O sobrado do comendador Machado, demolido para dar lugar ao Excelsior Hotel. No térreo funcionava o Café Riche e nos andares superiores o Hotel Central - Arquivo Fortal
Ele já é um "senhor". Vivo, só em parte, mas ainda belo. Fincado no cruzamento das ruas Guilherme Rocha e Major Facundo, o Excelsior Hotel já não funciona desde 1987. Seu primeiro andar foi todo reformado e ocupado pela imobiliária dos herdeiros do prédio, feito todo em alvenaria* e com paredes que chegam a 80 centímetros de largura. A construção respira história.
Quando era ocupado pelo Café Riche - Foto dos anos 20
Ele completou 79 anos esse ano. Um "senhor", já. Maduro e cheio de histórias pra contar. Quando ele nasceu, O POVO noticiou com destaque que ele era o primeiro fortalezense daquele porte. Nasceu belo e imponente, e fazia a cidade chegar mais perto das nuvens e arranhar o céu. Era 2 de janeiro. O ano, 1932. Até o interventor federal estava lá pra prestigiar o "nascimento". Era o "senhor Carneiro de Mendonça", como noticiara o jornal.
O hotel com suas bandeiras simbolizando as Nações Unidas - Arquivo Fortal
Hoje, o terraço ainda continua aprazibilíssimo (agora, com "z" e acento agudo no segundo "i"). Mas os panoramas que se descortinam dali não são mais os mesmos. Mares sim. Já serras e sertões foram camuflados por outros arranha-céus que vieram depois. É certo que do segundo andar para cima, nada mais funciona - nem os elevadores. E tudo está como antes, excetuando-se a maior parte da mobília, que foi retirada. Mas nem o tempo e sua falta de uso (ele foi fechado em julho de 1987) roubaram-lhe a graça. O Excelsior Hotel respira história.
Hoje o Hotel pertence ao cônsul geral da Hungria, Janos Fuzesi Júnior, um senhor de 79 anos - 57 deles morando no Ceará. Vender o hotel? "Por nada nesse mundo", esquiva-se Janos. Ele herdou o patrimônio do tio, também húngaro - o arquiteto Emílio Hinko. Antes de chegar às mãos cuidadosas de Hinko (responsável por obras em Fortaleza como o Náutico Atlético Cearense e a Base Aérea de Fortaleza), mais história.
A primeira construção no local, erguida em 1825, foi o sobrado do comendador José Antônio Machado. Lá funcionou o antigo Hotel Central e o Café Riche. Em 1926 ele foi fechado e demolido em 1927. Inspirado em um edifício de Milão, na Itália, o Excelsior Hotel foi construído todo em alvenaria, por Natali Rossi, irmão de Pierina Rossi, esposa de Plácido de Carvalho, proprietário do prédio e do hotel. Anos após ficar viúva, ela casou-se com Emílio Hinko.
Dos hóspedes ilustres que já passaram por ali, na rua Guilherme Rocha, 172, esquina com rua Major Facundo, não restam mais os livros de visitas. Se existem, estão em uma sala trancada no próprio hotel, que ninguém tem coragem de entrar. "É melhor a gente não ir lá, senão você vai adquirir uma bactéria ou uma infecção respiratória", brinca Janos Cavalcante Fuzesi, filho do cônsul. Mas os jornais antigos dão conta: gente como Orson Wells e Juscelino Kubitschek já se hospedaram ali.
A primeira construção no local, erguida em 1825, foi o sobrado do comendador José Antônio Machado. Lá funcionou o antigo Hotel Central e o Café Riche. Em 1926 ele foi fechado e demolido em 1927. Inspirado em um edifício de Milão, na Itália, o Excelsior Hotel foi construído todo em alvenaria, por Natali Rossi, irmão de Pierina Rossi, esposa de Plácido de Carvalho, proprietário do prédio e do hotel. Anos após ficar viúva, ela casou-se com Emílio Hinko.
Dos hóspedes ilustres que já passaram por ali, na rua Guilherme Rocha, 172, esquina com rua Major Facundo, não restam mais os livros de visitas. Se existem, estão em uma sala trancada no próprio hotel, que ninguém tem coragem de entrar. "É melhor a gente não ir lá, senão você vai adquirir uma bactéria ou uma infecção respiratória", brinca Janos Cavalcante Fuzesi, filho do cônsul. Mas os jornais antigos dão conta: gente como Orson Wells e Juscelino Kubitschek já se hospedaram ali.
Hall do hotel Excelsior
"A gente tem muito amor por este prédio em si, mas também pelo Centro (da cidade) em geral. Era muito mais fácil para nós e nossos clientes se fôssemos pra Aldeota", diz Fuzesi, o pai, referindo-se à ampla reforma que fez no primeiro andar do hotel em 2006 e que hoje abriga a imobiliária da família e o consulado.
De testemunha do que a construção já foi, restam traços na madeira e nos mosaicos do assoalho, nos guarda-corpos das varandas, nos móveis de sucupira, cerejeira e mogno. Se procurar bem, uma lembrança das épocas áureas. No pacotinho verde com 18 fósforos, o recado: "123 apartamentos, 13 suítes. Todos c/ ar condicionado, TV a cores e preto e branco, geladeira e telefone. Sala de estar com TV a cores. Vista para o mar. (...) Localizado no centro bancário e comercial". Pena que agora só lhe resta vida em um andar.
De testemunha do que a construção já foi, restam traços na madeira e nos mosaicos do assoalho, nos guarda-corpos das varandas, nos móveis de sucupira, cerejeira e mogno. Se procurar bem, uma lembrança das épocas áureas. No pacotinho verde com 18 fósforos, o recado: "123 apartamentos, 13 suítes. Todos c/ ar condicionado, TV a cores e preto e branco, geladeira e telefone. Sala de estar com TV a cores. Vista para o mar. (...) Localizado no centro bancário e comercial". Pena que agora só lhe resta vida em um andar.
Fonte: Jornal O Povo