Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Dos elegantes cafés vindos do Século XIX ao varejo atual



Praça do Ferreira - Arquivo Nirez


A Praça do Ferreira, esse logradouro hoje formado, ao Norte, pela Rua Guilherme Rocha – antiga Travessa 24 de Janeiro e Travessa Municipal; ao Sul, pela Rua Pedro Borges – antes Beco do Cotovelo e Beco do Pocinho; ao Leste, pela Rua Floriano Peixoto – antiga Rua da Alegria, Rua das Belas, Rua da Boa Vista, Rua D’el Rei e Rua da Pitombeira, e ao Oeste, pela Rua Major Facundo – antes Rua Nova D’el Rei, Rua do Fogo, Rua da Palma e Rua Nº 3; foi criada em “6 de dezembro de 1842, na gestão do intendente Manuel Teófilo Gaspar de Oliveira, cuja lei da Assembléia Provincial autorizava uma reforma no plano da cidade, eliminando dela o Beco do Cotovelo, a fim de ficar ali uma praça que se denominou Praça Pedro II


Café do Comércio - Registro de 1908, mostrando a elegância fortalezense. 
Arquivo Nirez


Café do Comércio no século XX

Antônio Ferreira Rodrigues - O boticário Ferreira – assim tratado por todos que o conheciam, nasceu no ano de 1804, na cidade de Vila Real da Praia Grande, hoje cidade de Niterói – Rio de Janeiro. Filho de Antônio Rodrigues Ferreira e Marcolina Rosa de Jesus.
Em 1824, recrutado para servir na Cisplatina, desertou e conseguiu embarcar para o Recife, onde o acolheu e protegeu, o negociante português Manuel Gonçalves da Silva. Conheceu em casa deste um comerciante rico e importante de Fortaleza, - Antônio Caetano de Gouveia, cônsul de Portugal, que o trouxe para o Ceará, como seu caixeiro, por volta de 1825 – ano terrível de seca no Ceará e da luta política da República do Equador.


Rua Major Facundo com a Pharmácia Galeno (Onde antes funcionou a Farmácia Boticário Ferreira) - Arquivo Nirez e restaurada por Sidney Souto


Pharmácia Galeno na Praça do Ferreira- Déc. de 40

Com 21 anos de idade, ainda em sua terra natal, obtivera muita prática em farmacologia, cujas receitas salvaram de difícil parto, a mulher do seu protetor, que o ajudou a obter da Junta Médica de Pernambuco, licença para instalar botica no trecho da antiga Rua da Palma, hoje Rua Major Facundo – onde funcionou a Farmácia Boticário Ferreira, Farmácia Galeno, do farmacêutico Joaquim (Yoyô) Studart da Fonseca, filho de Leonísia Studart da Fonseca, irmã do Barão de Studart, casada com João da Fonseca Barbosa, tesoureiro do Banco Cearense, em cujo local mais tarde se instalou a Loja de Variedades, hoje Loja Milano.


Sorveteria das Lojas de Variedades. Movimentadíssima. Tinha o melhor cachorro-quente da cidade com um molho espetacular. Ficava na Rua Baraõ do Rio Branco e tinha fundos correspondentes com a Major Facundo. As lojas de Variedades viraram a loja Samasa.
Houve até concurso para a escolha do nome, dentre três sugeridos, ficou Samasa (Sebastião Arraes Magazine S/A). Essa  foto é da inauguração, que foi em 16 de dezembro de 1949. Foto do arquivo Nirez


Lojas de Variedades Ltda - Arquivo Paula Figueiredo


Em 1902, o cel. Guilherme Rocha, Intendente à época, deu nova feição à praça arborizando-a, cercando o centro com grades de ferro – construindo o Jardim 7 de Setembro.


O lindo jardim 7 de Setembro - Arquivo Nirez

Existiam ainda na praça quatro quiosques que se denominava “café do Comércio”, “café Iracema”, “café Elegante” e “café Java” – o mais antigo, pois data de 1886 e se tornara o principal ponto de reunião da fina flor da cidade, e dos famosos intelectuais da inovadora Padaria Espiritual.


Café Elegante em 1910

Praça do Ferreira em 1919 com o Café Elegante- Arquivo Nirez 


Restaurante Iracema no Álbum de Vistas do Ceará, em 1908 - Nirez


Café Java

Em 1914 – na gestão do prefeito Rdo. de Alencar Araripe, a praça foi inteiramente reformada, recebendo iluminação moderníssima com cabos condutores subterrâneos.
Nova reforma se deu em 1920, o prefeito Godofredo Maciel mandou demolir os quiosques e retirar as grades centrais que constituía o Jardim 7 de Setembro, e, construir um pouco deslocado para o lado Sul, o coreto para os músicos das bandas das Polícias do Estado e do Município, levando efeito semanalmente às tradicionais e concorridas retretas que eram do agrado público.


Praça do Ferreira e a antiga Coluna da Hora em 1936, vista de cima do Excelsior Hotel. Arquivo de Peter Fuss

Dentre outros melhoramentos, o prefeito Raimundo Girão, em 1932, autorizou demolir o coreto, e em substituição erigir a “Coluna da Hora”, com relógio de quatro faces que servia de orientação para toda a cidade, cuja inauguração ocorreu no dia 31 de dezembro de 1933.
Hoje, no mesmo local, relógio com estrutura de ferro aos moldes do antigo relógio (montado sobre alvenaria) ao lado de antigo cacimbão, existente desde o início do logradouro.

A praça foi e será sempre a sala de visita da cidade para nós fortalezense e, para todos que aqui chegam. Sua posição geográfica, lembranças históricas e conhecida como cidade hospitaleira e agradável aos visitantes e adventícios que por aqui aportavam sob intenso calor, mas recebem, à noite, a aragem que vem do “Aracati”, amenizando o calor do dia, tornando suave as noites e aprazíveis os momentos de descanso para aqueles, sentados nos bancos da praça.


Fachada da Farmácia Pasteur - Nirez

Ainda gravada na lembrança, a chegada à praça, no quarteirão da Rua Major Facundo, em frente a Farmácia Pasteur, dos bondes que faziam diversas linhas, onde eram vistas pessoas que se despediam para subir ou descer do transporte, que rodeando a praça, seguiam itinerários diversos, carregando o lirismo de um adeus ou até logo... à exceção dos que faziam as linhas da Praia de Iracema e Prainha, porque seguiam percurso pela Rua Floriano Peixoto.


Rua Major Facundo, ocasião da passagem de um bonde. 
A foto deve ser de aproximadamente 1918. O prédio alto é o Cine Majestic inaugurado no dia 14 de julho de 1917 com o espetáculo de Fátima Miris. Só depois inauguraria como cinema - Arquivo Nirez

Bondinho na Major Facundo, lotado de alunos do Liceu

As casas comerciais à época e as lojas de hoje

O comércio centralizado na praça se diversificava na proporção da escolha dos produtos procurados e predominava o comércio varejista. Ainda hoje permanece o comércio diverso em toda a sua extensão.
Começando pela quadra do lado Oeste, na rua Major Facundo, esquina com a rua Guilherme Rocha, o edifício do Excelsior Hotel, considerado o primeiro arranha-céu do Ceará. Entrou para história como primeiro hotel de nível internacional da Região Nordeste. Construído em 1927, à base de argamassa e cal, com oito andares, pelo arquiteto Emilio Hinko, casado com Sra. Pierina Rossi Hinko, viúva do milionário Plácido Carvalho; inaugurado em 31 de dezembro de 1931; o hotel foi edificado no lugar de um sobrado de três andares que pertencia ao comendador José Antônio Machado.
Ao lado da entrada e parte térrea do edifício Excelsior - Rua Guilherme Rocha - onde funcionou por muitos anos o hotel mais chic e equipado da cidade; esquina com a Major Facundo, existiu a Farmácia Francesa, hoje Ótica Hora Certa e Disco & Cia.


Café Riche - Foto dos anos 20

A próxima quadra pelo lado poente da rua Major Facundo, com Guilherme Rocha, em direção a Rua Liberato Barroso, bem na esquina ficava o café Riche, depois Loja Broadway, de Alberto Bardawil, hoje, loja Tok Discos; vizinho com uma porta estreita, onde funcionou um armarinho, para venda de gravatas, camisas, lenços, canetas e relógio, hoje Rei das Canetas; a seguir as Lojas Sloper (com matriz no Rio de Janeiro) – era loja freqüentada pela alta camada da sociedade; os dirigentes vinham do Sul, e, as vendedoras eram moças de gradas famílias, que elegantemente vestidas, portavam até chapéus e luvas; nesse mesmo local se instalou à Flama - Símbolo de distinção - assim era o slogan da loja, hoje Banco Mercantil do Brasil; A seguir vinha o Cine Polytheama, dos irmãos Rola, hoje Cine São Luiz, geminado ao prédio que serviu de escritório à Empresa Ribeiro, de propriedade de Luís Severiano Ribeiro, hoje com rua lateral que dá acesso à Rua Barão do Rio Branco. Nesse local às tardes, era ponto de encontro de respeitáveis senhores “jovens há mais tempo”, que para ali se dirigiam para tirar “dois dedos de prosa” e botar olhar godê ou olho de mormaço para as moças em flor que ali passavam.
Poderiam ser vistos o engenheiro de acabamento do Edifício São Luiz, José Euclydes Caracas, os senhores Vinícius Ribeiro, Edgar e Humberto Patrício, Dr. Belo da Mota, Gen. Eurípedes Ferreira Gomes e seu cunhado, Thomaz Pompeu Gomes de Matos; Mais adiante a Pharmácia Pasteur – Estabelecimento de Eduardo Bezerra, hoje Lojas Marisa e Farmácia Avenida.


Este incêndio destruiu completamente o Edificio Majestic e as Lojas Brasileiras na Praça do Ferreira.

O Cine Majestic e Bar com cadeiras de pés de ferro e pequenas mesas de mármore, com música a cargo do pianista e compositor Mozart Gondim Ribeiro, tio dos estimados Humberto, Heitor Filho, Haroldo e Heloísa Diogo Ribeiro, freqüentado por expoentes da cidade, como Raimundo Gomes de Matos, Quintino Cunha, Dolor Barreira, Olinto Oliveira, Heribaldo Costa, Álvaro Costa, Des. Leite Albuquerque, Lauro Maia, Des. Ubirajara Caneiro, boêmio e poeta Cid Neto e outros. Imponente edifício de quatro pavimentos que pegou fogo na década de 1950, após a demolição, a Loja de Variedades, e, Lojas 4.400, hoje Lojas Riachuelo e Duda´s Burger; Farmácia Oswaldo Cruz – de propriedade de Edgar Rodrigues; no andar superior da Farmácia Oswaldo Cruz – o escritório por mais de 50 anos, de um dos mais brilhantes e atuantes advogados do Ceará, Olinto Oliveira (pai do Olinto Filho). Com ele trabalhavam, os ilustres causídicos – Walmir Pontes, Álvaro Costa, e os advogados Oscar Pacheco Passos e Moacir Oliveira, no imóvel que pertencia à Pierina Hinko; vizinho casa térrea de duas portas – o Foto Sales, de Tertuliano Sales, mais tarde de seus sucessores; em imóvel de igual formato de rótula – a famosa Garapeira Mundico com refresco de pega pinto, aluá, e, refresco de erva quebra-pedra, côco-babão, refresco de erva vassourinha, muito procurado pelos visitantes da cidade por ser medicinal. 


A primeira escada rolante de Fortaleza surgiu aqui, nas lojas 4.400 - Lojas Brasileiras de Preço Limitado, depois conhecidas como Lobrás, inaugurada na esquina da Rua Major Facundo com Rua Pará, no dia 09 de novembro de 1957. Vemos aqui suas duas fachadas à noite, iluminadas com motivos natalinos daquele ano. Com a derrubada desse prédio foi erguido, no local, o Hotel Savanah. Arquivo Nirez


Farmácia Oswaldo Cruz, em 1952. Foto Arquivo Nirez


Em tempos mais recuados, a mais famosa garapeira, Bem-Bem, especialista na excelente bebida conhecida por “jinjibirra” ou “gengibirra”, muito apreciada por todos, fermentada, feita de frutos, gengibre, açúcar, acido tartárico, fermento de pão e água, conhecido no Nordeste como champanhe-de-cordão, cerveja-de-barbante. Talvez fosse melhor escrita gengibirra, e que celebrizou o extrovertido Bem-Bem; vizinho ao Mundico, o Armarinho do Orion, com vendas de meias, gravatas, lenços e objetos masculinos. Ainda no mesmo quarteirão da rua Major Facundo – a mais célebre farmácia da cidade a antiga farmácia do Boticário Ferreira. Mais tarde – segundo familiares, nesse estabelecimento se instalara a Pharmácia Galeno, cuja sociedade em parceria com Silvino Silva Thé, hoje Lojas Milano; o Cine Moderno, da Empresa Severiano Ribeiro, com sua rica e esplendorosa marquise variegada, com cristais coloridos das mais vivas cores, no formato de meia concha ou cauda de pavão, dava toque de elegância e imponência à entrada do cinema; depois lojas Samasa, de Sebastião Arrais, hoje Sapataria Nova e Clínica de Olhos Rosangela Francesco. Esquina da Rua Major Facundo com a Liberato Barroso, de um lado, existiu nas décadas de 1940/60, o café Sporte, dos irmãos gêmeos José e Estevam Emygdio de Castro, muito estimados por todos, foram patrões na firma Emygdio & Irmãos, hoje Lojas Esquisita, de Pio Rodrigues, pai de Edir Rolim; do outro lado, na Rua Liberato Barroso com Major Facundo, foi Farmácia Modelo, depois Casa Veneza, hoje o local está desocupado.

No quadrilátero da Praça do Ferreira, lado Sul, lado que correspondia antes ao Beco do Cotovelo, que além das denominações oficiais, a praça, na época, era também popularmente conhecida por “Praça da Municipalidade”, por situar-se defronte do prédio da Intendência Municipal, onde também funcionava a sala do júri. No local, onde existiu o Abrigo Central, construído na gestão do prefeito Acrísio Moreira da Rocha.


Rainha da moda - Década de 40

A Rua Dr. Pedro Borges, situada na ala Sul da praça, esquina com Major Facundo – onde hoje se ergue o Edifício Torres, existiu a Casa Maranhense, depois a Loja Rainha da Moda, Pastelaria Chinesa, hoje Casa Amazônia – ao lado da escada que dava entrada para o Foto Ribeiro; vizinho à Loja Ceará Chic – de Irajá Vasconcelos; A Miscelânea, mercearia de primeira ordem, do Sr. Frota; Farmácia Belém, hoje Casa Pio; Posto Mazine, do Sr. Falcão – primeiro revendedor do fogão a gás, depois Grupo Edson Queiroz, hoje Farmácia Pague Menos, de Deusmar Queirós, proprietário da maior rede de farmácia do Brasil, homem generoso e de convicta religiosidade, pai de Mário Queirós, também avô de Pedro Henrique.

A Sapataria Clark, depois Salão Lord, hoje Roscel Jeans; Sorveteria Odeon, hoje Óticas Itamaraty, de Pantaleão Cavalcante; Leão do Sul, de Dimas de Castro e Silva, pai de Marçal Pinto de Castro; e na esquina da Rua Floriano Peixoto a Casa Maranguape, depois Lojas de Artigos Masculinos, de Agenor Costa, hoje Farmácia Avenida.
Do lado Leste, esquina com a Rua Dr. Pedro Borges, existiu a Casa Blanca, de J. Ary – Jean e Emilio Ary (irmãos), hoje ainda armazém de tecidos da C. Rolim; vizinho à antiga Padaria Lisbonense, de Pelágio Oliveira, hoje Shopping Lisbonense.
Inicio com o outro lado o Armazém de tecidos Leblon, hoje Lojas Leblon; seguia-se da Loja Oriano – engraxataria e polimento de calçados, hoje Lojas Otoch; assim como os demais, o prédio com pavimento superior do italiano Salvador Cunto – com alfaiataria; Loja Central, de Pedro Lazar e seu primo Adir Lazar. O Bar e Sorveteria dos Jangadeiros, de Luis Frota Passos; a Farmácia Faladroga, todas hoje, onde estão as Lojas Otoch; Livraria Alaor, hoje Óticas Mariz; Bar da Brahma – dos irmãos Coelho, onde serviam as deliciosas unhas e patas de caranguejo e o queijo flamengo com fatias de pão, local de encontro dos senhores de meia-idade que todas as tardes se reuniam para saborear a cerveja Boock Alen, depois Armazém do Povo, hoje Mundial Video Bingo; Farmácia Globo, hoje C. Rolim; Farmácia Santo Antônio, de Dalmário Cavalcante Albuquerque, hoje Bingo Cidade; Farmácia Humanitária, hoje Café L’Escale; Sorveteria El Dourado, do estimado homem de negócios – FigueiredãoAntônio Montenegro Figueiredo, hoje Farmácia Avenida; Caldo de Cana “O Merendinha”, Quezado, da Dona Zenaide Quezado de Aurora, hoje Lojas Helga; e Palacete Ceará, o Clube Iracema, mais tarde Rotisserie, casa de jogo de bilhar, do árabe Sr. Abraão, hoje agência da Caixa Econômica Federal. Ainda do lado Leste, na Rua Floriano Peixoto, numa diagonal, foi plantado uma muda de cajueiro, na administração Juraci Magalhães, simbolizando o lendário “cajueiro da mentira”, hoje com placa assentado ao lado com os seguintes dizeres: “Neste local existiu um frondoso cajueiro que, por frutificar o ano todo, era apelidado de “cajueiro botador” ou, por se realizarem, sob sua copa, cada 1º de abril, as eleições para o maior “potoqueiro” do Ceará, era também chamado de “cajueiro da mentira"


Cajueiro Botador na Praça do Ferreira em 1905 - Arquivo Assis de Lima

Foto Jaqueline Aragão
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Fonte: Diário do Nordeste


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Tipos folclóricos da Fortaleza antiga


Feijão sem banha -Acervo de Jaime Vieira

Centro e bairros da Capital. Meados do século passado. Pessoas tornaram-se folclóricas por apelidações ou comportamentos. Feijão sem Banha, Ferrugem, Rádio Patrulha, Mondrongão, Zé Tatá, Raimundão e outros se fizeram conhecidíssimos. Frequentadores do Abrigo Central, Pega-pinto do Mundico*, Cine Moderno, Bar Flórida, Sorveteria Expressa e Tabacaria Almeida assistiam cenas incríveis protagonizadas pelos exóticos personagens.


 
Abrigo Central em 1949

Onde morei, existiam alguns desses tipos bem conhecidos da população. Lembro-me dos Paus-brasil – pai e dois filhos. Sararás, quase albinos, destacavam-se por comercializar de porta em porta, a prazo. Era o ofício de “galego”. Seu Tâna, proprietário de vacaria, desejava ser craque de futebol. Quase dois metros de altura, peso de cinco arrobas, segundo afirmava, e chuteiras confeccionadas especialmente para os grandes pés, fez-se sócio benemérito do 5 de Julho Futebol Clube. Comprou camisas, calções, bolas e equipamentos para o soerguimento da agremiação. Em troca conseguiu integrar o segundo quadro do time, o “esfria sol” e, quando a pelota lhe chegava, ninguém se atrevia a disputá-la. Menos ainda, encarar seu estupendo chute “bicudo” e sem rumo, perigoso se atingisse algum adversário. Pegasse na bola, a platéia gritava: “Castiga véi Tâna!”. O atleta ufanava. Recadeiro de rua, Ruído, garoto de pele muito marcada pela catapora, detestava o apelido. Era pronunciá-lo e ouvir cabeludos palavrões. Já Zé Pretim, como era tratado e gostava, vendia tapioca, queijada e filhós pelas ruas. O chamassem de Bola Sete, indignava-se. Resposta imediata. “Pra butá na caçapa da véia!”.



 
O cine Moderno


Autoridades, algumas cavaquistas, foram destaque na época. Castorina, renomada apelidadora, criou alcunhos inesquecíveis. Dom Manuel e Dom Antônio, arcebispos metropolitanos, em visitas a Aracati, receberam a marca da longeva senhora. O primeiro, por corpulento e seus paramentos coloridos, foi cognominado Bolo Confeitado, enquanto o segundo, por franzino e usar pequeno pedaço de fita verde-amarela na batina, teve o patronímico de Envelope Aéreo.

Texto "Na caçapa" do amigo e colaborador Geraldo Duarte (Advogado, administrador e dicionarista)


*Na Fortaleza dos anos 60, o refrigerante preferido dos habitantes de Fortaleza era o refresco de Pega-Pinto.

Tratava-se de uma raiz que (diz a lenda) chegou a ser colhida entre os túmulos do Cemitério São João Batista para poder garantir o consumo. Na praça do Ferreira, o comerciante Mundico abriu uma merendeira - de apenas uma porta, bem pequena, que tinha como principal produto o Pega-Pinto, delicioso diurético que era servido com tapioca ou pedaço de bolo.

 

Depois dos filmes nos cines Moderno, Majestic, São Luiz ou Diogo, a rapaziada lotava o Pega-Pinto do Mundico, que concorria com o caldo de cana da Leão do Sul. O progresso expulsou o Mundico da rua Major Facundo para a Duque de Caxias, perto da praça do Carmo.


Wilson (Ibiapina)

Conforme Gervásio de Paula, o pega-pinto é vendido, atualmente, na Lanchonete Azteca, no térreo do edifício da Associação Cearense de Imprensa (ACI)


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Lauro Maia - Um compositor versátil


A obra de Lauro Maia é o resultado – como não poderia deixar de ser – do ambiente musical da época aliado ao seu talento tanto musical como versátil entre o popular, o popularesco e o clássico (não erudito).
A música popular brasileira foi e ainda é o reflexo do centro das artes concentrado no Rio de Janeiro e em São Paulo: o primeiro com sua música romântica, o samba jocoso e a marcha carnavalesca; o segundo com sua mazurca, rancheira, valsa e canção com sabor de imigração.
Essas influências aliadas às locais como o folclore, o rural nordestino e ainda a presença jazzística existente em grande maioria de nossos músicos, deram à obra de Lauro Maia um sabor todo especial. As influências são naturais e até benéficas desde que não cheguem a descaracterizar o
regional.
Lauro iniciou sua carreira artística ao final da década de 30, quando pontificavam nacionalmente nomes como Pixinguinha, Benedito Lacerda, Ary Barroso, Lamartine Babo, João de Barro, Haroldo Lobo, Custódio Mesquita, J. Cascata, Ataulfo Alves, José Maria de Abreu, Assis Valente, Silvino Neto, Dorival Caymmi, Luís Bitencourt e Leonel Azevedo, para citar apenas os mais cotados.
Os instrumentistas eram Luiz Americano, Dante Santoro, Abel Ferreira, Fon-Fon, GarotoLuperce Miranda, Carolina Cardoso de Menezes, Laurindo de Almeida e os já citados Pixinguinha, Benedito Lacerda e Custódio Mesquita.
Aliando suas experiências urbanas com ritmos da terra, Lauro criou, ainda em  Fortaleza, valsas, sambas e marchas com características nossas, além de peças com ritmos e sabor nativos. Ao mudar-se para a então capital federal, Rio de Janeiro, passou a produzir, como exigia a época, músicas de sabor carioca, embora preferisse quase sempre os intérpretes cearenses por estes serem mais identificados com suas composições.
Embora gostasse de exercitar o jazz quando executava, Lauro Maia nunca deixou transparecer em suas produções essa influência, a não ser em uma única composição, o fox Gosto Mais do Swin (César O Que É De César) que, como o próprio título sugere, foi proposital.
Após conseguir as primeiras gravações de suas músicas e estas obterem sucesso em todo o país, preocupou-se em difundir os ritmos sertanejos do nordeste, ao mesmo tempo em que compunha valsas com o sabor da época para cantores como Orlando Silva; sambas e marchas para os carnavais e também os chamados sambas de meio de ano, obtendo aceitação em todas as camadas sociais.

Lauro poderia ter sido o lançador do ritmo baião, pois foi procurado por Luiz Gonzaga para juntos fazerem o lançamento, mas preferiu encaminhar o sanfoneiro pernambucano a seu cunhado Humberto Teixeira, que teve a felicidade de, junto com Gonzaga, alcançar o mais estrondoso sucesso da época, que foi aquele ritmo, obtendo repercussão não só no Brasil mas também em todo o mundo.
Como executante - ele era pianista - infelizmente, Lauro Maia deixou registrados somente alguns acetatos gravados na antiga PRE-9 (Ceará Rádio Clube) e mesmo assim muitas de suas gravações se perderam com o tempo e o descaso.
Lauro Maia foi, portanto, um compositor versátil, eclético, que não se prendeu ao radicalismo dos ritmos nativos nem se entregou aos apelos externos. Fez a fusão do carioca com o cearense, do romântico com o jocoso, do clássico com o banal, produzindo peças da mais legítima Música Popular Brasileira. Música, porque ele era um catedrático em teoria e em sensibilidade; Popular, porque atingia a massa; e Brasileira porque sabia fazer cheirar à terra tudo o que produzia.




Crédito: Livro "O balanceio de Lauro Maia" de Nirez

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Loja A Espingarda



Fachada da Loja no início da década de 50 - Arquivo Nirez

Em março de 1931 abre-se em Fortaleza a loja A Espingarda, especializada na venda de armas e munições, artigos para caça e cutelaria, localizada na Rua Barão do Rio Branco nºs 954/958, com frente também para a Rua Guilherme Rocha, da firma Damião Fernandes & Filho, formada por Damião Fernandes* e César Fernandes.

Edifício Vitória

A loja ficava nos baixos do Edifício Vitória, onde funcionou também a Sorveteria Cabana. No segundo andar funcionavam os estúdios da Rádio IracemaHoje no local se encontra a loja A Esmeralda.

Foto atual de Francisco Edson Mendonça Gomes

* O Coronel Damião Fernandes nasceu no dia 27 de setembro de 1879 em Luís Gomes, Rio Grande do Norte. Filho de D. Isabel Fernandes.
Foi vice-presidente do Clube dos Caçadores fundado em 09 de abril de 1928, tendo como presidente o coronel Eduardo de Castro Bezerra (Eduardo Bezerra); secretário, Aldo Prado e tesoureiro, tenente Irapuan Freitas.
Era pai do capuchinho cearense Frei Agostinho, cujo nome secular era Heitor.
Antes de fundar A Espingarda, foi gerente da Casa Albano.
Morreu em Fortaleza no dia 31 de janeiro de 1951 aos 82 anos de idade.
Hoje é nome de rua em Fortaleza.


Imagem Google Earth


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Fontes: Fonte: Cronologia Ilustrada de FORTALEZA - Nirez,  Revista do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico) - 2008 e Revista do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico) - 1957

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Das antigas - Das radiopatrulhas e tetéus



Outro dia, garimpando pelas páginas da revista O Cruzeiro encontrei uma preciosidade. Uma relíquia. Tava lá, em 1961, um informe publicitário da Vokswagen sobre as vantagens de se ter um Fusca como carro de polícia. Carro de polícia não, uma radiopatrulha para ser mais fiel ao palavreado corriqueiro da época. O anúncio, de página, quase não cabia a cara da joaninha estampada em preto e branco com uma luzinha vermelha no alto. Um besouro vestido de super-herói. O Fusca fazia tanto sucesso naqueles tempos que, quando criança, comprávamos em qualquer bodega ou nos históricos mercantis São José (10, 12 e outros) sucos artificiais em embalagens plásticas com motivos de fusquinhas. Existiam também as embalagens em forma de cacho de uva e laranja. Eram ''caldos de bila pintados com corantes''.

De vez em quando um Fusca da Polícia Militar aparecia no Porangabussu. Vez perdida na Tavares Iracema, rua considerada calma por aquelas bandas. Os vi algumas vezes na bodega do seu Geraldo ou de seu João Vermelho. Era pra acalmar os ânimos de bebinhos. Como crianças, por precaução de mãe, espiávamos do basculante da sala de estar a arrumação dos alterados. A mundiça do bairro cercava a joaninha da PM como formigas de asas em torno de uma lâmpada após dois ou três dias de chuvarada. Mas o negócio era mais pesado, mesmo, no Beco da Poeira, Campo do Ideal ou favela do Papôco. Eles ficavam nos arredores do bairro e eram pontos de droga.

Vi essas histórias na década de setenta. Nesse tempo, os fusquinhas da PM, ou tetéus, também chegavam arrepiando com seus macacos a bordo. Eram mais arbitrários do que vemos hoje. O cenário chumbo-oliva da ocasião justificava as aberrações. Afinal, quem botava o Brasil para marchar eram os militares.



Entrega das novas viaturas do BPTRAN, conhecidos por Teteus. 
Foto do Jornal Correio do Ceará de 11 de setembro de 1974. Lucas Jr.

AS VERANEIOS DA MORTE 

Os fusquinhas fardados em preto e branco perduraram até a década de 1980 ou um pouquinho mais. Sua potência e capacidade de explosão não eram páreo para outros motores. Numa perseguição mais arrojada comiam poeira. Entram em cena aí, as temidas Veraneios da Chevrolet. Lembro delas em azul e branco. Os camburões, viaturas prediletas dos anjinhos do COE, Comando de Operações Especiais. Eles eram também os favoritos da Ku-klux-klan brasileira, o bando do Esquadrão da Morte.

Neguinho era preso na rua por estar sem identidade, por crime de vadiagem. Vejam só! Ia também em cana só para ser averiguado. Se fosse bandido de carteirinha tava com os dias contados. Caso recebesse a pecha de comunista, ganhava uma passagem para o inferno ao ser jogado na traseira dos camburões. O Campus do Pici, lá atrás das quadras da UFC, era local de desova e tortura. Tinha gente que era obrigado a inalar a fumaça do cano de escape da Veraneio. Outros eram arrastados por uma corda amarrada dos pés ao para-choque da viatura.

Quando fui policial, de 1987 a 1992, o cenário político havia mudado um pouquinho. Tava maqueado. O presidente da República não era mais um general. João Baptista Figueiredo voltou a viver com seus cavalos e o vice-sempre-fraco de Tancredo Neves (que morreu sem assumir), José Sarney, assumiu. Politicamente foi trocar seis por meia dúzia, mas já não tínhamos um militar no poder. As polícias militar, civil e federal continuaram arbitrárias, arcaicas e torturadoras. Afinal, o ranço da ditadura militar permanece até hoje.

No final de 1987, por falta de opção de emprego, tive que experimentar a vida de um sargento de Polícia. Não era fácil. Ainda mais pra mim, que há bem pouco tempo havia terminado o básico do curso de jornalismo. Não que isso fosse grande coisa, o problema era ideológico. Mas isso são outros quinhentos. Tô contando esse blá-blá-blá todo para dizer que peguei o final dos tempos das Veraneios na PM. Para substituí-las vieram as D-20 e depois Blazers.

Mas trabalhei mesmo nas RPs Chevetts. Azul e branca, com o xadrez (cela), para uma pessoa, atrás do banco do passageiro da frente. Lembro de um fato, no começo da carreira, que foi decisivo para fortalecer o sentimento que meu lugar não era ali. Depois de ter concluído o curso de sargento, eu e outros colegas nos submetemos ao concurso para a formação de oficiais da PM. No ano que passei internado em um quartel, minha rotina era só estudo e instrução militar. No começo de 1998 estávamos aprovados, só que classificáveis. Em vagas ali pertinho da entrada. Mas um detalhe fez a diferença na hora do concurso. Enquanto fazíamos a prova com o que tínhamos estudado, boa parte de quem estava fazendo as provas recebia o gabarito antecipado das questões.

Era covardia. Filhos, irmãos, parentes e amigos de coronéis e outros oficiais recebiam o passaporte para a academia sem o mínimo esforço intelectual. Quando saiu a lista dos aprovados, estavam lá todos que haviam recebido as respostas da provas. Um desses inclusive, sargento da minha turma, passou entre os cabeças. Na escola de sargento quase foi rebaixado a cabo e depois de um ano de academia foi cortado. Era filho de um oficial.

VIATURA DA INSUBORDINAÇÃO 


Revoltados com a situação pegamos uma viatura da própria PM no 5º Batalhão e fomos a Praia do Futuro, à casa do governador fazer a denúncia e exigir justiça. Era Tasso Jereissati. Eu, e os sargentos Filho, Besair, Besanildo e Dinael só chegamos ao portão. Evanilton, na época capitão, ainda hoje segurança do governador, comunicou a ''insubordinação'' ao coronel Viana, então sub-comandante da PM. Fomos chamados e ameaçados de prisão disciplinar e até expulsão. Nos defendemos dizendo que não poderíamos ser punidos pelo justo fato de querermos ser oficiais sem usar de meios ilícitos, fraudulentos. Afinal, que tipo de oficial a PM estava formando se ele já entrava por meio de corrupção, de um crime? Resultado: três sargentos foram para a pior companhia da polícia. Eu, que fazia faculdade em Fortaleza, e o Filho fomos transferidos da capital para o 2º Batalhão em Juazeiro do Norte. O único que ainda está na PM é Antonio Carlos Nunes Filho. Depois de muito custo, oficial por méritos próprios. Ainda fiquei por lá cinco anos. Penso que atualmente exista seriedade no concurso para oficiais, pois é realizado dentro do vestibular da Uece. Mas enquanto isso não acontecia muita gente chegou a coronel na base da ilegalidade, da fraude. Daí, talvez, porque ainda exista até hoje tanto oficial envolvido com denúncias de bandidagem no Ceará. De tenente a coronel. Basta olhar os arquivos da Corregedoria das polícias ou da Auditoria Militar. De vez em quando vejo alguns deles pelas ruas. Uns já na reserva - frustrados, ainda sonhando com algum tipo de gratificação. Outros, na ativa, desfilando moral a bordo de Paratis ou Blazers. 



Demitri Túlio




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Créditos: Jornal O Povo e a primeira foto do fusquinha 
Rádio Patrulha Tetéu é de Carlos Juaçaba

No auge da Leste–Oeste


Construção da Av. Leste-Oeste - Anos 60

Início dos anos 70, o auge da Discoteca. O movimento mundial da chamada Dancing Music assolava o país. A MPB estava no fundo do poço. Tudo que lembrasse cantores ou canções em português soava e era rotulado como brega. As músicas tinham obrigatoriamente que ser em inglês para ter aceitação. Cantores medíocres, letras idem e arranjos bizarros completavam o sucesso. E o som necessariamente tinha que ser alto, muito alto. De preferência ensurdecedor para encobrir as vozes desafinadas e as letras sem nexo. A platéia gritava, pulava freneticamente, sem ritmo e sem cadência sob luzes estroboscópicas, feixes coloridos e piscantes de luzes refletindo nos globos espelhados que giravam no teto das salas escuras. O chão, as paredes, o teto, todo ambiente parecia se mover. A fumaça dos inúmeros cigarros e por vezes artificial (de gelo seco) completava o ambiente asfixiante e delirante das discotecas. As velhas boates, promovidas a pistas de dança e adaptadas de qualquer maneira ao modismo, surgiam renovadas e com nomes exóticos. Templos da diversão e prazer e também de muita droga e sexo, muito sexo.

Foi nessa época e nesse ambiente que surgiram e floresceram os inúmeros bares, boates e inferninhos da nova e recém inaugurada Avenida Leste-Oeste. A cidade crescia vertiginosamente, puxada pelo “milagre econômico” e sob a batuta da Gloriosa Revolução de 64. Bebidas, drogas, prostituição, tudo podia. Contanto que não fosse contra a ordem pública ou oposição ao regime. As novas avenidas começavam a rasgar a velha Fortaleza, inclusive com a construção do seu primeiro viaduto. Viaduto esse que ficou famoso e para não fugir ao espírito moleque do cearense foi logo batizado de “Tatazão”. Uma homenagem ao conhecido e popular homossexual “Zé Tatá”, um velho travesti que residia no submundo do centro da cidade. A região central também começava a mudar.

Pertinho dali, na Praça da Estação e por trás da velha Estação da REFFSA ficava a zona do baixo meretrício, o popular e conhecidíssimo Curral e mais abaixo as Cinzas. Um lugar degradante, formado por vielas imundas com seus inúmeros barzinhos e bordéis e habitado por prostitutas e marginais. Uma vergonha para a cidade. Era necessário extirpar essa ferida do centro da capital. A construção da nova e imponente avenida veio a calhar. Como se diz por aqui: passaram a máquina, literalmente. Não ficou nem as cinzas dos casebres e dos velhos cabarés. Uma larga e asfaltada avenida foi aberta cortando a cidade pela orla no sentido Leste-Oeste, inaugurada oficialmente em 1973 e batizada com o pomposo nome de Avenida Presidente Humberto de Alencar Catello Branco. Pra variar, o nome não pegou e até hoje é conhecida apenas como Av. Leste-Oeste. Começando no centro, na altura do QG da 10ª Região Militar, passando pela Escola de Aprendizes Marinheiros e pelos bairros do Jacarecanga, Morro do Ouro, Pirambú e indo até a Barra do Ceará. Uma magnífica obra de engenharia urbana e uma limpeza visual e social de várias áreas degradadas e miseráveis da capital.

Inauguração da Av. Leste-Oeste em 1973 - Arquivo Nirez

As autoridades esqueceram, porém de um detalhe. O que fazer com os antigos moradores do Curral? Com o fim da zona, como os antigos proprietários de bares e cabarés e as dezenas de prostitutas e seus cafetões iriam sobreviver sem seus negócios? Não deu outra. Logo no início da recém inaugurada avenida começaram a surgir as novas casas de diversão. Pipocaram inúmeros bares toscos com estruturas improvisadas e nomes pitorescos. Eram as tais discotecas, um misto de bar e restaurante e com pistas de dança grotescas. A maioria delas coladas umas nas outras, formando uma longa fila de pontos de encontros e de prostituição. Entre os “pointes” se destacavam pelo movimento e estrutura os bares Beco, Reboco e Ladeira. Tinham de tudo no “cardápio”, além de bebidas e comidas. Usando uma expressão bem cearense: nesses locais tinha “viado pra dá de páu” e “rapariga dava no meio da canela”. E tudo movido ao som ensurdecedor das “discotecas” e muita, muita bebida.

Curiosamente junto com o surgimento de tais bares-discotecas, ou puteiros como queiram, aumentou inexplicavelmente a presença de homossexuais nessa região da avenida. Não sei explicar se pela evolução dos costumes ou se pela miséria e degradação social da época, mas nunca se viu tanta “viadagem” nessa terra de macho como naquele tempo. E ao som dos “hits” da época os gays, “travecos” e assemelhados disputavam, por vezes às tapas, a clientela com as raparigas. As bandas e os cantores do momento eram, entre outros, The Police, ABBA, Village People, Tina Charles, Donna Summer, Diana Ross e, em especial a rainha e madrinha das “bichas", a internacional Gloria Gaynor. Quando ela soltava o vozeirão e entoava o hino do gênero “I Will Survive” as pistas fervilhavam e as “bonecas” iam ao delírio. Pulavam, dançavam e gritavam histericamente com as mãozinhas para e alto acompanhando o hino:

Oh no, not I! I will survive!
Oh, as long as I know how to love
I know I'll stay alive!
I've got all my life to live.
I've got all my love to give.
And I'll survive. I will survive! Oohh...

Anos 70

A noite se estendia ao som das melodias e regada com tudo que pudesse ser bebido, fumado ou cheirado. Aos pouco os casais iam se formando e se dirigindo para os também inúmeros motéis espalhadas nas proximidades. Os bares iam se esvaziando e os clientes que resistiam procuravam se manter em pé ou ainda tentar “pegar” uma rapariga que sobrou. E a música continuava em volume máximo. Lá no horizonte, pras bandas do Porto do Mucuripe, o sol ameaçava romper. Vendo o movimento cair, o gerente do bar apelava para mais um dos “hits” da época com a inigualável Gloria Gaynor. Entrava com o outro hino “Can’t Take My Eyes Off You”. Aumentava ao limite máximo o volume e detonava. Era mais uma chamada e a galera atendia enchendo a pista de dança. Para quem ainda estava solteiro era a hora da última tentativa de arranjar companhia e de pedir mais uma bebida ou a “saideira”.

Ainda na década de 70, com a saturação do estilo discoteca, a região entrou em rápida decadência. Hoje, nada mais disso existe. Dos áureos tempos da Leste-Oeste restam apenas lembranças. Nem mesmos as velhas estruturas ou um único bar remanescente, nada conseguiu sobreviver. Quem passa hoje pelo local não imagina que ali, naquela área quase vazia e desabitada e somente com alguns casebres e prédios decadentes, a cidade se divertia e foi palco de uma época de muita alegria, farras e esbórnia. Reina atualmente no local apenas o mau cheiro e o odor nauseante da Estação de Tratamento de Esgotos da CAGECE. Coisa da minha terra. Coisas do Ceará.

Carlos J. H. Gurgel 
 
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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Os Vocalistas Tropicais e a Era de Ouro do Rádio



Os Vocalistas Tropicais, conjunto vocal e instrumental brasileiro formado em Fortaleza, Ceará, em 1941 (que deu voz a várias canções de Lauro Maia) teve várias formações até se definir, em 1946, com os seguintes componentes: os fortalezenses Nilo Xavier da Mota (1922), líder, violão e arranjos; Raimundo Evandro Jataí de Sousa (1926), vocal, viola americana e arranjos; Artur Oliveira (1922), vocal e percussão; Danúbio Barbosa Lima (1921), percussão; e o recifense Arlindo Borges (1921), vocal e violão solo.

Apresentavam-se na Ceará Rádio Clube até 1944, quando excursionaram por São Luís do Maranhão, onde se apresentaram na Rádio Timbira e no Hotel Cassino Central, e em Manaus/AM, apresentando-se na Rádio Baré.

Em 1945, o conjunto seguiu para o Rio de Janeiro em busca de melhores oportunidades de trabalho. Ali, eles assinaram contratos com a Rádio Mundial e com a gravadora Odeon, pela qual lançaram o primeiro disco, em 1946, com o fox Papai, Mamãe, Você e Eu, da autoria de Paulo Sucupira, e o balanceio Tão Fácil, Tão Bom, de Lauro Maia. Foi um sucesso. Nessa época, o cantor e compositor Paulo Sucupira integrou o conjunto, e gravou com eles os primeiros discos.

Em 1949, emplacaram seu primeiro sucesso de Carnaval: Jacarepaguá (Marino Pinto, Paquito e Romeu Gentil), que chegou a vencer o Concurso Oficial da Prefeitura do Distrito Federal, realizado no Teatro João Caetano.




Os Vocalistas Tropicais: destaque nacional com arranjos bem trabalhados

Terminado o contrato com a Rádio Mundial, o grupo passou a se apresentar na Rádio Tupi. Eles trabalharam em diversos cassinos cariocas, antes mesmo destes serem fechados e proibidos, e participaram de cinco filmes brasileiros.

Participaram das revistas musicais Quem está de ronda é São Borja e Confete na Boca (1949 e 1950, respectivamente) com Dercy Gonçalves, realizados no Teatro Glória.

O grupo se desfez em 1963 por não ter mais espaço na mídia, como tantos outros artistas, deixando 49 discos em 78rpm nas gravadoras Odeon, Copacabana e Continental.

Em 2004, Os freqüentadores habituais do projeto “Café + Tapioca" fizeram uma viagem à época dos Vocalistas Tropicais. Foi a proposta do filme “Fragmentos de Harmonia”, do cineasta carioca Nilo Mota. O documentário inédito abriu a sessão “Café + Tapioca” do Espaço Unibanco, de Cinema.

O documentário, que aborda a história do grupo cearense Vocalistas Tropicais, foi apresentado à seleção do Cine Ceará, mas não foi classificado. Assim, permanece inédito inclusive para o público de Fortaleza.

Contando com imagens raras dos Vocalistas e de alguns dos filmes de que o grupo participou, na áurea época da Atlântida, o filme de Nilo Mota parte do depoimento de Danúbio Barbosa Lima, um dos últimos remanescentes do grupo, ao lado de Vicente Ferreira, para contar a história dos cearenses que, reunidos inicialmente no Liceu do Ceará, partiram para o Rio de Janeiro capital da República e conquistaram sucesso no rádio e no cinema, com projeção nacional nas décadas de 40 a 60.

“Para um conjunto dar certo, é preciso ter duas coisas: harmonia e harmonia”, declarou Danúbio, quando a história dos Vocalistas e a produção de Nilo Mota mereceram amplo destaque. Nilo Mota afirma que seu filme é uma espécie de “acerto de contas” com a memória de seu pai.

“Os Vocalistas sumiram da mídia. Falam mais dos Quatro Ases e um Coringa, ou dos Cariocas, do conjunto do Adoniran... Esqueceram esse grupo que nasceu aqui no Ceará e arrebentou no Rio de Janeiro por mais de 25 anos”, avalia o diretor, que já atuou como camera-flyer (cinegrafista de saltos de pára-quedas) e repórter cinematográfico da Rede Globo durante vários anos.

Para Nilo Mota, o objetivo do filme, mais do que elaborar uma biografia aprofundada dos Vocalistas, é “mostrar as lembranças do Danúbio, o sentimento de saudade que ele tem e a tristeza dele em ver que a indústria da música acabou com esses grandes conjuntos vocais”.

Os Vocalistas Tropicais fizeram sucesso na Ceará Rádio Clube, a PRE-9. Depois, pegaram um Ita, em Salvador, para o Rio de Janeiro. Era a Época de Ouro da música brasileira. Além do êxito na Rádio Tupi, o grupo se destacou nas chanchadas da Atlântida - Nirez

Ao longo de 58 minutos, o filme toma por base as lembranças de Danúbio Lima para reconstituir os caminhos dos Vocalistas Tropicais, desde a gênese do grupo a partir do Conjunto Liceal, passando pelas apresentações na Ceará Rádio Clube, a PRE-9, e pelas turnês Nordeste afora, até a mudança em definitivo para o Rio de Janeiro da década de 40, ainda sob os auspícios radiofônicos da chamada Era de Ouro da música brasileira. “Foi na PRE-9 que eles gravaram o primeiro acetato. Começaram a cantar lá sucessos de outros conjuntos nacionais e, daqui, do Aleardo Freitas e do Lauro Maia, que foi o carro-chefe deles no início”, pontua Nilo Mota.

“Naquele tempo, muitos cantores nacionalmente famosos vinham a Fortaleza, fazer shows. Eles viram o conjunto cantar, e fizeram propaganda dos Vocalistas no Rio de Janeiro”, narra o cineasta, explicando como o grupo cearense pegou um Ita em Salvador para já desembarcar na então capital federal com a segurança de assinar contrato com a poderosa Rádio Tupi. “Eles chegaram no Rio sem saber nem onde é que tavam. Se apresentaram à rádio e já começaram a cantar”, enfatiza.


“Foram mais de 100 discos em 78 rotações, desde esse primeiro acetato até o último disco, em 1969”, estima Nilo Mota, ressaltando que parte dessas canções compõe a trilha sonora do documentário. Desde “Papai, mamãe, você e eu” e “Tão fácil, tão bom”, primeiros sucessos gravados, em 1946, pela Odeon, ao estouro no carnaval de 1949, com “Jacarepaguá”, de Paquito, Romeu Gentil e Marino Pinto. 



Outro importante capítulo na história dos Vocalistas diz respeito à participação do conjunto nos filmes musicais - ou chanchadas, conforme o gosto do freguês. Ao todo, brilharam no cinema em cinco produções: “Caídos do Céu” (1946, de Ademar Gonzaga), “Eu quero é movimento" (1949, de Luís de Barros), “Carnaval no fogo” (1950, de Watson Macedo, o filme mais bem sucedido, com participação de Oscarito e Grande Otelo), “Guerra ao samba” (1955, de Carlos Manga) e “Depois eu conto” (1956, de José Carlos Burle). Cenas deste último e de “Carnaval do Fogo” fazem parte do documentário produzido por Nilo Mota.

Álbum da Memória — Conforme ressalta a cearense Valdenora Cavalcante, também estreante em cinema e responsável pela edição de “Fragmentos de Harmonia”, a narrativa do documentário se utiliza metaforicamente do álbum de fotografias que Danúbio Lima mantém até hoje como única recordação de sua passagem pelos Vocalistas Tropicais. “A partir daí inserimos trechos dos filmes, fotos antigas e depoimentos do Nirez e do Christiano Câmara. Eles acompanharam tão de perto a trajetória do grupo que chegaram a nos dar muitas informações que nem o Danúbio lembrava”, comenta. Também fazem parte do documentário registros de aúdio da última gravação simbólica dos Vocalistas, feita por Nirez em 1970, em uma reunião em Fortaleza.

Ao longo de toda a década de 60, de acordo com a pesquisa empreendida por Nilo Mota, os Vocalistas foram aos poucos perdendo destaque, fato que o cineasta credita em grande parte ao advento da Jovem Guarda. “O meu pai falava que na década de 60 começaram a pintar os cabeludos, e que eles iam aos programas de rádio e TV de graça, ou pagando pra tocar e se promover. E os cassinos também já tinham acabado... Foram se acabando os conjuntos da antiga”, atribui. “Mas meu pai também sempre dizia que o conjunto não acabou. Eles pararam de gravar, foram se sentindo inferiorizados, desvalorizados, mas nunca deixaram de ser artistas”, faz questão de acrescentar.


Os Vocalistas Tropicais nasceram no final dos anos 30 no prédio do Liceu do Ceará

Para Valdenora, o resultado das filmagens expressa um documentário que, apesar da extensão, não trará dificuldades ao público. “A gente procurou editar pra não ficar cansativo. Procuramos inovar um pouco, não deixar que ficasse monótono”, sustenta, assumindo influências de cineastas como Walter Salles e Silvio Tender. “Sempre gostei muito de cinema, fiz cursos na Casa Amarela, mas nunca tinha tido oportunidade de colocar em prática. Graças ao Nilo, chegou a hora”, festeja.

Fragmentos de Harmonia” foi inscrito para seleção ao XIV Cine Ceará

Segundo Nilo Mota o documentário é explicativo e necessário. "Gostaria muito que as pessoas assistissem, pra saber que existiram esses grandes conjuntos, que as melodias, as letras que eles cantavam eram maravilhosas”, justifica. “Hoje em dia a gente padece de total falta de memória. É preciso relembrar essas pessoas e pensar como foi que nós deixamos isso tudo se perder”.



Originalmente composto por seis integrantes, o grupo passou por várias formações - incluindo Paulo de Tarso Siqueira, Paulo Sucupira, Eduardo Pamplona e Vicente Ferreira da Silva - até chegar ao quinteto que se notabilizou, a partir de 1946: o pernambucano aqui radicado Arlindo Borges (crooner e violão-solo), e os cearenses Artur Oliveira (violão, percussão e vocais), Raimundo Jataí de Sousa (viola americana e vocais), Nilo Xavier Mota (percussão, pai do cineasta José Nilo Moura Mota, diretor de “Fragmentos de Harmonia”) e Danúbio, também percussionista.


Sucessos

A Maior Maria, João de Deus Ressurreição e G. Cardoso (1949)
Coitadinho do Papai, Henrique de Almeida e M. Garcez (c/Marlene) (1947)
Daqui Não Saio, Paquito e Romeu Gentil (1950)
Diamante Negro, David Nasser e Marino Pinto (1950)
Exaltação a Noel, Waldemar Ressurreição (1948)
Guarda-Chuva de Pobre, Raul Sampaio, Chico Anysio e Rubens Silva (1955)
Jacarepaguá, Paquito, Romeu Gentil e Marino Pinto (1949)
Marieta Vai, Arlindo Marques Júnior e Roberto Roberti (1953)
Não Falem Mal de Ninguém, Dias da Cruz e Ciro Monteiro (1952)
Não Manche Meu Panamá, Alcebíades Nogueira (1948)
O Lugar da Solteira, Pedro Caetano, Clemente Moniz e Guilherme Neto (1955)
Pedido a São João, Herivelto Martins e Darci de Oliveira (c/Ruy Rey) (1953)
Samba, Maestro!, Alcebíades Nogueira (1953)
Tomara Que Chova, Paquito e Romeu Gentil (1950)
Trevo de Quatro Folhas (I'm Looking Over a Four Leaf Clover), Harry Woods e Mort Dixon, versão de Nilo Sérgio (1949)
Turma do Funil, Mirabeau, Milton de Oliveira e Urgel de Castro (1956)

Filmografia

Caídos do Céu (1946)
Eu Quero É Movimento (1949)
Carnaval no Fogo (1950)
Guerra ao Samba (1955)
Depois Eu Conto (1956)








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Fonte: Wikipédia, Diário do Nordeste, Youtube  e Diário da Música

A Fênix Caixeiral ainda vive



Avenida Imperador, 636. Entre as ruas Liberato Barroso e Pedro Pereira. Uma rápida olhada e a certeza de que ali é "apenas" um curso supletivo de ensinos fundamental e médio. Nas paredes brancas do muro, um verde agigantado para atrair a vista do transeunte: Colégio Fênix Caixeiral. O nome remete ao que já foi uma sociedade beneficente e cultural em épocas áureas. Hoje, no local ainda funciona a Sociedade Fênix Caixeiral, notadamente sem a pompa de outrora, quando era uma das instituições de classe de mais prestígio no Estado. 


 

Durante várias décadas, a então "Phenix Caixeiral" desempenhou papel relevante na sociedade. Congregava gente como contadores, despachantes de alfândegas, leiloeiros, corretores, empregados de bancos e uma quase infinidade de classes trabalhadoras. São quase 120 anos de história. O prédio luxuoso que abrigou a Fênix, no entanto, tombou pelo descaso de seus administradores, gestores municipais e de parte da sociedade fortalezense. Na rua 24 de Maio, no Centro Histórico, umas das esquinas da Praça José de Alencar abrigava o edifício de dois pavimentos e 1.163 metros quadrados. Foi demolido quando estava prestes a completar 89 anos. 

Com ele, vieram abaixo a imponente escadaria de madeira, os grandes salões nobres e sociais, e até um pequeno museu. Mosaicos alemães, forro de cedro, assoalhos de cetim. Parte do acervo interno e da mobília do prédio foram transferidos para a sede da avenida Imperador. A venda do antigo prédio foi realizada em janeiro de 1979 e sua demolição foi concluída nos primeiros anos da década de 80. As dívidas avolumadas foram a principal causa da "queda" da Fênix Caixeiral, vendida em 1979 para o Grupo Ximenes e Tecidos S.A. E, em seguida, para a Caixa de Previdência do antigo BEC, que demoliu o passado, transformando-o em um "lojão bancário", com postos de prestação de serviços e captação de poupança.







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