Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A queda do pássaro gigante - O registro de uma mente!


NO DIA EM QUE ME TORNEI CELEBRIDADE

Ingressei nos quadros da então Rede Ferroviária Federal S/A aos 18 de outubro de 1981, via concurso público, e de entre 1648 candidatos para 25 vagas logrei o 14º lugar. Iniciei como Manobrador, depois Praticante de Estação (87), Agente de Estação (89), em 1994 Chefe da Estação Central e até 2011 fiquei como Assistente Técnico do Museu do Trem, dando expediente na Associação dos Engenheiros da Rede de Viação Cearense. Aí deixei de andar dentro de trem e ele ficou andando dentro de mim...

Então vamos ao assunto Piloto ou em Epígrafe: Você pode modificar seu presente visando um futuro, agora é impossível querer mexer no seu passado, afinal passado não é o que passa e sim, o que fica do que passou. Como nossa mente registra, o indelével fica sempre perto.

Em 1973 eu era aprendiz de operário na Fabrica de Tecidos São José no Jacarecanga. Trabalhava no horário de 14 às 22hs. Aos 20 de outubro deste 1973, fui com uma caneta e papel prestigiar um evento: A INAUGURAÇÃO DA AVENIDA LESTE.

Reclame antigo da Fábrica de Tecidos São José - Arquivo Assis Lima

Como rapazote fiquei com muito esforço, ao lado do Palanque das autoridades. A pior coisa que possa existir é um intelectual pobre. Anotei muita coisa. Precisamente às 10:25hs, chegava ao Palanque ao som da Banda Musical da Marinha, o Excelentíssimo Sr. Ministro de Estado do Interior José Costa Cavalcante (Tenente – Coronel do Exercito 1918-1991), que viera representar o Presidente da República Emilio Garrastazu Médici; Governador César Cals; o Prefeito Vicente Fialho e várias outras autoridades militares, civis e eclesiásticas.

Morro do Moinho (Hoje local onde fica o Instituto Médico Legal (IML) - Arquivo Assis Lima

Quando Costa Cavalcante estava fazendo seu pronunciamento, a apoteose do discurso fora interrompida, devido o ribombar das ensurdecedoras turbinas de quatro aeronaves Xavantes em vôo rasante. Depois começou acrobacias sob os efusivos aplausos; aí foi quando um dos pássaros gigantes cor de prata, entrou em parafuso em uma das manobras no corte dos céus do Pirambu (o palanque havia sido montado defronte ao hoje desativado Kartódromo). Três coisas ficaram na solidão: a casa do pintor primitivista Chico da Silva, o Bar do Ferrim, famoso por vender anzol cara torta, e aquela que fora casa de praia da família Moraes Correia, que ficou promíscua levando o nome de Cabaré Gozo do Siri. Naquele tempo ninguém conhecia a palavra Motel. É um termo moderno usado, e que com a inversão de valores, o imoral está sendo legal.
Pois bem, o Xavante caiu em cima de residências na rua Gomes Parente esquina com a rua Santa Rosa, a 100 metros da Cia. Ceará Têxtil de Jaime Machado. Foram atingidas quatro casas, vitimando fatalmente 12 pessoas, levando outra dezena para a unidade de queimados do IJF, ainda com a frente para a rua Senador Pompeu com Antônio Pompeu e era ainda conhecido como Assistência Municipal. O Polion Lemos, cinegrafista na época da TV Ceará Canal 2, conseguiu subir ao telhado de uma casa defronte, e registrou tudo em imagens.


 
Vista aérea do Arraial Moura Brasil. Vemos toda a extensão da praia, desde a Praia Formosa (hoje no local se encontra o Marina Park) até a Leste-Oeste, local onde ocorria o "espetáculo". A rua na parte inferior é a rua Barão do Rio Branco. Também podemos observar o antigo gasômetro que ficava vizinho à Santa Casa de Misericórdia. Foto provavelmente da década de 50. Arquivo Assis Lima. 

Perspectiva hoje - Ivan Gondim

O piloto que morreu somando 13 em numero de mortos, tratou-se do Major Aviador Rangel Molinos, que não era um cearense. A cerimônia fora interrompida. Se eu tivesse, ou melhor, se existisse os recursos que hoje temos, as imagens que não sai de minha mente estariam no Youtube.
Escrevi minha primeira matéria. Aiiiiii quando cheguei à fábrica, eu fui o único que havia conferido in-loco a tragédia. A sessão dos filatórios (fiação) parou e os operários fizeram em torno de mim um círculo para me entrevistar, pois muitos, ou melhor, a maioria morava no Pirambu. Uns moravam na rua Odorico de Morais de testa a Mercearia Vencedora do bairro, outros entravam na rua Mossoró, ainda tinha os que entravam na 7 de Setembro que, na esquina ficava a Padaria Jangada e lá na frente a barbearia do seu Celestino, onde eu cortava meu cabelo. Os demais adentravam na rua Largo dos Santos.

Foi assim que nasceu minha aptidão pelo escrito. Um operário de pequena estatura, para comentar um grande acontecido.
Relembrando, fui para a Estrada de Ferro, porque como disse Raquel de Queiroz: “Menino criado em beira de linha fica com o trem no sangue”. Mas, paralelamente exerço Jornalismo e também faço rádio com o meu currículo escolar graduado e com os devidos registros profissionais em órgãos competentes. Mas rádio e Jornal não dá dinheiro, a não ser que tenhamos vínculo empregatício, ou somos terceirizados via publicidades.
Com ou sem dinheiro, escrever me faz bem.

Assis Lima

Bônus:

"Campo doado pela família de Jacinto de Matos ao Estado, quando o Governador era Parsifal Barroso, para a Construção do Grupo Escolar Sales Campos. Jacinto de Matos é o Patrono da Rua de entrada do Pirambú. Prestou como Engenheiro Cívil relevantes serviços a Estrada de Ferro no Ceará na década dos anos 1920. Era pai da Professora Nilse Borges. Estudei com seu Neto Edmilson Borges em 1969. Os Galpões eram da São Judas Thadeu, e vizinho ao terreno marcado era o Instituto São Luis do Professor Luis de Melo, pai do médico pediatra João Nelson. São Judas Thadeu era uma Usina que fabricava com caroços de algodão o famoso óleo Patury. A Usina Thadeu como conhecíamos, era cliente da RFFSA, e recebia vagões fechado com algodão com caroços e também tanques com óleo de mamonas, em que este registro de 1956 mostra um estacionado para descarga." Assis Lima

O Pirambu de outrora - Arquivo Assis Lima

Arquivo Assis Lima

Leia também:

Tragédia na inauguração da Avenida Leste-Oeste


Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
Idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Reminiscências da Avenida Francisco Sá - Jacarecanga



Jacarecanga -  Acervo Assis Lima
 
"A avenida Francisco Sá no final do Século XIX era um estreito caminho, que nascia ao noroeste do campo onde seria a Praça do Liceu. Após a ponte de madeira que transpassava o navegável riacho Jacarecanga, existiam à beira da carroçável estrada Oeste, três artérias: a que se dirigia ao Lazareto* do Jacarecanga (Hoje rua Adriano Martins esquina com Adolfo Campêlo); a segunda ganharia vida com a seca de 1932, quando os retirantes desordenadamente ocuparam o solo, que se denominou o hoje populoso bairro do Pirambú, cujo incremento social deveu-se ao Padre Hélio Campos; e a terceira artéria dava para um segundo lazareto que era o da Cacimba Funda, na hoje rua Hélio Campos esquina com rua monsenhor Rosa. Continuemos na estrada Oeste, cujo fim era na cerca da propriedade do Coronel Antônio Joaquim de Carvalho (atual Dr. Theberge). Ao lado e no fim dessa fazenda que já se chamou Jardim Petrópolis, foi construído um aterro sanitário popularmente conhecido como rampa, já que o forno crematório de lixo no bairro Matadouro (Otávio Bonfim) havia sido desativado. Todos sabem que lixos atraem urubus, e assim para toda aquela região, surgiu a nomenclatura “Bairro do Urubu”. Exemplos da popularidade contagiante foram percebidos quando: A Rede de Viação Cearense RVC inaugurou em 1930 seu parque de manutenção mecânica, e foi batizada de “Oficinas do Urubu”; igualmente, a Rádio Iracema de Fortaleza quando começou a irradiar em outubro de 1948, a estação transmissora foi instalada nas dunas do Urubu. Sendo assim, a Estrada do Urubu em 1928 passou a denominar-se Avenida  Demóstenes Rockert, cujo empedramento foi inaugurado aos 28 de junho de 1931 recebendo o nome de 5 de Julho

 A ponte ainda de madeira em foto de O. Justa

Construção da Ponte em concreto (antes era de madeira) sobre o Riacho Jacarecanga.  Acervo Assis Lima

 Avenida Francisco Sá - Acervo Assis Lima

O povo de Fortaleza já podia transitar em duas mãos do Jacarecanga até a Barra do Ceará, onde na época pousava os hidroaviões. Em 1936, ocorrendo a morte do Ministro da Viação e Obras públicas, Engenheiro e ex-Senador pelo Estado do Ceará Dr. Francisco Sá, posteriormente essa importante via recebeu o seu nome. Andar pela Avenida Francisco Sá é respirar um ar de aristocracia, afinal a Aldeota ainda era o Outeiro, o Bairro Dionísio Torres se resumia numa grande fazenda onde os coqueirais dançavam na brisa da velha Estância Castelo e o Meireles era um aglomerado de moradores simples e que resistem as especulações próximas ao Campo do América

Avenida Francisco Sá - Acervo Assis Lima  

 A Estrada do Urubu (Avenida Francisco Sá) à partir de 1939. A pavimentação asfáltica se deu em 1965. Acervo Assis Lima

 Casa de Pedro Philomeno Gomes ficava na esquina noroeste do cruzamento da Avenida Francisco Sá com a hoje Avenida Filomeno Gomes. Terreno à direita. Arquivo Nirez

 A casa de Pedro Philomeno vista da Avenida Francisco Sá.

Saindo da Praça do Liceu em rumo à Barra do ceará, quem não se lembra da mansão do Pedro Philomeno? Da Vila Quinquinha residência do empresário Oscar Pedreira com a garagem de seus ônibus? Do riacho Jacarecanga (ainda limpo); do SAPS, SAMDÚ; da Autoviária São Vicente de Paulo e o Mercadinho Público na beira da Via Férrea de Baturité? Após a passagem de nível, tínhamos a Fábrica Baturité (Depois José Pinto do Carmo), a Casa Machado, Alumínio Ceará, Brasil Oiticica etc. 


A Autoviária São Vicente de Paulo criou a linha “Francisco Sá”, cujo final do percurso era onde foi construído o Hospital Infantil. Estas são algumas saudades. A avenida Francisco Sá que compreendia da Praça do Liceu até os sete prédios da Barra do Ceará, era uma única artéria de Fortaleza com três cruzamentos com a via férrea. A primeira era no Jacarecanga; a segunda no Bairro Carlito Pamplona e a terceira no Urubu que seguia como ramal ferroviário da Barra, e que fora erradicado em 1954. Menino parece que enxerga melhor que gente grande; vez por outra trafego nesta avenida, e já cinquentão, não vejo mais nada disso. Nem mesmo a casa da vovó Ester defronte ao desaparecido SAPS. Eu não era neto daquela anciã, apenas com outros colegas de infância também moradores da Vila São José, tirávamos caju do seu sitio sem sua permissão, levando vez por outra carreira do seu caseiro. "

Assis Lima
(Radialista/Jornalista)


*Lazareto era como se chamavam os prédios que, abrigavam isoladamente os pobres com doenças transmissíveis e muitas incuráveis para à época tais como o Cólera, lepra e tuberculose. Ainda não tinha sido construído o Hospital da Misericórdia, hoje a Santa Casa. O da Vila de Jacarecanga foi inaugurado em 27 de maio de 1820, apesar de ser iniciado sua construção e funcionamento precário desde 8 de junho de 1814. O Galpão fora erguido ao Oeste do Riacho Jacarecanga.


sábado, 17 de setembro de 2016

Vila São José - Jacarecanga



Vila São José - Jacarecanga- Rua Maria Luiza -Casas construídas para trabalhadores da Fábrica São José. (Leia o comentário ao final do texto)

NOSTALGITE 

"Hoje amanheci com saudade da minha Vila São José, no ex-aristocrático Jacarecanga. A Vila como era popularmente conhecida, em cada casa era a extensão de outra, pois, seus primitivos moradores eram como uma família. Existiam grupos, mas não com sectarismo nefasto, ou rivalidade indígena tal qual Fortaleza x Ceará com torcidas organizadas. Existiam quatro entradas para a Vila São José, a Vivenda operária da fábrica de tecidos do Cel. Pedro Philomeno. A primeira era no beira linha, onde se passava defronte a Usina São José (fábrica). Os slogans eram Redes Philomeno “Durma bem e Viva Feliz” e o outro era: Toalhas São José enxugam e não molham”. Já ia mudando de assunto...

Vila São José. Meus primos Victor e César e vizinhos - Cruz Júnior

A outra entrada para a Vila era a Rua Monsenhor Dantas, aí existia um ar de aristocracia: Casa do Acrisio Moreira, e muitos bangalôs e na beira da ponte sobre o riacho Jacarecanga, no lado sul mato, leste a vacaria do Véi Alves e no oeste a cacimba do Cirilo que poucos sabem da historicidade daquele cacimbão: abastecia o Lazareto de Jacarecanga no segundo quartel do século XIX. A terceira entrada para a Vila era na Rua Adriano Martins que tinha o Campo de Baturité e finalmente a quarta que era a Rua Dona Maroquinha, homenagem à mãe do Coronel Dono de tudo. O Ícone de entrada era a caixa d’água do Seu Telles, mas antes apreciávamos as quadras que em 1965 uma foi ocupada pela Cajubraz, e na esquina da Rua Adolfo Campelo a bodega do Seu Ozanan. Por detrás ficava o Mercadinho e a Vila onde morava o Abelardo Sapateiro. Era maravilhosa a Vila São José que eu vivi. Os moradores ou eram operários e funcionários não subalternos da fábrica, ou funcionário público indicados por políticos, que respeitavam e tinham amizade com o Cel. Philomeno. 

 
A Fábrica de tecidos São José em 1957. IBGE

O Deputado Dorian Sampaio foi morador desta vila. Tinha perifericamente dois canteiros que receberam o nome de Avenidinhas, e tinha pés de castanhola. Os mais velhos, respeitavam as brincadeiras dos meninos. Hoje quando palmilho em meu berço, não vejo mais nada. Moradores antagônicos, crianças abandonaram brincadeiras de roda, para conversas infanto-juvenil virtual que é um perigo. A fábrica fechou em 1976, e com ela foi uma emigração social. Por onde anda meus colegas de infância? Sei que alguns já nos deixaram, como o Paulo pionque, Glauco Cueca, Jesus pea de fumo, Elder, Eldair e Messsim (precocemente) , Zé Maria das raias... Os de mais idade: seu Zé Bento, Telles, João Lima bodegueiro, Fernando de Branco, Clebão, José da Mundoca, e tantos outros. Ah! Encontrei o Miltão e seu irmão Ivo em Beberibe. Há! Vila São José, muitos de teus prédios deixaram de existir. Não existe mais as casa de sua entrada primitiva, até a casa que nasci foi ao chão. O barulho do trem que passava por ali foi ao silêncio. Só tem trem agora para Caucaia e passa por onde existia a mercearia do Edmilson. Já já eu falo mais sobre Jacarecanga..."

Assis Lima
(radialista)


Foto publicada no jornal Tribuna do Ceará em junho de 1967. Acervo Lucas

"Essa é a casa de Dona Isaura que era viuva de um mestre de linha da RVC. Na divisão das linhas Baturité e Sobral ficava a Mercearia do Edmilsom. A casa que fica no canto era da família do Gregório, cujo Dono trabalhava na Fabrica Arakem. O Francisco e o Sérgio Gregório estudaram comigo no Grupo Escolar Sales Campos na Entrada do Bairro Pirambu." Assis Lima

Localização da casa hoje:

A primeira foto é o local onde ficava a extinta casa e a segunda num ângulo mais distante - Assis Lima

Acervo Lucas

"Esta visão é de quem está na via férrea. Esse ferro era para evitar tráfego de carros. As pedras toscas soltas não era obra e sim devido ao desnível.Esse é o Início da rua Monsenhor Dantas. Lembra que eu falei das quadras e que uma fora ocupada pela Cajubraz? Então, aquelas paredes é da Cajubraz, que transversalmente passa a rua Dona Maroquinha seguindo à direita da foto para a Avenida Francisco Sá."  Assis Lima 

A fábrica no auge (Arquivo Nirez) e na decadência (Alex Mendes).

Bônus:

Vídeo da Fábrica São José.
Crédito: Philomeno Gomes Jr.
Agradecimento:Isabel Pires





A molecagem e os tipos populares da Vila São José - Jacarecanga

"A Vila São José não sei hoje, mas era um povoado moleque algo típico da cultura cearense. Era uma comunidade cômica, onde poucos eram conhecidos pelos verdadeiros nomes. Apelido tinha que ter, senão não era da Vila. Dentre os que eram apelidados, o que mais se destacavam tornava-se tipo popular. Ah! Que saudade daqueles anos de 1960, início dos de 1970 (A Fábrica de tecidos fechou em 1976). Dos que minha memória ainda não apagou, posso me lembrar do Bico de Papagaio (Videlmon); Maluquinho (Wilson); Cueca (Glauco); Fede a C....(Pereirinha); Fifi (Carlos); Piongue (Paulo); Morcego (Jorge); Manteiga (Marcos); Quinquim (Francisco); Patola (Fábio); Bambulê (Dedé da Raimunda); Burraldo (Seu Lázaro); Pirulito (Assis, eu); Saquim de Arroz (Olavo); Feijão (Flávio); Lery (Marquim); O Morte (Moisés); Passão (Pedro); Osso da Pá (Seu Valdemar); Orelhão (Ricardo); Tapioca (Elias); Ceroto (Eduardo); Geladeira (Waldir); Cabeção (Oto); C... de Grude (João Negão, sem racismo); Pé Cagado (Manuel coiote); Fala Fino 1 (Cesinha); Fala Fino 2 (Carlito); Boca de Fumo (Luís) lembrando que, nada de coisa ruim como hoje, era porque ele falava mascando. Prosseguindo... Irmãs Maisena; Pajeú (Nancy); Malagueta (Cesar); Bocão (Tito); Vai Pra Merda (Edvar); Batata (José); Chico Tripa (Francisco); Bocora (Francisco); Pé de Pato (Jose); Prego Nu (Hélio); Filho da Mutuca (Vandir); Os doidos Marcos e Vera, mas eram mentalmente saudáveis, apenas com atitudes atípicas. Muduba (Edilson); Dibanquinha (Lucia); Zambeta (Elisabete); Japonês (Cesar); Jumento (Charles); Patino (Valdemar); Dedão (Alsenete); Macacão (Francisco do Seu Antônio Perna dura); Bacurau (Jorge); Klebão Alma (Kleber); Boca de Piano (Antônio); Colorau (Jorge); O Sal (Seu João); Wanderléia (Dona Elsa); Zé da Mundoca (Seu José); Patola (Fábio); Castanha Preta (Jorge); Quinha (Francisca); Boneco (José); Chico menino nu (Francisco); Cajuina (Toinho); Cara de bêbado (Valter); Bebida Falsa (Quincas); Canário (Geraldo), e três que nunca soubemos o nome: Ourivinga, Firme e o Ziquilino. Agora se tornaram personagens populares, na Vila São José, nessa parte pobre do Jacarecanga, e eu me orgulho de hoje ser Jornalista, Turismólogo, ferroviário de carreira, e vivo nas ondas do Rádio, vindo desse proletariado, e não da Aristocracia das ruas e entorno da Praça do Liceu/Guilherme Rocha/Francisco Sá. Vamos com os personagens: Edgar cara de gato, Chiquim perna de Alicate; Ana chupa dedo; Loudinha jumenta cabeluda; Luciano pedra de calçamento; Miltão mãozona; Dona Maria dos Ovos; Pedro do Encosta; Daniel Oião; Edson Patitaca; Beto Macaco; Pedro Véi das fossas; José pifite; Priqt.....de Onça; Chico ferro doido; Adgerson sapateiro; Raimundinho fon fon; Chico sete cão; Sérgio trepinha; Nilo boca de privada; Cabo Xuxa; Zinebra; Fontenele pantaleão; Fedorento do Picolé e o Cheiroso pipoqueiro. A Vila São José era isso. Operários e filhos de operários, assim como eu, tinha uma só linguagem, mas predominava o dialeto do apelido. Nasci e morei lá 23 anos e, nunca ouvi dizer que houvesse gente intrigado. Quando alguém era procurado, o apelido levava o procurador em cima do endereço. Todos brincavam e os mais maduros, ficavam nas calçadas. Minha mãe ainda hoje tímida, era ligada nas novelas da PRE9. Quer dizer, existia vida coletiva. A noite era nosso encontro na calçada da padaria do português Augusto, também proprietário da Padaria Triunfo no Centro da Cidade, baixos do Edifício do mesmo nome. Reuniam-se pelo menos 30 meninos por noite. Eu só faltava, quando tirava nota baixa do Grupo Escolar Sales Campos e ficava em casa de castigo. Fui uma vez visitar meu berço, não conheci ninguém da época. Que boas lembranças, que tempo aquele! Hoje, as pessoas destratam até por redes sociais e se intrigam até com a "sala do Fuxico", apelido que eu dou ao famoso e líder de uso: WhatsApp. Crescemos e a vida foi traçando o próprio destino. Evoco a frase de Machado de Assis: “Cada Coisa Pertence ao seu Tempo”.

Assis Lima

"O pé de castanhola que falei é esse que aparece no canto. O muro na calçada era o fundo do quintal da Viúva Isaura. Seu marido era funcionário da RVC. A mercearia que aparece na Rua Júlio Cesar/Maria Luíza era do Seu Olavo. A Caixa d'água era na rua Leda e nos baixos era o depósito do Rosimiro, hoje na Rua Jacinto de Matos "Organização Gonçalves". Meu saudoso pai Valdemar de Lima, trabalhou de servente pedreiro nestas construções em 1946. As primeiras casa datam de 1926, e eu nasci na Rua Cel. Philomeno nº43 hoje desaparecida devido a outra construção.
Esta foto foi colhida do terceiro andar do único edifício existente. Edificio em que abrigou no térreo os Supermercados CHIBE (Chico Philomeno e Beatriz), e quem lá residiu de 1970 a 1980, quando o CREA o condenou, meu Tio Cazuza."   Assis Lima



Assis Lima é radialista, idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

A arquitetura do ferro em Fortaleza (Parte III) - Adaptação técnica e estética



No fim do Império, a criação da Escola Militar do Ceará, trouxe para a cidade oficiais matemáticos e engenheiros.


O século XIX assistiu à elaboração de novos esquemas de implantação da arquitetura urbana, representando um verdadeiro esforço de adaptação às condições de ingresso do país na modernidade. A integração do Brasil no mercado mundial, após a abertura dos portos, possibilitou a importação de equipamentos que contribuíram para a alteração da aparência das construções dos centros maiores do litoral, porém ainda respeitando o primitivismo das técnicas tradicionais.
A chegada tardia do neoclássico no Brasil se justapõe a uma duração prolongada dos caracteres austeros e simplificadores desse estilo na arquitetura, predominando no país até o final do terceiro quartel do século XIX.

É comum, e com razão,fazer uma ligação do neoclassicismo ao processo de europeização arquitetônica do Brasil, mesmo que algumas realizações nacionais dessa corrente formal estivesse presente, por via portuguesa, desde o século XVIII.
No Brasil costuma-se englobar, sob a mesma categoria, todos os edifícios que empregam o vocabulário arquitetônico cuja origem remonta à Antiguidade greco-romana, que se convencionou chamar neoclassicismo. Alguns elementos construtivos como cornijas, pilastras sob platibandas; paredes de tijolo, revestidas e pintadas de cores suaves; janelas e portas, enquadradas em pedra aparelhada e arrematadas em arco pleno, cujas bandeiras dispunham-se rosáceas com vidros coloridos; bem como os corpos de entrada, salientes, compunham-se de escadarias, colunatas e frontões de pedra aparente, formando conjuntos de linhas severas às normas vitruvianas, que eram características da influência da Academia e do estilo neoclássico.


Mercado da Carne, a primeira edificação pré-fabricada em ferro inaugurada na cidade.


Chegaram também os princípios de higiene que iriam modificar o urbanismo.
O saneamento das habitações e das cidades, a insolação e a aeração de todos os cômodos das habitações, foram medidas que alteraram profundamente os costumes.
Em Fortaleza, as obras de melhor acabamento, que só começaram a acontecer depois da metade do século XIX, resultaram uma ocasional sofisticação na vida urbana, atendidas em parte pelo aprimoramento técnico e a contribuição de profissionais mais capacitados para as novas necessidades. De início, foram militares engenheiros; depois engenheiros militares e, finalmente, engenheiros civis. O Ceará deve a esses profissionais, alguns de ascendência estrangeira, ou mesmo estrangeiros, a implantação e o desenvolvimento de sua arquitetura neoclássica, num primeiro momento. No fim do Império, a criação da Escola Militar do Ceará, trouxe para a cidade oficiais matemáticos e engenheiros. Os projetistas do neoclassicismo cearense não mantinham qualquer tipo de ligação com a Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro. Eram em sua maior parte estrangeiros ou seus descendentes diretos, tais como Paulet, Gouveia, Folglare, Berthot, Théberge, Privat, Steffert, Herbster..
Tanto no Ceará, como em várias partes do Brasil, comprovam claramente a pouca ou nenhuma influência da Missão Francesa na implantação do neoclassicismo do país, pelo menos em pontos distantes do Rio de Janeiro, capital do Império.

Antigo mercado central de Fortaleza - Fonte Jucá Neto

No Ceará, mais precisamente em Fortaleza, o português Antônio José da Silva Paulet, Tenente-Coronel de Engenheiros, autor da malha em xadrez do primeiro plano de arruamento da cidade e elaborado segundo um traçado ortogonal de inspiração neoclássica, foi responsável, também, pelos primeiros projetos arquitetônicos desse estilo, implantados na cidade.
O projeto do novo mercado, da ainda vila, figurou como a mais antiga representação neoclássica da cidade, com características desse estilo na portada de acesso em pedra portuguesa. Silva Paulet foi responsável também pelo projeto e construção, iniciada em 1812 e concluída em 1822, da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, na sua última versão, com características do estilo neoclássico.


Antigo mercado central - Aquivo Jaime Correia

10ª Região Militar - Fonte Capelo Filho


Nessa época, a cidade demandava um conjunto de atividades burocráticas, para cujo exercício se impõe a devida correspondência arquitetônica. Além de igrejas na capital e no interior, merecem citação algumas obras dispersas pela Província, como o Teatro da Ribeira de Icó (1860), conforme projeto do médico, historiador e arquiteto amador, o francês Pedro Théberge; e o Teatro São João (1875-1882), em Sobral, projetado por João José da Veiga Braga.


Antiga cadeia pública - Arquivo Nirez


Em Fortaleza, o neoclassicismo oficial também foi representado no edifício da Cadeia Pública, projetada pelo engenheiro militar Manuel Caetano de Gouveia Filho, concluída em 1866; e na Assembléia Provincial do Ceará, cujas obras se iniciaram no ano de 1856 e foram concluídas em 1871, ainda, na época do Brasil-Império, projetada por Adolfo Herbster, descrito por Menezes (1895: 155), como sendo um majestoso edifício com dois pavimentos, frontão e “archivolta de cantaria ornando a porta principal, sobre a qual foi colocado pesado relevo, representando as armas imperiaes, arrancadas em 1890 a escopro para serem substituídas pelo emblema da Republica”
(Grafia da época)


Antiga Assembléia, hoje Museu do Ceará - Arquivo Nirez


O segundo e definitivo edifício da Estação Central, de acordo com o projeto do austríaco Henrique Foglare e inaugurado em 1880, ainda no Reinado de D. Pedro II, também merece destaque. A fachada do bloco principal da nova estação central de Fortaleza “possui colunas sobre pedestal encimado por frontão triangular, e escadaria demarcando o acesso ao interior do edifício”, com fachadas contíguas e janelas com aberturas em arco pleno, arrematadas superiormente por cornijas e platibandas, solução esta que foi adotada para integrar a antiga estação à nova.
No último quartel do século XIX, os edifícios construídos em Fortaleza apresentaram características da linguagem neoclássica, como a simplicidade das formas e a clareza construtiva. Na prática, porém, o neoclassicismo provincial ficou reduzido a simples vestígios simbólicos do estilo, tais como vergas de arco pleno, tímpano preenchido por bandeiras envidraçadas, e platibandas sobrepostas a cornijas de massa, raras vezes, a presença de algum frontão. Todos esses elementos revelam-se em algumas edificações inseridas no contexto urbano de Fortaleza, mais comuns em edifícios públicos.


Edifício da Estação Central do Álbum Vistas do Ceará


No Ceará, como em quase todo o país, a precisão formal neoclássica envolvia soluções pouco dispendiosas, sem grandes investimentos e sem precisar recorrer a trabalhadores altamente especializados. O tratamento enobrecido e distinto das pedras aparelhadas, geralmente lioz, muitas vezes já vinham prontas em partes, de Lisboa, para serem montadas no Brasil.
Era comum, também, substituir os vidros por grades de ferro batido nas bandeiras das portas principais de entrada; desenhos e a data da construção eram frenquentemente inseridos na parte central da peça. Por facilitar o arejamento, era utilizado também em lojas e armazéns.

Exemplos significativos podem ser encontrados em todas as cidades mais antigas do Brasil, especialmente em áreas junto ao porto. Essa bandeira de ferro pode ser vista como exemplo da época, sobre a porta principal da entrada da Assembléia do Ceará, e também sobre as portas da antiga Alfândega, inseridas num portal de pedra aparelhada, outro ornamento bastante característico desse período.

Bandeira de ferro e portal de pedra aparelhada da antiga Assembléia - 2014
Foto de Maria Claudia Vidal Lima Silva

Bandeira de ferro e portal de pedra aparelhada da Alfândega - 2014
Foto de Maria Claudia Vidal Lima Silva

Portanto, os autores desses projetos erguidos na Capital se enquadravam plenamente sob as influências desse estilo importado, mostrando uma ligação direta com a Europa, com a chegada dos arquitetos europeus e os também descendentes destes, na cidade.
Logo após a proclamação da República, o Ceará se viu dominado por uma oligarquia política comandada pelo comendador Antônio Pinto Nogueira Accioly. Os governos oligárquicos estaduais constituíram uma ocorrência nacional, a chamada política dos governadores inaugurada pelo presidente da República Campos Salles. O Ceará não foi exceção, inclusive com posterior destituição do grupo oligárquico, de forma violenta, no início de 1912.
Nesse período, em Fortaleza, duas obras têm grande importância no final do século XIX, no governo do Tenente-Coronel de Engenheiros José Freire Bezerril Fontenele, entre 1892 e 1896. O sóbrio quartel do Batalhão de Segurança (1893), na Praça Marquês do Herval, com reminiscências neogóticas e a sede do Liceu do Ceará (1894), provavelmente a primeira edificação a empregar elementos decorativos correlacionados ao ecletismo arquitetônico, localizada na Praça dos Voluntários. No governo de Bezerril Fontenele também foi iniciada a obra do Mercado da Carne, a primeira edificação pré-fabricada em ferro inaugurada na cidade.
Contudo, as manifestações da arquitetura eclética na Capital compreenderam as três primeiras décadas do século XX. As primeiras realizações já apareceram no final do século XIX, coincidindo com o período da oligarquia acciolina, iniciado no primeiro mandato em 1896. Apesar do número de obras de arquitetura nesse período ter sido modesto, no entanto, foram portadoras de alto valor simbólico no meio social de Fortaleza, envolvendo entidades e pessoas de notoriedade.


Batalhão de Segurança em foto de 1911

Prédio do Liceu na Praça dos Voluntários - Arquivo Nirez

Prédio do Liceu na Praça dos Voluntários, provavelmente a primeira edificação a empregar elementos decorativos correlacionados ao ecletismo arquitetônico. Arquivo Nirez


As transformações sociais e a expansão física da cidade vão ter consequências na organização espacial da casa e também dos lotes urbanos. As novas construções começavam a se afastar cada vez mais da chamada casa-corredor, de origem colonial. Durante o período imperial, Fortaleza havia mantido o aspecto comum da maioria das cidades brasileiras, uma arquitetura residencial constituída por alguns sobrados, uma grande parte de casas térreas e uma faixa de palhoças circundando a periferia urbana. Para romper com o velho sistema, alterou-se o plano tradicional, introduzindo acessos laterais às casas; assim começaram aparecer casas de esquina e casas situadas no meio dos quarteirões com entrada recuada em relação ao alinhamento da rua.
Nesse sentido, na arquitetura se processaram modificações ditadas não somente pelo gosto por estilos mais refinados, mas também por conveniências de mercado. As casas urbanas com telhados dotados de beirais, receberam platibandas que interrompiam esses mesmos beirais que jogavam água sobre as ruas, geralmente sem calçamento. Surgiam, assim, as calhas e descidas de águas pluviais executadas em ferro fundido e em ferro galvanizado, quase sempre produtos ingleses importados.




A primeira edificação, realmente construída segundo as normas do ecletismo arquitetônico, foi a sede da Fênix Caixeiral*, inaugurada em junho de 1905, em uma das esquinas da Praça Marquês de Herval, um dos locais da cidade mais valorizados na época.
O edifício reproduzia o plano das novas casas de esquina**, ou seja, com entrada lateral sem corredor; uma grande sala para festas, biblioteca e salas de aula. Mostrava um andar nobre sobre porão habitável, que dava um novo aspecto à arquitetura do prédio, com novidades tanto na implantação e localização, como na ornamentação da fachada, com abundância decorativa.

Associação Comercial (Palacete Guarani) - Arquivo Nirez

Em dezembro de 1908, foi inaugurada a Associação Comercial, uma antiga ambição do Barão de Camocim, Geminiano Maia, comerciante de posses, que havia passado parte da mocidade em Paris, voltando à Fortaleza, casado com uma jovem francesa. A nova edificação deveria dar lugar o “status que o alto comércio de importação e exportação reivindicava para si”, segundo Castro (1987: 220). O prédio também situava-se numa esquina, constava no térreo de locais destinados ao Banco Comercial e Agrícola, à exposição de produtos exportáveis e à Associação: e no andar superior, constavam vastos salões.

[...] tinha um vasto telhado de placas coloridas à feição de ardósia, formando desenhos geométricos cinza e róseos. O projeto recebera a assinatura do 1°. Tenente José de Castelo Branco e obedecia ao “estlylo greco-romano”, com “elegante pórtico formado por columnas jonicas” e intercolúnios “encimados por pilastras de ordem corinthia”. Os interiores do pavimento superior constavam de “quatro vastos e luxuosos salões: o de honra, gris-perle; o azul, o róseo, o verde”, com “ornamentos recordando Luis XV”, além do “forro de metal e o soalho todo de madeira de lei, formado por taboas escamadas, que produzem magnifico efeito, o unico no genero no Ceará” (CASTRO, 1987: 220). 
(Grafia da época)

Além dessas duas obras de arquitetura eclética, as sedes da Fênix Caixeiral e da Associação Comercial, a mais representativa nessa época, entretanto, é o Teatro José de Alencar, edificação metálica pré-fabricada, e o exemplar de maior significado da arquitetura do ferro na cidade de Fortaleza.


*Fundada em 1891, a Fênix Caixeiral era uma sociedade assistencial e cultural que congregava o pessoal do comércio, representados pelas figuras de maiores aspirações sociais no segmento, geralmente guarda-livros. Rapidamente passaram a desfrutar de grande consideração em todos os círculos sociais da cidade (CASTRO, 1987: 220).

**O esquema consistia em recuar o edifício dos limites laterais, conservando-o sobre o alinhamento da via pública, o recuo era apenas de um dos lados, do outro quando existia, era reduzido ao mínimo (REIS FILHO, 1983: 44).


Leia também:
Parte I
Parte II


Crédito: Uma Revolução no tempo das trocas: Arquitetura do ferro na cidade de Fortaleza (1860-1910) - Maria Claudia Vidal Lima Silva

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