Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Waltério Alves Cavalcanti - Indústria alimentícia Wal-Can S/A


No relato emocionado do filho do empresário Waltério Cavalcanti , ele dizia:


 " O papai transformava tudo em ouro, era uma cabeça pensante,um homem de vários negócios,indiscutivel. Nos momentos de decidir para que rumo tomar,ele era decididamente unilateral, pensamentos agudos e rápidos.Tornou-se bem jovem, um promissor homem de negócio em nossa capital. Ele era um homem além de seu tempo.

Waltério Cavalcanti Filho

"Fui criança, cheguei a ter contentamentos. Tudo para mim parecia risos, alegria, felicidade. Porem ao chegar a minha idade de 11 anos , começou os primeiros passos de lutas contra o destino ,ele bateu a minha porta. Meu pai tinha naquela época seus 40 anos e que da mesma maneira bateu para ele o mesmo destino, foi rebaixado de categoria no seu emprego público e com isso veio os problemas financeiros e tirou o conforto humilde de nosso lar, ele não se conformou com o destino , para aliviar suas decepções procurou o alcool o qual não resolveu, findou seus sofrimentos aos 53 anos, e assim se foram 13 anos de amarguras. Naquela época eu estava com meus 11 anos e procurei emprego para conseguir algumas migalhas para amenisar os sofrimentos de minha mãe a qual agasalhava-se ao redor de seus 8 filhos.Ela esperava em resignação um dia melhor, mas isto custou muito tempo.


Aos 18 anos, consegui ser um mini comerciante, e aos 22 anos já tinha alguma coisa,ou seja uns trocados.Neste período meu pai veio à falecer,mas como já tinha algum
recurso, fiz o seu enterro com dignidade e com classe,fiquei cuidando de minha mãe, e meus irmãos que ainda lhe rodeavam. Pude acompanhar os estudos de meus irmãos até depois de formados. Tudo estava a contento e aos 35 anos jé era casado com minha Maliza e tinha uma prole de 6 filhos. Maria do Carmo cavalcanti,José Waldo cavalcanti,Maria Claudia cavalcanti, Maria Irene cavalcanti,Wilson cavalcanti,Maria valéria cavalcanti e logo depois o caçula Henrique Nelson Cavalcanti; Nesta altura de luta surge me um fracaço nos négocios,época da Guerra(1947). O pós-guerra trouxe tempos difíceis e, em 1948 ,Este era o tempo da “euforia” do café, provocada pelos altos preços pós-guerra, no mercado internacional.


Mas no ano de 1948 a coisa mudou, em 1950 já possuia carros do ano, consegui prédio para o meu negócio e em mais alguns anos consegui residência própria, transformei os meus comércios em industrias. Fiz patrimônio construindo a fábrica ampliando os negócios, a esta altura já me pesava nos ombros os meus 60 anos e me sentia realizado, procurei colocar na época filhos(as) e genros para darem sequência ao império que eu tinha conseguido. Agradeço sempre a Deus por tudo que conquistamos e vivemos, mesmos diante de desentendimentos ocorridos na época que me abalaram muito. Peço a ele que dê aos meus filhos a mesma coragem que fui possuidor, para que possam crescer em paz, pois com Deus tudo é possível."     
Waltério Alves cavalcanti


Embora não seja fácil encontrar uma classificação para as diferentes atividades relacionadas aos investimentos realizados naquela época por Waltério cavalcanti, o passo principal e decisivo foi a industrialização em grande escala de sua atividade relacionada com os alimentos. 


Assim surgia a Indústria alimentícia Wal-Can S/A e a história do café começou com a atividade industrial e a sua comercialização, por exemplo através de supermercados e sua frota de entrega de alimentos. (Veja Fotos)  A expansão dos negócios da industria,  a distribuição de produtos exclusivos no mercado cearense com a fabricação de produtos próprios, como café, colorífico, macarrão entre outros, e ainda o empacota grãos, foi formalizada e constituida pela presença de famíliares, pessoas públicas, políticos, amigos e clientes.

   Galpão central para exposição de produtos

 Saudação em agradecimentos aos presentes no evento

 Exposição do  Novo Macarrão Wal-Can


Filhos e amigos 

Sr.Waltério Cavalcanti e Sra. Maria Luiza (Maliza)


Fatos históricos

  • 02 de Maio de 1966 - Iniciada a demolição do Abrigo Central, na Praça do Ferreira, que diziam estar ameaçado de ruir.
    A
    Comércio e Indústria Brasileira de Engenharia Ltda - Cebel, firma vencedora da coleta de preços para execução da obra, usou até dinamite na demolição.
    Os jornais noticiaram com euforia a derrubada do "
    monstrengo", hoje escrevem-se matérias saudosistas a respeito do mesmo.
    No Abrigo Central existiam as paradas de ônibus, as reuniões profissionais discussão de classes, comentários em torno de esportes, política, música, enfim, todos os assuntos.
    Nos boxes funcionavam cafés como o
    Café Hawaí, Café Presidente e o Café Wal-Can, casas de merendas como a do famoso "Pedão" da bananada, livrarias como a do Alaor, vendas de selos de consumo, armarinhos, casas de vender discos como a "Discolândia", além dos boxes portáteis como a banca do Bondinho, do Holien, do Raimundo - este vendia diversas coisas, entre elas discos de Segunda mão e onde parte dos acervos discográficos do Arquivo Nirez e dos pesquisadores Christiano Câmara e Aldo Santiago de Freitas foram adquiridos.

  • 28 de Março de 1988  - As Indústrias Alimentícias Wal-Can S. A., vendem o prédio de sua fábrica, na Rua Capitão Gustavo nº 3552, São João do Tauape, em frente à praça do mercado, à Igreja Evangélica Assembléia de Deus Betesda - Ceará, que para ali muda-se no mesmo ano.*

  • 21 de Julho de 1988 - Falece em Fortaleza Waltério Alves Cavalcante, proprietário das indústrias Wal-Can, iniciada com um café expresso na esquina da Rua Floriano Peixoto nº 703 com Travessa São Francisco (hoje Rua Perboyre e Silva) nº 30.
Gif de chá e café   Gif de chá e café   Gif de chá e café
Gif de chá e café*Segundo Waltério Cavalcanti Filho, isso é uma grande inverdade, uma grande mentira! Segue o comentário:

[foto.JPG]"O PASTOR PRESIDENTE DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE DEUS BETESDA, RICARDO RODRIGUES GONDIM, JUNTO COM ALGUNS SÓCIO DAS INDUSTRIAS ALIMENTÍCIAS WAL-CAN S/A, SE REUNIRAM COM ADVOGADOS E FORJARAM UMA ATA DE ASSEMBLÉIA E DECIDIRAM ENTRES ELES EFETIVAR A VENDA DO PRÉDIO DAS INDUSTRIAS ALIMENTÍCIAS WAL-CAN S/A, QUE JÁ SE ENCONTRAVA SUB-JUDICE NO TJ-CE (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ),COM NOMEAÇÃO DE LIQUIDANTE DAS INDUSTRIAS NOMEADO JUDICIALMENTE QUE EFETIVOU RELATÓRIO AO JUIZO E QUANDO ENCONTROU O PEDIDO DE DIREITO DE PREFERÊNCIA, REQUISITADO POR WALTÉRIO CAVALCANTI FILHO, NO BOJO DOS AUTOS, PROFERIU O SEGUINTE PARECER. SE O ACIONISTA DE NOME WALTERIO CAVALCANTI FILHO, AINDA TINHA INTERESSE EM ADQUIRIR O PATRIMÔNIO DAS INDUSTRIAS ALIMENTÍCIAS WAL-CAN S/A, NAS SEGUINTES CONDIÇÕES, SE EU WALTERIO FICARIA COM TODAS AS DIVIDAS DA EMPRESA. EU WALTERIO CAVALCANTI FILHO, CONCORDEI COM AS CONDIÇÕES DO LIQUIDANTE, E SOLICITEI AO EXMO JUIZ DE DIREITO DA ÉPOCA PARA EXPEDIR GUIA DE DEPÓSITO JUDICIAL PARA QUE FOSSE POSSÍVEL SE CONCRETIZAR A VENDA, FOI ABERTO GUIA DE DEPÓSITO, O TJ-CE, LEVANTOU MEU DINHEIRO DO BANCO, E EU SOFRI POR LONGOS 28 (VINTE E OITO ANOS), LUTANDO NA JUSTIÇA PARA QUE ME ENTRGAR O QUE EU VALTERIO CAVALCANTI FILHO TERIA ADQUIRIDO EM COMPRA JUDICIAL PERANTE AO TJ-CE. DEPOIS DE TODOS ESSES ANOS, JÁ COM SETENÇA TRANSITO EM JULGADO, PELO TJ-CE, STJ, E STF DESDE 12 DE AGOSTO DE 2002,CONDENANDO OS RÉUS AO PAGAMENTO DAS PERDAS E DANOS A SEREM APURADOS EM LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA E INVERTENDO-SE O ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA EM 15% PARA PAGAMENTO AO CREDOR VALTERIO CAVALCANTI FILHO. ESTE É O FIM DO PROCESSO. HOJE AGRADEÇO A TJ-CE , STJ E STF E TAMBÉM A TODOS QUE PARTICIPARAM NESTE PROCESSO EM MEU FAVOR PARA QUE CHEGASSE AO FIM ESTA DEMANDA, OBRIGADO A TODOS. FORTALEZA, 05 DE JUNHO DE 2011."


Ele continua...

