amante desta cidade. E sofre com a sua descaracterização. Daí justifica porque escreveu o livro. ´Escrevi porque me dói no coração o abandono e a ingratidão mesquinha por parte dos filhos dessa cidade que não aprenderam a amá-la... É a nossa Fortaleza como uma mãe esquecida´.


Fonte : Caderno 3 – 24 de julho de 2007 - Diário do Nordeste
 

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Ruas de Fortaleza - Rua Visconde de Sabóia


As fotos foram colhidas da calçada da Igreja do Pequeno-Grande na rua Coronel Ferraz, sendo a mais antiga retirada do "Álbum de Vistas do Ceará - 1908", editado por iniciativa da Casa Boris. A rua chamava-se Rua da Assembléia, por passar em frente à Assembléia Legislativa, prédio hoje ocupado pelo Museu do Ceará. Os trilhos que vemos são dos bondes de tração animal, da Companhia Ferro-Carril do Ceará. O prédio do lado esquerdo é o ainda existente e que na época abrigava o Instituto Jesus-Maria José, recém fundado. A casa da esquina ao lado direito era a casa do poeta José Albano, filho de Barão de Aratanha.


A rua se chamou Travessa da Cacimba. A linha de bondes fazia esta curva sinuosa por vir do bairro do Outeiro (atual Aldeota) e seguir no rumo do centro da Cidade pela rua São José, passando em frente ao Palácio do Bispo, prédio hoje ocupado pela Prefeitura Municipal (Paço) e dobrando na Travessa Crato, hoje Rua Sobral.
Podemos ver, em comparação com a fotografia "atual", que as calçadas foram reduzidas na largura. De todos os prédios, apenas ficou o da esquerda, onde foi depois o Serviço de Profilaxia, o Cine Paroquial, a Rádio Assunção Cearense, Organizações O Gabriel, a Marcosa e hoje é a Escola Nossa Senhora Aparecida. A árvore na rua logo desapareceu e as casas foram transformadas em prédios de apartamentos enquanto outras se transformaram em pontos comerciais. O prédio da esquina onde foi a casa de José Albano é hoje de apartamentos, onde reside o ator Ary Sherlock. Ao longe podemos ver, na foto "atual", os prédios (edifícios) de concreto fazendo a cidade crescer para cima.
Pela foto "atual", colhida pelo fotógrafo Osmar Onofre, vemos a presença dos grafiteiros, odioso modismo sem nenhum sentido.


Rua São Paulo com Rua Visconde de Sabóia na PRAÇA GENERAL TIBÚRCIO




Vemos o primeiro quarteirão da Rua São Paulo e da Rua Visconde de Sabóia, antiga Rua da Assembléia, por passar em frente ao prédio da Assembléia Legislativa.
Do lado esquerdo da foto antiga vemos o chamado "sobrado mole", antiga casa que dava as costas para o Mercado Central e onde funcionou a partir da década de 40 a União Democrática Nacional - UDN.
Do lado direito, também na foto antiga, vemos a Praça General Tibúrcio, antes da reforma feita por Ildefonso Albano. Na Sena Madureira existiam pequenos casebres de taipa que não podem ser vistos por ficarem com sua cumeeira abaixo da altura da praça.
A rua é calçada com pedras toscas apiloadas, na Rua Visconde de Sabóia há árvores em baixo na calçada e ainda não há o fio de pedras. Combustores de iluminação pública a gás hydrogeno-carbonado completam a antiga paisagem.
Na foto "atual" já não existe o "sobrado mole", que foi substituído pelo Edifício General Tibúrcio que avança além do meio-fio; a Praça General Tibúrcio mostra a reforma que teve em 1913-1914, na gestão de Ildefonso Albano, com a colocação de estátuas de animais, vê-se ao longe a casa dos Távoras, também vista na foto antiga, em frente vemos o Edifício Carneiro, construído pela firma Carneiro & Gentil, o asfalto e o fio de pedras substitui o antigo calçamento enquanto a iluminação elétrica toma o lugar da bucólica luz de lampião.
No Edifício Carneiro havia o escritório do comerciante Ezequiel Sisnando Xenofonte, que abastecia de alimentos os navios que aportavam no Mucuripe.



Fonte: Fortaleza de ontem e de hoje


Largo do Palácio - Praça General Tibúrcio - A Praça dos Leões


Praça do Palácio em 1908

Construída em 1877, a praça homenageia o General cearense Tibúrcio, que participou da Guerra do Paraguai. Toda área da Praça abriga construções antigas e esculturas de leões e leoas de bronze, trazidas de Paris no começo do século.
Localizada no Centro, entre as ruas Sena Madureira, General Bezerril, São Paulo e Guilherme Rocha.


Praça ou Largo do Palácio em 1908 

A origem da praça remonta aos tempos da construção da Igrejinha de Nossa Senhora do Rosário em 1730. Em 1831 o "Largo do Palácio" foi planejado e então a praça começa a ser urbanizada sendo inaugurada em 1856. Depois da morte do general Antônio Tibúrcio Ferreira de Sousa, herói da Guerra do Paraguai, em 1885, uma estátua foi erguida em sua homenagem na praça em 1888 sendo a primeira estátua pública da cidade.
No entorno da praça ficam o Museu do Ceará e a Academia Cearense de Letras. Existem várias outras estátuas na praça destacando-se as três estátuas de leões e a estátua em tamanho natural da escritora Rachel de Queiroz sentada em um banco da praça.


Antiga praça do Largo do Palácio por volta do ano de 1856. 
Possivelmente uma das fotos mais antigas da cidade.
 
Em 1888 foi contemplada com a estátua do General Tibúrcio, herói da Guerra do Paraguai, sendo a partir de então designada com o nome deste general.
Em 1890 foi rebatizada como praça 16 de novembro e, logo em seguida, voltando a ter o antigo nome.




Antigamente o trecho que fica na Rua São Paulo era completamente diferente do que retrata as duas fotos. Era um campo aberto, de areia, conhecido por Largo do Palácio, por ficar em frente ao Palácio da Luz, que era a sede do governo estadual. Mas tal largo era bem menor que a atual praça. Existiam casas no local onde hoje fica a Rua São Paulo e entravam cerca de 30 metros no terreno hoje ocupado pela praça. No lado da Rua General Bezerril também havia um avanço das casas que eram irregulares.
Em 1847 fortes chuvas causaram erosão no Largo do Palácio, foi quando o presidente da Província, Inácio de Vasconcelos mandou construir a muralha de proteção rodeando a praça com escadaria para a Rua de Baixo. Ali se instalavam no século IX circos e parques de diversões.

Em 1887 resolução da Câmara dá ao largo o nome de Praça General Tibúrcio. Em 1888 foi ali inaugurada a estátua do general Antônio Tibúrcio de Sousa, que foi a primeira da Cidade. Em 1891 foi iniciado, por sugestão do vereador José Albano, o alinhamento da praça. No ano seguinte houve uma revolta do Colégio Militar que terminou por depor o presidente do Estado José Clarindo de Queirós. Houve muitos tiros que atingiram a praça, o palácio e um deles pegou na estátua do general Tibúrcio que caiu de pé e em 1892 foi recolocada no seu lugar.


Em 1912, quando da deposição do presidente do Estado Antônio Pinto Nogueira Acióli, assumiu como intendente de Fortaleza o filho de José Albano, Ildefonso Albano, que continuou o trabalho de seu pai, desapropriando as casas dos dois lados e fazendo novas fachadas, abrindo a rua, além da urbanização da própria praça, obra terminada e inaugurada em 1914, como ainda tem uma placa de mármore na coluna em frente ao Museu do Ceará.
A foto mais antiga, que deve datar da década de 30, pois vemos nela o Palacete Brasil (1914), a Assembléia Legislativa (1871), além de um carro de modelo da década de 20.
A segunda foto mostra o mesmo trecho visto do mesmo ângulo, com as árvores da praça em maior número e bem maiores, os mesmos prédios da foto anterior e por trás deles novos prédios, como o Edifício Sul América, o Edifício Jereissati (do Hotel Savanah) e os prédios da Rua São Paulo. Além disso, a Rua São Paulo hoje tem mão única descendo a ladeira, o asfalto substitui o paralelepípedo e alguns postes e fios e a sinalização fazem a diferença.


ortaleza de Ontem e de Hoje - Descricão de Praças
A praça antes era um largo areal em frente ao Palácio do Governo e à Igreja do Rosário, local onde em fevereiro de 1872 foi armado o Circo Olímpico, de Augusto R. Duarte, que no anúncio publicado nos jornais traz a frase: "Roga-se às famílias trazerem as cadeiras".
Em 1847 o inverno rigoroso causou grandes fendas devido a diferença de nível entre o largo e a Rua de Baixo e foi mandado fazer, pelo presidente Inácio Corrêa de Vasconcelos, uma muralha para sustentar o aterro, dotando a Capital de um local aprazível, de passeio público, pois foram levantados pilares e gradarias de ferro e foram feitas escadarias para descida à Rua de Baixo.
Em fevereiro de 1887 resolução da Câmara dá ao largo o nome de Praça General Tibúrcio e em 8 de abril de 1888 foi ali inaugurada a primeira estátua erigida em Fortaleza, a do general Antônio Tibúrcio Ferreira de Sousa, fundida nas oficinas de Thiebaut Fréres, e o pedestal de mármore foi esculpido, em Fortaleza, pelo artista Frederico Skinner.

Depois houve o alargamento das ruas e o alinhamento das calçadas, obra realizada em 1914, na administração do Intendente Ildefonso Albano, que também reforma totalmente a praça, refazendo todas as fachadas das casas da Rua General Bezerril, que foram recuadas. Foi nessa época que surgiu o Palacete Brasil, construído pela firma Rodolfo F. Silva & Filho, especialmente para abrigar a sede estadual do Banco do Brasil. Foi também nesta época que foram colocadas as estátuas dos animais e o coreto para apresentações de bandas de música. Foi aberta a Rua da Assembléia (Rua São Paulo) que tinha casas que avançavam até quase o meio da praça.

Na velha foto, colhida na década de 1920, vemos além da estátua, do coreto e do leão em primeiro plano, a arborização da época e, ao longe, o chamado "sobrado mole" e a velha Catedral ou que foi demolida em 1938. A foto foi publicada na revista "Ilustração Brasileira" em 1922.
Na foto de Osmar Onofre, a mesma praça com a mesma estátua, porém com outro coreto, pois o antigo foi demolido. No lugar do "sobrado mole" levanta-se o Edifício General Tibúrcio e já não se vê a Catedral que está encoberta pela vegetação que cobre quase tudo.



Praça General Tibúrcio (Praça dos Leões) em 1967. Acervo pessoal de Ana Teresa Mello Fiúza


FOTOS RECENTES


Estátua de General TibúrcioLeão com o edifício General Tibúrcio no fundo, do outro lado da Rua São Paulo. 
Todos esses leões são de bronze trazidos de Paris


Estátua em tamanho natural da escritora Rachel de Queiroz


Fontes: Revista do Instituto do Ceará pág 148/Fortaleza de ontem e de hoje/Álbum Vistas do Ceará de 1908/pesquisas da internet/As fotos recentes (maravilhosas por sinal) são de Marcos Almeida

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Fotos de Fortaleza

Santa Casa de Misericórdia

Praça dos Leões



Mercado de Ferro



Duas fotos de diferentes épocas do Passeio Público






Galpões da REFFSA




Edificio União Cearense



Gravura da Praça do Ferreira - Destaque para o Majestic Palace - 1925


NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: