Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

terça-feira, 5 de julho de 2011

“Um grande crime!”


Foto de 1926

No ano de 1929, um oitizeiro existente nas imediações da igreja do Rosário, cruzamento das atuais ruas General Bezerril e Guilherme Rocha, foi derrubado. Seria apenas mais uma árvore abatida não fosse a polêmica que o incidente gerou.

Muitos se manifestaram contrariamente à ação da municipalidade – a ordem partira do prefeito Álvaro Weyne. Em artigo de 23 de maio, publicado no Correio do Ceará, João Nogueira denunciou um “grande crime”.
O nosso estimado Prefeito acaba de praticar um grande crime! Talvez, mesmo, tenha feito coisa pior: cometido um pecado mortal, mandando matar o mais antigo dos seus munícipes, este inocente e querido oitizeiro da capela do Rosário.

O episódio merecera registro do jornal A Razão. No dia posterior ao “crime”, o vespertino veiculou uma breve nota aludindo aos acontecimentos: contemplava-se a ação do “machado do progresso” e os protestos em contrário.

O tradicional oitizeiro que se erguia majestoso em frente ao edificio onde funcciona actualmente a Secretaria do Interior e Justiça, teve hontem o seu ultimo dia de vida. O machado do progresso iniciou, pela manhã de hontem, a sua acção e, dentro de poucas horas, viase, com tristeza, manter-se de pé tão somente o tronco da velha arvore. Muitos foram os protestos que se levantaram contra o gesto do sr. prefeito municipal, havendo mesmo quem o classificasse de barbaro. Hoje, restará do grande oitizeiro apenas a lembrança. Já é, porém um mal sem geito. Conformemo-nos.

O desrespeito à tradição, inscrito na ação do poder público, foi censurado por Alcides Mendes, cronista do mesmo periódico. Seu texto, publicado em 23 de maio, também assumiu ares de denúncia ao narrar a destruição de uma “relíquia” do passado.

Eu fui espiar, de pérto, o annunciado assassinato do oitizeiro de N. S. do Rozario, na rua Coronel Beserril. [...] Quando aportei ao local do crime já o cadaver do meu venerando oitizeiro ia se deitando resignadamente no chão, para o seu derradeiro somno. [...] o róble
mastodontico do oitizeiro morto era uma pura reliquia da gloriosa vida de outróra, do nosso querido Ceará. [...] Não sabemos respeitar a tradicção, nem venerar os fios de barba dos antepassados.


O jornal O Povo publicou, a 16 de julho, artigo assinado por Gustavo Barroso, o qual também condenava a medida. Pareceu-lhe que a sorte da árvore fora decidida em função do crescente tráfego de veículos: “[...] o impiedoso machado municipal para sempre te abateu em beneficio do deus moderno das cidades trepidantes: o trafego”.

Em Fortaleza descalça, livro de memórias publicado em 1975, o poeta Otacílio de Azevedo relatou experiências e impressões de sua vivência na cidade, desde sua chegada, em 1910, vindo do interior. Entre paisagens conhecidas e figuras do meio intelectual e artístico com as quais travara relações, ele recordou o oitizeiro do Rosário. No capítulo que lhe foi dedicado, narrou, condoído, seu triste fim.

Assisti, em 1929, revoltado, à derrubada do célebre Oitizeiro situado atrás da igreja do Rosário [...]. Grande número de pessoas idosas achava-se ali, aturdido. [...] Nada podia demover os operários, que apenas cumpriam um dever. Alguns deles estavam armados,
prevendo uma reação mais violenta do povo. Velhos de cabelo branco que haviam brincado, quando meninos, à sombra acolhedora do Oitizeiro do Rosário deixavam escapar dos lábios murchos verdadeira saraivada de impropérios e inúteis protestos. Aos poucos, porém, a onda de rebelados, sem forças, foi-se desfazendo, frágil demais para tentar qualquer reação. A grande copa, afinal, rolou por terra com fragor, num dilúvio de folhas. Uma brisa correu – talvez o último alento da árvore. Depois, foi o tronco, cortado cerce, com o auxílio de machados. Por fim, só restaram as raízes retorcidas...
Mandara abater a nobre árvore o prefeito Álvaro Weyne, depois de – magro consolo! – mandar tirar-lhe uma fotografia. Acreditamos que o ilustre edil sofreu também ao tomar essa decisão. O verdadeiro algoz do Oitizeiro foi o progresso, em nome do qual se cometem tantos
crimes...


A sensação de que se praticava um crime imperdoável organizou a escrita de quem referiu ao acontecimento, em periódicos, e de uma testemunha que o vivenciou e sentiu a necessidade de contá-lo, muito tempo depois. A esse respeito, o relato de João Nogueira é esclarecedor.

Cortada a fronde e já reduzido ao tronco e a dois galhos principais, nos pareceu um supliciado a quem houvesse dilacerado o corpo e cortado as mãos e que, em último arranco, levantasse os braços para o céu clamando vingança (talvez perdão) para seus matadores.

Gustavo Barroso também manifestou tal percepção. Após tornar à terra natal (em 1910 ele havia se transferido para o Rio de Janeiro), a fim de representar a Academia Brasileira de Letras nas comemorações do centenário de nascimento do escritor José de Alencar, realizadas no primeiro de maio, ele presenciara, desconsolado, o sacrifício da árvore.

Não houve voz, não houve pedido, não houve protesto que te salvasse. O progresso mandou que te puzessem abaixo. E tu, que perderas a grade protectora posta pela bondosa Camara Municipal de 1877, que fôras amputado varias vezes–porque já estragavas as fachadas lateraes, cortado, recortado em achas, queimaste a fogo lento nas cozinhas da Santa Casa de Misericordia.

O que dizer de Otacílio de Azevedo, que relatou ter visto ramos descreverem “círculos de angústia” no ar, e contorcerem-se pelo chão como que a sentirem dor, após caírem desfalecidos?

Um caboclo forte, no alto da fronde do oitizeiro, cortava, com afiada foice, que brilhava ao sol, os galhos mais altos. Os nodosos ramos descreviam círculos de angústia e vinham, depois, cair, exânimes, no velho e desconjuntado calçamento, num remoinho de folhas verdes e doirados frutos... A cada foiçada, soltavam-se lascas que se vinham juntar à ramagem, no chão. Aqueles ramos retorcidos pareciam sentir, convulsos, a dor que lhes causava a afiada ségure...

São textos que impressionam. Talvez porque respondiam a uma necessidade premente nas circunstâncias em que vieram a lume: mas qual?
Por que a derrubada de uma árvore, acontecimento corriqueiro no cotidiano de uma cidade, provocou tal comoção na Fortaleza de fins da década de 1920?
Por que a percepção de um crime? E por que a ação foi levada a cabo, embora encontrasse oposição?

A justificativa presumida para o abatimento do Oitizeiro do Rosário repousava na intensificação do tráfego urbano, o que era confirmado pelo crescente número de automóveis que transitava pelas ruas da cidade. A árvore erguia-se em uma via central – a um passo da Praça do Ferreira, ponto irradiante de veículos, onde automóveis de aluguel estacionavam e passavam linhas de bondes. Devia ser sacrificada em nome do progresso, pois, como bem percebeu Otacílio de Azevedo, O velho Oitizeiro já não era mais que um intruso, um trambolho que impedia o embelezamento da cidade que crescia. Começavam a aparecer os automóveis que deveriam transitar por todas as artérias da cidade. A queda do Oitizeiro do Rosário marcou o desmoronamento de mais uma tradição, para dar lugar às correrias
desenfreadas dos novos habitantes da pacata urbe – os bêbados da gasolina!

Desde a primeira experiência com um automóvel nas ruas de Fortaleza, em 1909, 
seu número crescera consideravelmente.



 

O primeiro automóvel chegou por aqui em 28 de março de 1909, vindo dos Estados Unidos pelo vapor inglês “Cearense”.
Era um automóvel da marca “Rambler” usado, comprado pela Empresa Auto Transporte, de propriedade do Dr. Meton de Alencar e de Julio Pinto, adquirido por 8:000$000.
Após o desembarque na alfândega, como ninguém soubesse dirigir, o veículo foi puxado por um jumento no trajeto entre o prédio da alfândega até o edifício do Cinema Júlio Pinto, localizado na Rua Major Facundo n° 64, acompanhado por uma verdadeira multidão de curiosos, que se formou ao redor do veiculo e do jumento.
Depois de muito pesquisar o motor, dois intrépidos cidadãos aprenderam a dirigir e quando saíam para a via pública, eram sempre alvos de curiosidade por parte da população.
Nessas viagens quase sempre o carro enguiçava, sendo preciso desmontá-lo em plena rua para consertá-lo. Como o motor estava localizado sob o veiculo, era necessário arrancar a carroceria todas as vezes que isso acontecia.
Certa vez perdeu-se a tampa do radiador na estrada de Messejana, e o proprietário anunciou no jornal que gratificaria a quem a encontrasse e devolvesse. Movimentou-se então uma multidão de populares em busca da peça, mas como ninguém sabia o que seria uma tampa de radiador, foram levados ao proprietário, todos os tipos de objetos de ferro que puderam ser encontrados naquela estrada, inclusive, até camburões de ferro.
Depois de um tempo, de tanto rodar, os pneus ficaram gastos e precisaram ser substituídos, mas onde encontrá-los? Improvisaram então umas rodas de madeira com aros de ferro, que faziam uma barulheira infernal nas pedras de calçamento.
Apesar dos percalços, esse carro conseguiu fazer diversas viagens a Messejana, e de certa feita, foi até Canindé, durante as festas religiosas. Seguiu de Fortaleza até Itaúna dentro de um vagão da E.F. de Baturité, e daí em diante rodando por uma estrada improvisada, levou um dia inteiro até chegar a Canindé.
Em certa ocasião ao trafegar na Avenida do Imperador, ao desviar-se de um pedestre, o carro foi de encontro a um muro, derrubando-o. Esse foi o primeiro acidente de trânsito da história da cidade.
Extraído do livro “Coisas que o Tempo Levou” de Raimundo de Menezes

Automóvel do Dr Meton de Alencar e Júlio Pinto - Foto do arquivo Nirez

Porém, o calçamento das ruas não acompanhara igual progresso – a cidade era ainda

descalça”, no dizer do poeta. O empedramento constituía-se de “seixos toscos de antiguidade quasi secular e inteiramente desnivelado”, segundo comentarista do jornal A Razão. Contudo, sua insatisfação advinha menos dos transtornos ao trânsito que o calçamento pudesse causar, que do aspecto desolador que conferia à cidade, infundindo-lhe, ao lado de outros elementos, certo ar nostálgico, impressionando negativamente o visitante que por ali se demorasse: 

“Ruas largas, ladeadas de casas baixas, de fachadas archaicas, sem qualquer arborização, tornam Fortaleza uma cidade nostalgica”.

Ruas largas, calçamento de pedra irregular e arborização ausente. A cidade 
havia parado no tempo? Rua Barão do Rio Branco, em 1922 (fonte: LOPES, 1998).

O aspecto da cidade ddenunciava: ela envelhecera. Não possuía um calçamento apropriado às novas exigências do tráfego, mas uma feição desagradável que lhe emprestava qualquer coisa de antigo, de imemorial.

Nessa perspectiva, uma árvore centenária não era mais que um entrave ao progresso, no que tolhia o trânsito de automóveis, e naquilo que confessava, em sua mudez ancestral. A cidade devia seguir o rumo do progresso, e tudo o que se interpusesse no caminho era forçoso descartar.


Fonte: Tempo, progresso, memória: um olhar para o passado na Fortaleza dos anos trinta 
Carlos Eduardo Vasconcelos Nogueira

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Das antigas - O Padre e o preso



 Abril de 1964 foi talvez pior que março. Para algumas pessoas, os dias não passavam como de costume e o fim de mês não parecia voar. Haviam cortado suas asas e por isso os dias andavam peados, vazios de coisas triviais. O acordar com os galos, o esfregado matinal com a sinhazinha, a hora do homem da carroça d'água e o café coado em pano preto de borra... Nada. Nem o filho que chorava com o ''dordói'' e água morna que devolvia-lhe a vista... Nada. Coisas que todos os dias corriam iguais sendo diferentes. 

Vovô foi quem inventou essa conversa de que o tempo voava. Foi ele. Era pra dizer que os segundos tinham vida e mexiam com a vida dele e a alheia. Nada a ver com rugas e com coisas desinfelizes. Adorava viver o dia, amá-lo à boquinha da noite, dormi-lo e, cedo, estar de pé pra viver outros despropósitos.

Angustiava-se quando caía enfermo. Sinal de que os dias caminhariam empanturrados, golfados. Que não aconteceriam triviais. Era como estar preso, isolado das acontecências e das coisas que seguiam seus inesperados sem ele.

A propósito disso, me enviaram carta de um preso que se angustiou com a desfelicidade de perder de vista o cotidiano dos seus... De perder os dias com os seus. Foi Blanchard Girão, em abril de 1964, ao padre Zé Nilson... Sacerdote do Mucuripe, protetor das meninas alegres. Foi assim: 

''Meu bom e digno padre José Nilson,
Não estaria ausente à sua festa se os acontecimentos que se desencadearam em Abril não houvessem mudado o curso de minha vida. Daqui desta prisão onde me lançaram vi para sempre o adeus de meu Pai. Não assisti à chegada ao mundo de minha filhinha Martha, que está crescendo sem o meu carinho. Nunca mais deitei-me ao chão para servir de montaria a Luiz Carlos e Blanchard Filho. Os dias são iguais, meu amigo, são longos e tristes. Mas, não se surpreenda, ao dizer-lhe que são também cheios de esperança.

A você posso fazer-me entender muito bem. A poucos falaria com tanta confiança e maior certeza de ser compreendido. Sei da grandeza de sua alma, da lucidez de seu espírito, da bondade de seu coração aberto às aflições humanas. Posso lhe confessar tudo que guardo no íntimo de mim mesmo e que só daqui a muito tempo transmitirei, como subsídio à História, aos que respirarem um clima de Liberdade e Direito.

Quando você recebeu, há 17 anos, as vestes sacerdotais, tinha a convicção de que iria encontrar campo fácil à pregação da Doutrina de Cristo a todos os homens. Mas estou convencido de que a experiência lhe ensinou algo bem diferente, variando de camadas sociais, os homens divorciaram-se da doutrina cristã. Os ricos de há muito ergueram altares a outros deuses, aos novos ''bezerros de ouro'' da civilização contemporânea. Adoram acima de tudo o Prazer e o Luxo. Veneram o Conforto e a Glória dos salões. Seus valores morais estão limitados pelo materialismo de sua riqueza. E sei, e você sabe, que eles vão à Igreja. Fingem adorar a Deus. Mas em verdade mentem. São os novos fariseus do templo.

Quando se ajoelham e porventura oram, no seu consciente não acode a lembrança de que, inda há pouco, esmagavam sob o peso da exploração aqueles que constroem seu patrimônio. No seu ''ego'', uma crosta de insensibilidade fecha-lhes os olhos à brutal miséria em que a acumulação de seus bens lança a grande maioria de seus irmãos. E pedem - oh! inconscientes! - e pedem a Deus proteção para esse estado de coisas. E procuram iludir o céu com a oferenda de migalhas de sua mesa atiradas à pobreza faminta e humilhada!

E os miseráveis, meu amigo, será que ainda crêem e amam ao Criador? É difícil definir a alma dessa gente. Se entram na Igreja, não vão aos pés de Deus agradecer a graça suprema que seria a própria vida; vão chorar, meu amigo, vão implorar, vão contar suas desditas ao Todo Poderoso, última instância de seus anseios. Não vemos em seus olhos o brilho da alegria nem a beleza da felicidade. Seus corpos esquálidos, suas vestes em farrapos são o atestado de uma degradação física e social a que foram atirados pelas minorias ambiciosas e desumanas. A vida para eles é uma carga de sofrimentos e desencantos. Ainda aspiram pela lembrança de Deus, mas rastejam às portas do desespero.

E diante de todos, generoso e humano, você vai cumprindo sua missão divina. Conheço bem de perto o seu idealismo. Em muitas oportunidades - permita-me a franqueza - deplorei sua impotência diante da realidade que o cercava. As limitações eram tantas que um fraco recuaria. E você, ao contrário, sempre vibrante, disposto a fazer o mínimo que lhe é possível, rezando para que muitos o imitassem.

Nossos caminhos não sei se são os mesmos. Os fins, tenho certeza. E porque ansiei por uma transformação; porque não concordei com o endeusamento dos novos ''bezerros de ouro''; porque não me embruteci no culto à riqueza nem me insensibilizei ao sofrimento do povo; porque amei ao próximo como reflexo de mim mesmo que ele o é; por tudo isso, meu amigo Padre José Nilson, encarceraram-me. Destruiram o lar de meus Pais; roubaram-me o carinho e o afeto da esposa e de três filhos pequeninos.

A você também roubaram a suprema ânsia de sua vocação, que era, sem dúvida, ver os homens em harmonia, adorando a Deus na justeza da Idéia perfeita de que a vida deve ser vivida com dignidade, com amor, com paz e felicidade, não nesse entrechoque de interesses e ambições que faz do homem a fera a devorar constantemente o próprio homem.

Confundem-se os fins que buscamos. Triste e envelhecido, recalcando nalma a dor mais forte - a dor da injustiça! - a mesma dor do Cristo no tribunal de Pilatos, vou aceitando os meus dias com resignação, convencido de que num futuro não muito remoto a Verdade surja e com ela a Liberdade e o Direito; você, meu amigo muito amigo, também reflete no olhar a tristeza de sua incapacidade de derramar para todos os homens - e não para as minorias privilegiadas - a alegrias de felicidade terrena para a busca do Reino de Deus. Mas, igualmente a mim, tem no coração a plena consciência de que isto não é eterno, de que os homens amanhã encontrarão novamente a Doutrina e serão bons como sempre deveriam ter sido.

E é com essa síntese de nossos sofrimentos e anelos que me transporto à sua festa para, em meio a seus paroquianos humildes do Mucuripe, comungar da mesma felicidade que a todos domina no momento de abraçá-lo como amigo, na autêntica expressão desta palavra.
Vai meu abraço, amigo Padre Nilson. Que Deus escute as suas preces em favor dos pobres e dos bons.
Até um dia.
Blanchard Girão
Quartel do 23º B.C., em 29 de novembro de 1964''.


Crédito: Jornal O Povo

domingo, 3 de julho de 2011

Colégio Dorotéias - Colégio de Nossa Senhora do Sagrado Coração



"O prédio foi muito modificado, eu diria que foi demolido e construído um outro, pois é totalmente diferente, tanto o colégio como a capela. O colégio foi fundado em 1915, data da foto acima, com o nome de Colégio de Nossa Senhora do Sagrado Coração; em 1940 foi inaugurado o novo prédio com a nova atual capela. Em 2005 foi anunciado o fechamento do colégio que já havia sido fechado e reaberto" - Nirez


O prédio no Álbum Fortaleza 1931

O Colégio de Nossa Senhora do Sagrado Coração das irmãs Doroteias foi criado em 1915, numa modesta chácara situada na Estrada de Messejana. O prédio possui linhas arquitetônicas do estilo eclético, surgido na França, ainda na metade do século XIX. 
Dirigido pelas virtuosas irmãs de Santa Dorotéia.

Colégio Dorotéias em foto anterior a 1940 e dá para ver que a capela ainda era a antiga- Arquivo Nirez

Foto da década de 1950, quando o colégio já havia sido reformado. A capela não aparece porque foi feita recuada, diferentemente da anterior. Nirez

Escola tradicional das moças de classe média de Fortaleza desde 1915, depois transformada em escola mista, o Colégio Dorotéias viveu uma crise financeira¹ após o fim da década de 1990 e fechou as portas em 2005. Pela história que representa para a cidade e por sua arquitetura da fachada preservada, o prédio da escola foi tombado pelo Conselho de Patrimônio Histórico-Cultura(Comphic). A decisão é um alívio para quem temia que a ex- escola permanecesse somente na memória dos ex-alunos.


Refeitório do Colégio - Álbum Fortaleza 1931

Capela do Colégio - Álbum Fortaleza 1931

Auditório do Colégio Dorotéias - No palco, o Grupo Os Canibais

Arquivo Nirez

O prédio do Colégio Dorotéias, na Avenida Aguanambi, foi comprado pelo Grupo Universitário Maurício de Nassau, sediado em Recife. A aquisição ocorreu no decorrer do processo e com conhecimento do Conselho, que comemora a continuidade em relação aos seus propósitos educacionais de origem. Por isso, o Comphic está realizando reuniões com os representantes do grupo comprador para garantir sua integridade física e valorização do patrimônio histórico.
“O restauro da fachada preserva o desenho original. Mas a parte interna já está muito comprometida devido a intervenções aleatórias feitas anteriormente”, lamenta a coordenadora do Departamento de Patrimônio Histórico da Secultfor, Ivone Cordeiro. Mas a parceria com os compradores é bem vista por ela. “Concretizamos uma das diretrizes da nossa política, que é a preservação compartilhada, numa relação público-privada”, complementa Ivone Cordeiro.

Arquivo Jangadeiro Online 

¹  Matéria de 08 de Novembro de 2005:

Depois de 90 anos de trabalho em educação, um dos mais tradicionais colégios de Fortaleza vai fechar as portas no fim deste ano. O Colégio Nossa Senhora do Sagrado Coração, mais conhecido como Colégio Dorotéias, chega ao fim de suas atividades e cita a alta inadimplência como a principal razão do fechamento. 

Segundo a diretora da instituição, irmã Mariluce Nilo Morcourt, o índice de falta de pagamento chega a 40%. A irmã cita a chamada ''Lei da Inadimplência'' como uma das causas da não quitação das dívidas: ''A lei federal não ajuda as instituições e ajuda o pai que não cumpre com os pagamentos. Aí, fica difícil''. O problema já existia, de acordo com ela, há cerca de um ano e as despesas estavam sendo pagas com a ajuda da Congregação das Irmãs Dorotéias, a quem o colégio pertence.



Turma de 1976 do Colégio Dorotéias, na missa de término  do segundo grau (3º científico). A 1ª da esquerda é a Ana Façanha, que foi quem me enviou a foto.

O prédio, que fica localizado na avenida Visconde do Rio Branco, 2.078, no bairro José Bonifácio, possui cerca de 60 salas de aula. Há 264 alunos matriculados da Educação Infantil ao Ensino Médio. ''A inadimplência é muito grande e nós temos um número pequeno de alunos. É impossível continuar oferecendo um ensino de qualidade porque não temos como investir'', diz a diretora acrescentando que a decisão de não continuar com a atividade letiva foi tomada no início de setembro.

De acordo com a diretora, já há bastante procura por parte de escolas para adquirir o imóvel. ''Há a possibilidade de ser vendido para continuar como uma instituição educacional. Esse seria o ideal'', afirma completando que a decisão de venda do edifício será tomada pela congregação.

O Colégio Dorotéias está sendo dirigido pela congregação desde a década de 1990. Já havia sido alugado a uma outra escola na década de 80. Conforme a irmã Mariluce, as obras sociais desenvolvidas em quatro comunidades de Fortaleza continuarão. A Congregação das Irmãs Dorotéias administra 19 colégios e duas faculdades no Brasil. 



Foto de Altemiro Olinto

Fatos Históricos

  • 07 de Abril de 1915 - Fundado, pelas Irmãs Dorotéias, o Colégio de Nossa Senhora do Sagrado Coração.

  • 10 de Junho de 1915 - Instala-se o Colégio de Nossa Senhora do Sagrado Coração (Dorotéias), em uma chácara no Boulevard Visconde do Rio Branco nº 2078.
    Aos poucos foi sendo construído o prédio, por volta de 1924 a 1929.
    Sua primeira superiora foi Madre Luzia Lemos.

  • 22 de Novembro de 1927 - Distribuição de diplomas no Colégio das Dorotéias. São estas as novas professoras: - Aurélia Teixeira Ferrer, Guiomar de Holanda Cavalcante, Amalia Xavier de Oliveira, Ailsa Gonçalves, Maria de Lourdes Lopes, Olívia Sampaio Xavier. Francisca Magalhães Pinto, Angélica Saboia, Cleonice Alves ‘Gomes, Flora Monte, Maria dos Prazeres Forte e Alice Ribeiro Raulino.

  • 26 de Março de 1940 - Morre Maria Nazaré Bezerra (Madre Bezerra), professora do Colégio das Dorotéias e irmã de Assis Bezerra, proprietário da Tipografia Minerva. 

Arquivo Nirez

  • 21 de Novembro de 1940 - Inaugura-se a nova capela do Colégio de Nossa Senhora do Sagrado Coração (Instituto Santa Dorotéia), ato oficiado pelo arcebispo Dom Manuel, na Avenida Visconde do Rio Branco, conhecida como Igreja das Dorotéias.

  • 19 de Abril de 1942 - Com um festival no Colégio das Dorotéias, terá inicio uma Primeira Semana pró-Catedral, iniciativa do Arcebispo de Fortaleza.

  • 15 de Março de 1944 - Divulga-se que veio servir no Colégio das Dorotéias, em Fortaleza, a Madre Doutora Maria José Torres, formada em Medicina.

Arquivo Nirez

  • 03 de Março de 1975 - Morre, às 7h, aos 70 anos de idade, a Irmã Ester Vanderley, a última remanescente do grupo que no dia 07/04/1915 criou o Colégio das Dorotéias.

Fonte: Diário do Nordeste, Portal da História do Ceará e Arquivo Nirez

sábado, 2 de julho de 2011

Fortaleza de ontem de hoje - Uma viagem no tempo


Praça do Ferreira - Cruzamento entre as ruas Guilherme Rocha e Floriano Peixoto
Foto de 1936

Foto de Eliézer Rodrigues

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Igreja do Líbano
 Década de 50

Foto de Francisco Edson Mendonça

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Colégio Dorotéias


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Mercado dos Pinhões


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Crédito das fotos 
de ontem: Nirez
de hoje: Monique Oliveira 
e Wiarlen Ribeiro(salvo as com crédito)

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Acrísio Moreira da Rocha - Parte II



A vida e os triunfos de Acrísio Moreira da Rocha por Carlos Alberto Farias



[Nota publicada às 18h 12min - 2004]

Faleceu no último dia 21, o dr. Acrísio Moreira da Rocha, um dos políticos mais carismáticos de minha terra, membro de tradicional família de homens públicos, destacando-se seu genitor, o dr. Manuel Moreira da Rocha, médico formado pela Faculdade de Medicina da Bahia e várias vezes Deputado Federal pelo Ceará



Destemido e corajoso, ficou nacionalmente conhecido como Manuel Onça, pela coragem e destemor de que era possuidor. Sua mãe, dona Amália Moreira da Rocha, era baiana de nascimento. Terceiro de uma numerosa prole de nove filhos, dos quais, além dele, dois tiveram destacadas atuações na política. O mais velho, o dr. Crisanto Moreira da Rocha, foi várias vezes Deputado Federal e o mais novo, Péricles Moreira da Rocha, Deputado Estadual pelo Ceará. Além disso, um primo - irmão, cel. Edilson Moreira da Rocha, foi Secretário de Estado em dois governos.



O dr. Acrísio nasceu em Fortaleza-CE, aos 25 dias do mês de setembro de 1907. Eram seus irmãos, pela ordem: Crisanto, Gisela, Abelardo, Crisantina, Aderson, Guilardo, Péricles, e Célia. Crisantina e Célia estão vivas. Os demais já faleceram.
O dr. Acrísio estudou no Colégio Castelo Branco e no Colégio Militar do Ceará. Transferindo-se para o Rio de Janeiro, pois seu pai era Deputado Federal, formou-se em Odontologia pela Faculdade de Odontologia e Farmácia da Universidade do Brasil.
Grande fazendeiro, depois de deixar a política passou a administrar suas Fazendas Reunidas do Quinin, no Município de Quixeramobim.
Foi fundador da Associação Cearense do Gado Holandês. Fundou e foi o primeiro presidente do Jockey Club Cearense, cuja sede ajudou a construir, deixando o cargo quando assumiu a Prefeitura, ficando em seu lugar o concunhado Stenio Gomes da Silva.
Filho de político, criado dentro do ambiente, cedo manifestou interesse pela vida pública. Acompanhou de perto da trajetória do dr. Moreira, político de fibra e coragem, que teve a hombridade de ser oposição no Ceará durante a oligarquia dos ''Aciolys'', onde o voto era aberto e chamado de ''cabresto''.
Apesar de pertencer à família ilustre e conceituada, o dr. Acrísio fez sua opção pelos pobres, tendo dedicado todo e seu trabalho em defesa dos menos favorecidos.
Sua primeira experiência na vida pública foi quando o então Presidente da República, dr. José Linhares, nomeou-o Interventou Federal no Ceará. Tomou posse solenemente no cargo no dia 15 de janeiro de 1946, no Rio de Janeiro, perante as mais altas autoridades do País. Após a posse, regressou a Fortaleza em avião da FAB a 19 de Janeiro de 1946. Uma multidão foi do Pici até a residência do seu cunhado Artur Salgado, no bairro da Aldeota. Ali foi saudado pelo advogado José Cardoso de Alencar e pelo padre José Bruno Teixeira. No dia seguinte, 20 de janeiro, recebeu o cargo das mãos do dr. Raimundo Gomes de Matos, que respondia interinamente em virtude do impedimento do dr. Thomas Pompeu Filho.




Sua curta passagem pelo Governo serviu para mostrar a liderança de que era possuidor. Eleito Governador, o desembargador Faustino de Albuquerque convidou-o para ser Secretário da Fazenda, quando teve a oportunidade de ajustar a máquina arrecadadora e equilibrar o orçamento, pagando dívidas contraidas durante o período das interventorias. Naquele tempo, a Secretaria da Fazenda era usada para fazer a política dos vencedores. Fez ver ao Governador que politicagem ele não faria e a pressão iria ser muito grande. O Governador disse que tinha dois secretários que eram de sua inteira confiança e responsabilidade e o dr. Acrísio manteve-se firme. Na época existiam 10 impostos no Ceará. Ele sugeriu a criação do imposto único, ainda hoje uma esperança dos brasileiros. O governador Faustino apoiou a idéia, mas a Assembléia Legislativa não aprovou.


Manuel Moreira da Rocha - Mané Onça

Permaneceu cerca de oito meses no cargo, pois teve seu nome lembrado para ser candidato a Prefeito de Fortaleza na eleição de 07/2/1947. Apesar da Constituição não exigir a desincompatibilização para a candidatura, resolveu afastar-se para se dedicar a sua campanha. A luta foi bastante árdua. PSD e UDN tentavam lançar um só candidato, mas não houve acordo, Acrísio foi cogitado pelos dois, mas como não era filiado a nenhum, recusou os convites. Mas, para concorrer era necessário ter um partido. Na hora das convenções, 12 dos 13 partidos existentes assinaram um protocolo para que nenhum deles lhe desse a legenda. Faltavam 22 dias para terminar o registro das candidaturas. Então, o dr. Acrísio telefonou para seu irmão, o Deputado Federal Crisanto Moreira da Rocha. Este então conseguiu a legenda do Partido Republicano, o PR do ex-Presidente da República Artur Bernardes, cujo filho, Arturzinho era colega do seu mano, na Câmara Baixa. Faltavam apenas dois dias para o registro das candidaturas. Depois dos trâmites legais, foi encaminhado o pedido ao Tribunal Regional Eleitoral. UDN, PDS e os demais partidos tentaram impugnar seu nome, mas o Presidente do órgão, o desembargador Virgilio Firmeza, disse que o pedido foi feito no prazo, pois o que valia era o relógio do Tribunal. E fez o registro da chapa.
Seus principais concorrentes em 1947 foram o industrial Diogo Vital de Siqueira, da UDN e Presidente das Emissoras Associadas do Ceará, e o dr. Stenio Gomes da Silva, pelo PSD, seu concunhado, pois eram casados com duas irmãos, filhas do industrial Pedro Philomeno Ferreira Gomes, numa clara tentativa de tentar dividir a sua própria família.
Processada a apuração, o dr. Acrísio Moreira da Rocha foi eleito Prefeito de Fortaleza com 80% dos votos válidos, ficando o dr. Stenio com 5% e o Dioguinho com 4%. Foi uma vitória consagradora. Contra todos os outros partidos, mas com o apoio total do povão, que sempre esteve ao seu lado. Para exemplificar basta dizer que os sindicatos de empregados estavam todos com ele.
Sua vitória foi tão consagradora que até os jornais de São Paulo registraram o feito, pois ele venceu em todas as urnas, inclusive as da Aldeota, o bairro ''chic'' da cidade. A respeito disso, ouvido pela imprensa, o dr. Acrísio explicou a razão do triunfo também no reduto dos milionários: ''Cada casal tem em média quatro empregados, dois domésticos, o jardineiro e o motorista. Era 4 x 2. Numa urna do Monte Castelo dos 300 votos eu tive 297, pois os outros três foram de fiscais dos partidos adversários.


Amália Moreira da  Rocha

Acerca do seu imenso prestígio com os menos afortunados, dr. Acrísio, numa entrevista ao Memorial da Secretaria da Fazenda, disse o seguinte: ''Não era pobre, não fazia promessas, não acreditava em partido, mas sabia enfrentar os problemas e ajudar os mais humildes! Quando candidato a Presidente da República, numa de suas vindas ao Ceará, dr. Jânio da Silva Quadros manifestou desejo de conhecer o dr. Acrísio, para pedir seu apoio pessoal, coisa que não havia feito em lugar algum. Ao receber o então conhecido ''homem da vassoura, o dr. Acrísio declarou: ''Olhe, dr. Jânio, eu não tenho voto nenhum, eu não mando em voto, votam em mim, eu não pertenço a Partido, não tenho essa organização, pois meu eleitor é voto independente'', ''no entanto, ao retrucar, Jânio Quadros disse que era Governador de São Paulo, brigado com o PTB de lá, mas havia sido eleito pelo PTB do Paraná para a Câmara Federal. Por isso, queria conhecê-lo para parabenizá-lo por um frase que ele havia declarado aos jornais de São Paulo: ''Para me candidatar qualquer tabuleta servia''.Como prefeito de Fortaleza, o dr. Acrísio voltou-se basicamente para a periferia, abrindo e calçando numerosos ruas e avenidas, construindo calçamento nos subúrbios ligando-os entre si com o Centro, doando à sua cidade uma verdadeira malha viária urbana. Criou o Tribunal de Contas do Município, e fez a primeira estatização de uma empresa privada no País, quando desapropriou a Ceará Light passando à responsabilidade do Município de Fortaleza o fornecimento de energia elétrica. Foi uma atitude corajosa e que serviu de exemplo para os demais Estados da Federação.

Após cumprir o seu primeiro mandato, o dr. Acrísio Moreira da Rocha resolveu retirar-se da vida pública, chegando a residir com sua família durante mais de dois anos no Rio de Janeiro.
Aproxima-se o final do mandato de sucessor, o dr. Paulo Cabral, quando recrudesceu o movimento para levá-lo novamente à chefia do executivo municipal da Capital do Ceará. Acrísio e sua família foram para a fazenda do Quinin em Quixeramobim, para fugir do assédio da população.
Mas uma comissão esteve lá e conseguiu convencer dr. Acrísio e d. Stella de que sua candidatura era do povo, que exigia sua volta.
Foi um dos marcos mais importantes da nossa história política, sua chegada de Quixeramobim, na Estação de Otávio Bonfim, num trem da RVC. Uma multidão incalculável o esperava e ele foi conduzido em passeata até sua residência. Estava lançada sua candidatura.
Acrísio novamente eleito Prefeito, governou Fortaleza de 1956 a 1959.
Em 03/10/1958 concorreu a Vice-Governador do Ceará na chapa encabeçada pelo coronel Virgílio Távora, contra o então Ministro do Trabalho do Governo JK, o professor José Parsifal Barroso. 1958 foi um ano de seca e o velho Dnocs derramou muito dinheiro no Ceará.
Derrotado pelo poderio econômico, o dr. Acrísio não mais disputou cargos públicos, passando somente a administrar suas propriedades.
Casado com dona Maria Stella Philomeno Gomes Moreira da Rocha, e pai da arquiteta Vera Lucia Monte Sales Valente, esposa do dr. Carlos Alberto Farias. Tem também três netos: o médico cirurgião Acrísio Sales Vales, casado com a médica Paulla Vasconcelos Valente e que lhe deram a única bisneta, a garotinha Stellinha de 4 anos; o advogado Érico Sales Valente, casado com a advogada Flávia Ramalho Florêncio Valente e o universitário de Arquitetura e Urbanismo Thiago Sales Valente.
No dia 21 de dezembro de 1998 por ocasião da inauguração do Centro da Memória da Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará, o dr. Acrísio Moreira da Rocha foi homenageado com a ''Medalha do Centenário da Sefaz''. Devido à idade avançada ele foi representado no evento pela filha Vera Lucia e pelos netos Acrísio e Érico. Foi a derradeira de uma dezena de Comendas, Medalhas e Títulos de Cidadania que recebeu durante sua brilhante trajetória na vida pública.
O dr. Acrísio Moreira da Rocha foi igualmente um grande desportista, tendo na juventude praticado o boxe e o futebol, sempre como amador, tendo atuado em equipes secundárias do Rio de Janeiro e no América F. C. de nossa capital, que havia sido fundado pelo seu irmão Crisanto. Como Prefeito de Fortaleza apoiou bastante o nosso esporte, tendo inclusive promovido em nossa capital, um Fla-Flu, envolvendo os dois mais tradicionais clubes do futebol carioca.
O dr. Acrísio Moreira da Rocha era detentor de uma inteligência privilegiada e de uma memória prodigiosa, adorava contar estórias e sabia tudo sobre o seu Ceará. Quando se reunia com amigos e familiares gostava de recordar fatos históricos de sua vida, notadamente a atuação do seu pai, o dr. Moreira, por quem tinha muito orgulho e apreço.
No dia 1º de julho de 2000 ao se dirigir para a cama em seu quarto, o dr. Acrísio sofreu uma sincope e caiu, fraturando o nariz e a mão. O acidente deixou seqüelas. Durante 3 anos, 7 meses e 21 dias ele esteve assistido com um carinho todo especial por sua filha Verinha, que tudo fez pelo pai, ajudada pelos médicos, enfermeiras, fisioterapeutas, familiares, bem assim os servidores da casa, que foram de uma lealdade incomum.
Este o perfil de um político na verdadeira acepção do termo. Aquele político que rareia hoje em dia, pois tinha como objetivo único servir ao próximo, notadamente os mais carentes.


Parte I

Fonte: Jornal da internet 'NO OLHAR' e Família Moreira da Rocha - Multiply


Acrísio Moreira da Rocha - O prefeito do povo - Parte I







Candidato pelo Partido Republicano-PR a Prefeito de Fortaleza, teve vitória consagradora a 7 de dezembro de 1947. Prefeito por duas vezes. Era denominado "Prefeito do Povo".

Acrísio Moreira da Rocha, nasceu em Fortaleza, no dia  25 de setembro de 1907. Era filho do também político Manuel Moreira da Rocha, conhecido como Mané Onça (líder do Partido Democratae de Amália Moreira da Rocha.  Acrísio cursou em sua juventude o Colégio Castelo Branco e o Colégio Militar, estudou Medicina na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, mas desistiu do curso e optou por ingressar na Faculdade de Odontologia, obtendo o seu diploma em 1929. Instalou o seu primeiro consultório em Fortaleza em 1930, entretanto, logo depois, passou a também se dedicar à vida no campo. Foi pecuarista e agricultor, sendo dono de várias fazendas na região de Quixeramobim. Casou-se, em maio de 1935, com D. Maria Stela Filomeno Gomes Moreira da Rocha.

Acrísio Moreira da Rocha no Abrigo Central

Cedo, Acrísio Moreira começou a atuar nos quadros políticos. Filiou-se ao Partido Republicano e ao Partido Social Democrático (PSD) e com apenas 32 anos foi escolhido pelo Presidente General Eurico Gaspar Dutra, do PSD, para ser o Interventor Federal do Ceará, cargo que assumiu em 15 de janeiro de 1946. No entanto, o jovem político pareceu não agradar muito aos seus pares pessedistas, pois promoveu uma administração na qual adotava uma postura meio que independente, tomando atitudes que não eram de acordo com as vontades dos seus colegas de partido. Nesse período Acrísio já procurava manter uma ligação com as camadas populares e assim projetava seu futuro político na Capital Cearense.

Acrisio Moreira da Rocha, quando assinava a doação
dos terrenos onde seria erguida a Casa do Jornalista.


As atitudes do “garoto”, como abrir o Palácio da Luz (sede do Governo) para visita popular, assistir jogos de futebol juntamente com a torcida, almoçar com operários, continuavam desagradando seus correligionários, principalmente Menezes Pimentel. Sendo assim, o Partido Social Democrático do Ceará pediu que o Presidente Dutra destituísse Acrísio Moreira do cargo de Interventor Federal e foi o que realmente aconteceu.
A carreira política de Acrísio Moreira, no entanto, estava apenas começando e sua destituição do cargo de Interventor Federal não parece macular muito a sua imagem como político, uma vez que, pouco tempo depois, no Governo Faustino de Albuquerque, ele é convidado para assumir a Secretaria dos Negócios da Fazenda, cargo que ocupou até assumir a Prefeitura Municipal de Fortaleza. Vale ressaltar, ainda, que nesse mesmo período Acrísio possuía dois irmãos políticos: Péricles Moreira da Rocha, que foi deputado estadual de 1946 a 1962, e Crisanto Moreira da Rocha, eleito várias vezes deputado federal.
Acrísio foi empossado no cargo de Prefeito Municipal em janeiro de 1948. É importante, porém, ressaltarmos aqui que a eleição ganha por Acrísio Moreira foi uma eleição democrática, isto é, foi o primeiro cargo que Acrísio assumiu pela vontade popular e não por convite de seus amigos de partido.
A gestão de Acrísio Moreira foi marcada por sua personalidade que passava uma imagem de homem ligado aos interesses do povo, realizando, assim, obras que agradavam a população, como a construção de chafarizes, extensão da rede elétrica (ressaltamos aqui que outro dos feitos de Acrísio Moreira foi trazer a Ceará Light, companhia de iluminação, do poder dos ingleses para o poder da prefeitura), construção de avenidas, como a Monsenhor Tabosa e Aquidabam, construção de escolas, dentre outras.

O imponente casarão do ex-prefeito Acrísio Moreira da Rocha, talvez seja o retrato mais fiel da nobiliarquia do Jacarecanga. As colunas dóricas, os lustres de cristal, o mármore de Carrara da escada, tudo reflete a riqueza que existia anteriormente na mansão.
Acrísio termina o seu primeiro governo em 1951, mas se elege novamente para o cargo de Prefeito Municipal em 1954. Mas, de todas as obras proporcionadas pelo primeiro governo municipal de Acrísio Moreira da Rocha, nenhuma delas ganhou tanto as páginas dos jornais e as conversas do povo nas ruas como a construção do Abrigo Central de Fortaleza.


Acrísio, rei da popularidade


Acrísio Moreira da Rocha era considerado um homem rico e genro de um dos milionários da terra, o industrial Pedro Philomeno. Mesmo assim tinha uma grande popularidade no meio do povo mais humilde de Fortaleza. Isso lhe valeu prestígio político e eleições para prefeito de Fortaleza, não dando nem confiança para os candidatos que concorriam com ele. Era também dentista mas diziam que ele nunca tinha extraído um dente de ninguém. Era muito mais fazendeiro e, por comodismo, quando ia até a fazenda, salvo engano, em Quixadá, ficava olhando com binóculos, de longe, o seu plantel de gado.

Passeata de carroças


Ficou famosa a passeata de carroças com os eleitores calçando tamancos, organizada pelo também popular radialista Irapuan Lima. Conforme era divulgado Acrísio chegaria de trem na estação de Otávio Bonfim, vindo de Quixadá. Na estação o candidato desceria e subiria numa carroça sob aplausos do eleitorado. E assim aconteceu para admiração dos fortalezenses, muito embora a oposição tenha noticiado que Acrísio de forma alguma foi passageiro do trem horário da RVC. Ele veio no seu luxuoso Cadilac, último modelo, lá de Jacarecanga, até Otávio Bonfim. Encostou o carro ao lado do trem, subiu e desceu... 


Orador 


Era orador povão, o que dizia agradava à massa. Numa eleição, talvez a única que perdeu, quando concorreu à vice-governadoria, subiu ao palanque para discursar. Morador próximo e trabalhando por outra candidatura para aumentar os rendimentos, fiquei acompanhando de longe o que seria dito por Acrísio, esquecendo mesmo o candidato majoritário. Depois de lembrar o que teria feito por Fortaleza, o candidato a vice-governador, começou a falar sobre o concorrente. E, irreverentemente, iniciou elogiando para, ao final, dizer que tinha, inclusive, pedido que ele desistisse, pois, a derrota era certa. E conforme Acrísio, o candidato disse: ''Não sou eu que quero ser governador, é a mulher..." 

O Poste

Há alguns anos, consegui uma entrevista com ele, em sua residência de Jacarecanga. Com muita lucidez começou dizendo que só sairia dali para o Cemitério de São João Batista, bem próximo. Mas, não consegui cumprir sua decisão, pois quando faleceu recentemente, já se encontrava morando num apartamento. Fiz várias perguntas, sobre fofocas que eram contadas em Fortaleza, quando ele era prefeito. Uma delas falava sobre o problema acontecido com um militar que namorava debaixo de um poste na Rua Costa Barros. O sargento não gostava da iluminação e para ficar tranqüilo no local, antes de chegar mandava os moleques quebrarem a lâmpada. Perguntei a Acrísio qual tinha sido a solução encontrada por ele. E ele respondeu que mandara instalar no poste um interruptor de luz. O sargento chegava e desligava a lâmpada e no final, ligava.

Entrevista


Suas entrevistas eram inteligentes, espirituosas mesmo... Na TV Ceará, Canal 2, compareceu, certa noite, ao programa de Lustosa da Costa, Política Quase Sempre. Falava-se na cidade muito na qualidade de desportista de Acrísio. Ele inclusive trouxe à Fortaleza, Flamengo e Fluminense para um sensacional Fla-Flu. E suas fotos na campanha eleitoral eram com camisas de jogador de futebol, que ele teria sido quando jovem. Diziam também que ele apreciava um carteado. O apresentador do programa fez então a pergunta enviada por um telespectador: ''Doutor Acrísio, o senhor é jogador profissional?. E ele: ''Não, quando jovem, eu jogava de beque no Maguari''. Um político alegre, sério, inteligente e sem manchas na reputação.


Narcélio Limaverde

Morre o prefeito do povo
No dia 21 de Fevereiro de 2004 Morre em casa, no Jacarecanga, às 19h30, o ex-prefeito de Fortaleza Acrísio Moreira da Rocha, aos 96 anos.
Seu corpo é sepultado no dia seguinte, às 17h, domingo de carnaval, no Cemitério Parque da Paz.
Administrou a cidade por duas vezes, eleito com 80% dos votos pelo Partido Republicano - PR, no período de 1947 a 1950 e de 1954 a 1958.
Fora interventor federal do Estado em 1946 tendo, em seguida, assumido o cargo de Secretário da Fazenda, na gestão do governador Faustino de Albuquerque e Sousa, quando organizou a arrecadação de impostos no Estado.
Estatizou a Ceará Light, criando o Serviluz, antecessoras da Coelce, hoje novamente privatizada.
Também fez calçamentos na periferia de Fortaleza, urbanizando o Bairro de Fátima, ficando conhecido como "Prefeito do Povo".
Era filho do ex-deputado federal Manuel Moreira da Rocha (Manuel Onça), médico, músico e fundador do Partido Democrata.




Parte II

Fonte: http://historiaenoticiasce.wordpress.com, Portal do Ceará, Família Moreira da Rocha

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