Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

sábado, 1 de outubro de 2016

Lembranças da TV Ceará canal 2

 

Fortaleza em 1959, ainda com respiração forçada devido a ressaca da grande seca do ano anterior, observava a intensa migração dos cearenses para a construção de Brasília, futura capital do País na vivencia do anos JK. As pessoas comodamente sentadas em suas calçadas no embalar das conversas de vizinhos, passaram a temer os chamados “Rabos de Burro” que, de passeio em suas lambretas aprontavam com a mocidade. As ruas foram sendo proliferadas com os automóveis DKW-Vemag e os chauffers dos carros de aluguel, passaram a se animar com os estudos dos taxímetros, onde tiraria de seus ombros, o velho cálculo de cobrar tarifas por quilometragem, aborrecendo passageiros. 





A lamentação ainda era grande, pois indelevelmente o incêndio no Hospital César Cal's com a morte do estudante que foi herói e mártir, João Nogueira Jucá, marcou o fortalezense, mas a rádio Dragão do Mar, quinta emissora, ainda que na infância, ajudou o povo a levantar a auto-estima, apaixonando seus ouvintes. Pois bem, os jornais da época e com exclusividade o Correio do Ceará, publicaram com ênfase as razões que garantiam a instalação da primeira Estação de Televisão no Ceará. A Ceará Rádio Clube PRE-9, emissora dos “Diários Associados”, e com a liderança que lhe era própria, divulgava o assunto com expressividade, afinal tudo pertencia ao comando do Jornalista Assis Chateaubriand. O terreno para o erguimento da TV ficava na Estância Castelo em meio a um coqueiral, a 35 metros acima do nível do mar, e pertencia a Dionísio Torres, que com sua morte fora homenageado com o nome do bairro. A televisão sem dúvida valorizou o local, elitizando aquele pedaço: Barão de Studart Antonio SalesDesembargador Moreira


A construção foi em ritmo acelerado, e segundo relatórios, foi destacada a preocupação de Guilherme Neto (Diretor Artístico da PRE-9) quanto à formação da equipe para enfrentar as câmeras e o equipamento RCA, proveniente dos Estados Unidos da América. A torre auto - suportável de fabricação Marconi que pesava 30 toneladas, media 108 metros, e dava para emitir imagens com alcance sem repetidora, em cerca de 100 quilômetros. Seus isoladores de porcelana para serem fixados nas bases de concreto, foram substituídos por blocos de ferro fundido, trabalho este executado nas oficinas da Rede de Viação CearenseRVC. A montagem e os ajustes desta colossal obra estiveram sob o comando do engenheiro eletrônico, Igor Olimpiew, então diretor técnico dos Diários Associados e era pasmem: ajudado por João Ramos, o único voluntário do elenco da Pre9. A casa ficou prontinha. Era um edifício de 2 andares, cor amarela com uma área de 5.808 m² e localizava-se entre as ruas Oswaldo Cruz e Visconde de Mauá com a frente para a Avenida Antonio Sales. De chegada tinha a frase: “Tudo aqui é bem feito com amor”. Assis Chateaubriand. Aí precisamente às 17 horas de sábado, 26 de novembro de 1960, Aderson Braz, com toda califasia, colocou oficialmente a TV Ceará Canal 2 no ar estando presentes no ato inaugural, Juracy Magalhães (Governador da Bahia), Wilson Gonçalves, Governador em exercício do Ceará, prefeito de Fortaleza, General Cordeiro Neto e outras autoridades. 
 

Chateaubriand mandou um cabograma ao Capitão Tabajara, que era o Dr. Manuel Eduardo Pinheiro Campos, a quem tanto admiramos. O parabenizou pela titânica obra realizada em tão pouco tempo. Não era fácil fazer televisão naquela época, pois não havia condições para efeitos especiais, nem mesmo vídeo tape, pois tudo era ao vivo e bem ensaiado. As garotas propagandas se perfilavam defronte as câmaras, e cumpriam expedientes. Stelinha Barbosa era um amor de pessoa. No jornalismo tínhamos o Repórter Real, Repórter Cruzeiro, Correio do Ceará na TV, Noticiário Relâmpago, Política Quase Sempre que nos davam informações completas e imparciais graças ao trabalho de Aderson Braz, Candido Colares, Narcélio e Paulo Lima Verde, Luciano Diógenes, Orlando Santos, Ciro Saraiva e etc... Programas de auditório como o Show do Mercantil, Porque Hoje é Sábado, Romcy Gira a Sorte, Sete Dias em Destaque cujas apresentações eram com Augusto Borges, Gonzaga Vasconcelos, Matos Dourado... 
 

As telenovelas com João Ramos, Karla Peixoto, Ari Sherlock, Antonio Mendes (O Toinho), Emiliano Queiroz, Wilsom Machado, Cleide Holanda, Jane Azeredo, Íris Brenno... Na comédia Renato Aragão, Picanço, Praxedinho, com o Vídeo Alegre. Como esquecer os 35 espetáculos do Contador de Histórias? Lembram-se do Lobo do Mar? Aí foi muito coisa. Em 1965, chegou o Vídeo Tape, então passamos a ver filmes como: Bonança, Ratos do Deserto, Zorro, Chicote Negro, Caveira, Os Invasores, Viagem ao Fundo do Mar, Túnel do Tempo, Perdidos no Espaço, a “Deusa” de Joba, Império Submarino, Tarzan, Jim das Selvas... 


Desenhos animados como Super 6, Os Impossíveis, Super Heróis Estrela, Dino Boy, Frankstein Jr... As novelas da tupy como Um Anjo Marcado, Direito de Nascer, A Ré Misteriosa, Irmãos Corsos, Sangue do Meu Sangue, João Juca Junior... A transmissão de lutas livre (Telekate Montilla) em respeito às crianças, era apresentada às 23hs. Era Thed Boy Marino, Tigre Paraguaio, Demônio Cubano, Bola de Prata, Cavaleiro vermelho, Leopardo, Verdugo, Rasputin Barba vermelha, Mongol, Aquiles, Capanga, Sorocaba, Aquiles, Edu, Cavernari, Takari... Os juízes eram o Crispim e Celso. Falar em TV Ceará Canal 2, é lembrar A Grande Chance e Um Instante Maestro com Flávio Cavalcante; A Grande Parada com Wanderley Cardoso, Jair Rodrigues e Rosemary; Noite com As Estrelas com Blota Junior, Clube dos Artistas com Airton Rodrigues, O Programa J. Silvestre e os quadro Amor Perfeito... Perdoem-me por pecar nas omissões, afinal não estou fazendo um resgate pleno da história, e sim lembrando o canal desaparecido, que é a televisão de minha infância, sem apelações ou tendências. Aí em julho de 1980, a TV Ceará já na euforia das cores e afiliada da Rede Tupy, segundo Aderson Braz, por problemas administrativos e contextuais, saiu em definitivo do ar. Mas saiu apenas do ar e não da mente do telespectador, como eu que nada tinha a ver com isso. Saiu do ar, mas não de nossa lembrança e nem do sangue dos que tanto trabalharam para nos oferecer entretenimento, informação e cultura. Quem conhece a história, não esquece aquele 26 de novembro que foi uma apoteose em Fortaleza, quando existiam cerca de algumas centenas de aparelhos receptores, que eram vendidos pelo Gustavo Silva. O único impacto causado pela televisão em nossos costumes foi o recolhimento das cadeiras nas calçadas e, infelizmente agora, com imagens em que a família não fica mais à vontade para assistir. A televisão no inicio era outra, e na ficção é como diz Eduardo Campos: “Uma Fábrica de Sonhos”.

Assis Lima


Fotos histórias:












 
 

 
 
















 









 
















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Do fechamento da TV Ceará até os dias de hoje


Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
Idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio




terça-feira, 27 de setembro de 2016

E o trem nunca mais voltou...


Posto Clipper - Arquivo Assis Lima

Mercadinho ao lado da via férrea e o budegueiro Ozanan

Não sabemos se o Sr. Ozanan havia sido na década dos anos 50, morador das Vilas São Pedro ou São José. O que sei é que o mesmo estrategicamente procurou aquele ponto para negociar. Seu comércio ficava na esquina setentrional das ruas D. Maroquinha e Adolfo Campelo, vizinho a Dona Amália, mãe da Vela Branca, sua filha que nunca soubemos o nome, mas sua pele era antagônica ao sol. A residência do seu Ozanan era na rua Tereza Cristina, defronte ao Templo Central da Assembleia de Deus, no Centro.
Acredita-se que ele foi um dos pioneiros naquele pedaço, no ramo de comércio varejista, e foi concorrido pelo Abelardo sapateiro na Vila São Pedro, na beira da linha olhando para o portão principal da fábrica “Casa Machado”. Abelardo era um viúvo, e mantinha um caso com a também viúva D. Ana, casal engraçado, que nem banguelo comendo farofa. Não saía nada...

"Cruzamento da Av. Fco Sá com o lado da praia (atrás do fotógrafo) rua Jacinto de Matos e a esquerda da foto, Início da Av. J. Bastos. No local do "paredão" à direita hoje existe a Av. Jatahy e os trilhos existem somente até esse ponto pois era a antiga linha sul, hoje parcialmente desativada." Alex Mendes
Foto do acervo Assis Lima

O comércio do sapateiro entrou em decadência. Quando meninote fui lá pela primeira vez, consertar uma sandália de meu pai. As prateleiras empoeiradas com o correr dos anos, mas restando garrafas de refrigerantes vazias, tais como as do Crush, Grapette, Blimp, Guarasuco, Taí, Wilson e Kciki. Ainda posso me lembrar das também de cachaça: Bagageiro, Douradinha, Ypioca e Pitú.

Relembrando o Kciki e o Crush em fotos do Brazilian Beatles em Fortaleza nos anos 60. Acervo Aderbal Nogueira


Entre o Seu Ozanan e o Abelardo, existia o Mercadinho que ia da rua Adolfo Campelo até a Avenida Francisco Sá. Tinha três partes, sendo uma ao ar livre e duas em galpões.
Na parte ao ar livre se vendia animais vivos, galinhas, caprinos e porcos. No recanto noroeste do ar livre tinha o carvoeiro, ou seja, venda de carvão. O despachante era seu Manoel cara preta kkkk não me pergunte por que rí. O muro divisor do mercadinho com a vila São Pedro na beira da linha, era baixo e aí se via o quintal das casas.
O segundo pavimento, tinha uma forma de cruz com quatro comércios. O primeiro era o Sr. Arteiro, o homem do “Hoje Não”, isso porque muitos iam lhe falar fiado. Do mesmo lado tinha o restaurante da mãe do Cristóvão, meu colega de Grupo Escolar Sales Campos (ah! Depois falo do Grupo). Os outros comércios deste segundo pavimento, confesso não lembro. No primeiro pavimento ficavam as carnes verdes, peixes, sarrabulho, panelada e no canto a bodega do pai do Pimpão.


Pelo lado de fora, já pela Avenida Francisco Sá, tinha o mercadinho dois portões de ferro tubular de cor vermelha. Existiam três bares/restaurantes. Um era do Chico Lima, o do meio era o Esquisito Caladinho e o da esquina já beirando os trilhos, o famoso Caldo do Françoá, pai do Hélio queixo de tábua. Esse era o movimento comercial, na entrada principal da Vila São José, onde tinha na Avenida Francisco Sá, uma das principais paradas de ônibus no sentido Oeste das linhas que não eram do Jacarecanga.
As linhas eram Santa Maria via Vila Ellery, Gomes Passos = Nossa Senhor das Graças; Coelho Fonseca = Vila Santo Antônio; Floresta = Álvaro Weyne, Jardim Petrópolis = Goiabeiras/Regatas, Tyrol via 7 de Setembro, Brasil Oiticica Indo ao Carlito Pamplona, Jardim Iracema e Barra do Ceará indo aos 7 prédios.



Agora lamento: Seu Abelardo e seu Ozanan já nos deixaram. O mercadinho, já promíscuo passou por reformas na Administração Vicente Fialho, mas os permissionários não acharam mais interessante. Neste hiato da reforma, surgiram na Vila São José vários comércios.
Atendendo reclames, a Prefeitura vendeu este patrimônio por via legal, e as residências do Pedro Philomeno não suportaram a especulação imobiliária. Foi tudo ao chão.
Só restou daquele pedaço o Posto de Gasolina Clipper que, depois mudou de nome. A Firma Machado desapareceu, e ficou por pouco tempo uma parte mutilada da José Pinto do Carmo.
Até o trem vendo essa lamentável destruição, sentiu tristeza e foi embora e nunca mais voltou, nem eu também."

Assis Lima


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Vila São José


Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
Idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio




domingo, 25 de setembro de 2016

Memórias de menino - O monstro de ferro (Guindaste Titan)



"Quando menino morava na Vila São José no Jacarecanga, meu bairro berço. Quem ia dessa Vila para a praia, palmilhava por um estreito calçamento de pedras toscas; de um lado as paredes da Fábrica de “Redes Philomeno” e do outro o paredão que sustenta a ponte da via férrea sobre o riacho Jacarecanga, verificando-se a separação dos trens: Um para Baturité e outro para Sobral e a bifurcação era na Mercearia do Edmilson, que contemplava a passagem dos trens em ambos os sentidos. Na ponta Noroeste do Cemitério São João Batista pelo lado da avenida Filomeno Gomes (outrora Thomaz Pompeu), ainda existia a abandonada casinha de força dos bondes da The Ceará Tramway Light & Power Co. Ltd, extintos em 1947.


  
 A casinha desapareceu em 1971. Entrando à esquerda e transpassando as linhas, aquele cinturão verde/azul me encantava. Era o mar. Após quase meio quilômetro de caminhada em declive, meus pés tocava nas areias frouxas quando, ainda existiam coqueiros e a cerca de arame farpado que, demarcava o limite do terreno da Escola de Aprendizes marinheiros, pois, ainda não existiam a avenida Leste Oeste e nem tão pouco, o interceptor oceânico. O Clube Ipuense com cobertura tipo palhoça animava seus frequentadores nos fins de semana. Em minhas aventuras pescava nas praias do Jacarecanga e Pirambu onde comprava anzol apelidado de “cara torta” no “Bar do Ferrim”, na mesma calçada da casa do pintor primitivista Chico da Silva. Como menino, Deus me livre de ir para o Cabaré Gozo do Siri (Mansão que pertenceu à família ilustre Moraes Correia). Como toda criança curiosa, ficava a indagar: O que fazia aquela grande chave de abrir carne de lata por detrás do mar? Depois, em 1970 fui levado por meu pai numa das tardes de domingo, a um passeio no Cais do Porto. Eu tinha 12 anos de idade e pela primeira vez vi de perto um monstro de ferro. Proveniente do Rio de Janeiro, sob o comando do capitão mineiro Nabucodonosor Ferreira, chegou a Fortaleza às 11:45hs do dia 26 de maio de 1939, o Vapor da Cia Costeira “Itapoan” cujas cento e oitenta toneladas de materiais, eram o possante Guindaste Titan



Essa gigante máquina, com o motor Caterpillar foi montada pela “Companhia Nacional de Construções Civis e Hidráulicas Civilhidros” que também era a proprietária do guindaste. O descarregamento do material durou cerca 10 dez dias, pois, o navio retirou as ferragens na própria enseada do Mucuripe, com o auxílio de Alvarenga. Referida máquina foi montada para ajudar nas obras do porto do Mucuripe, quando inicialmente foi construído o espigão para retenção das águas, no local que hoje é denominado: “Praia Mansa”. No dia 3 de junho de 1940 o gigantesco Titan caiu no mar. Foi a mais sensacional notícia do dia, quando os moradores do Mucuripe em procissão marcharam ao local. O monstro de ferro ao levantar uma carga de 50 toneladas de pedra, tombou no mar a três quilômetros da praia. As obras que dependiam dele ficaram paralisadas até janeiro do ano seguinte. Com a inauguração do Cais, o Titan ficou na ponta do espigão sendo um ícone, e foi quando em terra, lá da hoje Praça Marcílio Dias (Bairro Navegantes) despertou a curiosidade do menino que escreveu estas linhas.


O guindaste já entregue às intempéries foi vencido pela corrosão, desabando parte de seu guincho. Em 1976 a Cia Docas resolveu destruí-lo com o uso de maçarico, e depois dinamitou suas bases. O titan continua emoldurado apenas na lembrança dos enamorados da querida Fortaleza, nesse local onde o navegador espanhol Vicente Pinzon, pisou..."

Assis Lima
(Radialista/Jornalista) 

Inteiração: “Material que veio no Itapoan para o Mucuripe”: - 2 vigas de madeira; 16 rodeiros de ferro; 8 motores elétricos; 5 vigas de ferro; 1 triângulo de ferro com coluna; 4 setores de ferro duplo (anel de orientação); - 4 setores de ferro duplo (suporte ,rolos com parafusos); 4 setores de ferro duplo (trilho base lança); 2 caixas de madeira com parafusos; 1 viga de ferro (conjunto triângulo); 1 base com rodeiros e rolos; 1 rodeiro fixo para máquinas; 1 caldeira à vapor; 3 secções de lança. Total: 53 volumes”. (Jornal O Povo 27-05-1939). 

Fotos históricas:

















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Guindaste Titan


sábado, 24 de setembro de 2016

Primavera, ruas e questionamentos - Por Assis Lima

Início da rua das Flores (Castro e Silva), ao lado da Praça Caio Prado (Da Sé) em 1911. 
Arquivo Assis Lima

O equinócio de primavera, também conhecido como Ponto Vernal, consiste no momento em que o Sol atravessa o Equador de sul para norte. No hemisfério sul, onde se encontra o Brasil, o equinócio de primavera ocorre nos dias 22 ou 23 de Setembro. Por outro lado, no hemisfério norte (Portugal, por exemplo), o equinócio de primavera acontece nos dias 20 ou 21 de Março. Eu só conheço in-loco três primaveras: A Estação das Flores, um distrito de Caucaia (RMF) e Primavera do Leste em Mato Grosso, terra Natal do Marechal Rondon, quando por lá passei em 1996. Primavera lembra o que há de mais bonito num jardim: a Flor. Isso romantiza as coisas, pois, quem planta uma flor embeleza o mundo e faz alguém feliz.

Rua Castro e Silva vista da Praça da Estação - Arquivo Assis Lima

Historicamente, Fortaleza, nossa cidade, já foi mais romântica. Como exemplo, a Belle Époque. Refletia em nomes de ruas, na confraternização do Passeio Público e nas andanças pelas praias Formosa e Iracema, terminado o percurso na inacabada ponte dos ingleses, hoje ponto turístico. Tomemos por exemplo nomes primitivos de ruas: antes, nada contra a memória dos patronos, porém, rua das Flores não é mais bonito do que Manuel do Nascimento de Castro e Silva ou Castro e Silva? Essa rua foi aberta em meio a um matagal da Sesmaria de Jacarecanga, no segundo quartel do século XIX. A Confraria de São José construiu essa carroçável estrada no mesmo ano em que inaugurou o Hospital da Misericórdia, desativando os Lazaretos de Jacarecanga e Lagoa Funda. O Cemitério São João Batista tem um frontispício de 1866. Os familiares levavam flores nos cortejos e, para postumamente homenagear os seus, e esse movimento criou um florilégio que deu nome a estreita e carroçável estrada RUA DAS FLORES. O assentamento de pedras toscas veio em 1872 e a consequente urbanização.

A rua Senador Alencar, nada também contra o Padre Rebelde pai do romancista, mas ela era a TRAVESSA DAS HORTAS, e não era melhor esse nome? Em cada residência tinha os quintais recheados de hortaliças e, diga-se de passagem, foi onde se instalou ao lado da Residência do Barão de Ibiapaba (Hoje Bradesco), o primeiro Mercado de Verduras e carnes verde, na gestão do Luís Barba Alardo de Menezes em 1809.

 
Cruzando a rua Trilho de Ferro (rua Tristão Gonçalves) em 1911.
Arquivo Assis Lima
O Palacete Guarani na rua das Hortas (Senador Alencar). O detalhe é que o fotógrafo colheu essa imagem no local onde havia funcionado o mercado. Arquivo Assis Lima

Agora fechando o giro, a José Avelino era rua do Chafariz. Não era mais charmoso esse nome, afinal, sem água não tinha nada do que se falou. A nossa Fortaleza, hoje é despertada para as maldades, na sociedade e nas transformações paisagística, onde se comente no cotidiano crime contra a memória. Isso matou e mata o romantismo e a inocência. Quem é que se lembra de mais isso? Sou muitas vezes criticado, como um homem que só olha para trás, não. Olho para o que é belo que passou. Expliquem os especialistas: como podemos sentir falta de uma coisa, se ainda não éramos nascido? A resposta está no espírito bucólico e apreciador do que é bom e bonito. A Estação de Primavera que chegou às 11:21 segundo os astrônomos, não é pra quem quer, e sim pra quem sente. Vocês nunca ouviram numa musica interpretada por Tim Maia, inspirado nessa época? ISSO É PRIMAVERA.

Assis Lima


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Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
Idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio


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