"O PASTOR RICARDO RODRIGUES GONDIM PRESIDENTE DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE DEUS BETESDA, FOI CONDENADO POR SENTENÇA TRANSITADO EM JULGADO DEFINITIVAMENTE PELO TJ-CE,STJ E STF A PAGAR AO PROPRIETÁRIO DAS INDUSTRIAS ALIMENTICIAS WAL-CAN S/A, EM FORTALEZA-CE, VALTERIO CAVALCANTI FILHO PELO ATO ILICITO QUE FORJOU JUNTO COM ALGUNS SÓCIOS DA EMPRESA ACIMA CITADA E ADVOGADOS, QUE SEM NENHUM ESCRUPULO FALSIFICARAM UMA ASSEMBLEIA GERAL COM A FINALIDADE DE EFETIVAR VENDA DOS IMÓVEIS DAS INDUSTRIAS ALIMENTÍCIAS WAL-CAN S/A, EM FAVOR DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS BETESDA,E EM DETRIMENTO DE MINHA PESSOA,VALTERIO CAVALCANTI FILHO, ACIONISTA E PROPRIETÁRIO DA EMPRESA ACIMA CITADA, QUE ADQUIRI JUDICIALMENTE O PATRIMÔNIO DA EMPRESA COM O EXERCÍCIO DO DIREITO DE PREFERÊNCIA A MAIS DE 1/4 DE SÉCULO PERANTE AO TJ-CE, PORQUE SOU FILHO,DIRETOR INDUSTRIAL,CONFORME ESTATUTO DA EMPRESA E HERDEIRO DE WALTERIO CAVALCANTI O (PATRIARCA DA FAMÍLIA) .HOJE A IGREJA ASSEMBLEIA DE DEUS BETESDA,ATRAVÉS DE SEU PRESIDENTE: PASTOR RICARDO RODRIGUES GONDIM,QUE SEM NENHUM CARÁTER E PROFANO (CARACTERIZADO POR IRREVERÊNCIA AO QUE É SAGRADO OU ÀQUILO QUE É POR TODOS RESPEITADO) NÃO RELATIVO A RELIGIÃO.E SIM (DEUS), ENCONTRAM-SE CONDENADOS A PAGAR AO CREDOR, COM A DEVOLUÇÃO DOS IMÓVEIS DAS INDUSTRIAS ALIMENTÍCIAS WAL-CAN S/A, E DEPOSITAR EM MEU FAVOR, CREDOR VALTERIO CAVALCANTI FILHO PAGAMENTO DAS PERDAS E DANOS SOFRIDAS POR MINHA PESSOA, POR TODOS ESSES ANOS. A IGREJA E O PASTOR RICARDO RODRIGUES GONDIM, TENTARAM JUNTO COM SEUS ADVOGADOS LUDIBRIAR AOS TRIBUNAIS DE FORTALEZA, TJ-CE AO STJ E STF,COMO SE A JUSTIÇA FOSSE UM JOGO DE ESPERTEZA. MAIS COM APRECIAÇÃO CORRETA DAS AUTORIDADES DOS TRIBUNAIS POR ONDE CORREU ESTE DEMORADO PROCESSO, NÃO TEVE O ÊXITO PRETENDIDO, TERMINANDO CONDENADOS, A IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS BETESDA E O PASTOR PRESIDENTE, RICARDO RODRIGUES GONDIM, AS INDENIZAÇÕES DE PERDAS E DANOS A SEREM APURADAS NA LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA E INVERTANDO O ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA NO VALOR DE 15% DO VALOR DA CAUSA.
-VALOR DA 1ª PARCELA REFERENTE AO IMÓVEL QUE FOI UTILIZADO POR TODO ESSE ANOS, AVALIADO PELA FAZENDA ESTADUAL DO ESTADO DO CEARÁ FOI DE R$ 28.000.000,00 (VINTE E OITO MILHÕES DE REAIS), EM 16 DE NOVEMBRO DE 2009 ,E QUE DEVERAR SER ACRESCIDOS DE JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DETERMINADOS POR SENTENÇA EM 15%.SEGUIDOS DOS VALORES DA 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª E 7ª PARCELAS, QUE TAMBEM COMO DÍVIDAS DEVERAM SER APRESENTADAS EM JUIZO PARA LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. DESDE LOGO AGRADEÇO AO TJ-CE (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO CEARÁ). POSTADO POR : VALTERIO CAVALCANTI FILHO. "

Parabéns ao herdeiro que conseguiu reaver seu patrimônio e parabéns ao TJ-Ce por ter feito justiça!

Gif de chá e café  Gif de chá e café  Gif de chá e café


Créditos: Wal-Can In Memória e Portal da história do Ceará


segunda-feira, 20 de junho de 2011

Café Wal-Can - Abrigo Central




Naquele espaço retangular do terreno formado pelas ruas Guilherme Rocha, Pará, Floriano Peixoto e Major Facundo, foi construído o Abrigo Central, iniciativa do então Prefeito Acrísio Moreira da Rocha. Era um local onde se agrupavam políticos, torcedores de futebol e pessoas que ali se dirigiam para apanhar ônibus de vários bairros, e linhas que circulavam a Cidade, pela Empresa São Jorge, com destino a Praça São Sebastião (Mercado) depois Praça Paula Pessoa (Ruas Justiniano de Serpa, Dom Jerônimo) - Farias Brito, cujo local existiu o tradicional Jardim São José, mais conhecido como Jardim Japonês, da família Fujita (João Batista, Nisabro, Edmar, Francisco, Luzia e Maria José) que injustamente sofreram opressões com o "quebra-quebra" no tempo da 2ª Guerra Mundial de 1944.



Com a demolição da quadra da Praça do Ferreira ao lado do prédio da Intendência e demais casas comerciais (entre as ruas Floriano Peixoto e Major Facundo), na gestão do Prefeito Acrísio Moreira da Rocha, foi construído em 1949 - o Abrigo Central, num espaço da metade da quadra, entre a Rua Pará e Guilherme Rocha.


Passeata anunciando o lançamento do ano - O Café Wal-Can



No Abrigo Central, se instalaram vários boxes, tendo o centro, formato de meia lua, onde foram colocadas cadeiras, especialmente para servir de engraxataria; pelo lado direito, havia um boxe para venda de selos mercantis, bilhetes da Loteria Federal, Estadual, estampilhas, os quais eram colocados para aferição pela Secretaria da Fazenda nos livros próprios (mensalmente) e outros selos para requerimentos dirigidos às repartições federais, estaduais e municipais; em seguida o boxe do Café Hawaí; Café Presidente e o Café Wal-Can( De Waltério Cavalcanti); um boxe da Livraria Alaor; casas de discos conhecida como Discolândia e os boxes portáteis do Sr. Bodinho, do Sr. Raimundo e do Sr. Holien com variadas mercadorias; no lado esquerdo da Rua Pará - O Posto de carros de aluguéis - Posto Pará da Sra. Odete Porfírio Sampaio, com luxuosos carros de passeio que eram contratados previamente para sepultamento, casamento e batizados; e o preço obedecia a uma tabela especial, estabelecido pelo Sr. Maninho Câmara.
 Sr.Waltério Acompanhando de perto o trabalho de suas colaboradoras 


Sr.Waltério Cavalcanti, com clientes e amigos


Ainda no hall do Abrigo - o célebre e inesquecível "Pedão da Bananada" e os famosos sanduíches , cognominados "espera-me no Céu" e "cai duro", e comprando um, o cliente tinha direito a um envelope de Sonrisal e uma vitamina "KH" na hora; existia um funcionário especialista no ramo de merendas de frutas, Sr. Musse; no final do corredor do Abrigo, o Café Hawaí; ao lado, a garapeira do Sr. Peixoto, cuja venda de guaraná (artificial), água mineral com e sem gás, groselha e limonada, era muito apreciada por todos que frequentavam o Abrigo Central. 

Café Wal-Can - Rua Floriano Peixoto em 1983. Foto de Nelson Bezerra

Ainda pelo lado da Praça do Ferreira, a parada de ônibus da Empresa São Jorge - Kalil Otoch, as linhas do centro, Soares Moreno, Praça São Sebastião, Cemitério, D. Jeronimo, Justiniano de Serpa, que muito facilitava a vida dos que moravam no centro - uma realidade muito diferente dos dias de hoje, com tantas transformações que sofreu a arquitetura de nossa cidade.

As funcionárias do Café Wal-Can


Mulheres também iam ao Abrigo, mas com menor frequência que os homens. Dona Conceição Santos, 74, diz que “o Abrigo era muito movimentado, sempre tinha muita gente, mas eu só passava por lá quando ia para o centro, tomava um café e seguia. Quem ia muito mesmo era meu marido, porque lá era mais um lugar para os homens se encontrarem”. Entretanto, seu Mário lembra que “tinha muitas senhoras que compravam na confeitaria” e até algumas moças trabalhavam no box do Café Walcan.


Crédito:  Wal-Can in Memorian/ Valtério Cavalcanti 

domingo, 19 de junho de 2011

De volta ao Abrigo Central



Abrigo em 1958- Nirez

Dar um “pulinho” no Abrigo Central era quase sagrado para muitas pessoas que viveram em Fortaleza até o final da década de 1960. Relembrar o “Velho Abrigo”, construído na administração do prefeito Acrísio Moreira da Rocha, em 1949, para ser um ponto de ônibus, não é muito esforço para quem passou ali muitos momentos da juventude. Isso é tão significativo, que seu Ivan Cavalcante, 70, sócio de uma loja de discos* no Abrigo Central, afirma que se a casa dele tivesse um vão desocupado iria construir uma maquete do Abrigo Central, não do tamanho dele, que é impossível, mas uma maquete com todos os pontos, com tudo o que funcionava”.


Registro dos anos 50. Marcos Siebra

E
xemplo dessa saudade é também o que nos revelou seu Pedro Moreira, 74, frequentador do Abrigo. Segundo ele, ir àquele espaço incrustado na Praça do Ferreira, era essencial para finalizar bem o dia, depois da jornada de trabalho. Seu Pedro afirmou queo Abrigo Central era o ponto de encontro. Se você queria encontrar um amigo, você podia ficar ali à espera que aquele amigo tinha que passar, mas, além disso, podia ainda namorar e concorrer aos sorteios de carro que aconteciam ali.
Mas o que o Abrigo tinha além de ser um ponto de espera de ônibus para que tantas pessoas o frequentassem? Casas de merenda, loja de discos, loja de selos, tabacarias, cafés, confeitaria, engraxates. Para seu Mário Cidrack Filho, 62, que, ainda criança, trabalhava com seu pai na confeitaria que levava o sobrenome da família, o Abrigo “era a referência”. Ele explica que “lá dentro do Abrigo tinha de tudo”.
Construído para ser o maior abrigo para passageiros de ônibus do norte e nordeste do Brasil, logo depois de inaugurado, o Abrigo Central ganhou apreço da população de Fortaleza. Como possuía várias casas de comércio, ir ao Abrigo para pequenas compras ou apenas para encontrar os amigos era comum.
Muitas histórias surgem ao longo das conversas quando pedimos às pessoas para voltarem no tempo e entrarem, através da memória, mais uma vez no Velho Abrigo. Uma dessas histórias foi contada por seu Mário Cidrack. Ele disse que houve uma época em que o que mais se vendia na confeitaria de seu pai era uma bolacha e nos contou como era feito esse comércio: “na época tinha aqui em Fortaleza uma bolacha chamada Jubaia, de Maranguape. E aquilo ali você comprava cem quilos dela hoje, quando fosse de noite você não tinha mais um quilo. Era uma loucura, vinha gente de todos os bairros de Fortaleza para comprar essa bolacha”.

E
 não era só a bolacha que fazia o sucesso do Abrigo. Lá também era possível encontrar outras delícias da culinária, como as vitaminas, sucos e sanduíches. Abacatadas, sucos de cajá, graviola, tamarindo, eram pedidos durante todo o dia nas várias casas de merenda. Mas, para o acompanhamento nada melhor que um “cai-duro” ou um “espera-me no céu”. Estes eram os nomes dos sanduíches que alimentavam os frequentadores do Abrigo. Por que esses nomes diferentes? Talvez por conta do risco que as pessoas corriam ao comê-los.
Não é possível deixarmos de fora outra sensação da época: a bananada. Ela era tão consumida no Abrigo Central que virou apelido de um dos donos de lanchonete: o Pedão da Bananada. Ele se tornou o comerciante mais conhecido do Abrigo. Além de vender bananadas, o Pedão era torcedor fanático do Ceará.
Café era algo também indispensável no Abrigo Central. Sempre, depois das merendas, ele era pedido certo, tão certo, que até mesmo as colheres que eram usadas para mexer o café viraram notícia, como nos falou o jornalista Luís Campos, 85: “O Edelberto Góis era dono de um café no Abrigo. O pessoal chegava, o cafezinho era 10 centavos, 20 centavos. Ele botava ali o açucareiro, a colherzinha e tal. Então, o pessoal, por desonestidade, tomava o café, a colherinha era uma colherinha pequenininha, barata, era de alumínio. Pegavam a colherinha, botavam no bolso e levavam pra casa. O que é que o Edelberto fez? Pegou as colherinhas, mandou para uma metalúrgica e furou as colherinhas, fez um buraco. Então o sujeito mexia, dava para mexer, mas não adiantava levar para casa. E eu fiz uma crônica sobre isto: A Colherinha do Abrigo”.


Não podemos esquecer, ainda, as personalidades que frequentavam o Abrigo: políticos, jornalistas, radialistas. Pessoas famosas que passeavam por Fortaleza também não deixavam de dar uma passadinha naquele lugar. Seu Ivan lembra de alguns artistas que foram à loja de discos:Bienvenido Granda, cubano, Carlos Gonzaga, Alcides Gerardes, que já morreu, Ari Lobo, quando lançou o ‘Vendedor de Caranguejo’, e Anísio Silva, quando apareceu na mídia”.
Mulheres também iam ao Abrigo, mas com menor frequência que os homens. Dona Conceição Santos, 74, diz que “o Abrigo era muito movimentado, sempre tinha muita gente, mas eu só passava por lá quando ia para o centro, tomava um café e seguia. Quem ia muito mesmo era meu marido, porque lá era mais um lugar para os homens se encontrarem”. Entretanto, seu Mário lembra que “tinha muitas senhoras que compravam na confeitaria” e até algumas moças trabalhavam no box do Café Walcan.
Por tudo isso, o movimento no Abrigo Central, segundo os que lá passaram, era muito grande. Seu Oriel Oliveira, 74, lembra que “ali, quatro horas da tarde, cinco horas da tarde, ficava cheio … época de carnaval era aquele pessoal todo ali fantasiado, era aquela folia”. Seu Pedro também recorda os períodos festivos. Ele lembra que “se vendia muito artigo pra festejo, coisas que o pessoal usava pra brincar carnaval e São João”.
Além disso, outro artigo rememorado por quem vivia no Abrigo Central era o aparelho de televisão. Segundo seu Mário Cidrack, foi o pai dele quem levou essa novidade para o Abrigo: “ele comprou um aparelho televisor e colocou no centro do Abrigo Central, mandou fazer um suporte e colocou lá”. Seu Ivan também lembrou da televisão. Ele disse que o aparelho foi doado na época da Copa, para que os frequentadores do Abrigo pudessem acompanhar os jogos da seleção canarinho.

Confeitaria Cidrack

M
esmo com todas essas peculiaridades, o Abrigo foi alvo de disputas políticas. Desde meados dos anos 1950, pouco tempo depois de sua construção, a permanência daquele espaço na Praça do Ferreira começou a ser questionada. O jornalista Luís Campos, que à época escrevia para o jornal Gazeta de Notícias, defendia que o Abrigo continuasse de pé. Entretanto, em 1966, durante o governo de Murillo Borges, já no período ditatorial, o Abrigo Central, palco de tantas histórias e marcado no coração de tantas pessoas, foi ao chão.
Para seus frequentadores isso foi o fim da Praça do Ferreira, o fim do Centro. Seu Pedro diz que “se o Abrigo ainda existisse, acho que eu ainda passeava muito por lá”. Ele afirma ter apagado da memória o dia em que demoliram o Abrigo. Já seu Oriel lembra bem. Ele conta que assistiu a derrubada. Segundo ele “dinamitaram”. Seu Ivan levanta a ideia de que o centro teria acabado depois dessa demolição. Ele diz que “quando acabou o Abrigo, acabou a cidade de Fortaleza, ela apagou”.
E, dessa forma, mesmo sem mais nenhum vestígio físico do Abrigo, já que a Praça do Ferreira, quando foi reformada, em 1967, no governo de José Walter, tomou todo o espaço no qual ele era fincado, é fácil observar que ele continua bem vivo na memória dessas pessoas que dedicaram um pouco de suas vidas a matar ali o tempo que passa.
 O Amigo ‘Pedão’
 Quem frequentou o Abrigo Central ou mesmo quem apenas passou por Fortaleza durante as décadas de 1950 e 1960 com certeza ouviu falar em uma das personalidades mais conhecidas da cidade naquela época: o ‘Pedão da Bananada’.
Seu verdadeiro nome, difícil saber. O apelido, entretanto, não vem apenas da bananada, mas também da aparência de Pedão. Seu Pedro Moreira lembra a fisionomia do amigo: “Ele andava todo de branco. O sapato, a roupa. O Pedão era divertido. Um cara bem parecido, bem alto”.
Pedão era um dos comerciantes mais antigos do Abrigo Central e foi também um dos que mais tempo permaneceu ali. Dono de uma casa de merendas, em que se vendiam vitaminas, Pedão ficou conhecido pela bananada. Mas, outro fator contribuiu para que a fama do comerciante se espalhasse. Nas palavras de seu Pedro: “ele era um torcedor ardoroso do time do Ceará”.

Pedão da Bananada em frente ao Abrigo

S
egundo seu Pedro, o box em que funcionava a casa de lanches do Pedão não era muito grande, mas era suficiente para reunir um grande número de torcedores do Ceará, que discutiam, ali, o desempenho do time nos jogos. Seu Mário Cidrack conta que a paixão de Pedão pelo time era tão grande que o contagiou: “Pedão era amigo mesmo de meu pai, ele me carregou no braço, me fez torcer Ceará. Era ele quem me levava para o estádio, porque meu pai era torcedor do Fortaleza e ele torcedor do Ceará. Então, sempre que ele podia, ele me carregava para o estádio. Aí, eu comecei a torcer Ceará por causa dele”.
Seu Mário Cidrack lembra ainda das brigas entre Pedão da Bananada e Bodinho, outra figura folclórica que tinha uma banca de revistas na Praça do Ferreira e era torcedor do Fortaleza. Segundo seu Mário, quando Bodinho entrava no Abrigo Central e se dirigia para o Box do Pedão, era confusão na certa: “O Bodinho aparecia de repente, começava aquela gritaria… Você olhava, parecia que eles iam se matar, daqui a pouco estavam brincando. Naquele tempo o pessoal sabia fazer a diferença entre a amizade esportiva e a pessoal. Eles não chegavam a ponto de chamar um de canalha, era só futebol mesmo”.
Além das brigas por futebol, outra atração do Box do Pedão foi rememorada por seu Mário: as apostas. Ele explica que era no Box do Pedão que as pessoas se juntavam para fazer apostas. Cada um escolhia um time e apostava em quem iria ganhar o próximo jogo. O dono do Box era o responsável por administrar as apostas. Ele anotava em quem as pessoas estavam apostando e pegava o dinheiro. Depois do resultado ia lá e entregava a quantia ao ganhador.
Mesmo com toda a fama que Pedão adquiriu enquanto trabalhava no Abrigo Central, o comerciante foi um dos mais prejudicados com a demolição daquele espaço. Não apenas porque era dali que ele tirava o sustento, mas também porque o Abrigo era a segunda casa de Pedão.
Os amigos contam que o fim do Abrigo foi também o fim de Pedão. Seu Ivan Cavalcante diz que “O Pedão morreu na miséria. Ele foi pro Maranhão. Quando ele voltou veio com um balcãozinho de tabacaria, muito na decadência já, de vida e de saúde. Aí arranjaram a porta do cartório pra ele ficar vendendo cigarro. Dali… fim da história dele”.*
Não há registro da data da morte de Pedão. Entretanto, na edição do Jornal O Povo, de 08 de janeiro de 1984, a carta de um leitor, chamado Waldir Ribeiro, pede que a diretoria do Ceará promova um jogo amistoso para que a renda seja revertida em ajuda para Pedão. Segundo o autor da carta, Pedão, que tanto havia ajudado ao clube, àquela época se encontrava “pobre, velho, esquecido e até desprezado pelos falsos amigos, escapando à fome vendendo cigarros em uma das ruas centrais de Fortaleza”.
Todos os que o conheceram não deixam de vincular a morte de Pedão à demolição do Abrigo. Seu Oriel afirma que “a derrubada pra ele foi como uma morte. Eu acho que ele morreu mais em consequência disso”. Entretanto, para quem frequentou o Abrigo e, principalmente, o box do Pedão da Bananada, ele continuará sendo “o tal ali do Abrigo”, como nos disse seu Pedro.
As Eleições e o Abrigo Central
O Abrigo Central, segundo quem o frequentava, foi, durante todo o seu período de existência, um espaço importante para a política local. Ali, passavam muitos políticos, já que a Assembléia Legislativa do Ceará funcionava onde hoje fica o Museu do Ceará, na Praça dos Leões, bem próximo ao espaço em que se localizava o Abrigo.
Um dos que mais passeavam pelo Abrigo, seja para tomar café ou encontrar outros políticos, era o prefeito Acrísio Moreira da Rocha, responsável pela construção do espaço. Além dele, seu Ivan recorda outros políticos que eram assíduos: “ali passou o Faustino de Albuquerque, o Cordeiro Neto, Acrísio, até o próprio Murillo Borges, Raul Barbosa. Seu Ivan complementa afirmando que “a gente conversava com eles como a gente está conversando aqui, normal”.

Prefeito Acrísio Moreira da Rocha no Abrigo



Essa frequência de políticos no Abrigo fazia dele um lugar especial no período de eleições. Em meados da década de 1950 foi instalado no Abrigo o placar em que eram dados os resultados parciais das eleições. Seu Pedro explica como isso acontecia: “O placar era em cima do Abrigo. Tinha aquele placar e era todo tempo saindo o resultado das eleições. O pessoal ficava tudo sentado no banco da Praça e olhando pro placar. Saía 6 horas da manhã, meio-dia, 6 horas da tarde, o resultado. E o último, parece que era 8 ou era 9 horas, porque mudava todo tempo”.
Segundo seu Pedro, as pessoas ficavam sentadas nos bancos da Praça do Ferreira o dia inteiro, esperando as mudanças no número de votos, até que fosse divulgado o resultado final do pleito. Ele lembra que “quando dava um resultado que um candidato passava do outro havia toda uma manifestação”.
Essas manifestações podiam ser também de raiva. Segundo o memorialista Abelardo Montenegro, na eleição de 1954, ano em que foi instalado o placar no Abrigo Central, quatro “indivíduos” subiram no placar e o destruíram, pois o resultado estava sendo favorável para um candidato que não era o preferido dos frequentadores do Abrigo.
Além disso, segundo o memorialista Alberto Sá Galeno, outro fato que relaciona o Abrigo Central com o período das eleições é a candidatura de Mário Rosal, frequentador do Abrigo, que concorreu à prefeitura de Fortaleza em 1954. O símbolo da campanha de Mário era o facão, que deu a ele o apelido de “Velho do Facão”. Ex-funcionário da Inspetoria de Obras contra as Secas, Mário Rosal obteve cerca de 10 mil votos dos frequentadores do abrigo.
Ainda segundo o memorialista Alberto Sá Galeno, as eleições de 1954 foram marcadas também pelo comércio de votos. Ele conta, em seu livro “A Praça e o Povo” que, dentre os que desejavam comprar votos, existia um “aloucado”, que ficou conhecido como “Prefeito” que ia ao Abrigo oferecer votos em troca de sucos e sanduíches.
Por conta de todas essas manifestações, os frequentadores do Abrigo afirmam que ali era o espaço ideal para conseguir votos, por isso que tantos políticos andavam por lá, como nos diz seu Oriel: “Era o encontro que eles tinham com o povo, eles tinham esse encontro com o povo no Abrigo Central”.
 Saudades do Centro, da Praça e do Abrigo Central
 As conversas nos bancos da Praça do Ferreira e os encontros no Abrigo Central, característicos da época em que a cidade de Fortaleza era chamada de ‘Loura desposada do Sol’, hoje, se constituem apenas em lembranças dos que viveram ali muitos momentos de suas vidas.
Para os frequentadores do Abrigo, o principal fator que levou ao que eles acreditam ter sido o “fim” do centro da cidade foi a demolição do Abrigo Central. Segundo seu Ivan, “Fortaleza era bom demais, até essa época, porque quando mudou de lá pra cá acabou-se tudo, pois modificaram a Praça”.
A reforma da Praça do Ferreira foi feita em 1967, já no governo de José Walter Cavalcante. Segundo seu Mário, a demolição do Abrigo não era necessária para que acontecesse uma modernização da Praça do Ferreira. Para ele “bastava reformar, colocar policiamento, porque alegavam que tivesse marginais, mas não tinha essa violência que tem hoje. Se você olhar hoje a Praça do Ferreira, no lugar do Abrigo Central nunca teve nada, colocaram umas bancas de revista. Eles simplesmente tiraram do local e não construíram nada. Por bons anos ficou só o chão. Depois que transformaram numas 5 bancas de revista, sem necessidade”.
Seu Oriel também concorda com a opinião de seu Mário. Segundo ele “a Praça do Ferreira, naquela época, era mais bonita do que hoje. Era mais humana. Com aquela mudança que o José Walter fez, aquele jardim suspenso, pra mim, ali, acabou-se a Praça do Ferreira”.
Já seu Pedro afirma que a reforma feita pelo prefeito José Walter “era uma marmota, deformou a Praça”. Para ele, com a demolição do Abrigo, o centro de Fortaleza “foi totalmente descaracterizado, perdeu muito. É tanto que os próprios comerciantes tão fugindo de lá, porque não tem mais o movimento que tinha”.
Seu Ivan diz que hoje a Praça do Ferreira “está morta”. Já seu Pedro diz que é também por falta de segurança que as pessoas não tem mais interesse em ir ao centro: “eu sinto muita falta de segurança e tenho muita tristeza por isso. É tão difícil a situação da gente, que é até difícil se relacionar. Naquela época não, você não andava assustado, você andava tranquilo, roubo de carro não existia, assalto não existia… hoje a vida é difícil”.

*A Casa de discos do Abrigo Central, era de propriedade de  Kleber Alves Cavalcanti (já falecido), irmão de Ivan Cavalcante. Após a queda do Abrigo, o senhor Kleber Cavalcanti teve serios problemas para se reerguer, mas com muita força de vontade e persistência, conseguiu ser funcionário por mais de 20 anos da Coelce, mas sempre notava-se a saudade que ele tinha dos tempos de comércio do antigo Abrigo.













Maravilhosa pesquisa realizada por: 









* O comerciante Pedro Alves da Silva, o Pedão da bananada, morreu em 09 de dezembro de 1984.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Os rabos de burro



O primeiro grupo de motociclistas a ficar famoso no Ceará era formado por um mais bem comportado grupo de dissidentes dos famigerados ‘Rabo de Burro’ que eram desordeiros (filhinhos de papai) que andavam de carro na Fortaleza dos Anos 40’ e infernizavam a vida de mocinhas inocentes da antiga Escola Normal.

Postal Escola Normal

Na Década de 50, no Pós-Guerra alguns fortalezenses herdaram equipamentos de guerra que não seriam mais usados pelos americanos quando da época da base militar que estava instalada onde é hoje a Base Aérea de Fortaleza. O lugar era chamado de Post Comand que, mais tarde, virou nome de um bairro em Fortaleza chamado PICI. Na realidade Pici é a forma fonética de falar, em inglês, as letras ‘P’ e ‘C’.

Clique para ampliar

No meio dessa sobra de materiais tinham algumas ‘Harley’ e uns Jipes. Muitos garotos pegaram essas motos em precário estado de conservação e as recuperaram e, junto com as lambretas, nascia o primeiro grupo de motociclistas do Ceará, que também foi apelidado de Rabos de Burro, mesmo não sendo arruaceiros e nem infernizarem as mocinhas decentes. Na realidade o nome nem era esse. Em vez de rabo usavam um nome mais pejorativo, formado por duas letras, as quais não ouso redigir aqui.

O abrigo lotado

Eles se encontravam no antigo Abrigo Central, que ficava onde hoje se está a Praça do Ferreira. Na realidade podemos também afirmar que o Abrigo Central teria sido o primeiro shopping center do Ceará.
Segundo a jornalista e historiadora, Roberta Maia, dar um “pulinho” no Abrigo Central era quase sagrado para muitas pessoas que viveram em Fortaleza até o final da década de 1960. Relembrar o “Velho Abrigo”, construído na administração do prefeito Acrísio Moreira da Rocha, em 1949, para ser um ponto de ônibus, não é muito esforço para quem passou ali muitos momentos da juventude.


Ir àquele espaço incrustado na Praça do Ferreira era essencial para finalizar bem o dia, depois da jornada de trabalho. O Abrigo Central era o ponto de encontro. Se você queria encontrar um amigo, você podia ficar ali à espera que aquele amigo tinha que passar. Mas, além disso, podia ainda namorar e concorrer aos sorteios de carro que aconteciam ali.

Abrigo à noite

O Abrigo tinha ainda casas de merenda, loja de discos, loja de selos, tabacarias, cafés, confeitaria, engraxates. Para seu Mário Cidrack Filho, 62, que, ainda criança, trabalhava com seu pai na confeitaria que levava o sobrenome da família, o Abrigo “era a referência”. Ele explica que “lá dentro do Abrigo tinha de tudo”.
Lá também era possível encontrar outras delícias da culinária, como as vitaminas, sucos e sanduíches. Abacatadas, sucos de cajá, graviola, tamarindo, eram pedidos durante todo o dia nas várias casas de merenda (lanchonetes, para os paulistas). Mas, para o acompanhamento nada melhor que um “cai-duro” ou um “espera-me no céu”. Pois é, tinha até a famosa bananada do ‘Pedão da Bananada!’

Pedão da bananada em frente ao Abrigo

O Abrigo Central acabou, foi destruído para dar lugar a Praça do Ferreira onde fica a Coluna da Hora e anos depois os garotos viraram pais e avôs, mas nunca deixaram a paixão pelas motos. 


Texto maravilhoso de Luis Sucupira do site:http://motonlinersbrazil.wordpress.com

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: