Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

The Ceará Tramway Light and Power



A Ceará Tramway, Light & Power Co., Ltd., registrada em Londres em 11/12/1911, comprou os sistemas da Companhia Ferro-Carril do Ceará e da Ferro Carril do Outeiro e inaugurou a primeira linha de bondes elétricos da capital cearense em 9/10/1913, com bitola de 1.435 mm. Os britânicos tinham sido decerto desencorajados por suas experiências na Amazônia, e as suas instalações cearenses foram menos ambiciosas que os empreendimentos em Manaus e Belém.

Todos os veículos elétricos de Fortaleza tinham um padrão, com troles: a United Electric construiu 30 em 1912 e dez em 1924. A linha de bondes de Fortaleza foi fechada por problemas elétricos em 19/5/1947 - três semanas após o fechamento do sistema de bondes em Belém - e nunca reabriu. Vinte anos depois, em 25/1/1967, a Companhia de Transportes Coletivos inaugurou duas linhas de trólebus entre o lado Oeste da cidade e o Largo do Carmo. Os nove veículos Massari, construídos em São Paulo, rodaram até 2/1972. 


Bonde de primeira classe (permitido a entrada apenas de pessoas decentemente vestidas*em frente a Pharmácia Galeno na Major Facundo - Foto do Álbum de Fortaleza 1931

Em 08 de maio de 1911 cria-se a Usina de Luz e Força do Passeio Público, da firma The Ceará Tramway Light & Co., para alimentar os bondes, que eram de tração animal e passariam a ter tração elétrica.

09 de maio de 1912 foi o lançamento da pedra fundamental da usina e casa das máquinas para bondes (Tramways) elétricos de Fortaleza, da The Ceará Tramway Light & Co., no Passeio Público (Usina).
A Estação Central era no chamado calçamento de Messejana, depois Boulevard Visconde do Rio Branco, entre a Rua Padre Valdevino e a Rua da Bomba (hoje Rua João Brígido).
Na pedra inaugurada lê-se a seguinte inscrição. “Esta pedra foi lançada no dia IX de Maio de MCMXII, para inaugurar o começo dos trabalhos de eletrificação dos Tramways da cidade de Fortaleza sendo presidente do estado o coronel Antônio Frederico de Carvalho Motta e intendente municipal o Dr. Marinho de Andrade.”

Em 06 de junho de 1912 são transferidos os direitos da Companhia Ferro-Carril do Ceará (bondes de tração animal), já da firma J. Pontes & Companhia, para a The Ceará Tramway Light & Co Ltd.

Bonde de segunda classe – Foto do Álbum de Fortaleza 1931

Segundo o jornal Folha do Povo de 27/09/1913 os fios elétricos da Ceará Light ocasionavam perigo para a população:

Escrevem-nos 
Agora, sr. Redator que estamos nas vésperas de inauguração dos serviços de bondes urbanos por tração elétrica e de luz elétrica para as casas particulares, é bem justo que se pergunte por que razão a companhia inglesa não impregnou fios isolados na construção desse ultimo serviço?
Quem quer que tenha contato, em dadas condições, com estes fios condutores de energia elétrica para os domicílios da urbs, estará fulminado.
Bastará tão somente para isto que estes fios fiquem em contato direto ou indireto com os postes de ferro colocados nas calçadas, para que a corrente a ele se transmita, ficando assim uma ameaça.”

O Jornal O Unitário de 28 de novembro de 1913 já contava a novidade que estava por vim:

"Teve lugar ante-hontem á noite, depois de paralyzado o trafego da companhia de bondes, a experiencia de tracção e luz electrica da Ligth and Power, dando optimo resultado.

Acompanhado dos engenheiros e electricistas da companhia, o seu gerente, que ante-hontem mesmo chegára no "Sergipe", fez sahir um dos carros da estação, percorrendo com elle todo o trecho da linha que se prolonga dalli pela esrrada de Mecejana afora.

Grande massa de curiosos invadio o carro que, embora os protestos dos electricistas inglezes , percorreu ainda grande parte da linha da estação.

Como já dissemos, foi magnifico o resultado da experiencia, sendo bem possivel que a inauguração official se dé nos primeiros dias de outubro."


Em 09 de outubro de 1913 é o início, precisamente às 16h30min, do funcionamento da Usina do Passeio Público e dos bondes de tração elétrica, da The Ceará TramwayLight & Co., em substituição aos de tração animal, sendo a primeira linha do Joaquim Távora, que saía da Praça do Ferreira pela Rua Major Facundo, dobrava à esquerda na Rua Pedro I e ia até o Parque da Liberdade, dobrando à direita na Avenida Visconde do Rio Branco e voltando pela mesma avenida, Rua Pedro I, dobrando à esquerda na Rua Floriano Peixoto e chegando na Praça do Ferreira.
Mas os bondes puxados a burros ficariam ainda por algum tempo, administrados também pela Light. 

Garagem com ônibus e seus 'chauffeurs' – Foto do Álbum de Fortaleza 1931

* Sobre os bondes de primeira classe, o jornal O Unitário de 19/10/1913 trazia a seguinte reclamação:

"Não ha negar que a introducção dos bondes electricos aqui, em Fortaleza, trouxe crescidas vantagens à população.
Era esse melhoramento de ha muito tempo almejado.
Entretanto, mal acaba de levação a effeito, surgem novas reclamações do publico, que pede seja supprida quanto antes, uma falta consideravel que ainda resta.
E’ o caso que os novos vehiculos, pertencendo a uma só classe, são destinados ao transporte de pessôas que vistam decentemente.
Ora, nem toda gente póde satisfazer de modo cabal esta condição.
Os moradores dos arrabaldes, por exemplo, si são humildes, deixam de vir ao interior da cidade, a negocio por falta de bondes de 2ª classe, pois nos de 1ª não são admitidos.
Mesmo nas vias mais centraes ficam prejudicados os servos, que precisam ir ao mercado, pela manhã, e não o fazem sinão a pé.
E’ fácil imaginar o transtorno causado por essa lacuna, cujo preenchimento é o que pretendemos solicitar nestas linhas, não só porque o achamos carecida e de alcance, como tambem porque, assim procedendo, satisfazemos grande numero de leitores que nos teem procurado e, concomitantemente, a população em geral.


O Jornal Folha do Povo de 23/11/1913 trazia algumas leis que o público precisava conhecer:

"A camara municipal de Fortaleza, resolve:
Art 1- É proibido fumar nos três primeiros bancos dos carros de passageiros das linhas de Tramways.
Art 2- É proibido cuspir nos mesmos.
Art 12- A velocidade dos carros eletricos será no máximo de 18 Kilometros por hora, podendo, nas linhas de "arrabaldes" atingir 25 Kilometros por hora.
As distancias a percorrer pelos bondes electricos, tomando como ponto inicial de partida a Praça do Ferreira, são pouco mais ou menos os seguintes:
 
Metros
Linha da Praia
1530
Via Férrea
930
Estação (Messejana)
2450
Fernandes Vieira
1800
Bemfica
2630
Alagadiço
5440
Outeiro
2500
Praça dos Coelhos
1100
O Outeiro aumentou mais um Kilometro por hora, em um minuto deve o bonde fazer trezentos metros (300ms)." 

Ônibus da Ceará Light sentido Porangaba - Foto do Álbum de Fortaleza 1931

Um atropelamento noticiado pelo Jornal Diário do Estado de 13 de janeiro de 1916:

"Hontem, o bonde da "Light" n. 10, da linha de Fernandes Vieira, que vinha fazer 2 horas e 47 minutos na Praça do Ferreira, guiado pelo motorneiro n. 117, Vicente Rufino, atropelou na esquina da rua 24 de Maio o popular Pedro Martins da Silva, que se achando muito embriagado atravessou a linha na occasião em que o bonde passava. Martins, recebeu algumas escorriações, sendo transportado para a Santa Casa, onde recebeu curativos.
O motorneiro julgando ter morto o atropelado evadi se.
A policia do segundo districto teve conhecimento do facto."

Outro acidente, agora envolvendo um Carroção da Light versus carroça, também noticiado pelo Diário do Estado no dia 17 do mesmo mês e ano:

"Sabbado, ás 10 horas da manhã, na rua da Praia, o carroção da "Light" n. 34, guiado pelo motorneiro n. 148, Cicero Guedes, choucou-se com uma carroça, não se registrando, porém, em virtude desse incidente nenhum caso fatal."

O Bonde da Praça do Coelho - Diário do Estado do dia 18 de outubro de 1916:

"Diversas pessoas nos têm vindo trazer reclamações contra o estado quasi inascessivel em que fica o bonde da Praça do Coelho, no fim da referida linha. Com effeito, o estribo dos carros fica, naquelle ponto, a cerca de um metro de altura, a ponto de ser extremamente difficil a uma senhora descer ou subir no bonde.

Ao senhor E. du D. Scott, digno gerente da "Light", que sempre se tem mostrado solicito em bem servir ao publico, pedimos que mande tomar qualquer providencias no sentido de fazer cessar semelhante incommodo para os passageiros."

Vista Parcial da Usina da Light - Foto do Álbum de Fortaleza 1931

ANDOU AOS MURROS COM O MOTORNEIRO - Diário do Ceará – Pela polícia e nas ruas, p. 02 de 18/11/1922:

"O engraxador Manoel Gomes da Silva, viajando, á noite, num bonde da “Light”, entendeu de injustificadamente, espancar o conductor do mesmo, provocando, assim, o estacionamento do carro, pelo que foi recolhido ao xadrez."

UM CONDUCTOR DESPUDORADO - O Nordeste de 14/04/1923: 

"Os passageiros do bonde da linha da F. Vieira, que vinha fazer 9 horas da noite, na praça do Ferreira, viram-se, hontem, obrigados a assistir a scenas que não podiam deixar de indigná-los, pela offensa ao seu decoro.

É o caso que viajava, também naquelle vehiculo uma meretriz.

Pois bem: o conductor do bonde, sem o menor respeito aos passageiros, esteve todo o tempo da viagem a dirigir pilherias á mesma e a praticar outros actos que offendem, altamente, o decoro publico e revoltou aos que iam no bonde.

Denunciado o facto, que nos relatou um dos passageiros, esperamos que o digno gerente da Light tome, no caso, as providencias que se requerem. "

PELO MENOS, O CAMINHO DO CEMITERIO FICOU MELHOR - Diário do Ceará de 20/10/1923:

"A carreta de concertos da Ceará Light, nestas ultimas noites, tem andado numa actividade vizivel, e ainda bem que os felizes dormentes accordados pela zoada de suas rodas, ao levantarem, de manhã, hontem, tiveram o prazer de observar que, pelo menos, o caminho do Cemiterio ficou melhor.

Temos escripto algumas notas sobre o serviço de bondes, e aqui estamos no dever de louvar o gesto de sr. Smith, actual gerente da Companhia.

É que s. s., attendendo ao mau estado dos cabos troley da linha Mororó, entre a praça Marquez do Herval, da rua General Sampaio ao fim da linha, ordenou a sua substituição. Esse serviço tem sido feito todo á noite visto que, durante o dia, perturbaria o trafego.

É assim que um dos cabos troley já é novo em fio, e, o outro, dentro em pouco tambem o será; o comprimento do fio substituido anda perto de mil metros."

Ponto de partida dos bondes

A LIGHT VAE MAL... - Jornal do Comércio de 23/04/1924:

"Quase que diariamente são verificados descarrillamentos ou outros accidentes nos bonds da Light.
Hontem, por exemplo, o carro do Matadouro, que sahiu da praça às 11 horas, repleto de passageiros, ao chegar na curva entre à praça do Carmos e a rua Major Facundo, descarrillou, soffrendo os passageiros um atrazo de muitos minutos e ficando aquelle trecho sem poder dar passagem aos demais carros.
Foram feitas baldeações até que se restabeleceu o trafego interrompido naquelle ponto, o que se deu, cerca de uma hora depois do occorrido."

BONDE “VERSUS” AUTOMOVEL - Jornal do Comércio de 05/06/1924:

"Hontem, por volta das 13 1/2 horas, o auto particular n. 101, de propriedade do sr. Octavio Philomeno, guiado pelo chauffeur José Candido, ao fazer a curva entre as ruas Barão do Rio Branco e Misericordia, foi de encontro ao bonde da Light n. 13, que o poz a alguns metros de distancia, por ter perdido os freios e não ter podido o chauffeur fazer uma rapida manobra, em vista de se achar ao lado um montão de areia.
O carro fôra posto a serviço ha poucos dias e sahiu bastante damnificado.
Os passageiros, srs. Octavio Philomeno e Francisco Vieira Carneiro, sahiram illesos.
A policia tomou conhecimento do facto."

Manutenção de bonde na Fortaleza dos anos 20
O veículo da foto é um caminhão destinado à manutenção da rede aérea do sistema de bondes da cidade de Fortaleza durante os anos 10 e 20. Pertencia à Ceará Tramways, Light & Power, empresa que implantou o serviço de bondes elétricos a partir do ano de 1913

LIGHT PASSA À ADMINISTRAÇÃO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE FORTALEZA - Jornal O Povo de 19/07/1948:

"Gabinete do prefeito


De ordem do exmo. sr. Prefeito Municipal de Fortaleza, dr. Acrísio Moreira da Rocha, torno público, para conhecimento geral, que s. excia., dando cumprimento ao disposto no Decreto número 25.232, de 15 de julho de 1948, emanado do Governo Federal, e publicado no Diário Oficial da República, de 17 do mesmo mês e ano, assumirá, hoje, segunda-feira, dia 19, a administração da “Ceará Tramway Light Power Company Limited”, cujos serviços que são os de energia elétrica da capital cearense, com o respectivo acervo de bens e instalações, passarão, assim, em virtude da determinação contida no art. 2º do decreto citado, à administração da Prefeitura Municipal de Fortaleza.
O ato terá lugar na séde dos escritórios daquela companhia, situada à Travessa Dr. João Moreira, canto com a rua Floriano Peixoto, iniciando-se às 17 horas.

Fortaleza, 19 de julho de 1948

R. ROCHA MOREIRA
Chefe do Gabinete do Prefeito."

FOI INICIADA A RETIRADA DOS TRILHOS DE BONDE - Jornal O Povo 08/11/1948:

"A Prefeitura Municipal determinou a retirada de todos os trilhos de bonde da cidade, já tendo sido o serviço iniciado pela antiga linha de José Bonifácio, onde dois quarteirões já os não têm.

A reportagem do O POVO procurou entender-se, a respeito, com a gerencia da Light, sendo informada de respeito, com a gerencia da Light, sendo informada de que a retirada se processará em todas as linhas, ignorando entretanto, qual o destino a ser dado aos trilhos, que são de grande valor comercial e representam grande tonelagem."

A fotografia dos anos 30 nos mostra um bonde elétrico da Ceará Tramways, Light & Power em Fortaleza. Está perto da Praça do Ferreira, na rua Pedro Borges esquina com Floriano Peixoto, em Frente à Mercearia Leão do Sul

NUNCA MAIS OS BONDES VOLTARÃO A TRAFEGAR “OS TRILHOS SERÃO VENDIDOS A QUEM DER O MELHOR PREÇO” FALA O PREFEITO SOBRE A RETIRADA DO PRECIOSO MATERIAL DA LIGHT - Correio do Ceará de 09/11/1948:

Desfazendo boatos

54.000 metros lineares com o peso de 2.000 toneladas
Aumento do patrimônio da antiga companhia inglesa
Já começou, pelo fim das linhas de José Bonifácio e Alagadiço a retirada dos trilhos dos antigos bondes da Ceará Tramways.
Os trabalhos estão sendo desenrolados de maneira acelerada, encontrando-se já removidos os trilhos dos três últimos quarteirões das linhas mencionadas.
Segundo estamos informados, o trabalho será logo mais iniciado também nas demais linhas, devendo ser concluído dentro de pouco tempo.

FALA-NOS O PREFEITO MUNICIPAL

Interpelado hoje de manhã a propósito da retirada dos trilhos de bondes, disse-nos o Prefeito Acrísio Moreira da Rocha.

“A retirada dos trilhos de bondes, das ruas da cidade é um ato de ordem técnico-administrativa tomado por mim como supervisor da Ceará Light, depois de estudos acurados que me levaram à convicção do acerto dessa medida.

Sei que inimigos de administrações criteriosas e honestas olham para esse ato meu, enxergando nele, malevolamente, um pasto para boatos tendenciosos e mentiras eivadas todas da mais acentuada falta de escrúpulo. Sei também, o propósito do assunto que um intrigante havia dito ter eu prometido, na campanha eleitoral, a volta dos bondes para agora, retirar os seus trilhos.

Jamais prometi volta de bondes e, para esses perturbadores profissionais, que vivem de inverter os fatos, adulterando a verdade dos mesmos, aqui vai a minha resposta: - estou retirando, por livre e espontânea vontade e por minha absoluta e inteira responsabilidade, os trilhos de bondes, numa extensão de cinquenta e quatro mil metros lineares, com uma pesagem total de cerca duas mil toneladas. Destinam-se à venda esses trilhos retirados, com exceção de apenas quatrocentos metros que, colocados por empréstimo no fim da antiga linha de José Bonifácio, dali foram tirados, há poucos dias, por ordem minha, para serem devolvidos à R.V.C., repartição a que pertencem.

Eu, que estudei o assunto, com todos os seus detalhes, posso assegurar ser melhor ter os trilhos guardados e expostos à venda do que tê-los enterrados sujeitos exclusivamente ao desgaste.

Ao expor os trilhos a venda, entrega-los-ei a quem der melhor preço aplicando a renda assim obtida em melhoramentos para o serviço de fornecimento de energia elétrica da capital cearense.

Uma parte, porém, do total de trilhos eu a tirarei para usá-la no serviço de distribuição de linhas, destinando-a a sustentar os postes de alta tensão.

No final, só resultados benéficos – tenho certeza – advirão dessa medida, inclusive o aumento do patrimônio da “Ceará Light” que, presentemente administrada pelo Prefeito de Fortaleza, vai ascender a um estágio mais elevado de eficiência, pois, dentre outros o meu governo tem os propósitos de aparelhar eficazmente a Usina, estender amplamente as redes de iluminação, fazendo-as acompanhar o rítmo de progresso da cidade, produzir com mais baixo custo, a energia elétrica e garantir as obrigações da empresa para com seus servidores.

Isto conseguirei – finalizou o Prefeito Acrisio sorrindo – mesmo enchendo de máguas os boateiros impenitentes e sem critério que, não tendo ocupações na vida, profissionalizam-se em difundir maledicências como autênticos solapadores de boa ordem administrativa que, entretanto, comigo nada conseguem porque, de qualquer modo, cumprirei o meu programa doa a quem dor”.


Ônibus da Ligth-Arquivo Assis de Lima

FORTALEZA E OS VELHOS BONDES DA LIGHT - O Estado - 19/10/1951:

"As picaretas da municipalidade retornaram, em ritmo acelerado, à ingrata tarefa de arrancar os trilhos dos bondes, no trecho central da Floriano Peixoto. São os últimos, parece. Mas levam consigo a dolorosa certeza de que a nossa capital jamais verá trafegar os velhos bondes, que lhe enchiam as ruas de poesia e de vivacidade. Não cabe a administração atual a menor culpa. E talvez nem mesmo possa ser apontado um culpado, exceto o descalabro a que foi condenada a velha Companhia inglesa.

De qualquer maneira, há um grande erro em tudo isto. Vivemos uma época de progresso e tumulto, perdoado o acacianismo da afirmação. Aí estão as máquinas cinematográficas, colhendo os flagrantes das festas onde o Prefeito aparece, com a jovialidade e a simpatia dos homens felizes. Mas ninguém se lembrou de fixar o flagrante do último bonde, transitando pelas ruas de Fortaleza. Não existem, sequer, conforme fomos informados, uma fotografia, um desenho, uma lembrança.

A retirada dos bondes mais pareceu um ato de condenação. Um ato que não deveria deixar a mínima memória. E agora a Prefeitura com rapidez e eficiência, a faina destraidora...

No entanto, os homens da Prefeitura, talvez com a mesma picareta que destroem o calçamento e com a mesma colher com que, decerto, o reconstruirão, deveriam também consertar as calçadas das nossas ruas. São buracos imensos, tijolos, arrancados, poças de água e de sujo. Um transeunte mais descuidado poderá tropeçar e quebrar um pé ou uma perna. É verdade que o perigo se destina apenas ás pessoas que andam a pé. E só elas o enxergam.

O Prefeito não os vê. E os engenheiros muito menos. Pois eles andam sempre de automóvel, o que é mais cômodo e menos perigoso.

Agora que as obras da municipalidade estão sendo executadas na própria rua, com a retirada dos trilhos, aí fica mais uma sugestão ao Prefeito. Vamos consertar as calçadas. Vamos obrigar os proprietários a faze-lo, se a obrigação não for da alçada da Prefeitura Municipal."

Ônibus da Ligth-Arquivo Assis de Lima

O FIM DA LIGHT - O Povo - 09/03/1955:


A velha usina do Passeio Público está vivendo os derradeiros momentos de sua lenta agonia de morte. Seguindo o destino natural das coisas, vai desaparecer, de uma vez para sempre, do cenário da vida social e comercial da cidade, à qual tão relevantes serviços prestou, quando em pleno rendimento de suas hoje esfaceladas caldeiras. Dentro de pouco tempo mais, deixarão de pulsar os seus geradores.

Não podemos saber ainda qual o destino que será dado ao acervo da arcáica maquinária. Temporariamente, pelo menos, permanecerá onde está. Talvez como o velho gasômetro, ficará no mesmo local onde funcionou por tanto anos, por coincidência bem próximo uma da outra – dois marcos do progresso urbanístico da capital cearense, marcando duas épocas já definitivamente ultrapassadas.

Embora agonizante, a velha Light se portou, até agora, como um verdadeiro gigante, resistindo, com uma têmpera britânica, aos embates do tempo, dando o último de sua potencialidade em benefício da cidade que serviu e desserviu na medida de suas possibilidades. Tudo tem um limite, até para os organismos meramente mecânicos. E a Light chegou ao seu limite.

Ônibus da Ligth-Arquivo Assis de Lima


BONDES ELÉTRICOS - Diário do Nordeste 10/09/2000 - Opinião do Leitor:

Sr. Editor,

Acabo de ler uma entrevista concedida por Acrísio Moreira da Rocha, ex-prefeito de Fortaleza no período de 1947/1950, vangloriando-se por ter conseguido a encampaçõa da empresa inglesa “The Ceará Tramways Light and Power & Cia”, concessionária de transporte por bondes elétricos e energia elétrica para Fortaleza desde 1913. À época da encampação uma passagem de bonde da Praça do Ferreira até o fim de cada linha custava cem réis (um tostão). Você com apenas cem réis ia até o fim da linha de qualquer bairro: Jacarecanga, Praia de Iracema, Benfica, etc. Esse ex-prefeito, incontinente, vendeu os bondes elétricos, os trilhos de ferro, os cabos de cobre que levavam eletricidade para movimentar os bondes para Recife-Pernambuco, sem no entanto, oferecer nenhuma outra opção de transporte coletivo. Naquele tempo não existia Ettusa (Empresa de Transporte Urbano S/A), nem qualquer outro meio de transporte público. Com tanto dinheiro não foi construída nenhuma obra de vulto para justificar. É lamentável a insensibilidade desse ex-prefeito.

José de Lima Monteiro - Aldeota



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 Créditos: Cronologia Ilustrada de Fortaleza – Nirez, 
Museu virtual do transporte Urbano,  Cepimar e Assis de Lima


domingo, 8 de janeiro de 2012

O Matadouro Modelo



Matadouro Modelo no Jardim América inaugurado em 18/07/1926. Foi demolido em 1962, passando os trabalhos para o Frifort- Arquivo Nirez

Em 18 de julho de 1926 o Matadouro Modelo é inaugurado, na administração do desembargador José Moreira da Rocha, sendo prefeito Godofredo Maciel, autorizado o contrato da construção pela lei municipal nº 126, de 29/12/1924.
O prédio foi benzido pelo monsenhor Antônio Tabosa Braga (Monsenhor Tabosa).
Ficava no bairro do Barro Preto ou Tauape, hoje Jardim América, no mesmo local onde está o Colégio Paulo VI, na Rua Jorge Dummar, em frente à Praça Humberto de Campos (hoje Praça Delmiro Gouveia).
Ali foi o sítio Tauape, de Manuel Romualdo Holanda, que o vendeu a Antônio Diogo de Siqueira e Abel Ribeiro.




Foto do Álbum  de Fortaleza 1931

Jornal Diário do Ceará, pág. 03 do dia 19 de julho de 1926 *:

"Parte os srs. drs. Godofredo Maciel, Demosthenes Rockett, Waldemar Falcão, Hugo Rocha, H. Monte, deputados Soares Bulcão e A. Themotheo, e mais Abel Ribeiro, Antonio Fiuza, commandantes Pedro Bittencourt e Sorares Pinho, José Thomé de Saboya, Thoribio Motta, vereadores Markan, Frederico Andrade e Leandro Lyra, Luiz B. Vieira, Theodoro Vieira, Cesar Magalhães e Elias Mallmann.

O agape decorreu em meio da maior cordialidade, sendo os coroneis A. Diogo, Abel Ribeiro e A. Themotheo saudados pelos srs. Leandro Lyra, em nome da Camara municipal e E. Mallmann, em nome da imprensa.

Durante a tarde de hontem continuou o Maradouro largamente visitado, computando se em cerca de 20.000 pessoas as que até ali foram durante todo o dia.

Os socios da empreza receberam de todos as mais expressivas e enthusiasticas demonstrações de applauso e sympatia.

Tendo recebido o gado hontem, este após o descanço regulamentar de 24 horas foi abatido hoje, desde uma hora, para o mercado amanhã.

O transporte da carne para o mercado será feito em caminhões e automoveis.


Foto do Álbum  de Fortaleza 1931

Hontem foi o ultimo dia em que se fez a matança no antigo Matadouro do Alagadiço, que se acha encerrado.

Congratulando-nos com a população fortense pela inauguração do novo curro, felicitamos os coroneis A. Themotheo, Abel Ribeiro e A. Diogo, pelo exito de seus esforços até aqui verificado.

Publicamos abaixo os discursos cujas copias pudemos obter:

FALA O DR. CESAR CALS, ORADOR OFICIAL DA INAUGURAÇÃO

Exmo sr. Presidente do Estado.

Exmo. sr. Prefeito de Fortaleza.

Meus senhores.

A Empreza Matadouro Modelo, nesta hora auspiciosa para o Ceará, tem grande prazer e honra maxima de, por meu intermedio, saudar respeitosamente a vs. excas. sr. Presidente do Estado e sr. Prefeito de Fortaleza.



Foto do Álbum  de Fortaleza 1931

A Empreza sauda e ao mesmo tempo felicita a vss. exças. que certamente se sentirão satisfeitos de terem dotado Fortaleza com um edificio que honra o municipio, honra o Estado e não desmerece a grande Patria.

Esta majestosa construcção que vem de ser inaugurada, começada e terminada na administração de vss. exas., ficará como uma caracteristica evidente e duradoura da intelligencia sadia e da visão larga e sensata daquelles que neste periodo dirigem os destinos de nossa terra. Ficará quasi eterna e mostrará aos que vierem que o tempo e as energias de vss. exas. Não foram inutilmente disperdiçados e algo ficou, patente e vialvel, em beneficio do nosso Ceará.

Sr. Presidente, tem v. exa. Hoje resolvido o 2º problema dos muitos que reclamam solução em nossa terra – Aguas e Exgotos foi o primeiro – Matadouro Modelo, o segundo. E o Ceará inteiro espera o mesmo exige de vss. exas. Solução ou pelo menos andamento aos demais problemas.

Fortaleza, sr. Prefeito, não precisa mais ocultar aos olhos dos visitantes o logar de onde sae, para o abastecimento publico, o seu primeiro genero de alimentação.

Fortaleza, sr. Prefeito, não se envergonhará mais e terá, bem ao contrario, motivo de justificado orgulho, em mostrar aos visitantes este majestoso predio que é um immenso contraste, daquillo que até hontem se chamou o o Matadouro.



Foto do Álbum  de Fortaleza 1931

Empresa saúda também, com muita honra e respeito, a invicta edilidade de Fortaleza, cujos edis, animados de são patriotismo, nunca regatearam esforços para solução rapida do problema hoje resolvido – a construcção de um matadouro modelo. – Uma parcella, portanto, do grande melhoramento que vem de ser introduzido em Fortaleza, deve-se tambem a nossa patriotica e invicta edilidade.

Agora, senhores, um pouco de justiça tambem para áquelles que têm aqui seu capital empregado, a grande porção de suas energias e trabalho.

Acostumados como estamos nós cearenses, a apreciarmos a fallencia de quasi todos as empresas que aqui se installam, é uma agradavel surpresa para todos, isto que aqui vemos e que nossos olhos não estão habituados a vêr.

E’ mais uma prova da tempera forte deste povo forte que ama doudamente sua terra apesar de tudo e não obstante a certeza que tem da avareza com que sempre é compensado o capital e o trabalho.

Trez cearenses lutadores, fortes e emprehendedores, Antonio Diogo, Abel Ribeiro e Arthur Themotheo, homens de negocios que são, honrados e sertos, recebendo do sr. Prefeito a responsabilidade desta empresa, não pouparam esforços, trabalho e dinheiro e dentro de pouco mais de um anno enriqueceram o patrimonio de Fortaleza, com uma obra de vulto.

Justo e natural era que vicassem fins incentivos, mas o amor exagerado no Ceará e a vaidade cearense sobrepuseram-se a seus interesses financeiros e envez de um predio modesto, de accordo com o nosso progresso, ergueram um sumptuoso edifício que é grande demais para uma terra pobre.

Pelo vulto das transações, ha de parecer a alguns que a empresa terá rapidas e grandes compensações. A avultada somma empregada, a administração e conservação custosas e os compromissos para com o município, anullam uma boa parte do que poderia ser lucro, redusindo-o a proporções menos que compensadoras. Em todo caso, senhores, aqui tem o sr, Prefeito a chave do edificio que irá em breve ser franqueado ao publico.

Para terminar, a Empresa, por meu intermedio, saúda e consigna seus agradecimentos a todos os que aqui estão honrando-a com suas presenças, mui especialmente o exmo. revmo. Monsenhor Tabosa Braga, dignissimo representande de s. exma. revma. O sr. Arcebispo Metropolitano e a distincta e nobre imprensa de Fortaleza."

*Grafia de época

Datas Importantes

  • 04 de maio de 1931 - A Prefeitura Municipal de Fortaleza toma posse do Matadouro Modelo, sob protestos da empresa concessionária, passando a administração a ser exercida por Manuel Freire de Andrade


  • 15 de abril de 1932 - Só nesta data chegam a Fortaleza, em trens especiais, mil e tantos flagelados. Foram desembarcados à altura do bairro ‘Damas’, e concentrados no Matadouro Modelo.

  • 11 de dezembro de 1933 - Um Decreto Municipal desta data autoriza a compra, para o município de Fortaleza, de todos os bens pertencentes à Empresa do Matadouro Modelo.

  •  25 de julho de 1959 - O Matadouro Modelo é desativado

  • 30 de janeiro de 1962 - Iniciada a demolição do Matadouro Modelo no bairro do Jardim América para no local ser construído o prédio do Ginásio Municipal que sairá da Praça do Carmo. Foi construído no local o Colégio Paulo VI



Fontes: Cronologia Ilustrada de Fortaleza - Nirez, Cepimar e 
Revista do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico) - 1957

Notícias da Fortaleza Antiga - A Paroquia de São José



A catedral e o seu Cura, rvmo. Mons. Luis de Carvalho Rocha

"O atual vigario desta freguesia de S. José de Fortaleza, Mons. Luis de Carvalho Rocha, foi nomeado pelo exmo. Snr. Arcebispo D. Manuel da Silva Gomes, por provisão de 5 de fevereiro de 1925, em substituiçao ao Mons. João Alfredo Furtado que vinha exercendo este cargo desde 29 de maio de 1904.

O revdmo. Mons. Luis de Carvalho Rocha, nomeado diretor arquidiocesano do Apostolado da Oração, tem sido um grande impulsionador desta Associação que conta atualmente com 72 zeladoras e 1.500 associados.

Em novembro de 1925, fundou a Associação de Santa Rita de Cassia, que se destina a propagar o culto da mesma. Conta aproximadamente com 500 associados.

Em março de 1926, fundou a Congregação Mariana da Catedral (secção masculina), a primeira deste genero, em Fortaleza, agregada à Prima-Primaria de Roma. Iniciada com 20 associados, conta hoje com 213 membros."




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Gráfia da época

Fonte: Álbum de Fortaleza 1931

sábado, 7 de janeiro de 2012

Dos elegantes cafés vindos do Século XIX ao varejo atual



Praça do Ferreira - Arquivo Nirez


A Praça do Ferreira, esse logradouro hoje formado, ao Norte, pela Rua Guilherme Rocha – antiga Travessa 24 de Janeiro e Travessa Municipal; ao Sul, pela Rua Pedro Borges – antes Beco do Cotovelo e Beco do Pocinho; ao Leste, pela Rua Floriano Peixoto – antiga Rua da Alegria, Rua das Belas, Rua da Boa Vista, Rua D’el Rei e Rua da Pitombeira, e ao Oeste, pela Rua Major Facundo – antes Rua Nova D’el Rei, Rua do Fogo, Rua da Palma e Rua Nº 3; foi criada em “6 de dezembro de 1842, na gestão do intendente Manuel Teófilo Gaspar de Oliveira, cuja lei da Assembléia Provincial autorizava uma reforma no plano da cidade, eliminando dela o Beco do Cotovelo, a fim de ficar ali uma praça que se denominou Praça Pedro II


Café do Comércio - Registro de 1908, mostrando a elegância fortalezense. 
Arquivo Nirez


Café do Comércio no século XX

Antônio Ferreira Rodrigues - O boticário Ferreira – assim tratado por todos que o conheciam, nasceu no ano de 1804, na cidade de Vila Real da Praia Grande, hoje cidade de Niterói – Rio de Janeiro. Filho de Antônio Rodrigues Ferreira e Marcolina Rosa de Jesus.
Em 1824, recrutado para servir na Cisplatina, desertou e conseguiu embarcar para o Recife, onde o acolheu e protegeu, o negociante português Manuel Gonçalves da Silva. Conheceu em casa deste um comerciante rico e importante de Fortaleza, - Antônio Caetano de Gouveia, cônsul de Portugal, que o trouxe para o Ceará, como seu caixeiro, por volta de 1825 – ano terrível de seca no Ceará e da luta política da República do Equador.


Rua Major Facundo com a Pharmácia Galeno (Onde antes funcionou a Farmácia Boticário Ferreira) - Arquivo Nirez e restaurada por Sidney Souto


Pharmácia Galeno na Praça do Ferreira- Déc. de 40

Com 21 anos de idade, ainda em sua terra natal, obtivera muita prática em farmacologia, cujas receitas salvaram de difícil parto, a mulher do seu protetor, que o ajudou a obter da Junta Médica de Pernambuco, licença para instalar botica no trecho da antiga Rua da Palma, hoje Rua Major Facundo – onde funcionou a Farmácia Boticário Ferreira, Farmácia Galeno, do farmacêutico Joaquim (Yoyô) Studart da Fonseca, filho de Leonísia Studart da Fonseca, irmã do Barão de Studart, casada com João da Fonseca Barbosa, tesoureiro do Banco Cearense, em cujo local mais tarde se instalou a Loja de Variedades, hoje Loja Milano.


Sorveteria das Lojas de Variedades. Movimentadíssima. Tinha o melhor cachorro-quente da cidade com um molho espetacular. Ficava na Rua Baraõ do Rio Branco e tinha fundos correspondentes com a Major Facundo. As lojas de Variedades viraram a loja Samasa.
Houve até concurso para a escolha do nome, dentre três sugeridos, ficou Samasa (Sebastião Arraes Magazine S/A). Essa  foto é da inauguração, que foi em 16 de dezembro de 1949. Foto do arquivo Nirez


Lojas de Variedades Ltda - Arquivo Paula Figueiredo


Em 1902, o cel. Guilherme Rocha, Intendente à época, deu nova feição à praça arborizando-a, cercando o centro com grades de ferro – construindo o Jardim 7 de Setembro.


O lindo jardim 7 de Setembro - Arquivo Nirez

Existiam ainda na praça quatro quiosques que se denominava “café do Comércio”, “café Iracema”, “café Elegante” e “café Java” – o mais antigo, pois data de 1886 e se tornara o principal ponto de reunião da fina flor da cidade, e dos famosos intelectuais da inovadora Padaria Espiritual.


Café Elegante em 1910

Praça do Ferreira em 1919 com o Café Elegante- Arquivo Nirez 


Restaurante Iracema no Álbum de Vistas do Ceará, em 1908 - Nirez


Café Java

Em 1914 – na gestão do prefeito Rdo. de Alencar Araripe, a praça foi inteiramente reformada, recebendo iluminação moderníssima com cabos condutores subterrâneos.
Nova reforma se deu em 1920, o prefeito Godofredo Maciel mandou demolir os quiosques e retirar as grades centrais que constituía o Jardim 7 de Setembro, e, construir um pouco deslocado para o lado Sul, o coreto para os músicos das bandas das Polícias do Estado e do Município, levando efeito semanalmente às tradicionais e concorridas retretas que eram do agrado público.


Praça do Ferreira e a antiga Coluna da Hora em 1936, vista de cima do Excelsior Hotel. Arquivo de Peter Fuss

Dentre outros melhoramentos, o prefeito Raimundo Girão, em 1932, autorizou demolir o coreto, e em substituição erigir a “Coluna da Hora”, com relógio de quatro faces que servia de orientação para toda a cidade, cuja inauguração ocorreu no dia 31 de dezembro de 1933.
Hoje, no mesmo local, relógio com estrutura de ferro aos moldes do antigo relógio (montado sobre alvenaria) ao lado de antigo cacimbão, existente desde o início do logradouro.

A praça foi e será sempre a sala de visita da cidade para nós fortalezense e, para todos que aqui chegam. Sua posição geográfica, lembranças históricas e conhecida como cidade hospitaleira e agradável aos visitantes e adventícios que por aqui aportavam sob intenso calor, mas recebem, à noite, a aragem que vem do “Aracati”, amenizando o calor do dia, tornando suave as noites e aprazíveis os momentos de descanso para aqueles, sentados nos bancos da praça.


Fachada da Farmácia Pasteur - Nirez

Ainda gravada na lembrança, a chegada à praça, no quarteirão da Rua Major Facundo, em frente a Farmácia Pasteur, dos bondes que faziam diversas linhas, onde eram vistas pessoas que se despediam para subir ou descer do transporte, que rodeando a praça, seguiam itinerários diversos, carregando o lirismo de um adeus ou até logo... à exceção dos que faziam as linhas da Praia de Iracema e Prainha, porque seguiam percurso pela Rua Floriano Peixoto.


Rua Major Facundo, ocasião da passagem de um bonde. 
A foto deve ser de aproximadamente 1918. O prédio alto é o Cine Majestic inaugurado no dia 14 de julho de 1917 com o espetáculo de Fátima Miris. Só depois inauguraria como cinema - Arquivo Nirez

Bondinho na Major Facundo, lotado de alunos do Liceu

As casas comerciais à época e as lojas de hoje

O comércio centralizado na praça se diversificava na proporção da escolha dos produtos procurados e predominava o comércio varejista. Ainda hoje permanece o comércio diverso em toda a sua extensão.
Começando pela quadra do lado Oeste, na rua Major Facundo, esquina com a rua Guilherme Rocha, o edifício do Excelsior Hotel, considerado o primeiro arranha-céu do Ceará. Entrou para história como primeiro hotel de nível internacional da Região Nordeste. Construído em 1927, à base de argamassa e cal, com oito andares, pelo arquiteto Emilio Hinko, casado com Sra. Pierina Rossi Hinko, viúva do milionário Plácido Carvalho; inaugurado em 31 de dezembro de 1931; o hotel foi edificado no lugar de um sobrado de três andares que pertencia ao comendador José Antônio Machado.
Ao lado da entrada e parte térrea do edifício Excelsior - Rua Guilherme Rocha - onde funcionou por muitos anos o hotel mais chic e equipado da cidade; esquina com a Major Facundo, existiu a Farmácia Francesa, hoje Ótica Hora Certa e Disco & Cia.


Café Riche - Foto dos anos 20

A próxima quadra pelo lado poente da rua Major Facundo, com Guilherme Rocha, em direção a Rua Liberato Barroso, bem na esquina ficava o café Riche, depois Loja Broadway, de Alberto Bardawil, hoje, loja Tok Discos; vizinho com uma porta estreita, onde funcionou um armarinho, para venda de gravatas, camisas, lenços, canetas e relógio, hoje Rei das Canetas; a seguir as Lojas Sloper (com matriz no Rio de Janeiro) – era loja freqüentada pela alta camada da sociedade; os dirigentes vinham do Sul, e, as vendedoras eram moças de gradas famílias, que elegantemente vestidas, portavam até chapéus e luvas; nesse mesmo local se instalou à Flama - Símbolo de distinção - assim era o slogan da loja, hoje Banco Mercantil do Brasil; A seguir vinha o Cine Polytheama, dos irmãos Rola, hoje Cine São Luiz, geminado ao prédio que serviu de escritório à Empresa Ribeiro, de propriedade de Luís Severiano Ribeiro, hoje com rua lateral que dá acesso à Rua Barão do Rio Branco. Nesse local às tardes, era ponto de encontro de respeitáveis senhores “jovens há mais tempo”, que para ali se dirigiam para tirar “dois dedos de prosa” e botar olhar godê ou olho de mormaço para as moças em flor que ali passavam.
Poderiam ser vistos o engenheiro de acabamento do Edifício São Luiz, José Euclydes Caracas, os senhores Vinícius Ribeiro, Edgar e Humberto Patrício, Dr. Belo da Mota, Gen. Eurípedes Ferreira Gomes e seu cunhado, Thomaz Pompeu Gomes de Matos; Mais adiante a Pharmácia Pasteur – Estabelecimento de Eduardo Bezerra, hoje Lojas Marisa e Farmácia Avenida.


Este incêndio destruiu completamente o Edificio Majestic e as Lojas Brasileiras na Praça do Ferreira.

O Cine Majestic e Bar com cadeiras de pés de ferro e pequenas mesas de mármore, com música a cargo do pianista e compositor Mozart Gondim Ribeiro, tio dos estimados Humberto, Heitor Filho, Haroldo e Heloísa Diogo Ribeiro, freqüentado por expoentes da cidade, como Raimundo Gomes de Matos, Quintino Cunha, Dolor Barreira, Olinto Oliveira, Heribaldo Costa, Álvaro Costa, Des. Leite Albuquerque, Lauro Maia, Des. Ubirajara Caneiro, boêmio e poeta Cid Neto e outros. Imponente edifício de quatro pavimentos que pegou fogo na década de 1950, após a demolição, a Loja de Variedades, e, Lojas 4.400, hoje Lojas Riachuelo e Duda´s Burger; Farmácia Oswaldo Cruz – de propriedade de Edgar Rodrigues; no andar superior da Farmácia Oswaldo Cruz – o escritório por mais de 50 anos, de um dos mais brilhantes e atuantes advogados do Ceará, Olinto Oliveira (pai do Olinto Filho). Com ele trabalhavam, os ilustres causídicos – Walmir Pontes, Álvaro Costa, e os advogados Oscar Pacheco Passos e Moacir Oliveira, no imóvel que pertencia à Pierina Hinko; vizinho casa térrea de duas portas – o Foto Sales, de Tertuliano Sales, mais tarde de seus sucessores; em imóvel de igual formato de rótula – a famosa Garapeira Mundico com refresco de pega pinto, aluá, e, refresco de erva quebra-pedra, côco-babão, refresco de erva vassourinha, muito procurado pelos visitantes da cidade por ser medicinal. 


A primeira escada rolante de Fortaleza surgiu aqui, nas lojas 4.400 - Lojas Brasileiras de Preço Limitado, depois conhecidas como Lobrás, inaugurada na esquina da Rua Major Facundo com Rua Pará, no dia 09 de novembro de 1957. Vemos aqui suas duas fachadas à noite, iluminadas com motivos natalinos daquele ano. Com a derrubada desse prédio foi erguido, no local, o Hotel Savanah. Arquivo Nirez


Farmácia Oswaldo Cruz, em 1952. Foto Arquivo Nirez


Em tempos mais recuados, a mais famosa garapeira, Bem-Bem, especialista na excelente bebida conhecida por “jinjibirra” ou “gengibirra”, muito apreciada por todos, fermentada, feita de frutos, gengibre, açúcar, acido tartárico, fermento de pão e água, conhecido no Nordeste como champanhe-de-cordão, cerveja-de-barbante. Talvez fosse melhor escrita gengibirra, e que celebrizou o extrovertido Bem-Bem; vizinho ao Mundico, o Armarinho do Orion, com vendas de meias, gravatas, lenços e objetos masculinos. Ainda no mesmo quarteirão da rua Major Facundo – a mais célebre farmácia da cidade a antiga farmácia do Boticário Ferreira. Mais tarde – segundo familiares, nesse estabelecimento se instalara a Pharmácia Galeno, cuja sociedade em parceria com Silvino Silva Thé, hoje Lojas Milano; o Cine Moderno, da Empresa Severiano Ribeiro, com sua rica e esplendorosa marquise variegada, com cristais coloridos das mais vivas cores, no formato de meia concha ou cauda de pavão, dava toque de elegância e imponência à entrada do cinema; depois lojas Samasa, de Sebastião Arrais, hoje Sapataria Nova e Clínica de Olhos Rosangela Francesco. Esquina da Rua Major Facundo com a Liberato Barroso, de um lado, existiu nas décadas de 1940/60, o café Sporte, dos irmãos gêmeos José e Estevam Emygdio de Castro, muito estimados por todos, foram patrões na firma Emygdio & Irmãos, hoje Lojas Esquisita, de Pio Rodrigues, pai de Edir Rolim; do outro lado, na Rua Liberato Barroso com Major Facundo, foi Farmácia Modelo, depois Casa Veneza, hoje o local está desocupado.

No quadrilátero da Praça do Ferreira, lado Sul, lado que correspondia antes ao Beco do Cotovelo, que além das denominações oficiais, a praça, na época, era também popularmente conhecida por “Praça da Municipalidade”, por situar-se defronte do prédio da Intendência Municipal, onde também funcionava a sala do júri. No local, onde existiu o Abrigo Central, construído na gestão do prefeito Acrísio Moreira da Rocha.


Rainha da moda - Década de 40

A Rua Dr. Pedro Borges, situada na ala Sul da praça, esquina com Major Facundo – onde hoje se ergue o Edifício Torres, existiu a Casa Maranhense, depois a Loja Rainha da Moda, Pastelaria Chinesa, hoje Casa Amazônia – ao lado da escada que dava entrada para o Foto Ribeiro; vizinho à Loja Ceará Chic – de Irajá Vasconcelos; A Miscelânea, mercearia de primeira ordem, do Sr. Frota; Farmácia Belém, hoje Casa Pio; Posto Mazine, do Sr. Falcão – primeiro revendedor do fogão a gás, depois Grupo Edson Queiroz, hoje Farmácia Pague Menos, de Deusmar Queirós, proprietário da maior rede de farmácia do Brasil, homem generoso e de convicta religiosidade, pai de Mário Queirós, também avô de Pedro Henrique.

A Sapataria Clark, depois Salão Lord, hoje Roscel Jeans; Sorveteria Odeon, hoje Óticas Itamaraty, de Pantaleão Cavalcante; Leão do Sul, de Dimas de Castro e Silva, pai de Marçal Pinto de Castro; e na esquina da Rua Floriano Peixoto a Casa Maranguape, depois Lojas de Artigos Masculinos, de Agenor Costa, hoje Farmácia Avenida.
Do lado Leste, esquina com a Rua Dr. Pedro Borges, existiu a Casa Blanca, de J. Ary – Jean e Emilio Ary (irmãos), hoje ainda armazém de tecidos da C. Rolim; vizinho à antiga Padaria Lisbonense, de Pelágio Oliveira, hoje Shopping Lisbonense.
Inicio com o outro lado o Armazém de tecidos Leblon, hoje Lojas Leblon; seguia-se da Loja Oriano – engraxataria e polimento de calçados, hoje Lojas Otoch; assim como os demais, o prédio com pavimento superior do italiano Salvador Cunto – com alfaiataria; Loja Central, de Pedro Lazar e seu primo Adir Lazar. O Bar e Sorveteria dos Jangadeiros, de Luis Frota Passos; a Farmácia Faladroga, todas hoje, onde estão as Lojas Otoch; Livraria Alaor, hoje Óticas Mariz; Bar da Brahma – dos irmãos Coelho, onde serviam as deliciosas unhas e patas de caranguejo e o queijo flamengo com fatias de pão, local de encontro dos senhores de meia-idade que todas as tardes se reuniam para saborear a cerveja Boock Alen, depois Armazém do Povo, hoje Mundial Video Bingo; Farmácia Globo, hoje C. Rolim; Farmácia Santo Antônio, de Dalmário Cavalcante Albuquerque, hoje Bingo Cidade; Farmácia Humanitária, hoje Café L’Escale; Sorveteria El Dourado, do estimado homem de negócios – FigueiredãoAntônio Montenegro Figueiredo, hoje Farmácia Avenida; Caldo de Cana “O Merendinha”, Quezado, da Dona Zenaide Quezado de Aurora, hoje Lojas Helga; e Palacete Ceará, o Clube Iracema, mais tarde Rotisserie, casa de jogo de bilhar, do árabe Sr. Abraão, hoje agência da Caixa Econômica Federal. Ainda do lado Leste, na Rua Floriano Peixoto, numa diagonal, foi plantado uma muda de cajueiro, na administração Juraci Magalhães, simbolizando o lendário “cajueiro da mentira”, hoje com placa assentado ao lado com os seguintes dizeres: “Neste local existiu um frondoso cajueiro que, por frutificar o ano todo, era apelidado de “cajueiro botador” ou, por se realizarem, sob sua copa, cada 1º de abril, as eleições para o maior “potoqueiro” do Ceará, era também chamado de “cajueiro da mentira"


Cajueiro Botador na Praça do Ferreira em 1905 - Arquivo Assis de Lima

Foto Jaqueline Aragão
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Fonte: Diário do Nordeste


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Tipos folclóricos da Fortaleza antiga


Feijão sem banha -Acervo de Jaime Vieira

Centro e bairros da Capital. Meados do século passado. Pessoas tornaram-se folclóricas por apelidações ou comportamentos. Feijão sem Banha, Ferrugem, Rádio Patrulha, Mondrongão, Zé Tatá, Raimundão e outros se fizeram conhecidíssimos. Frequentadores do Abrigo Central, Pega-pinto do Mundico*, Cine Moderno, Bar Flórida, Sorveteria Expressa e Tabacaria Almeida assistiam cenas incríveis protagonizadas pelos exóticos personagens.


 
Abrigo Central em 1949

Onde morei, existiam alguns desses tipos bem conhecidos da população. Lembro-me dos Paus-brasil – pai e dois filhos. Sararás, quase albinos, destacavam-se por comercializar de porta em porta, a prazo. Era o ofício de “galego”. Seu Tâna, proprietário de vacaria, desejava ser craque de futebol. Quase dois metros de altura, peso de cinco arrobas, segundo afirmava, e chuteiras confeccionadas especialmente para os grandes pés, fez-se sócio benemérito do 5 de Julho Futebol Clube. Comprou camisas, calções, bolas e equipamentos para o soerguimento da agremiação. Em troca conseguiu integrar o segundo quadro do time, o “esfria sol” e, quando a pelota lhe chegava, ninguém se atrevia a disputá-la. Menos ainda, encarar seu estupendo chute “bicudo” e sem rumo, perigoso se atingisse algum adversário. Pegasse na bola, a platéia gritava: “Castiga véi Tâna!”. O atleta ufanava. Recadeiro de rua, Ruído, garoto de pele muito marcada pela catapora, detestava o apelido. Era pronunciá-lo e ouvir cabeludos palavrões. Já Zé Pretim, como era tratado e gostava, vendia tapioca, queijada e filhós pelas ruas. O chamassem de Bola Sete, indignava-se. Resposta imediata. “Pra butá na caçapa da véia!”.



 
O cine Moderno


Autoridades, algumas cavaquistas, foram destaque na época. Castorina, renomada apelidadora, criou alcunhos inesquecíveis. Dom Manuel e Dom Antônio, arcebispos metropolitanos, em visitas a Aracati, receberam a marca da longeva senhora. O primeiro, por corpulento e seus paramentos coloridos, foi cognominado Bolo Confeitado, enquanto o segundo, por franzino e usar pequeno pedaço de fita verde-amarela na batina, teve o patronímico de Envelope Aéreo.

Texto "Na caçapa" do amigo e colaborador Geraldo Duarte (Advogado, administrador e dicionarista)


*Na Fortaleza dos anos 60, o refrigerante preferido dos habitantes de Fortaleza era o refresco de Pega-Pinto.

Tratava-se de uma raiz que (diz a lenda) chegou a ser colhida entre os túmulos do Cemitério São João Batista para poder garantir o consumo. Na praça do Ferreira, o comerciante Mundico abriu uma merendeira - de apenas uma porta, bem pequena, que tinha como principal produto o Pega-Pinto, delicioso diurético que era servido com tapioca ou pedaço de bolo.

 

Depois dos filmes nos cines Moderno, Majestic, São Luiz ou Diogo, a rapaziada lotava o Pega-Pinto do Mundico, que concorria com o caldo de cana da Leão do Sul. O progresso expulsou o Mundico da rua Major Facundo para a Duque de Caxias, perto da praça do Carmo.


Wilson (Ibiapina)

Conforme Gervásio de Paula, o pega-pinto é vendido, atualmente, na Lanchonete Azteca, no térreo do edifício da Associação Cearense de Imprensa (ACI)


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