A foto do Shopping Center Um, publicada no Jornal O POVO, em 09/11/1974
Em 06 de novembro de 1974, surge o primeiro shopping center de Fortaleza, o Center Um, na Avenida Santos Dumont nº 3130; São 7 mil e 500 metros quadrados de área coberta, abrigando estabelecimentos comerciais das mais diferentes categorias e estacionamento privativo com 450 vagas, empreendimento do empresário Tasso Ribeiro Jereissati (Tasso Jereissati). Liberalidade com relação ao modo de trajar é uma das características do Center Um, onde existe, ainda, a terminante proibição de gorjetas.
Além de um supermercado Jumbo, 45 lojas servindo das mais variadas maneiras.
Havia o Shopping-Center Aldeota, mas na verdade tratava-se de um conjunto de lojas em aberto, sem nenhuma segurança ou privacidade.
Folder inaugural do CENTER UM. Observem o nome das lojas. 06/11/1974.
Acervo Marrocos Anselmo Jr
A foto do Shopping Center Um, dizia:
"A fachada do 'Center Um' diz muita coisa. Mas só entrando e comprando para ver. O acontecimento para a cidade foi tão importante, que as pessoas que estão indo até lá orgulham-se de haver adquirido qualquer coisa (dizem que do alfinete ao avião) naquele centro comercial."
O CENTRO DA CIDADE MUDOU PARA OUTRO LOCAL
O empreendimento que Tasso queria lançar era um negocio revolucionário. Ele queria mudar os hábitos dos fortalezenses que até então só faziam suas compras no centro da cidade, onde se situavam todas as lojas, cinemas e ale hospitais. Um troço realmente incrível e difícil de acreditar. Mudar a praça para a Aldeota com todas as suas lojas seria no mínimo complicado.
Acho que os primeiros lojistas que acreditaram foram o Assis Vieira Filho, da Ocapana, e o Inácio Capelo, da Sapataria Belém. Da imprensa, os mais entusiasmados foram o Demócrito Dummar e o Francisco Ribeiro, à época, juntos e, aparentemente, inseparáveis no jornal "O Povo".
Para apresentar o projeto do Center Um. o primeiro shopping do Ceará, marcamos um almoço com a Imprensa e comerciantes. O local foi, estrategicamente escolhido, o restaurante do Hotel Savanah, pois, sendo o dono da casa, Tasso poderia ficar menos tímido e mais à vontade para falar. Àquela época ele era, acreditem, muito tímido. A conversa foi boa e conseguimos passar a melhor impressão para os presentes, principalmente, o dono do jornal O Povo e o seu diretor comercial.
O Center Um teria como loja-âncora o supermercado Pão de Açúcar-Jumbo, que tinha como símbolo o elefante, hoje eliminado, abatido certamente num safári da família Diniz. Ficou só Pão de Açúcar. Além da inovação de concentrar várias lojas num só lugar, o Center Um abrigaria um cinema e uma área de lanchonetes, algumas operando no sistema 'fast-food'. Era realmente um negócio de louco! Um senhor investimento para Fortaleza, ainda província, acanhada ante a perspectiva de virar metrópole.
Os jornais começaram a noticiar, havíamos despertado o interesse da mídia. A população já começava a ficar ansiosa. Foi quando o Tasso me solicitou a criação da campanha de lançamento do Center Um. Achando não ter experiência suficiente para a dimensão do projeto, sugeri várias agências e a elas solicitei a criação de logomarcas, campanhas de expectativa e lançamento. Só não pensei na sustentação. Para os que têm pouca intimidade com a publicidade é bom a gente esclarecer o seguinte: Quando se vai lançar qualquer empreendimento, qualquer produto, a gente faz uma campanha de expectativa que gera realmente no mercado àquela espera, aquela expectativa, aquela curiosidade em torno do que vai ser lançado. Depois vem a campanha de lançamento propriamente dita, que é aquela campanha em que se diz o que é, onde se apresenta o produto, a marca, e depois a sustentação que é exatamente uma coisa mais de varejo, mais voltada para o dia-a-dia com ofertas, com preços, enfim! É aquela publicidade que se faz no dia-a-dia oferecendo, por exemplo, a quarta-feira de ofertas, a oferta do sábado, o dia-a-dia do empreendimento.
No caso do Center Um, as campanhas que foram apresentadas não agradaram. Novas reuniões aconteceram e, um belo dia, no escritório da La Fonte, onde costumava trabalhar, na Major Facundo, sentado, coçando o queixo, Tasso me perguntou:
- Jovem Benevides, você tem coragem de fazer essa campanha? Sem pensar, respondi: - "Faço!" E acrescentei: - "Vou chamar o Mino para a criação, a Luíza Teodoro para me ajudar nos textos, o Ednardo para fazer o jingle e o Frota Neto para cuidar da mídia e de assuntos econômicos, pois dessa 'tropa', ninguém entende nada de dinheiro".
Tasso riu e sinalizou para que eu desenvolvesse a campanha. Ainda fico nervoso contando a história, imaginem como ficou a minha cabeça quando saí daquele escritório. Fui a pé pela praça do Ferreira, quando dei por mim estava na Praça do Carmo. Completamente desorientado, a cabeça girando a mil, de repente, surgem na minha frente, lépidos e fagueiros, dois prósperos jornalistas, Lustosa da Costa e Dorian Sampaio, que depois se tornariam meus grandes amigos. O Dorian virou irmão.
- "Guto, você está trabalhando com o Tasso?" -Queriam saber para negociar páginas do Anuário do Ceará, um sucesso editorial naquele mundo. Todo mundo queria participar e anunciar no Anuário, editado pela competente e dinâmica dupla. Eu ia responder, quando eles me atropelaram com outra pergunta: - "Quanto ele está lhe pagando? Já assinou sua carteira? Veja lá!"Não lembro o que respondi e continuei andando até a Pinto Madeira.
ÉPOCA ASSESSORIA E PUBLICIDADE
Depois de muito vinho e sucessivas reuniões, consegui passar o "brieffing" para o Mino e a Luíza. Nesse meio tempo, o Frota Neto tratava de registrar a nossa agência: Época Assessoria e Publicidade. Criada exclusivamente para o lançamento do Center Um.
O Eduardo, um dos maiores compositores do Ceará, meu amigo, captou muito que lhe passei, complementou, deu forma certa e criou o jingle antológico que, em desenho animado, arrasou quando foi veiculado na televisão. Em uma semana, todo mundo já cantava a musiquinha.
Paralelamente, à campanha de lançamento do Center Um, corria o material publicitário do supermercado Jumbo. O símbolo, o elefante, tinha "foguetes" na TV, onde, a cada semana, apareciam partes do elefante. O filme mostrava a reação das pessoas ao verem cada parte do Jumbo. A primeira foi a tromba, onde apareciam carros freando, gente parando. A cena final da campanha televisiva quando, finalmente, aparecia o elefante inteiro, mostrava o povo vibrando, os motoristas descendo dos carros para saudar a boa nova. Na mídia impressa, usamos uma página dupla com um quebra-cabeça que formava o elefante. Mandamos pintar pegadas do elefante por toda cidade, tudo sincronizado para que no dia da inauguração elas estivessem em frente ao Center Um.
Usamos um Outdoor produzido aqui, com a arte do Mino, além de faixas por toda a cidade com frases sobre o Center Um e o Jumbo criadas pela Luíza e por mim.
Para quem está se perguntando, a resposta é sim: é a Luíza Teodoro, educadora, professora de história e de vida, que, por conta deste trabalho, transformou-se em publicitária. A campanha ganhou espaços consideráveis nas tevês e rádios. O jingle rolava sem parar conquistando a todos. E, para completar a festa, "encomendamos" o símbolo vivo do Jumbo: um enorme elefante. A chegada dele merece um capítulo à parte.
Antes, vamos à letra do 'jingle':
Depois que acabaram
Com a Coluna da Hora
Depois que derrubaram
O abrigo central
O centro da cidade
Mudou pr’a outro local
Lá tem ar para respirar
Tem coisas lindas para olhar
Tem muila coisa para comprar
Pois, o centro agora é Center Um
Em off: Center Um, o center da cidade
O JUMBO CHEGOU MAIS CEDO
No desenrolar da campanha, aconteceu o que temíamos. O enorme e simpático elefante chegou antes do tempo. E como ele só poderia aparecer na semana da inauguração, precisávamos arrumar um lugar para escondê-lo. O pior ó que quando o bichinho chegou, ele foi levado no caminhão, juntamente com o seu amestrador, diretamente para o Center Um. Isso, às 4 da manhã. Por volta das 5 horas, liga o Tasso desesperado, pedindo aos berros que eu tirasse o elefante de lá e escondesse o bicho num terreno que os jereissati tinham na Rua Padre Valdevino.
Tiramos o 'Jumbo' de lá e seguimos para o esconderijo: eu no meu carro e o caminhão com o elefante atrás. Como o dia já estava clareando e as pessoas já andando nas ruas, o caminho que fizemos do Center Um até o esconderijo foi uma loucura. Como diz o povo hoje em dia: "pense numa presepada grande!" Era menino correndo atrás, cachorro latindo, mulher gritando. Finalmente, chegamos, tiramos bicho do caminhão e o levamos para o terreno. Tudo parecia ter se acalmado, quando, de repente, cansado, o elefante revolveu encostar-se ao muro. Aí complicou de novo! Com aquele peso todo, ele derrubou literalmente o muro. A vizinhança se apavorou e chamou a polícia. Foi o maior rebu! Decidimos levar o elefante para outro lugar, longe da cidade. Arrumamos um lugar tranquilo. Ele deveria ficar neste esconderijo até o momento da inauguração, mas, confesso, que, por diversas vezes, eu o sequestrei com caminhão e tudo.
Depois da inauguração do Center Um, continuei encontrando o Mino, o Ednardo, a Luíza e o Frota Neto. Mas era diferente. Assim como os Beatles, jamais voltamos a ficar juntos para um concerto. Apesar da benquerença, cada um seguiu o seu caminho.
De parabéns, Tasso Jereissati que teve a coragem de acreditar no talento desses jovens, dando-lhes a oportunidade de realizar o seu primeiro trabalho publicitário.
Para crescer como gente, como empresário, como político ou qualquer outra coisa, é preciso ousar na hora certa. Tasso soube disso.
É importante, no entanto, que se faça tudo com cuidado, porque, aparentemente, é fácil trocar palavras, mas é difícil interpretar o silêncio. Pode até ser fácil caminhar lado a lado, difícil é saber como se encontrar.
É difícil viver, mas com certeza, viver é melhor que sonhar, como cantou Belchior.
Texto de Guto Benevides
Repercussão na mídia. Reportagem de inauguração do, Center Um.
Ao ato inaugural do “Center Um” estiveram presentes as mais altas autoridades do Estado, começando com o Governador César Cals, o Prefeito Vicente Fialho, o Comandante da 10ª. RM e outros nomes ilustres. O Sr. Tasso Jereissati, ao lado de D. Maria de Lourdes Jereissati e do Sr. Carlos Francisco Jereissati, além de outros familiares, estava satisfeito com o êxito do empreendimento pelo qual era responsável. Compareceu também a inauguração o Sr. Abílio Diniz, diretor-presidente do grupo Jumbo-Pão de Açúcar, acompanhado de diretores daquela cadeia de supermercados, que é a maior da América Latina.
O "Center Um" tem de tudo: num complexo de 45 lojas, o Supermercado Jumbo—Pão de Açúcar, agências bancarías, lanchonete, banca de revistas e jornais (O POVO), cinema com 430 lugares, (confortabilíssimo e moderno), estacionamento para 450 carros. Nada foi esquecido: lavanderias, boutiques, bombonieres etc. Eis a relação dos estabelecimentos que formam o complexo "Center Um": A Samaritana, Aba Film, Armazém Esplanada, Armazém Nordeste, BD Esportes, Banca de revistas e jornais de O POVO, Barbosa Barbearia, Bem-me-quer, Borogodó Confecções, Bou Tiko, Caixa Econômica Federal, Carvalho Borges, Casa Parente, Casas Pernambucanas, Casa Rosário Cofisa, Cruz de Ouro, Farmácia Adjafre, Financeira, Gurgel Cabeleireiros, Hidrel, Lacy Presentes, King Jóias, Kom's & Beb's, La Duce, La Rose, Lavanderia Lavita, Livraria Feira do Livro, Lojão Anfisa. Lojas Vox, Loteca Pap's, Martha Boutique Infantil, Mil Koisas, Modinha, Muldialtur, Ocapana, Plásticos Decorativos, Sapataria Belém, Serven Pap's, Sonótica, Tempo Verde, Twigy Boutique, Cine Gazeta e Jumbo Pão de Açúcar.
O Center Um foi inaugurado em 1974, com entrada pela Avenida Santos Dumont e tinha como loja âncora o supermercado "Jumbo". Tinha dois cinemas, estacionamento no sub-solo e mais de 40 lojas e lanchonetes. Com uma escada rolante mas sem área climatizada é considerado um dos principais responsáveis pela expansão de Fortaleza para a área leste do município em detrimento do Centro da cidade.
O shopping mais antigo de Fortaleza já passou por várias reformas e modernização. Foi instalada uma segunda escada rolante de acesso ao segundo pavimento e teve sua área totalmente climatizada. Sua fachada para a Av. Santos Dumont foi reformulada e novas lojas no estacionamento e na parte externa foram abertas. Suas salas de cinema encontram-se fechadas desde 1994.
Horário de Funcionamento
O Shopping funciona nos seguintes horários:
Segunda a Sábado:
• Lojas e Praça de Alimentação- 09h às 21h
• Pão de Açúcar: 06h ás 24h
• Entretenimento (Ei Parque) - 09h ás 21
Domingo:
• Praça de Alimentação - 11h às 15h
• Pão de Açúcar:- 07h ás 22h.
Continua...