Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O bonde (IV) - Soares Moreno


Bonde elétrico Soares Moreno nº 73. Arquivo Luis Antonio Alencar

Assim, a cidade de Fortaleza, por estar dividida em quadrantes, a zona oeste era servida por três linhas de bonde - Jacareacang
a, Via Férrea, por assim dizer, e a linha Soares Moreno, da qual nos ocuparemos agora.

Na retangularidade de um quadrilátero a linha do bonde Soares Moreno - saía da Praça do Ferreira, ponto de convergência de quase todas as linhas, e tomava rumo pela Guilherme Rocha até a rua Tereza Cristina, dobrando à direita e, nesse percurso atingia a esquina da Rua Senador Castro e Silva, onde dobrava à esquerda para estacionar de frente ao Cemitério São João Batista - também conhecido como aprazível “chácara do Sr. Cândido Maia” - decantado nos versos da poetisa Letícia Câmara - tia de D. Hélder Câmara, irmã do dramaturgo teatrólogo Dr. Carlos Câmara. Mas voltando à vaca fria, para ligeira e jocosa explicação sobre a denominação dada ao cemitério. Prendia-se ao fato do Sr. Cândido Maia ser à época o administrador do Cemitério São João Batista, após a mudança do local que deu origem ao segundo. Pois o Cemitério São Casimiro, como anteriormente era conhecido, situava-se ao lado da Estação Central onde hoje se localizam várias dependências da RFFSA (antiga R.V.C.).

Com valiosa informação de um dos maiores conhecedores da história do Ceará, pela vivência no tempo e possuidor de prodigiosa memória - dizia meu inesquecível avô, padrinho e benfeitor - Prof. Dias da Rocha... que na década de 1870 a epidemia que assolou nossa cidade tomou proporções tão agigantadas, que o Cemitério São Casimiro ficou impossibilitado de proceder como fazia antes o sepultamento, diante do grande número de pessoas estrangeiras que aqui chegavam e eram acometidas da peste, razão pela qual abriu-se vala comum para sepultar os vitimados pela peste bubônica.

Dessa forma deu-se início ao Cemitério São João Batista - 1880, sob administração do Sr. Cândido Maia, que durou por muitos anos, passando mais tarde a administração ao construtor licenciado - Marcelo Galvão, o qual permaneceu por longos anos administrando o “Campo-Santo”, como era também conhecido. E como estamos a alguns passos das covas de entes queridos, vale agora lembrar o escrito na lápide do grande poeta Quintino Cunha, onde se lê:

“Diz a Sagrada Escritura,
Que Deus tirou o mundo do nada
E eu nada levei do mundo”

Dizem ainda que os boêmios prosistas aproveitavam o prateado “luar de agosto” e, com seus violões, prostrados à frente da “última morada” entoavam canções, evocando o passado e a lembrança dos entes queridos que dormiam o sono eterno no campo-santo. Também não poderia faltar quem na incredulidade cantarolava:

“incarquei, incarquei a cova dela
uma voz, uma voz lá do alto arrespondeu
Arritira arritira o pé de riba
Deixe o amor, deixe o amor que já foi teu”.

E por aí vão os cantores e trovadores que exprimem seu bem-querer e sua amizade por diversas formas - assim as louvações se repetiam na campa dos que se foram chamados pela morte (parca).
O nosso passageiro ilustre do bonde Soares Moreno é o abolicionista e intérprete comercial Alfredo da Rocha Salgado, morador da grande vivenda “Itapuca Vila”, cujo imóvel num estilo primoroso da arquitetura se sobressaía das demais casas e bangalôs da época. Ocupava quase uma quadra das ruas Guilherme Rocha - frente, Princesa Isabel - lado nascente, Tereza Cristina - lado poente e a poucos metros da rua Liberato Barroso.

Um pouco de sua biografia diz-nos que:

Alfredo da Rocha Salgado nasceu no dia 01.09.1855 e faleceu em 13.04.1947. Intérprete comercial nas línguas inglesa, francesa e alemã; funcionário da Casa Inglesa constituída por sociedade anônima sob o título - Casa Salgado S.A., de grande atuação na economia cearense, sendo a primeira a montar prensa hidráulica para o enfardamento do algodão no nosso Estado.

Entusiasta das causas nobres, foi abolicionista de primeira linha, dos de frente sem receio. Um dos fundadores da afamada sociedade mercantil “Perseverança e Porvir”, em 1879, sob cuja inspiração veio a formar-se a “Cearense Libertadora”, que agitaria e levaria até o final a luta vitoriosa da emancipação dos escravos na Terra da Luz. (Famílias de Fortaleza - Dr. Raimundo Girão, 373/375).

Apesar de ser bom cavaleiro e do animal muito se utilizar como transporte, entretanto na frente de sua chácara, os bondes obrigatoriamente faziam parada, que mais por privilégio atendia quem morava na Vila Ipu e adjacências.
O bonde Soares Moreno era utilizado essencialmente por pessoas que moravam nas ruas centrais até as ruas Pe. Mororó e Agapito dos Santos, bem como os assíduos frequentadores do Cemitério São João Batista, que diariamente visitavam os seus entes queridos como se cumprissem uma verdadeira obrigação de comparecer ao local do sepultamento como se vivo estivesse, ou não tivesse se conformado com a partida do ente querido para o mundo maior.

Assim, o dia de Finados, dia de prestar homenagem aos mortos, levando coroas, flores e velas, tornava grande o movimento na linha de bonde que se encarregava de transportar pessoas de outros pontos da cidade, à Cidade dos pés juntos”, como diz a gíria cearense.

Afinal, em 09 de novembro de 1913, com a presença do intendente municipal Guilherme César da Rocha, marcada pela alegria do povo, ocorre a festividade inaugural do tráfego de bondes elétricos na linha da Estação (Joaquim Távora), no dia 12 de janeiro de 1914, é inaugurada a linha entre a travessa Morada Nova e a Praia de Iracema, denominada Linha da Praia. No mês seguinte, a 14 de fevereiro de 1914, começava a funcionar a linha do Outeiro (Santos Dumont/Aldeota).

Cada passagem custava $100,00 (cem réis).

No livro “História da Energia no Ceará”, de Ary Bezerra Leite, afirma que “Promoção em favor dos estudantes, lançada em 1917, assegurava aos alunos menores de 14 anos das escolas ‘bem conhecidas’, abatimento de 50% das passagens mediante solicitação mensal da direção dessas escolas, constante de emissão de cadernetas de 52 bilhetes nominais e intransferíveis para uso durante o mês especificado e no período entre 6 (seis) horas da manhã e 6h30min (seis horas e trinta minutos) da tarde.” Existiam também “passes” que asseguravam gratuidade a seus titulares nas viagens de bondes, concedida aos empregados da empresa e a outras pessoas, por livre determinação da gerência.
Outro aspecto merecedor de realce refere-se ao fato de a Ceará Tramway Light procurar “desfazer-se do patrimônio insersível da antiga Ferro-Carril”. Por contrato de 31 de janeiro, assumiu a responsabilidade pela conservação e trato de 200 (duzentos) muares o Sr. Francisco Correia, a quem se conferia o direito de “preferencial de compra”.
Mais adiante acrescenta o professor Ary Bezerra Leite em “Os Bondes Elétricos The Ceará Tramway Light and Power Company LTDA”. - Os bondes a burro foram vendidos para empresa Teixeira Mendes, de São Luís, Maranhão, contando que, na chegada, alguns veículos foram jogados ao mar pelos catreiros que protestavam indignados pela compra de verdadeira sucata.
A Ceará Light - pelo que se sabe, fazia algumas concessões aos passageiros concedendo “passes” e outras benesses aos estudantes nos seus bondes; entretanto, tinha uma passageira honorária que nunca pagou passagem nem tão pouco lhe cobravam. Era por assim considerar “a passageira liberada de ônus” - “remida ex-causa” (liberada de ônus) ou “auctoritate propria” (por autoridade própria). Subia no bonde - de repente todos cediam lugar para sentar, não agradecia nem pedia lugar, tudo lhe era ofertado com o máximo respeito e maior cautela para não suscetibilizá-la no menor gesto.

Impassível, quase inerte, enquanto não lhe magoassem os calos, não incomodava ao vizinho nem com esse queria “papo”. Alguma vez se esse estivesse fumando pedia um cigarro... Enfim uma passageira “HONORÁRIA” que durante o período de aula do Liceu dificilmente subia no bonde Jacarecanga. Preferia pegar o Soares Moreno e a pé se deslocar para as casas de pessoas generosas que moravam na Jacarecanga e todos os dias lhe ofereciam almoço e jantar. Desnecessário citar as bondosas famílias.
Essa tão respeitada senhora, literalmente falando, não era senão - a famosa, temida e achincalhada - “Ferruge”. Por ser um tipo exótico e demais conhecida em toda essa nossa Fortaleza, marcou época nos anos 40 e 60 perambulando, percorrendo as ruas centrais, tomando assento nos bares, restaurantes, sem pedir nada. Não ingeria bebida alcoólica. Os esmoleres mais compadecidos ofertavam-lhe dinheiro, cigarros, lanches, etc. Cortavam-lhe os cabelos à moda masculina, ou seja, corte a máquina quase zero - hoje esse corte é bastante usado por atrizes e artistas de televisão - de tal forma o corte do cabelo que quando começava a crescer ela própria se encarregava de puxar os fios arrancando-os, fazendo uma “cara feia” de meter medo. Conduzia como parte de sua indumentária um lençol que a envolvia desde os ombros guarnecendo os braços, para se abrigar do frio das noites, nos locais onde pernoitasse.
Mas esse mutismo era quebrado quando algum aluno do Liceu, - mais freqüente - ou outro gaiato se escondia por detrás do poste de iluminação e gritava: “A Ferrugem é homem” - aí acabava o tempo bom. De repente ela se arvorava, abria o dicionário de pornografia e terminava por exibir as partes pudendas e, batendo com a mão na genitália, dizia: - “Taqui não sou homem não!... seu f.d.p!...”.
Por conseguinte, da “Ferruge” nada se sabia em relação à sua origem. Parecia não ter família aqui e nem se podia atribuir a sua naturalidade diante do seu estado patológico. Insana, não sabia se comunicar. Era de baixa estatura, traços fisinômicos corretos, olhar denunciador da entidade nosológica de que era portadora. De certa forma compensada na sua infeliz sina, porque todos dela se compadeciam e na sua desdita não faltava quem dela se condoesse, ofertando-lhe um prato de comida. Após a refeição se prostrava debaixo do ficus-benjamin, geralmente o da casa do Dr. Pedro Sampaio, esquina da rua Guilherme Rocha com Av. Cel Filomeno Gomes; tirava suas sestas sem nenhuma preocupação, nem de saber se era tempo de plantar ou colher, e, nem de escolher os governantes - porque não sabia o que era eleição, eleitor, e muito menos o que significava o dever de votar, porque disso ela nada atinava e nem desconfiava por ser abúlica. Assim, alheia a tudo que a seu redor se descortinava, sem obrigações ou deveres, a vida não passava do simples amanhecer e anoitecer. Tinha como companheiro da noite, um céu azul anilado escuro, com estrelas cintilantes que vigiavam-na através das réstias que se infiltravam por entre as folhas das árvores a alcatifar o seu manto que servia de proteção ao frio. Ah! Quanta ironia do destino. Pobre “Ferruge” que da sorte foi enteada e como madrasta teve a vida como errante, deve hoje estar no céu. Da vida não tinha consciência por ser tudo sem importância, nem responsabilidade com o viver, por não ter conhecimento da própria existência. Talvez mais feliz do que os que na sua perfeita sanidade mental são verdadeiros desvairados... A “Ferruge” foi feliz porque na sua irresponsabilidade nunca teve o propósito do mal, não soube avaliar o bem, não pecou por pensamentos, palavras ou omissões, mas cumpria sem saber os Dez Mandamentos. Será que foi somente infeliz? Só Freud explica...

Zenilo Almada
Advogado


Gíria cearense - Naturalmente, com o afluxo de grande parte do povo cearense - e nordestino em geral - para outras regiões do Brasil, essa gíria se difundiu e hoje é usada largamente em nosso País.


Linha do Outeiro - (Santos Dumont/Aldeota)


Continua AQUI

Veja também:



Crédito: Artigo publicado no Diário do Nordeste - Fortaleza.
Ceará - Domingo, 8 de dezembro de 2002
e Fotos Arquivo Fortal


quinta-feira, 17 de junho de 2010

O bonde III

Bonde na Estação da RVC, 1918. - Arquivo Luis Antonio Alencar

Quem teve a felicidade de se transportar utilizando-se do bonde até os fins dos anos de 1947, e ultrapassou meio século de existência, pode ainda recordar para dizer da sensação que sentia até no balanço causado pela trepidação do bonde que vibrava no deslizar dos trilhos. Tão perfeitamente ajustados ao solo como duas listras de ferro que pareciam intermináveis na sua forma perpendicular. Na ardência do sol a pino essas duas listras negras reluziam como se fossem faiscar no calor, capaz de queimar quem ousasse pisar sobre as mesmas descalço. Era o trilho de ferro de intenso brilho e por onde os bondes passavam conduzindo passageiros. Contrariamente, à época invernosa, os trilhos parecia que se escondiam nas pequenas poças e regos d’água formados pelas chuvas caídas ao solo, como se estivesse das nuvens recebendo prenúncio da chegada do inverno; para isso o bonde se munia com o aparato das sanefas brancas listradas de verde, que acionadas verticalmente deslizavam por fresta e fechavam o compartimento de cada banco tornando-o protegido das águas das chuvas. O mesmo ocorria quando o sol estava a pino e muito quente. Embora, às vezes, essa fase invernosa não se prolongasse quase nada, contrariando o período de sua duração, do seu devido tempo, eis que a escassez pluviométrica se acentua e o nosso Ceará vem a sofrer as agruras de uma seca, que no seu império absoluto, expulsa levas e mais levas de nossos irmãos sertanejos que por aqui se achegam à procura de emprego e melhores dias para a família. Mas, mesmo assim, o sofrido cearense que de tudo tira proveito, até do sofrimento e da desgraça atmosférica, para amenizar o sofrimento causado pelo efeito da metereologia, arranja jeito para filosofar, quando resolve emigrar do sertão bravo e toma o trem rumo à Capital. E dentre eles surge sempre o matuto inteligente e astuto que quando desce do trem sabe que chegou à Capital; observa a diferença logo na Estação central, e quer satisfazer a curiosidade de conhecer o tão falado “bonde elétrico” que tem na Cidade e transporta gente, porque até então só conhece além do trem “o lombo dos animais”, automóvel, nem sabe se é “homem ou se é mulher”... Em aqui chegando e descobrindo o bonde verseja no repente: I Eu vim do sertão, pro’ mode vê A capitá do Ceará! Eu vi coisa do árcu da véia! Qu’i faz à genti siarripiá. II Q’uando eu cheguei na estação centrá Vi u’ma luz acendê sem pavio U’ma “gaiola cum nome de bonde”, Qui vinha danada pu riba du trilhu!! III Na casa em qui fui amoitado, Tinha u’ma “tirrina” no pé da mesa O povo cuspia dentro, Meu Deus nunca vi Tama-nhá nogenteza. Daí corria o olhar para cidade baixa, ou seja, a descida do curral das éguas e logo se engraçava de uma “grinfa” já traquejada e levava para dançar no Salão Azul ou no Bola Preta... ou para ver o “Açude do Sr. Boris” - a Praia Formosa. O nosso passageiro ilustre do bonde Via Férrea - é o naturalista, - o cientista Prof. Dias da Rocha, que morou durante 61 (sessenta e um) anos (de 1899 a 1960) na Rua 24 de Maio No 214, há exatamente uma quadra da Praça da Estação Central - entre as ruas Sen. Castro e Silva e Senador Alencar, vizinho à antiga Escola de Artífice do Ceará (esquina da Rua Senador Alencar). Um pouco de sua história: - “Dic. Barão de Studart”. Francisco Dias da Rocha - Filho do negociante português Joaquim Dias da Rocha e D. Francisca de Paula Rocha, nasceu em Fortaleza a 23 de agosto de 1869. Avós paternos: Dr. Maximiliano Dias da Rocha, que dirigiu durante alguns anos o antigo Colégio da Formiga, na cidade do Porto, e foi professor de Latim na mesma cidade, cadeira que obteve por concurso após a revolução de 1820, e D. Maria José Pinheiro Chagas, prima legítima do escritor Pinheiro Chagas. Avós maternos: Professor Francisco de Paula Cavalcanti e D. Cosma Rufina de Pontes. Começou seus estudos em 1880 nos Colégios S. José e Atheneu Cearense, mas teve de os suspender em 1886 para dar um passeio a Europa d’onde voltou no ano seguinte. Tinha o propósito de completar os preparatórios para seguir a carreira de Medicina, o que aliás não realizou a conselho do pai, que via nele o continuador de sua casa comercial. Constrangido, abraçou essa carreira, mas ao mesmo tempo dedicava as horas que lhe sobravam às leituras das Ciências Naturais e à aquisição de espécimes da fauna e flora cearense. Em 1898, deixando o comércio, entregou-se completamente aos estudos das ciências, suas prediletas, e tomaram tal incremento suas coleções que organizou um valioso museu a que deu o nome de “Museu Rocha”, o qual se compõe de seções: Botânica, Arqueologia, Minerologia e Zoologia, e um jardim com coleções de Fougeras, Cactáceas e Aráceas cearenses e de muitas outras plantas. Para maior divulgação das raridades que possui, e como instrumento de estudo, deu início à publicação do Boletim do Museu Rocha. O primeiro número dessa interessante publicação, correspondente a janeiro, foi impresso nas oficinas do Cruzeiro do Norte, editora e Livraria Araújo e distribuído a 6 de junho de 1908. - “Dicionário Bio-Bibliográfico Cearense pelo Dr. Guilherme Studart - Barão de Studart - Volume Primeiro - 1910. Pág. 292”. O Prof. Dias da Rocha, juntamente com outros estudiosos fundaram em 1916 a Faculdade de Farmácia, da qual foi ao mesmo tempo aluno e professor de Botânica Aplicada à Farmácia e História Natural. Em 1918, mais uma vez, congrega-se com novo grupo para fundar a Escola de Agronomia do Ceará, onde foi seu segundo diretor e professor de Fitopatologia e Botânica, recebendo mais tarde em sua homenagem, o Centro Acadêmico Dias da Rocha, o seu nome e, em seguida, por iniciativa de seus ex-alunos, a herma no pátio da Escola de Agronomia em homenagem aos seus 90 anos - “Zenilo Almada - Revista do Instituto Ceará - vol. 107 - 1993. pág.302”. Ainda em homenagem ao professor Dias da Rocha, foi-lhe concedida a denominação do seu nome numa das ruas do bairro Aldeota, por iniciativa do grande e inesquecível amigo Dr. Raimundo Girão quando secretário de Cultura do Município.

Na foto, um bonde elétrico no centro da capital cearense, em meados do século XX. Na altura do depósito, o bonde dobrava à esquerda e, depois de cerca de 50 metros, na rua 24 de Maio, parava na esquina da rua Castro e Silva. Virava a lança, voltava e parava de novo ao lado da Estação Central, para dar embarque (serviço inverso de quando vinha trazendo passageiros para os trens urbanos) aos passageiros que haviam chegado ou outros usuários que demandavam o centro da cidade. Mais histórias: Um viajante inglês registrou a existência de bondes em Fortaleza na década de 1870, mas outras fontes afirmam que a primeira linha de bondes puxados por cavalos, entre a estação ferroviária e o centro de Fortaleza, foi inaugurada pela Companhia Ferro-Carril do Ceará (FCC) em 25/4/1880, usando bitola de 1.400 mm a mesma usada pela Trilhos Urbanos na linha de bondes a vapor em Recife. A Ferro Carril do Parangaba abriu uma linha para o lado Sul da cidade em 18/10/1894 e a Ferro Carril do Outeiro (FCO) iniciou sua linha no lado Leste de Fortaleza em 24/4/1896. A Ceará Tramway, Light & Power Co., Ltd., registrada em Londres em 11/12/1911, comprou os sistemas da FCC e da FCO e inaugurou a primeira linha de bondes elétricos da capital cearense em 9/10/1913, agora com bitola de 1.435 mm. A linha Parangaba foi fechada em 1918 e não chegou a ser eletrificada. Todos os veículos elétricos de Fortaleza tinham um padrão, com troles: a United Electric construiu 30 em 1912 e dez em 1924. A linha de bondes de Fortaleza foi fechada por problemas elétricos em 19/5/1947 - três semanas após o fechamento do sistema de bondes em Belém. Vinte anos depois, em 25/1/1967, a Companhia de Transportes Coletivos inaugurou duas linhas de trólebus entre o lado Oeste da cidade e o Largo do Carmo.

A linha do bonde Via Férrea, cujo nome deve ter sido atribuído em virtude do fato de estacionar na Praça da Estação Central - rede Ferroviária Cearence (RVC), seu percurso obedecia ao seguinte itinerário: partia da Praça do Ferreira - seguia pela rua Guilherme Rocha entrando à direita na rua Barão do Rio Branco até alcançar a esquina da Santa Casa de Misericórdia, quando entrava à esquerda na Rua Dr. João Moreira, passando em frente à Estação Central (trem) e dobrando à esquerda para estacionar no fim do quarteirão da quadra da antiga Praça Gal. Sampaio, hoje - Praça Castro Carreira, quando inicia a rua 24 de Maio, esquina com Senador Castro e Silva. O retorno obedecia o mesmo percurso. Como se pode fazer idéia, era a menor linha de bonde da Ceará Light existente à época, mas atendia a grande número de passageiros que iam em visita aos doentes da Santa Casa e aos detentos do Casarão da Rua Sen. Jaguaribe - Cadeia Pública, cujos fundos davam para a rua Dr. João Moreira, na quadra da rua Senador Pompeu - (lado nascente) e Gal. Sampaio - (lado poente), no início da descida do Curral - local onde se aglutinava maior número de prostitutas, reduto de boêmios, músicos e cantores, sobretudo, para os que apreciavam os banhos de mar na Praia Formosa. Daí surgiu um barracão de madeira - pintado de cor verde, que servia para guardar roupas e pertences dos banhistas e, com direito a banho com água doce, que mais tarde virou associação para dar início ao grande clube Náutico Atlético Cearense. O bonde Via Férrea atendia aos passageiros que se dirigiam à Santa Casa de Misericórdia e aos reclusos e detentos da Cadeia Pública, que cumpriam pena naquela casa de correção. A pé enxuto desciam os passageiros que iam apanhar ou deixar parentes e amigos na Estação Central, para viagens aos sertões cearenses. Atendia de certa forma a várias camadas sociais. No bonde viajavam as elegantes senhoras enchapeladas e portando guarda-sol, que se dirigiam à Praça do Ferreira para fazer compras, bem como as que para sessões à tarde se dirigiam aos cinemas Majestic, Moderno, Diogo ou, ainda, para tomar sorvete no Eldorado do inesquecível e querido amigo Antônio Figueiredo (“Figueiredão”) que, com D. Márcia Amora, formava uma grande família. A sorveteria “Eldorado” tinha fama por fabricar os melhores sorvetes da cidade, era por isso ponto de encontro dos jovens e de atração da sociedade da época, que para lá se deslocava para saborear os mais típicos sorvetes e lanches de excelente qualidade. O Bar Jangadeiro do Sr. Luís Frota Passos - depois local ocupado pela Farmácia Faladroga é, hoje no mesmo local, loja de tecidos da família Otoch - na rua Floriano Peixoto, na Praça do Ferreira. Era o mais requintado bar da época, por manter diariamente uma vesperal animada por conjunto de pau e corda, quase uma orquestra de câmera. A freguesia se compunha de pessoas gradas, pertencentes à camada social de alto coturno, porque dela fazia parte a aristocracia da cidade que, depois, com a chegada dos americanos a esta capital nos anos 40 (tempo de guerra), tomou ares cosmopolitas e se misturou com lindas jovens casadoiras, dando origem às famosas e discriminadas coca-colas (moças faladas da época). Esse envolvimento das moças com os soldados americanos que aqui chegaram e permaneceram por algum tempo despertou certa disputa com alunos do Colégio Militar, que vinham do Sul e eram colocados em segundo plano pelas jovens que se permitiam a namorar soldados americanos. Aqui ainda não se conhecia a bebida Coca-Cola, que foi trazida por eles, e por isso apelidaram de “coca-cola” as jovens que namoravam americanos formando uma extensa lista... Mas deixemos as coca-colas sossegadas e falemos do quarteirão da rua Floriano Peixoto, situado na quadra da Praça do Ferreira, do delicioso caldo de cana do “Merendinha”, da família Quezado, na década de 50, perto da Rotisserie, onde se bebia o melhor caldo de cana, com o infalível pastel - de carne ou queijo - onde quase toda turma do Liceu, que estudava à noite, descia do ônibus Jacareacanga, na alameda situada bem no centro da Praça do Ferreira e corriam rápido para comprar o caldo de cana, esfriando o pastel nos grandes ventiladores, para matar a fome da rapaziada que não tinha tempo de jantar antes das aulas noturnas. Existia também já àquela época um pequeno armazém misto de mercearia e lanchonete - que tanto vendia caldo de cana, pastéis, bolos e outras guloseimas, bem como enlatados finos, ameixas, vinhos, passas e frutas secas vindos da Europa. Era a Leão do Sul - do Sr. Dimas. Mais adiante, em maior proporção, estoque e variedade, a Casa Miscelânea - do Sr. Frota, na qual gerenciava o ilustre advogado Airton Angelim. Mas, do Bar Jangadeiro ficou apenas uma paisagem viva, vista de dentro do bonde pelos passageiros, a contemplar com os olhos aquele belo espetáculo que descortinava a exuberância do requintado ambiente, deixando invejosos os passageiros do bonde que não podiam daquele agradável momento participar. Mas! Não fique triste porque tudo já passou e novos ambientes mais sofisticados e, inusitados, surgiram nessa nossa querida Fortaleza que hoje nem vale a pena lembrar porque “Nada disso nos faz companhia e ainda nos rouba a solidão” como se apregoa!!!

Zenilo Almada Advogado


"vibrava no deslizar dos trilhos" - É mesmo um efeito muito peculiar, obtido principalmente ao viajar-se em carro aberto - como eram os bondes de Fortaleza -, sentindo-se, além dos efeitos vibratórios comentados pelo articulista, a aragem do vento e um “astral” de liberdade muito característico.
"listras negras" - Os trilhos eram, na verdade, da mesma cor dos trilhos de trem, ou seja, da cor do aço polido, ou prateados, mas, devido ao fato de os trilhos de bonde terem fendas, formava-se, às vezes o efeito fotocromático a que alude o articulista.




Veja também:


O bonde - Parte IV (Bonde Soares Moreno)
O bonde - Parte V (Bonde Benfica)
O bonde - Parte VI (Bonde Praia de Iracema)
O bonde - Parte VII (Bonde Prainha) 
O bonde - Parte VIII (Bonde Outeiro)
O bonde - Parte IX (Bonde Alagadiço)
O bonde - Parte X (Bonde Joaquim Távora)
O bonde - Parte XI (Bonde Prado)
O bonde - Parte XII (Bonde José Bonifácio)


Fonte: Artigo publicado no Diário do Nordeste - Fortaleza.
Ceará - Domingo, 17 de novembro de 2002 e fotos Fortal


O bonde II - Bonde Jacarecanga

Enfim, como tudo na vida tem seu tempo certo, até para se amar e porque não dizer também para desamar, quando o espírito perde a força de voar e fica desasado, desolado . . . ou desazado no conceito do outro pelo descuido do amor. E, daí, só o tempo se encarrega de dar soluções para cada caso. Mas, voltemos ao Bonde e sua significação.
Do inglês BOND . . . Sin. bras. Veículo elétrico de transporte urbano, para passageiros ou carga, que se move sobre trilhos e pode ser fechado ou aberto, com estribo corrido e bem particular a este; elétrico. Bra. Gíria. Mau negócio; logro; mulher feia, sem atrativo; bofe, bagulho. Bras. Futebol. - Jogador ruim. - Comprar bonde. Bras. Gíria. - “Cair em conto do vigário”. Fazer mau negócio. - “Tomar o bonde errado”. Bras. Gíria. - Enganar-se quanto ao resultado de negócio ou aventura em cujo bom êxito se confiava muito; malograr-se, frustrar-se; errar de porta. E, por aí vai o anedotizar que para muitos casos tem sua aplicação adequada. Andar no bonde era acima de tudo uma forma de se distrair até alcançar o lugar desejado num transporte muito agradável em que quase todos se conheciam por serem residentes do mesmo bairro ou adjacências. Cumprimentavam-se, faziam trocas de gentilezas, “pagando a passagem um do outro” e, em alegre tom, dizia - “fulano a passagem está paga”. . . Já se sabia que o cobrador viria entregar o “cupom” que garantia o pagamento da passagem e era uma cortesia que se fazia ao amigo. Mas, ainda no bonde Jacarecanga, os liceistas (que tinham fama de insubordinados) que por vezes estavam sem o dinheiro para pagar a passagem e para lograr o condutor do bonde, entre si se combinava; um sentava-se mais atrás e o “sem dinheiro”, geralmente tipo loquaz, o segundo sentava mais à frente. - Quando o que sentava à frente pagava, e com a saída do cobrador dizia: “fulano já paguei”. Naturalmente, todos viam o gracejo e quando o cobrador se aproximava - o segundo dizia: “já foi paga”. Vinha em seguida a cobrança com a indagação: - “Quem pagou?” Até que o cobrador desconfiado chegasse ao local do pagador o bonde tinha percorrido boa parte do percurso, ou o itinerário chegado ao seu ponto final.
Foto do bonde elétrico da linha Joaquim Távora cheio de funcionários da Tramway. O trajeto desse bonde era: Major Facundo /Liberato Barroso/Floriano Peixoto/Pedro I (Igreja coração de Jesus)/Visconde Rio Branco onde ficava a garagem, almoxarifado e mecânica da empresa.  O bonde está passando em frente ao Foto Ribeiro, na Rua Major Facundo  (Pça. do Ferreira), em 1931. Cartão Postal distribuído pela Casa Crysanthemo.

O cobrador quando desabusado, tocava a sineta e parava o bonde. O liceista espreitando o condutor e galhofando exclamava: - “Vou descer, mas também fique certo, vou ‘enredar’ de sua conduta ao Mister Hull, para lhe botar para fora da empresa”, no que era seguido por fortes galhofadas e, para que reinasse a alegria, um generoso passageiro pagava a passagem . . . Isso é de estudante mesmo. . . outros trocavam de lugar no bonde até chegar ao Liceu, se vangloriando nas famosas bochechas no bonde, sempre pendurados nos estribos segurando nos balaústres, expostos ao perigo, mas se divertiam a valer, contando façanha. Como toda empresa estrangeira a Ceará Tramway Light & Power C. o LTD. que aqui obteve concessão para explorar as linhas, por aproximados 34 (trinta e quatro) anos não era diferente das demais empresas estrangeiras. Levava muito a sério suas obrigações, respeito aos direitos e deveres. Em tudo se podia observar o fiel cumprimento, a começar pelo horário de trabalho e exercício das suas atividades, pagamento dos salários e encargos aos funcionários. Quando se aproximava o tempo de finalizar o horário, 11 horas, colocava no frontispício do bonde - local indicativo do nome da linha - lia-se a palavra “recolher”. . . a não ser em dias especiais, fim de ano, carnaval, etc., se prolongava por mais tempo os horários. Assim, se tinha conhecimento do horário, já não pegava passageiro e nem parava nos pontos que costumeiramente desciam ou subiam passageiros. Sua retirada até a “Estação do Bonde”, ponto de recolhimento, era com rigor obedecida dentro do horário estabelecido. Se durante o trajeto apresentasse algum defeito era de imediato colocada placa indicativa - “Estação” - e substituído por outro elétrico. Dessa forma a cidade e os passageiros tomavam conhecimento das ocorrências com os bondes elétricos, porque os redobrados cuidados da empresa, credenciavam-na entre as mais sérias e tradicionais que explorava o ramo de transporte e fornecimento de energia elétrica. Nos anos 40 - tempo de guerra - houve em Fortaleza a hora do apagão - o blecaute, e todos sabiam o horário, tempo de duração para que pudessem se precaver da ausência de iluminação, e era observado com pontual critério. Talvez esse comportamento cuidadoso da Light com as coisas, negócios e obrigações, inspiraram a nossa admiração maior, deixando com a liquidação de suas atividades aqui na nossa Capital, lembrança que ainda machuca com a tristeza de ter deixado partir o bonde - condutor de singularidades hilariantes; portador das saudades que embeveceram um passado ainda não tão distante, mas constrange a lembrança por lamentar a perda de tão útil transporte - o bonde, transportador de alegrias. - No Rio de Janeiro - existiu, dentre outras linhas, a do “Bonde da Alegria”, que deu origem à marchinha carnavalesca que dizia: “A mulher do padeiro, trabalhava todo dia, só viajava no bonde da alegria. . . O padeiro coitado, deixou de fazer pão, não atendeu mais a sua freguesia. . .” (sem nenhuma alusão). Aqui o bonde atendeu com imponência a nossa população, transportando crianças, moços e velhos durante tanto tempo para os diversos bairros da Cidade. Hoje, num retrospecto dos fatos, rebuscando saudades que se misturam com as alegrias vividas, simbolizam verdadeira harmonia de contraste, porque tudo passou com o tempo deixando viva a lembrança a quem Deus concede o prêmio de não perder o juízo para caducar. . . virando criança de novo!!! 


Zenilo Almada Advogado


Veja também:



O bonde - Parte IV (Bonde Soares Moreno)
O bonde - Parte V (Bonde Benfica)
O bonde - Parte VI (Bonde Praia de Iracema)
O bonde - Parte VII (Bonde Prainha) 
O bonde - Parte VIII (Bonde Outeiro)
O bonde - Parte IX (Bonde Alagadiço)
O bonde - Parte X (Bonde Joaquim Távora)
O bonde - Parte XI (Bonde Prado)
O bonde - Parte XII (Bonde José Bonifácio)



Crédito: Artigo publicado no Diário do Nordeste - Fortaleza.
Ceará - Domingo, 27 de outubro de 2002


quarta-feira, 16 de junho de 2010

Novo Layout


Nosso blog agora está de cara nova, espero que vocês tenham gostado, porq eu amei!!!


O bonde - Parte I


Bonde de tração animal - O serviço de transporte de passageiros por bondes a burro em Fortaleza, inciou em 1880 e perdurou até 1913, quando foram substituídos pelos elétricos.

Andar no bonde elétrico era um dos hilariantes passeios que se podia experimentar no século passado. Desde sua instalação em nossa cidade - ou seja - na década de 20, quando substituíram o “bonde puxado à burro”. Fruto do progresso se fazia essencial mister; embora retirando o lirismo de hábito camponês vivenciado na época, dando lugar a expansão que o tempo exige - modernidade.
O interessante a se observar é que as distâncias entre os locais, parece, que se encurtaram, ou os caminhos fizeram dininuir a lonjura entre os diversos pontos da nossa querida Fortaleza.
Não vamos porém exagerar esse saudosismo de saltar da época dos bondes puxados a burro, para o bonde elétrico, remontando o século XVIII, porque o bonde por sua própria estrutura tem enriquecido o anedotário rebuscado das suas mais diversas formas - a começar pelo entendimento que se faz de quem “pegou o bonde andando” - (desconhecimento do fato) ou “pegou o bonde errado” - por ficar frustrado, por ter feito mau negócio, cair no conto do vigário. Ou "vender o bonde", no pilheriar do mineiro -, casar com mulher feia (é tão feia que parece um “bonde” ou trem virado).
Mas dizia o escritor Berilo Nevesquem anda com mulher feia é uma forma deselegante de andar só”, com quem concorda o poeta Vinícius de Moraes, “quando pede perdão às feias, por considerar a beleza fundamental, como características do ser humano”.

Bonde de tração animal passando entre o Colégio Jesus Maria José e a Igreja do Pequeno Grande.  Foto do Álbum Boris. - Arquivo Nirez

Mas voltemos ao bonde, nosso foco de atração, mesmo olhado a certa distância é com auxílio da memória, diante do decurso do tempo - amigo fiel que marcou a existência das coisas, inimigo procaz, implacável, que persegue os longevos anunciando a grande viagem . . .

Mas, caros amigos, vale à pena recordar os tempos dos bondes da nossa Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção.
Antigamente, talvez por precariedade estrutural ou falta de melhores condições, estradas carroçáveis, se dizia que alguém tinha feito uma longa viagem quando se deslocara às próximas cidades de Pacatuba, Maranguape, ou, até mesmo, Arronches (Porangaba, hoje Parangaba). Era tudo tão longe . . . tão diferente os caminhos, a própria paisagem de hoje, tomou outro aspecto com o passar do tempo que impulsiona e moderniza tudo a começar pelo ambiente, solo, estrada, bombardeando a atmosfera, implodindo coisas, e até faz chover . . . Mudança dos tempos. Antigamente só Deus fazia chover . . .
Ah! O tranporte, nem se fala - era o burro, o cavalo, o jumento. Sem a ajuda do jumento, “nosso irmão”, tão proclamado pelo Pe. Vieira, não se ia a lugar algum. No sertão brabo “quem é rico anda em burrinho, quem é pobre anda a pé”, porque na poesia do rei do baião, o inesquecível Luís Gonzaga, proclamava “automóvel” lá nem se sabe se ele é “home ou se é muié” . . . ! !
O tempo se encarrega de dar impulso apagando das nossas mentes imagens tão agradáveis ao espírito, aproximando-nos com outras civilizações - principalmente o português, dentre outros, raças emigraram no compasso rápido do tempo -, dando salto de progresso principiaram como novo meio de transporte - O Bonde puxado a burro, que durante muito tempo serviu de condução para a população da Capital, prestando seus inestimáveis serviços aos moradores desta urbe (cidade).

Dizem que seu percurso não ultrapassou até Arronches!! Opa, transporte de almocreve (carregador;arrocheiro) que servia para conduzir pessoas que se locomoviam para locais de pouca distância, na nossa cidade, nossa Fortaleza tão querida e cheia de lembranças encrostada indelével na nossa memória, lutando contra inexorável tempo que não se apieda dos desprotegidos saudosistas, compungidos pela velocidade apaga do nosso besunto toda a grandeza do passado, deixando só as saudades, as lembranças que continuam vivas nas nossas mentes.

Os bondes se recolhiam na Estação que se localizava nas confluências da rua D. Leopoldina com Av. Visconde do Rio Branco (calçamento de Messejana) e de lá partiam para diversos pontos da Cidade.

Passagem(bilhete) do bonde - Arquivo Nirez

Valia à pena, logo às cinco horas começava a movimentação da saída, cada um equipado com os instrumentos de trabalho - cupons, dinheiro trocado para passar troco, uniforme adequado - o cobrador invariavelmente vestido de tecido de brim e com boné da mesma cor - ou cáqui com quepe do mesmo tecido. O modelo da roupa se assemelhava ao libré (fardamento de criado de casas nobres), diferençado pelos grandes bolsos que compunham o paletó, abotoado com botões (jarina) dando certa sobriedade na vestimenta.
Quem tinha por dever sair cedo de casa para apanhar (pegar) o bonde, experimentava agradáveis momentos, de sentir que a cidade ainda dormia, assistia o belo espetáculo da calma que reinava na rua, onde eram vistos os padeiros a entregar pão a domicílio; o leiteiro com seu vasilhame na cabeça; o verdureiro com caixa sobre quatro pernas de madeira, conduzida sobre a cabeça do vendedor; - o carniceiro (vendedor de carne), ambos também se utilizavam de animais, cavalos . . . Assim caminhavam os vendedores atendendo a freguesia.
O bonde desenvolvendo sua marcha normal, quebrando, com o barulho sobre os trilhos, a sonoridade do deslizar que já habituara os ouvidos dos passageiros despertando para o amanhecer do dia com o toque da sineta anunciando que ia descer bem, com o toque para prosseguir - que no linguajar simples do condutor ordenava - vai embora.. vai embora... como quem vaticinava (predizer) um adeus para sempre.
Então quem se transportava de bonde nas manhãs de junho/julho, sentia agradável sensação do frio europeu, porque é nesta época do ano que nosso clima se torna mais ameno. É como se o balanço causado pelo desenvolver da velocidade envolvesse aquele vento frio que soprava, fazendo recordar um passado que não volta mais, relembrando recantos inesquecíveis, embora muitos deles hoje transformados, deram lugar à modernidade, fruto da evolução natural do tempo. Ah! Tempo bom que não volta mais. Mesmo para matar as saudades!... mas nem isso.

Zenilo Almada
Advogado


Continua AQUI (Bonde Jacarecanga)

Veja também:

O bonde - Parte IV (Bonde Soares Moreno)
O bonde - Parte V (Bonde Benfica)
O bonde - Parte VI (Bonde Praia de Iracema)
O bonde - Parte VII (Bonde Prainha) 
O bonde - Parte VIII (Bonde Outeiro)
O bonde - Parte IX (Bonde Alagadiço)
O bonde - Parte X (Bonde Joaquim Távora)
O bonde - Parte XI (Bonde Prado)
O bonde - Parte XII (Bonde José Bonifácio)



Fonte: Artigo publicado no Diário do Nordeste - Fortaleza.
Domingo, 6 de outubro de 2002
Fotos: Arquivo Nirez

Início da história dos bondes de Fortaleza


Bondes puxados à burro - 1904

Dois empreendimentos marcaram, na mesma data - 31 de Junho de 1871 - e por iniciativa da mesma pessoa - Estevão José de Almeida -, o início da história dos bondes em Fortaleza. Um tratava-se de um “tram-road” (uma outra forma de dizer “tramway”) para veículos urbanos a tração animal, e o outro consistia numa via para bondes a vapor, ligando a cidade à povoação de Messejana. O prazo para a conclusão das obras, estipulado em três anos, não foi cumprido, pelo que efetuou-se novo contrato com Tomé A. da Motta, que denominou a empresa de “Companhia Ferro-Carril do Ceará”. Finalmente, em 25 de Abril de 1880, inaugurou-se o serviço dos bondes, com 25 veículos de cinco bancos, rebocados por muares, sistema que atravessou a virada dos séculos XIX / XX, mantendo-se por mais alguns anos. Por volta de 1910/11, começou-se a cogitar a eletrificação.


Um mapa de Fortaleza no qual se ver o traçado de linhas de bonde, provavelmente anterior ao mapa de Herbster. Agradecimento: J Terto de Amorim 

Mapa de Fortaleza feito por Adolfo Herbster em 1888 com o traçado das linhas de bonde e trem.


Detalhe do bonde elétrico


Em 4 de Fevereiro de 1911, chegou à cidade o engenheiro Ker Box, a fim de estudar as condições, chegando a uma conclusão favorável. Entrementes, a Cia. Ferro-Carril Cearense assinou contrato com a municipalidade, também expressando o intento de adotar a tração elétrica, e, não obstante, inaugurou mais uma linha de bondes a burro, ligando a cidade à região onde se localizava o Tiro Cearense. Por fim, em 24 de Junho de 1912, a CFCC passou à “The Ceará Tramway Light and Power Co. Ldt.”. Transcrevendo as palavras de Stiel, à página 124 da “História do Transporte Urbano no Brasil”, “Às duas horas da tarde, com a presença da sociedade cearense e representantes da imprensa, o coronel Tomé de A. Motta vendeu por escritura a referida empresa, bem como a do Outeiro... A nova empresa obteve concessão dos serviços de ‘tramways’ por 76 anos a partir de maio de 1911, luz e força elétrica. Eram então diretores da companhia, C. Hunt; A. A. Campbell Swinton; E. B. Forbes; Sir Howland Roberts e Tomé A. da Motta. Como quase todas as empresas de transporte da época, era de origem inglesa, sendo representantes no Brasil, Hugo Stenhouse na Av. Rio Branco, 46 - Rio de Janeiro.


Bonde de tração animal - Fortaleza - 1900. 
Em 25 de abril de 1880 é inaugurado o serviço de transporte de passageiros por bondes em Fortaleza, no Ceará. - Na foto vemos o bonde perto do Paço Municipal, fotografia do álbum Vistas do CE, princípio do séc. XX

Os primeiros bondes elétricos chegaram em 13 de abril de 1913 e a inauguração se deu no dia 9 de outubro do mesmo ano. Poucos meses depois a tração animal foi extinta na cidade. Os primeiros anos do bonde elétrico foram marcados pela baixa renda e a consequente precariedade, o que acarretou protestos por parte de usuários, chegando a ocorrer atos de vandalismo, como danos deliberados de via e veículo. A partir de 1925 foram perpetradas medidas para o melhoramento do serviço, construindo-se a nova linha para a Vila Messejana, e em 1927 inaugurou-se uma espécie um tanto bizarra de tramway, que consistia num sistema de bondes puxados por um trator inglês do tipo Simplex. Essa linha ligava Fortaleza a Cajazeiras. Em maio de 1945 a Light decidiu passar a empresa às mãos estatais, iniciando as negociações com o governo, que, por fim, assumiu o sistema, mas por pouco tempo. Por fim, como já ia acontecendo em diversas cidades brasileiras, o serviço de bondes também não foi estimulado em Fortaleza, acabando por extinguir-se em 1947. Mais tarde, como era de se esperar, constatou-se que os ônibus convencionais não davam vazão à demanda de transporte, e tentou-se a opção dos trolebus (cujo serviço começou em 1967), os quais, como de costume, tiveram o mesmo destino dos bondes, em 1971.

Bonde de tração animal: Foto do álbum "Vistas do Ceará", confeccionado em Nancy (França) no ano de 1908, que reúne o mais difundido e variado conjunto de registros fotográficos sobre a Capital do Estado nessa época. Sob os auspícios da firma Boris Frères - na época o maior estabelecimento comercial de importação e exportação aqui instalado - a publicação fotográfica visava a divulgação da prosperidade e beleza do Ceará no estrangeiro e em outras partes do Brasil. "Mais que um esmerado mostruário de Fortaleza na alvorada do século XX, o Álbum de Vistas do Ceará exprime uma das obsessões fundantes das sociedades modernas: a busca do controle programado sobre a memória a ser transmitida à posteridade, enfim, o desejo de perpetuar a imagem de uma era", enfatiza Cristina Holanda professora de História do Museu do Ceará. Nesta foto vemos a esquina da Rua Formosa (Barão do Rio Branco) com Travessa Municipal (Rua Guilherme Rocha), vendo-se, à frente da carroça, um bonde de tração animal.


Veja também:

O bonde - Parte II (Jacarecanga)
O bonde - Parte IV (Bonde Soares Moreno)
O bonde - Parte V (Bonde Benfica)
O bonde - Parte VI (Bonde Praia de Iracema)
O bonde - Parte VII (Bonde Prainha) 
O bonde - Parte VIII (Bonde Outeiro)
O bonde - Parte IX (Bonde Alagadiço)
O bonde - Parte X (Bonde Joaquim Távora)
O bonde - Parte XI (Bonde Prado)
O bonde - Parte XII (Bonde José Bonifácio)




Fonte: Explanação baseada em dados colhidos da obra de Waldemar Corrêa Stiel, Álbum Vistas do Ceará e webshots de Fortal

terça-feira, 15 de junho de 2010

Cemitério São Vicente de Paula - Mucuripe

É um cemitério quase centenário, foi fundado em 1916 por idéia e iniciativa dos moradores da época. É o segundo cemitério público da capital.
O São Vicente de Paula é o menor cemitério da Capital, não tem ossário e encontra-se superlotado desde os anos de 1970.

O coveiro José Carlos Cunha dos Santos, de 47 anos, por exemplo, conta que o silêncio no Cemitério São Vicente de Paula, no Mucuripe, poucas vezes é quebrado, já que os enterros só costumam ocorrer em média três vezes por semana.

Nos horários livres, sua rotina é cuidar da limpeza do cemitério e zelar alguns túmulos de falecidos cujos parentes lhe dão um dinheiro extra. Como muitas pessoas preferem plantas no lugar de construções, vários túmulos mais parecem um jardim. Desta forma, as flores estão sempre vivas e bonitas.

O resultado de seu trabalho é visível. Ao redor das velas e cruzes com aparência triste, o colorido das flores dá leveza ao local. Há os túmulos mais elaborados, com materiais caros, e os simples, somente com uma cruz de madeira, com a tinta já desbotada pelo sol. E mesmo desalinhados e tortos, eles se harmonizam por conta da natureza que os cerca.

O coveiro afirma ficar feliz ao ver a satisfação das famílias que vão visitar os túmulos bem arrumados. “Vem muita gente no dia dos finados, mas tem pessoas que fazem questão de vir com mais freqüência”, comenta José. Ele lembra que começou a trabalhar no cemitério há mais de treze anos, por intermédio de um amigo.

E garante, desde o início foi destemido. “Em tantos anos freqüentando o local, nunca vi nada de assustador”, brinca. Seguindo o exemplo do pai, um de seus filhos ajuda com o serviço desde os 10 anos de idade. “Foi o cemitério que sempre me deu condições de sustentar minha família e sou grato por ter encontrado um trabalho que goste desse jeito”, diz José.
Funcionamento dos cemitérios colados a áreas residenciais é um dos fatores de risco, como acontece no Mucuripe, onde população estende roupas no muro da necrópole.

Capela do cemitério


CONVIVÊNCIA INCÔMODA
Mau cheiro provoca reclamações

Do lado direito, um amontoado de covas. Do lado esquerdo, crianças de Ensino Infantil e Fundamental tentam estudar. Mas aquelas que estudam no segundo e no terceiro pavimentos têm, em alguns momentos, dificuldade de se concentrar.

A escola pública em questão é a José Ramos Torres de Melo, vizinha ao Cemitério do Mucuripe. Os alunos que estudam nos andares superiores sofrem com o mau cheiro que sobe pelas entradas de ventilação. Segundo a professora Eliane Gomes, 40, a situação gera reclamações. “Eles reclamam, mas a gente vai levando, né?”, resigna-se.

Segundo o médico sanitarista Alberto Novaes Ramos Junior, o extravasamento para a atmosfera, de uma forma mais intensa, de gases liberados durante a decomposição dos corpos é resultado da má confecção e manutenção das sepulturas (covas mais simples ou rasas, com cobertura imprópria de terra) e dos jazigos (construções de alvenaria ou de concreto enterradas ou semi-enterradas).

A chefe do Distrito de Meio Ambiente da Regional I, Mércia Albuquerque, atribui o mau cheiro ao lixo jogado pela população e à presença de gatos no cemitério, atraídos por alimentos deixado por moradores.

IMPROVISO
Exumação é feita em sacos plásticos

Um dos mais intrigantes problemas do Cemitério do Mucuripe é a exumação de restos mortais em sacos plásticos. A necrópole é a menor da Capital e está superlotada desde a década de 70, pelo menos. Sem espaço disponível, não há ossários. Depois de exumados os restos mortais, os ossos são acondicionados em sacos plásticos e postos no canto da cova. A confissão do método é feita pela coveiro José Carlos Cunha dos Santos, 47.

Segundo a Resolução Nº 335, de 2003, do Conselho Nacional do Meio Ambiente, o plástico é contraindicado. “Os corpos sepultados poderão estar envoltos por mantas ou urnas constituídas de materiais biodegradáveis, não sendo recomendado o emprego de plásticos”, cita.
Segundo o médico sanitarista Alberto Novaes, a disposição dos ossos em sacos plásticos amplia os riscos relativos à contaminação do lençol freático.
A chefe do Distrito de Meio Ambiente da Regional I, Mércia Albuquerque, disse que a administração desconhece a prática e que só há exumações com ordem judicial .


Irregularidades

No Cemitério do Mucuripe, a reportagem do Diário do Nordeste presenciou dois coveiros abrindo um túmulo com as mãos nuas e calçando chinelos, entre eles José Carlos Cunha dos Santos. Ele assume receber luvas, mas diz que só utiliza o material na hora de exumar algum corpo, porque há o risco de ser picado por escorpiões ao abrir as gavetas. "Na areia, a luva faz é atrapalhar", acredita.

No Cemitério do Mucuripe, vizinhos estendem roupas que descem pelo muro fúnebre. A necrópole fica ao lado de uma escola municipal de ensino infantil e fundamental e há covas até ao lado do portão; quem passa na calçada, vê.

No cemitério do Mucuripe, o amontoado de jazigos é tão grande que as covas ficam coladas até ao portão de entrada. De acordo com a Secretaria Executiva Regional II, o menor campo santo do município tem menos de 600 jazigos e a falta de recuo em relação aos imóveis do entorno vem desde a construção do espaço.

Vizinhos estendem roupas que descem pelo muro fúnebre

O QUE DIZ A LEI

Pelo menos, três leis regulamentam a localização dos cemitérios em Fortaleza . O Decreto-Lei Nº 59, de 1970, determina: "Será reservada em torno dos cemitérios uma área externa de proteção de 100 metros de largura mínima, medida a partir do muro ou alambrado de fechamento, sendo vedada qualquer edificação ou perfuração de poço".


O Código de Obras e Posturas do Município resolve: "Os cemitérios deverão ser construídos em pontos elevados na contravertente das águas que tenham de alimentar cisternas e deverão ficar isolados por logradouros públicos, com largura mínima de 14m em zonas abastecidas pela rede de água, ou de 30m em zonas não providas da mesma".

A Lei Municipal Nº 3.830, de 1970, diz que, para terem a construção aprovada , os cemitérios-parques devem ser instalados "fora das zonas residencial e comercial" e "prever uma faixa verde de isolamento, com largura mínima de dez metros".






"Dá para arrumar um cantinho"

No cemitério do Mucuripe, predomina o amontoado de cruzes e covas e a falta de espaço para caminhar entre os túmulos. As administrações dos espaços públicos garantem que só aceitam enterro de famílias que já têm concessões de jazigos junto à Prefeitura.

Uma moradora do Mucuripe diz que pessoas carentes que não tem túmulos conseguem, "chorando" com a administração ou os coveiros, enterrar no cemitério do bairro.


A Assessoria de Comunicação da Secretaria Executiva Regional (SER) VI admite que "nos últimos anos" eram abertos espaços para sepultar crianças de até cinco anos, mas garante que a ação parou por falta de espaço.
Já a chefe do Distrito de Meio Ambiente da SER I, Mércia Albuquerque, desconhece que haja enterro de não permissionários no Mucuripe e garantiu que, se a população comprovar a denúncia, a Regional abre sindicância para apurar o caso.


A superlotação nos cemitérios de Fortaleza lembra a crise vivida durante a década de 1980 e o início da década de 90. No início dos anos 1980, a Prefeitura admitia interditar o cemitério do Mucuripe.

"Cemitério do Mucuripe
é o menor da Capital,
não tem ossário e encontra-se
superlotado desde os anos 1970"

ALEX COSTA


"Funcionamento dos cemitérios
colados a áreas residenciais é
um dos fatores de risco, como
acontece no Mucuripe, onde população
estende roupas no muro da necrópole."

ALEX COSTA





Fontes: Diário do Nordeste e pesquisas na internet

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Praça Paula Pessoa - Mercado São Sebastião


No dia 18 de abril de 1897 foi inaugurado, na antiga Praça Carolina, o Mercado de ferro destinado à venda de carne fresca - no local onde hoje estão o Palácio do Comércio, a Praça Valdemar Falcão e o Banco do Brasil - O dinheiro para a compra da ferragem foi levantado através de bilhetes de crédito conhecidos popularmente como "borós". Era a administração do intendente Guilherme César da Rocha. O contratante para montagem do mercado foi Álvaro Teixeira de Sousa Mendes. Na época do mercado de ferro a praça chamava-se José de Alencar.
Em 1937 o mercado começou a ser demolido ou desmontado, sendo logo em seguida montado uma parte na Aldeota, que é hoje o Mercado dos Pinhões e a outra metade na Praça Paula Pessoa (Popularmente chamada de Praça São Sebastião), que é o que ilustra estas linhas na foto mais antiga. Referida praça localiza-se em quadrilátero entre a Rua Meton de Alencar, Rua Teresa Cristina, Rua Clarindo de Queiroz e Rua Padre Ibiapina, sendo cortada ao meio pela Rua Padre Mororó.
Após alguns anos, a estrutura metálica tornou-se pequena para atender o comércio da praça Paula Pessoa (Que após a montagem do mercado, passou a ser chamada de Praça São Sebastião, mania do nosso povo de batizar as praças. O mesmo aconteceu com a "Praça da Estação", "Praça dos Leões", "Parque das Crianças"...) e o mercado foi novamente desmontado e levado desta feita para a Aerolândia, onde ainda hoje se encontra, sendo construída na praça Paula Pessoa uma estrutura de alvenaria que foi sendo ampliada ao correr do tempo chegando a mais de quatro blocos.


A primeira foto, a mais antiga, data de 1939, colhida pela Aba Film, mostra a estrutura metálica importada da Europa tendo ao fundo as casas residenciais da época na Rua Clarindo de Queiroz e Dona Teresa ou Teresa Cristina. Percebe-se que o mercado ainda não estava terminado e nem em funcionamento.
A Segunda foto, obtida 50 anos depois (1989), mostra como ficou o mercado após várias reformas ao longo dos anos, sendo construído um novo bloco para determinado tipo de artigo conforme a necessidade surgida.
A terceira foto, dá uma noção completamente diferente do local, pois o local antes ocupado pelo mercado hoje é uma praça e o local antes ocupado pela praça hoje tem sobre ele o atual Mercado São Sebastião.
Na praça existe um estacionamento pago e a rua que vemos por trás é a Teresa Cristina e parte da Clarindo de Queirós. Ao longe vemos a torre da Igreja de São Benedito, a nova, pois a antiga, estilo barroco, foi demolida.
A rua Padre Mororó que cortava a praça foi fechada no quarteirão do mercado. Pena que não se possa fazer uma compra no mercado pela imensa poluição sonora produzida por alto-falantes ali colocados pela administração.


Nota Importante sobre a origem da praça:
 

Fotos antigas da praça:

Praça Paula Pessoa.

O fotógrafo está na esquina da Clarindo de Queiroz com a Dona Tereza Cristina. 
Nesse terreno arenoso seria implantado o mercado de ferro que recebeu o nome de Mercado São Sebastião. Essas placas anunciavam que futuramente ali seria um Mercado, pode-se ver material da futura construção. 
A Foto é de aproximadamente de 1939 quando o Mercado de Ferro foi dividido em dois indo uma parte para a Aldeota (Mercado dos Pinhões) e outra para o São Sebastião. O que vemos são blocos de alvenaria que serviram de apoio para colocação do mercado ali, por isso a ausência do Mercado de Ferro ali colocado.
Olhando para o poente, vemos a Igreja de Nossa Senhora das Dores entre as árvores. 
O Mercado de Ferro ainda não havia sido instalado, apenas seus alicerces e no final de 1939 ele foi terminado e inaugurado, depois transferido, em 1968 para a Aerolândia. Arquivo Nirez

Ano da foto: Aproximadamente 1942 a 1944. Praça Paula Pessoa. Estamos na Clarindo de Queiroz olhando na direção da Padre Ibiapina. O mercado São Sebastião, à época, feito de ferro, fazia pouco tempo que havia sido inaugurado e estava justamente à esquerda por trás do fotógrafo. Arquivo Nirez


Fonte: Portal da história do Ceará/ Arquivo Nirez

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: