Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Severiano Ribeiro e a cidade: Estátua, ingressos caros e público insatisfeito



Foto de 1903 da Praça Marquês de Herval, vendo-se a Igreja do Patrocínio. Acervo Clóvis Acário 

No ano de 1928, a ACI - Associação Cearense de Imprensa, promoveu a construção de uma estátua, na Praça Marquês de Herval, em homenagem ao escritor José de Alencar, no centenário de seu nascimento:

"Em sessão extraordinária, realizada sabbado ultimo, a Associação Cearense de Imprensa, deliberou promover uma grande subscripção publica, destinada á erecção, em Fortaleza, a 1º de maio de 1929, e uma estatua de José de Alencar, commemorativa do centenário de seu nascimento..."¹

O intuito da Associação Cearense de Imprensa era angariar recursos financeiros com o apoio de órgãos e instituições importantes em Fortaleza. Foi proposta à Empresa Luiz Severiano Ribeiro e a outras empresas de diversão (cinema, teatro), a adoção de um imposto especial de 10% sobre as respectivas entradas. 



Monumento José de Alencar - Acervo Clóvis Acário

No entanto, tal imposto não foi aceito por Severiano Ribeiro, que sugeria outra forma de colaboração de sua parte:

O monumento a José de Alencar 

"o offerecimento do sr. Severiano Ribeiro Consultado pela Associação de Imprensa sobre se concordaria em crear um imposto especial nos cinemas, de sua propriedade, para auxilio á erecção de um monumento a José de Alencar, o sr. Luiz Severiano Ribeiro manifestou-se  enthusiasta da idéa da homenagem ao nosso maior escriptor, mas achava que a medida da adopção de uma taxa, não era acceitavel por vários motivos, dentre os quaes se salientava o onus que acarretaria directamente, para sua empreza, pois o publico forçosamente se retrahiria, com essa nova taxação nas entradas dos cinemas. A seu ver o cinema deve ser uma diversão eminentemente popular, ao alcance de todos, e não um passatempo que, por seu preço, se nivele ao Theatro, como o entendem alguns emprezários do paiz, sobretudo do Rio. Ali como em Recife, em Fortaleza, ou em outras capitaes onde possue casas daquelle genero, sempre se oppõe, terminantemente, á elevação do preço das entradas, já não tanto pela diminuição da renda, como, sobretudo, pela da frequencia. Um preço elevado, muitas vezes, compensa o descrescimo de espectadores. Mas o Cinema foge á sua finalidade, que não somente dar lucro aos que o exploram, mas principalmente, divertir o público, para que foi feito, e do qual deve ser sempre, a recreação por excellencia.  
Assim o imposto alvitrado não podia ser acceito.
Outros meios porém, havia, de a sua empreza concorrer para o exito da bellissima causa em que todos os cearenses estão empenhados. Seus cinemas ahi estavam, á disposição da Associação Cearense de Imprensa, que nelles podia realizar, uma vez por mez, festivaes, beneficios, etc. ou, mesmo sessões cinematographicas, cujos productos, d’duzida uma pequena percentagem para o pagamento do aluguel dos films exhibidos, reverteriam em favor da creação da estatua de José de Alencar."

Na década de 1920, a relevância do cinema e da Empresa Luiz Severiano Ribeiro os condicionou a participar de tão importante evento na cidade. O empresário Luiz Severiano Ribeiro aceita tal convite pois certamente sua participação neste acontecimento seria importante para a imagem de sua empresa perante o meio social fortalezense, uma vez que a construção do monumento a José de Alencar envolvia os mais importantes membros da sociedade local. 
No entanto, sua colaboração ocorreria desde que não ficasse comprometida sua prática comercial, ou mais precisamente, o seu lucro, seus rendimentos. De acordo com Luiz Severiano Ribeiro, o cinema deveria ser uma diversão voltada para um amplo público, não se restringindo o acesso às salas apenas a quem pudesse pagar mais. Ele não nega a finalidade lucrativa do cinema, mas alega que não poderia aceitar o imposto de 10%. O que Luiz Severiano Ribeiro não queria de modo algum era aumentar o preço dos ingressos pois tal
questão já era alvo de reclamação por parte dos frequentadores, que achavam excessivo o ingresso cobrado, que sem a taxa já chegava a até 3$300. 
Em termos comparativos, o teatro possuía entradas mais dispendiosas do que o cinema, chegando os ingressos mais caros do Teatro José de Alencar ao valor de 20$000 (Frisa).

Contudo, este era o único grande teatro da cidade e possuía frequentação restrita ao público que pudesse desembolsar tal quantia, como a elite comercial e intelectual, em consonância com as práticas elitizadas em voga, que exigiam a frequentação de espaços de distinção como o Teatro José de Alencar. A proposta de Luiz Severiano Ribeiro era a de que não houvesse a taxação de 10%, mas uma vez por mês, suas salas de exibição cinematográfica estariam disponíveis para a Associação Cearense de Imprensa, desde que a mesma pagasse o aluguel dos filmes exibidos. 
Pelo visto, para que a colaboração ocorresse, Severiano Ribeiro precisava lucrar de algum modo, então, para o aluguel dos filmes exibidos seria cobrada, “uma pequena percentagem”. E chegou a ocorrer, no Cine Moderno, uma exibição cinematográfica com tal intuito:  

MODERNO – Amanhã – 
Na “Soirée da Moda” a obra imortal de José de Alencar filmado no Brasil pela 
PARAMOUNT” 12 actos O GUARANY em beneficio da construção da estátua 
de José de Alencar.

