Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Carlito Pamplona - Primeiro bairro operário de Fortaleza


Primeiro bairro operário de Fortaleza, 
Carlito Pamplona tem autonomia em 
serviços e intenso comércio

Mais sobre a Oiticica AQUI - Álbum Fortaleza 1931

O bairro recebe a denominação de Carlito Pamplona em homenagem ao fortalezense que se destacou como diretor do setor de compra e venda de matéria-prima da fábrica de óleo Brasil Oiticica. A indústria teve sua primeira sede no bairro Praia de Iracema, próximo a área onde hoje se localiza o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, onde hoje existe um busto em sua homenagem. A empresa foi posteriormente sediada na avenida Francisco Sá, situada no bairro analisado. A proximidade da ferrovia e da zona fabril estimulou o crescimento e o aumento populacional nessa área.

Beneficiamento de castanha de caju na Indústria Brasil Oiticica em 1973. Foto de Nelson Bezerra - Livro Viva Fortaleza

Carlito Narbal Pamplona* foi um homem dinâmico e de visão empresarial abrangente, incansável na conquista e crescimento do mercado de óleo e de castanha de caju. O primeiro trabalho planejado para a compra de castanha de caju foi de sua autoria, incentivando o plantio e a compra de castanha, especialmente nos centros de produção da área marítima.
Os equipamentos sociais e institucionais de relevo para a população são o hospital infantil Luis França, várias escolas, sendo algumas públicas e outras particulares, e destinada ao lazer existe a praça principal do bairro, Antonio Alves Linhares, inaugurada em 6 de dezembro de 1985, o grêmio recreativo dos ferroviários e vários bares e pizzarias. 

Porém, os moradores também enfrentam problemas como a violência urbana, pois devido aos numerosos assaltos, falta segurança e tranquilidade para os moradores; faltam também delegacias e unidades de saúde e, além disso, os residentes sofrem com a poluição gerada pelas indústrias locais, e não há uma associação para que eles se organizem e lutem por melhorias no bairro.

 Instalações de Brasil Oiticica S.A. 

O bairro recebeu esse nome em homenagem à um empresário**
A praça que é cortada pela avenida Francisco Sá é a porta de entrada do bairro. E uma das mais importantes vias de acesso a região oeste da capital. Nesta praça pode-se contar um pouco da história de todo o Carlito Pamplona.

Brasil Oiticica S.A  Crédito da foto

A linha férrea e as indústrias fizeram o bairro crescer e ganhar cada vez mais moradores. No limite com o Álvaro Weine ficam as principais referências. A Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. As duas praças cortadas pela principal rua do bairro.
E o mercado construído onde antes funcionava a feira. O aposentado, José Alves chegou há muito mais tempo. E se orgulha de fazer parte da história.


A homenagem veio com o nome da praça Antonio Alves Linhares. Bem em frente ficava ainda o cinema Oswaldo Cruz nas décadas de 60 e 70, onde hoje funciona uma escola.
A avenida Francisco Sá, corredor comercial, é também a principal via de acesso. Mas na memória de José Alves, nem sempre foi assim.

Bairro Carlito Pamplona. Em destaque a Brasil Oiticica em 1972. Revista Manchete

Antiga fábrica da Bombas King, início dos anos 70. Acervo Dario Castro Alves

Luiz Carlos Garcia tem 54 anos de Carlito Pamplona. Ele mostra onde funcionavam a televisão pública e o chafariz do bairro. A falta d’água é uma lembrança que faz parte da vida dos antigos moradores.


No bairro vivem 32 mil pessoas. Gente que mora e faz compras no próprio bairro. Como José Tabosa, de 77 anos. Aposentado, ele dificilmente precisa sair do Carlito Pamplona.
Moradores se orgulham da facilidade de encontrar tudo por perto.


Fortaleza report
A praça Antônio Alves, no Carlito Pamplona, é um dos locais mais importantes e conhecidos do bairro. Hoje lugar de passagem dos moradores, mas antes a praça era uma extensão das casas. Na década de 60 instalaram na praça uma televisão pública preto e branco. Segundo os moradores mais antigos, era ruim até de enxergar. Também havia um chafariz. Um cruzamento é considerado a porta de entrada do Carlito Pamplona, que fica entre os bairros Álvaro Weyne e Jacarecanga. Uma das características desses bairros é que eles adquiriram independência do centro.

Os moradores se orgulham dessa facilidade, de encontrar praticamente tudo por perto. Tem a igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Tem o mercado público, um dos maiores da capital. Sem falar das variedade de comércios e serviços.

Vila em construção no Carlito Pamplona em 1960. Livro os Descaminhos de Ferro do Brasil

O PM responsável pelo Carlito Pamplona, major Lourival Lima, disse que vai tentar deslocar moto patrulhas para atender a comunidade, que ainda não é servida desse tipo de policiamento. O major informou ainda que a área atualmente é coberta por uma carro da PM e outro do Ronda do Quarteirão.

O chefe do distrito de infraestrutura, Luiz Arruda, informou que um novo projeto de requalificação da praça foi encaminhado para a comissão de licitação de Fortaleza. A previsão é de que todo esse processo termina em 120 dias. Luiz Arruda disse ainda que a requalificação da praça prevê a reforma do calçamento, dos bancos e da quadra de esportes.

Praça do Carlito Pamplona - Acervo Capitão Roberto

O Carlito Pamplona mudou muito. Hoje, a avenida Francisco Sá é toda no asfalto, mais larga e corta grande parte da cidade. Bem diferente do passado. O bairro também tem muito comércio e serviço. Lá tem banco, padaria, mercado, colégio, enfim: este é um bairro independente.

Curiosamente, o Carlito Pamplona chega a manter uma aura de "cidade de interior", em vista de seu comércio intenso, uma rede bancária e os seus ícones: a Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, o Mercado do Peixe e a Avenida Francisco Sá, principal corredor de veículos e os antigos prédios das fábricas abandonadas ou que mudaram de nome.

Para a moradora Maria Alice dos Santos, 34 anos, "nascida e criada no bairro", como diz, a reputação de recanto violento se dá muito pela aproximação com outros bairros estigmatizados, como o Pirambu e as Goiabeiras. "O que ninguém fala é dos benefícios de se morar aqui. Contamos com uma boa rede de transporte urbano e de bons serviços bancários e comércio", ressalta ela.

Carlito Pamplona - Acervo Capitão Roberto
Na sua memória, é inesquecível ainda a Oficina do Urubu, onde hoje fica a sede do Museu da Rffesa, também instalado na Francisco Sá. Foram os ferroviários dessa oficina que organizaram os times suburbanos que deram origem ao Ferroviário Atlético Clube. Passou o tempo, perderam-se detalhes, mas o Carlito mantém sua alma.

Bolsões de pobreza
O primeiro polo industrial do Ceará não se pode dizer que já viveu momentos de prosperidade, como afirmam seus moradores mais antigos. Associada a um bairro proletário, a própria indústria se baseou numa mão-de-obra abundante. A ocupação da área se deu de forma tão brusca, que surgiram bolsões de pobreza não somente dentro do bairro como nas adjacências. Prova disso são as comunidades de risco que foram formadas nas vizinhanças como Pirambu, Álvaro Weyne, Goiabeiras.

Carlito Narbal Pamplona

*Carlito Pamplona nasceu no dia 3 de junho de 1898, em Fortaleza/CE. Casou-se com Dona Hélia Monteiro Gondin e tiveram 9 filhos, dos quais 7 concluíram o curso superior, sendo 6 irmãos Engenheiro, tornando-se na época (década de 60) a família mais numerosa de irmãos formados em Engenharia no Brasil.
Posteriormente vendida em 1941 em plena 2° guerra mundial, ao empresário americano Mister M. E. Marvin. Esse óleo (Mamona e Oiticica), foi utilizado nos aviões de guerra, trabalhando em regime contínuo exportando a produção para os Estados Unidos da América. A indústria de óleo Oiticica foi criada praticamente pela firma C. N. Pamplona e Cia.
Hélio Guedes em 1943, foi executivo no sistema de compras de empresa junto com Franklin Monteiro Gondin, seu cunhado, e Carlito Pamplona que era o Diretor do setor de compra e venda de matéria-prima da Brasil Oiticica, sendo gerente geral o Sr. Martin Russak.

Residência de Carlito Narbal Pamplona e Hélia Gondim Pamplona, na rua 24 de Maio. A belíssima casa foi demolida para a construção do Colégio Evolutivo. Acervo Ricardo Perdigão

O primeiro trabalho planejada para a compra de castanha de caju foi de autoria de Carlito Pamplona, incentivando o plantio e a compra de castanha, especialmente nos centros de produção da área marítima (
Caucaia, Aracati e Cascavel).
Carlito Pamplona foi um homem dinâmico e de visão empresarial abrangente, incansável na conquista e crescimento do mercado de óleo e de castanha de caju.
Existe em Fortaleza um bairro em sua homenagem, denominado Carlito Pamplona, como também uma rua com o mesmo nome. A primeira fábrica de óleo Oiticica funcionou ao lado onde é hoje o Centro Dragão do Mar, na Praia de Iracema. Existe no local um pé de Oiticica e um busto de sua pessoa.
Faleceu no dia 2 de maio de 1947.
Agraciado com a Medalha do Mérito Industrial/FIEC, (Post-Mortem), em 1975.

**Não era o dono. Nos dias de hoje, poderia ser comparado a um executivo. Carlito Pamplona, numa homenagem dada a um empreendedor, passou a ser o nome do primeiro bairro operário de Fortaleza. Administrador da Brasil Oiticica, indústria originalmente pertencente a norte-americanos e pioneira do óleo produzido a partir da oiticica, Pamplona tornou-se uma personalidade respeitada no meio empresarial da época.
Afinal, dirigia uma empresa que chegou a gerar mil empregos diretos, como lembra o empresário e ex-presidente da Federação das Associações do Comércio, Indústria e Agropecuária do Ceará (Facic), João Hudson Carneiro de Saraiva.
Até então, a indústria consistia numa atividade canhestra ou até incipiente. Isso aconteceu até meados de 1950. "Evidentemente, que uma indústria desse porte, para uma cidade pequena, como era Fortaleza naquele tempo, haveria um efeito desencadeante e multiplicador. Foi daí que atraíram muitos outros empreendimentos, como o Ângelo Figueiredo (móveis de aço) e até mesmo a Ironte (panelas de alumínio), dentre outros investidores", revela João Hudson.
Terrenos baratos, ao contrário do Jacarecanga, e linhas da Rede de Viação do Ceará (RVC). Essas condições possibilitaram um desenvolvimento demográfico, que, nos dia de hoje, vive os reflexos da desordem populacional e com indicadores de violência típicos de um lugar urbano e densamente povoado.


Crédito: Tv Verdes Mares, Netsaber e Álbum Fortaleza 1931

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Nos trilhos do tempo

“O primeiro apitar de trem”
No dia 3 de agosto de 1873, cerca de 8.000 fortalezenses - a quase totalidade da população da capital cearense de então! - vieram, meio assombrados, assistir, na rua do Trilho de Ferro, hoje Tristão Gonçalves, à passagem barulhenta do primeiro trem que andou espantando todo mundo, na via pública, com o seu apitar estridente e esquisito.
Naquela tarde, dava-se a experiência da locomotiva "Fortaleza". Diante da multidão basbaque, o pequenino trem, com um êxito surpreendente, rodou, cinco vezes, seguidamente, sob os mais entusiásticos aplausos, entre a estação Central, localizada no antigo Campo d'Amélia, atual praça Castro Carreira....”
  


Raimundo Menezes - Coisas que o vento levou... 


Estrada de ferro de Baturité

Foi em 25 de março de 1870 que um grupo de empresários ilustres entenderam de impulsionar o desenvolvimento do nosso Estado e, assim, resolveram se reunir e criar uma ferrovia. O Pacto foi firmado entre o Senador Tomaz Pompeu de Souza Brasil, o Bacharel Gonçalo Batista Vieira (Barão de Aquiraz), o Coronel Joaguim da Cunha Freire (Barão de Ibiapaba), o negociante inglês Henrique Brocklehurst e o Engenheiro Civil José Pompeu de Albuquerque Cavalcante.
A Companhia Cearense da Vila Férrea de Baturité foi constituída em 25 de julho do mesmo ano. Esta era a empresa para construir um caminho de ferro inicialmente até a Vila de Pacatuba, com um ramal para Maranguape.
Em 1871 foi instalado em Fortaleza o escritório da empresa, tento seu primeiro empregado João da Costa Weyne. O local escolhido para a instalação da estação central foi o antigo Campo D'Amélia, hoje a Praça Castro Carreira, e para a construção do "chalet" para o escritório e as oficinas o antigo Cemitério de São Casimiro. A inauguração aconteceu em 9 de julho de 1870, no Reinado de Dom Pedro II, tento como o diretor da Estrada o Engenheiro Amarílio de Vasconcelos.
Em 1º de julho de 1873 deu-se o assentamento dos primeiros trilhos, com a Locomotiva de Fortaleza andando sobre eles em agosto. Foi concluído em 14 de setembro de 1873 o primeiro trecho entre Fortaleza e Arronches, hoje Parangaba, sendo ele inaugurado em 29 de novembro. A primeira viagem que o trem fez sobre aquele trecho teve como tripulação o maquinista José da Rocha e Silva, foguista Henrique Pedro da Silva, chefe de trem Eloy Alves Ribeiro e guarda-freio Marcelino Leite.



De um tempo em que os trens do interior transportavam passageiros além das cargas, o Ceará chegou a possuir 58 estações ferroviárias, perfazendo um total de 600 km. Isso é o que conta o arquiteto José Capelo Filho, dono de um acervo impressionante com mais de 4000 fotografias, que outrora pertenceram a Mister Hull. "Conheci a mulher de Julian, filho de Mister Hull com uma cearense, que queria doar os álbuns depois que o marido faleceu, então eu fiquei. As mapotecas, esses móveis, também comprei dela", explica Capelo, apontando para as mobílias de seu escritório, as quais hoje abrigam livros, documentos e relíquias sobre a história do Ceará.

Mister Hull
Com o material em mãos, o arquiteto reuniu as imagens, ao lado de sua esposa, a também arquiteta Lidia Sarmiento, com o objetivo de registrar informações valiosas durante o processo de restauração das estações ferroviárias, com base em dados reais, ou simplesmente conhecer mais sobre a história do Ceará. Algumas estações, aponta com tristeza, estão abandonadas, perderam detalhes valiosos, como arremates do telhado, ou se encontram perdidas no meio da vegetação que tomou conta da paisagem.

"Cada imagem será acompanhada por um registro gráfico e iconográfico, com informações sobre a data de inauguração das estações, altitude, posição quilométrica, o nome anterior e o atual. Além disso, há desenhos de plantas, que encontrei no acervo de Mister Hull", explica. Tanto detalhamento é fruto da obsessão do ilustre gerente de estrada de ferro, que hoje dá nome a uma das avenidas de Fortaleza. Por trás das imagens, é possível se deparar com um senso de organização de quem queria registrar pessoas, animais, detalhes de casas, além de outras informações, anotadas também em índice. Nos livros, a marca registrada do colecionador retrata a preocupação em apontar a origem do acervo.

"Tenho também documentos importantes como o balanço anual da estrada de ferro de Baturité, de 1912 a 1915, com informações sobre a arrecadação, o número de vagões...", descreve. Outro livro, entre os achados, é do Engenheiro Ernesto Antônio Lassance Cunha, onde se observam dados, descrições sobre a economia de municípios e localidades do Ceará. "Já aí se pensava, por exemplo, em ligar o Ceará ao Sul da República. Havia também a preocupação em minorar os efeitos da seca e desenvolver a lavoura e a indústria do estado".

História

"No dia 3 de agosto de 1873, cerca de 8000 fortalezenses - a quase totalidade da população da capital cearense de então! - vieram, meio assombrados, assistir, na rua do Trilho de Ferro, hoje Tristão Gonçalves, à passagem barulhenta do primeiro trem que andou espantando todo mundo, na via pública, com o seu apitar estridente e esquisito".

A passagem do texto de Raimundo Menezes, em "Crônicas Históricas da Fortaleza Antiga", retrata a cena ocorrida no Campo D´Amélia, atual Praça Castro Carreira ou da Estação, por ter sido escolhida para abrigar a estação central da Estrada de Ferro de Baturité. Durante a inauguração, o trem fez algumas viagens, acompanhadas de aplausos da população.

Um engenheiro que gostava de colecionar imagens

O arquiteto José Capelo Filho conta que o inglês Francis Reginald Hull, ou Mister Hull, como é mais conhecido, chegou ao Ceará em 1913, nomeado para o cargo de Superintendente Geral da Brazil North Eastern Railway, arrendatária da Rede Ferroviária Cearense, para explorar o serviço de trem. Era uma criação da South American Railway Construction Company Limited. Além da ocupação como engenheiro ferroviário e hidráulico, Mister Hull dividia seu tempo fotografando, colecionando cartões-postais, contando a história dos locais por onde passava por meio das imagens, muitas delas hoje no arquivo do arquiteto. Curioso, estudou as secas do estado, quando descobriu a ligação do fenômeno com as explosões solares, que ocorrem com uma variação sazonal de 9 a 11 anos. Um quadro com o gráfico, inclusive, encontra-se no escritório de Capelo. Segundo o arquiteto, o inglês ainda era dono da biblioteca mais importante do Brasil do ponto de vista de documentação do período colonial.

Mister Hull


Ceará nos trilhos


Os trens estabelecem os caminhos do progresso cearense, provocam mudanças na sociedade e criam uma nova paisagem. Em “Estradas de Ferro no Ceará”, Francisco de Assis Lima e José Hamilton Pereira remexem o baú do transporte ferroviário no Estado, mergulham na memória, e revelam uma história feita de desafios, sonhos, construções ousadas e prédios que o tempo se encarregaria de fornecer valor histórico.

A primeira concessão para a construção de estradas de ferro no Ceará deu-se com um decreto de 1857, em um empreendimento que deveria construir e explorar uma via férrea a qual, partindo de Camocim e imediações de Granja, seguiria para o Ipu, passando por Sobral. Um projeto arquivado. Outro marco da história ferroviária cearense data de 1968, quando foi apresentado o projeto de uma linha ferroviária ligando Fortaleza à vila de Pacatuba, com um ramal para a cidade de Maranguape. Outro projeto que não saiu do papel.

Só dois anos depois, nasceria o projeto da primeira estrada de ferro construída no Ceará, a Via Férrea de Baturité. E, em 13 de março de 1873, chegavam a Fortaleza as primeiras locomotivas, desembarcadas no trapiche do Poço das Dragas (antigo porto). “O prédio da estação ainda estava em obras quando recebeu as máquinas à vapor que, sendo arrastadas por tração animal com a afixação de trilhos portáteis, foram transformadas num show de apresentação, ao desfilarem pela Rua da Ponte (Alberto Nepomuceno) e Travessa das Flores (Castro e Silva) até a Praça da Estação, explicam os autores.

Um novo “espetáculo” aconteceu cinco meses depois, quando a locomotiva “A Fortaleza” rodou cinco vezes - desta vez com os próprios motores - da Estação Central até a parada “Chico Manoel”, no Cruzamento das Trincheiras, atual Liberato Barroso. O primeiro trecho da ferrovia, ligando o Centro ao Distrito de Arronches (Parangaba), ficou pronto em setembro de 1873, quando, com restrições, uma locomotiva e alguns vagões chegaram, pela primeira vez, a Parangaba.

Em seguida, foram inauguradas as estações de Mondubim, Maranguape e Maracanaú (1875) e Monguba e Pacatuba (1876). O governo imperial encampou a ferrovia em 1878 e estabeleceu algumas mudanças no projeto original, além de ordenar a construção de uma nova estrada ligando o porto de Camocim até Sobral e o início dos estudos para a construção da nova estação central, que seria inaugurada em 1880.Registros fotográficos

A obra traz registros fotográficos históricos de estradas sendo construídas, das festas de inauguração no Ceará, das pontes e estações mais importantes no caminho dos trens. Algumas fotos ganham mais valor por retratarem estações que foram demolidas com o tempo, como a de Maracanaú, e de paisagens de um Ceará que não existe mais. Mas a maioria das fotos é de construções que resistem ao tempo. São registros das pontes sobre os rios Acarape, Aracoiaba, Quixeramobim, Putiú, Jaguaribe e de belas estações, como as de Camocim (1913), Missão Velha (1926).


Crédito: Diário do Nordeste e Ofipro 

sábado, 2 de outubro de 2010

Antônio Bezerra - Um bairro movimentado


Foto antiga da Igreja Jesus, Maria José - Crédito da foto

Estação de trem, rodoviária e uma ampla avenida são vantagens do lugar apontadas pela própria comunidade.
Não há nada mais emblemático no Antônio Bezerra do que a imagem de constante movimento. Desde o fluxo intenso na Avenida Mister Hull, passando pela rodoviária (que, até 2000, funcionava em outro lugar e detinha o nome de "Rodoviária dos Pobres") até a estação do trem são exemplos de como o bairro foi favorecido pela diversidade nos seus acessos.

Aliás, o nome original do bairro, que perdurou até meados da década de 1960, tinha como origem a estrada que o ligava ao município de Caucaia, conhecida como Estrada do Barro Vermelho. Moradores antigos dizem que essa foi uma grande vantagem para o desenvolvimento local, não apenas no rápido povoamento, mas na expansão das fontes de geração de emprego e renda.

Igreja Jesus, Maria e José é um das construções anteriores à criação do bairro

Vida noturna

Se, no passado, conforme o comerciante Francisco Sales Furtado, o comércio do gado movimentava riquezas, o mundo da produção atual inclui indústrias, comércio e entretenimento que conferem vida noturna das mais movimentadas.

O vínculo do Antônio Bezerra com o comércio de carne, lembra o memorialista Christiano Câmara, tanto provinha dos bois transportados por caminhões pela estrada do Barro Vermelho como do trem.

Chácara Salubre - A mais antiga edificação do bairro - Crédito da foto

O lugar ficou conhecido pelos recantos de engorda. Na verdade, consistia de um tempo curto para o restabelecimento do gado, em vista do desgaste de deslocamentos, principalmente, provenientes do Piauí.

Antigo frigorífico da cidade de Fortaleza. A situação é de completa precariedade e risco de vida.

Pela existência de diversos matadouros, a vocação para ser centro de abastecimento de carne em Fortaleza perdurou, ainda, nas décadas de 1960 e 1970, com a instalação do Frigorífico Indústria de Fortaleza (Frifort), mantido pela Prefeitura de Fortaleza, quase no limite com o município de Caucaia. Apesar da evolução para um abate industrial, o frigorífico fragilizava a estrutura sanitária do bairro.

A deterioração, em vista de sangue e vísceras despejados às margens do rio Maranguapinho, chamava a atenção pela degradação do manancial, especialmente pelo descontrole na proliferação de aves de rapinas. Com isso, criou-se uma resistência dos moradores e ambientalistas, que levaram ao esvaziamento do Frifort na década de 1980.

Se o comércio de carne entrou em decadência, outras opções de emprego e renda foram estimuladas, em vista da mobilidade. Como lembra Christiano Câmara, de um lugar remoto, tomado por sítios e uma extensa área verde, foi povoado rapidamente, graças ao crescimento demográfico natural e, sobretudo, à facilidade de acesso.

Saudade

"O tempo em que o Antônio Bezerra parecia ser um lugar alheio a Fortaleza deixou saudades. Era ali que passava férias na casa de meu avô, onde ele construiu uma granja e uma floricultura", recorda Douvina Câmara. O saudosismo lhe toca a alma pela modificação sofrida com o passar dos anos. Hoje, para ela, o Antônio Bezerra é mais do que um bairro. Passou a ser uma cidade dentro de outra cidade, interagindo com muitas comunidades dentro e fora de suas limitações geográficas.

O ideal abolicionista

O nome de Antônio Bezerra tem origem numa homenagem feita ao filho do Dr. Manoel Soares da Silva Bezerra e de Maria Teresa de Albuquerque Bezerra. Na juventude, sua produção poética foi muito popular, especialmente depois da publicação de "Sonhos de Moço" (1872) e "Três Liras" (1883), juntamente com Justiniano de Serpa e Antônio Martins. Participou ativamente da campanha abolicionista no Ceará. Esse característica, inclusive, fez com que o Estado antecipasse a abolição da escravatura para o dia 25 de março de 1884, quatro anos antes da Lei Áurea. Foi, porém, na historiografia que desempenhou papel mais importante, escrevendo obras que até hoje são referências para a compreensão do história do Ceará no período em que viveu. Colaborou com diversos jornais da Capital, entre eles, "O Ceará" e "O Libertador", tendo sido um dos fundadores de ambos. Foi também fundador do Instituto do Ceará. É patrono da quarta cadeira da Academia Cearense de Letras.

PROBLEMA 
Rodoviária somente para embarque

A Rodoviária do Antônio Bezerra é, contrária à razão, um lugar apenas para o embarque de passageiros. Inaugurada em 2000 pelo então governador Tasso Jereissati, captou os antigos passageiros que saíam de Fortaleza para o Interior e outros estados. Ficou, de fato, conhecida como a Rodoviária dos Pobres, localizada na Avenida Mister Hull.

Ao longo de uma década de serviço, nunca foi viabilizado o desembarque. Benefício que poderia ocorrer dentro do próprio corredor ou com a construção de um viaduto.

Constrangimento

Para a moradora Maria Mirtes Medeiros, trata-se de uma situação constrangedora. Afinal, como lembra, os passageiros dos ônibus intermunicipais e até interestaduais desembarcam com malas e sacolas, tornando-se alvo vulneráveis para assaltantes e marginais.

Essa situação também prejudica os taxistas, que improvisam pontos em áreas específicas da avenida, à espera de eventuais passageiros, que descem dos veículos. O supervisor do terminal rodoviário, Edilberto Martins, diz que essa dificuldade é um grande desafio para se otimizar o equipamento. Por mês, circulam ali aproximadamente 20 mil passageiros. Número, conforme salienta, que sempre aumenta em feriados prolongados e até mesmo nas sextas-feiras à noite.

Estrutura

Com um amplo salão de espera, lanchonetes e guichês de venda de passagem abertos durante o horário comercial, a estação de embarque foi uma evolução bastante considerável.

Hoje, a rodoviária voltou a sofrer com a degradação, ao atrair o comércio ambulante, motivado pelo fluxo não apenas de ônibus, mas de vans, carros fretados e outros veículos.

Há também uma movimentação intensa de pessoas que ficam no aguardo de transporte, em geral nas imediações do viaduto que atravessa a Avenida Mister Hull. Um cenário contrário à higiene e à organização da nova rodoviária.


Marcus Peixoto


Fonte: Diário do nordeste

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