Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

O Curral das Éguas por Descartes Gadelha



Em 1990, o desenhista Descartes Gadelha, trouxe a tona e reviveu o mundo oculto do "Curral" (o "Curral das Éguas") dos Anos 30; do Arraial Moura Brasil dos Anos 40; do "Cinzas" dos Anos 50; do "Pirambú" dos Anos 60; do "Farol" dos Anos 60 e 70; do "Centro" de todas as décadas das do 1900's. Descartes conseguiu captar em suas telas, com coerência e representatividade, a mudança social de cenário do tráfego metropolitano dos anos 70 e condensar os efeitos da "mídia" dos anos 80 e reuniu tudo isso na Exposição "De um alguém para outro alguém".

Segundo Descartes: O termo "De um alguém para outro alguém", foi colhido na década de 60 na Amplificadora Brasil (instalada na região do baixo meretrício chamada "Curral das Éguas", no bairro do Arraial Moura Brasil), popularmente chamada de irradiadora e que prestava importante serviço de comunicação à comunidade.

Era comum ouvir-se mensagens sonoras como estas:

"Esta linda página musical vai de um alguém para outro alguém que está muito arrependido" ou "esta mimosa joia musical é uma solicitação de um alguém para outro alguém que oferece ao seu próprio coração ferido e que outro alguém sabe quem é".

Gadelha narra suas impressões sobre o meio ambiente de prostituição do qual tem referência desde pequeno, quando morava na Castro e Silva, rua circundante da zona considerada promíscua.


Destoando da opinião geral, Gadelha sempre observou os habitantes do curral pelo lado filosófico - como ensinava seu pai - um místico que via naquele lugar um estágio da condição humana ou da evolução de algumas pessoas. Ultrapassada a barreira do preconceito foi mais fácil conviver sem remorsos ou cobranças com as mulheres que sobreviviam das casas de recursos e com a nostalgia de ruas, vielas e casas bem pintadas rodeadas pelo mar, luar, a Estação de trem, a Santa Casa de Misericórdia, o Passeio Público e a antiga Cadeia pública.

Do "Curral das Éguas", Descartes captou a alma das prostitutas, dos bêbados, dos gigolôs e dos agenciadores de garotas que formavam uma grande família uma espécie de tribo urbana a abrigar as mulheres imprestáveis às grandes pensões. Descartes relembra a trajetória percorrida pelas meretrizes nos lupanares. "As prostitutas de antigamente, ao contrário de hoje, praticamente não tinham escolha. Depois do defloramento não seguido do casamento as mulheres eram obrigadas a sustentarem-se e a única opção eram as pensões ou casa de recursos".

Zé Tatá de baiana ajuda seu amigo "Tereza" com os adereços. Carnaval de 1942

A via crúcis seguida pelas "meninas" era guiada, inexoravelmente, pela decadência. "Elas começaram nas grandes pensões como a Fascinação, na esquina da Senador Alencar com Castro e Silva que tinha como marca registrada a música Fascinação na voz de Carlos Galhardo. Outra casa considerada "classe A" era a Hollywood, onde se encontrava as novidades que apareciam na praça. Garotas com 18 anos, recém-acolhidas pela dona da pensão. Da Fascinação e Hollywood as mulheres desciam para a América, Los Angeles ou Califórnia. De lá para o Zé Tatá ou o Oitão Preto, quando as mulheres atingiam 25 anos, já estavam no Curral.
"Esse movimento de decadência e de descida era natural e encarado como inevitável", afirma Gadelha. No Curral, elas arranjavam velhos para sustentá-las até mais ou menos uns 35 anos e, depois disso, tornavam-se cafezeiras, boleiras e executavam pequenos serviços. As prostitutas, segundo a pesquisa empírica, com base na vivência de Gadelha, nunca morriam velhas. "Elas não passavam dos 50 anos, talvez pelas condições de vida, alimentação e, principalmente, pela grande quantidade de bebida que consumiam".
Na hora da morte, conta Gadelha, revelava-se o momento mais fraterno e religioso da comunidade. Quando a companheira não tinha dinheiro para ser enterrada, as prostitutas se cotizavam e iam deixar o dinheiro na seda da amplificadora Brasil que passava todo o dia tocando a Ave-Maria, de Shunbert, na voz de Vicente Celestino. O código era tão perfeito que ao se ouvir a música, todos no Arraial sabiam da morte da prostituta, a ser velada na Capela de Santa Terezinha, construída pelas mulheres-damas, hoje o único marco referencial da extinta comunidade.



A extinção do "Curral das Éguas" e a dispersão de seus moradores foi causada pela expansão da cidade e a construção, na década de 70, da Avenida Castelo Branco, a conhecida Leste-Oeste. Segundo Gadelha, não havia necessidade da destruição do Curral. "O Curral era uma tradição da cidade, o lado romântico e ingênuo da prostituição, muito diferente das casas de hoje".

O fim das vilas e das casas de madeira, papelão ou sacos plásticos, que delineavam o quadro surrealista, digno de Hieronymus Bosch e Peter Bruegel, deslocou seus habitantes para outras regiões da cidade também conhecidas zonas de prostituição como o "Farol do Mucuripe", a Barra do Ceará e algumas ruas do centro. Com o deslocamento, frisou o pintor, foi desmantelada toda a organização social da cidade e houve um estágio de decadência generalizada das prostitutas.

Nos anos 60, não se ouvia falar em cocaína. Usava-se pouca maconha e muito álcool.

Segundo Gadelha a prostituição é fenômeno comum a todas as sociedades. Desde tempos imemoriais. Assim, de antemão, estamos todos redimidos dos currais e faróis que ameaçam com sifilítica pestilência os alicerces morais de nossa civilização ocidental e cristã. Convenhamos, porém, que nós soubemos acrescentar perversos, ingredientes a esse fenômeno social, tornando imoral o que poderia ser apenas amoral.
A prostituição nasce da hipocrisia de famílias ditas austeras, virtuosas, mas que encorajam a iniciação sexual dos seus filhos com criadinhas trazidas do Interior. Nasce do machismo que ainda condena ao limbo, em certos meios, a mãe solteira. Nasce da pobreza absurda em que vivem milhões de brasileiros, amontoados em completa promiscuidade, sem teto, sem pão, sem lei e sem grei.


Antiga rua Santa Terezinha no Arraial Moura Brasil - Demolida para passagem da Av. Leste-Oeste


Descartes mostra a "zona" e também os frutos do seu ventre: os meninos de rua que se atiram ávidos sobre o carro, onde um casal burguês aguarda apenas o sinal abrir para dar as costas novamente à miséria. O desdém da mulher que lê o horóscopo e do seu acompanhante, escondido atrás de escuras lentes, é o mesmo da nossa sociedade.
Diante dos dramas humanos que nos cercam, preferimos mergulhar na quimera do zodíaco, no mundo do faz-de-conta, onde a solução de todos os problemas está escrito nas estrelas. Confrontados em colocar um par de óculos escuros e pisar fundo no acelerador, deixando para trás a cinza, a esquina, o beco, o farol, o curral, ou qualquer outro lugar onde se diz que a mulher leva vida fácil. Ou vida alegre.