Cartaz do filme O Guarany - Acervo Veja SP

A “Soirée da Moda” era a sessão noturna do Cine Moderno, que era a sala de exibição cinematográfica mais requintada e elegante de Fortaleza. O filme exibido era uma produção nacional, do ano de 1926, filmada por Vittorio Capellaro / Paramount Pictures
Será que o cinema teria sido incluído nas instituições colaboradoras no final do século XIX quando tal atividade era feita de forma itinerante e para um público diferente do atual, no caso o público da década de 1920, considerado “distinto”? Ao que parece, a importância do cinema nesta década de 1920 lhe deu essa condição de ser incluído entre as “nobres” instituições colaboradoras, uma vez que as salas de cinema pertencentes à Empresa Luiz Severiano Ribeiro eram frequentadas por uma elite composta por comerciantes, profissionais liberais e intelectuais, o que já é um significativo indicador da relevância do cinema na cidade de Fortaleza, neste período, para estes membros da sociedade local. 
Ao longo deste capítulo, mostramos as relações sociais que Luiz Severiano Ribeiro foi tecendo ao longo dos primeiros anos de sua trajetória comercial, onde a presença de Alfredo Salgado foi extremamente significativa nesta rede de sociabilidade composta por membros da “alta sociedade”, como por exemplo, a elite comercial, que era frequentadora das salas de exibição cinematográfica da Empresa Luiz Severiano Ribeiro. 

O convite da Associação Cearense de Imprensa a Luiz Severiano Ribeiro é algo significativo para percebermos a sala de exibição cinematográfica como integrante de redes da cidade.
Em Porto Alegre, na década de 1920, também houve um caso de cobrança de taxas dos cinemas. Na capital gaúcha, tal cobrança não era em beneficio da construção de alguma estátua, mas também não foi bem recebida pelos envolvidos na atividade cinematográfica:

Durante a década de 20, o cinema também foi motivo de grandes discussões políticas devido ao Imposto de Caridade, que taxava os espetáculos artísticos da cidade, provocando vários conflitos entre os intendentes José Montaury, Otávio Rocha e Alberto Bins, os exibidores e os distribuidores, que culminou com uma greve das salas de cinema, no início de 1929. A taxação era de 10% sobre a renda bruta das entradas, o que provocou a ira dos proprietários de cinemas.

Ao que parece, o uso das salas de exibição cinematográfica pelo poder público, tanto em Fortaleza quanto em outras capitais brasileiras, como Porto Alegre, poderia ser algo conflituoso caso os interesses comerciais dos proprietários destas salas fosse comprometido. 
A utilização das salas de exibição cinematográfica da Empresa Luiz Severiano Ribeiro era feita por outras instituições, certamente devendo ser também cobrado o uso destes espaços. Neste mesmo ano de 1928, em outra propaganda, agora do Cine - Theatro Majestic Palace, era anunciada a exibição de uma peça teatral:

Peccados da Mocidade”  hoje no Majestic 

"Subirá á scena hoje, no Majestic, a chistosa comedia musicada de Carlos Camara: Peccados da Mocidade, que tantos applausos há alcançado em todas as suas representações. O producto desse espetáculo será applicado na construcção da fachada do teatrinho do Grêmio Dramatico Familiar, no Boulevard Visconde 
do Rio Branco."

O objetivo desta exibição teatral era angariar fundos para o Grêmio Dramático Familiar, instituição fundada a 14 de julho de 1918, pelo teatrólogo cearense Carlos Câmara (foto ao lado). Provavelmente, tal exibição, assim como a do filme O GUARANY, no Cine Moderno, deve ter sido paga.  
Quando Luiz Severiano Ribeiro se pronunciou sobre o apoio à construção da estátua de José de Alencar, ao não aceitar o imposto definido pela Associação Cearense de Imprensa, uma das argumentações apresentadas por ele, como vimos há pouco, foi a de que: “A seu ver o cinema deve ser uma diversão eminentemente popular, ao alcance de todos, e não um passatempo que, por seu preço, se nivele ao Theatro...”

Ele alegava que se opunha à elevação do valor dos ingressos do cinema pois tal prática diminuiria a renda em suas salas e a frequência do público. No entanto, ao longo da década de 1920, as reclamações sobre os altos preços dos ingressos do cinema são constantemente feitas por frequentadores dos Cines Moderno e Majestic, nos jornais e revistas de Fortaleza:

