Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Pastelaria Leão do Sul - Vai um pastel com caldo de cana?


Foto do final da década de 30

Com mais de 90 anos de existência, a Leão do Sul se tornou ponto de encontro e até atrativo turístico da cidade de Fortaleza, vendendo o delicioso pastel com caldo de cana. 

Foi fundada no ano de 1926, na Praça do Ferreira, centro de Fortaleza, e segundo análise de documentos antigos o primeiro proprietário foi o Sr. A. Silva.

O nome Leão do Sul surgiu desde sua fundação e há duas versões com relação à escolha deste nome: a primeira foi devido a sua localização que fica ao sul da Praça do Ferreira e porque o proprietário era torcedor do time Fortaleza Esporte Clube, e a segunda é que ele era torcedor de um time de futebol do sul do país de mesmo nome.

A Leão do Sul funcionando como Mercearia. Acervo da pastelaria
Na década de 20, o estabelecimento funcionava como uma espécie de mercearia que vendia produtos de primeira linha, além da “merenda”, vendia produtos como: enlatados importados, bacalhau de primeira qualidade, queijos, azeitonas, vinhos, doce de buriti, manteiga da terra, bombons importados, café torrado e moído na hora, dentre outros. Estes produtos depois de vendidos eram embrulhados em papel de rolo e amarrados com cordão, e o banco onde as pessoas sentavam-se para lanchar eram caixotes grandes e vazios dos bacalhaus importados.

Naquela época era comum encontrar senhores de Terno de linho branco e chapéu fazendo suas compras no centro da cidade.



Foto da década de 50

Em 1952, o empreendimento é vendido ao senhor Dimas de Castro e Silva. A administração do “Seu Dimas” como era chamado, ficou marcada pela forma simpática e afável de tratar seus clientes, estava sempre à beira do balcão pronto a atender e prosear. Naquela época a máquina registradora ainda era a manivela e fazia muito barulho ao registrar os produtos vendidos.




Com o passar dos anos, seus filhos também o ajudavam dentro da empresa, mais posteriormente cada um seguiu uma nova profissão independente.

Nesta época, o caldo de cana e o pastel já eram a dupla mais vendida na Leão do Sul. O pastel, que não era feito lá, chegava de bicicleta em latas de gordura coberto com um pano, ainda quentinho, e caldo de cana que saia geladinho da engenhoca, tinha a cana-de-açúcar raspada na hora, antes de ser moída. Muitas vezes fazia fila para se lanchar ali naquele cantinho apertado.



Na década de 50, o pastel e agarapa, eram concorridos pelos jovens que frequentavam a Leão do Sul ao final de cada sessão do Cinema Moderno ou do Cine Majestic. O caldo de cana que jorrava seu suco esverdeado na engenhoca e saia geladinho, concorria com outra bebida famosa da Praça do Ferreira, opega-pinto do Mundico. Esta bebida era um aluá feito de uma raiz conhecida na região. A pastelaria virou ponto de encontro e de paquera das alunas da Escola Justiniano de Serpa, famosa Escola Normal e estudantes do Liceu.

No ano de 1980, Renato Dantas e sua esposa, Maria Dantas, compram a Leão do Sul. Cabe ressaltar que não havia nenhum parentesco entre o primeiro, nem o segundo e o terceiro dono da pastelaria. Como vimos, ao longo dos anos foram vários os proprietários desta empresa, entretanto o nome Leão do Sul permanece até hoje, e no mesmo endereço, Rua Pedro Borges n° 193, Praça do Ferreira, Bairro Centro.

Foto da década de 50

Renato Dantas, um cearense que residiu por muitos anos em São Paulo, retornou a Fortaleza com a finalidade de se estabelecer e adquirir um empreendimento. Então foi ao centro da cidade, sentou-se na Praça do Ferreira e observou o movimento do comércio por completo, viu a movimentada Leão do Sul e seguiu até lá, conversou com o Seu Dimase “apalavraram” a compra do comércio, o que posteriormente foi legalizada.

É interessante lembrar que o Sr. Renato quando moleque entregava “bulim” (biscoito de goma) e doce de caju feito por sua mãe na Leão do Sul.

A partir do terceiro dono, Sr. Renato, algumas coisas mudaram: o pastel passou a ser fabricado no prédio da própria pastelaria, no 2º andar do pavimento superior, que depois de fabricados desciam em bandejas brancas pronto para serem consumidos, nos sabores de carne ou de queijo.


Foto de 1952

A esposa deste novo proprietário Maria Dantas, paulista, começou a fabricar os pasteis com uma receita que era de sua avó mineira. Esta receita foi aprovada pela clientela com sucesso e trouxe rapidez ao processo de fabricação, a massa ficou mais sequinha, crocante e macia ao mesmo tempo.

Apesar da mudança de proprietário, alguns funcionários foram permanecendo nas novas administrações e com o tempo somava-se ao quadro de funcionários do Leão do Sul seus descendentes e irmãos, desta forma tornou-se uma empresa bem familiar.



Com o desenvolvimento e a modernização do centro, alguns comércios foram cedendo lugar a novos empreendimentos, outros resistiam como a farmácia Oswaldo Cruz, a pastelaria Leão do Sul, a Sorveteria Odeon (Depois Itamaraty e hoje Couro Fino) e a Casa Bicho. Para acompanhar tal modernização, a pastelaria faz sua primeira reforma para oferecer mais conforto a seus clientes.

Então os velhos caixotes vazios de bacalhaus que serviam de bancos para os clientes, o balcão escuro e as prateleiras de madeira foram retirados. Foi construído um banco de alvenaria para acolher os clientes e os balcões foram trocados por um estilo mais moderno. Apesar do espaço físico da Leão do Sul ser estreito, a reforma trouxe um aspecto de modernidade, conforto, aconchego, praticidade e limpeza. Novos produtos foram oferecidos como: sanduíches naturais, coxinha, farinha de tapioca pré-cozida do Pará, fécula de batata, açúcar de confeiteiro, banana-seca e uma diversidade maior de bombons, outros foram retirados como, por exemplo, o bacalhau importado.


Foto do final da década de 60

Com o falecimento de Renato Dantas em 1988, sua esposa, Maria Dantas, que já administrava há tempos a empresa, começou a ensinar o ofício do comércio a seu filho mais velho, Dany Dantas que na época tinha apenas 13(treze) anos. A tradição da venda do pastel com caldo de cana era passada a mais uma geração.

Alguns produtos caseiros como a manteiga da terra, o doce de buriti e o colchão de moça, com o passar dos anos deixaram de ser comercializados nessa empresa devido a exigências da Secretaria da Saúde que passou a exigir a legalização dos fabricantes desses produtos. Outras mercadorias também deixaram de ser comercializadas pela diminuição da procura, vez que nos anos 90 houve um crescimento e desenvolvimento de comércios de bairro em Fortaleza, onde podíamos encontrar uma variedade de produtos mais facilmente.



Em 1997, com mais uma reforma no ambiente da pastelaria, houve algumas incrementações maquinarias. A engenhoca, de seu tamanho monstruoso ainda de ferro, que jorrava caldo de cana quando espremia a cana-de-açúcar, e fazia um barulho alto ao girar suas engrenagens, foi substituída por uma máquina de menor porte, silenciosa e toda em aço inox. Isto trouxe mais qualidade ao caldo de cana oferecido, se tornou mais puro, saudável e higiênico, visto que as garapeiras antigas feitas de ferro agregam um sabor diferenciado não tão delicioso ao suco por ser de ferro. Outra inovação da pastelaria foi o acréscimo do pastel de frango em seu cardápio.

Apesar das mudanças realizadas durante os anos, a Leão do Sul manteve o charme da dupla: caldo de cana e pastel, e a gostosa prosa ao pé do balcão. Além de fazer um delicioso e rápido lanche, histórias inusitadas e saudosistas são contadas no balcão da pastelaria, como: a azeitona com caroço, lembranças de namoricos do tempo da Escola Normal, das várias mudanças ocorridas na Praça do Ferreira e dos comércios que existiam por ali e que fecharam com o passar dos anos.
Os filhos do casal Renato Dantas e Maria Dantas foram aos poucos sendo inseridos ao trabalho no comércio, parecia estar no sangue dos descendentes a tendência para ser comerciantes. A matriz hoje em dia é administrada pelo filho mais velho Dany, apesar de sempre ter uma pitadinha administrativa de sua mãe.


Foto de 1969

Nos anos que se seguiram, o “carro chefe” da Leão do Sul, continuou sendo o tradicional e saboroso pastel com o adocicado caldo de cana. Houve várias modificações com relação à produção destes produtos oferecidos no intuito de melhorar a qualidade sempre posta em primeiro lugar.

Os tachos de fritura foram substituídos por fritadeiras potentes e sistemáticas. Ao invés do óleo para fritura, passou a utilizar gordura vegetal e posteriormente uma gordura onde é 0% trans. Ao invés de descer o pastel em bandejas, foi feito um elevador só para o pastel, e assim a empresa foi prosperando.


Foto dos anos 70

No início do século XXI, falava-se muito em revitalização do centro da cidade, recuperação das fachadas de prédios antigos, bem como proporcionar atrativos ao centro da cidade de Fortaleza, pois comerciantes estavam alarmados com a queda no movimento como um todo. Foi proposto e criado pela prefeitura da época, projetos arquitetônicos que buscavam reconstruir detalhes antigos das fachadas dos prédios, para assim resgatar o passado. Foi proposta a retirada das placas afixadas na fachada das empresas para assim destacar a beleza do prédio escondido há tempos.


Foto recente - século XXI


Devido a antiguidade do prédio onde funciona a Leão do Sul matriz, em 2003 a empresa fechou para reforma geral durante 2 (dois) meses, para recuperar da fachada e também reformar internamente. Neste período, muitos achavam que a empresa tinha fechado suas portas, e outros mesmo com o ambiente sendo reformado e a poeira para todo lado, entravam na construção buscando seu lanche predileto. Hora ou outra aparecia um e perguntava: Não sai nem um pastelzinho aí não? E caldo de cana sai? Com esta reforma foi recuperada a fachada do prédio antigo e foi feita uma modernização do ambiente interno, novos balcões de alvenaria com design mais moderno. Isto proporcionou ao cliente uma maior agilidade de atendimento e conforto, apesar do local ser estreito. Uma exposição de fotos antigas do centro foi colocada na parede, onde os clientes podem desfrutar de uma viagem ao passado fazendo seu breve lanche.

Foto de 2012 - Acervo 'No Pátio'

Segundo o gerente da matriz, Guanabara, a empresa criou um laço de ternura entre colaboradores e clientes. Muitos clientes são atraídos não só pelo produto de excelente qualidade, mas pela forma como são tratados pelos colaboradores do local, com um papo agradável. Muitas vezes já se sabe o que o cliente vai querer por sua assiduidade a pastelaria. Há quem diga que se alguém for fazer compras ou resolver algo no centro da cidade e não der uma passadinha na Leão do Sul para comer o pastel ou mesmo tomar só o caldo de cana, não foi ao centro. Parece que ficou faltando alguma coisa, é como diz o ditado: “Ir a Roma e não ver o Papa”.

Aos 79 (setenta e nove) anos de existência, a pastelaria Leão do Sul foi agraciada com o prêmio de “O Melhor Pastel da Cidade de Fortaleza”, pela revista Veja – O melhor de Fortaleza, no ano de 2005. Prêmio este que foram conquistados por mais dois anos consecutivos, ou seja: 2006 e 2007, e batalha-se para que o Leão do Sul continue conquistando mais títulos.

No ano de 2007, a filha caçula de Maria Aparecida Dantas, Kariny Dantas e seu esposo Ricardo, passaram a administrar a filial da Leão do Sul, na Aldeota (Foto ao lado). Com algumas inovações trazem a seus clientes sempre alguma novidade.

Assim como a administração da Leão do Sul sendo passada de pai para filho, tem sido assim também o aprendizado na degustação do crocante pastel com caldo de cana, que tem passado de geração em geração na família cearense.


Em 08 de Novembro do ano de 2010, uma nova filial foi inaugurada. A localização escolhida foi a Av. Bezerra de Menezes 1084, local de grande fluxo e conhecido como um dos grandes corredores comerciais de Fortaleza. O local remete lembrança a matriz, estrutura simples com um balcão de atendimento e um longo banco para sentar e degustar os pastéis com uma refrescante bebida.

Filial da Bezerra de Menezes. Acervo da pastelaria
Depois de quase 6 anos de funcionamento, em agosto de 2016 a filial Bezerra de Menezes encerrou suas atividades. O comércio desta região foi completamente prejudicado devido a nova sinalização nesta avenida da capital tão movimentada. A implantação do corredor de ônibus e a falta de estacionamento foram prejudiciais a circulação das pessoas entre as vias.



Fonte: Site da Leão do Sul

domingo, 7 de março de 2010

Lojas Paraíso




As Lojas Paraíso LTDA foi uma rede de lojas de móveis e eletrodomésticos de muito sucesso em Fortaleza/CE tendo como proprietário o Sr. Paulo Fernandes que começou sua vida profissional como representante comercial.

A rede surgiu na primeira metade da década de 80 e sua primeira loja instalou se na Rua Sólon Pinheiro com Duque de Caxias no centro da cidade de Fortaleza.

Crédito da foto - Diário do Nordeste

Inicialmente eram vendidos apenas colchões e logo depois foram introduzidos os móveis e eletrodomésticos, a loja era pequena, mas muito bem localizada e arrumada, o Sr. Paulo ficava sempre a postos em sua mesa para atender os clientes e tinha no crediário seu principal atrativo.

A segunda loja foi montada no centro de Fortaleza em uma das esquinas mais movimentadas em um período que grandes lojas como Romcy e Jumbo Eletro (Antecessor do Hipermercado Extra) estavam deixando o mercado. Paulo Fernandes aproveitou essa oportunidade e começou a montar lojas em pontos antes ocupados por outras lojas de eletrodomésticos.



A empresa de Paulo Fernandes investia muito em marketing, eram páginas inteiras nos jornais anunciando as ofertas de eletroeletrônicos e móveis muitos deles eram coloridos um luxo para a época, seu slogan era “Onde a tentação é o preço” e seu logotipo uma maçã, em 97 a Paraíso chegou aplicar R$ 3,5 milhões em marketing .

Em 1998 a Paraíso possuía 55 pontos de venda no Nordeste, localizados nos estados do Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, empregando em torno de mil funcionários além de um amplo centro administrativo e depósito em Parangaba e uma frota de cerca de 40 caminhões para entrega e chegou a comprar o antigo Cine Diogo em Fortaleza onde funciona hoje um Shopping Center do mesmo nome e um prédio com oito andares com várias salas comerciais alugadas, talvez esta compra tenha colaborado para a diminuição do capital de giro da empresa.

Em Fevereiro 1998 as Lojas Paraiso entram com um pedido de concordata preventiva na vara de falências e concordata do fórum de Fortaleza, alegando no pedido que a medida é resultado do baixo fluxo de vendas no varejo, que sofreu uma redução de 60% em janeiro de 98 em relação a 97, das altas taxas de juros cobradas pelos fornecedores, além do elevado índice de inadimplência, em torno de 10%. Na época, o passivo acumulado era de mais de R$ 67 milhões menos de um ano depois, o passivo havia sido reduzido para pouco mais de R$ 29 milhões a Paraíso contava apenas com 18 lojas, em três Estados (Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará) e emprega 400 pessoas.

Lojas Paraíso de 1994

A falência das Lojas Paraíso, decretada no dia 30 de novembro de 1999 quando vários clientes ficaram sem ter como pagar seus crediários. O síndico da massa falida, Máximo Fortino na época informou que o grande problema da Paraíso na época foi a alta taxa de inadimplência. “A massa falida deve, hoje, menos de R$ 30 milhões. No entanto, tem mais de R$ 42 milhões a receber em pagamentos atrasados, isso sem contar com os imóveis e materiais em estoque pertencente à rede Paraíso”, disse.

Ninguém pode negar que a Paraíso fez história e deixou muitas saudades no comércio de Fortaleza e do Nordeste, pelo estilo de gestão empregado pelo seu controlador Paulo Fernandes, que era facilmente visto no centro de Fortaleza visitando suas lojas e cuidando de detalhes, e pela sua agressiva política de marketing.

Infelizmente o índice de inadimplência e o impasse com fornecedores, como a Gradiente, que atrapalhou a repactuação de prazos de pagamentos com os fornecedores, estão entre os motivos que a levaram a falência.


CréditoPedro Paulo Morales 

  

sábado, 6 de março de 2010

Romcy - Está no ar o barato do dia!

As lojas de varejo Romcy S/A foi uma rede de lojas localizada em Fortaleza, com 12 lojas, entre hipermercados e supermercados, 11 estavam localizadas em Fortaleza, 1 em Maracanaú e uma central de compras em São Paulo. Nessas lojas existiam ainda os Romcy-Car, que eram especializados em acessórios e serviços para veículos, além de cinco lanchonetes em suas unidades, que faziam muito sucesso e era ponto de encontro de muitas pessoas. O Grupo Romcy era formado ainda pela Romcy Informática LTDA e a Granjas Romcy S/A.

As atividades comercias dos Romcy começaram em 1948, com a firma Jacob Elias & Filho, onde vendiam miudezas que depois passou a ter várias filiais com nomes fantasias diferentes como, as lojas A Capital, Magazine Sucesso, Casa Vênus, Romcy Perfumaria, Romcy Magazine, e por fim a Super Loja Romcy.

Janelas e vitrine da sobreloja e térreo. Nirez
Em 1962, com a morte de Jacob, as lojas foram unificadas sobre a razão social de Romcy Comércio e Indústria S/A e estavam sob a responsabilidade de seus filhos José e Antônio Romcy, que partiram para unificar as atividades do grupo.

Em 1974, o Grupo Romcy comprou do comerciante Plácido de Carvalho um imóvel construído em forma de um castelo, que se localizava onde hoje fica a Praça Luíza Távora, na Avenida Santos Dumont, para a construção de um hipermercado, mas após alguns anos, seu terreno foi dado em pagamento de dívida de ICM ao Governo do Estado. Muitas pessoas atribuem a falência da empresa a demolição deste castelo, uma espécie de maldição. ¬¬

Esquina da rua Barão do Rio Branco com a Liberato Barroso na década de 70. À esquerda, vemos um pedacinho da Loja Romcy. Foto de Nelson Bezerra
Em 1975 foi inaugurado o Romcy Aldeota, uma loja com área de 14 mil m2, onde a empresa passa a investir também em supermercado, quase a mesma época em que passa a ser a 1ª loja de departamentos do Norte e Nordeste a funcionar com computador.

Na década de 80, o Canguru (que segundo se comenta foi também usado pelo Varejão Supermercados da Família Patriolino Ribeiro), símbolo das lojas Romcy, disputava o mercado com as Americanas, Lojas Brasileiras e Mesbla de igual para igual.

O Romcy mantinha um cartão de crédito próprio e no fim do mês, com a inflação galopante, comprar no Romcy era praticamente impossível, pois esta loja operava também no ramo de supermercados e vendia tudo no cartão. Na época, se dizia que quem não tinha um crediário no Romcy não tinha crédito na praça.

Em 1990, quando o Romcy pediu concordata, ele mantinha 1.702 funcionários e proporcionava quase 3.000 empregos indiretos e na época era também um dos maiores arrecadadores de impostos e um dos grandes empregadores do Estado do Ceará.


Foto: Anuário do Ceará 1972

Romcy em 1972 em pleno funcionamento.
A maior rede de lojas de departamento que o Ceará teve, escolhia bem a sua localização, tanto que todos os seus endereços estão devidamente ocupados quase 20 anos depois. O Romcy Planalto virou Bompreço Papicu, o Romcy Aldeota (Antônio Sales) virou Hipermercantil e hoje é ocupado pelo Carrefour, o Romcy Montese é o Hipermercado Extra, o Romcy Monte Castelo abriga a matriz do Expresso Guanabara no Ceará, que a propósito, nunca teve o que reclamar da infraestrutura das instalações (inclusive dotada de uma moderna estação de tratamento de esgoto), no Centro de Fortaleza, suas lojas estão todas ocupadas, as duas na Rua Barão do Rio Branco e a do Parque das Crianças, onde hoje funciona (no prédio que faz fundo também com a Praça Murilo Borges - Praça do BNB) um Super Lagoa e uma Rabelo, o Romcy Benfica, cuja obra não foi concluída pela empresa, hoje é o bem sucedido Shopping Benfica. Tantos acertos não foram por acaso, houve estudos muito bem feitos.

Nas propagandas a empresa também inovou, trazendo o Assis Santos quando anunciava as ofertas para o dia seguinte com o slogan “Barato do dia Romcy” no intervalo do Jornal Nacional da Globo ou os anúncios de páginas inteiras nos jornais, ou com a promoção famosa, inédita e audaciosa “Romcy dá dinheiro vivo”, nos anos 70. Antônio Romcy analisou a conjuntura econômica do país e usou a inteligência para criar a campanha. O raciocínio de Antônio Romcy foi rápido e perspicaz: se era de se pagar 10% às financeiras, por que não estimular a compra a partir de seis prestações e dar esse percentual diretamente ao consumidor? Foi um sucesso!


Elevador Social e escada que interliga os pavimentos do antigo Edifício Romcy. Fotos de Samara Aguiar em 16/12/2008.

Em Dezembro de 1990, o Romcy pede concordata preventiva motivada pelos problemas causados pelo Plano Collor, como a inadimplência de seus clientes, o que causou um desequilíbrio financeiro. Porém seu patrimônio era suficiente para cobrir suas dívidas e inicia a reestruturação de seus negócios com fechamento de algumas lojas. Também foi noticiada a venda da empresa para o Grupo Sendas do Rio de Janeiro e Lojas Tamakavy do Grupo Silvio Santos.
Loja Romcy 1972. Acervo Isabel Pires
Em 1992 já consegue levantar a concordata e planeja a volta ao ramo de supermercados com a reinauguração da loja do Parque das Crianças, o que não foi possível, porém o filho de Antônio Romcy inaugura o Supermercado Básico na Rua José Lourenço e no prédio do antigo Romcy do Parque das crianças. Ocupando metade da área que o Romcy ocupava, o novo empreendimento, por questões de mercado, não deu certo.

Por volta de 1993, a empresa com apenas uma loja em funcionamento, tem a falência decretada, deixando muita saudade. O seu patrimônio imobiliário foi usado para saldar dívidas bancárias, trabalhistas e com fornecedores. Para se ter uma ideia, apenas a loja do bairro Montese, onde também funcionava a matriz do Grupo, estava avaliada em US$ 10 milhões de dólares.

Romcy Montese

Sem dúvida as lojas Romcy deixaram um vazio no mercado cearense, pela importância que teve na vida social e econômica do Ceará.

Estado atual do edifício Romcy na esquina das ruas Barão do Rio Branco com Liberato Barroso

Foto de danos encontrados no 5º pavimento da edificação e telhas desalinhadas na coberta. Foto: Samara Aguiar em 2017.

"O prédio atualmente se encontra bastante deteriorado devido à sua subutilização após a falência da Organização Romcy. A edificação apresenta infiltrações, presença de entulhos, piso com cerâmicas quebradas, paredes sem reboco, escadas e elevadores abandonados, circulações bloqueadas e rede elétrica danificada.

Loja no pavimento térreo. Foto: Samara Aguiar em 16/06/2017
Sua coberta apresenta telhas desalinhadas, calhas improvisadas e até mesmo ausência desta, além de não apresentar cumeeira. Problemas que provavelmente acarretaram na infiltração existente nos pavimentos superiores.

Vista do Subsolo da edificação. Foto: Samara Aguiar em 11/01/2017
Os pavimentos térreo e a sobreloja por serem os andares que continuam sendo utilizados na atualidade para o comércio, são os que estão em melhor estado de conservação. Hoje, o térreo está alugado para 6 lojas diferentes, o que levou a necessidade de separação física entre elas, devido a isso o acréscimo de paredes é a principal descaracterização nesses andares, Além disso, foram retiradas as marquises existentes originalmente na laje do térreo.

Vista de um dos pavimentos. Foto: Samara Aguiar em 16/06/2017
  Piso danificado no pavimento e escada enferrujada no subsolo. Foto: Samara Aguiar em 11/01/2017


O subsolo atualmente é utilizado como depósito para os ambulantes que vendem no calçadão da Liberato Barroso, porém não apresenta nenhum tipo de conservação por parte de seus usuários. Os andares não utilizados apresentam pior estado de conservação. Encontra-se nesses pavimentos: um piso bastante danificado com cerâmicas quebradas, escadas e elevadores enferrujados, circulações bloqueadas por tapumes ou alvenaria.

Escadas bloqueadas por tapumes/alvenaria no subsolo. Foto: Samara Aguiar em 11/01/2017
As fachadas nordeste e sudeste estão bastante descaracterizadas, as antigas vitrines do térreo foram trocadas por portas de correr, por causa das diferentes lojas alocadas que prezando por maior segurança e praticidade optaram por esse tipo de abertura. No 3°, 4° e 5º pavimentos, por trás do plano de vidro criado pelas esquadrias, foi construída uma parede de alvenaria com o intuito de vedação, visto que esses andares atualmente não apresentam uso.

Danos na fachada Nordeste. Foto: Samara Aguiar em 16/06/2017
Danos na fachada Sudeste. Foto: Samara Aguiar em 16/06/2017
Na fachada nordeste, as esquadrias do 3º e 4º andares foram retiradas, restando somente os castilhos, na sobreloja as esquadrias foram modificadas perdendo sua inclinação original e uma estrutura metálica foi acrescentada a volumetria do prédio para fixação dos letreiros das lojas. Na fachada sudeste, todo o plano de esquadrias do 3º ao 5º pavimento foi retirado e na parede de alvenaria adicionada foram feitos cobogós buscando trazer luz e ventilação mínima à parte abandonada do edifício. As esquadrias da sobreloja foram trocadas não apresentando mais a inclinação existente nas janelas originais."

Samara Aguiar


Fonte: Jornal O Povo edição de 11/12/1990, Pedro Paulo Morales e jornais da época.
 

sexta-feira, 5 de março de 2010

Center Um parte II - Festa em Fortaleza com a chegada do Jumbo

Por ser o maior dos animais terrestres e impressionar por seu tamanho, o elefante foi acolhido como símbolo do Supermercado Total Jumbo, que também se torna um mito em toda grande cidade onde se instala.
O Total Jumbo terá uma área de 4.500 metros quadrados de mercadorias, expostas a venda no total de 60 mil itens de produtos de boa qualidade, conservados com os melhores requisitos da moderna tecnologia.

Jornal O Povo novembro de 1973

A chegada do supermercado Jumbo foi sem dúvida uma revolução em Fortaleza.


Jornal Correio do Ceará – novembro de 1973

Atendendo a insistentes pedidos, publica-se hoje a foto que deu origem a muitos falatórios: “O Guto Benevides e o elefante”. No flagrante, o paquiderme confere um picolé que lhe é dado.


Para quem leu o post anterior sobre o Center Um, deve lembrar que o Guto Benevides precisou sumir com o Jumbo que chegou antes do previsto, deixando Tasso Jereissati de cabelos em pé. rsrs (Quem não leu, recomendo!!!)



COISAS QUE SÓ ACONTECEM UMA VEZ

Cada época tem, mais ou menos, as pessoas que merece. Bem ou mal, são elas que fazem o tempo. Só bem mais tarde pude perceber a grandiosidade daquele trabalho que fizemos para o lançamento do Center Um.
Existem coisas que só acontecem uma vez: Aquela defesa do Banks na cabeçada do Pelé, na Copa de 70, o clima que a musica dos Beatles criava na nossa geração, a vibração com a queda do Muro de Berlim e, aqui, na nossa terrinha, a Campanha Publicitária do Center Um, que, juntou arte, poesia, música e ousadia. Jamais haverá outra igual.
Ao conseguir juntar Mino, Luíza Teodoro, Ednardo e Frota Neto, alguns dos maiores talentos da minha geração, desde o começo, tive a certeza de que tudo seria festa e que ficaria na cabeça das pessoas como o maior lançamento publicitário que esta cidade já viu.
Anos mais tarde, tal qual Romário na Seleção, fui chamado para ajudar a lançar o Shopping Iguatemi e, confesso, deu saudades do Center Um. A energia era outra. Cada momento tem a chama que merece.


Texto de Guto Benevides


Center Um, Jumbo Pão de Açúcar

Devia ter uns oito anos de idade. Hoje uns trinta e seis. Tinha visto no comercial da televisão, durante o intervalo do Homem do Fundo do Mar. Viu também a foto em uma propaganda de jornal. Ficou louco, não podia deixar de ir. Iam levar um elefante pra inauguração do Center Um - o primeiro shopping do Ceará.

E o que diabo era shopping? Disseram pra ele que era coisa da modernidade, traço de cidade evoluída, progresso. Blá-blá-blá de gente sabida pra comer o dinheiro dos abestado. Tudo bem, o povo besta da aldeia grande não precisaria mais ir ao Centro de Fortaleza, à Rua, pra fazer compra. No coração da Aldeota ia ter tudo em um só lugar. O canelau da arraia miúda, ignorante, que quisesse ser moderno, teria de pegar dois ônibus para ver de perto o charme da civilização. Da periferia ao Centro e de lá, caminhada até a Praça dos Leões pra apanhar qualquer cambão que passasse na Santos Dumont. INPS - via Brahma, Aldeota... Ou então pé-dois até a Emcetur e sinal para o Circular.

O elefante era a grande atração, o garoto propaganda do primeiro supermercado ''Total'' do Ceará: o Jumbo do Pão de Açúcar. Quem fosse pra inauguração podia se candidatar a uma voltinha no lombo do bicho. Menino tava com comichão, fervilhão no fiofó. Correu para o guarda-roupas e retirou da cruzeta a melhor roupa. A única. Só teve um galho, dois. A calça boca-de-sino, herança do Natal de 1973, tava pegando siri. E a camisa mangas compridas, branca, modelo primeira comunhão, havia encolhido, entanguida. O pivete crescera alguns centímetros, franguinho, galalau.




Mas não tinha conversa, ia de qualquer jeito. Marmotoso ou de calção e kichute com cadarços entrançados nas canelas finas. Ia. Era a chance de se sentir Tarzan, Mogli ou Jim das Selvas. Já havia visto um elefante de perto em circo pé-de-chinelo, nas areias de algum campinho em frente a grupos escolares ou da igreja, mas andar em cima de um, nunca. Só em sonho. Sonhava em ir ao Circo Tyane ou ao Garcia. Como a grana era curta, esperava sempre pelos rabos-de-cabra que mexiam com o cotidiano do bairro. Fera, no entanto, só uns vira-latas saltadores ou leão em fim de carreira, loucos pelos gatos do quarteirão. E comiam...


Fortaleza queria deixar de ser Interior, sertão. Mas a inauguração do Center Um acabou sendo uma festa de paróquia. Quermesse. Um grande arraial com a presença do prefeito Vicente Fialho, do governador César Cals, do comandante da 10ª Região Militar, do gato, o pinto, o cachorro, o papagaio e o padre a benzer o recinto. Sim, Tasso Jereissati, o próprio dono do negócio, 25 anos de idade, comandou o leilão, acompanhado pelo pai e a mãe. Abílio Diniz, paletó xadrez, cinza preto, era o exemplo da prosperidade paulista.




Um dos incríveis passeios que Guto fez com o elefante

O elefante, coitado, símbolo da modernidade cearense em 1974, tava de perna inchada de tanto carregar pivete pra cima e pra baixo. De pé-do-ouvido zunindo, tamanha a gritaria da mundiça. ''O novo Center da cidade'', avisava o reclame publicitário, tinha vindo para descentralizar o comércio da capital. ''Um marco na transformação de Fortaleza em metrópole''. A ordem era vender a imagem que o congestionado Centro comercial, em torno da Praça do Ferreira, estava sendo substituído pela Aldeota.





A aldeia grande passava a ser um bairro com vida própria e, num canto só, reuniria 45 lojas, um supermercado da maior cadeia do ramo da América Latina e o moderno Cine Gazeta com 430 lugares. O estacionamento tinha vaga pra 450 fuscas ou kombis, ou gálaxis, brasílias, corcéis, maveriks...Tinha uma Samaritana, Aba Film, Armazém Esplanada, BD Sports, Caixa Econômica Federal, Bem-me-quer, Borogodó Confecções, Carvalho Borjes, Bou Tiko, Casa Parente, Casas Pernambucanas, Cruz e Ouro, Gurgel Cabeleireiros, Hidrel, Iacy Presentes, King Jóias, La Duce, Livraria Feira do Livro, Lojão Anfisa, Loteca Pap's, Sapataria Belém, Farmácia Adjafre, Martha Boutique Infantil, Mil Koisas, Mundialtur, Ocapana...

Menino cansou de ficar feito besta, no sol quente do dia 6 de novembro, esperando na fila pela tão sonhada volta no Jumbo. Rodava o quarteirão e quando chegava algum filho de bacana, ia na frente de todo mundo. Um saco. Tava dando na fraqueza, coisa ruim no juízo. Não ia poder esperar pelas 21 horas, horário da inauguração. 


Arquivo: Correio do Ceará/Renato Pires.

Ficou sabendo que iam servir um coquetel, ocasião da merenda de graça. Resolveu brincar na escada rolante. Subir no automático e descer correndo. Até enjoar. Não era novidade pra ele, o Romcy do Centro tinha uma. Mas não podia perder a viagem, veio de tão longe. Rodolfo Teófilo... Pensou em lanchar no Kom's e Beb's. Resolveu deixar pra outro dia, pra algum dia. Quando crescesse e não tivesse no bolso apenas o certo para pegar os ônibus da volta. Antes de escurecer deu o pira!


Arquivo: Correio do Ceará/Renato Pires.

Noutro dia, ainda ressaqueado do sol, procurou no jornal o paradeiro do elefante e leu a seguinte besteira: ''Para o sr. Tasso Jereissati, incorporador do Center Um, pode-se medir o grau de civilização de uma cidade pela qualidade dos serviços que são postos à disposição do público. Comprar, por exemplo, pode ser um momento de civilização... E por que a patota vai lá? Porque lá no Center Um se encontra tudo o que a gente precisa. Supermercado total com número e variedade de mercadorias jamais vistos juntos, num mesmo estabelecimento. Lojas pra comprar o que a gente ia comprar ''na praça'', agora tudo num confortável e simpático prédio único... Um charme poder dizer: comprei no Center Um...'. Por gostar do Centro de Fortaleza, da Rua, da Praça, menino se sentia meio índio, anticivilizado. O problema, não compreendia, é que o Jumbo morava na Aldeota e não na Praça do Ferreira. Quem tem de 35 pra lá, não me deixa mentir e ainda hoje chama o Pão de Açúcar de Jumbo.

Texto de Demitri Túlio



Imagem capturada do Filme O Homem de Papel de 1976


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