O documentário resgata a história da Padaria Espiritual, o mais original e irreverente movimento artístico-literário que aconteceu no Ceará.
Em janeiro de 1890, O Bond, jornal humorístico que circulava em
Fortaleza, ao focalizar Ulisses Bezerra num dos seus "Perfis elétricos", dizia dele, entre outras coisas: "
É sócio do grêmio do Café Java." Parece-nos evidente que esse grêmio do
Café Java era nada mais nada menos que o embrião da
Padaria Espiritual, que surgiria dois anos mais tarde para ser uma das mais originais e importantes agremiações da história cultural do
Ceará.
Definição: era uma sociedade literária de grande prestígio, liderada por
Antônio Sales. Tinha como filosofia prover o pão do corpo e o pão da alma, passou por duas vezes no seu trajeto existencial;
Pão: Nome do Jornal que publicava os trabalhos realizados pelos membros da sociedade, era também o resultado da produção desenvolvida pelos padeiros (membros da associação).
Fundação:30 de maio de 1892, quando foi inaugurada a 1ª fornada; seu 1ºforno ou sede localizou-se na
Rua Formosa N.º 105. A festa terminou com a valsa Pão Duro, composta por
Henrique Jorge e a Padaria Espiritual do flautista Nascimento. A 1ª sessão preparatório realizou-se no Café Java –
Praça do Ferreira ao ar livre.
Fundadores: Juvino Guedes, Antônio Sales, Raimundo Teófilo de Moura, Álvaro Martins, Henrique Jorge, Livio Barreto, Adolfo Caminha...; eram 20 ao todo, os Padeiros e cada um adotou um nome de guerra.
Composição da Mesa: Padeiro-Mor (Presidente), Juvino Guedes – de 30 de maio de 1892 a 5 de outubro de 1894; dois forneiros(secretário); um Gaveta (tesoureiro), um Guarda Livros (Bibliotecário) e um Investigador das coisas e das gentes (olho de providência). Além de Juvino ocuparam as funções de Padeiro-Mor:
José Carlos Júnior: 1894 a 29 de maio de 1896 quando faleceu ,foi o período mais brilhante da instituição.
Rodolfo Teófilo: 19 de junho de 1896 a 20 de dezembro de 1898. Houve ainda um Padeiro-Mor honorário: Juvenal Galeno, recebeu o título em 27 de setembro de 1895 , no seu 59º aniversário.
A 1ª fase da Padaria terminou em 28 de setembro de 1894 e caracterizou-se pela excentricidade dos atos e dos gestos , foi quase que somente em divertimento , boêmia e desordem (alegria, despreocupação e desordem); mesmo assim já eram produzidos trabalhos literários importantes; uma das sessões realizadas em outubro de 1892 era lido um capítulo do romance A Normalista obra de Adolfo Caminha que gerou grande polêmica.
A 2ª fase da Padaria de 25 de setembro de 1894 a 20 dezembro de 1898, data de sua extinção. Houve uma reorganização tendo sido admitido mais 14 sócios, entre eles: Rodolfo Teófilo, Antônio Bezerra, Roberto de Alencar, Cabral de Alencar e Eduardo Sabóia; foi eleita uma nova diretoria. Nessa fase apresenta-se como “uma sociedade literária grave; preocupou-se com a publicação de livros, sem eliminar o espírito brincalhão época de seriedade e trabalho.
Jornal "O Pão": periódico quinzenal e porta voz da Padaria; teve 2 fases.
Carimbo da Padaria - 1992 – Centenário da Padaria Espiritual (de 20 a 25/01/1982)
1ª fase: de 1º de junho de 1892 a novembro; estampava em suas páginas em maior escala a irreverência - espírito de troça.
2ª fase: janeiro de 1895 até outubro de 1896, nesse período publicaram alguns capítulos dos principais livros e muitos dos trabalhos principais produzidos pelos padeiros. Foi publicado inicialmente pela Tipografia da República e depois pela Tipografia Studart, na Rua Famosa 46.
Locais das Sessões: O Forno funcionou inicialmente na Rua Formosa (Barão do Rio Branco) nos n.ºs. 105, 106 e 11 consecutivamente, tinha como mobília uma mesa rústica com cadeiras utilizadas nas sessões, daí saiu e passou a realizar as sessões nas residências dos padeiros, com a presença de senhoras e cavalheiros que assistiam a leitura de versos e prosas, faziam música e acabava em urna mesa de chá e bolos. Quando não aconteciam no forno, as reuniões eram realizadas no Café Java, num quiosque preparado especialmente ao lado, pelo proprietário Mané Côco. Na última fase a em que Rodolfo Teófilo era Padeiro-Mor (1896 1 1898), a Padaria teve como única sede a sua casa e como padroeira intelectual e domestica sua esposa D. Raimundinha; as reuniões eram semanais.
Livros editados pela Padaria: Phantos, de Lopes Filho; Flocose Vargas, de Sabino Batista (1894 - 1896); Contos do Ceará, de Eduardo Sabóia; Trovas do Nordeste, de Antônio Sales; Os Brilhantes, Maria Rita e Violação, de Rodolfo Teófilo; Versos e Marinhas, de Antônio de Castro; Chromos, de Xavier de Castro; Dolentes, de Lívio Barreto; Perfis Sertanejos, de José Carvalho. A Padaria representou o período áureo da história das letras regionais, fazendo com que a intelectualidade brasileira se voltasse para o Ceará aumentando positivamente o conceito do Estado a nível nacional.
A instalação contou com programa escrito por Antônio Sales, o qual foi transcrito em um jornal da então capital federal, o Rio de Janeiro, o que deu notoriedade ao movimento. A cada domingo, um jornalzinho de oito páginas chamado O Pão era "amassado" e fez circular 36 números, até que em dezembro de 1898, depois de 6 anos de atividades, a Padaria fecha. Os títulos dos membros desta academia seguiam o padrão usado nas padarias reais:
Forno: a sede do movimento
Padeiro-mor: o presidente
Forneiros: os secretários
Gaveta: tesoureiro
Investigador das cousas e das gentes: bibliotecário
Amassadores: sócios
Em 1992, ano do centenário da Padaria Espiritual, um grupo que reuniu escritores, artistas plásticos, músicos e amantes da arte decidiu por as mãos na massa e voltar a produzir O Pão que, da mesma forma que seu antecessor, passou a oferecer alimento fino para a alma: literatura.
Alguns amassadores e seus nomes de guerra
O poeta
Lívio Barreto, se vivo fosse, teria completado 139 anos em 18 de fevereiro de 2009.
Com o pseudônimo de Lucas Bizarro, foi um dos fundadores da Padaria Espiritual, irreverente grêmio literário cearense.
“Dolentes”, seu livro póstumo é o maior representante cearense do Simbolismo, movimento artístico de ruptura ao Realismo, cuja vertente poética foi denominada Parnasianismo. O Simbolismo, assim, redescobre a subjetividade, o sentimento, a imaginação e a espiritualidade. Em justiça à memória do poeta que faleceu aos 25 anos, a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará publica Dolentes, único livro de Lívio Barreto, e faz o lançamento no dia 23 de abril de 2009, às 19h, na Casa de José de Alencar, dentro das comemorações do Dia Internacional do Livro.
<---1ª Edição e
Edição póstuma 2009--->
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