DESCARTES GADELHA
(Fortaleza – CE 1943)

Desenhista, pintor e escultor. Participou de importantes mostras coletivas, destacando-se “A Paisagem Cearense”, no MAUC-UFC (Fortaleza – CE 1963), “Pintores do Nordeste”, no Museu do Unhão (Salvador – BA 1963), “Lirismo Brasileiro” (Tel-Aviv 1965), “O Circo”, no paço das Artes (São Paulo – SP 1978) e “12 Artistas de Seis Países Latino-Americanos”, na Casa do Congresso de Angostura (CaracasVenezuela 1982). Obteve prêmio no XIV Salão Municipal de Abril (Fortaleza – CE 1964), nos I e II Salões Nacionais de Artes Plásticas do Ceará e no 1º Salão de Artes Plásticas do BNB-Clube, todos em Fortaleza (CE), nas décadas de 70 e 80. Individualmente, realizou diversas exposições, destacando-se em importância: Galeria Goeldi (Rio de Janeiro – RJ 1966), Galeria Samambaia (São Paulo – SP 1968), Instituto Goethe (Salvador – BA 1974) e as expressivas mostras “Catadores do Jangurussu”, no MAUC-UFC (Fortaleza –CE 1986), “De um Alguém para Outro Alguém”, também no MAUC-UFC (Fortaleza – CE 1990) e a mega-exposição “Cicatrizes Submersas” – com mais de 100 pinturas a óleo de média e grande dimensões, além de esculturas, cerâmicas, gravuras e desenhos, retratando a saga do beato Antônio Conselheiro nos sertões do Nordeste do Brasil e seu epílogo em Canudos -, realizada no Palácio da Abolição (Fortaleza – CE 1997) e posteriormente, em 1999, na reinauguração do Museu de Arte da UFC, local onde as obras se encontram, incorporadas ao acervo do museu por doação do próprio artista. Numa linguagem expressionista, Descartes Gadelha retrata em sua obra a cultura, a religiosidade e os problemas sociais comuns ao Ceará, sua terra natal, e ao Nordeste do Brasil.

(Fonte: Firmeza, N. & Montezuma, L. Dicionário das Artes Plásticas do Ceará. Fortaleza: Oboé, 2003)

Crédito: http://www.mauc.ufc.br/
Telas: Descartes Gadelha



quinta-feira, 14 de maio de 2015

O Curral das Éguas


Rua Franco Rabelo, que hoje fica no leito da Avenida Leste-Oeste. Lá se concentrava o baixo meretrício, um tipo de cabarés da mais baixa classe. Arquivo Nirez



"Fortaleza viveu um triste episódio em seu passado, que deixou marcas de discriminação em sua história. Foi a criação do Curral das Éguas - a Cinza, para onde foram mandadas, por força policial, todas as prostitutas do Centro da cidade. A Cinza, ficava na descida da Rua Franco Rabelo, no morro achatado que fica defronte ao Marina Hotel.
Ali, algumas ruas foram arrancadas para a construção da Av. Leste-Oeste. Morar na Cinza, era o equivalente a viver entre marginais, drogados, prostitutas, ladrões e gatunos. Sim, também existiam pessoas de bem, como em qualquer local, mas o lugar era conhecido e descrito com o portal do inferno.
Ao tempo que a Cinza foi criada, foram também, as Pensões Alegres, onde prostitutas - jovens em flor - passaram a habitar. Eram instaladas por seus amantes no segundo andar dos casarões do Centro, que ficaram desabitados, quando a burguesia que ali residia, mudou-se para a Praia de Iracema, Jacarecanga e Gentilândia, os novos bairros nobres da cidade."


O "Curral das Éguas", era onde mancebos despertados pela sexualidade se entregavam ao amor da "Mulher do Fado".

O "Salão Bola Preta" do carioca Almada tinha características próprias e idênticas aos salões de dança do Rio de Janeiro, embora com proporções desiguais; mesmo assim, "odaliscas" mais saltitantes se esbaldavam aos sons de instrumentos de percussão, de sons metálicos e sopro (trompete, trombone de vara e saxofone), cuja harmonia ressoava os mais afinados tons com acompanhamento da sanfona (acordeão). Bailarinos, com passos singulares e acrobáticos, arremessavam as "damas da noite" para o alto, com grande destreza e malabarismo, causando aos espectadores espetáculos circense pondo em prática libações em profusão contagiantes, nos copos de vinho.

O salão despertava arrebatadora atenção dos frequentadores, cujos rodopios entre casais traduziam-se no compasso do samba ou qualquer ritmo dançante, verdadeira apoteose infindável entre pares com admirável exuberância entre os mesmos. A música entoada nos diversos tons sonorizava com o menestrel da noite no clarão da luz de combustão de carbureto previamente ligado com antecedência, para iluminar o embalo da orquestra, nos intervalos da mudança dos ritmos e musicas previamente ensaiadas para execução e, deleite dos frequentadores do Curral das Éguas, lugar de fascinante orgia sem tempo para terminar os momentos de prazer, suspirado por desejos incontidos nos salões dançantes do famoso prostíbulo.

Dos mais longínquos recantos do Ceará, os sertanejos que por aqui nunca vindos ficavam deslumbrados com aquela paisagem cheia de aventuras, efusivos momentos com as "mariposas" que repentinamente os atraia com afagos e, da mais inesperada candidez esquecendo por algumas horas a crueza do torrão natal de agruras e solidão, distante do canto da cauã, bem-te-vi, galo de campina, rouxinol, canários, graúnas, curió, entre outros que embelezam a natureza.

Esta era a delegacia da Rua Franco Rabelo, antro de prostituição que foi absorvido pela Avenida Leste-Oeste. Ficava entre a travessa Baturité e a Praça do Cristo Redentor. 
Arquivo Nirez

O "Curral das Éguas", por ser lugar de baixo meretrício, era mantido por severas ordens policial, do delegado Rodrigues e Comissário "Chico da Usina" que ajudava na manutenção do respeito às "borboletas noturnas", fazia a vigilância ostensiva do baixo meretrício até alta madrugada quando os parceiros se aproximavam para "forrar" o estômago com panelada ou suculento caldo preparado das vísceras do boi para substituir outro tipo de jantar.

O respeito à ordem pública mantida por Delegado Rodrigues, previa de tamanha segurança, para evitar desmandos e arruaças comuns nos ambientes onde impera a prostituição e excessos de bebidas alcoólicas ingeridas muitas vezes às escondidas fora dos horários permitido por ordem da Secretaria de Segurança Pública.

A foto é de 1958 e esses casebres que vemos, na época eram chamados de "mocambos" (invasões de terras). Acervo Lucas Jr

O público

O jocoso é que certos comerciantes, no seu jeito astuto para burlar a lei, colocavam, nos "bules de café", cachaça, para vender nas xícaras de café às escondidas... Bebiam como se fosse café ingerido sem direito a fazer "cara feia", de quem bebe álcool... Sem direito a tira-gosto, servia com rapidez, demonstrando como se estivesse bebendo café... Era verdadeira Lei-seca.

Essa proibição caso desobedecida e se pegado em flagrante, iria parar no xadrez até o dia seguinte, quando era liberado relaxado o flagrante se encarregava de higienizar o local da carceragem onde dormira com os demais infratores.

Espaço emblemático

O Salão Bola Preta do carioca Almada era o mais importante salão de dança do Curral das Éguas. Com coreto de madeira fixado na parede do mesmo, onde comportava 8 (oito) figurantes com instrumentos de "pau e corda" e sopro, abemolando. O som volatilizado com reduzida luz do gás de carbureto se expandia por todo o salão onde "mariposas" saltitantes faziam acrobacias corporais com parceiros metidos a almofadinhas imitavam as "danças carioca" arremessando as "horizontais" para o alto, amparando-as com as mãos na cintura num eterno rebolado de sons e balanceios harmonizados pelos remelexos das cadeiras e quadris, digno de ser apreciado. Outro salão também famoso e mais antigo do baixo meretrício era o "Salão Azul" de propriedade de José Vitalino como era conhecida tal figura. Cidadão de idade avançada, que vivia de alugar ou arrendar prédios no Arraial Moura Brasil, para explorar o ramo de salão dançantes e bar.

Ali também era mais um espaço do lenocínio da cidade de Fortaleza nas décadas de 40, 50 até 1960, quando se iniciou a transferência do mulherio para a praia do Farol, Cais do Porto, Mucuripe, Serviluz, Castelo Encantado e adjacências. O imóvel, adaptado a esses fins, tinha entrada amparada por cabine ou caixa, onde era cobrado o ingresso para ter acesso ao salão quando iniciasse a contradança com a "dama da noite" à espera dos participantes do forró, cujos trajes sumários atraiam os que ali se dirigiam para demonstração dos ritmos, samba, foxtrote, rumba, bolero, samba-canção, valsa e o mais afamado tango - um dos ritmos mais apreciados à época.

Zenilo Almada

Quem recorda?

Bar da Alegria
FascinaçãoBarba azulSenaforzão, Flores Perfumadas, Galeria do Amor, Cabaré da Mãe Tônia, 90,  Zé bombom, Cabaré da Leila, Renascença ClubeUberlândia, Cabaré da Chaguinha...



Fonte: Zenilo Almada (Diário do Nordeste)



sexta-feira, 8 de maio de 2015

Corta Bunda - Os Maníacos que aterrorizaram o José Walter


Conjunto José Walter, cenário dos ataques dos corta bundas.

Em meados dos anos 80, o conjunto habitacional Prefeito José Walter foi tomado pelo medo do ataque de um maníaco que cortava a bunda das mulheres.

Quando um homem armado com uma lâmina começou a invadir as casas do Zé Walter para traçar uma linha de sangue nas nádegas femininas, o resto da cidade não pôde mais ignorar aquele pedaço de Fortaleza. Entre 1985 e 1987 , os crimes do Corta-Bundas ocupavam espaço frequente nos jornais da Capital.

Conjunto José Walter
um dos bairros mais populares de Fortaleza, com suas ruas estreitas e numeradas, foi construído em 1970. A primeira etapa do conjunto habitacional foi inaugurada em 1969 e recebeu o nome do Prefeito de Fortaleza, José Walter.

Em 1985, um maniaco psicopata começou a atacar mulheres (adultas e crianças), ele não matava, não roubava e nem abusava sexualmente das suas vitimas, apenas fazia um corte profundo com navalha, estilete ou bisturi na região das nádegas. 


Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Ele colocou pânico e fez diversas vitimas durante dois anos, de 1985 a 1987. Foram mais de 70 mulheres atacadas, mas apenas três formalizaram a queixa e constaram no processo contra ele. 
O corta bundas deu muito trabalho para a policia que não conseguia pegá-lo e muito menos identificar o agressor.


Ocasião da prisão de Evandro em 06 de fevereiro de 1987

Apenas em 06 de fevereiro de 1987, a policia consegue capturar Francisco Evandro Oliveira da Silva de 26 anos.
Preso e reconhecido, Evandro confessou os crimes e acabou morto no Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira (IPPOO) pelos próprios presos.

 Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Bom, mas antes de Evandro ser preso e identificado como o corta bundas que estava aterrorizando o José Walter e colocando toda a população em polvorosa, outros também foram presos e apontados como o maníaco.

Foto ao lado: Evandro tinha em seu poder instrumentos cortantes. Acervo Jansen Viana.

Em 12 de outubro de 1986, Aparecido dos Santos Reis, foi preso e identificado como o marginal que estava cortando as nádegas de mulheres e crianças.

Os Maniacos corta bundas que aterrorizaram o José Walter


Relato Minucioso de Aírton Lopes, então Comissário de Polícia, que fez parte da equipe responsável pelas prisões na época. Leia na íntegra AQUI

12 de outubro de 1986 - 10:00hs. 
Dia das Crianças e Momento de Campanha Eleitoral
Contada pelo Líder Comunitário Airton Lopes, na época Comissário de polícia, que trabalhava na Sétima Delegacia Distrital.
Prisão efetuada pelo comissário e pelos soldados Írio e Leonardo da PM/CE. Posto a disposição do Comissário pelo Tenente Gondim do Coe.

"No dia 12 de outubro de 1986, o comissário de polícia civil Airton Lopes, que trabalhava na época no 7º Distrito Policial, bairro Nossa Senhora das Graças, e os soldados da polícia militar: Írio e Leornardo, na época integrantes do COE, um morava no conjunto José Walter (Írio) e o outro morava no Conjunto Industrial (Leonardo). Eles prenderam o segundo corta bundas (o primeiro foi Mc Donald) do José Walter, Aparecido dos Santos Reis, vulgo “Topo Gigio”. Em sua casa, na hora da prisão, foram encontrados: uma peruca loira, um estilete e uma substância negra, tipo uma graxa (ele usava no corpo para ficar liso). Materiais usados na prática dos crimes. Dentre suas características físicas, ele tinha uma tatuagem de sereia no peito direito. Ele cortava as vitimas com um estilete e emendava o ânus com a vagina. 

O primeiro corta bundas que se tem notícia, foi Luiz Donald Uchôa Félix, vulgo “MC Donald, filho de um motorista policial da SSP. Mc Donald” cortou várias bundas, mas como ele nasceu no Conjunto José Walter, foi fácil para as vítimas o reconhecerem. Após investigações, o pai de uma das mulheres de Mc Donald encontrou uma carta nas coisas de sua filha e entregou ao comissário Aírton Lopes e este entregou ao Dr. Vicente Ferreira, delegado do 8º Distrito. O comissário descobriu que Mc Donald estava morando em Brasilia-DF, no bairro da Ceilândia, trabalhando numa oficina mecânica. A polícia daqui entrou em contato com a de Brasilia, que o prendeu e o transferiu para Fortaleza de avião. 
Enquanto ele estava foragido, apareceram outros corta bundas. O segundo, “Topo Gigio”, começou a praticar o mesmo crime, no intuito de inocentar o primeiro. Com a prisão do segundo (Aparecido dos Santos, o Topo Gigio), surgiu um terceiro, chamado Evandro
Eles negavam a autoria dos cortes. Apresentamos as vítimas do tarado “Topo Gigio” e as investigações só chegavam na mãe de "MC Donald" (Dona Mirtes, já falecida), como mandante. 
Presa por tráfico de drogas, D. Mirtes negou que houvesse contratado Topo Gigio e Evandro para cometerem os crimes e assim, forjar a inocência do filho. 

Prisão do corta bunda Evandro - Jornal O Povo
(Clique para ampliar)

 As vítimas de Evandro - Acervo O Povo

O terceiro corta bundas, Evandro, foi morto no Instituto Penal e o acusado de matá-lo foi o elemento conhecido por “fonfon” que estava preso no IPPOO, e era "de dentro" da casa de D. Mirtes, caracterizando uma queima de arquivo
Tanto um quanto o outro, sempre negaram que fossem o corta bundas ou que a mãe de Mc Donald os havia contratado. 
A verdade é que as vítimas estão por aí, para contar as suas tristes histórias... 

Observações: Os três tarados (maniacos) do José Walter, as vítimas e os policiais, moravam no conjunto e se conheciam, todo mundo conhece todo mundo, por isso foi fácil chegar até eles.
Nós, moradores do conjunto, não dormíamos, uns pastoravam os outros. A gente trocava a noite pelo dia, era um inferno!

Acervo Jansen Viana

Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Quando "MC Donald" sentiu que tinha sido descoberto, ele fugiu. O problema, é que mesmo estando foragido, os cortes continuavam, foi aí que os policiais chegaram no segundo tarado, o “Topo Gigio”.  Preso o Donald e o Topo Gigio, os ataques continuaram. Foi então que chegamos no Evandro, que foi reconhecido por Dona Berenice, que aliás, não sofreu o ataque, ele apenas entrou, passou uns 10 minutos no interior de sua casa, bebeu água e foi embora. Na casa estavam dona Berenice e sua filha menor. 

Na época da prisão, os três policias conversaram com a mãe de Evandro, e esta estava preocupada, porque Evandro andava estranho e endinheirado. 

Foto ao lado: Corta bunda Evandro

Certa vez ele disse para mãe: -Mãe eu estou fazendo uma coisa errada, mas, deixa para lá. 
"Evandro não era sadio da mente. Houve uma noite em que Berenice estava sentada no portão de casa, quando de repente, Evandro vinha pilotando uma bicicleta sentado no guidom da mesma, foi quando ela me procurou na casa de minha sogra, que era a uns 2 quarteirões e esta mandou que Berenice ligasse para o oitava Distrito Policia (Delegacia do Conjunto) o que foi feito e Evandro foi preso no “pedim”, um trailer antigo na segunda etapa."

Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Topo Gigio, deu trabalho para ser preso, pois foram meses de investigações, chegamos a conversar com a mãe do Mc Donald, D. Mirtes, pedindo que ela nos entregasse o seu filho que nós o levaríamos para um hospital mental.

Mc Donald e Topo Gigio, continuam morando no conjunto, bem como as vítimas: Sulamita da Silva e Carla Cândido Cavalcante, Tereza Maria Alves (Terezinha) e Maria das Graças Pereira. O acusado foi reconhecido por quatro vítimas. Duas testemunhas no 8º Distrito Policial e uma testemunha, que eu não posso revelar seu nome, e que morava no Barracão, reconheceu Topo Gigio, pois ele tentou entrar na sua casa.
A manchete do Jornal O Povo do dia 14 de outubro de 1986, trazia:
''Preso um dos tarados do conjunto Zé Walter”

Como ocorreu a prisão:
Às 10 horas do dia 12 de outubro de 1986 para prender o tarado, fingimos estar fazendo campanha, pois era época de Campanhas Eleitoral
O comissário saiu num carro com duas vítimas de Topo Gigio com a finalidade de reconhecer o tarado. Num outro carro, estavam os soldados e uma senhora que iria entregar ao Topo Gigio uma carteira de identidade civil, que ela havia tirado e que havia prometido um emprego e que os dois soldados seriam os patrões. Quando Topo Gigio saísse para falar com os soldados, as vitimas o reconheceria, deixariam cair os papeis no chão, e essa era a confirmação de que era o tarado. Isso foi feito, foi dado voz de prisão e ele foi conduzido para uma Companhia de Policia Militar na Maraponga, evitando assim um linchamento."

Airton Lopes (Líder Comunitário e Ex-Inspetor de Policia)
São Gonçalo do Amarante, 28 de setembro de 2010


Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Como vimos, há quem diga que Evandro (o mais "famoso" e que pagou com a vida pelos crimes que cometeu) não era o 'verdadeiro' Corta-bundas. Ou pelo menos, não o único. O mito prossegue no imaginário do bairro...




Fontes: Livro "Corta bunda - O Maníaco do Zé Walter" de Jansen Viana, Blog Jairton Lopes e diversas pesquisas




terça-feira, 5 de maio de 2015

Ivan Paiva - Um famigerado Rabo de Burro


Na Fortaleza dos anos 50 e 60, nada aterrorizava mais do que os famosos Rabos de Burro, delinquentes que hoje em dia seriam conhecidos por "filhinhos de papai", devido a boa condição financeira que tinham. Um desses rabos de burro, ganhou fama pela facilidade com que escapava da cadeia e pela dificuldade em ser capturado. 

Ivan Paiva era um nome a se temer!!!


Rua onde Ivan morava em Parangaba.

Foto ao lado: Parangaba, estação central.


"A história da violência contra as crianças, as pedofilias vem de longe... O mais famoso da época chamava-se Ivan Paiva. Todo mundo tinha medo do Ivan. O nome dele era segredado para não aumentar o terror que as adolescentes e crianças tinham dele. As aventuras do Ivan, eram relatadas como estupros, jovens abandonadas nos matagais. Ele, andava livremente pela cidade. Certa vez, ele chegou de lambreta trazendo uma garota, não na garupa, mas, sim, numa espécie de canoa acoplada, anexada ao lado da lambreta. Era o lançamento do ano. A moça vinha de calça ban-lon, colada no corpo e a avó foi logo retirando as netas e colocando-as para dentro de casa, murmurando que aquele era o Ivan , o rabo-de-burro feroz!"

(Trecho de texto publicado no Blog Maria Egla)

Ivan Paiva era caso de policia e estava constantemente nas manchetes dos jornais:


Esquina das ruas Senador Pompeu com Guilherme Rocha, local de um dos ataques de Ivan Paiva.















Causos na Fortaleza das antigas...

Ainda adolescente*, ao retornar de São Paulo, em 1983, o poeta Mário Gomes conheceu um grupo de playboys, que o povo chamava de «rabos de burro», porque tinham o cabelão grande que escorria pelas costas. Fez muitas farras com o grupo, liderado pelo famoso Ivan Paiva, um marginal da classe alta. Durante as farras, costumavam roubar carros e passar a noite circulando com o automóvel, bebendo uísque, fumando e conversando. 

Os jovens que compunham o bando, entre os quais o Djafre, o Elmo e o Émerson, para citar apenas os principais, o convenceram a praticar algumas travessuras desse tipo. Com eles, de vez em quando, roubava um carro, passava num posto de gasolina, enchia o tanque e se mandava sem pagar. Depois, os vagabundos passavam numa mercearia, pegavam pacotes de cigarro, garrafas de uísque e outras coisas. O comerciante, feliz, botava tudo em caixas. Então, Djafre dizia: "olhe, vou pegar o dinheiro no carro." E aí... pé no acelerador... Ao clarear o dia, abandonavam o carro em alguma rua. Na noite seguinte, repetiam a mesma façanha...



Imagem meramente ilustrativa

Mário se lembra do dia em que, com os companheiros «rabos de burro », tirou uma rural da garagem de uma casa, no centro de Fortaleza. Luis César batia o record pela rapidez com que fazia ligação direta. Mas naquela noite, depois de empurrarem a rural até o meio da rua, quando Luis estava fazendo a ligação, Elmo avisou: "Vem vindo a PM!" Mário, embora estreante na arte de roubar rurais, não hesitou e falou: "Seu guarda, dá uma mãozinha aqui". Os PMs empurraram a rural e a turma de malandros se mandou, dando risadas. Quando amanheceu o dia, colocaram a rural dentro da garagem da casa de onde a haviam tirado.


"Certa vez, numa matéria de jornal, Ivan contou que assim ficou conhecido, somente porque andava de lambreta a mais de mil, trajava um blusão de negro couro e promovia "inocentes" arruaças por onde passava.
Quando era preso, Ivan Paiva tinha o costume de posar para as fotos. Numa das vezes, foi castigado pelo barbeiro da cadeia com um corte de cabelo que destruiu seu topete."


Ouvi dizer que o temível rabo de burro hoje está de cadeira de rodas... 

"Leila Nobre, ele é vivo e já velho em uma cadeira de rodas. Conheci muito, foi vizinho de minha avó na Parangaba. Subia na caixa d'água atrás da igreja e desafiava a policia. Sabem, o Ivan Paiva hoje seria um marginal pouco perigoso, hoje a maldade é muito maior." 


* Na verdade, o poeta já estava com 36 anos, pois nasceu em 1947.


Leia Também:
Os Rabos de Burro
Tarcísio Antônio Rodrigues Ramos - O "Grafite"

Fonte: José Leite Netto (Blog: http://poetamariogomes.blogspot.com.br), Portal da História do Ceará (Gildácio Sá) e pesquisas diversas



NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: