Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

sábado, 8 de junho de 2013

Fortaleza antiga - O lazer e os Clubes Sociais


Na Fortaleza dos anos de 1920 a 1930, assim como outras práticas urbanas existentes, o lazer visando o divertimento ocorria de modo diferenciado. Com o constante desejo vindo por parte da população para criar novos meios de distração e de ocupação, foi necessário fundar ou até mesmo se apropriar de espaços públicos ou privados destinados a reuniões de alguns grupos sociais, estes geralmente compostos pelas classes mais abastadas. Já as classes mais baixas faziam o uso dos espaços que eram possíveis.

Em destaque o prédio onde funcionou o Clube Cearense

Na virada do século XIX para o XX, encontramos variadas áreas públicas e privadas como mediadoras de grandes encontros sociais daquele tempo. No entanto, esses espaços possuíam grande importância para as relações pessoais da população fortalezense, já que segundo Albertina Mirtes de Freitas Pontes (A cidade dos clubes: modernidade e “glamour” na Fortaleza de 1950 – 1970. P.107) “a própria estrutura das moradias, da maior parte da população, não oferecia condições para o convívio e as trocas sociais.” Por isso era necessária a utilização ou até mesmo criação de locais onde os encontros e os eventos sociais pudessem ser realizados com uma maior frequência. 



Destacaram-se como as principais formas de lazer em nossa capital no início do século XX a ida ao teatro, ao cinema, à igreja; era muito comum ainda as rodas de conversas que aconteciam na Praça do Ferreira, em bares ou cafés, as conversas nas calçadas, as idas ao Passeio Público e as festas que ocorriam nos clubes que formavam a cidade de Fortaleza. 

Revista Bataclan de 1923

Todos esses espaços ofereciam diversão a seus frequentadores, mas vale ressaltar que mesmo nos locais públicos existiam as distinções sociais, eles não eram compartilhados de maneira igualitária. Essas áreas dedicadas ao lazer eram na verdade grandes divisores sociais, pois o fato de frequentá-los já denunciava a qual classe social um indivíduo pertencia. 

Clube Iracema - Acervo Sérgio Roberto

Os hábitos que se formaram em torno do lazer, sofreram com o passar do tempo, mudanças significativas. No decorrer da história de Fortaleza, alguns deles acabaram sendo esquecidos e outros reforçados. No entanto, os clubes sociais como locais de lazer ganharam mais evidência e prestígio diante da sociedade fortalezense, na virada do século XIX para o XX. 

Carnaval do Clube Iracema - Acervo Sérgio Roberto

As primeiras ideias referentes a esses clubes sociais vieram por meio da chegada da família Real ao Brasil em 1808, através disso o Rio de Janeiro passou a ser palco de grandes festas que ocorriam nos luxuosos salões ou até mesmos em palacetes, onde era acolhida a parte mais nobre da sociedade daquela época.


Inspirada nas eventualidades que ocorriam no Rio de Janeiro e até mesmo em outras capitais brasileiras, Fortaleza, já em meados do século XIX, realizava festas e reuniões elegantes oferecidas para a sua sociedade, mas como durante esse período a capital cearense ainda possuía traços provincianos; apenas a elite estava apta a participar desses sofisticados encontros sociais. 
(Ao lado, baile no Ideal Clube)

Posteriormente, mas ainda durante o século XIX, surgiram em Fortaleza os clubes sociais, que foram criados por grupos específicos e eram locais destinados ao lazer. 

Ideal Clube

Bloco Meu Ideal é você do Ideal Clube

A cidade de Fortaleza foi marcada no período de transição do século XIX para o século XX pelo surgimento de diversas agremiações, as principais delas eram relativas aos clubes denominados “elegantes”. O primeiro deles, o Clube Cearense foi fundado no ano de 1867, de caráter elitista, possuía uma postura altamente discriminatória. No entanto, como forma de oposição surge em 1884, o Club Iracema, que apesar de ter sido criado como forma de se opor ao “exclusivismo” do Clube Cearense, o Club Iracema era um local de acesso restrito, ao passo que seus sócios eram compostos basicamente por grupos ligados ao comércio e a Alfândega

Revista Bataclan

Os clubes “elegantes” marcaram a sociedade cearense pelas festas que realizavam, especificamente os bailes que ocorriam na cidade com muita pompa e prestígio, e também pela moda que apresentavam. Nessas ocasiões seus frequentadores se vestiam a rigor, tradicionalmente as mulheres trajavam vestidos longos e os homens smokings

De acordo com o tipo de baile e com os seus convidados, os trajes sofriam alterações, sofisticando-se então ainda mais. Essa valorização direcionada ao vestuário em cada solenidade ocorria por parte da “alta sociedade” de Fortaleza que tinha o prazer de se destacar nesses eventos sociais. Os membros desses clubes “elegantes”, em especial as mulheres, costumavam se preparar com bastante antecedência para a ida ao baile; começavam comprando os tecidos mais caros disponíveis no mercado – gaze, seda pura, renda e zebeline; era comum também fazer a encomenda dos mesmos em outra capital, logo após a compra era escolhido o modelo do vestido e encaminhado para as costureiras. 

Deslumbrante Baile no Club Iracema publicado no Jornal A Lucta de 02 de julho de 1914

A imprensa estava sempre atenta aos eventos em geral que ocorriam nos clubes cearenses, assim era comum os jornais que circulavam pela cidade publicarem notas tratando da decoração ou das roupas utilizadas pelas personalidades presentes.

Vale ressaltar que com o passar dos anos, a elite não era apenas a única classe frequentadora desses clubes, por conta do surgimento de um grande número desses locais de lazer foi possível criar agremiações direcionadas para pessoas de outras camadas sociais. Como já citado anteriormente, os jornais reservavam sempre um espaço em suas publicações para notícias referentes aos clubes sociais que ilustravam a cidade de Fortaleza, nas revistas eram publicadas notas sobre as festividades desses clubes de maneira mais sutil quando comparadas aos outros meios de comunicação. 

Através dos arquivos das revistas de época, foi possível perceber que cada fascículo abordava conteúdos distintos desses clubes. As notas sobre eles tratavam dos temas mais variados indo desde exposições de arte, de apresentações musicais, até anúncios sobre chá dançante, manhã dançante, homenagem à bandeira e bailes sociais – festas essas tradicionais, que aconteciam na cidade de Fortaleza. O baile de carnaval era um evento que alterava significativamente os clubes sociais de Fortaleza, as decorações elaboradas tornavam as agremiações mais bonitas e criativas. 



Havia ainda a criação de blocos e de fantasias, estas confeccionadas com muitos detalhes e minuciosos acabamentos, utilizadas por jovens e também pelas senhoras e senhores, o objetivo era ganhar destaque tanto pelo vestuário como pela animação. 

(Ao lado, anúncio na Bataclan sobre uma Exposição Regional de pintura em 30 de outubro de 1923 no Clube dos Diários

Revista Ceará Ilustrado de 01 de fevereiro de 1925

Um fato importante sobre as revistas é a forma como elas abordavam determinados assuntos sociais. Como as agremiações cearenses no começo do século XX ainda eram voltadas para as classes mais abastadas da cidade de Fortaleza, as representações desses clubes ocorriam de formas diferentes nesses meios de comunicação. 

Revista Ceará Ilustrado de 15 de fevereiro de 1925

A revista Ceará Ilustrado por ser um semanário que tratava de assuntos políticos, literários e sociais, era a que reservava mais espaço para as matérias referentes às agremiações. Em seus fascículos a presença desse assunto ocorria com grande frequência, poucas eram as publicações que não apresentavam no mínimo um anúncio limitado sobre os clubes. Uma abordagem dos mais variados clubes sociais podia ser encontrada por meio de notas ou matérias. 
Já a revista Bataclan, fundada em 1926 pela Associação dos Comerciários, era voltada para a elite comercial de Fortaleza. Ela possuía um caráter de arte e elegância; no entanto publicava na maioria das vezes notas sobre os clubes destinados a essa classe social. 
Possuindo um aspecto similar a Ceará Ilustrado, a revista A Jandaia tratava de temas como arte, literatura e atualidades e foi à única revista que não indicou um amplo conteúdo sobre a questão dos clubes sociais. Apresentava informações sobre as práticas de lazer que ocorriam na capital cearense no início do século XX, mas um conteúdo mínimo sobre as agremiações foi encontrado, apenas algumas notas sobre reuniões específicas que aconteciam nesses espaços sociais.


Maria Darlyele Gadelha de Castro 

(Graduanda em Design de Moda)

Imagens: Revista Bataclan,
Revista Ceará Illustrado

Acervo Sérgio Roberto
Arquivo Nirez e
Jornal A Lucta de Sobral




quarta-feira, 29 de maio de 2013

Fortaleza no século XX - A moda e os anúncios

Para analisar a moda em Fortaleza durante as primeiras décadas do século XX, precisamos primeiramente entender que foi durante o século XIX, que ocorreu na Europa o progresso da indústria têxtil, ocasionando a queda do mercado de roupas usadas e abrindo espaço para o desenvolvimento do mercado de roupas prontas e para o surgimento de grandes magazines. 
Anúncio da Revista Bataclan de 1923

Todas essas transformações que aconteciam na Europa logo ganharam proporções maiores e acabaram sendo refletidas em outros países, aqui no Brasil não foi diferente. A França e a Inglaterra foram ícones da moda no século XIX, devido às suas conquistas econômico-militares e ao poder que exercia em muitas das nações do mundo. 
A Europa do século XIX delegou à moda muitas transformações, notadamente nas mulheres. Assim, esse período foi marcado pelo antagonismo criado em relação à indumentária, onde os trajes masculinos ganharam um despojamento, enquanto as vestimentas femininas migraram de uma simplicidade para uma ornamentação – utilizando rendas, bordados e fitas; tornando-se mais sofisticadas. Mas não eram apenas as tendências europeias que chegavam a nosso país, muitos produtos estrangeiros começaram a ser comercializados com uma frequência maior. Com essas mudanças ocorrendo, a importância dada à moda agora era outra. 

Durante o século XIX a moda chegou a se tornar um tema bastante relevante no meio social, ganhando até um espaço significativo nas mídias da época que eram compostas pelos jornais, os periódicos e pelas revistas. Toda a divulgação que ela obteve no século XIX, gerou no Brasil a construção de novos hábitos, pois as mulheres passaram a buscar por informações com maior frequência, queriam estar a par do que era utilizado na Europa. Assim, essas publicações que falavam sobre moda logo ganharam destaque no país, revistas específicas são lançadas destinadas para tratar somente desse assunto, ainda foram criados os guias e os manuais de moda. 
Foi no ano de 1808, com a chegada da Corte portuguesa em nosso país, que inúmeras mudanças foram realizadas, em especial no modo de vestir e nos hábitos. Os brasileiros nesta época, principalmente os cariocas, tentavam reproduzir a corte e a moda parisiense, ultrapassando as barreiras do clima para viver o glamour estimulado pelo imaginário europeu. Ainda havia outro aspecto trazido pela moda, um aspecto que caracteriza a própria modernidade não só daquela época, pois, perdura até hoje: a uniformidade. Tal fato foi também bastante percebido na sociedade fortalezense. Examinando as imagens da época dos anos de 1920 e 1930, constatamos um estilo comum na indumentária – roupas, chapéus, sapatos e afins; também no corte dos cabelos, na maquiagem, dentre outros; tudo isso ocasionado pelas influências europeias.

A moda era tratada com frequência dentro das revistas que circulavam na capital cearense, mas não podemos deixar de mencionar que alguns fascículos abordavam-na superficialmente, apenas através de alguns anúncios que divulgavam os produtos que existiam nas lojas ou a chegada de novas mercadorias a cidade. O espaço destinado a tratar a moda de forma mais minuciosa estava reservado para os jornais de moda, os manuais de etiqueta e de civilidade. Os jornais e manuais apresentavam esse tema para as mulheres como algo indispensável, reforçando os atributos naturais e distinguindo essas damas como parte da boa sociedade por serem dotadas de elegância e bom-tom. Já a moda para os homens era abordada na busca de divulgar o perfil masculino correto e elegante que podia ser encontrado naqueles dotados de sobriedade e simplicidade. Esses jornais e manuais apresentavam ainda os modelos de roupas adequados para cada ocasião, a diferenciação entre os trajes usados por mulheres casadas e solteiras, dentre outras definições. Já os manuais de civilidade serviam para indicar as bases corretas de um bom vestuário, não fazendo relação com a moda, mas sim com os aspectos como a idade, o clima, o estado civil, a estação do ano e outros. Esses manuais ditavam os itens certos que deviam ser usados pela população.
Anúncio para o público masculino na Revista Ceará Illustrado de 18/08/1925

Analisando as edições das revistas A Jandaia, Bataclan e Ceará Ilustrado, foram encontradas poucas notas tratando a moda de maneira aprofundada. Algumas vezes as mulheres e a moda surgiam retratadas em poemas, ocasião essa bastante comum dentro das revistas, mas esses versos na maioria das vezes abordavam temas variados, traziam textos literários e também textos que se referiam a assuntos da época como as figuras ilustres, os clubes, dentre outros. Inúmeros eram os anúncios que ilustravam os fascículos das revistas da capital cearense durante o início do século XX. Dando continuidade à moda, podemos afirmar que os anúncios referentes a ela apareciam quase que de uma maneira generalizada. Era muito comum abrir uma revista naquela época e se deparar com uma publicidade bastante característica daquele período que detalhava diversos itens que estavam disponíveis nas lojas, as conhecidas Casas de Moda; às vezes, até mesmo os valores de determinados produtos eram divulgados e ainda o endereço onde se encontravam esses estabelecimentos. 
Anúncio da Revista A Jandaia de 24 de maio de 1925

Anúncio da Revista Bataclan de 1923

Vale ressaltar que os anúncios de moda nem sempre eram direcionados apenas para as mulheres, o público masculino também ganhou um espaço reservado nessas publicações, onde os estabelecimentos e os produtos utilizados por eles eram divulgados dentro das revistas. Existiam ainda as lojas mistas especializadas nas vendas de artigos masculinos e femininos. Analisando os anúncios percebemos que algumas delas vendiam produtos mais refinados, direcionados para as classes mais abastadas como aquelas que ofereciam tecidos caros, sapatos, chapéus, dentre outros e havia também aquelas mais populares que possuíam um estoque diferenciado, oferecendo desde miudezas até brinquedos, artigos religiosos e afins. 
Anúncio da Revista A Jandaia de 12 de julho de 1925

Além dos artigos de moda outros produtos também ilustravam esses anúncios, como cigarros, automóveis, medicamentos, bebidas, vitrolas e produtos de beleza. As revistas A Jandaia, Bataclan e Ceará Ilustrado possuíam um formato muito parecido ao publicar esses produtos, algumas vezes esses anúncios ganhavam ilustrações representadas por pessoas influentes da época que faziam o uso de um artigo em especial, mas vale ressaltar o fato de ser pouco utilizada naquele período a presença de um garoto propaganda. O mais usado era geralmente imagens em formato de caricaturas de pessoas ou até mesmo a imagem do próprio produto que ilustravam esses anúncios.

Por meio dos arquivos dessas propagandas foi possível entender como funcionava o comércio da capital alencarina, por quais estabelecimentos ele era composto, quais os produtos que circulavam aqui, como era a forma de anunciar e de vender esses artigos. Tudo isso estava diretamente ligado ao processo de modernização que ocorria nesse período com a chegada do
século XX e com as influências trazidas da Europa, o que caracterizou uma alteração nos hábitos da sociedade fortalezense que buscava através das suas relações comerciais e sociais, atingir um mesmo nível de outras capitais da época, já então modernizadas.



Maria Darlyele Gadelha de Castro 
(Graduanda em Design de Moda)

Imagens: Revista Bataclan,
Revista Ceará Illustrado e
Revista A Jandaia


quarta-feira, 22 de maio de 2013

Cine Atapu - Cinemar


Arquivo Ary Bezerra Leite


Inaugura-se em Fortaleza, no dia 11 de março de 1950, o Cine Atapu, da Empresa Cinematográfica do Ceará - Cinemar, de Amadeu Gomes Barros Leal (Amadeu Barros Leal*), na esquina da Avenida Visconde do Rio Branco nº 3725, com a Avenida 13 de Maio, trazendo a película francesa Monsieur Vicent, a mesma que inaugurou o Cine Jangada.


O Cine Atapu foi um dos mais apreciados cinemas de bairro de Fortaleza, no final dos anos 50 e década de 60. O nome Atapu logo caiu no gosto do fortalezense. Assim, sugiram em seu entorno o Posto Atapu, a Farmácia Atapu, a Borracharia Atapu, a Padaria Atapu. O Chaveiro Atapu e a Panificadora/Mercadinho Atapu permanecem em pleno funcionamento. A área tornou-se referência, chamada carinhosamente de Atapu. Ainda hoje existe empresa de transporte coletivo urbano que conserva exposta, na indicação do itinerário, a citação Atapu.


Amadeu Barros Leal - Arquivo Ary Bezerra Leite

O Cine Atapu integrava a Empresa Cinematográfica Brasileira – Cinemar, cujo escritório ficava na rua Pedro Pereira, 166, altos. Concorria com a Empresa Luiz Severiano Ribeiro (que posteriormente adquiriu todas as suas salas. A Cinemar foi fundada pelo advogado Amadeu Barros Leal, que homenageou os jangadeiros batizando as cinco salas de seus cinemas com nomes ligados ao mar: Cine Jangada (rua Floriano Peixoto, virou estacionamento); Cine Araçanga (cacete para matar peixes) ficava na Barão do Rio Branco, depois Cine Art que hoje é um estacionamento do Hospital IJF - Instituto José Frota); Cine Tuaçu (pedra que serve de âncora às jangadas), ficava na Praça José de Alencar; Cine Samburá (cesto feito de cipó ou taquara usado pelos pescadores para colocar peixes), era na rua Major Facundo, deu lugar ao Cine Fortaleza e atualmente é uma livraria; e Cine Atapu (búzio que serve de trombeta aos jangadeiros para chamar os companheiros ou fregueses à praia). Que a Unimed Fortaleza evidencie o nome do saudoso cinema, pois o seu Hospital também está na área do Atapu que desbravou o local.

O prédio do antigo Cine Atapu, escondido por tapumes e uma placa da Unimed 

Quem passa pelo cruzamento da Avenida Visconde do Rio Branco com a Avenida Pontes Vieira visualiza um imóvel com inscrições nas paredes informando ser o mesmo de propriedade da Unimed. Desde que as li, planejei escrever sobre o assunto, pois, como Cidadão Honorário de Fortaleza, atento à memória de nossa Capital, e confiante na sensibilidade dos dirigentes da Unimed Fortaleza, e ainda na condição de veterano usuário do daquele conceituado Plano de Saúde, permito-me sugerir que não deixem escapar a possibilidade de resgatar a tradicional denominação daquela região da cidade. Desconheço a destinação que a Unimed dará ao referido espaço. Contudo, seja qual for o destino utilitário do imóvel, seria de muito bom grado trazer o nome de Atapu. Representaria, pelo ângulo da preservação, um oportuno presente que a Unimed daria à cidade, possibilitando inclusive conhecimento histórico aos moradores mais jovens. Por exemplo: Unidade Unimed Atapu, Laboratório Unimed Atapu, Depósito Unimed Atapu, etc... Seria uma homenagem justíssima posto que, originariamente, no local funcionou e marcou época o Cine Atapu. O que restou da sua estrutura permanece na mesma esquina - na Visconde do Rio Branco no 3731: Calçada elevada, degraus, e altas paredes. Mesmo sem o telhado, distingue-se ainda o formato da sala de projeção que outrora tantas alegrias trouxe para a juventude do Joaquim Távora e adjacências. Lá também era o término da linha de bonde do Bairro e Quilômetro Zero da BR – 116, entrada da cidade. O atual Parque Rio Branco, que fundou em 2007 o Cine Clube Atapu - nome que sugeri ao jornalista Aldemir Costa, do Movimento Pró-Parque, um sítio cortado por três riachos, e no local do atual Bradesco da Borges de Melo tinha uma vacaria, em meio a grande areal...

Concluo agradecendo as informações prestadas pelo cineasta e publicitário José Carlos Moreira de Oliveira, sobrinho do Dr. Amadeu Barros Leal

Paulo Tadeu
Jornalista

*Amadeu Barros Leal

Não se sabe ao certo qual a motivação inicial que fez o advogado Amadeu Barros Leal ingressar com determinação na seara cinematográfica, mas não há dúvidas que a partir de março de 1948 ele começa a desenvolver um sonho, decisivo e marcante em sua vida. Ele mesmo confirma essa firme disposição: “Idealizamos e, ato contínuo, lançamo-nos em campo, na batalha árdua de instalar em Fortaleza um circuito exibidor cinematográfico”. Desafio aceito e vencido sob a simpática acolhida do povo cearense.
Amadeu Barros Leal nasceu em Quixeramobim, no dia 13 de março de 1914, sendo seus pais o farmacêutico Afro Pimentel de Barros Leal e Maria Gomes de Barros Leal. Vindo para a capital cearense, aqui cumpriu seus estudos, iniciando-se como aluno do Liceu do Ceará, em 1931, e obtendo o diploma de grau superior pela Faculdade de Direito do Ceará, em 1942. Esta conquista coroou sua disposição para a luta, pois, ao longo desses anos, no período de 1934 a 1942, obtinha recursos para custear seus estudos como carteiro dos Correios e Telégrafos do Ceará.
No exercício de sua carreira jurídica, encontrava tempo para marcar presença como jornalista, alternando-se ainda na direção de negócios como a Ceará Mineral Industrial Ltda., firma exploradora de minérios da qual foi diretor gerente, e incursões políticas como militante do Partido Social Progressista, que indicou seu nome à Câmara Municipal de Fortaleza.
A paixão pela imprensa tinha se manifestado em sua terra natal, garoto ainda, quando produzia jornais manuscritos, e o seu lado combativo também já se revelava nos títulos: A Tesoura, A Navalha e O Bisturi. Aluno do Liceu foi responsável, na companhia de Alaor Albuquerque, Mardônio Botelho e Elissade Bacelar e outros, pelos jornais A Greve e A Luta. Tudo isso resulta na militância no jornal O Estado, quando responde pela coluna diária De Olhos Abertos. Esse histórico de luta prepara a estrutura de um corajoso empresário de cinema.
Seu idealismo transpassa muitos segmentos da vida cearense até alcançar a edificação da Companhia Cinematográfica do Ceará S.A.CINEMAR -, cuja materialização ocorre em 1950 com a abertura dos cinemas Jangada e Atapu, comandada de um pequeno escritório à rua Pedro Pereira, 166, altos. Seguem-se episódios de persistente luta para ampliar seu circuito de cinemas e mantê-los sobrevivendo em mercado até então monopolizado. Infelizmente, o magnífico empreendimento desapareceu após 12 anos de sobrevida, deixando-lhe a mais profunda mágoa. Certa vez Barros Leal confessou porque vendeu a sua metade na empresa, passo fatal para a sua liquidação: “A CINEMAR representava tudo para mim. Pena é que eu tenha tido a burrice de ser bairrista e feito negócios com quem não merecia fazê-lo. Deixei de associar-me com o Lívio Bruni, grande exibidor no Rio e que desejava penetrar aqui, reformando os cinemas e dotando-se de ar-condicionado e outras melhores e modernas condições. Entretanto, o meu ex-sócio queria a destruição da CINEMAR, o seu desaparecimento. Conseguiu o seu criminoso intento, embora não tenha podido alijar o seu nome da lembrança do cearense...”
Amadeu Barros Leal faleceu em Fortaleza, em 10 de novembro de 1978**, cumprindo a sua última missão, ao redigir um libelo contra o cigarro.

Em reconhecimento ao idealismo de Amadeu Barros Leal, a Fundação Demócrito Rocha, sob a presidência de Albaniza Dummar, instituiu, em 1985, o Prêmio Samburá. O troféu foi conferido pela primeira vez aos participantes do I Festival de Fortaleza do Cinema Brasileiro: a uma personalidade destacada no cinema nacional, ao melhor longa e ao melhor curta metragem.
Nas palavras de agradecimento, proferidas pelo filho Vladimir Barros Leal, traça-se o perfil do empreendedor e a dimensão de sua contribuição à cultura e lazer na capital cearense: 

“Durante muitos anos o cearense, particularmente o fortalezense, deveu a Amadeu Barros Leal a sua Cinemar, com uma cadeia de casas de espetáculos espalhadas pela cidade, numa época em que o cinema era a grande opção de lazer, quase a única.
Enfrentando tempestades que só a um valente jangadeiro é dado vencer, arrastando em sua trajetória poderosos ventos contrários e ondas gigantescas, Amadeu Barros Leal soube se impor e foi em frente e seus contemporâneos são testemunhas de sua vitoriosa aventura.
Inovador, projetou em sua telas memoráveis festivais do cinema europeu. Competitivo, adaptou às suas telas o Cinemascope e garantiu a exclusividade da Metro Goldwyn Mayer, brindando o seu público com majestosas películas, tais como: “Quo Vadis”, “Ben Hur”, “E o vento levou”, entre muitas outras.


Audaz, exibiu em suas telas filmes considerados atentatórios à falsa religiosidade e moral da época - década de 50 - como por exemplo: “Lutero”, “O Direito de Nascer”, “Veneno Lento”, um deles proibido pelas autoridades, e garantida a sua exibição na Justiça, através de Mandado de Segurança, assim mesmo em sessões separadas para homens e mulheres, que a posição ‘despudorada’ de uma mulher a ter um filho provocava vexames aos olhos mais puros.
Criativo, lançou a ideia da realização de um filme sobre a vida de Padre Cícero, chegando a convocar produtores, diretores e artistas para a consecução do projeto, só não o realizando devido a dificuldades econômicas, intransponíveis e à insensibilidade e indiferença daqueles que podiam tê-lo ajudado neste seu mais acalentado sonho.
Se os homens públicos da terra que tanto amou não lhe renderam a homenagem, digna de sua dimensão, o Prêmio Samburá vale como uma consagração da sua obra, fazendo-lhe justiça, numa prova de que o cearense sabe ser grato aos homens que realizaram verdadeiramente alguma coisa em seu benefício. Se meu pai fosse vivo, não conteria a emoção. Na certa estaria se sentindo profundamente gratificado com o reconhecimento público à gigantesca luta que empreendeu em prol da Cinematografia no Ceará.”


**10/Novembro/1978-Morre, em Fortaleza, às 14h, na Casa de Saúde São Raimundo, o advogado, jornalista e empresário Amadeu Gomes de Barros Leal (Amadeu Barros Leal), fundador e presidente da empresa cinematográfica Cinemar, cearense de Quixeramobim nascido em 13/03/1914.
Foi sepultado no Cemitério de São João Batista.



Crédito: Jornal O Estado/Memória do Cinema/Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de 
Miguel Ângelo de Azevedo

sábado, 18 de maio de 2013

Centro de Convenções do Ceará



Centro de Convenções

Em 28 de maio de 1973, realiza-se o lançamento da pedra fundamental do Centro de Convenções do Ceará, projeto do arquiteto José Neudson Bandeira Braga (Neudson Braga), na Água Fria.
A inauguração ocorreu em 09 de março de 1974, na administração do governador César Cals de Oliveira Filho, em terreno de cerca de 15 mil metros quadrados, o maior do Nordeste em seu gênero.


Hoje tem o nome de Centro de Convenções Edson Queirós.
Fica na Avenida Perimetral (hoje Avenida Washington Soares), vizinho à Unifor.

Após sua inauguração, foi palco de seu primeiro acontecimento - Assembléia Geral do Banco do Nordeste, sob a presidência do ministro do Interior, Costa Cavalcanti.

O Centro de convenções possui 15.200 m² de área, sendo aproximadamente 13.000 m² climatizada. Sua estrutura tem capacidade para receber até cinco eventos simultâneos, já que possui 7 blocos independentes e alguns sub-bloco (como A400, F Mezanino, mini auditório B1 e B2, etc).


Foto de 2011 de Paulo Targino Moreira

Em maio deste ano, o Chanceler Airton Queiroz e o Governador Cid Gomes assinaram o protocolo de intenções que prevê a ampliação e reforma do Centro de Convenções Edson Queiroz. O documento trata da devolução do equipamento para à Fundação Edson Queiroz que construirá para o Estado um teatro com capacidade para 1.800 pessoas e dois auditórios com capacidades, cada um para 400 pessoas.


Acervo de Fabio Mesquita Torres

Segundo a Coordenadoria de Imprensa do Governo do Estado, na época da construção do Centro de Convenções, na década de 1970, parte do terreno em que ele está localizado, cerca de 10 mil metros quadrados, pertencia à Fundação Edson Queiroz, que cedeu uma gleba para o equipamento. "A Unifor é a maior universidade privada do Nordeste, talvez a maior do Brasil, e tem se destacado, além da qualidade de ensino, no estímulo ao esporte e às artes. O que acontece neste momento é uma devolução onerosa em que o turismo de negócios do Ceará ganhará um equipamento moderno e capaz de nos tornar um dos estados com melhor estrutura nesse tipo de turismo no Brasil, se somando ainda ao Centro de Eventos do Ceará", destacou Cid Gomes.



Acervo Prêmio Caio 2007


O Centro de Eventos do Ceará, um dos mais modernos equipamentos para a realização de feiras do Brasil, se ressentia de um grande auditório para dar suporte aos eventos que aconteciam no local. Pela carência desse tipo de espaço, o local para convenções era improvisado em seus amplos salões.
Mas com a assinatura, no Palácio da Abolição, de um protocolo de intenções entre o governador Cid Gomes e o chanceler Airton Queiroz, para a ampliação e reforma do antigo Centro de Convenções Edson Queiroz, situado ao lado do Centro de Eventos, o problema será resolvido.

Foto de 2011 de Paulo Targino Moreira

O acordo prevê a reforma do Centro de Convenções Edson Queiroz, com o prédio sendo devolvido à Fundação Edson Queiroz. Por sua vez, a instituição construirá para o Estado um teatro e dois auditórios.
Uma passarela deverá interligar o Centro de Feiras aos novos espaços para convenções. Documento de transferência do equipamento será encaminhado à Assembleia Legislativa para aprovação.

O chanceler Airton Queiroz também destacou o potencial turístico e artístico do Centro de Convenções e ressaltou que haverá ampliação na estrutura física da Universidade de Fortaleza (Unifor), que tem atualmente 30 mil alunos.

Alguns Fatos Históricos:

*28 de maio de 1973 - Lançamento da pedra fundamental do Centro de Convenções.

*09 de março de 1974 - Inauguração do Centro de Convenções.

*21 de junho de 1974Abre-se a I Convenção Nacional do Café, no Centro de Convenções do Ceará.

*26 de junho de 1974 - Inaugurado o Congresso Nacional dos Garçons, às 9h, no Centro de Convenções do Ceará.


*25 de novembro de 1974 - Instala-se solenemente o II Congresso Cearense de Escritores, às 20h, no Centro de Convenções de Fortaleza, patrocínio da Secretaria de Cultura, Desporto e Promoção Social - Secult, iniciativa da Academia Cearense de Letras - ACL, do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico) e Casa de Juvenal Galeno, com cooperação do Departamento de Assuntos Culturais do Ministério de Educação e Cultura - MEC.

*30 de janeiro de 1975 - Instala-se no Centro de Convenções, a II Jornada de Neurologia e Neurocirurgia do Nordeste, em solenidade presidida pelo governador César Cals.

*15 de novembro de 1975 - Abre-se, às 20h, o III Seminário Nacional de Irrigação e Drenagem, no Centro de Convenções, com a presença do Ministro do Interior, Maurício Rangel Reis.

*02 de dezembro de 1977 - Às 17h instala-se, no Centro de Convenções, a Academia Cearense de Língua Portuguesa, tomando posse a primeira diretoria, que tem na presidência o professor Hélio de Sousa Melo (Hélio Melo); primeiro vice-presidente, José Rebouças Macambira; segundo vice-presidente, Itamar de Santiago Espíndola (Itamar Espíndola); primeiro secretário, José Fernandes; segundo secretário, Mirson Lima; primeiro tesoureiro, Itamar Macedo; segundo tesoureiro, Hamilton Andrade; e diretor de publicações, Abdias Lima.

*18 de maio de 1979 - Lançamento, com início às 18h, de Mulher Mostra Mulher, no Centro de Convenções, promoção do jornal O Povo, com a presença da atriz Tônia Carrero e do Quarteto em Cy.

*18 de maio de 1985 - Abertos no Centro de Convenções, o IV Congresso Nordestino de Odontologia e o VI Congresso Cearense de Odontologia.

*15 de maio de 1990 Aberto, no Centro de Convenções Edson Queirós, o I Congresso Brasileiro de Advocacia.


*08 de maio de 2001 - Abre-se, às 19h com duração até o dia 11, no Centro de Convenções de Fortaleza, a TECN Hotel Nordeste 2001, a segunda mais importante feira de hotelaria do País, evento da CLCA Feiras e Promoções, que engloba a 5ª Feira de Produtos, Serviços e Tecnologia para Hotéis, Restaurantes, Bares, Lanchonetes, Lavanderias, Hospitais e Similares; o 4º Salão de Arquitetura & Design para Hotéis; o 3º Salão de Gastronomia Internacional; e o 1º Salão de Arquitetura & Design para Hospitais.

*15 de dezembro de 2004 - A deputada estadual Luizianne de Oliveira Lins (PT), o sindicalista José Carlos Veneranda (PSB) e os 41 vereadores eleitos, em Fortaleza, nas eleições de três de outubro, são diplomados pelo juiz Francisco Suenon Bastos Mota, que presidiu a junta apuradora das eleições.
O diferencial da cerimônia de diplomação, este ano, no Salão G do Centro de Convenções Edson Queiroz. Representantes de 11 escolas da capital que participaram do Projeto Eleitor Futuro, entregaram a prefeita eleita, prioridades que elegeram para os setores de esporte, educação e cultura.



Fontes: Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza, Blog do Fábio Mesquita e Blog do Evandro

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Praia do Futuro II - Antecedentes Históricos


Jornal O Povo de 10/03/82, barracas na faixa de berma em frente ao Clube de Engenharia.

Quando, no ano de 1948, o Jornal O POVO anunciou em forma de pergunta - Qual será, de futuro, a praia de banho de nossa bela capital? O jornalista talvez não vislumbrasse que seria essa, alguns anos na frente, a faixa de praia de Fortaleza mais requisitada por todas as camadas sociais, tanto os de classe de maior poder aquisitivo, quanto os de extrato médio e baixo. No caldeirão social da praia do Futuro, sem dúvidas, diferentemente de outras praias de Fortaleza, ela se caracteriza como um espaço onde todas as classes sociais, não só de Fortaleza como da região metropolitana, frequentam.
Praia do Futuro em 1972.  Acervo pessoal

Década de 70 - Arquivo Pessoal

bairro da Aldeota expandiu-se com a ocupação dos moradores “endinheirados” passando em prestígio antigos bairros da cidade - JacarecangaBenfica, Bairro de Fátima - que possuíam uma ocupação com residências de luxo. 
Essa expansão em direção à praia ultrapassou o Ramal Ferroviário Parangaba-Mucuripe, chegando às terras chamadas de Sítio Cocó, do Sr. Antônio Diogo Siqueira, que adquiriu as terras da margem esquerda do Cocó em direção ao Porto do Mucuripe, delimitando-se com os trilhos da ferrovia e a faixa de praia. 

Este recorte espacial era, em finais do século XIX e começo do século XX, “uma enorme extensão de terra com objetivos agro-pastoris, basicamente para o senhor Antônio Diogo, local para a criação de gado e salga da carne como objetivo de exportação do produto pelo porto do Mucuripe”. Lustosa da costa (1988).

Década de 70 - Arquivo Pessoal

A área possuía grande valor comercial pelas extensas salinas, sendo a principal situada à margem esquerda do rio Cocó, onde hoje se encontra a ponte sobre a Avenida Santana Júnior em direção à praia do Caça e Pesca. Segundo o Sr. Valdir Diogo, filho do proprietário, senhor Antônio Diogo, em entrevista em junho de 2004: “O comércio de salgar a carne era bastante usual e o preço do sal era muito caro, portanto adquirir uma salina era de vital importância”

Prolongamento da Avenida Santos Dumont em direção a Praia do Futuro em 1975

Jornal O Povo de 11/05/76 - Avenida Santos Dumont, aberta em meio as dunas, ao longe Edifícios Bagatelli e Demoselli em frente ao BNB Clube.

Diz a professora, Maria Clélia Lustosa da Costa (1988), que, passada a lucratividade do comércio da exportação de carne, a família Diogo vislumbrou a possibilidade de comercialização da grande faixa de terra. Com efeito, na primeira metade do século XX, dois loteamentos foram abertos, “Moderna Aldeota”, situado onde hoje atualmente está a Avenida Santos Dumont, chegando à Avenida Santana Júnior e bairro do Papicu, e outro loteamento junto ao porto do Mucuripe, chamado inicialmente de Antônio Diogo, no entanto modificado pelo nome popular, de loteamento da praia do Futuro

Final dos anos 70 - Arquivo Pessoal

No loteamento “Moderna Aldeota,” em inícios da década de 1960, especificamente em 1962, foi inaugurado o Hospital Geral de Fortaleza e, sete anos depois, a Cervejaria Astra, depois modificada a sua denominação para Cervejaria Brahma. Esta gradativa indução para a zona leste da Cidade propiciou a construção do primeiro conjunto habitacional de grande porte na zona leste da cidade - Cidade 2000 - em 1971. 

Final dos anos 70 - Arquivo Pessoal

Com a ponte do rio Cocó construída, criou-se um caminho para a zona sudeste da cidade, pela chamada Avenida Perimetral (atual Avenida Santana Júnior). 
Essa expansão foi gradativamente incorporando, de maneira desrespeitosa, o meio ambiente, pois o aterro de área de várzeas era cada vez maior para a construção de loteamentos, em direção às terras do senhor Patriolino Ribeiro, no atual bairro da Água Fria

Final dos anos 70 - Arquivo Pessoal

Diferentemente do que pensam algumas pessoas, a topografia das primeiras quadras do loteamento da praia do Futuro não era tão plana como se observa atualmente. Em entrevista de junho de 2004, o Sr.Valdir Diogo diz: “O loteamento Antônio Diogo foi bastante nivelado, pois havia ondulações de dunas no local e era permitido a época à utilização de máquinas D6, D8, motoniveladoras e posteriormente a isso, foi realizado o loteamento”

Quanto ao papel da mídia na abordagem da praia do Futuro, a começar da década de 1960, quando da consolidação do Porto do Mucuripe e dos terrenos contíguos, configuraram-se iniciativas que proporcionaram grandes matérias na imprensa sobre as condições de operacionalidade do porto do Mucuripe e algumas matérias sobre as condições de vida dos moradores ao redor do porto, e muito pouco sobre a praia do Futuro.

Anos 90 - Arquivo Pessoal

As manchetes do ano de 1964 ainda situavam sempre os mesmos problemas relacionados com a falta de infra-estrutura do porto do Mucuripe e da falta de recursos para resolvê-los. A
partir do ano de 1965, a praia do Futuro começou a ser de fato mais presente no dia-a-dia do fortalezense, como consequência da expansão de Fortaleza para leste. 

Anos 90 - Arquivo Pessoal

Em 1965, as manchetes já mostravam claramente a praia do Futuro no contexto da especulação imobiliária, na natural consolidação do loteamento da Imobiliária Antônio Diogo, além de infra-estrutura necessária para o crescimento do Porto do Mucuripe: 

“O Ouro da Praia do Futuro”, que fazia uma propaganda de venda do Edifício Belo Horizonte, O POVO 30 e 31/01/65; 


Observa-se em 1966 uma tendência de crescimento na área, pela consolidação do porto do Mucuripe, mesmo não existindo soluções definitivas em função de trabalhos importantes de dragagem e de tentativa, por parte dos gestores públicos, de resolver com recursos da União os problemas de uma maneira gradual.
Sendo assim, equipamentos de porte, do tipo fábrica de asfalto, induziram junto com as belezas naturais uma ocupação rarefeita, com edificações e até de opções de lazer, pois a jovem classe emergente local incorporava a praia do Futuro como área bucólica, dos amantes da natureza e liberdade de ações, e começou-se a preocupação com o futuro da Praia, como mostram as manchetes: 

Futurama reúne, clube que reunia na praia do Futuro a classe social
emergente de Fortaleza
, O POVO 04/10/66;
Fim da draga, retirada da draga que trabalhou no porto do Mucuripe, O
POVO 17/05/66;
Embelezar a cidade é salvar a praia do Futuro, O POVO 15 e 16/10/66. 

Anos 90 - Arquivo Pessoal

Começavam a se preocupar, pelo menos nas páginas de jornais, com a melhoria da arborização da praia do Futuro, que ao que parece não foi de fato realizada, como transcreve a matéria, (O POVO 15/16/10/66): 

O Departamento de Paisagismo foi informado de que um trecho da Praia do Futuro a poucos metros do mar está sendo loteado. Por isso vai procurar o prefeito Murilo Borges para pedir que a denúncia seja averiguada, pois segundo o Sr.Carlos Belandi (Diretor do Departamento de Paisagismo da Prefeitura) a área se presta para a instalação de bosques, já tendo programado o plantio de Oiti cajueiro, Coqueiro e Castanhola. 

Fortune Drive In - Arquivo Jornal O Povo de 31/03/1967

No ano de 1967, observaram-se fatos transformados em manchetes. As manchetes negativas sobre a descontinuidade das obras do porto do Mucuripe deixaram de existir e só se falava de avanço e melhorias em toda a área, com locais para divertimento, como comprovam estas matérias: 

Companhia Docas faz do Mucuripe porto seguro, O POVO 26/04/67;
Fortune Drive in: Coração da Praia do Futuro, O POVO 15 e 16/07/67; 

Jornal O Povo de 21/05/78, W.C Típico das barracas de praia a época.

Em 1968, a praia do Futuro, mais consolidada como grande opção de lazer, suspirava uma sensação de possível “copacabanização”, sendo a atenção dos técnicos reportadas nos jornais sobre a necessidade de se tomarem providências no sentido de ordená-la. Com efeito, A Avenida do futuro, citando a necessidade do alargamento e iluminação da então via de calçamento Dioguinho, O POVO 22/04/68. 

Encontro do Rio Cocó com a Praia do Futuro em 2004 - Pedro Itamar de Abreu Júnior

Hoje, os “Chez Pierre, os Drive-in Bar, os Sombra Amena”, vão povoando de cumeeiras leves ou portáteis o antigo deserto de dunas e ventos fortes. Praticamente, os banhos de mar de Fortaleza se mudaram com armas e bagagens para o lado do velho Farol. Por que não iluminar a Praia do Futuro? A municipalidade deve acompanhar o povo, criando-lhe novas área de respiração.


Crédito: Praia do Futuro-Formas de Apropriação do Espaço Urbano 
de Pedro Itamar de Abreu Júnior 

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: