Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Avenida Santos Dumont - Aldeota



 “Não dizem que o tempo tem asas? Pois tem mesmo. Na Aldeota levantaram-se riquíssimos bangalôs, agora chamadas ‘casas funcionais’. Quase todos brancos, bela estupidamente brancos numa terra de sol. Doem na vista? Mas ficam bem na paisagem entre o verde do mar e o azul do céu, num suave lombo de terra, que se abaixa cautelosamente em busca da praia.”

 “Numa topografia diferente, microgeográfica, Aldeota se personaliza, assume limites certos, cria a sua própria alma, amadurece enfim ‘Aldeota’”.

Aldeota, na década de 1960 - pág 286 - Jader de Carvalho


A  Avenida Santos Dumont, antes fora denominada - Av. Nogueira Acioli - (1933), de No 9 - (1890), “Do Colégio” (1888) - Registra João Nogueira - Fortaleza Velha, pág. 43.



Avenida Santos Dumont vai do Centro da cidade à Praia do Futuro. Começando na altura da Rua Cel. Ferraz, terminando na Av. Dioguinho, se interligando desde o Centro, Aldeota, aos bairros VarjotaPapicuPraia do Futuro. Outrora, somente uma ampla dimensão de terra virgem e inóspita formava a paisagem do Outeiro - hoje Aldeota - com alguns sítios, matagal espesso, cuja copagem, com predominância de arbustos, carrapicho-da-praia, servia de moradia das diversas espécies de pássaros - como os bem-te-vis-de-gamela, galos de campina, graúnas, sabiás, canários, da terra, dessa imensa fauna que os repetidos estribilhos despertavam novos moradores, tornando Aldeota essa “selva de pedra” que se ergue em desafio ao céu, mas, tudo isso tem clássico nome de modernidade.

Zenilo Almada

Essa era a casa do presidente do estado na Av. Santos Dumont
No final da Segunda década do século passado, foi construída a casa que ilustra a foto antiga, era a Vila Quixadá, que ficava na Avenida Santos Dumont nº 1169, construída por Adolfo Quixadá para sua residência. Após alguns anos foi alugada ao governo estadual que a usou como residência do Presidente do Estado. Em 1930 a casa volta às mãos da família Quixadá e nela inaugurava-se, no dia 6 de março o Ginásio São João, dirigido pelo professor César de Adolfo Campelo e que em 1943 passou a ser Colégio São João.Em 1976, o colégio foi vendido para a Organização Farias Brito, mudando o nome para Farias Brito-Aldeota/1. Depois a casa foi vendida e em seguida demolida, sendo levantado no local um novo prédio que abriga hoje um supermercado. (Créditos – Nirez) - Blog do Borjão

Colégio Militar, na Av. Santos Dumont, a Igreja do Cristo Rei está de costas na foto - 1940

A Avenida Santos Dumont é uma das avenidas mais importantes de Fortaleza.
É uma das vias mais longas da cidade com mais de oito quilômetros ligando o bairro Centro a zona leste de Fortaleza chegando até a Praia do Futuro cruzando o bairro Aldeota. 

A avenida começa estreita e de sentido único oeste-leste a partir da rua Coronel Ferraz sendo alargada a partir da rua Dona Leopoldina. A partir da rua Tibúrcio Cavalcante a avenida ganha um canteiro central e passa a ser de sentido duplo. Quase que totalmente uma linha reta, após seu prolongamento na subida das dunas da praia do Futuro, ganha uma curva na descida para a praia a partir da rua dos Tapajós. A partir dessa rua até o seu fim na Avenida Dioguinho seu canteiro central é bem largo.

Colégio da Imaculada Conceição

Existe uma grande quantidade de instituições, empresas e centros comerciais situadas ao longo de sua via tais como Colégio Militar de Fortaleza, Colégio da Imaculada Conceição, Shopping Del Paseo, Shopping Center Um, Unimed Fortaleza, Hospital São Mateus, Hospital Gênesis, Hospital e Maternidade Gastroclínica, BNB Clube de Fortaleza, Tribunal Regional do Trabalho, Funasa, Central de Artesanato do Ceará, dentre outros.

Avenida Santos Dumont - 1957 - Arquivo IBGE

1957 - Detalhe para o muro baixinho - IBGE

Foto do arquivo do IBGE

1957 - Arquivo do IBGE

Final dos anos 50 - IBGE

Casa na Av. Santos Dumont no final dos anos 50 - Arquivo IBGE

Casa na Av. Santos Dumont - 1968 / Crédito da foto: Alba

Jumbo do Center Um - 1976

Na foto os atores Milton Moraes e Vera Gimenez descendo a rampa, depois de fazer compras. Também podemos ver o Cine Gazeta por trás da palmeira (Cena do filme “O Homem de Papel”) Crédito : O Povo 

 Avenida Santos Dumont integra a lista das poucas vias de Fortaleza que ainda conservam algumas árvores nos canteiros centrais

Foto de D'Neto

Morou na Av. Santos Dumont:

João Hippolyto de Azevedo e Sá

João Hippolyto nasceu em Fortaleza a 13 de agosto de 1881,  - se vivo fosse iria completar 122 anos - Filho de Jeronymo Vieira de Azevedo e Sá, e neto paterno de João Batista de Azevedo e Sá e Anna Vieira de Azevedo e Sá e materno de Domingos Pereira Façanha e Ana Bayma Façanha.

Fez o curso de preparatórios no Ginásio Nacional, atual Colégio Pedro II, e matriculando-se a princípio na Faculdade da Bahia, em que fez o primeiro ano, e depois na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, defendeu tese em 22 de janeiro de 1904.

Sua tese foi aprovada com distinção, versou sobre segredo médico. Em 1º de março de 1904, foi nomeado professor interino de Física e Química na Escola Normal do Estado e efetivo a 30 de fevereiro de 1908.

À 7 de dezembro de 1905, foi nomeado para a Secção de operações e partos no Hospital de Misericórdia de Fortaleza.

Permaneceu várias décadas como diretor da Escola Normal Justiniano de Serpa, cujo cargo se aposentou. Após sua aposentadoria, foi convidado a exercer em comissão o cargo de diretor do Instituto de Educação no qual ficou por alguns anos, era avô de Márcio de Azevedo e Sá Livinio de Carvalho, já falecido.
Dr. Hipólito, como era conhecido, residiu por muitos anos na Av. Santos Dumont No 2110, esquina com a Rua Silva Paulet, ponto final do bonde Aldeota. Nesse local, se acha instalado o Banco Mercantil de São Paulo.



Fontes: Zenilo Almada, Wikipédia

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

João Facundo de Castro Menezes - O Major Facundo




De acordo com o historiador Barão de Studart

“Major Facundo, foi à influência mais legítima e real que teve a província do Ceará”.

João Facundo de Castro Menezes nasceu em Aracati, Ce, no dia 12 de julho de 1787. Filho do Capitão – Mor José de Castro e Silva e Joana Maria Bezerra de Menezes.
O Capitão-mór José de Castro e Silva teve do seu casamento, celebrado em 22 de Agosto de 1768 com D.Joana Maria Bezerra, além de João Facundo dez filhos; sendo cinco homens e cinco mulheres. Os primeiros anos de João Facundo, ocupados na vida do comércio em Aracati e depois em Fortaleza, para onde mudou-se em 1818, nada oferecem de notável, mas acontecendo envolver-se por muitos lustros nas lutas travadas na província por motivo de partido e de nacionalidade, sua passagem por elas deixou vestígios inapagáveis. Quando de Pernambuco se estenderam ao Ceará as idéas da Confederação do Equador e a nova comarca do Crato hasteou em Outubro de 1822 o estandarte da revolta, foi Facundo metido em arbitraria e despótica prisão e deportado para uma fortaleza no Rio de Janeiro de onde o fez sair um honroso mandado Imperial. Esses vexames, de que também partilhou seu primo e conterrâneo Capitão-mór Barbosa, eram consequência lógica das idéas que comungavam em matéria de política, a família Castro opondo-se ao reconhecimento do governo de que se constituíram chefes Tristão Gonçalves d'Alencar Araripe, José Pereira Filgueiras e Padre Gonçalo Ignacio d’Albuquerque Mororó. Em data de 14 de Abril de 1824, Barbosa assinou com seus companheiros do Senado da câmara, Marcelino de Brito, Manoel José Martins Ribeiro Júnior, Ignacio Ferreira Gomes e José Antonio Machado um protesto contra os manejos de Tristão e conjurou-o a que se demitisse do posto, que ilegitimamente assumira e concluiu lançando lhe sobre os ombros a responsabilidade de toda e qualquer desgraça, que em Fortaleza acontecesse por motivo de não aquiescência ao convite do Senado. Em resposta a esse ofício, a Municipalidade recebeu obstinada e formal recusa asignada por Francisco Pinheiro Landim, José Pereira Filgueiras, Tristão Gonçalves d'Alencar Araripe e Miguel Antonio da Rocha Lima (secretário), recusa cuja minuta fora feita pelo Padre Mororó. Convencidos os Castros e seus amigos que os revoltosos não cederiam de seu propósito, nem reconheceriam o Tenente-coronel Pedro José da Costa Barros, presidente nomeado pelo Governo Central desde 25 de Novembro de 1823, e que então já estava no porto pronto a desembarcar da corveta “Gentil Americana”, reuniu-se de novo o Senado da Câmara a cuja sessão compareceu o comandante do batalhão de 1ª linha Sargento-mór José Narcizo Xavier Torres e passou a instituir um governo provisório, cuja Presidência foi assumida pelo 2º vereador, pois o 1º, Joaquim Antunes de Oliveira, temendo comprometer-se, dera parte de doente. Estando as coisas assim, Tristão, Landim e seus amigos retiraram-se apressadamente, mesmo sem cavalgaduras, para a vila de Arronches onde estabeleceram quartel general e deonde espiavam a cidade de Fortaleza e suas proclamações e de tais meios se serviram, não sendo o de menor importância a divulgação da noticia de ter sido Filgueiras elevado ao posto de brigadeiro e feito Governador das Armas, que conseguiram a suspensão de Facundo do comando do Batalhão dos Nobres e a prisão de Barbosa. Isto se passava no dia 15, quinta-feira santa, e nesse mesmo dia tinha o desembarque de Costa Barros. Chegada no dia seguinte a nova do bloqueio do Recife e da critica posição de Paes de Andrade. Tristão apressou-se em convidar Costa Barros a assumir a presidência da Província, o que se realizou com satisfação de todos os cearenses, que viram restituídos as suas famílias Facundo, Barbosa e companheiros. Não tinha, porém, ainda soado a hora do extermínio completo da República do Equador no Ceará; rios de lagrimas deviam ainda derramar-se e sangue precioso tingir o solo da pátria. Diogo Gomes Parente e Francisco Alves Pontes, que vinham de Pernambuco trazer palavras de animação e assegurar a esperança de decisiva vitória, seguiu Filgueiras para o Aquiraz, depois voltou a Messejana e desta última,expediu ordem a Luiz Rodrigues Chaves, já então feito comandante do batalhão da capital, para que prendesse e remetesse para bordo da fragata ingleza “Jubile “ João Facundo, Joaquim Barbosa, Marcelino de Brito, Manoel Martins, José Narciso Xavier Torres, Manoel Antonio Diniz, Francisco Xavier Torres, João da Silva Pedreira, Sargento-mór Jeronymo Delgado Esteves e o Tenente José de Abreu. Postos na impossibilidade de lutar, os inimigos mais salientes dos planos de Tristão, Filgueiras oficiou ao Presidente Costa Barros para demitir-se do lugar que ocupava e deu-lhe por substituto Tristão Gonçalves que entrou em exercício.

Contrário à Junta Governativa formada por Tristão Gonçalves, Padre Mororó e Pereira Filgueiras, Major Facundo (como já foi dito),foi preso e enviado para o Rio de Janeiro, sendo libertado por ordem de D. Pedro I.
Era defensor das idéias políticas da família Castro, e chefe do Partido Liberal, por ocasião da Confederação do Equador.
Deixa novamente o Ceará, com a declaração da maioridade fornecida por D. Pedro II, e assume interinamente a Presidência da Província do Ceará em substituição ao Padre José de Alencar, exonerado da Presidência do Ceará em março de 1841, por ocasião da queda dos liberais no Rio de Janeiro.
No dia 9 de maio é nomeado um novo Presidente do Ceará, Brigadeiro José Joaquim Coelho.
O Major Facundo, embora fosse seu Vice-Presidente, lhe fazia cerrada oposição.
Esta divergência deu motivos a que a esposa do Presidente contratasse um matador que assassinou Facundo, no dia 8 de dezembro de 1841 em frente a sua própria residência, na atual Rua Major Facundo.
No local onde funciona hoje a Livraria das Edições Paulinas.
Os executores, Antônio Manuel Abraão e Pedro José das Chagas foram condenados à prisão perpétua, e Joaquim Ferreira de Sousa Jacarandá, que serviu de intermediário na contratação dos criminosos, foi julgado 3 vezes e absolvido.

Bala assassina desfechada às  19:30hs da noite de 8 de Dezembro libertou os conservadores de poderoso adversário e roubou aos liberais seu chefe prestimoso. Era então presidente da Provinda o brigadeiro José Joaquim Coelho, depois Barão da Vitória, juiz de direito e chefe de polícia da comarca da capital o Bacharel Miguel Fernandes Vieira e comandante da policia Franklim do Amaral. Procederam ao corpo de delito e exame cadavérico com assistência do juiz de paz Capitão-mór Barbosa e do escrivão Antonio Lopes Benevides o Cirurgião-mór da província Joaquim da Silva Santiago e o Cirurgião Francisco José de Mattos. É este o auto de corpo de delito, a que mandou proceder o Juiz de paz do primeiro ano, Capitão-mór Joaquim José Barbosa:

(*)“Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Chisto de 1841, aos nove dias do mez de Dezembro do dito anno nesta cidade da Fortaleza, cabeça da Comarca e Província do Ceará Grande, em casa de morada do Major João Facundo de Castro e Menezes, onde foi vindo o Juiz de Paz do primeiro anno, Capitão-mór Joaquim José Barbosa commigo Escrivão de seu cargo ao diante nomeado, o Cirurgião-mór da Província do Ceará Grande Joaquim da Silva Santiago e o Cirurgião Francisco José de Mattos para effeito de se proceder a exame e corpo de delicto no cadáver do dito Major João Facundo que havia sido assassinado á noite antecedente com tres tiros e logo pelo dito Juiz de Paz-foi deferido aos ditos peritos o juramento dos Santos Evangelhos em um livro delles a um depois de outro, encarregan-do-lhes que com boa e san consciência examinassem o corpo do cadáver que estava presente e declarassem quantos ferimentos, noduas e contusões tinha o dito cadáver em seu corpo, suas qualidades e cituações e se dellas provinha a morte. E recebido por elle, dito juramento assim o prometteram cumprir e guardar como lhes era encarregado, e logo na presença do dito Juiz e de mim Escrivão passaram os ditos peritos a examinar o corpo do dito cadáver e declararam ter este uma ferida longa sobre a parte lateral media e inferior do craneo do lado direito com fracturas ou grandes destruições nos ossos parietal, escamosa do temporal e coronal até a apophyse todos do mesmo lado direito com extensão de duas polegadas de boca circularmente penetrando a cavidade do craneo em direcção obliqua para a baze posterior e inferior do occipital com perdimento e grande destruição de cérebro e grossos vasos; outro ferimento junto ao condylo esquerdo do occipital, contendo uma polegada de extensão triangularmente sem fractura da sutura cotnboi-dia e destruição da porção cerebellar, cujo ferimento ultimo denota ser havido dos corpos superiormente impellidos. Estes ferimentos foram feitos com arma de fogo e pelos estragos notados em entranhas; órgãos e vazos tão necessários á vida foram absolutamente mortaes. E por esta fôrma houve o dito Juiz este auto de corpo de delicto por terminado. Eu Escrivão dou minha fé por ser todo o conteúdo em verdade por vêr e presenciar ditos ferimentos da cabeça do dito cadáver, e de tudo para constar mandou o dito Juiz de Paz fazer este auto em que assignou com os ditos peritos. Eu Antonio Lopes Benevides, Escrivão o escrevi.—Joaquim Jose Barbosa, Joaquim da Silva Santiago, Francisco José de Mattos”. 


Nota de falecimento do Major Facundo publicado no Jornal O Cearense de 1846.

Possuo ainda a camisa que vestia Facundo ao ser assassinado. Sobre o bárbaro crime são dignos de leitura os Discursos, que na presença do Imperador recitaram a 5 de Janeiro de 1842 o Senador Alencar, o deputado Padre Carlos de Alencar e o Dr. José Lourenço, presidente da Câmara de Fortaleza. Estão publicados no Maiorista, do Rio de Janeiro (Janeiro de 1842). O illustre cearense, pode-se dizer, suicidara-se: como a Cezar, não lhe faltaram avisos de que sua vida corria enormissimo perigo, risco iminente; como a Pelegrino Rossi chegaram-lhe nefandas traições; mas tais eram os sentimentos que em sua alma se aninhavam que nunca se arreceou de ser vítima do bacamarte assassino por motivo político, por ódio partidário. Disto temos prova em carta sua. Um dia, era a festa do Espirito Santo, a família Castro reunia-se no Meireles em casa de Manoel Lourenço, residência hoje da familia Silva Porto, e João Facundo para lá se dirige pelo caminho, que fica à direita do Palácio Episcopal ; os assassinos emboscaram-se neste ponto, mas frustrou-se o plano tenebroso, porque a vítima voltara por caminho diferente, pela beira-mar; em outra ocasião achava-se ele em casa do seu parente Capitão-mór Barbosa, onde foi o Hotel das Quatro Nações, posteriormente consultório do cirurgião dentista Guilherme Sombra e atualmente é a Casa Bordallo. Os assassinos, postados na então Praça Carolina bem em frente da atual Assembléa, retiram dentre feixes de capim as espingardas Carregadas, fazem por vezes pontaria para as janelas do sobrado, que lhes fora designado, mas ainda desta feita frustra-se o assassinato por não ter havido ocasião propícia a perpetração do horrendo crime. Porém a 8 do mês de Dezembro tinha execução o tenaz e deliberado propósito e em hora infeliz realizavam-se as previsões e os temores dos amigos e dos parentes do infeliz cidadão. Compreende-se o que acontecia então nas ruas da cidade, no seio da família em sobresalto. Por toda parte surgiam gritos de vingança, protestos de energia indescritível. A polícia, essa não permitia que se fizessem ajuntamentos de mais de três pessoas e trazia á vista os membros mais conspícuos da familia perseguida e seus mais dedicados amigos, e em altas vozes os homens do governo prometiam prêmios a quem descobrisse os matadores, cerravam ouvidos aos nomes, que o clamor público apontava e mais tarde protegiam abertamente os mandantes do atroz delito. Decorridos tantos anos depois do triste sucesso, se pode hoje dizer sem rebuço os nomes dos criminosos. Foram eles:

a mulher de José Joaquim Coelho (mandante), Antonio Abrahão e Chagas (executores), Cel Agostinho e Joaquim Jacarandá (intermediários). Aliás a Baronesa da Vitória nos últimos tempos de sua vida não mais escondia a parte importante, que tomara na tragédia. Os mandatários do assassínio de Facundo, o preto Antonio Manoel Abrahão, natural de Crateús, e o cabra Pedro José das Chagas, natural de Caxias, Maranhão, foram anos depois condenados a galés perpetuas pelo júri de Fortaleza; Joaquim Ferreira de Sousa Jacarandá, o intermediário entre os assassinos e a mulher de José Joaquim Coelho, a mandante do crime, foi julgado três vezes, sendo absolvido na 1ª, condenado a galés perpétuas na 2ª e absolvido pelo voto de Minerva na 3ª. Seus restos repousam na Igreja do Rosário, corredor à mão esquerda, junto ao túmulo de seu primo e amigo, Capitão-mór Barbosa, falecido de lesão cardíaca a 23 de Outubro de 1847.


 “AQUI JAZEM/ OS RESTOS MORTAES/ DO MAJOR/ JOÃO FACUNDO/ DE CASTRO MENEZES/ VICE PRESIDENTE DA PROVÍNCIA/ ASSASSINADO/ A 8 DE DEZEMBRO DE 1841/ SENDO PRESIDENTE/ JOSÉ JOAQUIM COELHO./ NASCEO AOS 12 DE JULHO/ DE 1787.


TRIBUTO D’AMISADE/ DA SUA INFELIZ ESPOSA/ D. FLORENCIA D’ANDRADE/ BEZERRA E CASTRO/ A 8 DE DEZEMBRO DE 1842.”

A rua mais bela da capital do Ceará, a antiga rua da Palma, aquela onde se acha situada a casa, que o viu cair ferido mortalmente, honra-se hoje com o nome do Major Facundo. A casa é aquela em que tem estabelecimento de ferragens a firma Viúva Villar e Filhos. Um ano e cinco meses depois do assassinato, a 19 de Maio de 1843, voltava para casa pelo braço de Elesbão Bittencourt, filho do presidente Silva Bittencourt e acompanhada de todos os seus juizes a esposa de Facundo, D. Florência de Andrade Bezerra de Castro, acusada de conspirações e metida em monstruoso processo. Os jurados, que por unanimidade absolveram a D.Florência de Andrade foram Manoel Joaquim de Almeida, Manoel José Ladislau, Antonio Pereira Martins, Vicente Ferreira M. Pereira, Vicente da Costa dos Anjos, Valério Raulino de Souza Uchôa, Constâncio Dias Martins, Joaquim de Macedo Pimentel, José Gervásio de Amorim Garcia, João Pacheco Ferreira, Luiz V. da Costa Delgado Perdigão e Francisco Manoel Gafanhoto.

Facundo foi comandante do batalhão dos Nobres de Fortaleza, e condecorado com o hábito de Christo. Dona Florência de Andrade B. e Castro nasceu em Paraiba a 21 de Agosto de 1787, casou a 14 de Maio de 1814 e faleceu a 11 de Setembro de 1865 em Fortaleza.
O Major João Facundo e D. Florência de Andrade deixaram a seguinte descendência: Antonio Facundo de Castro Menezes, nascido a 18 de Novembro de 1816 e falecido no Pará a 1º de Janeiro de 1878; Maria Joanna de Castro Barbosa, nascida a 8 de Julho de 1818, casada com seu primo o Major Joaquim José Barbosa e falecida a 13 de Junho de 1849; Cândida Augusta de Castro Menezes, nascida a 15 de Janeiro de 1824 e falecida a 3 de Junho de 1864; Dr. Ernesto Facundo de Castro Menezes, nascido a 7 de Novembro de 1828 e falecido a 13 de Novembro de 1859; Camerino Facundo de C. Menezes, nascido a 21 de Agosto de 1830 e falecido em 1908 no Pará.

Saiba Mais: 

O sepultamento do Major Facundo ocorreu na Igreja do Rosário.
No local existe uma lápide com inscrições relativas ao fato.
A pedido de sua esposa, foi sepultado de pé, no interior de uma coluna na Igreja.
Esta Igreja, localizada no centro de Fortaleza, é mais antiga igreja de alvenaria do Ceará.
Durante reforma recente, importantes descobertas arqueológicas foram efetuadas nas escavações realizadas no local.

Suas idéias políticas premiam pela legalidade, tendo sido este alvo de perseguições, prisões arbitrárias e por diversas vezes, deportado para o Rio de Janeiro.
Foi deputado estadual e Presidente da Província do Ceará.
Seu nome batiza uma das mais importantes vias centrais da capital cearense, conhecida anteriormente como Rua da Palma.

Em conseqüência das séria desavenças políticas entre liberais e conservadores, foi assassinado em uma emboscada por pistoleiros contratados pela mulher do então presidente nomeado da província, José Joaquim Coelho.
Faleceu em 8 de Dezembro de 1841, em Fortaleza.

(*)Grafia de época
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Crônica de Raymundo Netto para o jornal O POVO

Finalmente! Estava já incomodado com a equívoca ideia que imprimi ao Lustosa da Costa de que não aceitava-lhe a companhia para almoço, repetidas foram as recusas involuntárias justificadas sempre à imprevisível agenda de escravo branco.
Marcamos o encontro no Centro, é claro, e fiel aos bons costumes, pensava em almoçarmos no L’Escale, restaurante de vista patrimônica, um dos poucos em que se pode sentir nos pés os luminosos estalos de soalhos tabuados. Entretanto, ao transpor a lateral do corredor da sacristia da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, gritos desesperados nos tomaram reparo:

— Tirem-me daqui, vamos! Quero sair... Exijo! Sou Comandante do Batalhão dos Nobres... Abram! Abraaaam!!!

Entreolhamo-nos e, curioso, Lustosa entrou com vagar na igreja, dando de cara com o Paulinho, agente pastoral, que girava de maneiras de peão a coçar a cabeça confusa.

— Que é que está acontecendo aqui, homem? — perguntou o Lustosa.

— É o Major... Ai, meu Deus... Amanheceu hoje com a macaca! Ai, meu Deuuuus...

Sim, gentis ledores, para quem não sabe, o Major Facundo, ex-Vice-Presidente da Província — ser Vice já não é fácil, imagine um ex-Vice... — aquele mesmo que emprestou seu nome à antiga rua da Palma, a que embeiça a praça do Ferreira, encontra-se sepultado ali, em pé, numa parede fria da igreja, de vistas ao Palácio da Luz, antiga sede do Governo do qual era servidor. Dos 168 anos que lá habita, até o presente, comportou-se disciplinarmente, sem incomodar os que pela nave arrastam joelhos em troca da serena paz de flores de lis, paz esta que, ao que parece, o Major não compartilha.

Por detrás de um bloco adornado artesanalmente em mármore e pedra sabão de Lisboa, encontra-se o corpo, velado pelo texto em letras de tipos variados, quase como a enredar um enigma:

“AQUI JAZEM/ OS RESTOS MORTAES/ DO MAJOR/ JOÃO FACUNDO/ DE CASTRO MENEZES/ VICE PRESIDENTE DA PROVÍNCIA/ ASSASSINADO/ A 8 DE DEZEMBRO DE 1841/ SENDO PRESIDENTE/ JOSÉ JOAQUIM COELHO./ NASCEO AOS 12 DE JULHO/ DE 1787.
TRIBUTO D’AMISADE/ DA SUA INFELIZ ESPOSA/ D. FLORENCIA D’AND[R]ADE/ BEZERRA E CASTRO/ A 8 DE DEZEMBRO DE 1842.”


Ao passar levemente a mão no friso dourado que contorna a lápide, não sei como, mas devo ter acionado alguma trava secreta: uma porta rangedora se abriu e, com ela, uma mal cheirosa e encofrada poeira do tempo escapou. O Paulinho, com as mãos à cabeça raspada, correu atrás de um rodo: “O chão, o chão!!! Ai, meu Deeeuuuss... O Majooor!!!”
Assistimos então ao trôpego militar que saía, coitado, com um chapelão emplumado bamboleando sobre uma têmpora — a outra foi perdida no “acto delitoso que o victimou” —, o quase não-pescoço posto em forro por babados amarelados pousados à larga lapela azul, a sacudir a areia fininha que escorria pelas dragonas. Ainda assim, bateu continência ao Lustosa, conjecturando, em solene ato, estar de cara com um general. Não rogado, o Lustosa que o observava atento, colocou as mãos pacientes às costas:

— Descanse, meu filho, descanse... Mas me conte: o que te deu para depois de tanto tempo estar assim tão alterado?

— Desculpe-me, senhor, impacientei-me. Não sou homem de ficar parado. Gosto de trabalhar e tempos há que espero, ansioso, a pátria convocação.
— Mas você morreu, cristão... Que diabos ainda quer por aqui, criatura?

O pobre oficial qual sabia o que queria; vertia areia por todo poro, desculpava-se amiúde e, por um momento, ateve-se apenas a desembaraçar os braços à luz, afora da janela, sorrindo, ao senti-la desbridar-lhe o mofo. Vez ou outra o pobre Major engolia seus pensamentos — ou meio pensamentos — e ficava tanto que abestado... Não proferia duas palavras não fosse uma “casa”. Ora, o cadáver, numa crise pós-existencial alegórica platônica, não perdera seu costume provinciano e decidira rever sua casa. Tivemos que levá-lo, cruzando a praça dos Leões que, já acostumada a todo o tipo de “arrumação”, nem ligava para a figura espantalhesca do Major... É claro, eu sabia que a nossa Fortaleza — que tem a tradição de não ter tradição — não se trairia, e por certo haveria de ter posto abaixo a casa do Major. Deveras, passamos algum tempo ali, na Major Facundo com a São Paulo, à esquina, onde a tintura da memória desenhava-lhe uma imagem querida. Acocorado à calçada — era de dar dó —, o Major desfiava a fatídica noite: Estava ele e a esposa concluindo o jantar, às 8 h, quando deram por recostar-se a uma das sacadas que dava para a Palma. Era noite sem luar, negrume à rua. A Florência inda conseguira perceber na esquina da frente, no meio de entulhos, estranho cintilar. Quase conseguia alertar o marido quando o disparo se deu. Por um pouco, os estilhaços da carga do bacamarte não deram fim também à mulher. Tragédia. Antes, sofrera outras emboscadas, na rua da Ponte e na praça da Carolina, mas escapara. Por um és-não-és, escapara... Lamentava o som daquele tiro que não lhe deixava mais o ouvido. Chorou, por único olho, uma gosma amarelada, ralinha, granulada de areia.

O Lustosa acompanhava o relato com poucas falas. Como repórter que é, não resistia a interrogar o Major que, de vezes, o respondia:

— Ô, Joazinho, é verdade que seu partido colocou arsênico na água dos deputados?
— Era apenas tártaro emético, General. — exclamou de pronto, ainda crendo general o colunista. — Ideia do Dr. José Lourenço. Eu que nem sabia disto... Fechou a Assembleia. Foi um Deus nos acuda... Mas, mudando de assunto, e os meus assassinos? foram presos? condenados? morri em vão?

Expliquei ao pálido aracatiense que seus executores, o negro Abraão e caboclo Chagas, foram condenados, sim, e à prisão perpétua. Escaparam da forca por um pouquinho assim... Mas ainda hoje a sua morte é um mistério. A mandante do crime, acredita-se ser, a mulher do Presidente da Província na época. Estes saíram impunes.

— A baronesa? O Presidente? Mas... — Por esta, não esperava.

— Sim, e uns tais José Agostinho e Joaquim Jacarandá. — complementei.

— Agostinho é coronel do Icó, um “carcará”... Jacarandá, este é um sem importância, um alferes do palácio. Que vil traição...

— Não estranhe não, Major — interveio o Lustosa —, vejo urso de gola para entender essa tal de política... Pense numa máquina de fazer doido! Você é um herói. Eu mesmo é que não sirvo nem para comandar barraquinha de pamonha, e vossa mercê um Vice-Governador...

— E o senhor meu Rei? Qu’é dele?

—Rei hoje em dia é artigo de luxo de bloco de carnaval, João. Acorda, homem! O nosso Presidente é um operário que posa ao lado da rainha inglesa e é aclamado pelo Presidente dos Estados Unidos como o político mais popular da Terra. Nem fala tantas línguas quanto porteiro de hotel europeu, nem é sociólogo. Apenas um brasileiro, formado pela universidade da vida.

— República? Presidente? Um peão?

— Ora se... Os tucanos, aqueles que se opõem ao operário, não querem reconhecer os avanços e conquistas das classes menos favorecidas nos últimos sete anos de uma política econômico-financeira exitosa. Também não admitem discutir as delícias e vantagens do governo FHC, aquele em que o Brasil faliu duas vezes, teve de vender, a preço de banana, ativos preciosos e ainda agigantou dívida interna pequena deixada por Itamar Franco.

— Tucanos? FHC?

— Sim, e o Degas aqui é bem capaz de deixar seu jamegão no que digo... E, olhe, Major, digo mais, sempre aconselho a amigos de meu tope, a aposentados como eu e você, que é muito melhor, na atual fase da vida, ou da morte, no seu caso, adquirir um computador que arranjar uma rapariga. Porque uma mulher adicional, a esta altura dos acontecimentos, por razões óbvias, só vai lhe causar decepções. Eu conheço um restaurante, se permite um comercial modesto, o Barrigudo, lá na estrada de Massapê, em Sobral que eu não esqueço, que tem uma ova de curimatã... Depois podemos tomar um champã, percebo-lhe um pouco seco..., e conhecer minha biblioteca, o que acha? E sabe o que mais, se eu não fosse jornalista, Joãozim, eu seria que nem tu: defunto!

E assim, nosso esperançado almoço, mais uma vez, foi para as cucuias. O Major se foi em coreias com o filho do seu Costa e dona Dolores que decidiu, por fina força, atualizar o ressuscitado. E certo de que você não pode tirar da cabeça o que não botou dentro dela, me despeço, ainda com fome: até uma próxima!

Major Facundo, militar assassinado por questões políticas, em sua própria residência, a mando da esposa do, então, Presidente da Província. Em 1879, a Câmara Municipal, decidiu homenageá-lo conferindo seu nome à rua em que morava.

Francisco José Lustosa da Costa nascido em 1938, em Cajazeiras da Paraíba, veio menino à Sobral, onde, em 1954, ingressou no Correio da Semana. Em Fortaleza escreveu para O Unitário, Correio do Ceará e colaborou no Anuário do Ceará, do amigo Dorian. Em 1974 passou a morar em Brasília e escreveu para O Estado de São Paulo e Correio Braziliense. Escreveu diversos livros, muitos sobre Sobral, e costuma dizer que as pessoas só batem palmas à gente morta. Pois tome essa crônica como tais palmas (a Major Facundo não era a rua da Palma?)
Raymundo Netto


Fontes:Diccionario Bio-bibliographico Cearense - Barão de Studart, Enciclopédia Nordeste e Raymundo Netto

Igreja do Rosário

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Mais antigo templo de Fortaleza. Em 1730 era somente uma capela de taipa e palha. Em 1755 foi refeita com pedra e cal. Foi a matriz da cidade de 1821 a 1854. Fica na rua do Rosário nº 2
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Postal antigo da igreja

Construída em taipa pela comunidade negra de Fortaleza, em 1730, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário está situada na Praça General Tibúrcio (dos Leões), fazendo parte de um conjunto arquitetônico que inclui ainda a Academia Cearense de Letras (antigo Palácio da Luz) e o Museu do Ceará (antiga Assembléia Provincial). Já foram procedidos os trabalhos de prospecção da pintura interna e externa, bem como recuperados o telhado e as instalações hidráulicas, sanitárias e elétricas. No momento, prossegue o trabalho de investigação arqueológica para identificação das ossadas encontradas sob o piso da igreja.



Em 1892, na revolta contra o governo, uma bala de canhão de 11 quilos utilizada no bombardeio do Palácio da Luz foi arremessada contra a porta principal e arrebentou o púlpito, 2 balaustres da mesa de comunhão e a parede que dar para o corredor esquerdo, depois destruiu o altar de Nossa Senhora das Dores, outra bala dessas desmontou o General Tibúrcio de seu pedestal.
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"É constante a tradição que um preto africano pelos anos de 1730 em diante erigiu uma capelinha a Nossa Senhora do Rosário, no local em que se acha hoje a desse nome, a qual ficava um pouco afastada da vila. Esta era, como toda construção daqueles tempos, de taipa e de palha. Nela rezavam os pretos seus terços, novenas e outros atos de devoção"

MENEZES,Antonio Bezerra de. Descrição da cidade de Fortaleza:Edições UFC, 1992, P. 162.

Como vemos nesta transcrição de Bezerra de Menezes a construção do templo destinado aos cultos a N. Sr(a) do Rosário data do século XVI,porém, não sabemos ao certo a data precisa dos inícios dos trabalhos da Irmandade do rosário que transformaria esta construção de taipa no que conhecemos hoje como a atual igreja do Rosário. Igreja mais antiga de Fortaleza.

Em Fortaleza, vila nascente onde estava instalada a administração da Província do Ceará Grande, como em muitas outras cidades do Brasil, os homens de cor, embora não fossem em grande número, procuraram, desde cedo, ter o seu próprio templo, já que eram discriminados nas igrejas construídas pelos brancos. E, assim como em outras partes, sua devoção dirigia-se a Nossa Senhora do Rosário, considerada sua Padroeira.
A tradição diz que já em 1730, um preto africano construiu, no mesmo local onde está a atual, uma capelinha, de taipa e palha, onde os negros rezavam terços e novenas, na época bastante distante da Vila, centralizada em redor da Matriz de São José.

A Primeira Festa

A primeira festa dedicada a Padroeira realizou-se ali no dia 27 de outubro de 1747, cobrando os padres que funcionaram nos atos religiosos a quantia de 10$000 pela missa e 7$000 pela música. A partir de então, todos os anos, vinham os pretos, escravos ou forros, nos bandos de congos dançar na Noite de Natal em frente à Igreja, para festejar a Virgem. Era grande o número de pessoas que vinha prestigiar a solenidade, inclusive autoridades. Em certas ocasiões a festa do Rosário alcançava raro esplendor. Como lembra João Nogueira, em sua "Fortaleza Velha" era festa de pretos, mas levada com grande pompa e luxo, as negras escravas ostentando cordões de ouro, brincos e jóias de valia, que suas bondosas senhoras lhes emprestavam para que se apresentassem como o espavento e brilho exigido pela importância da missa e coroação dos reis.
Assim, era na igrejinha do Rosário, toda caiada de novo, que se procedia ao ritual da coração do rei, do rei dos Congos, do rei do Rosário, com sua rutilante coroa à cabeça, seu vistoso manto de tecido de algodão aveludado, de um vermelho vivo, contrastando com colete verde e calças azuis, e sempre acompanhado de sua corte, de onde se destacavam as figuras do "príncipe" e do "secretário", com seus chapéus de abas largas enfeitados de brilhantes conchas.
E pelas ruelas nascidas na beira do mar, rumo ao sul vinha o cortejo, cantando e executando bailados e jogos de agilidade, simulando combates, rumo ao Rosário.

O Secretário, então, perguntava: Os pretinhos dos congos, pra onde vão?
O coro respondia: Nós vamo pro Rosário. Festejá a Maria.
Secretário: Oh! Festeja, oh festeja, oh festeja. Com muita alegria.
Coro: Nós vamo pro Rosário, Festejá a Maria.
Secretário: É de zambi a pumba. É de bambê.
Coro: Miserere, miserere. Misere rê.
Secretário: Papaconha, papaconha. Peneruê.
Coro: É de zambi a ponga. E qui bambê.

Maria Moreira e Joana Rodrigues, filhas de Jorge Rodrigues, atendendo ao seu pai, fizeram doação à Santa, em 28 de novembro de 1748, de terras na estrada que ia para Porangaba no rumo de Porangabuçu, com mais ou menos um quarto de légua de comprimento, por três quartos de largura. Esse patrimônio ainda existe, produzindo renda sob a forma de fóros e laudêmios.
Havia uma Irmandade, com dirigentes negros e um Juiz (Presidente) branco, porém, no início, o grupo tinha dificuldades em manter o imóvel em perfeitas condições, tanto que, em 1753 a igrejinha estava ameaçada de cair e com a permissão das autoridades eclesiásticas, iniciaram-se a reconstrução, em pedra e cal, que em 1755 ficou pronta.
Em 1821, a Matriz de São José estava em ruínas, precisando ser reconstruída. Tendo a vila crescido para o lado da Igreja do Rosário, foram passadas para esta, em procissão, o Santíssimo Sacramento e todas as imagens, passando ela a funcionar como Matriz até 2 de abril de 1854, quando as imagens voltaram à Matriz.
Sendo a Igreja unida ao Estado, os templos eram usados para realização de atos públicos. Ocorrendo um conflito mais grave quando das eleições realizadas em setembro de 1848, resultando em derramamento de sangue dentro do próprio recinto sagrado, a capela foi interditada, sendo posteriormente arrombada pelos líderes de um dos partidos.
Ao tempo em que era presidente da Província o bacharel Francisco Xavier Paes Barreto, o vice-presidente José Antônio Machado mandou proceder nova reforma que terminou em 1855.
Em 1872 o capitão João Francisco dos Santos, procurador dos bens patrimoniais ficou encarregado de limpar, assear e decorar o templo. A Igreja do Rosário sempre foi mantida com recursos próprios, advindo de grande terreno a ela doado em 1748, terrenos esses que se estendiam desde o local da igreja até o sítio Damas. Em 1871, entretanto, seus recursos se esgotaram e o então presidente José Antônio Calazans Rodrigues (Barão de Taquary) encaminhou pedido que só foi atendido na gestão seguinte, de João Wilkens de Mattos, importando na quantia de 2.000$000 (dois contos de réis), da Lei Nº 1440 de 2 de outubro de 1871. Mas a verba destinada ao trabalho no templo era insuficiente e o presidente teve de complementar com pagamento de férias por conta da verba "Obras Públicas", ficando a obra concluída ainda em 1872.
O cronista Mozart Soriano Aderaldo, em "Variações em torno da Catedral", revela que a 16 de fevereiro de 1892, na revolta contra o Presidente General José Clarindo de Queiroz, promovida por Floriano Peixoto e executada pelos alunos da Escola Militar, uma bala de canhão, de 11 quilos, das utilizadas no bombardeio do Palácio da Luz - vizinho à igreja - foi arremessada contra a sua porta principal e, penetrando por ali arrebentou o púlpito, 2 balaustres da mesa de comunhão e a parede que dá para o corredor esquerdo; depois, em ricochete, destruiu o altar de Nossa Senhora das Dores e mais 3 balaustres. Outra bala dessas apeou o General Tibúrcio do seu pedestal, em episódio mais conhecido, no qual salientou-se o caráter daquele militar cearense: mesmo nessa hora, ele caiu em pé!
Mas a igreja a que nos referimos até agora não é exatamente esta que hoje lá está, há muito desvinculada dos devotos de cor, relembrando um tempo bem recuado da nossa história. Várias reformas nela foram processadas, além das já citadas. Em março de 1929 abriu-se novas janelas na altura do primeiro andar, em julho de 1935 foram construídos dois nichos, ao lado do sacrário, com Nossa Senhora do Rosário e Santa Teresinha e, por último, em setembro de 1938, repetiu-se o episódio de 1821: a Matriz de São José foi demolida para construção de uma nova e a Igreja do Rosário passou a ter as honras de Catedral, embora muitos atos, mais solenes, viessem a ser realizados na Igreja do Pequeno Grande.
Foram necessários, outra vez, trinta anos, para a construção da nossa nova e esplêndida Catedral, durante os quais a Igreja do Rosário funcionou como a principal de toda a Arquidiocese!
A Igreja do Rosário é testemunha de fatos históricos importantíssimos, dentre eles a deposição de Nogueira Accioli em 1912 e as trincheiras de 1914 feitas para receberem os jagunços da "Sedição de Juazeiro".

Raro postal editado em 1900
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A capela dedicada à Nossa Senhora do Rosário foi construída com o esmero dos escravos do nordeste brasileiro, acredita-se, em 1730. De princípio, era taipa e palha, na cadência de acolher a devoção a Nossa Senhora das Dores e à do Rosário. 25 anos depois, veio a pedra e a cal. Desde os séculos passados, o templo já fora cenário de graves conflitos políticos, balas de canhões, celebrações ecumênicas e muitas reformas.
Em 2008 teve as portas fechadas por seis dias, culpa de assaltos freqüentes. 
"Hoje digo: sento sem medo nos bancos de madeira, olho a Flor de Lis na parede direita do altar e escuto um rufar de tambores afro-brasileiros, homens da pele ferrada pela mesma imagem estampada em azul. Aquela flor estava debaixo de 85 camadas de tinta antes da restauração e está na memória da pele de peitos e de braços negros. Sob meus pés, estão dezenas de corpos pretos e mumificados. À minha esquerda, de pé e olhando a Academia Cearense de Letras – o antigo Palácio da Luz, jaz Major Facundo, homem por quem resguardo menor apreço, mas não ligue."

A igreja guarda uma simplicidade tamanha. É bela para muito além do óleo de banana desfilado em ouro nos ornamentos do altar. É graciosa por muito mais que o silêncio das imagens de homens e mulheres santificados pela religião. Muito embora o cotidiano ela receba, pelos corpos cansados orando em silêncio, está também no passado, feito uma pedra mais teimosa que a erosão. Emociona, não posso negar.

Paulo César, agente pastoral enamorado da construção

 Igreja do Rosário 

Esta foto foi encontrada num encarte contendo diversas fotos, oriundas do Arquivo do Nirez, de igrejas antigas de Fortaleza. Nesta aparece um bonde, possivelmente de uma das linhas de então, Outeiro (que posteriormente passou a denominar-se Aldeota), Praia de Iracema ou Prainha, que um dos consultados (gente da velha geração) afirmou ser Prainha-Seminário (o que faz sentido, pois o ponto final ficava próximo do Seminário, na Prainha). Dr. Zenilo Almada acha que não houve linha com essa denominação. A rua era a então Coronel Bezerril, hoje General Bezerril. A Praça ao lado chama-se General Tibúrcio, mais conhecida por Praça dos Leões devido a existência de duas belas esculturas encimando a escadaria de acesso da ou para Rua Sena Madureira. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário, inaugurada no Século XVIII, é considerada a mais antiga de Fortaleza. A foto data de 1908. A edificação grande, ainda existente, era do então Hotel Brasil. A parede ao lado da palmeira é dos fundos da antiga Assembléia Legislativa. Entre o Hotel e a Assembléia divisa-se a Travessa Morada Nova, onde posteriormente passaram a trafegar os bondes das citadas linhas. Na época os bondes iam até mais adiante, ingressando na Rua Guilherme Rocha, parando ao lado da “Rotisserie”, acho que se chamava Palácio Brasil, entrando depois na Rua Floriano Peixoto rumo aos seus destinos. (Adolpho Quixadá)
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Dados Importantes:

  • Em 28 de Abril de 1742 - O visitador Lino Gomes Correia, ao passar pela vila de Fortaleza, determinou que os senhores de escravos lhes dessem o dia de sábado livre para granjearem o sustento e nos dias santos para a Igreja de Nossa Senhora do RosárioA igreja foi reformada em 1753.

  • Em 06 de Maio de 1853 - Salvador (BA): Rodolfo Teófilo, que sempre se disse nascido em Fortaleza, onde se batizou na igreja do Rosário, no dia 1 de outubro do ano do seu nascimento. Pioneiro do sanitarismo no Brasil, recebeu do Congresso Nacional o título de Varão Benemérito da Pátria. Romancista, novelista, contista, poeta, historiador das secas, autor de livros científicos. Filantropo. Pertenceu ao IHGB e Instituto do Ceará. Entre seus livros: A Fome (1890), Os Brilhantes (1895), O Paroara (1899), Sedas do Ceará (1901), Cenas e Tipos (1919). Patrono da cadeira nº 33 da ACL, inaugurada por Perboyre e Silva. Falecimento em 2 de julho de 1932.

  • Em 09 de Agosto de 1902 - A pintora Isabel Rabelo da Silva oferece ao Bispo Dom Joaquim José Vieira a reprodução de duas telas (A Descida da Cruz, de Rubens; A Assunção da Virgem, de Murilo) que foram colocadas na Igreja do Rosário.

  • Em 20 de Maio de 1929 - Em sessão do Instituto do Ceará o consórcio Antônio Teodorico profliga a derribada do tradicional oitizeiro, existente nos fundos da igreja do Rosário.

  • Em 16 de Abril de 1931 -Na igreja do Rosário, Monsenhor José Quinderé celebra uma missa em sufrágio da alma do cearense Dr. João Cruz Saldanha, recentemente falecido no Rio.

  • Em 14 de Maio de 1931 - Na igreja do Rosário, tem começo um Tríduo em honra de Nossa Senhora de Fátima, por iniciativa dos portugueses domiciliados no Ceará.

  • Em 11 de Setembro de 1938 - Derradeira missa, celebrada na antiga de Fortaleza, pelo Arcebispo D. ManuelÀ tarde, a imagem de São José foi conduzida processionalmente para a igreja do Rosário, falando por essa ocasião o Sr. Arcebispo e o Prefeito de Fortaleza.

  • Em 19 de Abril de 1940 - O Governo do Estado promove festas comemorativas do aniversário natalício do Presidente Getúlio Vargas: - pela manhã, missa gratulatória na igreja do Rosário, e, à noite, sessão cívica no Teatro José de Alencar, durante a qual discursaram os Srs: Dr. Andrade Furtado, Heráclito Silva Thé, Antenor do Vale Lima, Eusébio Mota, Antônio Fiúza Pequeno e o Interventor Menezes Pimentel.

  • Em 10 de Maio de 1942 - O Arcebispo Dom Antônio de Almeida Lustosa conclui, na igreja do Rosário, as pregações preparatórias da Páscoa dos Intelectuais.

  • Em 21 de Abril de 1943 - Tamanha tem sido a afluência de ouvintes, que estão sendo irradiadas para a Praça General Tibúrcio as pregações do Pe. Hélder Câmara na Igreja do Rosário, preparatórias da Páscoa dos Intelectuais.

  • Em 14 de Março de 1950 - Falece, nesta capital, Dom Manuel da Silva Gomes, Arcebispo Resignatário de Fortaleza, tendo o fato causado profunda consternação. Trasladado para a igreja do Rosário, onde esteve exposto à visitação pública, seu corpo foi sepultado na cripta da Catedral em construção. Dados biográficos: ver ‘O Nordeste’ desta data.

Foto de Manilov
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Créditos: Fortal, CityBrazil, Fortaleza no CentroMaracatu rei do Congo e Portal da história do Ceará

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