"SODOMA e GOMORRA... O cinema reproduz, fielmente, aspectos da vida real antiga e moderna e (cousa muito curiosa) quando o fabricante de films omitte uma circumstancia, um detalhe qualquer, a firma que os projecta, na téla, corrige a falha e preenche os vazios, de modo a integralizar o quadro, em sua inteira verdade. 
SODOMA E GOMORRA – o nome vale por si uma explicação do film – desvendou, em 1925, aos olhos da população de Fortaleza, o que foi a vida dos habitantes daquellas cidades lendarias. 
Os excessos de toda a ordem ali appareceram em tintas vivas e fortes, impressionando a um público aparvalhado e...explorado. 
O que deixou de surgir na fita, dentro da sala de projecção, não passou despercebido á empresa Luis Severiano Ribeiro, tanto assim que, ao público, se lhe deparou ainda na bilheteria do Moderno e do Majestic: - a orgia do preço (3$300). 
Antes de penetrarem no cinema, os espectadores já haviam comprehendido não apenas Sodoma e Gomorra, mas até Ninive e Babylonia, pagando como pagou os pesados tributos para a riqueza de Balthazar e Sardanapalo
A empresa que não providencia sobre a deficiencia tecnica de seus apparelhos, sobre os eclypses de suas projecções, contra as rupturas de seus films, a empresa que transforma seus salões em sala de fumar, não tem o direito de abusar desse modo do público que assegurou e mantém a sua prosperidade. 
A continuar dessa forma, não se admire se um dia o Sr. Ribeiro de lêr nas taboletas da bilheteria os seus frequentes 3$300 transformados em MANE, TECEL, FARES."

Cena de Sodoma e Gomorra

O filme Sodoma e Gomorra era uma produção austríaca de 14 partes e dividido em duas épocas, com uma  metragem de 2.100 metros correspondente à primeira época e outra de 1.800 metros referente à segunda época.

Esta era uma fita bastante longa e o aumento da duração dos filmes, ao que parece, incidia no 
valor do ingresso. Nos anos de 1920, os filmes já possuíam uma longa duração ao contrário das primeiras exibições cinematográficas, que eram constituídas por fitas curtas de 15 a 350 metros. Se compararmos o preço do cinema com o do teatro, na década de 1920, os espetáculos teatrais possuíam ingressos mais caros que o das sessões cinematográficas: 

• Frisa - 20$000 
• Camarote - 15$000 
• Balcão - 3$000 
• Cadeira de 1ª  - 3$000 
• Cadeira de 2ª  - 2$000 
• Galeria – 1$000 
• Geral – 1$000 


No artigo Sodoma e Gomorra a reclamação do alto preço dos ingressos é reforçada por uma série de argumentos, como a deficiência técnica dos aparelhos, comprometendo a qualidade da projeção, e o ato de fumar durante as sessões.  

Continua...

¹O Ceará, terça-feira, 10 de janeiro de 1928
A estátua foi inaugurada no ano de 1929, centenário de nascimento de José de Alencar, pelo então prefeito Álvaro Weyne. No documento Monumentos do Estado do Ceará, escrito em 1932, o intelectual Eusébio de Souza afirma: A iniciativa dessa justa e expressiva homenagem ao imortal autor de Iracema coube à Associação de Imprensa do Ceará, por proposta de seu presidente dr. Gilberto Câmara, com a mais decisiva e honrosa cooperação do Governo do Estado e todas as classes da sociedade cearense e com o aplauso das elites  mentais do país inteiro. Deve-se ao dr. Gilberto Câmara a parte mais saliente da agigantada e patriótica idéia. Foi um dia de festa para a cidade de Fortaleza, o 1º de maio de1929, da inauguração desse monumento, sendo a mesma honrada, além das autoridades superiores do estado, com a presença do sr. Dr. Juvenal Lamartine, governador do vizinho estado do Rio Grande do Norte. A grande estátua de José de Alencar (...) toda em granito branco de Itaquéra, com formosos motivos decorativos indígenas e dois baixos relevos extraídos do “O guarani” e de “Iracema” – constitui um dos maiores e mais belos monumentos do norte do Brasil. SOUZA, Eusébio de. Monumentos do Estado do Ceará: referência histórico - descritiva. Fortaleza: Secretaria de Cultura do Estado do Ceará/ Museu do Ceará, 2006, p.56-58. 



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Fonte: Nas telas da cidade: salas de cinema e vida urbana 
na Fortaleza dos anos de 1920 - Márcio Inácio da Silva

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

La Trattoria - Mais de 30 anos de tradição


Hoje vou falar do querido La Tratoria, que fez muito sucesso na Praia de Iracema (Rua dos Pacajus), com destaque para a sua primorosa e linda decoração, que proporcionava um ambiente super agradável e aconchegante.

Depois de casar com uma brasileira na Alemanha, onde trabalhou por alguns anos, Giuseppe Franco de Santis, o Alfio desembarcou em Fortaleza em dezembro de 1980. A decisão de iniciar um negócio veio logo quando encontraram uma casa na Praia de Iracema. "Fizemos uma festa de Natal e, no dia seguinte, estava ajeitando umas coisas quando chegou um rapaz que havia me vendido bebidas. Ele insistiu para comer e eu servi a lasanha que tinha sobrado da ceia. Dias depois, com o boca a boca, chegaram outros passantes pedindo pela massa. O plano era inaugurar o restaurante apenas em janeiro de 81, mas o pessoal praticamente invadiu a casa", recorda Alfio. Rapidamente o La Trattoria virou ponto de encontro de amigos e famílias. "A lasanha à bolonhesa virou coqueluche. As massas frescas também vendiam muito. O sucesso foi devido à originalidade do restaurante, tanto em relação à comida quanto à decoração rústica, com móveis de madeira e peças italianas e cearenses", afirma o chef. 

O La Trattoria na Praia de Iracema

Primeiro a trazer a culinária italiana até Fortaleza, Alfio, assim como outros chefs da época, precisou treinar e formar colaboradores. "Quando montei o restaurante, deparei-me com o choque cultural e o despreparo dos funcionários. Os garçons tinham péssimos hábitos, cuspiam no chão, penteavam-se na frente dos clientes", lembra o empresário. "Cheguei a contratar um professor para ensinar alguns a ler". Outra dificuldade era obter alguns ingredientes. "Aqui faltava berinjela, brócolis, chicória. Trazia de São Paulo. Hoje Fortaleza é bem servida de produtos nacionais e importados. Sem falar na vasta gama de vinhos, que antes não existia. O público está mais exigente", comenta o chef. 

O Trattoria do Alfio, foi a primeira casa de massas caseiras

Casa onde funcionou o La Trattoria da Praia de Iracema (O espaço será reformado para abrigar o Centro de Informações Turísticas e a Casa da Lusofonia) - Foto Waleska Santiago


Há 32 anos morando no Ceará, o chef Alfio aprendeu o que sabe sobre cozinha vendo sua mãe preparar uma série de delícias tipicamente italianas. Assim como não perdeu o sotaque de sua terra natal, também não deixou passar cada detalhe do preparo e dos temperos. Ele coloca este conhecimento a serviço do Trattoria do Alfio. Pra quem não sabe, Alfio explica que trattoria é justamente um lugar para receber e tratar bem as pessoas.

Chef Alfio - Foto de Ethi Arcanjo

Após fechar o La Trattoria na Praia de Iracema, o chef passou algum tempo trabalhando na própria residência, mediante reserva antecipada. Em abril do ano passado, o Trattoria do Alfio abriu na Varjota, com o mesmo espírito acolhedor e o sabor que consagraram o primeiro restaurante. No novo Trattoria do Alfio, a lasanha à bolonhesa ainda tem a mesma receita, enquanto outros pratos ganham toques contemporâneos, especialmente graças à influência dos filhos, Paola e Luca, que agora trabalham junto ao pai, além da ex-mulher, Silvia. "Também criei uma lasanha vegetariana, sai muito", gaba-se o chef. Entre uma pergunta e outra, Alfio lembra outros estabelecimentos que marcaram as últimas décadas em Fortaleza. Na lista aparecem o Cirandinha, o Estoril, Agulha Frita, Peixada do Meio e até o Flórida Bar.


Decoração do La Trattoria da Varjota - Foto de Jacqueline Brandão

Álfio foi o pioneiro no lançamento, em restaurante, da culinária tipicamente italiana em Fortaleza. Quando ele instalou o La Trattoria na Praia de Iracema (década de 80) já existiam algumas casas especializadas em pizzas e outras que serviam pratos de massas em suas mesas. Álfio institucionalizou a mesa de repasto com todo o requinte necessário com queijos variados, tomate seco, salames, presuntos, legumes diferenciados pelo preparo e carnes temperadas para composição da degustação inicial do comensal. Álfio permanece com a sua Trattoria e mantém as lasanhas verde e a bolonhesa que são estrelas da casa juntamente com suas massas e pães caseiros.

Foto de Jacqueline Brandão

O La Trattoria marcou época em Fortaleza na década de 80, funcionando na Praia de Iracema. Fechou no endereço original há uns 9 anos e reabriu depois de algum tempo na residência de seu proprietário. No ano passado, ganhou um novo endereço na Varjota, para alegria dos seus clientes.

"Visitar o La Trattoria da Varjota é como entrar num túnel do tempo e lembrar da inesquecível casa da Praia de Iracema, onde era possível ouvir o barulho das ondas quebrando nas pedras e sentir o cheirinho do mar. Nostalgia pura!!"
Helena Demes

Foto do acervo da Fan Page do Trattoria

Fachada do Trattoria na Varjota - Acervo da Fan Page do Trattoria

Dica do Chef: 

Bruschetta...
Antepasto italiano feito à base de pão. Existem diversas variações, sendo bastante conhecida a bruschetta de tomate, que leva, por cima da fatia de pão, tomates e manjericão.
"Há outras combinações de ingredientes, basta escolher de acordo com seu gosto, como: folhas de rúcula, rodelas de tomate fresco, tomate seco, ricotta, coppa e mussarela de búfala.
Para uma boa bruschetta é imprescindível ingredientes de qualidade, começando pelo pão!" (Chef Alfio)



O Studio Viva conta a história do Alfio e do seu Trattoria

Para quem ficou com água na boca, o Trattoria fica na Rua Professor Dias da Rocha, 303, na Varjota.


Fontes: Guia do Sabor, Jornal O Povo e Diário do Nordeste

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Tragédia na inauguração da Av. Leste-Oeste


Primeiro trecho asfaltado da Avenida Leste-Oeste em 1973 
Arquivo O Povo

Em 20 de outubro de 1973, com a presença do Ministro do Interior, Costa Cavalcante, são inauguradas várias obras, entre elas, a primeira etapa da Avenida Marechal Castelo Branco (Avenida Leste-Oeste).
Durante as comemorações aviões faziam evoluções, quando um deles se desgoverna e se projeta sobre três casas na Rua Gomes Parente, no Pirambu, matando mais de uma dezena de pessoas e deixando dezenas de feridos.
O Xavante era pilotado pelo tenente aviador Pedro Rangel Molinos, que era gaúcho.

"O bairro onde nasci e me criei, em Fortaleza, tem a curiosa peculiaridade de várias de suas ruas serem identificadas por dois nomes, um oficial e outro atribuído pela população local.

A rua Pedro Artur, mais conhecida como Rua Sete de Setembro  
Imagem Google Street View

Por exemplo, a minha casa ficava em uma rua chamada oficialmente de Pedro Artur, que era – e ainda é – conhecida como Rua Sete de Setembro. O nome da rua dos fundos da casa é Monsenhor Rosa, mas todos a chamam de Rua Mossoró. Basta caminhar até a esquina para chegar à Dom Hélio Campos, apelidada de Rua da Felicidade.

Pode ser estranho, mas é um traço cultural tão forte do lugar, que o próprio bairro chama-se oficialmente Nossa Senhora das Graças, mas qualquer fortalezense que passa por ali sabe que está atravessando o Pirambu.

 1937. Estamos no Arraial Moura Brasil, na parte de baixo, atual Avenida Presidente Castello Branco (Leste-Oeste). Vemos a Comunidade de Santa Teresinha em torno de sua capelinha, que foi a única a resistir quando a avenida foi rasgada.
Em 1936-37, o Arraial Moura Brasil foi urbanizado. Acervo Lucas.
No começo dos anos 1970, a minha rua era uma das mais importantes do bairro, porque era a via por onde circulavam os ônibus que faziam a linha para o centro da cidade. Foi assim até 1973, quando foi aberta a Avenida Presidente Castelo Branco, apelidada imediatamente de Leste-Oeste, porque segue paralela à margem do Oceano Atlântico, ligando o Mucuripe (Leste) à Barra do Ceará (Oeste).

 O bairro Arraial Moura Brasil muito antes da construção da Avenida Leste-Oeste

Para os meninos da minha idade, foi uma ótima mudança, já que, sem os ônibus circulando, ficou mais seguro brincar na rua, mas a melhor parte aconteceu mesmo antes da inauguração da avenida, no período de sua construção.

Primeiro foi brincar nos escombros das casas desapropriadas, que as pessoas foram abandonando, levando portas, janelas, telhas e outros de seus pedaços, para aproveitar na construção da nova moradia. O cenário de destruição era perfeito para brincar de guerra e esconde-esconde, numa época em que as crianças podiam usar armas de brinquedo, e os pais não morriam de medo quando passavam horas sem saber onde os filhos estavam.

Foto publicada no Jornal O POVO, em 05/10/1974. Importante via de ligação entre o Porto do Mucuripe e a Barra do Ceará - a Avenida Presidente Castelo Branco - foi entregue ao público, como uma das maiores obras da administração do prefeito Vicente Cavalcante Fialho.

Depois, veio o tempo de assistir ao espetáculo das máquinas trabalhando. Ficávamos maravilhados com a força dos tratores de esteira, derrubando as últimas paredes que restavam das casas, revirando tudo e fazendo grandes montanhas de entulho. Sim, montanhas, porque, para um menino de sete anos, eram enormes aqueles montes de terra e, quando os tratores paravam, sempre achávamos um jeito de brincar neles. Depois vinham as pás mecânicas e punham toda aquela terra em caminhões que a levavam não se sabia para onde.

Máquinas de terraplanagem, de compactação, de colocação do asfalto, conhecíamos cada uma delas, certamente que por nomes diferentes desses que uso hoje.

Inauguração da 1ª etapa da avenida em 1973 - Arquivo Nirez

Até que chegou o dia da inauguração, acredito que em outubro de 1973. Meu pai estava trabalhando, mas eu e meu irmão fomos com minha mãe ver a festa. Havia muita gente, carros, banda de música, caminhões de bombeiros e militares com fardas de todos os tipos.

 A grande festa de inauguração - Arquivo Nirez

Eu nunca tinha visto nada parecido. De repente, ouvimos um barulho estranho, vindo do céu, e quatro aviões Xavante passaram sobre nossas cabeças. Voavam baixo, fazendo o que depois me diriam que era um voo rasante. Seguiram assim por mais alguns instantes e, de repente, subiram, quase na vertical, diante dos nossos olhos atentos e atônitos.
Mas, no meio da subida, um dos aviões passou a se comportar de modo estranho. Não acompanhava mais os outros, girava, rodopiava… Apontou o bico para baixo e sumiu por trás das casas. Uma imensa coluna de fumaça negra ergueu-se no ar.

Foto da inauguração da Avenida Presidente Castelo Branco, publicada no Jornal O POVO, em 07/10/1974. Milhares de estudantes de vários colégios de Fortaleza ficaram colocados ao longo da avenida, formando ala dupla para a passagem das autoridades que chegaram ao lado do Forte Nossa Senhora da Assunção.

Foi como se, por alguns segundos, tudo houvesse ficado em silêncio. Como se o tempo houvesse parado um pouco para que as pessoas pudessem entender o que estava acontecendo. Acho que eu nem respirava.

- Caiu! – gritou alguém.

Foto do Xavante que caiu sobre as casas no Pirambu - Arquivo O Povo

E o tempo voltou a funcionar. Houve gritos e correria. Verdadeiro pânico tomou conta da multidão. Lembro bem de um caminhão de bombeiros saindo, com a sirene ligada, um de seus soldados correndo e se pendurando nele.

Um modelo Xavante está exposto na Base Aérea. A aeronave marcou a história da aviação de caça brasileira - Arquivo Diário do Nordeste

Olhei de novo para a coluna de fumaça. Mesmo tendo apenas sete anos eu podia perceber que sua base ficava bem na direção da nossa rua. Acho que minha mãe também percebeu isso, porque não queria nos levar para casa. Entramos apressados em um táxi que não sei de onde surgiu e fomos para a casa de uma amiga da família, um pouco distante da nossa.

Dona Geralda prometeu cuidar de nós enquanto minha mãe ia ver como as coisas estavam. Ficamos ali o dia inteiro, esperando notícias. Se fosse hoje teríamos procurado alguma coisa na TV ou na Internet, mas, naquele tempo, tivemos que aguardar até nossa mãe chegar, já no final da tarde, e nos levar para casa. Nosso pai já nos esperava lá.

Sim, a nossa casa continuava de pé. O avião caíra a uma quadra e meia dela, uns duzentos e cinquenta metros ao leste, segundo posso ver hoje nos mapas do Google.


Fomos dormir tarde da noite, depois de ouvir as muitas histórias que foram sendo contadas por vizinhos que a toda hora apareciam para conversar com meu pai.
No dia seguinte, de manhã bem cedo, eu e meu irmão fomos com meu pai ver o local do acidente. A cratera era imensa. Não sei quantas casas foram destruídas. Lembro que saía fumaça de alguns pontos do chão. Em um dado momento, soltei a mão de meu pai e me aproximei de algo parecido com uma pedra:

- Papai, tem uma coisa aqui! Tá meio enterrado, mas…

Meu pai revirou a terra com um pedaço de madeira e pudemos ver que era o pé de uma das vítimas. Um pé grande, de homem adulto, com um pouco de pele da perna todo encolhido, parecendo carvão. Fiquei olhando para aquele pé, até que um homem fardado aproximou-se e o recolheu.

Minutos depois voltávamos para casa, conversando sobre o que vimos ali. Alguns dias mais tarde, fiquei sabendo que treze pessoas haviam morrido no local, incluindo o piloto do avião.

Rua Gomes Parente, lugar da queda do avião 
Imagem Google Street View

A rua onde o acidente aconteceu chama-se Gomes Parente, e naquele tempo não tinha um segundo nome. Não tinha, porque desde então passou a ser conhecida como Rua do Avião."

Marcos Mairton

A Leste-Oeste nos anos 70

Uma segunda visão do ocorrido:

"No ano de 1973 eu tinha 16 anos e estudava no Colégio Estadual Liceu do Ceará cursando a 7ª Série. Durante a semana que antecedeu o dia da inauguração da Av. Leste Oeste fomos informados que o Liceu iria desfilar, usando o mesmo fardamento do desfile que acontecera no dia 7 de Setembro.
Na manhã daquele Sábado acordei cedo, vesti minha farda engomada no grude, no capricho, amarrei uma fitinha verde e amarela no punho e me mandei para o local da solenidade. Desci do ônibus na Praça do Liceu e fui a pé para a Marinha, misturado com outros alunos que também haviam sido convocados.
O Liceu foi um dos últimos a desfilar. Já passava do meio dia quando nos dispersamos. Alguns alunos foram para suas casas e outros, como eu, ficaram observando o final da solenidade. Os caças Xavantes já haviam dado alguns voos rasantes, mas neste último, eles surgiram em número de três, sobrevoando a Marinha no sentido sertão mar. Ao passarem sobre o palanque das autoridades armado junto ao muro da Marinha, eles empinaram e subiram quase na vertical. Lá no alto um deles começou a expelir uma fumaça negra e por uma fração de segundos ele fez uma pirueta no ar, como se tivesse desgovernado, lembrando uma folha seca ao sabor do vento. Em seguida empinou o bico para baixo e descreveu uma diagonal caindo inapelavelmente no solo, sobre umas residências. A queda foi tão rápida que o piloto não teve nem tempo de ejetar o assento e acionar o paraquedas. Os outros dois Caças interromperam as manobras e voltaram à Base. 
O Avião caiu, ouviu-se o grito da multidão que corria desesperada na direção da coluna de fumaça negra que se erguia do local onde o avião caíra. E eu correndo junto da multidão, pulando cercas, pulando arbustos, me esquivando dos pés de mata-pasto, dos pés de salsa, vencendo a areia fofa típica de região praiana. Lembro ter passado junto a um muro de uma fábrica, creio que era os fundos da antiga Cibresme e corri mais um pouco até chegar numa rua estreita. De onde eu estava dava para ver e escutar o crepitar das chamas consumindo o que restou do avião, a parte traseira de uma casa e um pé de castanhola. Considerando a multidão que acorrera ao local do sinistro, creio que eu fui um dos primeiros a chegar. As pessoas contemplavam a cena caótica e se entreolhavam como se tivessem procurando uma explicação para aquele desastre.
De repente eu vi uma cena que me deixou estupefato, lívido, sem ar nos pulmões. Era como se eu tivesse levado um potente soco na boca do estômago. A boca ficou seca, um gosto amargo de fel na boca. Eu só pensava em sair daquele local o mais rápido possível. A minha curiosidade se escafedeu como que por encanto e fui forçando a passagem entre as pessoas, que assim como eu também ficaram chocadas com a imagem, como se não acreditassem no que estavam vendo. Às duras penas consegui sair dali e chegar numa rua que ia dar na Av. Francisco Sá, na altura da passagem de nível que fica próximo da Brasil Oiticica. Apanhei o ônibus e fui pra casa tentando esquecer o que tinha visto. Mas nós não dominamos nossos pensamentos. Por mais que tentasse, a cena aparecia viva na minha frente. Naquele dia não almocei e passei uma semana sorumbático, triste. O assunto da queda do avião dominou a cidade por vários dias. 
A cena que me deixou chocado foi ver uma garota totalmente despida, pelo tamanho dos seios, do tamanho de limões, e pela rala penugem que cobria a vulva, ela deveria ter no máximo uns doze anos. A pele toda se soltando, como se fosse papel se descolando em tiras. Por baixo da pele era uma cor branca como se ela não tivesse sangue. Os cabelos na altura dos ombros se encontravam úmidos, como se tivessem sido molhados com uma espécie de gosma, não eram soltos, eram grudentos. Os olhos esbugalhados em tempo de sair pelas órbitas fitando as pessoas, suplicando ajuda, porém sem gemido, sem dizer uma palavra, trespassada de dor, sem entender o que houvera acontecido. Não sei se ela se encontrava no banho, no momento que o mundo desabou sobre a casa dela, ou se ela livrou-se das vestes ao ser encharcada com a gasolina altamente volátil do avião e pegado fogo.
Uma Senhora se aproximou da garota trazendo uma toalha branca umedecida e a cobriu. Alguém solicitou ajuda para leva-la ao hospital e prontamente um Senhor se apresentou se oferecendo para transportá-la. Embarcaram numa C-10 branca e foi à última vez que vi aquela garota. Não sei se ela sobreviveu. Passado tanto tempo, 45 anos depois daquela fatídica manhã eu ainda lembro com uma impressionante riqueza de detalhes."

Santos Souza

Alguns Acidentes

junho de 1967 o jato da FAB explode na Usina Evereste. Dez pessoas morreram e 22 ficaram feridas.
1967 avião cai em Messejana. Morreram o ex-presidente Castelo Branco, seu irmão, Cândido Castelo Branco, e três outras pessoas.*
1967 Um caça não municiado (TF-33) da Força Aérea Brasileira sob comando do 1º Tenente Renato Ayres, chocou-se com violência contra os verdes-mares do Mucuripe. O impacto causou uma explosão imediata chocando a população que assistia perplexa.**
1973 um Xavante cai no Pirambu, matando 13 pessoas.
1981 Caça cai no mar, matando piloto.
1981 Xavante cai na Barra do Ceará.
1982 Boeing 727 "Super 200" da Vasp choca-se com a Serra de Aratanha, matando 135 pessoas.
1987 Xavante decola e cai em seguida, na área militar do Aeroporto Pinto Martins.
1989 Bimotor cai na Lagoa da Parangaba.
2007 Em abril, o Boeing 737-300 da Gol fez um pouso forçado, derrapando 15 metros e saindo da pista, depois atolando na lama. 

Diário do Nordeste


*Notícia de 18 de julho de 1967: "Ontem, no Ceará, uma colisão aérea vitimou o ex-presidente Castelo Branco, que havia deixado a Presidência da República há quatro meses.
O avião em que ele estava, com mais seis pessoas, foi atingido na cauda por um caça militar e caiu em "parafuso". Sem grandes problemas, o jato da aeronáutica conseguiu pousar na sua base. Quanto ao bimotor abalroado o resultado foi trágico: com excessão do co-piloto, salvo milagrosamente, todos os demais morreram no choque da pequena aeronave com o solo." Escapou o co-piloto Emílio Celso. Morreram, o Comandante Celso Tinoco Chagas,  a escritora Alba Frota, o Marechal Castello Branco, seu irmão Cândido Castello Branco e o Major Assis.  Circularam rumores de que o avião do ex-presidente teria invadido a zona destinada ao avião da FAB.

**O dia era 22 de outubro de 1967 e milhares de pessoas lotavam a faixa de areia do Iate Clube até a Praia de Iracema para assistir ao show aéreo prometido para aquele dia como parte das comemorações da semana da asa. Dez aeronaves participavam do evento e até um alvo incendiário foi montado dentro da Enseada do Mucuripe para demonstrações de tiro.





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Créditos: Diário do Nordeste, Jornal da Besta Fubana e 

Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo

sábado, 18 de agosto de 2012

A Era das Estrelas do Rádio


Auditório da Ceará Rádio Clube localizada no Ed. Pajeú - Livro Os Dourados Anos de Marciano Lopes

Na década de 1950, quando Fortaleza era uma pequena e recatada urbe, dez vezes menor do que é hoje, a façanha de se conseguir um ingresso para programas de auditório na Ceará Rádio Clube (PRE-9) ou Rádio Iracema (ZYR-7), as duas únicas emissoras de rádio então existentes na cidade, tornava-se algo tão disputado quanto é hoje garantir um lugar na plateia do cinema que exibe 3D.

Geralmente realizados nos finais de semana, já às quartas-feiras todos os ingressos estavam vendidos a uma plateia essencialmente democrática, que abrangia desde empregadas domésticas até respeitáveis matriarcas de importantes famílias locais.

Cantora Maria José de Deus (Celina Maria), da ZYR-7, Rádio Iracema - Livro Os Dourados Anos de Marciano Lopes


Entre os programas de maior popularidade na PRE-9, em seu simpático e sempre superlotado auditório do edifício Pajeú, estavam "Divertimentos em Sequência", comandado em sua fase áurea por João Ramos, um dos mais talentosos profissionais da comunicação cearense em todos os tempos, e o "Noturno Pajeú", tendo à frente Augusto Borges e, numa fase mais recente, Paulo Limaverde.



Para as crianças, havia a atração irresistível do "Clube Papai Noel", na manhã dos domingos, inicialmente apresentado por um jovem que viria a se tornar prefeito de Fortaleza aos 28 anos, em legítima eleição popular: Paulo Cabral de Araújo. Na Rádio Iracema, fazia sucesso o "Fim de Semana na Taba", onde Armando Vasconcelos reinava absoluto às noites dos domingos.

Além de apresentarem atrações nacionais e internacionais, as duas emissoras fortalezenses contavam com um trunfo imbatível para sua magnífica receptividade junto ao público: eram as estrelas da própria terra alencarina, como se dizia nos anos 50 e 60, com seus aguerridos clubes de fãs, tão queridas e aplaudidas na época quanto hoje o são famosos artistas da televisão.


Ayla Maria foi descoberta a partir dos pastoris que se apresentavam na praça José de Alencar. Ela acabou sendo ‘A voz orgulho do Ceará’ - Livro Os Dourados Anos de Marciano Lopes e Arquivo Nirez

Os homens também tinham vez e voz, é claro, mas as mulheres alcançavam maior destaque na seara artística local. Cada artista possuía um estilo próprio com o qual conquistava seus admiradores.

Havia o romantismo de Maria Guilhermina e Zuíla Aquiles; o charme adolescente de Fátima Sampaio e Lúcia Sampaio; as vozes harmônicas e de longo registro das Irmãs Vocalistas (Cleide e Adamir Moura); a rivalidade encenada pelos tietes das estrelas Ayla Maria¹ e Ivanilde Rodrigues, ambas ainda a cumprir marcante desempenho no teatro.


Entre o público masculino, criava intensa empolgação o gingado irresistível de Keyla Vidigal, uma espécie de precursora de Wanderléia e Clara Nunes no completo domínio de palco.

Keyla Vidigal - Livro Os Dourados Anos de Marciano Lopes

Sem esquecer o carinho concedido pelos fãs de Telma Regina, Vera Lúcia, Marilena Romero, Ísis Martins e tantos outros talentos dignos do painel de honra das grandes intérpretes brasileiras. Dessa forma, conquistaram espaço no cenário artístico, na cultura e na história do rádio cearense.

Assim como Keyla, Thelma Regina encantava o público com o talento vocal e estilo sofisticadoLivro Os Dourados Anos de Marciano Lopes

Isis Martins - Coisas que o Tempo Levou - A Era do Rádio no Ceará de Marciano Lopes

Curiosidades

Zuila aquiles - artista da Ceará Rádio Clube, fazia o gênero cantora de câmara, apresentava-se semanalmente, à noite, e não costumava cantar em auditório.

Maria guilhermina - foi aclamada como estrela da canção portenha. O tango era o principal gênero do seu repertório.

Lúcia Elizabeth - era jovem e simpática. Sobrinha de Vera Lúcia, também pertencia à casta da Rádio Iracema.

Cleide Moura e adamir moura - eram as irmãs vocalistas da Ceará Rádio Clube. Muito talentosas, arrancavam aplausos entusiásticos da platéia.

Marilena Romero - Livro Os Dourados Anos de Marciano Lopes


Marilena Romero - teve grande atuação fora dos palcos da rádio. Especialista no gênero musical "buate" fazia muito sucesso cantando na noite.

Thelma Regina - chamava a atenção do público pela elegância. Apresentava-se em trajes de gala que destacavam ainda mais sua beleza.

Fátima Sampaio - iniciou a carreira como cantora ainda menina, no programa infantil das manhãs de domingo da Ceará Rádio Clube.

Ísis Martins - começou cantando com duas irmãs. As três ficaram conhecidas como as "pastoras" do cantor Paulo Cirino. Depois, Ísis se lança na carreira solo.





¹AYLA MARIA (Foto ao lado, com o ex marido Armando Vasconcelos) - Nome artístico de Maria Ayla da Silva Vasconcelos. Natural de Monsenhor Tabosa. Veio criança para Fortaleza e logo foi admitida no programa Clube do Papai Noel, da Ceará Rádio Clube; passou-se depois para a Rádio Iracema. Representou o Ceará no Festival de Música Brasileira (1958, Maracanãzinho, Rio de Janeiro), alcançando imenso sucesso com sua interpretação de Babalu. Como cantora, apresentou-se também em outras cidades do Brasil, principalmente as do Nordeste. Integrou a lista de melhores da Revista do Rádio (1965). Destaque da TV Ceará. Disco de Ouro da Associação Cearense de Rádio. Jornalista: “Gazeta de Notícias”. Foi a Mitz da opereta Valsa Proibida, de Paurilo Barroso, na montagem de 1965; participou da remontagem das principais burletas de Carlos Câmara, bem como de espetáculos da Comédia Cearense. Pelo seu espírito filantrópico, apresentou-se em entidades assistenciais, recebeu Bênção Especial do Santo Padre Papa Paulo VI.





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Créditos: Diário do Nordeste de 14/02/2010, 
Os Dourados Anos de Marciano Lopes, AOUVIR e Arquivo Nirez

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: