Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

sábado, 3 de abril de 2010

Estoril - Vila Morena


Local onde seria construída a Vila Morena, Estoril. Acervo IGHB-IMS. Datada de 1908

 Na época da Vila Morena - Acervo Carlos Juaçaba


Ícone da “boemia” da Praia de Iracema, a antiga Vila Morena, ou residência dos Porto, foi construída pelo comerciante pernambucano José Magalhães Porto, entre 1920 e 1925, sendo a primeira construção de destaque da então Praia do Peixe. José Porto desafiou os conselhos de amigos, que o alertava que a praia era perigosa e suas ondas eram muito fortes, instalando ali a sua moradia e dedicando o nome dela, como era usual à época, à sua amada esposa Francisca Frota Porto, de apelido ‘Morena’. A residência conservava ao redor lindo jardim onde também eram criadas algumas aves. Dizem que foi a primeira moradia com piscina de Fortaleza
Localiza-se na rua dos Tabajaras, 397 - Praia de Iracema.

Cartão postal colorizado à mão, no qual vemos a antiga Praia do Peixe nos anos 20, época da construção do Estoril. 

Sobre seu proprietário, é interessante salientar que ele ajudou o antigo Porto das Jangadas, que depois recebeu o nome de Praia do Peixe, a se chamar Praia de Iracema, bem como influenciou para que as ruas próximas à Vila tivessem seus nomes inspirados em tribos indígenas do Ceará, a rua da sua residência recebeu o nome de Rua dos Tabajaras.

Para a edificação da sua ‘Vila Morena’, ele utilizou a taipa (técnica construtiva vernacular à base de argila (barro) e o cascalho. Provavelmente, a taipa de mão, também conhecida como "à galega" em Portugal) e a ergueu sem ajuda de engenheiros. As paredes eram armadas de madeira (varas) com barro e pedaços de tijolos e pedras - tinha  portas e janelas com vidros importados, duas escadas "caracol", "frades de pedra" na frente, calçadas em pedra cristal em preto e branco tendo no centro as iniciais JMP que também eram usadas nos portais, vitrais coloridos com a inscrição "Vila Morena" no alto da torre. Foram empregados materiais nobres, importados da Europa, como as vidraças das portas que vieram da França, as duas escadas de ferro em caracol, fabricadas na Inglaterra e os vasos sanitários e louças oriundas da Alemanha.

                       Foto de 1943 - Detalhe para o clube de veraneio da época.
Foto do tempo do United States Office - USO

Serviu de residência para a família Porto até 1942, mas com a chegada da Segunda Guerra Mundial, a família desloca-se para outra casa ao lado e arrendam a Vila Morena para às tropas americanas, que em 1943, o transformaram em cassino, sob a denominação de U.S.O. - United State Office. Era o clube de veraneio dos soldados. Nessa época, a Praia do Peixe já era Praia de Iracema, nome dado pela cronista Adília de Albuquerque, esposa do jornalista Tancredo Moraes.
 

Nesta época, o bairro ganhou visibilidade social como uma fase de glamour para a Praia de Iracema. O clube, de acesso quase exclusivo dos estrangeiros, teve na cidade grande repercussão e isso devido às suas noitadas patrocinadas pelo governo americano, com danças, jogos e shows de célebres artistas do cinema. São vários os relatos de que esse clube tornou-se um atrativo para as moças, que se dirigiam ao local para namorar os oficiais americanos, ficando conhecidas na cidade como Coca-colas.

A Vila Morena ainda com a placa da USO

Segundo Marciano Lopes, as "Coca-colas" surgiram, simultaneamente, com a chegada dos soldados americanos, no alvorecer dos anos 40. Melhor dizendo, elas foram consequência da permanência daqueles militares ianques em nossa capital. O epíteto Coca-Cola surgiu do fato de elas terem o privilégio de tomar o famoso refrigerante americano que, àquela época, a gente só conseguia "saborear" através dos filmes made in Hollywood. Também, por ser a Coca-Cola um dos mais conhecidos símbolos americanos. Em suma, foi alguma mulher feia e despeitada ou algum machão desiludido quem apelidou as atrevidas moças de "coca-colas."
As Coca-Colas eram moças da sociedade, bem nascidas, de famílias tradicionais, lindas, elegantes, vistosas, inteligentes, educadas e imponentes, que tiveram coragem de enfrentar as críticas e condenações da época. 

As Coca-Colas dançando com os soldados americanos na década de 40.

Militares norte-americanos no Estoril com algumas Coca-Colas na década de 40.   


A partir de 1948, dois portugueses (João Freire de Almeida e Antônio Português) alugam a casa e abrem um restaurante, que daria nova identidade a Vila Morena, o Restaurante Estoril (referência a uma freguesia portuguesa do concelho de Cascais), com especialidade em pratos portugueses. Em 1952, José Alves Arruda, conhecido por Zé Pequeno, assumiu a direção da casa, que passou a receber a boêmia de Fortaleza composta principalmente por intelectuais. 

A Vila Morena após a Segunda Guerra a abrigar o Estoril bar e restaurante que abrigava a intelectualidade fortalezense. Arquivo Nirez

   
Já na década de 60, o Estoril vira palco de veladas discussões políticas, fato que o tornou alvo de especial atenção para o governo durante o período da Ditadura Militar. Os discursos dos meios de comunicação também reafirmam esta representação descrevendo o Estoril, nos anos 60, como o lugar de “setores intelectualizados da cidade”.

Estoril de perfil em 1978 - Arquivo Nirez 


Com a intensificação da especulação imobiliária, no final dos anos 80, o bar e Restaurante Estoril, mesmo funcionando em precárias condições físicas e de higiene, continuava a ser referenciado nos meios de comunicação como ícone da boemia da Praia de Iracema. 

 Foto do Livro de Luciano Maia- acervo Renato Pires

 Foto do Livro de Luciano Maia- acervo Renato Pires

Em 1986 ele recebe normas de proteção, preservação e conservação em documento assinado pela prefeita Maria Luíza Fontenele, após reivindicações da Associação dos Moradores e através do Projeto de Lei de autoria do vereador Samuel Braga.
O valor simbólico do edifício chegou a encobrir os riscos causados pela falta de segurança e limpeza, tanto que, mesmo após ser interditado pela Vigilância Sanitária em 1989, foi reaberto no dia seguinte, por intervenção do prefeito da época. 



Apesar dos vários alertas feitos à municipalidade, do perigo que corria a casa que aos poucos se deteriorava nada foi feito, até que o prédio ruiu em 1992, sendo então desapropriado pela Prefeitura Municipal que o comprou da família Porto pelo valor de US$ 250 mil e o tombou como patrimônio cultural em 1993 com objetivo de ser transformado em um Centro Cultural. Porém, em virtude do seu estado, em 1994 a torre e parte da fachada desmoronam em decorrência de uma chuva. Após esse fato, que foi intensamente noticiado pela mídia, a prefeitura assumiu a sua imediata reconstrução, isso ocorre na administração do prefeito Antônio Cambraia. A casa foi reconstruída, no entanto, usando concreto armado e alvenaria, quando a casa original era de taipa. O antigo edifício foi substituído por uma réplica, com algumas modificações na planta original. O prédio, coberto por telha marselha, possui dois pavimentos e uma torre. Passou a ser administrado pela municipalidade, sendo inaugurado em 31 de maio de 1995, como Centro Cultural da Praia de Iracema, com restaurante, bar, sala para exposições e espaço para cursos de arte e cultura.
 
 Foto do Livro de Luciano Maia- acervo Renato Pires


 Foto do Livro de Luciano Maia- acervo Renato Pires


Em 2008 passou por nova reforma, que incluiu, entre outros itens, a recuperação de revestimentos de piso, teto e paredes, esquadrias, recuperação da coberta, demolições de acréscimos na edificação original, melhoria das condições de acessibilidade, sendo instaladas rampas, plataforma para acesso à parte superior do prédio, banheiro para pessoas com dificuldade de locomoção e elevador. O equipamento foi restaurado por meio do projeto ‘Nova Praia de Iracema’. Após a conclusão das obras, o Estoril foi novamente aberto para ser o novo carro-chefe do polo gastronômico e cultural da Praia de Iracema. O Estoril era entregue novamente aos intelectuais, boêmios, artistas e para todos aqueles que amam Fortaleza! 

  Foto do Livro de Luciano Maia- acervo Renato Pires

  Foto do Livro de Luciano Maia- acervo Renato Pires

O Estoril - Acrílico sobre tela de Tarcísio Garcia







Fontes: Portal da História do Ceará de Gildácio Sá/ Arquivo Nirez



sexta-feira, 2 de abril de 2010

Ruas de Fortaleza - Mudanças(Rua Senador Pompeu)




As duas casas que aparecem na primeira fotografia ainda existem e a parte superior ainda está intacta. A parte inferior foi alterada, pois foram abertas portas largas para funcionarem nelas firmas comerciais, mas a parte superior apenas foi encoberta por imensos tapumes que deixam aparecer somente a parte superior do ornamento da casa mais alta, como pode ser visto na segunda foto. A foto antiga é aproximadamente do início da década de 20. Na esquina a Mercearia de Eduardo Benevides. Na primeira casa morava o senhor Jucaz e na segunda o desembargador Gabriel Cavalcante. As casas tinham os números 97 e 99. Hoje é apenas um prédio com o número 869.



As casas vizinhas não mais existem; a da esquerda (da 1ª foto) esteve ali até bem pouco tempo e era um estacionamento da firma A. Pinheiro. A outra, da direita, foi demolida para dar lugar ao edifício Santa Elisa, chamado popularmente "Gilette", que teve na esquina a Farmácia Confiança, no andar térreo. Na casa 869 moraram descendentes do desembargador Gabriel Cavalcante, como Thomaz M. Cavalcante, até que em 1980 foi vendida a uma firma comercial.

A Segunda foto é de 1978, quando ali passou a funcionar a firma dos calçados Clark, que fez o tapume até hoje existente.
Do lado esquerdo da foto, no lugar da garagem de A. Pinheiro S/A, passou a funcionar uma das lojas "A Esmeralda" que ocupou as duas casas, fazendo galeria até a rua Barão do Rio Branco, vindo depois as "Lojas Americanas".




A terceira foto é mais recente e mostra o mesmo ângulo como hoje está. Continuam as "Lojas Americanas", a "Laser eletro magazine", "A Esmeralda", que também fazem galeria até a Barão do Rio Branco e do lado direito da foto, a farmácia Padre Cícero, que fica nos baixos do edifício Santa Elisa ("Gilette"), no lugar anteriormente ocupado pela Farmácia Confiança e da antiga mercearia Eduardo Benevides, que era o nº 101.







Crédito: Portal do Ceará e Arquivo Nirez



terça-feira, 30 de março de 2010

Fortaleza - Anos 40


Começaremos nossa viagem rumo aos anos 40 com essa magnífica fotografia (é o novo! rsrs) da Praia do Mucuripe - Ano de 1949.


Agora um raro postal da Ponte Metálica - Ano de 1946



Outra raridade é essa foto do Estádio Presidente Vargas( O P.V.) de 1940



Postal do Mucuripe - Anos 40



Imprensa Oficial década de 40



Por falar em fotos raras, essa é da Escola doméstica, situada na antiga rua Visconde de Cauype, hoje Avenida da Universidade.



Ed. Vitória - Anos 40



Postal da Praça do Ferreira - 1946



Praia de Iracema - 1946



Postal de 1940 vendo-se o Colégio Militar, na Av. Santos Dumont, a Igreja do Cristo Rei que está de costas na foto. O Colégio Militar, ainda sem piscinas e a praça ainda era apenas praça, sem o campo de futebol.



Vista da entrada do estádio Presidente Vargas o famoso PV, na déc. de 1940.



Solar de Luiz Moraes Correia, em Jacarecanga 'A Fortaleza dos anos 40' Uma das mais imponentes residências da cidade, precisamente na esquina da praca do Liceu com a Av. Francisco Sá olhando o jardim da casa de Pedro Philomeno Gomes.



Anos 40 - Abrigo Central edificado em 1942 e demolido em 1967



Outra foto do antigo Abrigo Central, agora um postal de 1949



R. Barão do Rio Branco, em 1941, vendo-se o ed. do London Bank



Prédio do IAPB, foto de 1943



Praia de Iracema - Década de 40



Postal de 1940 da Rua Major Facundo



Postal colorido a mão, Ed. São Luiz, 1940



Postal 1946 praia de Iracema



Igreja do Carmo - 1945



Estoril - Foto de 1940. Em 1943 ele foi o clube de veraneio da época


Fonte: Internet

segunda-feira, 29 de março de 2010

Edson Queiroz - A Família



O apoio de uma mulher


"Esperto, tinha um táxi" 


“Conheci Edson Queiroz na praça do Carmo, onde morei 16 anos. Ele estava sentado num banco da pracinha mais tradicional do centro de Fortaleza. Eu, minha irmã e uma prima estávamos passeando.
- Quem é esse? - perguntei.
- Veja a placa do carro - respondeu uma delas. - É um motorista de táxi.
Mesmo assim, resolvi voltar e dar uma olhada.” Quem conta o conhecimento dos dois jovens é Yolanda Vidal Queiroz, que explica também a confusão da irmã e da prima: "O carro dele, com chapa de táxi, era a forma que Edson, em 1945 , tinha arrumado para conseguir combustível na época da guerra, quando havia racionamento".

O jovem as seguiu até em casa. Num depoimento de 1985, Yolanda lembra que, na romântica caminhada, ele veio conversar. "Um mês e dezoito dias depois estávamos noivos."

A praça e a Igreja do Carmo, onde Edson e Yolanda se viram pela primeira vez


Edson e Yolanda se conheceram em 28 de fevereiro de 1945. Ela estava com 16 anos. Nascera em 12 de novembro de 1928, em Fortaleza, filha de Luís Vidal, nascido em Estreito (posteriormente chamada Santana do Acaraú), e Maria Pontes Vidal, de Massapê. Luís era comerciante e, em 1925, quatro anos após o casamento (em 1921), mudara-se para Fortaleza, onde montara um armazém de peles e tecidos, que lhe rendera o suficiente para comprar fazendas e carnaubais. O casal teve cinco filhos.

Um deles, Luís, morreu aos 3 anos de idade. Ficaram quatro: Dagmar, Zilmar, Yolanda e José Maria. O pai de Yolanda, Luís Vidal, entretanto, morreria em 2 de janeiro de 1938, deixando a mulher e os filhos em boa situação financeira.

Na foto 3x4 o amor declarado

 
A hora de cortar o bolo, na presença da mãe Cordélia, do pai Genésio, da sogra Maria Pontes Vidal e da cunhada.

Setembro, um mês marcante para os Queiroz 

O primogênito Airton faz o primeiro aniversário 

Maria Pontes Vidal aprendera a ser mãe e pai de Yolanda. Assim que ficou sabendo da simpatia entre a filha e Edson, mandou investigar se o jovem tinha condições de montar e sustentar uma casa. Sócio da Genésio Queiroz & Cia e com vários pequenos negócios em sociedade com o pai, Edson já desfrutava de uma situação financeira invejável para seus 20 anos de idade.

Pouco mais de seis meses após a troca do primeiro olhar, Edson e Yolanda Queiroz se casaram, a 8 de setembro de 1945, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, na presença de parentes e amigos das famílias dos noivos.

"Segundo a classificação de Koppen - informa o Almanaque do Ceará de 1941- o Ceará está contido na zona tropical, caracterizada pela extensão do período quente sobre todo o ano. " Efetivamente, a temperatura de Fortaleza varia de 26° a 30º, beneficiada pela proximidade do mar, não se percebendo, como acontece nos Estados do extremo Sul do país, as nuances das quatro estações do ano. Seja como for, o início da primavera teria uma influência marcante sobre a vida do casal. Edson e Yolanda foram morar na rua Dom Manuel, 446, e mudariam de residência três vezes ( para o número 566 da mesma rua em 1947, para a rua Barão de Aracati, 1546, em 1954, e para a rua Oswaldo Cruz, 712, em 1958 ). Todas as mudanças ocorreram no mês de setembro.

O primeiro aniversário de Myra Eliane

Um chaveiro para um plano de oito filhos 

Da esquerda para a direita: Airton, dona Yolanda, Paula ( no colo ), Renata, Edson Filho, Edson Queiroz e Myra Eliane 

Apenas um ano depois do casamento, nascia o primeiro filho do casal, Airton José Vidal Queiroz, a 14 de agosto de 1946. No ano seguinte, a 7 de novembro de 1947, nasceria a primeira filha mulher, Myra Eliane Vidal Queiroz. Na casa 566 da rua Dom Manuel, nasceriam outros dois filhos: Edson Queiroz Filho, em 6 de outubro de 1951, e Renata Vidal Queiroz, em 11 de junho de 1954. Os filhos caçulas do casal já nasceriam na casa da Barão de Aracati, 1546: Lenise Vidal Queiroz, em 25 de setembro de 1956, e Paula Vidal Queiroz, em 25 de abril de 1958.

Aniversário de Edson Queiroz de 1973 

Yolanda Queiroz recorda com ternura os primeiros anos de vida com o marido. Mesmo após a compra da companhia de gás, em 1951, continuaria viajando o tempo todo, para os Estados Unidos, para o Sul do país.

Nas constantes viagens, Edson se esquecia das datas dos aniversários dos filhos. Por isso, Yolanda fez para ele um chaveiro com espaço para oito nomes, onde mandou gravar as datas de nascimento de cada um. A razão do espaço para oito nomes é simples: ela queria ter oito filhos. Dois espaços, contudo, ficariam vazios, porque ela resolveu desistir, parando no sexto filho.

Homem temente a Deus, segundo a filha Renata, Edson nem sempre acompanhava a mulher aos cultos e às cerimônias religiosas, mas respeitava-lhe a religiosidade. "Ele aliás, sabia respeitar a individualidade de cada um."

Um pai preocupado e sem tempo

Os melhores dias da infância dos filhos passaram-se na casa da rua Oswaldo Cruz. "Edson, apesar das viagens e dos muitos negócios, sempre conseguia um tempo para a família, sobretudo nos últimos anos de vida", conta Yolanda, que assumiu como tarefa sua a criação dos filhos. Ela controlava os horários e as obrigações de cada um. Cronometrava tudo, a hora de brincar, os períodos de estudo. "Edson não tinha trabalho com os filhos. Só me ajudava quando os filhos estavam doentes, porque ele tinha um 'quê' de médico. Tratava deles. " Anos mais tarde, o empresário superatarefado seria também o "médico" dos dez netos. Antes de chamar um profissional de saúde, as filhas e as noras telefonavam primeiro para o sempre pronto avô. Durante o período de crescimento dos filhos, Edson Queiroz certamente se ressentia por não ficar com eles o tempo que gostaria e assim, paradoxalmente, se transformava num homem caseiro. Quando estava em Fortaleza, fazia questão de almoçar com a família. Yolanda, conhecedora dos seus gostos, orientava as empregadas, informando-as que ele preferia carne grelhada, peixe cozido ou frito e, invariavelmente, feijão. A sobremesa, saboreava coco ralado com rapadura ou doces caseiros.


 
Na foto, dona Yolanda com os netos

Das inúmeras viagens, sempre trazia brinquedos para os filhos - e depois para os netos. Mas sua preocupação não era trazer brinquedos caros e sim as novidades da Europa e Sul do país.

Um episódio com Edson Filho é ilustrativo da preocupação de Edson Queiroz com a saúde dos filhos. Um dia, a Kombi que levava o menino para a escola teve um acidente relativamente grave, mas nada aconteceu a seus ocupantes. Edson Queiroz estava em casa quando o telefone tocou e avisaram, mas ele, por alguma razão, entendeu que o menino se machucara. De pijama mesmo entrou no seu automóvel e saiu desesperado, em alta velocidade, subindo nas calçadas, avançando os sinais e acabou se chocando com um ônibus. Resultado: ele é que foi hospitalizado. Edson Filho estava bem perto e viu tudo.

Apesar de almoçar em casa diariamente e da sua preocupação em ensinar sempre alguma coisa nova aos filhos - numa semana mostrava como se faz sabão, na outra como se faz tinta, corta-se garrafa ou revelam-se filmes fotográficos, Renata recorda-se que o pai era muito ocupado, quase sem tempo para os filhos. "Eu vim conhecê-lo melhor nas férias, quando se tornava um homem liberto. " Em viagem guardava todas as rolhas das garrafas e premiava os filhos mais comportados. "Paula sempre ficava com elas." Renata ainda traz viva na memória uma cena ocorrida na Suíça, quando lá estudava, em pleno aeroporto, quando Edson Queiroz se despedia dela, voltando ao Brasil. "De repente, surpreendi uma lágrima rolando de seus olhos. Ele chorava. Isso me surpreendeu e eu aprendi que ele era muito humano. "

Um filho engenheiro, as filhas trilíngues

 Família reunida no casamento da filha Paula

Edson Queiroz, segundo a mulher, tinha um sonho frustrado: o de ser engenheiro. Por isso, fez o que pôde para que seu filho mais velho, Airton, cursasse Engenharia. Quando terminou a Escola Técnica de 2.' grau, ele foi para São Paulo e conseguiu ingressar na FEI (Faculdade de Engenharia Industrial), mas só ganhou seu primeiro automóvel depois de seis meses. Estudava na FEI durante o dia, e no Mackenzie, onde fazia Economia, à noite. Depois de algum tempo, desistiu do curso de Engenharia, que fazia mais para agradar ao pai e retornou a Fortaleza. Começou a trabalhar na Esmaltec em 1968 e teminaria o curso de Economia no Ceará. Embora tenha desistido do curso de Engenharia, o pai fez questão que conhecesse os segredos da produção industrial e ele, de macacão, estagiou em todos os setores, nas prensas, na esmaltação e nos laboratórios. "Tive que me virar para aprender", confidência Airton, que só era instruído pelo pai verbalmente. Em 1970, já enfronhado em assuntos da fábrica, foi promovido por Edson Queiroz a gerente. No ano seguinte, logo após sua lua-de-mel, Edson Queiroz organizou para ele (com Mr. L. H. Caldwell Jr., diretor da Modernmade) um estágio na fábrica de fogões de Chatanooga, Tennessee, EUA.

O segundo filho homem do casal, Edson Filho, fez Engenharia, tendo iniciado o curso em São Paulo e o concluído em Fortaleza, porque, em conjunto com o pai, decidiu ser conveniente começar a trabalhar em 1973, na Esmaltec. Segundo Airton, a iniciação do irmão foi mais fácil "porque eu estava lá para orientá-lo". Dois anos depois, Edson Filho ocuparia o lugar de Airton e este, a convite do pai, foi trabalhar no escritório central do Grupo, ocupando o lugar de Edson Queiroz, que se mudou para outra sala.

Um momento de ternura nas Bodas de Prata

Dos outros filhos, Myra Eliane estudaria Direito. Quando se desquitou do marido, em 1973, Edson Queiroz a convidou a trabalhar no departamento jurídico do Grupo. Renata cursaria Administração de Empresas, Lenise, Economia e Paula, Pedagogia e Direito. Yolanda fazia questão que as filhas falassem fluentemente o francês e o inglês. Por isso, todas passaram dois anos no exterior, em Lausanne, na Suíça, e Londres, na Inglaterra.
Além de Myra, Edson Queiroz também convidou Lenise para trabalhar com ele.

 
Edson Queiroz e seu hobby: a fotografia

"Médico" e Mágico dos netos

O primeiro neto de Edson e Yolanda Queiroz, Igor Queiroz Barroso, nasceria em 19 de janeiro de 1972. À época de sua morte, em junho de 1982, Edson Queiroz tinha outros nove netos: Patrícia Leal Queiroz e Edson Queiroz Neto, Manoela Valença Queiroz e Otávio Valença Queiroz , Joana Queiroz Jereissati, Natália Queiroz Jereissati e Carla Queiroz Jereissati , Abelardo Gadelha Rocha Neto e Cláudio Queiroz Rocha .

Yolanda Queiroz informa que a relação do marido com os netos era "bagunçada". "Sempre que possível, levava alguns netos para dormirem em casa. " Para os netos, Edson Queiroz fazia mágicas e era o chefe da "boate" - ou seja, o quarto do casal, onde ele ficava horas brincando com as crianças. O filho Airton acredita que "ele passava com os netos o tempo que gostaria de ter passado conosco e não pudera".

Desde jovem gostava de fotografia. Teve seu próprio laboratório em casa, à Av. Dom Manuel, 566. Este hobby ele praticou por toda vida, fotografando a família e momentos das viagens com Yolanda. Das sextas-feiras à noite, quando chegava em casa, às segundas-feiras, quando saía para o trabalho, ficava fazendo mágicas para os netos, revelando fotografias ou vendo televisão.

Uma reunião de família, nas bodas de ouro dos pais

No Diário do Nordeste, de 9 de junho de 1982, a colunista social Sônia Pinheiro registrou um episódio do casamento da caçula Paula com Sílvio Ricardo de Oliveira Frota, em 10 de março do mesmo ano, que é revelador do comportamento em sociedade de Edson Queiroz. "Tinha mania de cantar em cada final de festa", escreveu ela, "tanto nas que costumava 'anfitrionar', como nas recepções comandadas pela lista afetiva. Era um costume seu que coloria cada ambiente. Assim eu o vi nas várias versões da 'Sereia de Ouro', que ele realizava para homenagear figuras de valor da sua terra, como também no casamento da caçula Paula com Silvio Frota. Naquela ocasião, passada a solenidade, ele tomou o microfone do crooner do conjunto e cantou com amigos, filhos e netos."

José, o irmão

Em meio à sua agitada vida, Edson Queiroz sempre achou um tempo para manter uma vida próxima à avó Herminda, à mãe Cordélia, aos irmãos e ao pai Genésio, seu conselheiro até o fim e que lhe sobreviveria em dois anos, tendo falecido em 15 de julho de 1984. Um de seus maiores amigos durante toda a vida foi o irmão José Antunes Queiroz, nascido em 19 de março de 1932.

Sete anos mais novo, José teve em Edson um segundo pai, capaz de orientá-lo e compreender suas bravatas e ousadias de jovem. Era simpático, elegante e fazia sucesso com as mulheres, mas acabou casando com uma jovem de Belém do Pará. Dos seis irmãos, foi o único ligado ao esporte , sobretudo à natação e ao remo. Era bom no iatismo, automobilismo e fazia grandes exibições e longos passeios no mar, quase sempre acompanhado. Numa das exibições, em 1964, a lancha virou e seu corpo só foi encontrado onze horas depois. A morte do irmão foi um dos momentos mais tristes para Edson Queiroz.

"Eu dava tranquilidade a ele”

 
Segundo dona Yolanda, essa foto é a que melhor reflete a figura de Edson

"Um dia - e isso aconteceu muitas vezes -", conta Yolanda Queiroz, "Edson me convidou para ir ao cinema. Era a época da construção da fábrica de fogões. Demos uma passada por lá, ele desceu -'espere uns dez minutos' - e eu fiquei rezando e dormi. Quando Edson voltou eram quatro horas da manhã. Minha parte no trabalho dele era essa: não atrapalhar suas iniciativas, apoiá-lo, acompanhá-lo, tomar conta da casa e dos filhos. Ele não tinha tempo para ver nada, eu dava tranquilidade a ele". A avaliação de Yolanda a respeito de sua contribuição ao marido é bastante modesta. Na verdade, ela era também a conselheira, a interlocutora válida, cujas opiniões ele sempre respeitou. Ele tinha o hábito de estudar minuciosamente cada novo projeto, cada nova possibilidade de negócio. E sempre valorizou as opiniões da mulher, a ponto de discutir cada um de seus projetos com ela. Comenta-se que a troca de idéias com Yolanda era um momento chave no processo de decisão de Edson . Após a conversa com Yolanda, ambos iam à casa de Genésio Queiroz, o pai, e com ele conversavam horas a fio. Edson também sempre prezou muito as opiniões do pai e jamais fez um negócio sem antes consultá-lo.

Se o juízo de Yolanda a respeito de sua contribuição é tão modesto, Edson Queiroz a julgava bem superior, considerando-a sua "fonte de inspiração".

 

Em 5 de agosto de 1976, falando aos formandos da Universidade de Fortaleza (instituição mantida pela Fundação Edson Queiroz), concluiu assim seu discurso: "As palavras que vos dirijo traduzem os sentimentos da Patrona das vossas turmas, dona Yolanda Queiroz, minha mulher, co-responsável pela fundação da Universidade de Fortaleza e cuja presença em meus dias constitui uma fonte de energia e inspiração".

Veja também:

Edson Queiroz - Infância

Edson Queiroz - Juventude



 Crédito: Livro Edson Queiroz: Um homem e seu tempo de Mario Ernesto Humberg, 1986. 

Agradecimento


Hoje eu gostaria de agradecer as gentis palavras da Rãnzinha (Valéria) que carinhosamente homenageou esse humilde blog :) e me deixou muito lisonjeada!!! "Nos finais de semana, durante aqueles momentos de tédio total, fuçar na internet pode ser uma boa maneira de encontrar coisas bastante legais, outras nem tanto, pra poder passar o tempo...Foi isso que aconteceu neste sábado de noite...Há blogs muito interessantes por aí, feitos por cearenses que se dedicam..e que mostram coisas bacanas do nosso Estado... Bem, o achado desta vez foi o blog Fortaleza Nobre, feito por Leila Nobre (amei o trocadilho do sobrenome fazendo referência também à cidade). Enfim, Leila capricha nas pesquisas e nas fotos mostrando nossa cidade e alguns pontos importantes de Fortaleza há alguns anos. Mas ela ganhou realmente meu status de fã do blog ao postar sobre o colégio Marista (Ow colega, esse me pegou pelo cora)..rs...Estudei no Marista Cearense entre 1996 e 2000 (e foi a época mais fantástica da minha adolescência)...Em breve vai ter um post aqui contanto todos os "causos" desse período...rsrsrs O blog Fortaleza Nobre está aí, para todos os interessados de plantão... vale a pena conferir..ele sempre está atualizado, com novidades... Há muita coisa interessante...Se você tem curiosidade de ver como era o bairro do Meireles ou Aldeota...a Praça do Ferreira...ou as ruas mais importantes do centro em mil novecentos e bolinha...e muitas outras coisas BACANAS acesse: http://fortalezanobre.blogspot.com/ APROVADO!!!! "

Dei um print no post:


Eu só posso dizer muito, muito, muito obrigada pelas palavras!!!

Ah, queria ter agradecido pessoalmente(no próprio blog da Rãzinha) mas infelizmente não tem como comentar por lá rsrsrs

Para conhecer o blog da Rãzinha, basta clicar AQUI

Ou digitar http://www.radebananeira.blogspot.com/ no seu navegador.


NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: