Praça dos Correios - Rua Floriano Peixoto
No século XIX. O Largo da Assembleia, a Praça Waldemar Falcão e o Largo do Mercado, antiga sede do Mercado de Ferro, já foram um espaço só. Alterado pelo tempo, o povo resolveu uni-los outra vez. Agora, como Praça dos Correios
O Engenho Central Bembem
A praça dos Correios não nos convida a ficar. Mesmo debaixo das árvores que fincam sombra e vento de fim de tarde, não há muita gente que se demore. Os gatos pingados entre o povo que vai e volta, da agência dos Correios ao Banco do Brasil e deste, ao Palácio do Comércio, se param, é para lustrar o sapato preto, comer um pedaço de abacaxi ou tomar uma água de coco. De pé. Não que a praça em si não seja agradável. É, sim. Porém, os bancos arrancados nunca mais foram repostos. E quem quer sentar e parar para ver o Centro passar tem de se conformar com escadarias, ou então, uma nesga de pilar da estátua de Waldemar Falcão.
Prédio do atual Museu do Ceará
Foto de Assis de Lima
"Ele era advogado e foi ministro do Trabalho na época do Getúlio Vargas. E ele era de Baturité", surpreende, ropendo meu preconceito, Expedito Gomes, 67, enquanto tira um pente preto e fino do bolso e arruma os cabelos grisalhos. Os olhos embebidos pela catarata tentam me identificar enquanto a boca, quase toda lisinha, calcula mais de 30 anos na profissão de luzir sapatos. Quando chegou de Quixeramobim, foi ser engraxate na Praça do Ferreira e na José de Alencar até fixar terreno naquela beira de Centro. "Fui eu quem escolheu o lugar não, foi a Prefeitura. A profissão tá fraca, menina, agora sapato é tudo de pano e de borracha. A gente bota mais é virola (a ponta do salto) em sandália de moça. Hoje mesmo, não engraxei nenhum", coça a barba rala com o pente e narra conformado, sem lamentação. A vida de seu Expedito é o Centro. Mora há algumas quadras dali, na rua 24 de Maio, é viúvo.
O Mercado de ferro em 1909
Em casa, ele e Deus. Os movimentos lentos de seu Expedito em nada se parecem com aquele meio de praça, de gente correndo, vendendo, falando. "O que eu acho dessa praça aqui? Minha filha, a gente mede pelo movimento. Se tem freguês para engraxar, tá ótimo, se não tem, a praça fica feia", avalia baixinho, quase como confidência, porque já tem gente que se achega. "Quer, amorzinho, tapioca e pão?", para uma mulher e seus mantimentos. "Hoje, não".
A praça e a Assembléia
As ruas que circundam a praça não conseguiram fixar um tema para as vendas. Redes, papelarias e nada mais apropriado para a área dos Correios - bancas especializadas em revistas velhas de mulheres novas e nuas, bancos e cabeleireiros, calcinhas nunca usadas estendidas em varais de comércio, rapadura e castanha, queijo fresco e uma infinidade de nada especializado arrodeia a praça dos Correios. Deixam longe, perdida no tempo, a praça que um dia foi chamada de Carolina, homenagem de 1817 à arquiduquesa Maria Carolina Leopoldina.
Dependências do mercado
Mercado de ferro
Família real
A distinção real, no entanto, permanece. Dessa vez, com o rei e a rainha do abacaxi. "Meu marido foi o primeiro a chegar aqui", orgulha-se Luíza de Marilac, 47, pastorando a banquinha lotada da fruta coroada e somando mais de 20 anos do Rei do Abacaxi (com tudo maiúsculo, porque virou o nome dele), tempo em que ele teria sido o primeiro desbravador do setor cítrico/frutífero do Centro da cidade.
O local onde antes ficava o Mercado de ferro, hoje é ocupado pelo Palácio do Comércio, Praça Waldemar Falcão e Banco do Brasil
A fruta é servida do jeito que o cliente desejar. O mel pode escorrer na hora, com a infrutescência descascada, pronta para degustar; embalada e sem casca para comer em casa ou ainda in natura, do jeito que vem da Ceasa, por sua vez, fornecida pela Paraíba, "onde tem os melhores abacaxis", garante Lúcia. A rodela grossa é R$ 1 e o abacaxi inteiro sai por R$ 2. Vendem muito; renda média do casal é de R$ 2 mil por mês. "Para a gente fazer nossas comprinhas e pagar nossos crediários". Eles aproveitam uma sombrinha para armar a banca e proteger a fruta. "É tudo fresquinho e a casca é forte, não estraga não", garante a mulher.
Café Fênix quando a praça ainda se chamava José de Alencar
A praça dos Correios é caminho e ponto de referência aos domingos para quem quer cerveja gelada num alarido organizado do Raimundo dos Queijos. A confraria já não é mais na praça, mas se bica com ela e ajuda a mudar a esquisitice do Centro no dia santo. A receita é simples: queijo fresco, vindo de Tauá e Iracema, cerveja sempre gelada, cadeiras no meio da Travessa Crato* e uma banda formada por três irmãos, troando na seresta e no forró o mundo que não podem ver. Vanda Lúcia no vocal e triângulo; Francisco Honório, no violão; Valdeci, na sanfona, formam com outros dois amigos o grupo Regional Asa Branca.
Rua Floriano Peixoto - Correios - Arquivo Assis de Lima
Ed. Correios e Telégrafos-1934
Dessa história, Marcos Sérgio Silva de Nascimento só ouviu falar. Dia de folga, foge do Centro da cidade. Ora, já basta a semana. Na pele, a vida marca experiências bem mais profundas que os 30 anos poderiam dar. Aparenta ter mais e sabe disso. "Trabalho aqui metade da vida, desde os 15", emenda. Começou como office boy, mas foi promovido há 12 anos a ascensorista do Palácio do Comércio. "A gente pode conversar, mas tem que ser aqui dentro. Eu não consigo ficar nem 15 minutos parado". Então vamos lá.
Ed. Correios e Telégrafos
No sobe e desce, é um som fino de campainha que avisa que alguém chama. Manobra uma manivela, puxa a grade sanfonada, o grupo entra, ele conduz novamente o elevador. "É o dia todo e tem gente que não dá nem bom dia", reclama. Marcos tem medo de perder o emprego com a modernização do ascensor, mas defende a tecnologia manual por ser mais segura. Difícil um antigo dar problema. Plin! Mais uma passageira. "Eu morro de medo desses elevadores antigos, Ave Maria!", e desce a moça de salto, para o riso incontrolável de Marcos Sérgio. "Todo dia tem uma história assim". Imagine, então, o que reserva toda a praça.
Palácio do Comércio na época de sua inauguração
Banco do Brasil
Saiba mais
Prédio do IAPB e o busto de Waldemar Falcão na Praça
O prédio dos Correios foi inaugurado em 14 de fevereiro de 1934.
A praça Waldemar Falcão é chamada assim desde 1960. Antes, foi praça Carolina, praça da Assembleia (1871), Praça do Mercado, Praça José de Alencar (1881), praça Capistrano de Abreu.
O Largo do Mercado tem área de 960m², o Largo da Assembleia de 700m² e a praça Waldemar Falcão tem área de 1,500m².
Dados Históricos
1812 - Construído o primeiro mercado de Fortaleza que foi um pavilhão de madeira, ou telheiro, no meio do cercado da Casa da Câmara.
Em 1814 foi iniciada a construção de um mercado na Praça Carolina.
No mesmo local foi construído um outro inaugurado em 1897.
No centro da Praça Carolina - no local hoje ocupado pelo Palácio do Comércio, Praça Waldemar Falcão e Banco do Brasil - inaugurou-se em 1897 o Mercado de Ferro, para venda de carne fresca.
o espaço chamou-se Praça Carolina e depois Praça José de Alencar (não é a atual).
Em setembro de 1932 foi inaugurado o Mercado Central onde hoje está o Centro de Referência do Professor, entre as vias: Rua Coronel Bezerril (General Bezerril), Travessa Crato (Rua Sobral) e Rua Conde D`Eu.
Foto de Manilov
Foto de Eliomar de Lima
1817 - A Praça Carolina - Sua denominação foi uma homenagem à Arquiduquesa Maria Carolina Leopoldina, por ocasião do seu casamento com D. Pedro II - era um grande largo que ficava entre a atual Rua São Paulo, Rua Floriano Peixoto, Rua Sobral e Rua General Bezerril, onde foi inaugurado, em 18/04/1897, o Mercado de Ferro.
Chamou-se, depois, Largo da Assembléia e Largo do Mercado.
Quando dividida, já se chamou Praça José de Alencar (o lado norte) e Praça Capistrano de Abreu (o lado sul).
Hoje, no local estão, o Palácio do Comércio, a Praça Waldemar Falcão, o Banco do Brasil (agência metropolitana) e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - EBCT.
O Mercado de Ferro foi desmontado em 1939 sendo dividido em duas partes, indo uma para a Praça Paula Pessoa (São Sebastião) e a outra metade para a Aldeota, na Praça Visconde de Pelotas (Pinhões).
A parte da Praça São Sebastião foi desmontada em 1968 e levada para a Aerolândia, onde ainda se encontra e no local foi levantado um galpão de alvenaria, com telhas de amianto, que já foi demolido, para a construção de uma praça para o novo mercado de São Sebastião.
Ao lado da Praça Carolina, foi construído o Mercado Central, que agora tem novo prédio na Avenida Alberto Nepomuceno, e já foi desativado em sua parte interna.
Na parte norte da praça, existia dois quiosques de ferro/madeira, a mercearia do João Aleixo e o Café Fênix, tendo por trás, um outro retangular, que abrigava o Engenho Bem Bem, que comercializava a garapa de cana, hoje chamada caldo de cana.
A Praça Waldemar Falcão inaugurou-se em 1939.
Foto de Ricardo Sabadia
Palácio do Comércio-Krewinkel Terto de Amorim
12 de setembro de 1881 -A antiga Praça Carolina, que ficava entre a Rua da Assembléia (Rua São Paulo), Rua do Quartel (Rua General Bezerril), Rua Boa Vista (Rua Floriano Peixoto) e Travessa do Mercado (Rua Sobral), recebe, no dia 12 de setembro de 1881, o nome oficial de Praça José de Alencar (não é a atual).
Hoje parte dela é Largo do Mercado e outra, Praça Waldemar Falcão.
18 de abril de 1897 - Inaugurado, na então Praça Carolina depois Praça José de Alencar (hoje Palácio do Comércio, Praça Waldemar Falcão, Banco do Brasil e Correios), o Mercado de Ferro.
A Praça Carolina já foi Praça José de Alencar e Praça Capistrano de Abreu.
O Mercado de Ferro foi construído com dinheiro conseguido através dos bilhetes de crédito conhecidos como borós.
Era a administração do intendente (prefeito) Guilherme César da Rocha e do presidente (governador) comendador Antônio Pinto Nogueira Acioli.
O Mercado de Ferro era destinado à venda de carne verde (fresca), e de verdura, sendo a obra contratada com o mestre Álvaro Teixeira de Sousa Mendes (Álvaro Mendes), que utilizou nas calçadas granito cearense.
Sua estrutura metálica foi fabricada na França por Guillot Pelletier, de Orleans, obedecendo a projeto de Lefevre.
Foto de Ricardo Sabadia
Sede dos correios-Daniel Souza Lima
01 de maio de 1939 - Inaugurado, às 16h30min, na então Praça Capistrano de Abreu, o busto do ministro Waldemar Falcão, iniciativa do jornalista Gilberto Pessoa Torres Câmara (Gilberto Câmara), que o fez através de subscrição pública.
Na solenidade falaram José Ramos Torres de Melo, Vital Félix de Sousa, Gilberto Câmara, Antônio Fiúza Pequeno e o Interventor Menezes Pimentel.
Hoje tem o nome de Praça Waldemar Falcão.
Foto de José Alberto Ribeiro
01 de março de 1940 -Iniciam-se as obras de construção do prédio sede própria do Banco do Brasil, na Praça Waldemar Falcão.
07 de março de 1942 -Inaugura-se o prédio do Banco do Brasil, na Praça Waldemar Falcão, onde hoje funciona a Agência Metropolitana José de Alencar, entre o Palácio do Comércio e os Correios.
Na ocasião, discursaram Fernando Lemos Basto, gerente do Banco do Brasil, Genésio Falcão Câmara e Joaquim Antônio de Andrade Furtado, representando o Interventor.
Sede dos Correios - Foto de Zemakila
29 de abril de 1943 - Lançada a pedra fundamental do edifício do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Bancários - IAPB, na Rua General Bezerril nº 275, no Mercado Central, em frente à Praça Waldemar Falcão.
05 de dezembro de 1975 -Dado o nome de Largo da Assembléia, ao espaço existente entre os prédios do Museu do Ceará e o Palácio do Comércio e Rua Floriano Peixoto e Rua General Bezerril; e Largo do Mercado, ao trecho entre os Correios e o Banco do Brasil, e Rua General Bezerril e Rua Floriano Peixoto, na administração do prefeito Evandro Ayres de Moura.
*A Travessa Crato - Foto de Daniel Souza Lima
Travessa Crato - Valmikleiton
Fonte: Jornal O Povo, Portal da História do Ceará, Livro Cronologia ilustrada de Fortaleza: roteiro para um turismo histórico e cultural Vol I, Àlbum de Vistas do Ceará 1908, Assis de Lima, Nirez