Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Pici e a II Guerra Mundial

Existem controvérsias que persistem até hoje com relação à origem do nome “Pici”. Segundo o memorialista Nirez, há uma versão fantasiosa que diz que a origem do nome seria a abreviatura da expressão Post CommandPC, em relação à base norte-americana da II Guerra Mundial –, sendo que as letras “p” e “c”, em inglês, são pronunciadas, respectivamente, como “pi” e “ci”. O pesquisador nega essa versão ao lembrar que a expressão correta seria Command Post presumidamente, Posto de Comando, parte do jargão militar norte-americano (CP e não PC). Nirez também nos lembra que o lugar já tinha esse nome desde o século XIX, quando um centenário sítio pertencente ao agrimensor Antônio Braga (Por ter se apaixonado pelo romance O Guarani de José de Alencar, aglutinou o nome de seus principais personagens, Pery e Cecy, batizando-o de ‘Sítio Pecy’.” Foi o primeiro nomeado assim, e só depois apareceram outros sítios, como os da família Queiroz e Weyne, com esse mesmo nome
O Sítio do Pici às margens do Riacho Cachoeirinha, foi propriedade do pai da escritora Raquel de Queiroz e onde a escritora viveu por volta de 1930. 

Num passado recente foi um bairro bem maior e boa parte das terras pertenciam a Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza e a Legião Maçônica de Fortaleza.

Base Americana do Pici na 2º Guerra Mundial

Ainda com relação ao nome, o escritor Pedro Salgueiro procurou Nirez para essa confirmação. Segue relato do trecho que consta no seu livro sobre o bairro:

"Fui à casa do pesquisador Nirez confirmar suas palavras, e logo na entrada do seu museu/arquivo ele apontou uma placa que dá nome ao salão principal: “Sala Descartes
Selvas Braga
”, que recebe a homenagem por ter sido (além de seu amigo) o primeiro colecionador de discos do Ceará. Em seguida, relatou-me que Descartes sempre lhe dizia que o sítio em que nascera fora batizado por seu avô, Brazilino da Silva Braga, de “Sítio Pecy”, devido ao velho avô ser admirador de José de Alencar. Para confirmar a versão do amigo, Nirez retirou da estante o Dicionário do Barão de Studart e me mostrou o verbete referente ao pai do colecionador Descartes (e filho do seu avô Brazilino):
Julio Henrique Braga: “Fallecido na Villa do Castanhal, Estado do Pará, a 5 de Setembro de 1901, filho de Brazilino da Silva Braga e D. Brazilina de Almada Braga. Nasceu no sítio Pecy, districto de Parangaba”. 


O conjunto dos depoimentos falados e escritos nos proporciona, portanto, dados seguros para afirmar que a origem do topônimo “Pici” vem do nome de antigos sítios, o primeiro possivelmente da família Braga, que deu nome à região como um todo; depois foram surgindo outros sítios e chácaras que adotaram o nome já amplamente conhecido."

Pedro Salgueiro
(Livro Pici - Coleção Pajeú) 

Em 1941 a paisagem do bairro sofre uma grande alteração, pois começaram as obras de construção da pista de pouso da Base Americana em Fortaleza ou Base do Pici(*), que ficaria concluída em março de 1942. E depois com a construção de uma longa avenida (atualmente Avenida Carneiro de Mendonça) que serviu como via de ligação entre esta Base e a 2ª Base Americana em Fortaleza, a chamada Base do Cocorote(Cocorote advém de Coco Route (rota do rio Cocó). ** (atual Aeroporto Pinto Martins).


Amarração temporária no Pici Field - O primeiro mastro sul do Equador foi feita a partir de árvores locais.

Antigo Campo de Pouso do Pici - Acervo Carlos Neto

A pista de pouso do Pici foi utilizada até o ano de 1944 e sob esta, nos anos 1990 foi construída a comunidade do Pantanal, que foi um projeto de mutirão habitacional da Prefeitura Municipal de Fortaleza.
Da época da Base Aérea Americana ainda existem algumas construções e galpões que são usadas pela Companhia de Água e Esgoto do CearáCagece e pela UFC.
Desde 1957, o bairro abriga a Sede do Fortaleza Esporte Clube, inclusive o Estádio Alcides Santos.

Antigo Campo de Pouso do Pici - Acervo Carlos Neto

Antigo Campo de Pouso do Pici - Acervo Carlos Neto

Armamento sendo transportado para aviões Lockheed PV - 1 Ventura da U.S. Navy, em Pici Field - Acervo Castro Cascais

O Pici é um bairro com mais de 3 km quadrados e muitas histórias. Um lugar que cresceu rápido. O bairro é conhecido por abrigar um dos maiores Campus Universitários de Fortaleza.

Campus do Pici da Universidade Federal do Ceará, com o açude Santo Anastácio e a estrada de acesso aos blocos das faculdades. Foto do acervo do MAUC - 1979

As instalações da UFC no Campus do Pici concentraram-se, inicialmente, nas proximidades do açude Santo Anastácio, em direção à avenida Mister Hull, onde está localizada a Escola de Agronomia. Somente na década de 1960, as construções de novas instalações da Universidade foram realizadas no terreno que abrigava o Campo de pouso do Pici e pertencia à Base Aérea. No registro, vemos a barragem do açude no Campus do Pici, em 1961. Acervo Marcelo Queiroz


Avenida Carneiro de Mendonça

Estádio Alcides Santos é um dos grandes símbolos do bairro, por ser sede do Fortaleza, conhecido como Leão do Pici

A artesã Eridan trabalha e mora no bairro há mais de 25 anos. E lembra que tudo era bem diferente quando ela chegou.


Base Aérea - Arquivo Morais Vianna

Detalhe das colunas da Base Aérea.

Até a década de 40 só existiam sítios. Era um lugar com muito espaço verde, considerado fora de Fortaleza. A paisagem só foi mudar com a construção de uma Base Aérea Americana em 1941. Foi o começo do desenvolvimento no bairro.

Pista de asfalto ainda mantém seus resquícios, apesar do tempo. Desse local, decolavam e aterrissavam os aviões

A base era um apoio às tropas americanas na II Guerra Mundial. A pista de pouso ficava dentro do terreno que hoje pertence à Universidade Federal do Ceará. Aliás, por causa dessa base, muitos moradores acreditam que surgiu o nome do bairro.


Entrada da Embrapa

O Pici tem ainda terrenos que pertence ao Dnocs. O órgão sede espaço para o mercado do bairro. Pertinho dali fica o comércio de Valdir, morador há 10 anos. Ele é satisfeito com a vizinhança.

A dona de casa Cleídes Oliveira, que nasceu em Aiuaba, se encantou pelo bairro. Nem pensa mais na saudade do interior. O Pici da família da Cleídes, é o Pici da Igreja de Santo Antônio, da UFC, da antiga base americana e hoje, dos mais de 43 mil moradores.

O Pici, no passado, foi um bairro bem maior que acabou sendo dividido. Logo no início, vê-se o campus universitário da UFC. Até a década de 40, era apenas o Pici de grandes sítios. De terras que pertenciam a Santa Casa de Misericórdia. Da legião maçônica e até do pai da escritora Raquel de Queiroz. Era o Pici do Barro Vermelho, no distrito de Parangaba. Mas a história mudou em 1941. Por causa das terra elevadas e da localização, o Pici sediou a base aérea americana. Dentro do campus da UFC ainda dá pra ver o que sobrou da pista. Os pousos e decolagens do bairro foram até o ano de 1944. O aposentado Raimundo Carlos tem 72 anos, o pai trabalhava na base e ele chegou a ver os aviões. “Eu sempre via os aviões. A maioria era pequeno”, lembra o aposentado.

Foto de Leonardo Távora Quixadá

Hoje, aviões aparecem no bairro, mas só em direção ao Aeroporto de Fortaleza. Junto com a base americana, na década de 40, o bairro ganhou muitos novos moradores. O funcionário público, Epitácio de Souza Chavante, vive onde antes funcionava o galpão de suprimento da base aérea. Da época antiga restou muito pouco da estrutura original e do piso. O pai dele era técnico de comunicações da aeronáutica e a família teve o direito de ocupar o galpão. “Esse galpão aqui, onde era a residência do meu pai, antigamente era usado como suprimento da Aeronáutica  O bairro foi fundado devido à segunda guerra mundial. Com a guerra chegaram os americanos, que fizeram a base aérea deles aqui”, diz Epitácio.

Isso foi antes da cidade ter um autódromo oficial. Depois da segunda guerra mundial, quem também veio para as terras do Pici foi o Dnocs. Os funcionários também ganham o direito de ocupar os galpões.

Um dos marcos do bairro é a capela de São José construída num antigo paiol há mais de 40 anos. Atrás, funciona um polo de confecção. Outra referência do local é a Igreja de Santo Antônio.


Rua dos Monarcas

O Pici tem ainda algumas relíquias! Uma delas esta na rua dos Monarcas, numa casa simples, de tijolo aparente, onde vive a dona-de-casa, Maria de Lourdes Barbosa, de 80 anos. O que ninguém imagina é que dentro de casa, ela guarda um verdadeiro marco da história do bairro. Um paiol, praticamente intacto. Até o portão é original. No local eram guardados armamentos de guerra na época da base americana. “Eles foram embora aí deixaram tudo aqui nesse paiol”, diz Maria de Lurdes.
Hoje em dia, na parte superior, também escondidos por tijolos aparentes ficam os respiradores do antigo paiol.


Rua dos Monarcas

O Bairro mantém sua principal referência histórica, que é a de ter servido como base militar norte-americana.

Há um bucolismo e uma atmosfera telúrica que mais lembram um lugarejo do Interior. A marca forte da terra, que não sucumbiu aos prédios e edificações gigantes, faz com que o Pici tenha seus ares de bairro com raízes do povo do campo. Para o bem ou para o mau, também resistiu ao tempo a contribuição que o bairro deu para o belicismo, durante a II Grande Guerra.

Uma das marcas maiores é a sua história. Exemplos são os resquícios de um passado no qual os extensos e numerosos sítios instalados naquele lugar dividiram espaço com algo que, até então, era alheio à vida pacata de seus moradores. Trata-se do tempo em que, em pleno confronto bélico da II Guerra Mundial, os norte-americanos construíram uma base militar, onde partiam e retornavam os aviões de bombardeios.
Da antiga base, há ainda vestígios, como a pista de asfalto, por onde decolavam e aterrissavam as aeronaves. Também ficaram os paióis, onde camuflavam as armas e hoje moram famílias.

Resistência

Esse é o caso da de Fernando Ferreira da Silva, que mora em uma dessas casamatas há 65 anos. A edificação foi construída como uma espécie de abrigo subterrâneo, de grossas paredes, para a instalação de bombas e equipamentos utilizados pelos militares.

Casamata resistiu ao tempo e hoje abriga a família de Fernando Ferreira da Silva. O lugar era depósito de bombas

O "bunker" (outro nome para casamata) da atualidade já não é mais subterrâneo. As grossas paredes foram modificadas pelos próprios moradores, que procuraram outras passagens de luz e ventilação.

Mesmo assim, o lugar ainda permanece quente e abafado, levando à imaginação como era quando conseguiam vento e luminosidade por uma espécie de "respiradouro", instalado no topo do abrigo.

Fernando Pereira lembra do tempo em que o local acabara de ser abandonado pelos norte-americanos. Mesmo assim, a história da passagem dos militares é contada oralmente pelos moradores mais antigos e repassadas aos jovens.


Rua Tancredo Neves

Moradia

Assim, fala-se de que as casamatas pareciam pequenos montes nos quais uma lona verde não apenas fazia a cobertura da parte exposta como camuflava com a vegetação extensa daquela época. Hoje, Fernando quase não consegue falar por problemas de saúde. No entanto, esforça-se para dizer que o "bunker" foi fundamental para viver com sua mulher, Maria do Carmo Vieira, e criar os filhos.

Não obstante todas as lembradas do passado da guerra, a atualidade do Pici é vivida por pessoas antigas e novas, que foram povoando o lugar, onde se formaram bolsões de áreas de riscos, como as favelas do Papoco, Feijão e Riacho Doce.

Nascida e criada no Pici, Risalba Ximenes demonstra perplexidade com o crescimento do bairro e de seus problemas sociais. As comunidades, ressalta, passaram a conviver com a violência e a disputa de gangues, algo impensável há algumas décadas.

Também reclama da carência de postos de saúde e das ruas mal cuidadas. A queixa maior é por conta da pressão que se vem fazendo com os moradores de áreas onde foi instalada a base norte-americana, e hoje é um campus da Universidade Federal do Ceará (UFC), para que deixem aquela área.


Cruzamento da Entrada da Lua com rua Planalto do Pici

De sítios à periferia
Perfil tradicional é preservado

No passado, o bairro Pici era recanto próprio para sítios e distante da área central (e por isso escolhido como base militar na II Guerra). Hoje, é um bairro da periferia, alvo da expansão demográfica e cercado por bolsões de pobreza.


Cruzamento da rua Chaval com rua Quatro de Dezembro. Vemos um poço no meio da rua. 

O memorialista Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez, conta que o lugar era próprio para o repouso e o desfrute da natureza exuberante.

Atualmente, ele avalia que o empobrecimento do bairro foi gerado pelo seu isolamento, ao contrário de outras áreas semelhantes, como a Maraponga, que não se viu cercada de várias áreas de riscos.

Observa que, ao mesmo tempo em que o lugar atraía famílias de baixa renda, a oferta dos serviços públicos se tornou precária diante dessa demanda.


Sede do Leão na Avenida Senador Fernandes Távora. Foto WLuiz

Contudo, a pujança do lugar é verificada pela forma como suas tradições foram preservadas. Para os torcedores apaixonados pelo Fortaleza, a sede do time, onde está localizado o Estádio Alcides Santos, é como um verdadeiro templo, tanto que a equipe é sempre associada ao "Leão do Pici".


Praça Ney Rebouças

Quem conhece bem a história de amor e preservação da cultura local é o comerciante João Ferreira, conhecido como João da Praça, por ter plantado árvores e atuar como "zelador" da Praça Ney Rebouças, em frente à sede do Fortaleza.

Praça Ney Rebouças

Vandalismo

João da Praça lamenta muito o avançado estado de degradação da praça devido a atos de vandalismo. Há tempos foi retirada, daquele logradouro, uma placa de bronze alusiva ao desportista que dá nome à praça. Porém salienta que tem sido forte a preservação do perfil tradicional e religioso, como a devoção a São José Operário, significativa para aquele espaço que se tornou proletário.

Hoje, o Pici perdeu muitas de suas áreas para um bairro vizinho, o Jóquei Clube.

Pici e Cocorote: as Bases Americanas no Ceará por Igor Dutra

(*) Base do Pici

O levantamento da área para a construção na cidade de Fortaleza da pista do Pici começou em julho de 1941. As obras foram confiadas à empresa cearense Campelo e Gentil, dirigida pelos engenheiros Armando Campelo e José Gentil Neto. O projeto do Pici previa uma pista de 500 pés de extensão para permitir o trânsito de aviões de porte médio, além de prestar apoio aos aviões que faziam o patrulhamento do litoral nordestino.

B-25b FAB 40-2310 at Pici Field - Fortaleza AFB - 1942 - Arquivo Morais Vianna

O Brasil só entrou na guerra em agosto de 1942. Mesmo assim, em 11 de dezembro de 1941, a Base de Natal recebia dos Estados Unidos o Esquadrão VP-52 da Força Aeronaval Americana. O esquadrão era composto por seis aviões Catalinas (PBY-5) e tinham como finalidade cumprirem missões de guerra.

Segundo historiadores, a pista do Pici foi inaugurada prematuramente (com apenas 75% de extensão construída) em fevereiro de 1942, por ocasião de um pouso de um avião americano B-17 que se encontrava perdido de sua rota original. A permanência da aeronave em Fortaleza foi de apenas 30 minutos.

Dados da época informam que o sobrevoo da aeronave causou certo pânico na população local em função das notícias que chegavam da Europa. O temor de então era causado pela possível participação brasileira na Segunda Guerra Mundial.

A conclusão das pistas do Pici data de março de 1942. Análises técnicas e meteorológicas, levantadas tanto por especialistas brasileiros como americanos, preconizavam que houve precipitação no posicionamento da pista.


Pista do Pici, na antiga Base aérea de Fortaleza, que servia para o automobilismo antes da construção do Autódromo Virgílio Távora - Acervo Nelson Bezerra

Pista do Pici, na antiga Base aérea de Fortaleza, que servia para o automobilismo antes da construção do Autódromo Virgílio Távora - Acervo Nelson Bezerra

As limitadas dimensões da pista do Pici, e o avanço das forças alemãs na Europa e na áfrica, fizeram com que os americanos resolvessem procurar outro local para a construção de uma nova pista em Fortaleza. A ideia era permitir pousos e decolagens de grandes aviões de bombardeio. Essa estratégia visava também desafogar a base de Parnamirim, no Rio Grande do Norte, que já havia entrado em processo de saturação face ao grande número de vôos destinados para o local.
O passo seguinte foi a escolha de uma nova área. A reportagem da Revista Aeronáutica, edição de n° 15, de 1985, escrita pelo jornalista José Pinto, relata que o Ten. Coronel José Sampaio de Macedo foi o responsável pela escolha do novo local para construção da 2ª Base Americana em Fortaleza. A área escolhida foi o bairro “Cocorote”.

Esse novo local permitiu o pouso dos aviões brasileiros estacionados no alto da balança. Na nova base foi construída ainda uma ampla pista de taxiamento, chamada de “Barata Ribeiro”, que facilitou a interligação com a pista do Alto da Balança.

Em julho de 1943 começaram os trabalhos no Cocorote, enquanto a Base do Pici começava a ser ampliada para atender a marinha americana. No final de 1943 a Base passou a sediar o esquadrão VP-130, com 12 aviões PV-1 Ventura, e o Blimp K84, do esquadrão P-41, aeronaves originadas da Base de São Luis do Maranhão.

Ainda segundo o jornalista José Pinto, a proximidade do Cocorote com a Base do Pici, também chamada de Base Brasileira, fez com que a nova pista adjacente passasse a ser chamada de “adjacent field”, ou pela denominação oficial, “1155th Army Air Force Base Unit Fortaleza”.

(**)Base do Cocorote


Torre de controle do antigo terminal do Pinto Martins

A movimentação da Base Americana de Fortaleza não teve o mesmo desempenho da Base de Parnamirim (RN). As estatísticas da FAB, além das informações obtidas junto à Agência de Pesquisas Históricas da Força Aérea Americana, sediada no estado do Alabama (USA), confirmaram que cerca de 1.778 travessias partiram de Fortaleza entre 10 de dezembro de 1943 (data da inauguração da pista do Cocorote) e 14 de maio de 1944, data da última travessia.

A Base do Cocorote, local onde está construído hoje o Aeroporto Internacional Pinto Martins, praticamente só era separada da Base do Pici pela Avenida João Pessoa (denominada na época pela população de ‘Concreto’) e um trecho da linha férrea. Da Base do Pici para o Cocorote existia uma longa avenida, atualmente Carneiro de Mendonça. O acesso à pista do Cocorote pela Avenida João Pessoa era feito pelo Bar Avião, ainda existente na Avenida João Pessoa. Para dar suporte às obras das duas pistas (Pici e Cocorote) os americanos construíram uma fábrica de asfalto no Bairro Itaoca.

A Base do Cocorote foi considerada como superior no item ‘segurança de vôo’ em relação à Base de Parnamirim. A partir do dia 15 de maio de 1944, Fortaleza passou a receber somente aviões de linha e eventuais aparelhos em emergência.


Pátio Interno e torre Antiga da Base Aérea de Fortaleza - (Adjacento field - 1944) -Arquivo Morais Vianna

Fonte de consulta pelos autores (Ivonildo Lavour e Augusto Oliveira) do livro “A História da Aviação no Ceará”, a reportagem “Tempos de Guerra: côco route ou cocó rout”, de autoria do jornalista e pesquisador de aviação José Pinto, publicada na edição, n° 15 da revista “Aeronáutica”, chega ao final do texto com uma interrogação: Qual o destino do pequeno povoado conhecido como “Pirocaia” cujo nome é o código de chamada usado pelos americanos nas transmissões de rádio, realizadas nas operações da base americana localizada no Cocorote, intituladas pelos americanos de “Adjacent Field”? Respondemos: Trata-se do Bairro do Montese, denominação conquistada em 1951, quando lideranças comunitárias resolveram homenagear os ex-Combatentes cearenses, heróis da Segunda Guerra que, na Itália, venceram os inimigos e libertaram a cidade de Montese, até então em poder das tropas Alemãs.


Velho terminal do Aeroporto Pinto Martins
Aeroporto do Cocorote

Eis aí o velho terminal do Aeroporto Pinto Martins.
O aeroporto teve suas origens na pista do Alto da Balança, construída na década de 1930 e utilizada até 2000 pelo Aeroclube do Ceará. Durante a Segunda Guerra Mundial, serviu de base de apoio às Forças Aliadas, época em que foi construída a segunda pista de pousos e decolagens (Base do Cocorote), a atual pista principal do Aeroporto de Fortaleza.
Em 13 de maio de 1952, o aeroporto ganhou o nome de Pinto Martins, em homenagem ao cearense Euclides Pinto Martins que realizou o primeiro voo sobre o Oceano Atlântico entre Nova Iorque e o Rio de Janeiro, no início da década de 1920, a bordo do hidroavião Sampaio Correia.


Praça do Aeroporto Pinto Martins em 1979, vendo-se a torre de controle do antigo terminal. Acervo jornal O Povo

A segunda pista do Alto da Balança foi ampliada de 1.500m para 2.545m em 1963. O primeiro terminal de passageiros e o pátio de aeronaves foram construídos em 1966. A administração do Aeroporto foi transferida à Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária), em 7 de janeiro de 1974 (Portaria nº 220/GM5, de 3 de dezembro de 1973), quando deu início a uma série de obras para revitalização e ampliação do complexo aeroportuário, entre elas a do pátio e a do terminal de passageiros.
Por meio de uma parceria entre a Infraero, governo federal e governo
estadual, o aeroporto recebeu novo e moderno terminal de passageiros com 32.000 metros quadrados, inaugurado em fevereiro de 1998, pelo governador Tasso Jereissati. O novo terminal tem capacidade para 2,5 milhões de passageiros/ano, 14 posições para estacionamento de aeronaves e é dotado de modernos sistemas de automação, sendo classificado como Internacional em 1997 (Portaria 393 GM5,
de 9 de junho de 1997).

Atualmente, o antigo aeroporto de Fortaleza funciona como Terminal de Aviação Geral (TAG), onde opera a aviação de pequeno porte (aviação geral, executiva e táxi aéreo).

(Texto Wikipedia – Colaboração -Marcos Almeida)
Crédito: Eliomar de Lima


Detalhe do portão antigo antes da demolição parcial da base área de Fortaleza - Arquivo Morais Vianna


Instrumentos de controle de voo na cabeceira da pista da Base Aérea de Fortaleza- arquivo Morais Vianna



Este é o Pici, o bairro do campus universitário, da religiosidade, das ruas estreitas e dos comércios e seus 43 mil moradores.


Crédito: Tv Verdes Mares, Wikipédia, Diário do Nordeste, Igor Dutra, Arquivo Nirez, Livro Pici de Pedro Salgueiro e pesquisas na internet

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Tirada do Baú - Bairros de Fortaleza


Bairros de Fortaleza, que tinham nomes diferentes, em décadas passadas:

Parangaba era Arronches, Pirocaia era o nome do atual Montese, Carlito Pamplona era Brasil Oiticica, Açude João Lopes era como se chamava o atual Morro do Ouro. São Gerardo era Alagadiço, Antônio Bezerra era Barro Vermelho, a Praia de Iracema era Praia do Peixe. Aldeota era Outeiro e, também Aldeiota. Dionísio Torres era Estância, Castelão era Mata Galinha e Parquelândia ocupa a área que antes era do Campo do Pio e do Coqueirinho.

Alto da Balança era o nome original da atual Aerolândia e o Lagamar agora é Tancredo Neves. Caso peculiar: o antigo Otávio Bonfim teve o nome trocado para Farias Brito, porém ninguém aceitou a mudança e o bairro continua a ser conhecido como Otávio Bonfim. Prainha é o nome correto da área antiga onde agora está o Centro Dragão do Mar e que o povo, por falta de informação chama Praia de Iracema. Incorreto: a Praia de Iracema é mais adiante. A parte alta daquele pequeno bairro, onde está a Praça Cristo Redentor era o Outeiro da Prainha.

Cercado do Zé Padre é aquele conglomerado, arremedo de favela, entre as avenidas Duque de Caxias e Bezerra de Menezes, logo após a Praça São Sebastião. Parque Americano era uma pequena área entre a Rua Padre Valdevino e o bairro da Piedade. O nome surgiu devido a existência ali, de um parque de diversões, instalado pelo dono do famoso Bar Americano. Marcou época mas hoje só existe na memória dos mais velhos.


Marciano Lopes


Editado em 15/09/2010

Recebi um e-mail muito interessante sobre esse post e resolvi compartilhar:

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Jornal A Oposição Constitucional - Ano: 1836



Publicada em fortaleza para combater a administração Alencar, orgão, portanto, do partido carangueijo ou conservador, como o Correio da Assembléa Províncial a era do partido chimango ou liberal.

Redatores: Jerônimo Martiniano Figueira de Mello, José Antônio Pereira Ibiapina, padre Antônio Pinto de Mendonça e Manoel José de Albuquerque. Impressor e tipografo: Aureliano Marco!íno de Mello, natural de Minas Gerais e no tempo do Ministro Vasconcelos nomeado escrivão de órfãos de Ouro Preto .
Acabou no número 7, porque o presidente Alencar recrutou o impressor e o enviou para o Pará. O exemplo vinha de longe e era aplicado aos jornalistas; já em 27 de janeiro de 1824 o padre Batista da Fonseca, redator do Liberal da Bahia, era agarrado por ordem do presidente Francisco Vicente Vianna e remetido para Pernambuco à bordo de uma escuna. Demais eram bem recentes as perseguições feitas ao Correio da Assembléa Provincial.


Fonte: Instituto do Ceará

domingo, 5 de setembro de 2010

Jornais de Fortaleza - Ano: 1834 e 1835



RECOPILADOR CEARENSE

De origem liberal, publicado em Fortaleza no ano de 1834. Foi substituido pelo Correio da Assembléa Provincial.


CORREIO DA ASSEMBLÉA PROVINCIAL

Orgão Iiberal, publicado em 1835 aos sábados em fortaleza, na Tipografia Patriótica à rua dos Mercadores nº 2. Assinatura por trimestre 1$OOO, número avulso 80 réis. Tinha por epígrafe o verso de Camões :

Quem poderá do mal aparelhado
Livrar-se do perigo sabiamente,
Si lá de cima a Guarda Soberana
Não acudir a fraca força humana.

"Na Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro, encontrei uma colleção desse jornal, do nº 4, sabbado, 9 de maio de 1835, ao nº 135 terça-feira, 30 de junho de 1840.
Do nº 19, de 12 de maio de 1838 em diante, o título, que era em duas linhas, passa a ser impresso e com letras differentes em uma só linha. Deste número em diante as palavras "Na Typ. Patriotica" ajuntam-se as palavras de Accurcio."
Barão de Studart


No número 82 de 1839 se lê "Correio da Assembléa Provincial do Ceará", e a tipografia que o ímprimia, era a Tipografia Patriotica de Francisco Luiz de Vasconcellos, que ficava na então Travessa Carolina D. nº 4, mas o nº 135, de 30 de junho de 1840, volta a ser novamente Correio da Assembléa Provincial, e a tipografia já é de Antonio Eloy da Costa.
José Lourenço de Castro Silva foi um dos redatores do Correio, e Jorge Accursio, Francisco Luiz e Antonio Eloy, editores. Transformou-se no Vinte e Três de julho.

Quando o governo da Provincia deu ordem para o recrutamento dos operários do Correio e estes se ocultaram, Jorge Accursio fez suas duas filhas mais velhas aprenderem composição tipografica e com elas manteve a publicação.

É curiosa a historia dos editores desse jornal, como se vê nos seguintes tópicos da Biografia de Ferreira por João Brigido :

"Jorge Accursio da Silveira foi obrigado a deixar a empreza. Francisco Luiz de Vasconcellos, que lhe succedeu, foi preso pelo juiz de paz Joaquim Mendes e recolhido á cadeia, por não ter acudido incontinente a um recado transmittido pelo seu ordenança para lhe dar o autographo de uma publicação contra Rocha Moreira e por não ter exhibido esse papel na letra do Dr. José Lourenço de Castro e Silva.
Succedeu-Ihe o juiz de paz Antonio Eloy da Costa jacarandá, que já não deixava transitar livremente nas ruas da cidade o chefe liberal Facundo, quasi debaixo das varandas de palacio atacou Eloy espancando-o e lhe quebrando uma mão, acto de ferocidade tanto mais revoltante quanto era esse homem incapaz de qualquer defesa pelo seu estado valetudinario. No dia seguinte jacarandá era mimoseado com uma patente de official e dois mezes de soldo adiantado para essa ballaiada, cujo epílogo devia ser uma tentativa de assassinato contra Alencar, crime no qual Jacarandá foi um dos protagonistas ."(*)


(*)Grafia de época


Fonte - Instituto do Ceará


As três fases da Itapuca Villa e a luta em defesa dos escravos



Ao lado da casa ficava o escritório de Alfredo Salgado - Embaixo era a garagem. Arquivo de Carlos Alberto Salgado


Rico e de muito bom gosto, Alfredo Salgado desejou o melhor para construir em 1915, sua mansão, a Itapuca Villa, na Rua Guilherme Rocha. Todos os materiais vieram do exterior, inclusive as madeiras. 

Periodicamente ele viajava à Europa para contratar novos jardineiros (vide recorte ao lado de 1928).

A Itapuca Villa, era um dos orgulhos de Fortaleza.


Itapuca após reforma (*) - Arquivo Carlos Alberto Salgado
No caminho do Liceu, a imponência da Itapuca Villa, estilo de nobreza implantado numa ampla quadra ajardinada da Rua Guilherme Rocha.

A Itapuca, que o descaso administrativo municipal deixou arruinar, foi concebida nos moldes das mansões coloniais inglesas no Oriente, particularmente da Índia. Explica-se: a Itapuca era a residência de Alfredo Salgado, figura histórica do Ceará, com o nome ligado à luta abolicionista, e que fora educado na Inglaterra. Sabe-se hoje os motivos de ordem econômica que levaram o Império Britânico a pressionar o Império do Brasil a proibir o tráfico de escravos negros, estrangulando a economia açucareira e do café, inteiramente dependentes do braço servil.


Mas Alfredo Salgado era um idealista, ignorando as razões de política externa dos ingleses contra a escravatura. A luta abolicionista no Ceará tinha razões verdadeiramente humanitárias, culminando em 1884 - quatro anos antes da Lei Áurea - com a libertação dos negros cativos de nossa terra.

Pois a Itapuca, em sua beleza exótica e a exuberância de seus jardins, agasalhava esse típico "gentleman" nascido no semi-árido cearense e que gozava do respeito e da admiração dos seus conterrâneos.

No trajeto para o Liceu, de bonde, a visão da Itapuca Villa era obrigatória. Com certa frequência, tinha-se oportunidade de ver de perto o seu proprietário, vestido com a elegância de um nobre inglês, calças listradas, casaco escuro com um cravo na lapela. Já bastante idoso, mas erecto e firme, Alfredo Salgado ficava à espera do "Tramway" da Light, na parada fronteiriça à sua mansão. Respeitosamente recebido pelos estudantes, às vezes ganhava deles a deferência de uma vaga sentado quando o veículo estava superlotado. Tempos de fino trato, não obstante a costumeira algazarra da rapaziada liceísta.


O abandono e o descaso do poder público - Arquivo Carlos Alberto Salgado

A Itapuca Vila era o destaque maior na paisagem arquitetônica, mas todo o corredor constituído pela rua Guilherme Rocha até a Praça Fernandes Vieira (hoje Gustavo Barroso), avançando mais além pela Francisco Sá, apresentava um conjunto de luxuosas residências, quase todas em amplos terrenos e com dois pavimentos.

Itapuca Abandonada

A majestosidade entregue à demolição do tempo - Arquivo Carlos Alberto Salgado

A casa, toda de madeira, atualmente está em avançado estado de deterioração, as paredes rachadas e a escada que dá acesso ao pavimento superior totalmente em ruínas, com os degraus apodrecidos, tornando-se impossível chegar ao primeiro andar.

Arquivo Carlos Alberto Salgado (**)

Atualmente o térreo é ocupado por uma família humilde, que lá se instalou há mais de dez anos, não possuindo entretanto uma mínima infra-estrutura habitacional, pois, a casa não possui energia elétrica e o abastecimento de água é feito apenas por uma torneira localizada no jardim. Numa tentativa de se proteger de assaltos, todas as janelas e portas da mansão foram trancadas com tábuas e pregos, aumentando ainda mais o ar de abandono de uma residência que sem dúvida já foi uma das mais bonitas da cidade.

Ao contrário (Felizmente) da Itapuca Villa, a antiga residência de Senador Pompeu não perdeu sua imponência, sendo preservada e hoje abriga a Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho (***) - Arquivo Carlos Alberto Salgado


A demolição

Em dezembro de 1993, é demolida a tradicional casa construída por Alfredo Salgado, na Rua Guilherme Rocha, Itapuca Vila, de arquitetura inglesa.

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Depoimentos de Carlos Alberto Salgado Pettezzoni de Almeida:

(*)"Vivi na Itapuca com meu querido avô até os 11 anos. Lembro-me que eu, com 10 anos, meu avô me acordava para irmos à missa juntos, às 5 horas da manhã. Como eu o adorava...
Dentro de seu livro de missa, levava uma nota (dinheiro) como doação."


(**) "Esse era o quarto onde dormia."


(***) "Se não me falha a memória, meu pai a alugou antes de irmos para a casa de meu avô."

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Agradecimentos: Ao querido Carlos Alberto Salgado, neto do ilustre Alfredo Salgado, que gentilmente me cedeu todo o material necessário para essa postagens. Todos os créditos vão para ele.

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