Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
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Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

sábado, 17 de novembro de 2012

Riacho Jacarecanga - Antigo Timbó


Álbum Vistas do Ceará 1908

O riacho Jacarecanga nasce (segundo Decreto n°15274 de 25 de maio de 1982) nas proximidades do cruzamento da Avenida Bezerra de Menezes com a Rua 14 de Abril, local onde acaba o Rio Pajeú e sua foz localiza-se na Praia do Kartódromo

Avenida Bezerra de Menezes

Por volta da década de 80, o riacho Jacarecanga tornou-se de grande importância na região por localizar-se em um bairro Nobre. Ele era considerado uma área de lazer do Bairro Jacarecanga de Fortaleza, onde as pessoas aproveitavam a limpidez do riacho e tomavam banhos refrescantes em dias ensolarados. Aproveitava-se o riacho para a prática de pesca de peixes ornamentais e entretenimento dos moradores. 

Em 1915, devido a seca no sertão nordestino, registrou-se a grande migração de sertanejos do interior do Ceará para a capital em busca de melhor qualidade de vida. A migração prejudicou o crescimento ordenado da cidade, favorecendo o aparecimento de moradias irregulares. Com isso, pessoas de condições socioeconômicas desfavoráveis começaram a ocupar as proximidades do bairro Jacarecanga, deslocando a elite para o bairro Aldeota

Nessa época, a praia era conhecida como Praia do Kartódromo

A praia lotada...e essa areia vermelha... Essa é a praia da Leste (ou Praia do Jacarecanga) e a areia vermelha (piçara) era o aterro feito na construção da Av. Leste Oeste. Nessa época não tinha ainda as barracas e nem o péssimo cheiro da estação de tratamento da Cagece.

No final da década de 1980 e início da década de 1990, instalou-se na Praia do Jacarecanga (Leste-Oeste) uma Estação de Tratamento de Esgotos. Logo, esses acontecimentos influenciaram bastante para que houvesse uma grande desvalorização do bairro, com a instalação definitiva de uma população de menor poder aquisitivo e escolaridade, além da desassistência pelos órgãos público-governamentais. 
A partir de então, residia no local não mais a elite, mas os pobres que não reconheciam seus direitos perante o governo e que assim não reivindicavam as condições básicas de vida como, por exemplo, o saneamento básico da referida área. Deu-se início aos depósitos de entulho no leito do riacho e esgotos clandestinos com desembocadura no córrego em questão.

O riacho Jacarecanga foi sendo degradado ambientalmente. A mata ciliar desmatada para ocupação das moradias irregulares, que em tempos chuvosos, eram inundadas, facilitou o assoreamento do seu leito, eutrofização das águas do riacho e a proliferação de vetores como insetos, ratos e caramujos, responsáveis por riscos à saúde humana.

Lagoa (riacho) Jacarecanga em foto do Álbum Vistas do Ceará 1908.

A foz do riacho Jacarecanga, que antigamente chamava-se Timbó, já era registrado pelos holandeses, quando estes estiveram no Ceará (Mapa de Fortaleza de 1649).

Às margens esquerda e foz deste foi construído em 1749 uma fortificação militar Reduto de Jacarecanga*, neste mesmo local nos dias de hoje localiza-se a Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará.
Com a expansão territorial de Fortaleza no século XIX, as margens do riacho Jacarecanga começa a ser consolidada como um bairro com casas de veraneio e igrejas ou conventos, como o Instituto Bom Pastor.

Localizado em parte na Avenida Francisco Sá, nas proximidades do Colégio Militar do Corpo de Bombeiros, o riacho Jacarecanga apresenta-se como uma grande fonte histórica para o bairro que lhe dera nome.
Durante várias décadas, o riacho Jacarecanga apresentou-se como uma rica fonte de sustento para a população do bairro, que pescavam em abundância os peixes das mais variadas espécies, algumas delas ornamentais. O riacho também foi uma área de lazer para os moradores que diariamente banhavam-se em suas águas.
Entretanto, ao iniciar-se o século XX, com a situação apresentada no Ceará, em virtude das migrações de povos do interior, o riacho acabou por ter suas margens indevidamente ocupadas por construções irregulares. Tal ocupação resultou em um processo negativo, uma vez que a mata ciliar que dava proteção fora desmatada, deixando as condições estruturais do solo em um índice de tal fragilidade que formou-se blocos de terra no leito do riacho, levando a uma gradual diminuição do nível das águas.
Não só esse processo levou a uma deterioração do riacho, o acúmulo de dejetos produzidos pelos migrantes as margens do riacho foi aumentando de tal forma que acabaram sendo carregados juntamente com os deslizamentos de terra, depositando-se nas águas do riacho e acarretando, consequentemente, um processo contaminativo das águas.

Foto Sbpcnet.org

Hoje o riacho passa por uma acentuada degradação ambiental, está com o seu leito muito poluído, suas margens estão cobertas por entulhos, exala um odor muito forte, provocado pelo lançamento de esgotos, dentre outros problemas. O riacho Jacarecanga apresenta-se como uma fonte de depósito de resíduos dos mais diferentes tipos: orgânicos, plásticos, domésticos, etc.
O riacho tem uma extensão de 2,02 km. Há um índice de contaminação de 16000 coliformes fecais (micro-organismos presentes em águas contaminadas) por 100 ml (TONIATTI, Mariana – O POVO online).

Crédito da foto: http://connepi.ifal.edu.br

A população que mora ao redor do riacho reclama muito porque os órgãos públicos não realizam obras de revitalização do córrego em questão, o que seria de extrema importância para melhorar as condições de vida da área em estudo. Contudo, a própria população ainda persiste nos hábitos de depositar lixo doméstico nas margens, escoar seus esgotos para o leito do riacho, desmatar a mata ciliar, realizar queimadas de lixo, dentre outros.

Atualmente, o riacho poderia até ser um local de lazer para a população, servindo inclusive como fonte de renda para alguns, mas devido às ações contínuas de degradação ambiental,
decorrentes de ações antrópicas irresponsáveis, foi mais um exemplo claro do desrespeito e desvalorização ao meio ambiente.
No riacho Jacarecanga o descaso ambiental assumiu patamares alarmantes. Há uma grande quantidade de lixo nas margens e águas do riacho.

Esgoto doméstico despejado no leito do Riacho Jacarecanga - Crédito da foto: Connepi2009

Segundo comentários da reportagem realizada pelo jornal Diário do Nordeste em 27 de Dezembro de 2007  "Com os canais e riachos cheios de lixo, a chegada das chuvas é um alerta para a população e para o poder público. Diversos mananciais da Cidade, em áreas onde é comum acontecer inundações e alagamentos, estão tomadas por lixo, vegetação e entulho. A pior situação, no entanto, acontece no riacho Jacarecanga, com tanto lixo que a quantidade de água que circula não é suficiente para escoá-lo". 

Os moradores da região são responsáveis pela maior parte dos resíduos encontrados no local. Entretanto, constata-se que os moradores vivem um paradoxo, pois justificam suas ações afirmando que a falta de coleta de lixo e a carência financeira os levam a jogar seus detritos nas margens do riacho e até mesmo dentro de seu leito, ao mesmo tempo em que afirmam a importância da conservação das condições da qualidade de vida de todas as espécies da área do riacho. A população torna-se responsável direto pela situação que se encontra atualmente o querido riacho Jacarecanga.

*O Reduto de Jacarecanga, incorretamente grafado por BARRETO (1958) como Reduto de Jarecamara, localizava-se em Jacarecanga.
É uma estrutura citada por BARRETTO, que informa tratar-se de fortificação existindo em 1749, artilhada com duas peças.
Posteriormente, instalou-se no bairro da Prainha a recém-criada Companhia de Aprendizes-Marinheiros, em 26 de novembro de 1864. Em 1 de Outubro de 1908, mudou-se para o bairro de Jacarecanga, onde permanece até hoje.



Impactos ambientais no riacho Jacarecanga e a importância da educação ambiental dos Ribeirinhos - Referências Bibliográficas:  
BRASIL, Resolução nº 32, de 15 de outubro de 2003. Conselho Nacional de Recursos Hídricos 
BRASIL, Decreto n°15274 de 25 de maio de 1982. Disponível em - www.semace.ce.gov.br. Acessado em 30/07/2009 
D’ABRONZO, Giuliano Pereira. A importância da água. Disponível em www.tribunatp.com.br. Acessado 
em 7/07/2009 
DACOSTA, Ana Carolina Oliveira.  Desperdício de água cresce. Disponível em www.recantodasletras.com.br. Acessado em 27/07/2009 
GOBBET, Cassiano.  Água contaminada. Disponível em  www.ambientebrasil.com. Acessado em 2 de 
agosto de 2009 
SALES, José.  Inventário ambiental, comentário do Caderno CIDADE, do jornal Diário do Nordeste. 
Disponível em www.inventarioambientalfortaleza.blogspot.com. Acessado em 7/07/2009
TONIATTI, Mariana. Ciência e Saúde. Disponível em www.opovo.com.br. Acessado em 7/07/2009. 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Fazenda Raposa - Maracanaú


Em 1937, a Companhia Johnson estabeleceu uma plantação na região de Maracanaú, chamada Fazenda Raposa para servir como centro de pesquisa do cultivo, extração e refino da carnaúba e outras palmeiras ceríferas.

Lagoa Jupaba - Fazenda Raposa em Maracanaú. Foto: André Francalino


Localizada no quilômetro 10 da CE-065, em Maracanaú, a Fazenda Raposa, também conhecida como o Parque das Carnaubeiras, abriga 17 dos 24 tipos de palmeiras existentes no mundo, possuindo o maior número de espécies do gênero “copernicia” e o maior acervo da América Latina. Tudo isso está a disposição da Comunidade Mundial dos Cientistas numa área que compreende 147 hectares.

Fazenda Raposa em Maracanaú. Foto: André Francalino

O projeto Fazenda Raposa tem suas origens no ano de 1937, com a chegada da multinacional S.C. Johnson & Son Inc ao local. A empresa norte-americana cultivou um centro de pesquisa com palmeiras até junho de 1969.

Em 1970, o terreno onde se localizava o centro de pesquisa foi doado à Escola de Agronomia da Universidade Federal do Ceará (UFC), através de um convênio entre o Governo do Estado e a universidade. Estava criado, então, o projeto Fazenda Raposa. Os objetivos eram valorizar a coleção de “copernicia”, introduzir novas espécies de palmeiras e tentar representar, na área, os diversos ecossistemas do Estado do Ceará.

O projeto prevê espaços de uso comunitário, idealizados pelo paisagista Roberto Burle Marx. Entre eles, estão praças, quiosques, caminhos para pedestres, uma área botânica medicinal e um centro de hortícola para a produção de mudas e sementes. Entretanto, tais equipamentos nunca saíram do papel.

Foto: André Francalino

Depois de passar mais de 30 anos praticamente abandonada, a Fazenda Raposa finalmente se tornará uma realidade. O projeto já dispõe de recursos destinados a sua concretização através de emendas individuais apresentadas ao Orçamento da União por Roberto Pessoa, quando deputado federal (R$ 700 mil) e pelo também deputado federal João Alfredo (R$ 100 mil).

Atualmente não é explorada com atividades produtivas, mas possui um alto valor ambiental, devido a sua exuberante cobertura vegetal. A fazenda possui, ainda, uma coleção de palmeiras do gênero Copernicia, além de carnaubeiras nativas.

Em 04 de setembro desse ano, um incêndio atingiu a reserva ecológica. Grande parte da reserva ambiental de carnaúbas foi atingida pelas chamas. Fogo teve início pela manhã e só foi controlado durante a noite. 

O fogo começou por volta das 9h30min e só foi controlado no início da noite. Foto: O Povo

"De longe, se ouvia o estalo do mato seco sendo assolado pelas chamas. Conforme o vento soprava, o fogo lambia tudo, até se apagar na beira de lagos ou ser contido pelos muros de condomínios residenciais vizinhos. No fim das contas, grande parte da reserva ambiental de carnaúbas, conhecida como Fazenda Raposa, em Maracanaú, foi consumida pelas chamas. O fogo começou por volta das 9h30min de ontem e só foi controlado no início da noite, encobrindo a região com uma densa fumaça. 

“Podemos presumir que houve uma limpeza de terreno com a utilização de queimadas e o fogo acabou se alastrando com a ventania. Mas fogo de ignição espontânea acreditamos que não foi”, disse o tenente Antônio da Silva, do Corpo de Bombeiros. Segundo o militar, que comandou o trabalho de contenção, as chamas se espalharam rapidamente pelo parque, passando de carnaúba em carnaúba, através da copa das árvores.

 Foto: Diário do Nordeste

Um morador da fazenda, entretanto, acredita que o incêndio foi criminoso. “Eu vi um fogo baixo na beira da estrada, por volta das 9h30min, e liguei pedindo para o pessoal apagar. Mas deixe que já tinha fogo do outro lado da reserva também”, disse o aposentado Francisco Rodrigues, 79. “Teve fogo dos dois lados da fazenda. Mais de 80% da reserva foi atingida”, completou outro morador.

Conforme o Major Silva, o trabalho de combate às chamas foi complicado, devido à falta de acesso aos focos de incêndio. Durante a operação, 12 bombeiros atuaram, divididos em quatro viaturas. Até mesmo uma aeronave da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer) foi utilizada. Mas o fogo só foi controlado durante a noite." 

Matéria publicada no Jornal O Povo

A Secretaria de Desenvolvimento e Controle Urbano de Maracanaú concluiu projetos e orçamentos a serem encaminhados ao Ministério do Turismo para captação de recursos. Cerca de R$ 4 milhões deverão ser investidos em melhoria do parque, como a construção da praça de entrada, estacionamento e abertura de novos acessos com drenagem e pavimentação. A Fazenda Raposa é uma referência mundial por possuir a segunda maior coleção de palmeiras ceríferas da América Latina. A área abriga 17 das 24 espécies existentes no planeta. A Fazenda Raposa pertence a UFC, desde 1970, quando o terreno foi doado pela empresa britânica S. C. Johnson, quando chegou ao fim à produção de cera de carnaúba para exportações.  Luiza Correia

Biodiversidade

Com aproximadamente 147 hectares, a reserva é utilizada por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) e também da Universidade Estadual do Ceará (Uece), em razão da diversidade que há no local. 


Créditos: http://www.maracanau.ce.gov.br, http://www.opovo.com.br e http://www.scjohnson.com.br

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Casa Johnson - Avenida Beira-Mar



Foto rara da Casa JOHNSON, a única casa projetada por Oscar Niemeyer no Ceará. Foto de 1976 - Edgar Gadelha. Créditos M Williams 


Casa Johnson, Fortaleza, Ceará
Projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer em 1942.

Um dos excelentes produtos do Brasil tão rico, é a fina cera de carnaúba, originária principalmente do Ceará, a cinco graus abaixo do Equador. Um industrial norte-americano especialista em produtos de cera, Herbert Johnson, construiu esta interessante casa para residência quando de suas visitas periódicas ao Brasil. A casa aproveita todas as vantagens da brisa marinha que tempera o sol quente de Fortaleza. As salas de estar abrem-se para uma grande varanda, protegida por venezianas.


Planta da casa. Acervo Brazil Builds

Planta da casa. Acervo Brazil Builds

Acervo do amigo Sérgio Roberto 

Herbert Johnson escolhia seus arquitetos admiravelmente. A casa dele em Racine, no Estado de Wisconsin, Estados Unidos, foi projetada pelo famosos arquiteto Frank Lloyd Wright.

Foto de 1976. Créditos M Williams 

A belíssima Casa Johnson na Avenida Beira-Mar em 1976. Créditos M Williams 

NIEMEYER NA BEIRA MAR


Crédito: Maurício Cals


O Clube dos Diários e a AABB, foram demolidos e a casa Johnson, apesar de bem modificada, encontra-se parcialmente preservada, ainda bem!  Foto de 1976

O imóvel que depois foi ocupado pelo Hotel Mareiro, na Beira Mar, já foi um dia a residência da Família Johnson, dona da Johnson Wax Works*. A companhia explorava carnaúba para a extração da cera. Aqui se instalaram na Fazenda Raposa, em Maracanaú. Não deu certo, passaram a fazenda à UFC.

Anos 70

Fotos da Casa Johnson em 1976 - Créditos M Williams 
















Mas e a casa? Poucos sabem, mas foi uma criação de Oscar Niemeyer. O arquiteto Romeu Duarte (UFC) comenta: “Era uma casa típica da primeira fase do Niemeyer: prismática, levantada sobre pilotis e com uma rampa interna que interligava todos os três níveis. Havia também uma piscina no térreo, estreita e extensa. Implantada sobre uma elevação do terreno, postava-se sobranceira sobre o mar”.

O tempo passou, intervenções houve e, a exemplo de outros projetos originais, se perdeu.
A casa não foi totalmente demolida, foi descaracterizada depois de sucessivas reformas.

O imóvel ocupado pelo Hotel Mareiro

O Hotel Mareiro


*Grupo Johnson


Herbert Johnson, de Wisconsin, EUA, presidente da empresa S.C. Johnson, fabricante das Ceras Johnson e de outros produtos de limpeza, veio ao Ceará em 1935 para pesquisar as potencialidades da carnaúba. A cera produzida à partir dessa palmeira nativa era o principal item para os produtos fabricados pela S.C. Johnson, e Herbert Johnson quis conhecer o potencial de cultivo da carnaubeira a fim de assegurar uma fonte de recursos renováveis e manejáveis. 
Depois de conhecer de perto o cultivo da árvore, a fim de assegurar uma fonte de recursos renováveis e manejáveis, o empresário decidiu instalar uma unidade no Ceará. Graças à carnaúba, a Ceras Johnson virou uma potência que atua em mais de 20 países e fatura bilhões de dólares anualmente. Falecido em 1978, o empresário foi sucedido pelo filho Samuel Johnson, hoje à frente da organização.

Logo após Herbert Johnson ter herdado o negócio da família, bateu à porta a Grande Depressão de 1929. Querendo garantir o fornecimento de cera de palmeira de carnaúba, crucial para os negócios da firma SC Johnson, Herbert decide visitar o país da sua origem, no Brasil. Confrontado com a duração da viagem usando os meios tradicionais da época (cerca de um ano), depressa encontrou no avião a alternativa, e o Sikorsky S-38 foi o escolhido. O anfíbio bimotor foi o primeiro sucesso comercial de Sikorsky, um verdadeiro iate aéreo, de excelente autonomia, conforto e fiabilidade, que tinha uma qualidade importante relativamente à concorrência: mantinha a altitude voando com apenas um motor. Capaz de levantar e aterrar em quase todo o lado era a ferramenta ideal para o trabalho. Johnson sai dos EUA em Setembro de 1935 com mais 5 homens, numa verdadeira expedição comercial e científica de dois meses pelo Brasil. O avião original foi mais tarde vendido à Shell, perdendo-se ao largo da Indonésia.
Foram precisos três anos e meio para a Born Again Restorations construir a réplica do Spirit of Carnaúba. Buzz conseguiu localizar dois suportes de fuselagem traseiros e a parte central da asa superior num armazém em Burbank. Vários planos foram também obtidos dos arquivos da Sikorsky e de outras proveniências, culminando numa das mais belas ressurreições no mundo da aviação antiga. Vestido de negro, vermelho e amarelo, com os seus dois motores Pratt & Whitney de 450 cavalos a rodarem em sincronia, um S-38 voou outra vez dos EUA ao Brasil, transformando novamente a vida da família Johnson.

Spirit of Carnaúba exposto no Hall Fortaleza - D' Neto

Hoje o Spirit of Carnaúba está exposto no Hall Fortaleza, na sede da empresa S.C. Johnson no Wisconsin.

Ricardo Reis

Créditos: Brazil Builds, Jornal O Povo e Ricardo Reis

Herbert Johnson - Um homem de coragem e iniciativa



Herbert Johnson, de Wisconsin, EUA, presidente da empresa S.C. Johnson, fabricante das Ceras Johnson e de outros produtos de limpeza, veio ao Ceará em 1935 para pesquisar as potencialidades da carnaúba. A cera produzida a partir dessa palmeira nativa era o principal item para os produtos fabricados pela S.C. Johnson, e Herbert Johnson quis conhecer o potencial de cultivo da carnaubeira a fim de assegurar uma fonte de recursos renováveis e manejáveis.

Herbert Johnson Jr. ganha Medalha do Mérito Industrial da FIEC

Herbert Johnson foi presidente da S.C. Johnson, fabricante mundial de produtos de higiene e limpeza, fundada em 1886, que veio ao Ceará pesquisar sobre a carnaúba. Herbert Johnson, homenageado in memoriam, foi representado pelo bisneto, Connor Leipold, e pelo vice-presidente da SC Johnson na América Latina, Jose Latugaye, que afirmou estar contente com a honraria, destacando que a empresa possui "uma relação muito profunda com o Ceará". 

Então presidente da SC Johnson, fabricante das Ceras Johnson e de outros produtos de limpeza, o industrial americano Herbert Johnson veio ao Ceará em 1935 para pesquisar as potencialidades da carnaúba - principal insumo para os produtos fabricados pela empresa. Depois de conhecer de perto o cultivo da árvore, a fim de assegurar uma fonte de recursos renováveis e manejáveis, o empresário decidiu instalar uma unidade no Ceará. Graças à carnaúba, a Ceras Johnson virou uma potência que atua em mais de 20 países e fatura bilhões de dólares anualmente. Falecido em 1978, o empresário foi sucedido pelo filho Samuel Johnson, hoje à frente da organização.


A Federação das Indústrias do Estado do Ceará – FIEC entregou no dia 26 de julho a Medalha do Mérito Industrial a Herbert Fisk Johnson Jr. (in memorian), empresário norte-americano precursor do Grupo Johnson no Ceará. A medalha foi recebida por Connor Leipold, bisneto de Herbert Johnson Jr., que também trabalha no Grupo Johnson. A solenidade foi uma realização da Confederação Nacional da Indústria – CNI e FIEC em celebração ao Dia da Indústria.

Um homem com coragem e iniciativa



Em sua visita ao Brasil, Herbert Johnson Jr. também fundou a Fazenda Raposa que, em 1937, tornou-se o maior centro científico e de coleção de palmeiras ceríferas do mundo. 

Na década de 40, construiu a Vila Johnson, na beira mar – um projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer – e a fábrica da empresa na Rua Dragão do Mar, responsável pelo grande avanço no refino e industrialização da cera de carnaúba. Já na década de 60, criou a Escola Johnson, que funciona até hoje e atende mais de 1.500 alunos por ano. 

Em sua visita ao Brasil, Connor Leipold também conheceu o escritório da Associação Caatinga em Fortaleza. Na ocasião, foi apresentado à equipe de trabalho e recebeu, entre os materiais institucionais e didáticos, um exemplar do livro “Caatinga um Novo Olhar”.

Herbert Johnson Jr. sensibilizou toda a sua família para a preservação da Caatinga. Seu filho Samuel Johnson, com o intuito de ajudar na preservação deste bioma, institui o Fundo Samuel Johnson, gerido pela The Nature Conservancy (TNC). O objetivo do fundo era adquirir uma relevante área de Caatinga no Ceará, para transformá-la em uma unidade de conservação, bem como fundar uma instituição local que pudesse gerir esta área e fomentar a preservação da Caatinga. Com esse propósito surge a Associação Caatinga e a Reserva Natural Serra das Almas, que atua há 14 anos para a preservação e conservação dessa floresta exclusivamente brasileira.


Fazenda Raposa, em Maracanaú (Foto: Stênio Saraiva)

Expedição pioneira gerou multinacional

Fisk Johnson

Samuel Johnson

Quando cruzou o céu de Fortaleza no dia 17 de novembro passado, o avião Sikorsky – modelo da década de 30, mas reluzindo de tão novo – chamou atenção. Do lado de fora, via-se o nome Carnaúba na fuselagem. Dentro, o empresário Samuel Johnson, dono da empresa S.C.Johnson, mais conhecida por Ceras Johnson, estava no comando.


Frank Lloyd Wright e Herbert Johnson

A aeronave era uma réplica perfeita do hidroavião usado por Herbert Johnson, pai de Samuel, em 1935. Herbert partiu da cidade americana de Racine e, após uma viagem de três meses, pousou na água, em frente a Avenida Beira-Mar, pois Fortaleza nem possuía aeroporto. Tinha um objetivo: conhecer a carnaúba tête-à-tête. A empresa de Johnson já usava a cera nos seus produtos para polimento de assoalhos e ele queria ter certeza de que havia palmeiras para produzir matéria-prima em quantidade suficiente.
O grupo dispunha em Fortaleza de uma parafernália mandada por navio. Toneladas de equipamentos de caça, pesca e acampamento. Só facas, vieram 144. Veio também um pequeno laboratório que viabilizou o cruzamento de sementes das palmeiras que produziam cera mais pura. O melhoramento criou exemplares vigorosos. Graças à carnaúba, a Ceras Johnson virou uma potência que atua em vinte países e faturou 5 bilhões de dólares em 1998.


Cera Johnson's Prepared Wax

Sede da S.C. Johnson

O herdeiro Samuel organizou essa segunda viagem de 1998 para prestar uma homenagem ao pai e à planta que mudou os rumos de sua empresa. Hoje ela fabrica dezenas de produtos que usam a cera como matéria-prima e os vende para mais de 100 países. “Meu pai me pediu, antes de morrer, em 1978, que refizesse a sua expedição”, contou Sam à revista SUPER INTERESSANTE. “Afinal, foi graças a ela que a carnaúba passou a fazer parte dos nossos negócios.”


Reserva natural Serra das Almas é um dos pontos turísticos da cidade de Crateús

Sam Johnson, filho de Herbert, aproveitou a vinda ao Ceará e fez algumas doações a entidades do Estado: a Fazenda Raposa (plantação de carnaubeiras , situada em Maracanaú, foi doada à Universidade Federal do Ceará (UFC); a Reserva Serra das Almas, localizada em Crateús, transformada em Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), foi doada à Associação Caatinga; a Escola Johnson, no bairro Luciano Cavalcante, em Fortaleza, hoje pertencente à rede de ensino da Secretaria da Educação do Estado.

Jornal O Povo de 16 out. 2004, p.11 - “Empresário percorre caminhos do avô”. 

Leia também:

Escola Johnson - 50 Anos
A Casa Johnson na Beira-Mar


Jornal O Estado, Site A Caatinga.org, Revista Super Interessante -Árvore com brilho próprio e Forbes

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